Revista Repórter do Marão - JUL'13 * 1277

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Prémio GAZETA

Nº 1277 | julho ' 13 | Ano 30 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Sede: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 15 a 25.000 ex. | OFERECEMOS LEITURA

Vinho Verde vive o melhor momento de sempre Exportações para Canadá e EUA agitam setor e sustentam grandes investimentos na região António Sousa, enólogo de grandes marcas dos "Verdes", fala dos prémios, das exportações e do papel dos enólogos no relançamento de um produto muito importante para a economia regional. Mas recomenda "que não estraguem os vinhos".

Festival do Anho de Baião ajuda restaurantes a enfrentar crise

Feira do Mel de Aboadela mostra importância do produto

Autoestrada Transmontana volta a derrapar os prazos


O setor produtivo do vinho verde está a atravessar um momento alto, que advém sobretudo do mercado externo, que já representa 30 por cento da produção total. O mercado nacional está em crise e não é provável que a situação se inverta nos próximos anos, pelo que os operadores do setor e também os produtores estão a centrar as suas energias nos mercados externos que, nos últimos tempos, mais têm valorizado o vinho – os dois países da América do Norte, EUA e Canadá. Além de Angola, que recupera desde 2010, e do Brasil, que apresenta um crescimento sustentado, a Alemanha e a Suíça mantêm números positivos. O inverso acontece relativamente a França, Bélgica e Reino Unido.

Nos 'Verdes', a tendência de crescimento é sustentada, com um gráfico positivo desde pelo menos 2003. As exportações têm crescido anualmente entre 6% e 8% e 2012 fechou com o maior valor de sempre – 18,5 milhões de litros, a que equivale uma receita de 42,1 milhões de euros. A produção total da região de vinhos verdes em 2012 foi de um pouco mais de 52 milhões de litros, correspondendo 37,4 milhões a vinhos brancos e o restante aos tintos. No mercado, admite-se que o "bom momento do vinho verde" continuará em 2013 (o primeiro semestre mantém a tendência), apesar de no seio da CVRVV (Comissão de Viticultura Regional dos Vinhos Verdes) se considerar "ser cedo" para antecipar novo recorde de vendas para o exterior.

União Europeia a descer, Américas a crescer Além dos países da UE, de Angola e do Brasil, EUA e Canadá são os mercados preferenciais dos produtores nacionais mas já existem algumas tentativas de colocação de vinho verde no mercado asiático, com a China e Taiwan à cabeça. Demonstrativo que a aposta na América do Norte veio para ficar, são cada vez mais as visitas ao nosso país de jornalistas especializados em vinhos oriundos daqueles dois países. No final de junho, esteve no norte de Portugal uma comitiva de oito jornalistas que visitou diversas quintas de produção de vinhos verdes e procedeu a diversas provas. A ação foi promovida pela Comissão de Viticultura e insere-se na aposta de promoção prevista para o corrente ano, período em que serão investidos cerca de três milhões de euros. Os profissionais norte-americanos e canadianos – os mercados dos EUA e do Canadá representam 12 milhões de euros em vendas – verificaram as condições de produção de um vinho que é único no Mundo e conheceram a maior região demarcada portuguesa. Em 2012, as exportações para os EUA cresceram 14%, num mercado que

Canadá e EUA os mercados que potenciam o crescimento representou quase 9 milhões de euros e 4,1 milhões de litros exportados. Para o Canadá, o crescimento atingiu os 18%, ou seja, mais meio milhão de euros do que em 2011. No total, o volume de negócios com aquele país do continente americano chegou aos 3,2 milhões de euros, o que equivale a 1,1 milhões de litros de vinho. A visita dos norte-americanos e canadianos não esqueceu a sub-região do Alvarinho, uma casta em franco crescimento, não apenas como mono-varietal, mas também como casta para fazer lotes. A produção da casta alvarinho fora da sub-região de origem (zonas de Monção e Melgaço) atrai cada vez mais produtores e há muitas experiências bem sucedidas no coração do Minho, no Douro e até na sub-região de Amarante. Mas até os produtores alentejanos começam a ficar rendidos ao alvarinho e há enólogos a fazer experiências de produção em várias localidades do Alentejo.


