Projeto Paisagístico: Requalificação do Parque da Barragem

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Gabriela Nakamura Mattes

PROJETO PAISAGISTICO REQUALIFICAÇÃO DO PARQUE DA BARRAGEM

SÃO PAULO 2016


CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Gabriela Nakamura Mattes

PROJETO PAISAGISTICO REQUALIFICAÇÃO DO PARQUE DA BARRAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário SENAC como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientação: Prof Ms. Marcella de Moraes Ocke Mussnich

SÃO PAULO 2016


Agradeço todos àqueles que não só fizeram parte deste trabalho final, mas sim, de toda trajetória percorrida até aqui. Em especial à minha família, ao Eng. Odilon e Arq. Bianca - por todo suporte e apoio;

à

Glaucia Stanelli – que se fez presente em todos meus momentos acadêmicos, e à Prof. Ms. Marcella Ocke - por todas orientações e encorajamento.


RESUMO Este trabalho propõe a análise do parque urbano implantado na Orla da Represa Guarapiranga e apresenta uma posterior proposta de projeto paisagístico criando um parque que será parte de um sistema de espaços livres, cujo principal intuito é de conservação e requalificação da represa a fim de resgatar atividades de lazer com a valorização na região. O trabalho se subdivide em quatro núcleos: O primeiro compõe um quadro de referencias para a compreensão do parque urbano partindo de conceitos considerados fundamentais - e que permitem formular um arcabouço teórico; O segundo tratará especificamente de estudos de caso de parques urbanos já instalados e bem-sucedidos utilizados como base projetual; O terceiro apresentará a área delimitada, analisando o terreno, o bairro e suas condicionantes; para por fim, no quarto, apresentar o parque proposto configurado através de diagramas e mapeamento geral de estudos. Atualmente o Parque Guarapiranga pertence a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE) e é administrado pela Subprefeitura da Capela do Socorro. Palavras-chave:

Parque

Urbano,

Espaços

Livres,

Requalificação,

Represa

Guarapiranga


 ABSTRACT

This work considers the analysis the implanted urban park at the Edge of the Guarapiranga Dam and has a proposal of landscaped project creating a park that will be part of a system of open spaces, whose main intention is conservation and requalification of the dam in order to rescue activities of leisure with the valuation for the region. The work subdivides in four nucleus: The first one, that they composes a picture of references for the understanding of the urban park considering the basic concepts - and theoretician allows to formulate one outline; the second one will specifically deal with case studies of the installed and well-succeeded urban parks already used as projetual base; third, will present the delimited area, analyzing the land, the quarter and its conditioning; for finally, to present the project considered configured through diagrams and general mapping of studies. Currently the Guarapiranga Park belongs to the Company Water Metropolitan and Energia (CWME) and is managed by the Subprefeitura of the Chapel of the Aid.

Keywords: Urban Park, Open Spaces, Requalification, Guarapiranga Dam.

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ÍNDICE DE IMAGENS Figura 01: MAGNOLI, Miranda - O Parque no Desenho Urbano – Fundamentos, Paisagem Ambiente: Ensaio n.21 – pág. 199. São Paulo, 2006. Figura 02: Espaços Livres – Fonte: Espaços Livres e Espacialidades da Esfera de Vida Pública, Paisagem Ambiente: Ensaio n.23 - pág. 116, São Paulo, 2007. Figura 03: Campo de Santana - Fonte: Fundação Parques e Jardins, Prefeituras do Rio de Janeiro http://www.rio.rj.gov.br/web/fpj/exibeconteudo?id=5663764 Figura 04: Campo de São Bento, Niterói – Fonte: Mapa de Cultura, RJ http://mapadecultura.rj.gov.br/manchete/campo-de-sao-bento#prettyPhoto Figura 05: Campo de São Bento, Niterói – Crédito Imagem: Leandro Campos – Fonte: https://geolocation.ws/v/P/18127300/pontezinha-do-campo-de-so-bento/en Figura 06: Brasilia, Super Quadras – Crédito Imagem: Coler Snider - Fonte: https://americasouthandnorth.files.wordpress.com/2012/11/superquadras-no-infinito.jpg Figura 07: Croqui – Desenho Urbano Brasileiro – Crédito Imagem: Garcia Barreto Fonte: http://www.garciabarreto.com.br/brasilia/arquiteto-e-engenheiro/licenciamentoambiental/images/croquis%2004.jpg Figura 08: Parque do Flamengo – Instrumento de Planificação e Resistência - Vitruvius Crédito: Ana Rosa de Oliveira – Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.079/288 Figura 09: Parque do Flamengo – Setor Esportivo – Fonte: Revista VEJA, 2014 http://msalx.vejario.abril.com.br/2014/09/01/1005/kIaE4/pq-flamengo.jpeg?1409576723 Figura 10: Jardim Botânico, Curitiba – Crédito Imagem: Marcos Piffer – Fonte: http://www.marcospiffer.com.br/blognews/wpcontent/uploads/2008/12/blog_map2824.jpg Figura 11: Jardim Botânico, Curitiba – Crédito Imagem: Carlos Ruggi - Fonte: http://www.curitiba- parana.net/parques/fotos/jardins.jpg Figura 12: Parque das Pedreiras, Curitiba – Croqui - Secretária Municipal do Meio Ambiente – Fonte: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/parques-e-bosques-croquipedreira/307 Figura 13: Parque das Pedreiras, Curitiba – Ópera de Arame. Site Descubra Curitiba Fonte: http://www.descubracuritiba.com.br/turismo/detalhes/645/opera-de-arame/ Figura 14, 15, 16, 17 e 18: Reurbanização da Orla do Lago Paprocany, Polônia – Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/794563/reurbanizacao-da-orla-do-lago-paprocany-rsplus/561df889e58ece0d5a0004bf-paprocany-lake-shore-redevelopment-rs-plus-photo


Figura 19, 20, 21, 22, 23 e 24: Zhangjiagang Town River, China – Fonte: http://www.archdaily.com/563128/zhangjiagang-town-river-reconstruction-botaolandscape Figura 25, 26, 27 e 28: Riverwalk, Chicago – Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/794654/chicago-riverwalk-departamento-de-transportede-chicago Figura 29, 30, 31 e 32: Parque Manancial de Águas Pluviais, China – Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-166572/parque-manancial-de-aguas-pluviais-slashturenscape Figura 33: Censo Demongráfico – Subprefeitura Capela do Socorro - Fonte: Infográfico IBGE 2010. Figura 34: Construção da Represa de Santo Amaro, 1907 – Fonte: Biblioteca Prestes Maia. Figura 35: Barragem da Represa Guarapiranga https://pt.wikipedia.org/wiki/Represa_de_Guarapiranga

