O USO DE INIBIDORES DE COLINESTERASE COMO RODENTICIDA ILÍCITO NA BAHIA, 2005-2008.

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O USO DE INIBIDORES DE COLINESTERASE COMO RODENTICIDA ILÍCITO NA BAHIA, 2005-2008. 1

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JUCELINO NERY DA CONCEIÇÃO FILHO , TACIANA PEREIRA SANT’ANA SANTOS , 1 1 DAISY SCHWAB RODRIGUES , MARIA DAS GRAÇAS BARBOSA , ANA CECÍLIA 2 1 CARDOSO BANDEIRA , SONIA HELENA JESUS DOS SANTOS , GISLAINE MÉRCIA F. 1 1 2 SERRA CERQUEIRA , NEIDE DOS SANTOS GUEDES , JOSENIRA MATOS DE ANDRADE , 2 2 CLARA MACEDO COUTO , SOLANGE PINHEIRO SOARES , MAIANA DE ARAÚJO 2 2 2 TEIXEIRA , LUIZ MARCOS VITA MACHADO , DAYANA SOUZA BARBOSA 1

Centro de Informações Antiveneno – CIAVE, Secretaria da Saúde do Estado da Bahia – 2 SESAB; Laboratório Central do Departamento de Polícia Técnica da Bahia, Secretaria de Segurança Pública – SSP, Salvador, Bahia.

RESUMO INTRODUÇÂO: O aldicarbe vendido como rodenticida de uso doméstico é popularmente conhecido como “chumbinho”, em decorrência da sua forma granular e coloração acinzentada que lembram o chumbinho utilizado em espingardas. Nos últimos anos outros pesticidas têm sido encontradas como ingrediente ativo na composição do “chumbinho”, sejam isoladas ou em associação. As associações com organofosforados, outros carbamatos e anticoagulantes podem agravar o quadro de intoxicação e dificultar o tratamento no caso de ingestão. Este fato tem levado a números crescentes de pessoas intoxicadas por estes produtos decorrentes de acidentes, tentativas de suicídio e de homicídio com o seu uso, gerando um grande problema de saúde pública. OBJETIVO: Estabelecer o perfil das ocorrências envolvendo raticidas clandestinos à base de inibidores de colinesterase no estado da Bahia registrados pelo CIAVE. METODOLOGIA: Realizou-se um estudo transversal retrospectivo dos dados de intoxicação humana por raticidas, ocorridos na Bahia no período de 2005 a 2008 e registrados pelo CIAVE, utilizando-se os bancos de registros do Centro e do Departamento de Polícia Técnica do Estado da Bahia. RESULTADOS: No período do estudo foram registrados 2.510 casos de raticidas ocorridos no estado da Bahia pelo CIAVE-BA. Destes, 1.434 (57,1%) foram em Salvador e 1.076 (42,9%) no interior do Estado. O laboratório do CIAVE dosou a atividade da colinesterase sérica em 250 casos, havendo algum grau de inibição em 210 casos (84,0%). Evoluíram para óbito 38 casos (1,5%), dos quais 35 tiveram material analisado pelo Laboratório da Polícia Técnica: o aldicarbe foi detectado em 8 deles, sendo que em 1 caso estava associado o terbufós. Em 5 outros foram encontrados: o terbufós (3 casos), o carbofuran (1 caso) e o forato (1 caso). CONCLUSÂO: A utilização de produtos inibidores de colinesterase na composição de raticidas clandestinos tem se tornado um grande problema para os poderes públicos. Além do aldicarbe, outras substâncias têm sido associadas a estes rodenticidas, aumentando a sua toxicidade. Evidencia-se, portanto, a necessidade de se desenvolver ações mais efetivas para o combate à comercialização destes produtos e de conscientizar a população quanto aos riscos do seu uso.

