Lá no Bairro. (Re)descobrindo espaços comunitários na zona sul: o CDC Jardim Suzana

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capaz de diminuir o nível de medo e de desmascarar a construção midiática da insegurança: um projeto ‘cívico’ capaz de produzir espaço púbico e agir comum”. O ato de caminhar faz com que nos libertemos de convicções préestabelecidas, recuperando e recordando o fato e que o espaço é uma invenção humana, onde intervimos e brincamos. Como uma experiência particular, durante as caminhadas que fiz pelo perímetro delimitado para estudo inicial, descobri e redescobi uma série de particularidades e apropriações humanas pelo espaço - seja público ou privado, nas calçadas, fachadas ou lotes - que tornam os lugares únicos. Segundo Certeau (2009), ver as coisas no nível mais elemental é um processo de apropriação do sistema topográfico pelo pedestre, uma realização espacial do lugar. O caminhante atualiza algumas possibilidades e proibições (CERTEAU, 2009) presentes no espaço físico, inventando, emergindo, modificando ou deslocando tais elementos. A transformação no espaço acontece de forma gradual. Dessa forma, assumo o caminhar como uma provocação a mim mesma, ao enfrentamento do medo constante e da possibilidade de me (re)identificar com o local que habito. Atravessando Bogotá, Santiago do Chile, São Paulo, Salvador da Bahia, Talca, entendi que não sei caminhar na quadrícula colonial e que para ir em transurbância tenho de buscar os pontos em que a grelha se rompe, perder-me ao longo dos rios, circunavegar as novas zonas residenciais, imergir-me no labirinto das favelas. Na América do Sul, caminhar significa enfrentar muitos medos: medo da cidade, medo do espaço público, medo de infringir as regras, medo de apropriar-se do espaço, medo de ultrapassar as barreiras inexistentes e medo dos outros cidadãos, quase sempre percebidos como inimigos potenciais. (CARERI, 2013, p. 170)

Tratando-se temas extensos (a condição contemporânea, a vida cotidiana e a etnografia como processo) e que resultariam, por si só, em trabalhos individuais além deste, me detenho de onde parte a provocação deste trabalho: colocar o corpo à prova no espaço urbano e entender as práticas cotidianas e ordinárias, que fazem o espaço ser o que ele é - e daí extrair possibilidades de intervenção no espaço.

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