Fonte:

Wikipédia

Figura 36: Evolução Populacional – Subprefeitura Capela do Socorro - Fonte: Infográfico - IBGE 2010. Figura 37: Comparação realizada entre 1989 e 2003 na Represa Guarapiranga –

Fonte: https://www.socioambiental.org/banco_imagens/pdfs/10368.pdf Figura 38: Distribuição dentro da Faixa de Servidão / Linhão – Fonte: http://www.furnas.com.br/arcs/pdf/folder_LT_queimadas.pdf Figura 39: Jardim de Chuva – Fonte: https://br.pinterest.com/pin/259449628512737691/ Figura 40: Jardim de Chuva – Fonte: http://www.cidadessustentaveis.org.br/sites/default/files/noticias/jardins-de-chuva.jpg Figura 41: Cigler Marani Park – Fonte: http://www.contemporist.com/a-patchwork-inthe-park-by-cigler-marani-architects/ Figura 42: Cigler Marani Park – Fonte: https://s-media-cacheak0.pinimg.com/564x/08/ee/cb/08eecbb2b086a0e086f70a8794091344.jpg Todos os Mapas apresentados foram retirados do Mapa Digital da Cidade de São Paulo, disponiveis pela Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx

As demais fotografias e mapeamentos, não indicados acima, são de autoria própria.


ÍNDICE INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 01 CAPITULO I – AS QUESTÕES INICIAIS ............................................................... 03 CAPITULO II – ESTUDOS DE CASO ...................................................................... 11 1. LAGO PAPROCANY, POLÔNIA, 2014 …………………….……………..….11 2. ZHANGJIAGANG TOWN RIVER, CHINA, 2014 ............................................13 3. CHICAGO RIVERWALK, 2015..........................................................................15 4. PARQUE MANANCIAL DE ÁGUAS PLUVIAIS, CHINA, 2010.....................17 CAPITULO III – ANÁLISE DO TERRENO E CONDICIONANTES .................. 19 1. JUSTIFICATIVA ................................................................................................19 2. CONTEXTO HISTÓRICO ..................................................................................20 3. ÁREA DE INTERVENÇÃO ...............................................................................23 4. MEIO FÍSICO ......................................................................................................33 5. LINHÃO ............................................................................................................. 40 CAPÍTULO IX - PROPOSTA PAISAGISTICA ....................................................... 42 1. ANEXO - IMPLANTAÇÃO ...............................................................................43 2. SETOR 01 – PRAÇA DO ACOLHIMENTO .................................................... 44 3. SETOR 02 – PRAÇA SECA .............................................................................. 46 4. SETOR 03 – PRAÇA ALAGÁVEL ................................................................... 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 53



INTRODUÇÃO Quando falamos em parque a primeira imagem que nos vem à mente é aquele extenso gramado acolhido por arranha-céus - como o Central Park em Nova York; ou aquele sinuoso lago que margeia uma pista de caminhada - como feito em São Paulo no Parque Ibirapuera. Por trás de toda visão que faz parte de um imaginário coletivo encontramos seu verdadeiro papel: um espaço de recreação pública, desenhado com determinado critério e visto como uma necessidade da população. Macedo e Sakata (2002) definem: Os parques urbanos são elementos fundamentais, dotados de autoria e que acompanharam toda formação e transformação das cidades – sempre demarcados em períodos, propósitos e funções. Nos ensaios que aqui se debatem e que também nos orientam, podemos perceber de longa data que o paulistano precisa em determinados momentos diminuir sua velocidade a fim de desfrutar de espaços como uma forma de antídoto contra toda a pressão e tensão que a vida nos oferece. Infelizmente, nos vemos cada dia mais precavidos de espaços assim. O alto custo da terra, também resultado do desenvolvimento desordenado, resultou na escassez de espaços bem planejados para o convívio urbano. Não longe desta realidade, a Represa Guarapiranga, que abastece parcela da cidade e considerado um dos principais mananciais da região metropolitana de São Paulo se tornou ao decorrer dos anos um espaço atrativo para o lazer social e de caráter contemplativo. Num breve contexto histórico, a Represa de Santo Amaro (inicialmente nomeada) foi inaugurada em 1908 e construída apenas com a finalidade de produção de energia elétrica; passando a servir posteriormente como reservatório e abastecendo quase 05 milhões de habitantes da zona sul – segundo a fonte SABESP (2010). Com a aparição dos lotes pioneiros - alguns atraídos pela oferta de paisagens e outros, pela facilidade de locomoção as indústrias de Santo Amaro, iniciou-se em seu redor, um crescimento desordenado. Atualmente, o Parque da Barragem é utilizado e modificado gradativamente pelos próprios moradores da região, mas apesar de todo seu valor simbólico e potencial, se torna ameaçado pela falta de tratamento e planejamento.

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A Subprefeitura – órgão responsável pela administração - vem tomando iniciativas e implantando programas de tratamento a fim de minimizar o comprometimento da água. “O programa Guarapiranga foi equacionado como um conjunto de obras de saneamento e de infraestrutura urbana, visando uma redução drástica das cargas poluidoras afluentes ao Reservatório, provenientes de esgotos e processos erosivos.” (ANCONA e ABREU, 2005), que, segundo a Subprefeitura (2008), já foram demolidas cerca de 3.200 mil construções irregulares, realocando as famílias para locais adequados e fechando cerca de 60 fábricas instaladas sob áreas de proteção ambiental. Avaliando parte deste processo histórico, analisando a região e estudando exemplos de parques bem sucedidos em conjunto com a compreensão destas áreas livres urbanas, é possível apontar propostas neste setor que possam configurar um espaço multifuncional, de forma eficiente e promovendo maior movimento, segurança e lazer. No procedimento metodológico desta pesquisa foram adotados levantamentos bibliográficos e iconográficos, visitas técnicas na área de intervenção, estudos de caso que servem de base para a proposta de projeto; e desenvolvimento de projeto arquitetônico paisagístico para o local de intervenção.