INTRODUÇÂO A utilização dos agrotóxicos na agricultura teve inicio na década de 1920, quando não se 1 conhecia muito bem seus efeitos toxicológicos . Atualmente, os organofosforados e carbamatos são muito utilizados na agricultura e no ambiente doméstico em todo o mundo. Os inseticidas carbamatos são produtos bastante utilizados para o combate de insetos, nematódeos e outras pragas na agricultura. Agem inibindo, reversivelmente, as colinesterases plasmática, eritrocitária e do SNC. Dentre os mais conhecidos estão o carbofurano (Furadan®) e o aldicarbe (Temik®). Ambos consistem em metilcarbamatos extremamente tóxicos, com comércio e uso autorizados exclusivamente como agrotóxicos, aplicados como acaricida, inseticida e nematicida em culturas de algodão, cana-de-açúcar, café, batata, citrus e 2,3 feijão . Atualmente, de acordo com a legislação brasileira, só os derivados da cumarina têm o emprego autorizado como substância ativa em raticidas domissanitários. Entretanto, tem-se verificado o uso ilegal de alguns agrotóxicos como rodenticida, assim como outros produtos de elevado poder tóxico como sais arsenicais e o fluoracetato de sódio, há alguns anos no Brasil. Estes produtos têm sido vendidos ilegalmente no comércio ambulante e em feiras livres de vários 4, 5, 6, 7, 8, 9 estados do país . O aldicarbe, vendido como rodenticida de uso doméstico, é popularmente conhecido como “chumbinho” em decorrência da sua forma granular e coloração 9 acinzentada que lembram o chumbinho utilizado em espingardas . Nos últimos anos, outros pesticidas têm sido encontrados como ingrediente ativo na composição do “chumbinho”, sejam isolados ou em associação. As associações com --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Trabalho apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Toxicologia. Rev Bras. Toxic.. Vol. 22 (supl.) - p. 272, out/2009.


organofosforados, outros carbamatos e anticoagulantes podem agravar o quadro de 5,9,10,11,12 intoxicação e dificultar o tratamento médico no caso de ingestão . Este fato tem levado a números crescentes de pessoas intoxicadas por estes produtos decorrentes de acidentes, tentativas de suicídio e de homicídio com o seu uso, gerando um grande problema de saúde pública. O Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX) aponta os raticidas 13 como responsáveis por 9,7% dos óbitos registrados pelos centros . O Centro de Informações Antiveneno (CIAVE), centro estadual de referência em Toxicologia, tem registrado números elevados de ocorrências de intoxicações e óbitos decorrentes do uso de produtos clandestinos, 14, 15 destacando-se os raticidas, com número significativo de casos envolvendo o “chumbinho” . O Centro tem acompanhado a situação do comércio de rodenticidas clandestinos e o perfil epidemiológico das ocorrências no Estado desde 1997, quando começaram as ocorrências com estes produtos. O Departamento de Polícia Técnica da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (DPT/SSP-BA) tem evidenciado que o número de óbitos relacionados ao chumbinho na capital é superior àquele registrado nos demais municípios do Estado. Para o diagnóstico laboratorial da intoxicação por produtos inibidores da colinesterase, utilizase a determinação da atividade desta enzima. A atividade colinesterásica é derivada da ação de duas enzimas distintas: a butirilcolinesterase (E.C. 3.1.1.8, colinesterase sérica ou plasmática, colinesterase não específica, pseudocolinesterase, acilcolina acil - hidrolase ou BuChE ) e a acetilcolinesterase (E.C. 3.1.1.7, colinesterase verdadeira, colinesterase eritrocitária ou AChE). Para as exposições recentes e agudas avalia-se a butirilcolinesterase, que pode ser determinada no plasma ou soro sanguíneo. Este estudo objetivou estabelecer o perfil das ocorrências envolvendo rodenticidas clandestinos à base de inibidores de colinesterase (ChE) no estado da Bahia registrados pelo CIAVE no período de 2005 a 2008.

2. OBJETIVOS 2.1. Geral: Estabelecer o perfil das ocorrências envolvendo raticidas clandestinos à base de inibidores de colinesterase no estado da Bahia registrados pelo CIAVE no período de 2005 a 2008. 2..2. Específicos: - Conhecer o número de casos de intoxicação por rodenticidas clandestinos ocorridos em Salvador e registrados pelo CIAVE, no período de 2005 a 2008; - Quantificar, juntamente com o Departamento de Polícia Técnica do Estado da Bahia, o número de óbitos após intoxicação por rodenticidas ilícitos ocorridos na Bahia entre os anos de 2005 e 2008; - Avaliar a composição destes rodenticidas a partir dos laudos de amostras analisadas pelo Laboratório Central da Polícia Técnica e de amostras coletadas no comércio de Salvador pelo CIAVE.

