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Tomás Tojo
HORIZONTE
TOMÁS TOJO
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Ainda inspirada pelo tema integrador do ano letivo anterior “Bem-Estar: Nosso e do Mundo”, a revista Sementinha quis conhecer melhor Tomás Tojo, um jardineiro e ativista, formado em Artes, com Mestrado em Direção de Arte.
Ao longo dos últimos anos, tem desenvolvido e participado em projetos sociais que relacionam a natureza em contexto urbano com a jardinagem coletiva e a sensibilização ambiental. É cofundador do projeto GREEN SP, responsável pela ativação e melhoramento de diversos espaços públicos através da jardinagem comunitária em São Paulo, Brasil.
Desde 2017, que desenvolve e dirige o festival Jardins Abertos, proposta que promove a educação ambiental através de visitas a jardins da cidade. Colabora como professor de jardinagem no ensino público e dirige um projeto social informal de reciclagem de flores em lares de idosos. Em 2020, constitui formalmente a Associação Jardins Abertos com mais 8 membros.
Depois de uma “conversa” descontraída, cresceu a admiração pelo seu trabalho e pelos projetos em que está envolvido, que são excelentes exemplos de que se “Aprende com a mudança (e) cresce com a diferença”.
Equipa Editorial da revista Sementinha
Quem é o Tomás e onde reside?
Embora eu tenha estudado Artes por 8 anos, percebi imediatamente que tinha um fascínio por plantas. Ao contrário dos humanos, as plantas comunicam de maneira brilhante e sem esforço aparente. Elas usam a sua própria linguagem para dizer o que sentem e o que querem para ser felizes.
Hoje considero-me um jardineiro e ativista cujo objetivo é promover uma relação mais próxima com a natureza e a sustentabilidade. Nos últimos anos, criei e colaborei em projetos que conectam os humanos ao património "verde" da cidade.
Eu ensinei jardinagem a crianças em escolas públicas, colaborei em projetos verdes em bairros vulneráveis e criei o festival Jardins Abertos como uma resposta significativa à nossa necessidade comum de nos conectarmos com a natureza na cidade.
Tendo vivido no Porto, Londres, São Paulo e Lisboa, estou em Sintra há três anos e adoro. Sintra tem um microclima que incentiva a experimentação no jardim - aqui o tempo está sempre nublado. São muitos jardins e palácios incríveis, que me dão sempre a sensação de viver num romance do século XVIII. É ótimo morar no campo, trabalhar como freelancer e ir para a cidade apenas quando for realmente necessário. Eu quero praticar uma vida lenta pelo resto da minha (esperançosamente longa) vida e trabalhar em muitos outros projetos sociais.
De onde vem essa paixão pela natureza / jardins?
Tudo começou nos jardins da minha família. Primeiro plantando uma horta comestível (vegetais) e depois com a descoberta do mundo da Botânica, com todas as suas diferentes formas e experiências.
No Brasil, descobri o prazer e a gratificação que vêm de projetos de cunho social. Encontrei também um mundo de espécies exóticas fascinantes e uma sociedade e cultura aberta e interessada na mudança social. Mais importante ainda, a nível pessoal, percebi que seria um profissional muito melhor na economia social do que enquanto artista. Portanto, embora eu acredite que a jardinagem coletiva é um processo artístico e criativo, essa intenção não está na raiz dos meus projetos, o que me salva de muitas angústias e dilemas.
Mais tarde, fiquei mais ciente das questões urgentes de conservação e da necessidade de preservar o nosso planeta para o futuro. Os jardins são lugares únicos, como florestas, desertos e o mar. As plantas estão por toda parte; na verdade, elas crescem em muitos lugares que os humanos nunca imaginariam ver. Tudo vem das plantas. A natureza dá-nos tudo aquilo de que precisamos.
O seu canto de natureza / a sua varanda.
No meu canto, cultivo um pouco de tudo. Uma das coisas curiosas do mundo da Botânica é que estamos sempre a descobrir novas espécies. Encontramos em nós mesmos a capacidade de desenvolver os nossos gostos e acomodar novas realidades e interesses. Por exemplo, durante anos não me interessei muito por flores - costumava adorar folhas largas e exóticas. Mas, agora, eu amo de tudo um pouco e, como as abelhas e outros polinizadores, já não posso viver sem flores!
Os seus BACSACs: 1 o que cultiva neles? De que
gosta neles?
Por enquanto, estou a cultivar principalmente plantas ornamentais, com foco especial em espécies variadas, pelas quais tenho um carinho especial. Avariegação na natureza ocorre como um vírus, que foi preservado pelo homem pelo seu valor estético. Acho que a preservação de uma espécie que está tecnicamente "doente" é curiosa e filosoficamente interessante e, claro, relaciona-se com este momento atual, em que vivemos uma pandemia global.
Os potes BACSAC são leves e muito versáteis. Ficam bem em todos os lugares.
Vou fazer 30 anos daqui a alguns dias e estou feliz com meu jardim. Sinto que, agora, estou pronto para me casar. Hahaha!
Um recanto de natureza para onde gosta de fugir em Lisboa? Fora de Lisboa?
Tenho o privilégio de trabalhar em jardins privados no centro da cidade. Além disso, como Diretor dos Jardins Abertos, passo muito tempo a descobrir novos jardins e locais únicos em Lisboa. A Estufa Fria e o Jardim Gulbenkian são os meus jardins preferidos, na cidade.
Fora de Lisboa, adoro o vale glaciar da Serra da Estrela, o ponto mais alto de Portugal, assim como o Algarve (a Sul), onde cresci. O Sul possui condições ecológicas muito interessantes para o cultivo de espécies exóticas.