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CAPÍTULO I – AS QUESTÕES INICIAIS Se analisarmos a produção de espaços livres, verificamos que o parque urbano, além de sua função somente estética, é uma alternativa que promove o bem-estar social, e neste contexto, é fundamental pensa-lo como um espaço de interação com os espaços construídos e considerar a dimensão humana em sua apropriação. Campos (2007) afirma que: Dentro do território urbano conseguimos identificar um sistema de espaços livres de edificação, que tem a importância justificada através de três abordagens: 1. O desempenho da vida cotidiana; 2. A constituição da paisagem urbana; 3. A esfera da vida pública e privada. Essa teoria condiz com o produto que nasce do espaço-vivido e possui um aspecto diferente para cada grupo e dos sentidos que permitem a descoberta ou o reconhecimento, tudo depende da percepção e do arcabouço teórico de quem o capta. Não existe um sistema padrão de espaços livres, se torna necessário analisar a sua relação com a cidade, diferenciando-o do conceito geral e simplificado de áreas verdes. Miranda Magnolli (2006), afirma que: Setores especiais dos espaços livres de edificação são ainda entre nós vistos de maneira superficial, como quantidades de solo, como suporte da flora ou como pulmões da cidade. No entanto, possuem forte peso na configuração de modelo urbano. A fim de definir os espaços-livres-urbanos como “espaços livres de edificação: os quintais, jardins públicos e privados, as ruas, avenidas, praças, parques, rios, florestas, praias urbanas, ou simples vazios urbanos, percebidos em sua existência” – um conceito associado a totalidade, diferente da paisagem, que fica atrelada somente a um recorte no espaço. Aborda a interdependência do conjunto edificação + espaços livres e a sua continuidade conferindo diferente escalas na urbanização, tal como, o conjunto de edifícios que envolve um espaço aberto.

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Magnoli (2006) ainda cita que: Na continuidade relacionavam-se ao sítio – enquanto bases naturais da paisagem e acervo das intervenções antrópicas acumuladas. A análise das condições de apropriação dos espaços livres no todo e nas partes do intra-urbano, permitiria uma leitura inicial do caráter democrático da organização social urbana. E neste enquadramento abrangemos o conceito de “espaço” – no que diz respeito não somente a parcela do solo, mas aos espaços de seu envoltório, o tecidos urbano.

Figura 01: Representando as edificações em quadrados escuros sobre o espaço livre; em cinza observa-se a distribuição vinculada a outras morfologias. Figura 02: Representando as áreas de luz - Relação dos espaços livres com as edificações.

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Demonstra como o desenho e configuração destes determinados setores exercem total influencia no modelo de urbanização, e a cidade então se torna um conjunto destes elementos, sistemas e funções. Macedo (2011) define: Trato do espaço como produto porque resulta de um processo social de ocupação e gestão de determinado território, e como um sistema, pois na medida em que, a partir de qualquer ação sobre ela impressa, com certeza haverá uma reação correspondente, que equivale ao surgimento de uma alteração morfológica parcial ou total. Se associarmos então o espaço livre, no que se refere aos parques, podemos partir de conceitos que atrelam a evolução aos mais variados cenários e influências, afirmando que estes espaços podem ser considerados ícones da sociedade moderna e renovando aquele modelo de parque, que tinha como principal objetivo, sua exibição social, provindo de experiências inglesas, francesas e norte-americana. Como define Kliass (1993), O parque urbano é um produto da cidade da era industrial. Nasceu a partir do século XIX, da necessidade de dotar as cidades de espaços adequados para atender a uma nova demanda social: o lazer, o tempo do ócio e para contrapor-se ao ambiente urbano (..) acompanhando as mudanças urbanísticas das cidades, sendo assim um testemunho importante dos valores sociais e culturais das populações urbanas. Segundo Macedo (2006), “podemos traçar a evolução dos parques em 03 arranjos: A linha Eclética, a Moderna e a Contemporânea” - todas são providas das mesmas generalidades mas com diagramação distintas, indicando sempre uma determinada intenção e fundamentados em dois pontos primordiais: a urbanização e a industrialização dos país. O “Pleasure Garden”, de 1850, caracterizado por Olmsted (1978) – considerado o precursor do paisagismo norte americano - apresenta este modelo sob aspecto de campo. Com espaços sinuosos e bucólicos para elaborados passeios, separando a circulação de veículos e pedestres, contrapondo-se a malha ortogonal da cidade numa linha romântica.

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É marcado por atividades contemplativas que estimulam a percepção das formas e a apreciação ao invés da racionalidade. Oliveira (2010) descreve estas áreas verdes como uma forma de embelezamento urbano para as elites.

Figura 03: Campo de Santana - Praça da República, Rio de Janeiro

Figura 04 e 05: Campo de São Bento, Niterói – Rio de Janeiro

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O período Moderno, definido por Macedo (2006), inicialmente identificado a partir de 1900, apresentou uma nova corrente de pensamento mais centrada ao urbano. Adotava uma forte postura racionalista, onde a vegetação nativa era valorizada e buscava-se criar áreas para atividades esportivas e recreação. A expressão “Recreation Facility” ganhou ainda mais autonomia no período de 1930 à 1965 - após a Primeira Guerra Mundial, com o movimento dos trabalhadores, que tentava atrair eventos em massa como uma forma de demonstração do progresso, liberdade e democracia. Macedo (2003) descreve os anos 1950-1960, em função do processo de urbanização da cidade, já que nos víamos com carência de espaços ao ar livre. Friedrich (2007) acrescenta que a partir de 1970, surgem os parques mais exuberantes, com equipamentos esportivos, edifícios e espelhos d’água. Como exemplo temos Brasília, inaugurada em 1961 e idealizada como cidade parque, e o Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro.

Figura 06 e 07: Brasília - Distrito Federal

Figura 08 e 09: Parque do Flamengo, Rio de Janeiro.

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Os estudos urbanísticos iniciados a partir do pós-guerra levaram nossos parques ao seu terceiro arranjo: áreas verdes distribuídas entre a cidade de forma planejada, para que se contribuísse com uma sociedade equilibrada e ordenada. Já no século XX, projetar o espaço livre torna-se um dos principais objetos de trabalho. Os arquitetos e paisagistas passaram a criar espaços públicos e privados se libertando de antigas influências europeias, apresentando uma reinterpretação do ecletismo com influências do desconstrutivismo. Macedo (2003) cita: Somente a partir do século XX, os parques que antes tinham funções contemplativas, introduzem novas características, surgindo novas denominações como parques ecológicos com a função de conservação de recursos naturais; parques de lazer com a implantação de brinquedos e parques temáticos criados a partir de espaços cenográficos.

Figura 10 e 11: Jardim Botânico, Curitiba.