METODOLOGIA Realizou-se um estudo transversal retrospectivo dos dados de intoxicação humana por raticidas ocorridos na Bahia no período de 2005 a 2008 e registrados pelo CIAVE, utilizando-se os bancos de registros do Centro e do Departamento de Polícia Técnica do Estado da Bahia. Os casos ocorridos fora do Estado foram excluídos do estudo.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO No período analisado, o CIAVE registrou 2.510 casos de exposição a rodenticidas ocorridos no estado da Bahia. Destes, 1.434 (57,1%) foram em Salvador e 1.076 (42,9%) no interior do Estado. Evoluíram para óbito 99 casos (3,9%), sendo que o arsênio foi responsável por 1 caso (1,0%), o “chumbinho” por 81 casos (81,8%), o produto clandestino Mil Gatos (produto clandestino à base de organofosforado não especificado) por 1 caso (1,0%) e 16 (16,2%) foram decorrentes de inibidores de colinesterase não especificados (com base no diagnóstico clínico) (Tabela 1). Os índices mais elevados em Salvador possivelmente se devem à ampla comercialização do produto na Capital, onde há uma maior facilidade para a sua aquisição. Verificou-se que os casos diagnosticados clinica/laboratorialmente como exposição a agente inibidor de colinesterase corresponderam a 75,2% (1.889 casos) do total de raticidas, sendo responsáveis por 98 (99,0%) dos 99 óbitos ocorridos. Neste grupo predominou a ocorrência de “chumbinho”, com 1.777 casos (94,1%), onde 81 (4,6%) evoluíram para óbito (Tabela 1). Tal fato é atribuído à sua ação imediata sobre os roedores, levando-os rapidamente à morte, diferentemente dos derivados cumarínicos.

Produto

Nº de casos

“chumbinho”

Nº de óbitos

n

%

n

%

1.777

94,1

81

4,6

inibidor de colinesterase não especificado

80

4,2

16

20,0

organofosforado não especificado

26

1,4

1

3,8

carbamato não especificado

6

0,3

-

-

1.889

100,0

98

5,2

TOTAL

Tabela 1. Óbitos por raticidas clandestinos a base de inibidores de colinesterase ocorridos na Bahia e registrados pelo CIAVE no período de 2005 a 2008.

Na distribuição das causas de intoxicação por inibidores de colinesterase no presente estudo, observa-se que a tentativa de suicídio foi o principal motivo das ocorrências, com 1436 registros (76,0%),. Em segundo lugar, os acidentes individuais - com 291 registros (15,4%) - e, sucessivamente, pelas demais causas (Gráfico 1).

3,8%

1,9% 1,7% 0,7%

0,6%

15,4%

76,0%

Tentativa de Suicídio

Acidente Individual

Ignorada

Violência / Homicídio

Tentativa de Aborto

Outra

Acidente Coletivo

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Gráfico 1. Distribuição dos casos ocorridos na Bahia de exposição aos inibidores de colinesterase utilizados como rodenticida, de acordo com a circunstância, registrados pelo CIAVE no período de 2005 a 2008. Os casos envolvendo o “chumbinho” ocorreram em 154 (36,9%) dos 417 municípios que compõem o estado da Bahia, com predominância da região metropolitana de Salvador, onde foram registrados 1.269 (71,4%) dos casos de intoxicação por este produto no Estado (Figura 1).

Figura 1. Distribuição das 1.269 ocorrências de intoxicação por chumbinho na Região Metropolitana de Salvador no período de 2005 a 2008 registradas pelo CIAVE/SESAB.

Dentre os organofosforados, foram registrados 13 casos (50%) com o produto clandestino denominado “Mil Gatos”, 3 (0,2%) com “Mil e Um Gatos” e 3 (0,2%) com “Mil Ratos”, cuja composição supõe-se que seja à base de organofosforado. Estes produtos são oferecidos ao consumidor como alternativa ao “chumbinho”, contribuindo para a elevação destas ocorrências. O laboratório do CIAVE dosou a atividade da butirilcolinesterase em 250 pacientes intoxicados por inibidores de colinesterase, através de método espectrofotométrico de Dietz modificado, verificando-se algum grau de inibição em 210 casos (84,0%). Nos casos de chumbinho, 231 pacientes (13%) tiveram determinada a atividade da butirilcolinesterase: 57,6% apresentaram valores ≤ 1 UI/mL; 8,2% com valores entre 1,1 e 2,0 UI/mL e 6,9% com atividade enzimática entre 2,1 e 3,0 UI/mL (Gráfico 2). Como era esperado, considerando-se que o aldicarbe é um potente inibidor da ChE, a maioria dos pacientes expostos ao chumbinho apresentou inibição da enzima superior ou igual a 50% (considerando-se a média dos valores de referência do método utilizado): 88 pacientes (75,2%) do sexo feminino e 110 (83,3%) do sexo masculino. Estes resultados mostram a relevância da determinação da atividade da ChE no diagnóstico da exposição a estes produtos.

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80 70 60 50 40 30 20 10 0 0,0 a 1,0

1,1 a 2,0

2,1 a 3,0

3,1 a 4,0

4,1 a 5,0

5,1 a 6,0

> 6,1

Masc. Fem.

