Repórter do Marão

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28 Dez a 11 Jan’10

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vidas

VILA REAL E BRAGANÇA

Quase 11 mil novos desempregados este ano De acordo com os dados do IEFP relativos ao último mês, dos 10 711 desempregados do distrito de Vila Real, 6 767 estão inscritos há menos de um ano. Já no distrito de Bragança, dos 5 918 desempregados, 4 095 estão nessa situação. Em ambos os distritos, as pessoas mais afectadas pelo desemprego têm idades compreendidas entre os 35 e os 54 anos e a maioria procura um novo emprego. No distrito vila-realense, 8 836 dos desempregados já trabalharam, enquanto no de Bragança, são 4 842. Neste distrito, estão inscritos 667 indivíduos com formação superior, enquanto no de Vila Real são 998. O total do número de ofertas de emprego disponível no fim de Novembro, nos centros de emprego do nordeste, foi de 440, sendo que mais de metade (294) foram no distrito brigantino. Também aí o número de colocações foi superior, com 172 indivíduos a conseguirem emprego, comparativamente com o vila-realense, que registou 86 ofertas de emprego satisfeitas. Tanto no distrito de Bragança como no de Vila Real, foi o sexo feminino que conseguiu arranjar mais empregos com 96 e 53 colocações, respectivamente.

No distrito de Bragança, os concelhos de Vimioso (138 inscritos), Miranda do Douro (199) e Freixo de Espada à Cinta (199) são os menos afectados pelo desemprego, enquanto no de Vila Real, há menos desempregados em Boticas (195), Murça (268) e Sabrosa (309).

Há quem consiga resistir ao infortúnio colateria transmontana. Para já, a afluência das pessoas é um sinal auspicioso, apesar de ainda não existir “aquele consumo continuado”. Ao chocolate belga, Carla adiciona os produtos da região (amêndoas, mel, nozes, figos, entre outros) e vai explorando as propriedades gustativas das suas criações. No fim de 2006, Carla perdeu o emprego no Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e das Pescas (IFADAP), onde fazia análise de projectos. “Estive lá três anos, sempre a recibos verdes.” Daí nunca ter tido subsídio de desemprego. Valeu-lhe a ajuda do marido. Quando saiu da UTAD, Carla percebeu que “não havia grandes saídas”, por isso trabalhou “em todas as áreas e mais algumas”. “Logo que me aceitassem, ia para tudo. Como eram trabalhos temporários, uns meses trabalhava-se, noutros estava-se em casa.” Havia empregos em que lhe diziam que tinha “habilitações a mais” ou que não se enquadravam. Só durante uns meses é que trabalhou na sua área de formação, no Parque Natural do Alvão. “Hoje se fizesse um curso tinha que ter saídas, porque a gente pode gostar muito mas depois não chega.” Fora de Vila Real, de onde é natural, Carla deu aulas em Valpaços e trabalhou “uns meses” como administrativa em Lisboa. “Se o trabalho é longe e precário, não vale a pena sair. Depois, chegase a certa altura em que uma pessoa fica farta de tudo ser tão provisório, quer-se ter uma base, quer-se constituir família e não dá”, sublinha. Embora os filhos lhe ocupassem o tempo, Carla estava “desesperada” por estar em casa. “A gente vai-se muito abaixo, fica-se desanimado, porque se passa-se de uma vida laboral, com horários para entrar e sair, para ficar em casa. Às vezes, só saia para ir levar o lixo e ir às compras.” De modo que abrir o seu próprio negócio foi “a única saída”, apesar das dificuldades. “Exigem muita papelada, é declaração para isto e para aquilo, depois não é fácil entrar no mercado e a época de crise também afecta muito.”

Região no topo das preferências Por uma questão de identidade e ligação às raízes ou de maior qualidade de vida, muitos dos desempregados procuram trabalho na região, mesmo com a consciência de que ficar limita as oportunidades. Mara Sampaio admite que se sente “muito” o factor da interioridade, mas isso não é suficiente para a fazer desistir da sua região. “Já estive noutras cidades e não troco. Queria ficar cá, porque tem muito mais qualidade de vida. Ir a outras cidades vou quando quero.” Vila Real, Braga, Guimarães e zona de Basto são as áreas geográficas em que Liliana Arada procura emprego e alguma estabilidade. “Gostava de ficar por Vila Real para não ter que andar a fazer e a desfazer malas como na Universidade, pelo menos, para poder planear a minha vida por um ou dois anos.” Além de que as propostas que surgem no litoral oferecem condições que “não chegam para te manteres lá”. “Não é que os jovens não queiram fixar-se no interior, mas mesmo com os programas de apoio é 90% de sorte e 10% de CV e trabalho”, considera. Mesmo com vontade de permanecer por Bragança, André Pires é “obrigado a sair”. “Sinto-me bem a viver aqui, mas há falta de alternativas e a gente vê-se empurrada a procurar fora e ter que abandonar a região para ir para o litoral ou estrangeiro.” A falta de perspectivas de emprego na região deve-se, no entender de André, à falta de investimento no interior. “A região tem sido alvo de um desmantelamento progressivo nos últimos anos. As pessoas não encontram razões para continuar a viver no distrito e há também passividade por parte de algumas entidades públicas que, apesar de não poderem criar milagres, podiam tentar fixar alguns daqueles que querem ficar aqui.”


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