Figura 12: Parque das Pedreiras, Curitiba – Implantação

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Figura 13: Parque das Pedreiras, Curitiba – Ópera de Arame. Costa (2010) descreve: A maioria das cidades possui instrumentos de planejamento que direcionam a quantidade e qualidade destes espaços públicos, como por exemplo, o plano diretor. Entretanto, questiona que em muitos casos, há a carência de concepção, visão e estratégia apropriada. Se levarmos em consideração a variedade existente de parques urbanos, as diferenças de dimensões, formas, tratamentos paisagísticos, funções e equipamentos, podemos dizer que há certa dificuldade na conceituação precisa desses parques. Dentre os autores, encontramos: “Os

parques

urbanos

são

espaços

públicos

com

dimensões

significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinados a recreação” - Rosa Grena Kliass, 1993. “O parque urbano é uma área verde com função ecológica, estética e de lazer, entretanto com uma extensão maior que as praças” – Lima, 1994 “Os parques urbanos são todo espaço de uso público destinado à recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é auto suficiente” – Macedo e Sakata, 2003.

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“Reservo a palavra parque para lugares com amplitude e espaço suficientes e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles daquilo que pode ser encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem, no seu sentido mais antigo e radical.” – Frederick L. Olmsted (2002) Em resumo, os parques do século XX recriaram as condições da vida urbana, envolvendo locais de integração social em contato com a natureza, pela sua busca do equilíbrio e da preservação, e quando aqui se aborda de diferentes conceitos: urbano, social ou contemplativo; a justificativa é simples: apenas a de demonstrar que o parque se torna aquilo que a cidade percebe, independente de qualquer classificação.

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CAPÍTULO II – ESTUDOS DE CASO 1. LAGO PAPROCANY, POLÔNIA, 2014 ARQUITETURA: ROBERT SKITEK O principal destaque para este projeto, do escritório RS+, é a implantação do deck de madeira, localizado ao longo da margem do lago Paprocany. Sua forma sinuosa cria para o usúario diferentes experiências e perspectivas do espaço - e de sua paisagem - durante o passeio. Bancos de madeiras e redes são esticadas a fim de criar zonas de permanência para a contemplação e maior relação com a água, utilizando sempre materiais naturais para enfatizar ainda mais seu caráter.

Figura 14 e 15: Implantação Proposta e Perspectiva Noturna do Deck

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Figura 16,17 e 18: As Margens do Lago Paprocany

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2. ZHANGJIAGANG TOWN RIVER, CHINA, 2014 ARQUITETURA: BOTAO LANDSCAPE A reconstrução do Town River foi projetado com o partido de conter a poluição da água por um projeto de drenagem – recuperando a ecologia natural ocasionada pela expansão das residencias e comercios ao longo do rio; e ao mesmo tempo, retomar sua paisagem a fim de proporcionar um ambiente mais agradável e acolhedor ao publico. O desenho do parque configura praças internas e palcos públicos que atraem ainda mais fluxo e vida ao local.

Figura 19: Implantação

Figura 20 e 21: Vistas Aéreas

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Figura 22, 23 e 24: Margens do Town River e sua ocupação.

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3. CHICAGO RIVERWALK, 2015 ARQUITETURA: DEPARTMENT OF TRANSPORTATIN, ROSS BARNEY ARCHITECTS, SASAKI ASSOCIATES E JACOBS RYAN ASSOCIATES O projeto - ainda em obras - busca requalificar o atual canal Chicago Riverwalk visto como um importante instrumento da cidade a fim de acompanhar a transformação e o desenvolvimento da cidade. O principal foco é o de relacionar a cidade com o rio, buscando despolui-lo e retomando funções recreativas, estabelecendo novas conexões com as margens e implementando espaços multifuncionais. Para isto, cada espaço foi formulado com uma diferente formas, para atender a determinado programa. Criaram-se Setores de eventos para o convívio mútuo; Zonas úmidas que oferecem ambientes ecológicos, com planta nativas e jardins flutuantes; e além disto, áreas com dinâmicas de inundação, como vemos na escadaria escultural que atinge uma grande altura e ainda oferece áreas de vegetação e sombra para a contemplação e permanência do usuário.

Figura 25: Margens do Riverwalk

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Figura 26, 27 e 28: Escadaria Riverwalk

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4. PARQUE MANANCIAL DE ÁGUAS PLUVIAIS, CHINA, 2010 ARQUITETURA: TURENSCAPE Situado numa zona de proteção ambiental e cercado por estradas, a proposta do projeto visou recuperar o pantanal e seus processos naturais e ecológicos que estava ameaçado, o transformando num parque multifuncional em meio a cidade que recolhe, filtra e armazena a água pluvial e proporciona novas experiências recreativas. O plano foi deixar a parte central intocada, liberada para o processo natural e criar um anel de lagoas e montes que cerca o pantanal e forma uma zona de transição, ou seja, a água é coletada através de tubos nesta circunferência e liberadas nas lagoas – que prevêm plantas nativas - para serem filtradas. Bosques de árvores também foram criados em diferentes alturas, gerando uma densa floresta que são atravessados por uma rede de caminhos e assentos que permitem um maior contato com a natureza; e a camada superior é formada por passarelas que se ligam a mirantes, criando novas vistas e perspectivas.

Figura 29: Implantação Proposta

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Figura 30, 31 e 32: Área de mananciais e passarelas de acesso

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CAPÍTULO III – ANÁLISE DO TERRENO E CONDICIONANTES

Mapa 01: Vista áerea do terreno e seu entorno. 1.

JUSTIFICATIVA O recorte físico da intervenção foi definido por seu potencial urbano e reforçado

através da familiarização como moradora do bairro e do potencial da área como parque urbano para lazer e proteção ambiental da represa. A Represa Guarapiranga se tornou ao passar dos anos mais que um sistema de abastecimento ou geradora de energia; ela possui em seu entorno uma área livre de edificação que se configura como um respiro para região promovendo recreação e servindo como habitat a diversas espécies de pássaros da fauna e flora brasileira. Tratar deste espaço, estabelecendo um projeto paisagístico, promoverá uma nova perspectiva ao cenário para os usuários que ali habitam e também, para aqueles que a visitam.

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Atualmente, existe uma proposta da PMSP de interligação deste parque com as demais áreas livres que beiram a Avenida Robert Kennedy - aprovada em março de 2007 e liderada pela Operação de Defesa das Águas, e que poderia ser um pensamento mais sistematizado de um sistema de espaços livres. 2. CONTEXTO HISTÓRICO A subprefeitura Capela do Socorro, ao sul do município de São Paulo, foi criada oficialmente em 1938 pelo ex-prefeito Adhemar de Barro e formada pelos distritos Socorro, Cidade Dutra e Grajaú. Seu trecho corresponde a cerca de 134 km2, abastecida pela represa Billings e Guarapiranga, onde 90% do seu território é indicado como área de preservação aos mananciais e responsáveis pelo abastecimento de água potável da população.