Gráfico 2. Distribuição das faixas de atividade de colinesterase sérica dos pacientes expostos a rodenticidas clandestinos à base de inibidores de colinesterase por sexo, obtidas a partir de método espectrofotométrico (Dietz modificado), cujos valores de referência são de 5,0 a 10,5 UI/mL para o sexo feminino e de 6,1 a 12,1 para o sexo masculino.

No período de 2005 a 2008, o DPT analisou 317 amostras de pacientes expostos ao chumbinho e que evoluíram para óbito, provenientes de diversas origens, através da cromatografia em camada delgada (CCD). O aldicarbe foi encontrado em 184 casos (57,7%): 152 (47,9%) isoladamente e 31 (9,8%) em associação. O terbufós foi responsável por 32,5% dos casos, o carbofuran por 9,1% e o forato foi encontrado em 2 amostras (0,6%). Os números mostram que a utilização de outras substâncias, carbamatos ou fosforados, têm aumentado ao longo do período, conferindo um maior risco para as vítimas (Tabela 2). 2005

2006

2007

2008

TOTAL

%

Associações

2

5

17

7

31

9,8

Forato

0

1

0

1

2

0,6

Carbofuran

3

7

11

8

29

9,1

Terbufós

6

23

40

34

103

32,5

Aldicarb

46

43

28

35

152

47,9

Total

57

79

96

85

317

100,0

Tabela 2. Distribuição dos resultados dos exames toxicológicos realizados pelo DPT/SSP-BA de vítimas fatais decorrentes da exposição ao “chumbinho” no período de 2005 a 2008. Dos casos de “chumbinho” que evoluíram para óbito registrados pelo CIAVE, o DPT analisou amostras de 35 pacientes através da CCD: o aldicarbe foi detectado em 8 deles, sendo que em 1 caso estava associado o terbufós. Em 5 outros foram encontrados o terbufós (3 casos), o carbofuran (1 caso) e o forato (1 caso) (Gráfico 3). Onze amostras de “chumbinho” não tiveram nenhuma destas substâncias detectadas, o que pode estar relacionado com limitações da técnica. No período em questão, o Departamento ainda não utilizava a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) para confirmação / quantificação dos resultados. Três outros casos onde os pacientes, vítimas de violência / homicídio, evoluíram para cura, tiveram também amostras não biológicas analisadas pelo DPT: café em pó solúvel – aldicarbe + carbofurano + terbufós; café com leite – aldicarbe; e, cápsulas de medicamentos – aldicarbe.

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1; 4%

3; 12% 1; 4%

13; 52% 7; 28%

Forato

Terbufos

Aldicarbe + carbofuran

Aldicarb

Não detectado

Gráfico 3. Organofosforados e carbamatos encontrados no exame toxicológico de pacientes que evoluíram para óbito, vítimas de intoxicação por “chumbinho, no período de 2005 a 2008 na Bahia.

Ao longo do período estudado, verificou-se uma variação no aspecto dos grânulos do “chumbinho” comercializado em Salvador, assim como daqueles levados ao CIAVE pelos pacientes intoxicados ou seus familiares para identificação. Alguns destes produtos apresentavam diferentes diâmetro e formato dos grânulos (Figura 2).

Figura 2. Amostras de “chumbinho” adquiridas em áreas de comércio em Salvador, apresentando diferenças na granulometria, coloração e teor de aldicarb: amostra A – 5,3%; amostra B – 12,8%, e amostra C – ausência de aldicarb.

Em 2007, o CIAVE coletou 12 amostras de “chumbinho” comercializadas em diversos pontos da cidade de Salvador, mapeando as principais áreas de comércio do produto (Figura 3), evidenciando uma disseminação deste comércio clandestino. Através da análise de CCD, constatou-se a presença de aldicarbe em onze das doze amostras analisadas (inclusive em produto comercializado como “chumbinho” líquido) e, através de HPLC, utilizando-se padrão analítico do aldicarbe (Nº CAS 116-06-3), foi dosado o teor do carbamato nela presente (Tabela 3). Todas as amostras apresentaram teor de aldicarbe inferior ao do produto Temik® 150, que é de 15%.

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Figura 3. Áreas de pontos de venda do “chumbinho” no comércio de Salvador identificados pela equipe do CIAVE em 2007.

Amostra

Presença de aldicarbe

% de aldicarbe

1

positivo

6,8

2

positivo

8,2

3

positivo

7,2

4

positivo

5,3

5

positivo

12,8

6

positivo

10,6

7

positivo

10,2

8

positivo

5,66 *

9

positivo

8,4

10

positivo

6,6

11

negativo

-

12

negativo

-

* mg/mL Tabela 3. Determinação do teor de aldicarbe em amostras coletadas em áreas de comércio em Salvador-BA, em 2007.