Alvarinho “na moda" A acompanhar o bom momento de toda a região dos vinhos verdes, a plantação da casta alvarinho em várias sub-regiões é outro fator de realce, mas ainda é no seu habitat natural que o crescimento é mais notório. A produção de vinho alvarinho já movimenta 2.000 produtores e engarrafadores dos concelhos de Monção e Melgaço, num volume de vendas que ascende a 25 milhões de euros. O preço médio das uvas e até do vinho continua a ser o mais elevado do país. Segundo números divulgados pela Associação de Produtores Alvarinho (APA), são produzidos 4 milhões de quilos daquela uva todos os anos, processamento de que resultam cerca de 1,5 milhões de garrafas de vinho alvarinho. "É um produto de excelência e que tem representado ao longo dos anos um complemento ao ordenado das famílias. Isso acontece cada vez mais com a crise e continuamos a procurar novos mercados internacionais, para aumentar os níveis de exportação, face às dificuldades internas", explicou o presidente da APA. A exportação de vinho alvarinho representa 10% do total das vendas anuais deste produto, sobretudo para mercados da América do Norte e Norte da Europa, a par da presença nas comunidades portuguesas na Europa. Trata-se da casta cuja uva "mais rende ao produtor", logo a seguir à utilizada para o vinho do Porto, chegando a valer 1,10 euros por cada quilo, o que explica a apetência pela plantação desta casta em várias sub-regiões da CVRVV. "Estamos numa região de vinhos verdes em que o preço médio por quilo de uva é de 45 cêntimos, quando no resto do país esse valor é de 15 cêntimos. É por isso um produto de elevado valor acrescentado e que motiva o interesse dos produtores, por gerar uma importante rentabilidade", sublinha Miguel Queimado. Entretanto, a autarquia de Monção anunciou ter garantido um financiamento comunitário de mais de 300 mil euros para instalar no concelho o primeiro Museu do Alvarinho.

Fotos: CVRVV e D.R.


economia

António

SOUSA

Evolução das exportações de vinho verde nos últimos 20 anos (em litros e em receitas geradas):

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Fonte: INE


Teremos um ano normal de produção de vinho, se não ocorrerem anormalidades meteorológicas fora de época, mas temos já uma certeza: as vindimas serão atrasadas entre duas e três semanas. A produção média da região situa-se entre os 60 e 70 milhões de litros (2012 tinha sido um ano de forte quebra) e na vindima de 2013 o total de brancos deverá oscilar entre 45 e 50 milhões de litros. Quem o afirma é António Sousa, 38 anos, um enólogo que tem sobressaído na Região dos Vinhos Verdes e hoje responde por marcas de topo, medalhadas em concursos nacionais e internacionais. Os prémios que tem recebido relativamente a vinhos das últimas duas colheitas falam por si. O enólogo defende um rigoroso controlo da qualidade na colheita das uvas, que considera determinante para se fazer um bom vinho. Costuma dizer "que aos enólogos pede-se-lhes que não estraguem o vinho", referindo-se aos cinco cuidados fundamentais que o técnico deve observar – o timing da vindima, o tratamento da uva, a escolha da técnica a usar, a oxidação e o engarrafamento.