Figura 33: Resumo do Municipio, 2010 No surgimento do bairro, encontramos históricos de habitações de índios no curso de seu processo migratório, mas a habitação na região foi somente no século XX, após a construção da Barragem na Represa de Santo Amaro, pela Companhia Light Power. Inaugurada em 1907, tinha como finalidade a regularização da vazão do Rio Tietê e geração de energia na usina Edgard de Souza, dando origem a represa Billings e Guarapiranga. A Represa Guarapiranga está localizada na Zona Sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, a cerca de 25 km do centro, e sua bacia hidrográfica é rodeada pelos municípios de Cotia, Embu, Juquitiba, São Lourenço da Serra, São Paulo, Embu Guaçu e Itapecerica da Serra.

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Figura 34: Representando a construção da barragem – Represa de Santo Amaro, 1907

Figura 35: Barragem da Represa da Represa Guarapiranga Atraídos pelo lazer, resultado da transformação urbana da região, a Represa se destacou, gerando especulação imobiliária nos loteamentos vizinhos. Chácaras, clubes de campo e náuticos, se instalaram a beira destes afluentes impulsionando ainda mais seu desenvolvimento. A construtora imobiliária AESA – Auto Estradas, realizou investimentos de infraestrutura urbana com o objetivo de zonear lotes para camadas de maior poder aquisitivo, no entanto, muito dos terrenos foram ocupadas por comércios e restaurantes; e muitos outros, ocupados por trabalhadores atraídos pela proximidade ao trabalho nas industrias e pelo baixo custo de terra. Aglomerações se formavam e bairros continuavam a crescer quase sempre sem preocupações urbanísticas ou critérios de planejamento. Somente a partir de 1975, a Subprefeitura aprovou leis de zoneamentos, indicando áreas de proteção aos mananciais e restringindo a instalação de industriais para conter a

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degradação ambiental, a depreciação de terra, e a expansão desenfreada de lotes clandestinos e favelas, localizadas ao longo dos córregos.

Figura 36: Tabela de Evolução Populacional (1992-2008) Como cita a Revista DAE (1958), É importante destacar que o desenvolvimento de algumas grandes obras de infraestruturas urbanas, como nos casos da canalização e reversão do Rio Pinheiros nos anos 1940-50, a construção das vias marginais, a consolidação do parque industrial de Santo Amaro na década de 1960, além da presença posterior de vias de Metrô, Estação de Trem, importantes avenidas, favoreceram o processo de expansão da mancha urbana na região sul de São Paulo, onde se localizam os mananciais das represas Guarapiranga e Billings. A existência de legislação não foi suficiente para barrar o crescimento da ocupação da Bacia da Guarapiranga, pelo contrário, de certa forma favoreceu o uso irregular da região pois promoveu a desvalorização da área para usos urbanos legais. O esgoto destas habitações irregulares levou ao comprometimento do manancial e do abastecimento, obrigando a SABESP à investir em programas de tratamento.

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3. ÁREA DE INTERVENÇÃO

Mapa 01: Base cartográfica com indicação da área e atual topografia

O atual Parque da Barragem, implantado na região do Socorro, bairro localizado dentro da Subprefeitura da Capela do Socorro, é delimitado pelo cruzamento das vias: Avenida Atlântica, Avenida João de Barros e Avenida de Pinedo. A área de 80.000 m2 possui um amplo terreno linear - com extensão de 1,5km e é configurado em 02 planos paralelos: O Plano Inferior indica um extenso campo de várzea com ilhotas de fauna e flora alagáveis - de acordo com o nível da Represa; e o Plano Superior formado apenas por uma pista de caminhada, utilizada por pedestres e ciclistas, que percorrem todo seu trecho. A topografia criada a fim de conter a barragem de água gerou quase que um muro central, desconexo. Os planos que são hoje conectados por um talude de pedras de quase 05 metros, sem acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, passou a ser utilizada como arquibancada ao publico que participa e visita eventos provisórios, e ao leste, como apoio aos pesqueiros amadores.

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Fotografia 01: Plano Superior – Vista Sudoeste

Fotografia 02: Plano Superior – Vista Noroeste

Fotografia 03: Plano Inferior – Vista Noroeste

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Fotografia 04: Demonstrando o talude que separa o nível Superior da Represa Fotografia 05: Demonstrando sua utilização como arquibancada. Fotografia 06: Demonstrando a falta de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida.

Não só este talude, mas outros materiais empregados no atual terreno geram graves problemas em relação ao acesso e a segurança do local. Inicialmente não existiu um projeto de espaço público, mas sim, a apropriação dos próprios moradores, que somente em 2007, o Estado em parceria com a Subprefeitura da região, iniciou o Programa Guarapiranga que propõem a revitalização das áreas livres que margeiam a Orla da Represa.

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O HabitaSampa (sem data) descreve: SOBRE O PROGRAMA MANANCIAIS O Programa Mananciais foi criado para garantir a conservação, o saneamento ambiental e a recuperação da qualidade das águas das represas Guarapiranga e Billings que são responsáveis pelo abastecimento de 4,7 milhões de habitantes do Município e Região Metropolitana de São Paulo. Para isso, são realizadas intervenções em áreas de ocupação desordenada e sem infraestrutura adequada (favelas e loteamentos irregulares), e desenvolvidas ações de recuperação social e ambiental nos bairros existentes. As intervenções abrangem a urbanização de favelas, o reassentamento populacional e a expansão de infraestrutura básica, sobretudo sanitária, sendo cada intervenção previamente discutida e pactuada com a população moradora da área. OBJETIVOS Recuperar e conservar a qualidade das águas dos reservatórios Guarapiranga e Billings através de intervenções de urbanização, infraestrutura básica e reassentamento populacional, garantir a sustentabilidade

das

intervenções

urbanísticas

realizadas

pelo

Programa, que transforma áreas degradadas em bairros, e melhorar as condições de vida dos moradores da área. AÇÕES DO PROGRAMA •

Implantação de redes de água e de coleta de esgoto;

Execução de redes de drenagem de águas pluviais e de córregos;

Melhorias viárias para veículos e pedestres, com pavimentação e

abertura de ruas e vielas, possibilitando, não só a melhoria de acesso aos moradores, como o tráfego de ônibus, ambulâncias e caminhões de coleta de lixo, entre outros veículos oficiais;

