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rata-se de parasitose bastante conhecida dos dermatologistas e de outros especialistas, caracterizada por linha de erupção pruriginosa, eritematosa, serpiginosa, papular ou vesiculosa, resultante da penetração na derme da larva migrans ou migrante, oriunda do Ancylostoma braziliense, parasito do cão e do gato. Os ovos se desenvolvem bem na areia ou em terreno arenoso e, em condições favoráveis (calor e umidade), em uma semana se transformam em larvas infectantes. A larva infectante vai-se locomovendo e abrindo um túnel avermelhado na derme, conseguindo avançar de um a 2cm por dia. Seu trajeto pode ser linear ou sinuoso, causando erupção ligeiramente saliente, que apresenta, na porção terminal, uma pápula em que está localizada a larva. Esse trajeto assemelha-se ao contorno de um mapa geográfico. Por isso, esse verme foi apelidado de bicho-geográfico. É termo informal ou popular, porém muito útil para caracterizar e reconhecer essa parasitose, também denominada dermatite linear serpiginosa e bicho de praia, pelo fato de a larva ser comum na areia com fezes de animais. Em inglês, é conhecida como cutaneous larva migrans or creeping eruption. Muitos médicos brasileiros participaram do estudo e das medidas sanitárias relacionadas a essa parasitose. Inserimos, neste pequeno artigo, uma foto histórica dos “pioneiros da parasitologia”, citando o Dr. Gomes de Faria como descobridor do A. braziliense. “Em um dia qualquer entre junho e dezembro de 1908, Oswaldo Cruz reuniu os pesquisadores de Manguinhos para uma foto em frente ao caramanchão da Casa de Chá. Era uma forma de registrar a passagem por Manguinhos de dois ilustres cientistas alemães: Gustav Giemsa e Stanislas von Prowazek. A vinda dos dois pesquisadores era um dos primeiros frutos do sucesso alcançado pelo Brasil no Congresso de Higiene e Demografia, de Berlim, quando conquistara a medalha de ouro pelas campanhas de saneamento no Rio de Janeiro. Além de desenvolver pesquisas, Prowazek e Giemsa contribuíram para a capacitação dos jovens cientistas do Instituto.Entre esses médicos, estava o Dr. José Gomes de Faria (1887-1962), que se destacou pela descoberta do verme Ancylostoma braziliense, um parasito de cães e gatos, que causa no homem a dermatite serpiginosa, também conhecida como bicho-geográfico ou larva migrans subcutânea. Supõe-se que a denominação bicho-geográfico tenha sido feita pelo Dr. Gomes de Fa-
Patologista do Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte Professor de patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Membro da Academia Mineira de Medicina labjsouzandrade@terra.com.br
A coluna “Analogias em Medicina” tem significativa utilidade prática, particularmente por seu papel didático-pedagógico e por facilitar a compreensão de diversos processos patológicos que acometem o ser humano. Muitas vezes coloquial e/ou restrita ao diálogo entre médicos e outros profissionais envolvidos, mantém-se dentro das normas éticas.
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Bicho-geográfico
JOSÉDESOUZAANDRADEFILHO
JSBD
A NALOGIAS EM MEDICINA
Figura 1: Pé de paciente com o bicho-geográfico
Figura 2: Fotografia dos pioneiros em parasitologia e outras doenças infecciosas, feita no Instituto Manguinhos em 1908; sentados, a partir da esquerda, Carlos Chagas, Gomes de Faria, Cardoso Fontes, Gustav Giemsa, Oswaldo Cruz, Stanislas Von Prowazek e Adolpho Lutz; de pé, Arthur Neiva, Rocha Lima, Figueiredo de Vasconcelos, Alcides Godoy e Henrique Aragão
ria. Este começou em Manguinhos como estudante. Em 1912 participou de expedição científica ao Ceará e ao Piauí, patrocinada pela Inspetoria de Obras Contra a Seca. Como helmintologista, descreveu espécies novas de trematódeos, entre outras atividades”. Texto baseado em vários autores nacionais e na história do Instituto Manguinhos (RJ), publicado no site Invivo da Fiocruz. i