Aos enólogos pede-se-lhes que não estraguem o

vinho

O vinho verde vai bem e recomenda-se. A visibilidade internacional de um produto que mais que duplicou as vendas no exterior em apenas dez anos, veio evidenciar também o papel dos enólogos e das mais apuradas técnicas de vinificação. António Sousa, enólogo de quase uma dezena de grandes marcas de vinho na região dos vinhos verdes, considera que "antigamente já se fazia vinho e não havia enólogos", mas reconhece que o papel do técnico é fazer um vinho à medida das exigências do produtor e obviamente que satisfaça também o consumidor. Acerca da plantação da casta Alvarinho fora do seu habitat natural e das muitas experiências já em curso, António Sousa considera que é "uma casta melhoradora, com potencial de envelhecimento". E sobre eventuais diferenças de um alvarinho produzido em Marco de Canaveses ou em Monção, o enólogo garante que "no conceito, na génese, não há". No entanto, existem pequenas diferenças, percetíveis pelos técnicos. "Eu tenho mais floral, mais expressividade, mais garra num vinho feito fora da região de Monção", refere. "Um enólogo basicamente é pago para não estragar a uva. Se a uva for boa, eu consigo tirar o máximo de potencial dela, sendo ela de Monção, do Vale do Ave, do Vale do Tâmega ou do Vale do Douro", sustenta o técnico de enologia, natural do Marco de Canaveses. "Se a casta for a mesma, se os solos forem equiparados, se os parâmetros que controlamos forem idênticos eu vou conseguir produtos muito similares", enfatiza. Depois, ao discutir-se o conceito de qualidade já depende de cada provador ou consumidor. Por isso, António Sousa relativiza os resultados das provas e dos concursos: "O melhor vinho em determinado concurso depende de muitos fatores e da própria disposição do enólogo. A análise é feita num determinado momento. A classificação de um vinho é "o momento". Um vinho classificado em primeiro numa prova pode não obter a mesma classificação na prova seguinte, ainda que analisado pelas mesmas pessoas". O enólogo salienta também que a intervenção do técnico é mínima – "menos de 0,5%" do processo de vinificação, esclarece – e o resultado final depende sobretudo do "empenho". "A diferença [entre um grande vinho ou um vinho banal] está no empenho. Costumo dizer que está na alma, de quanto é que da nossa alma damos ao produto. O que o enólogo faz, muitas vezes, não está na técni-

ca mas no timing em que se aplica a técnica", afirma. Em termos práticos, o técnico lida com coisas simples como temperatura, o conceito que se tem da nutrição – "a nutrição é para a fermentação o mesmo que o sal e a pimenta, ou seja, é o tempero, a erva aromática" – e até a oxigenação. Operando em cerca de 300 hectares de vinha durante o ano e intervindo no processamento de perto de 2 milhões de litros de vinho, António Sousa defende um acompanhamento muito estreito de todo o ciclo de produção, tarefa que distribui também pela sua equipa. "Os fatores de conservação, a maneira como se trata a uva, se vem esmagada ou se vem perfeita. Os fatores oxidativos, largamente estudados, geralmente são inimigos porque há uma oxidação nos mostos brancos não visível que tem a ver com a exposição de certos compostos ao oxigénio, como acontece no sumo de laranja ou numa maça. É por isso que uma uva que foi esmagada não vai dar a mesma qualidade da que foi processada imediatamente e que foi bem protegida". Resumidamente, o enólogo aponta cinco cuidados básicos para não se estragar um vinho. O primeiro é o "timing" da vindima – "é preciso definir com rigor o dia e a hora para colher as uvas" e sobretudo "provar as uvas". "A uva tem de dizer ao enólogo 'estou pronta, está na hora' e isso é algo que se treina ao longo dos tempos". Em segundo lugar, o fruto tem de chegar em muito boas condições ao lagar ou ao sítio de processamento. O terceiro ponto recomenda que se escolha a técnica a usar para determinado tipo de uva. "Se uma uva tem potencial na película, como o alvarinho e o loureiro, tenho de tratá-la de uma forma diferente de uma uva azal ou avesso. E isso faz a diferença entre o 8 e o 80". O quarto cuidado é com a oxidação, que altera substancialmente os níveis de acúcar. "Posso nem sequer precisar de sulfuroso se tiver uma cuba inertizada". Finalmente, o engarrafamento tem de ser pensado em função do prazo em que o vinho vai ser consumido. "Temos de saber se queremos um produto para durar ou consumir no momento. Hoje consegue-se conservar vinhos até 5 anos mesmo nos brancos. Tem a ver com o conhecimento da casta e pela maneira como ela é trabalhada. E tudo isso é suscetível de ser ajustado", sublinhou o enólogo marcuense. repórterdomarão | julho'13 05


Gastronomia tradicional tem ajudado restauração a enfrentar a crise O anho assado é porventura a iguaria mais consumida em Baião por aqueles que visitam a vila e o concelho mais interior do Distrito do Porto. Sem os constrangimentos rodoviários dos anos 80 e 90, chegar hoje a Baião, do Interior ou litoral norte e sobretudo do Grande Porto, é tarefa fácil. Baião e Porto estão à distância de menos de uma hora de automóvel e isso tem sido um fator primordial. Contudo, será porventura a excelência da sua gastronomia, que conserva as mais finas tradições de cozedura dos alimentos – nomeadamente os fornos a lenha – e também a variedade da oferta que têm ajudado a restauração baionense a enfrentar uma crise muito prolongada e altamente severa. Um industrial do setor, que lidera uma das casas mais conhecidas do concelho, reconheceu ao RM "que os restaurantes de Baião [e aqui englobam-se as principais casas da vila e