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Execução de obras de contenção e estabilização de encostas, para

eliminação de áreas de risco; •

Obras de recuperação ambiental e paisagismo;

Obras de iluminação pública;

Criação de áreas de lazer e centros comunitários;

Reassentamento de famílias que precisam ser deslocadas por frente

de obra, risco de inundação ou risco geotécnico não solucionável, estar em áreas de preservação permanente ou impossibilidade de coleta de esgoto; •

Construção de unidades habitacionais para reassentar essas

famílias em área segura e com infraestrutura; •

Acompanhamento social junto à população moradora do local;

Ações de educação ambiental;

Regularização fundiária mediante aprovação das Leis Específicas

de Proteção e Recuperação dos Mananciais Guarapiranga e Billings. Mas ainda hoje, quase 10 anos depois, as poucas infraestruturas permanentes que existem ali são equipamentos esportivos sob má conservação e utilizados principalmente aos finais de semana. Mesmo nas áreas mais estruturadas, após a atual reforma, ainda notamos a falta de equipamentos urbanos como o apoio de mesas e bancos e equipamentos de recreação, assim como, a falta de vegetação arbórea e áreas de sombreamento.

Fotografia 07: Campo de Varzea – Setor “Revitalizado”

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Fotografia 08: Instalação Permanente – Rede de Vôlei

Fotografia 09: Instalação Permanente - Quadra de Futebol

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Fotografia 10, 11 e 12: Demonstrando a falta de equipamentos urbanos Os acessos se dão pela Avenida Atlântica e Avenida João de Barros e não existe estacionamento ou permissão para entrada de transportes particulares. Mesmo assim, a área é bem atendida pela rede do transporte publico - já que possui pontos de ônibus nos seus principais acessos e seus arredores, contando também com estações de trêm da CPTM (Linha Esmeralda) e ciclovias. Por estar inserido num bairro predominantemente residencial, envolvido por ruas locais, também se torna fácil para aqueles que procuram vagas.

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Mapa 02: Rede de Transporte Público

Fotografia 13: Acesso Avenida Atlântica

Fotografia 14: Acesso da Avenida João de Barros.

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Como podemos verificar nos registros acima, o parque é envolvido por um extenso gradil de segurança, vazado, e que percorre todo seu perímetro pois possui horário restrito para visitação. Sua calçada envoltória é bem conservada e conta com o apoio de rampas acessivéis e árvores para o sombreamento dos ciclistas e pedestres.

Fotografia 13 e 14: Perspectivas da Avenida João de Barros No que diz respeito a ocupação, podemos afirmar que as principais características da região estão associadas ao crescimento desornado iniciado em 1960. O bairro ainda passa por diversas transformações urbanas visto que industrias foram substituídas por conjuntos residenciais, como previsto no Plano Diretor; e suas principais vias, constituem uma zona comercial atendendo a demanda da região, em conjunto com os lotes de serviço, que indicam escolas, postos de gasolina, etc.

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Mapa 03: Uso e Ocupação do Solo – Levantamento realizado em 2016.

Mapa 04: Zoneamento de acordo com a Lei 16.402/16

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4. MEIO FÍSICO Apesar da Represa Guarapiranga ter se tornado um dos principais mananciais da região metropolitana de São Paulo, aqui destacamos novamente que ele se encontra como sendo um dos mais ameaçados entre todos aqueles que abastecem a cidade – isto porque até o ano 2000, metade das habitações envoltórias não possuia o sistema de coleta de esgoto dejetando-o diretamente em seus afluentes – água utilizada para o consumo e para o desenvolvimento de atividades econômicas.

Figura 37: Comparação realizada entre 1989 e 2003 na Represa Guarapiranga. A Secretaria do Meio Ambiente (1999) cita, A periferização das camadas mais pobres da população se dão através da implantação de inúmeros loteamentos clandestinos e do surgimento de favelas em fundos de vale, desprovidos de equipamentos de infraestrutura urbana necessárias a uma adequada qualidade de vida da população e dos recursos hídricos existentes. E ALVIM (2008), complementa: A água é um dos recursos naturais mais importantes no território, representando, ao lado da energia solar, um dos requisitos essenciais à vida na Terra. Teoricamente, o ciclo hidrológico determina que a água possa ser considerada um recurso renovável, ou seja, um recurso que apresenta características permanentes e contínuas de formação e circulação. Entretanto, nas ultimas décadas, o debate sobre sua escassez

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vem se ampliando e, embora o volume total de água no mundo permaneça constante, sua capacidade de regeneração tem sido prejudicada pela forma e pelo ritmo segundo os quais tem sido apropriada e utilizada pela sociedade. Ou seja, a deterioração e o uso desta água têm relação direta com o homem, em especial com o crescimento e a diversificação de atividades agrícolas e industriais, aumento da urbanização e intensificação de atividades humanas nas bacias hidrográficas; e o chamado “estresse hídrico” – relação entre disponibilidade natural e os diversos usos que o homem faz da água, como produção, abastecimento público, geração de energia, diluição de esgotos, controle de enchentes, entre outros – já é uma realidade em metrópoles mundiais e neste contexto, torna-se necessário o resgate de aspectores legais e gerenciais: A Lei de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo n.898, criada para disciplinar o uso do solo para a proteção dos mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos de interesse da RMSP, foi elaborada e editada entre 1975 e 1977 e regulamentada pela Lei Estadual n.1172 em 1976, que especifica os parâmetros de ocupação. Como cita NOBRE (1991): Tratava-se de um modelo teórico de ocupação desejável para a bacia, disciplinando o uso do solo com a montagem de um sistema institucional de controle da ocupação, densidade demográfica e possível tamanho de lote mínimo e ainda adotou duas categorias de áreas de proteção. Em Janeiro de 2006, foi criada Lei n. 12.233, que define a Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais da Bacia Hidrografica do Guarapiranga, nos termos da Lei Estadual de Proteção e Recuperação aos Mananciais, contendo especificas diretrizes:

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CAPÍTULO II – OBJETIVOS I - implementar a gestão participativa e descentralizada da APRM-G, integrando setores e instâncias governamentais e a sociedade civil; II - integrar os programas e políticas regionais e setoriais, especialmente aqueles referentes a habitação, transporte, saneamento ambiental, infraestrutura e manejo de recursos naturais e geração de renda, necessários à preservação do meio ambiente; III - estabelecer as condições e os instrumentos básicos para assegurar e ampliar a produção de água para o abastecimento da população, promovendo as ações de preservação, recuperação e conservação dos mananciais da Bacia Hidrográfica do Guarapiranga; IV - garantir as condições necessárias para atingir a Meta de Qualidade da Água do Reservatório Guarapiranga, estabelecida nesta lei; V - disciplinar o uso e ocupação do solo na APRM-G, de maneira a adequá-los aos limites de cargas poluidoras definidos para a Bacia e às condições de regime e produção hídrica do manancial; VI - compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a proteção e recuperação do manancial; VII - incentivar a implantação de atividades compatíveis com a proteção e recuperação do manancial; VIII - estabelecer diretrizes e parâmetros de interesse regional para a elaboração das leis municipais de uso, ocupação e parcelamento do solo, com vistas à proteção do manancial; IX - disciplinar e reorientar a expansão urbana para fora das áreas de produção hídrica e preservar os recursos naturais; X - promover ações de Educação Ambiental. Em resumo, a Lei indica programas de monitoramento da qualidade da água para o reservatório Guarapiranga avaliando sua carga poluidora e definindo áreas de intervenção para a aplicação de normas de proteção, recuperação e preservação dos mananciais.

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Áreas de Restrição à Ocupação (ARO): São aquelas de especial interesse para a preservação, conservação e recuperação dos recursos naturais da Bacia compreendendo as áreas de preservação permanente nos termos do Código Florestal, e nas demais normas federais que a regulamentam. Na ARO são admitidos atividades de recreação, educação e pesquisa que não exijam edificações, instalações de sistemas de drenagem e saneamento, intervenções em áreas urbanas para fins de recuperação ambiental, pesca recreativa, ancoradouro de pequeno porte e rampa de lançamento de barcos, instalação de equipamentos removíveis como palcos, sanitários e quiosques para dar suporte a eventos temporários e manejo sustentável da vegetação. Áreas de Ocupação Dirigida (AOD): São aquelas de interesse para a consolidação ou implantação de usos urbanos ou rurais, com restrições para assegurar as condições ambientais. Essa área foi subdividida em seis subáreas definindo diretrizes de ocupação conforme a área a ser implantada. Subárea de urbanização consolidada – SUC: áreas urbanizadas onde já existe ou deve ser implantado sistema público de saneamento ambiental; Subáreas de Urbanização Controlada – SUCt: Em processo de urbanização cuja ocupação deverá ser planejada e controlada, garantindo a implantação de infra-estrutura de saneamento ambiental; Subáreas

Especiais

Corredores

SEC:

áreas

destinadas

preferencialmente a empreendimentos comerciais e de serviços de caráter regional e a ampliação ou implantação de indústrias com exceção daquelas geradoras de efluentes líquidos não domésticos e que manipulem ou armazenem substancias químicas toxicas; Subáreas de ocupação diferenciada – SOD: áreas destinadas preferencialmente a uso residencial e empreendimentos voltados ao

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turismo,

cultura

e

lazer,

com

baixa

densidade

demográfica

predominando espaços livres e áreas verdes. Subáreas Envoltórias da Represa – SER: área localizada ao redor do reservatório Guarapiranga, destinadas ao lazer, recreação e valorização paisagística. São diretrizes para a área garantir o acesso do público à represa, estimular a implantação de equipamentos de lazer e turismo, pesqueiros, praias, mirantes. Qualquer edificação nas SER deverá observar o gabarito máximo de 2 pavimentos não sendo permitida a instalação de indústrias. O coeficiente de aproveitamento máximo e o índice de impermeabilização máximo deverão ser de 0,4 e o lote mínimo para empreendimentos é de 500m2; Subárea

de

baixa

densidade

SBD:

áreas

destinadas

preferencialmente a atividades do setor primário, turismo ecológico, chácaras e sítios desde que compatíveis com as condições de proteção do manancial. Estas Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais – APRM, definidas nas Leis Estaduais no898/75, 1.172/76 e 9.866/75, localizadas no território da RMSP, estão incluídas na Macrozona de Proteção Ambiental, inserindo-se nas macroáreas de Proteção Integral, Uso Sustentável e Conservação e Recuperação, de acordo com suas características de ocupação.

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Mapa 06: Demonstrando a variação no nível de água da represa com indicação dos campos com vegetação aquática e bosques heterogenos.

Fotografia 14: Demonstrando o Plano Inferior e sua área passível de alagamento

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Fotografia 15: Demonstrando o Plano Inferior – Campo de Várzea Seco

Fotografia 16: Demonstrando o Plano Inferior – Campo de Várzea Alagado

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5. LINHÃO Visto que a área de intervenção é uma propriedade da EMAE, contamos com a presença de 07 torres que fazem parte do Linhão, indicadas no Mapa 07, direcionadas do conjunto de instalações da companhia AES Eletropaulo até a Avenida Nações Unidas, via arterial que acompanha o Rio Pinheiros. Estas linhas de transmissão representam o transporte da eletricidade, e por isto, apontam de algumas restrições indicadas nas chamadas faixas de servidão. Estas faixas variam de acordo com a voltagem da torre e demonstram quais áreas podem ser utilizadas e para quais fins:

Mapa 07: Indicando a Rede de Transmissão – Linhão

Figura 38: Indicando as premissas e restrições para o uso na faixa de servidão

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Neste caso, como temos as bases instaladas no limite do eixo longitudinal do terreno, foi possível trabalhar com o espaço de uma forma não fragmentada; o que será apresentado no próximo capítulo.

Fotografia 17 e18: Demonstrando a extensão do Linhão no Plano Inferior, Vista Sudoeste

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CAPÍTULO IX - PROPOSTA PAISAGISTICA Situado numa zona proteção aos de mananciais e com uma vizinhança predominantemente residêncial, o projeto tem como partido recuperar o caráter natural em seus processos naturais e ecológicos - que mesmo após programas e iniciativas do Estado, ainda se via como um cenário ameaçado; e ao mesmo tempo, tratar do espaço de uma forma funcional, transformando-o num parque que atendesse a real necessidade da região e oferecendo suporte para as atividades já exercidas ali. Como o terreno de insere de forma linear, o plano foi implantar estes setores seguindo uma espécie de transição “Do Natural ao Urbano” criando zonas de passagem e investindo especialmente numa malha de piso que delimitasse de forma clara cada espaço. Para isto, estruturou-se o projeto em 03 trechos - denominados como: 1. Praça do Acolhimento: um setor social, com áreas de permanência contemplativa; 2. Praça Alagável: um setor natural, com áreas de fauna e flora que visam recuperar os processos naturais e ecológicos. 3. Praça Seca: um setor urbano, com áreas de convivência para recreação e lazer.