CONCLUSÂO A utilização de produtos inibidores de colinesterase na composição de rodenticidas clandestinos tem se tornado um grande problema para os poderes públicos. Além do aldicarbe, outras substâncias têm sido associadas a estes rodenticidas, aumentando a sua toxicidade e dificultando o diagnóstico e, conseqüentemente o tratamento. A utilização de outros carbamatos, assim como alguns fosforados, pode ser em decorrência da limitação da comercialização do produto comercial do aldicarbe (registrado na ANVISA para uso como --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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agrotóxico) em apenas dois municípios do Estado (Barreiras e Vitória da Conquista) e sua venda sob apresentação de receituário agronômico, levando a uma maior dificuldade da sua obtenção para o uso desvirtuado como rodenticida. O melhor conhecimento da composição destes produtos propicia uma melhor conduta terapêutica, principalmente quanto à avaliação da necessidade de uso de pralidoxima, em virtude da presença de organofosforados. Ações de fiscalização e repressão mais rigorosas por parte dos órgãos competentes frente ao comércio clandestino de raticidas - com ações conjuntas dos diferentes órgãos públicos envolvidos na questão como as Vigilâncias Sanitárias estadual e municipal, o Ministério Público, a Secretaria Municipal de Serviços Públicos (SESP) e o CIAVE - se faz necessária. Evidencia-se, portanto, a necessidade de se desenvolver ações mais efetivas para o combate à comercialização destes produtos e de conscientizar a população quanto aos riscos do seu uso e sua ineficácia no combate aos roedores, reduzindo-se, assim, o grande impacto sobre o sistema público de saúde e toda a sociedade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de vigilância da saúde de populações expostas a agrotóxicos. Brasília, OPS, 1997. 2. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Carbofurano. SIA. – Sistema de Informação sobre Agrotóxicos. Disponível em: <http://www4.anvisa.gov.br/AGROSIA/asp/ frm_dados_ingrediente.asp?iVarAux=1&CodIng=377>. Acesso em: 17 maio. 2009. 3. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Carbofurano. SIA. – Sistema de Informação sobre Agrotóxicos. Disponível em: <http://www4.anvisa.gov.br/AGROSIA/asp/ frm_dados_ingrediente.asp?iVarAux=1&CodIng=542>. Acesso em: 17 maio. 2009. 4. CONCEIÇÃO FILHO et al. A comercialização de raticidas clandestinos em Salvador, 1997 a 2003. XIII Congresso Brasileiro de Toxicologia, Londrina, Paraná, 2003. 5. OLIVEIRA-FILHO, E.C. et al. Verificação da ocorrência de óbitos com carbamatos no Distrito Federal entre os anos 2000 e 2004 por análise de laudos necroscópicos. Com. Ciências Saúde. 2008;19(1):19-24. 6. LIMA, J.S.; REIS, C.A.G. Poisoning Due to Illegal Use of Carbamates as a Rodenticide in Rio de Janeiro. Clinical Toxicology. 1995, Vol. 33, No. 6, 687-690. 7. FERREIRA, A.; MAROCO, E.; YONAMINE, M; OLIVEIRA, M.L.F. Organophosphate and carbamate poisonings in the northwest of Paraná state, Brazil from 1994 to 2005: clinical and epidemiological aspects. Rev. Bras. Cienc. Farm. vol. 44, n. 3, jul./set., 2008. 8. Chrisman, J.R. et al. Análise do perfil das mortes violentas causadas por ingestão de aldicarb no Estado do Rio de Janeiro [Resumo]. Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Toxicologia, Recife, 09 a 12 de outubro de 2005. Revista Brasileira de Toxicologia, v. 18, p. 186-186, 2005. 9. VIEIRA, J.L.F.; SILVA, B.A.; SILVA, E.L.G. Caracterização química dos raticidas granulados comercializados na cidade de Belém-Pará. Revista Paraense de Medicina, vol. 20(4), out-dez. 2006. 10. SOARES, S.P. et al. Avaliação da presença de aldicarbe, carbofuran, terbufós e forato em inseticidas clandestinos, vulgarmente conhecidos como chumbinho no estado da Bahia. Trabalho apresentado no XIX Congresso Nacional de Criminalística, Salvador (BA), 21 a 26 de outubro de 2001. 11. MORAES, A.C.L. Contribuição para o estudo das intoxicações por carbamato: o caso do chumbinho no Rio de Janeiro. 1999. [Dissertação de mestrado – Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública].

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