Uma pessoa/ personalidade que o inspira pela sua ligação com a natureza/ jardinagem?
Sou inspirado por todos os ecologistas, filósofos, conservacionistas, jardineiros, paisagistas e todos aqueles que trabalham com pesquisa. Sou inspirado por todas as pessoas que fazem o esforço político para mudar a nossa visão zoocêntrica do mundo. Mas, acima de tudo, a minha equipa é a que mais me inspira. Tenho a sorte de trabalhar com pessoas únicas e generosas que compartilham comigo a mesma paixão, voz e interesse em mudar o mundo.
Um projeto de agricultura ou jardinagem urbana local?
Os parques 'vegetais' (hortícolas) da cidade, que fazem de Lisboa uma das cidades mais 'comestíveis' da Europa. Existem muitos deles espalhados pela cidade.
Também adoro a Fazenda de Cogumelos Nãm, um projeto que recicla os grãos de café e os transforma em cogumelos, bem no centro da cidade.
Outro projeto muito interessante denominado Tílias-coop, que decorre desde os anos 90 no Hospital Psiquiátrico de Lisboa, onde vários doentes recebem formação em jardinagem. A jardinagem é muito terapêutica e todos devemos praticá-la mais.
Uma frase, um livro, uma obra de arte ligada à natureza ou à jardinagem que admira?
“Ecologia sem luta de classes é jardinagem.” Chico Mendes
Eu adoro absolutamente um livro de Jean Giono: L'homme qui plantait des arbres/ O homem que plantava árvores.
Makoto Azuma é o meu artista favorito, adoro todas as suas esculturas botânicas.
Outros tópicos que considera interessantes para adicionar a este retrato?
Neste momento extraordinário para o nosso planeta,
1É uma bolsa ultraleve, simples e flexível para plantas, que pode seguir-nos por toda parte, na casa, no terraço, na varanda, no jardim. Permeável, permite que a terra respire e a água flua. 100% reciclável, adapta-se a todos os tipos de plantas.
No âmbito do Festival Jardins Abertos, a empresa francesa BACSAC fez uma divulgação desta modalidade de jardinagem através de um giveaway.

mais do que em qualquer outro momento, é vital manter distância física, mas não podemos deixar de continuar a promover a proximidade social.
É importante estar ativo na mudança que queremos ver no mundo.
Anatureza é resiliente, sabemos bem disso, mas não podemos simplesmente receber sem dar nada em troca.
PROJETOS
A Associação Jardins Abertos foi oficialmente formada em janeiro de 2020, mas há muito que este grupo informal se dedica a verdejar as ruas das cidades e as mentes dos seus moradores.
Tudo começou em São Paulo, entre 2014 e 2016, com o Green SP. Esta é uma iniciativa coletiva sem fins lucrativos que revitaliza jardins e áreas verdes carenciadas na cidade de São Paulo. Sempre na ótica da jardinagem coletiva e de utilizar a natureza para conectar as pessoas, a iniciativa tem o objetivo de tornar o espaço público mais próximo dos cidadãos, educando através do diálogo e da responsabilização sobre relação com a cidade. O Green SP usa a jardinagem como ferramenta de intervenção social e acredita na importância de ser ativo em relação à vida, à sociedade e ao espaço público.
Em 2017, acontece a primeira edição do festival Jardins Abertos. A colaboração entre profissionais de jardinagem, paisagismo, cultura e sustentabilidade permitiu a organização de um festival em que os portões dos jardins mais bonitos da cidade de Lisboa são abertos gratuitamente ao público. O que começou como uma iniciativa informal em formato de percurso e com uma equipa muito reduzida, tornou-se um festival coorganizado pela Câmara Municipal de Lisboa que contabilizou mais de 28 000 participações em 2019, ano em que recebeu o Alto Patrocínio da Presidência da República.
Em colaboração com a Junta de Freguesia de Campolide, em 2018, surge a iniciativa Varandas Comestíveis. Este projeto consistiu na realização de 10 oficinas de capacitação prática para a produção alimentar em contexto doméstico. Nesta formação, foi possível aprender a plantar e a manter um jardim comestível, em vasos ou floreiras. No fim, todos os participantes receberam uma floreira e um kit para que pudessem pôr em prática as técnicas aprendidas.
Ao longo de 2019, com a Junta de Freguesia da Misericórdia, desenvolveu-se o Bairro Verde, um projeto continuado de plantio e intervenções verdes na freguesia. Desenrolaram-se diversas atividades no sentido de promover a criatividade, a consciência ambiental e o respeito pela cidade e pelos espaços
verdes, públicos e privados. Este foi um projeto particularmente pertinente de ser desenvolvido na freguesia em causa, uma das zonas mais turísticas da cidade, uma vez que promoveu a integração entre turistas e moradores através de intervenções ambientais em atividades de turismo sustentável.
Em 2020, no contexto pandémico que se instalou no início do ano, nasceu o @eujardinoemcasa — um guia prático de jardinagem em quarentena. Este movimento foi criado com o objetivo de promover a partilha de conhecimentos sobre a jardinagem doméstica e a sustentabilidade em geral, com dicas e ideias de atividades para fazer em casa. A página é alimentada com conteúdo criado pelos próprios utilizadores e atingiu os 1000 seguidores na primeira semana e os 2000 em menos de um mês depois da sua criação.
Por fim, depois de mais uma edição de muito sucesso, no Outono de 2020, perpetiva-se e aguarda-se com expectativa a edição da Primavera de 2021 dos Jardins Abertos para a qual estão todos convidados.

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