Diagrama 01: Croqui da Implantação Geral

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IMPLANTAÇÃO – ANEXO – TAMANHO A3

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Como demonstra a Implantação, os três setores são conectados através de dois eixos de circulação: o primeiro, que cria um caminho rápido, seguindo o eixo pararelo à Represa e que leva o usuário aos principais acessos e o segundo, formado por linhas retas não ortogonais que geram passeio pelo parque, e consecutivamente, formam um caminho mais longo - possibilitando novas perspectivas ao usuário.

Diagrama 02: Ampliação - Praça do Acolhimento

A Praça do Acolhimento tem como principal partido se tornar um ponto de encontro. Sua localização permite uma completa vista a Represa e por este motivo foram criadas áreas de permanência contemplativa. A escadaria, que de forma acessível tranforma o antigo talude em uma arquibancada, vence a atual topografia descendo até o nível da água, onde se encontramos o extenso deck - soluções também implantadas no Townriver, na China, e no Riverwalk em Chicago; referencias citadas nos estudos de caso. O deck, diferente das linhas de passeio, possui uma forma sinuosa que parece flutuar sobre suas margens. Cria de uma forma mais sutil, espaços multifuncionais –

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assim como feito no Rio Paprocany em Chicago – possível inclusive de abrigar shows e outros eventos já que a escadaria voltada a ele atenderia a uma grande plateia. Possui em seu centro um recorte introduzido com a finalidade de retomar a relação do homem e a água.

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Na projeção do linhão, como existe certa limitação projetual, locam-se jardins de chuva que evitam possíveis áreas de parada e ao mesmo tempo, recebem todo escoamento de água, acumulando os excessos e formando poças que infiltram no solo. Também chamados de sistemas de biorretenção, os jardins de chuva, prevêm de plantas como uma forma de remover os poluentes das águas pluviais e reduzindo parte do volume do escoamento.

Figura 39 e 40: Exemplos de Jardins de Chuva No Sudoeste, encontramos a Praça Seca, com um caráter muito mais urbano. Este recorte, como visa principalmente a apropriação e ocupação do espaço, ou seja, a retomada de atividades de lazer e recreação no local, opta-se por uma paginação quadricular no sentido norte-sul para configurar a área e transformando o espaço num próprio tabuleiro - premissa apresentada em Praga num parque projetado pelo escritório Cigler Marani. Sua malha ortogonal setoriza uniformemente os espaços, onde áreas permeáveis e impermeáveis se complementam e oferecem setores de recreação e lazer. Ali temos quadras esportivas, academias ao ar livre, playground, um espaço para o uso do skate, outros jardins de chuva - para captação de água; arborização para fins de sombreamento e conta com o apoio de mobiliário urbano.

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Diagrama 03: Ampliação e Detalhes Genéricos - Praça Seca

Figura 41 e 42: The Park – Cigle Marani, Praga, 2010

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A A Praça Alagável, que fica no nível 735,0, o mais baixo do terreno, fecha a implantação, voltando-a para o cenário natural. Aqui houve a necessidade de analisa-la sob diversas perspectivas, pois se tratava de um vasto gramado – com previsão de de enchentes que variam de acordo com o nível da água. Aposta-se então na ideia de retomar do próprio ecossistema natural, onde jardins flutuantes, plantas nativas e outros bosques - que margeariam toda área - seriam implantados como uma própria fonte de filtragem de poluições, já que nas últimas décadas, o desmatamento e o uso inadequado dos solos contribuiram para a diminuição de sua quantidade e qualidade da água. Paulo Yoshimoto, Engenheiro da Sabesp, relata: "Em seu processo de crescimento, a cidade foi invadindo os mananciais que outrora eram isolados e estavam distantes da ocupação urbana - é muito importante frisar que toda ação que ocorre numa bacia hidrográfica afeta a qualidade da água desse manancial. Não é simplesmente a ação em torno do espelho d'água que faz com que você degrade mais ou menos. Muito pelo contrário: pode ocorrer o

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surgimento de uma área industrial distante desse espelho d'água principal, mas com grande capacidade de poluição e, portanto, com possibilidade de degradar totalmente esse manancial. É muito importante que a população esteja consciente de que é preciso disciplinar todo tipo de uso e ocupação do solo das bacias hidrográficas, principalmente das bacias cujos cursos d'água formam os mananciais que abastecem a população.” Então, para a recuperação e preservação das nascentes e mananciais pesquisou-se algumas medidas de proteção e de vegetação que englobam desde práticas sustentáveis até o enriquecimento destas matas nativas. Carvalho (2004) sugere: “A vegetação em torno de áreas de mananciais funciona como uma barreira viva na contenção da água proveniente das enxurradas, devendo priorizar espécies nativas da região que geralmente são divididas em pioneiras e clímax: A guapuruvu, bracatinga, orelha-de-negro, amoreira, pitanga, alecrim e sibipiruna, são exemplos de espécies pioneiras, ou seja de ciclo de crescimento rápido que produzem uma grande quantidade de sementes, facilitando a renovação natural da área plantada. Já o óleo de copaíba, ipê, peroba, acácia, paineira, jacarandá, cedro, pau-brasil, angico, pau-de jacaré, pau-ferro, entre outras, são exemplos de espécies de clímax, que se desenvolvem de uma forma mais lenta e necessitam do sombreamento para produzir sementes e frutos.” Visto que nos Mananciais a renovação da vegetação nas áreas de nascentes e mananciais deve acontecer de maneira natural, o setor transforma-se num ambiente delicado. Como plano, cria-se um mirante para acessar a este extenso “campo” alagado”, permitindo que o usuário percorra até seu centro e conheça toda fauna e flora propicia da região – conceito também aplicado no Parque Manancial de Águas Pluviais, na China, citado no Capítulo II.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Represa Guarapiranga, apesar de todo seu valor natural, vem sofrendo mudanças significativas em seu curso. Além das mudanças à qual foi submetida, o paulistano que até então nadava em suas águas, hoje, despeja seu próprio esgoto ali deteriorando o espaço cada vez mais. O principal objetivo deste trabalho, realizado através de referência bibliográficas, e pesquisas de campo, é a de reprojetar o atual Parque da Barragem visando requalificar não somente as questões estéticas do bairro, mas também, encontrar formas ambientais de proteger as margens e águas da represa, retomando o contato do homem com a água e organizando o espaço de uma forma atrativa ao publico e ao mesmo tempo, consciente. Esta pesquisa não pretende encerrar o assunto, mas sim apresentar uma possibilidade de redesenho do espaço considerando o uso existente e propondo um espaço com mais qualidade para a cidade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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