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também os estabelecimentos espalhados pelo concelho] têm-se aguentado bem e não há notícia de encerramentos", pelo menos, entre os restaurantes de maior renome. Uma situação que contrasta substancialmente com outras localidades afamadas de restauração no norte e no interior transmontano, onde os encerramentos de estabelecimentos acontecem todos os meses. A subida do IVA para 23 por cento, que os industriais do ramo vêm contestando com veemência, acabou, como se esperava, por ser a machadada final num setor que vive essencialmente do rendimento disponível das familias (e sobretudo da classe média). E, sabe-se, como esta classe tem sido sacrificada desde praticamente 2010... À parte a crise, o anho assado no forno e o fumeiro, com destaque para o cozido, são os dois ícones cimeiros da restauração local. Não há ementa que se preze que não contemple um

dos pratos ou mesmo os dois. Mas é sobretudo a qualidade dos produtos que faz a diferença. A grande maioria dos restaurantes têm fornecedores de carne de inteira confiança – seja anho ou cabrito, este mais raro de encontrar no concelho –, porque o típico é mesmo o anho [a cria da ovelha], que noutras zonas do país é conhecido (e designado) por cordeiro ou borrego. Não confundir com o cabrito, que é a cria da cabra, sendo conhecidas meia dúzia de raças, do Montesinho ao Algarve. A confeção do anho e do cabrito (no forno) são praticamente idênticas e as carnes ligeiramente diferentes: na cor, na textura e no tipo de gordura. Há curiosamente quem não goste de anho mas coma cabrito e vice-versa. O melhor, mesmo, é saborear o prato num restaurante de Baião. Ou, então, aproveitar o fim de semana para uma escapada ao festival do anho assado. De sexta a domingo.


Uma receita ancestral Se quiser experimentar em casa, aqui ficam algumas dicas para a confeção de uma receita quase universal, mas onde o pormenor fica ao critério de cada cozinheiro (ou chef, sim, que eles desde há alguns anos que se interessam por este tipo de carne): Na véspera, esfola-se o anho (ou cabrito), retiram-se os miúdos e pendura-se para escorrer. Esmagam-se os dentes de alho e juntase a cebola picada, o vinagre, o sal grosso, o colorau e a pimenta. Esfrega-se o anho (ou cabrito) com esta pasta e deixa-se ficar assim até o dia seguinte. Depois, fazem-se golpes na carne e introduzemse o toucinho, atam-se as patas da frente às de trás e barra-se com a banha. Põe-se o anho (ou cabrito) na grelha de paus de loureiro armada na boca do alguidar do arroz e leva-se a assar no forno. Para o arroz: faz-se um refogado apurado com cebola e a banha, juntase água, presunto, os miúdos do anho (ou cabrito), e o chouriço de carne. Deixa-se cozer, coloca-se o açafrão no forno. Junta-se ao caldo uma cebola cortada, o açafrão, um ramo de salsa, uma folha de louro e o arroz. Este coze no forno ao mesmo tempo que se assa o anho (ou cabrito). E é o escorrimento da assadura da carne sobre o arroz que faz toda a diferença na hora de saborear o arroz do forno, dizem alguns especialistas gastronómicos. Em Baião, este prato é servido acompanhado de batata assada também no forno.

Festival tem alternativas ao anho Os visitantes do Festival do Anho Assado que não apreciam a iguaria têm pratos alternativos na ementa dos restaurantes presentes no evento, nomeadamente feitos à base de vitela e bacalhau, anuncia a organização na nota de imprensa. A tenda montada em Baião para receber os visitantes tem capacidade para 500 lugares e outra sugestão feita pela organização é a prova dos

vinhos verdes locais, de vários produtores-engarrafadores, sobretudo da casta avesso. Além do doce da Teixeira e da broa de milho, os visitantes podem ainda deliciar-se com diversos produtos locais, como compotas, licores, mel, queijos e até chocolates artesanais. Bengalas de Gestaçô e cestas de Frende representam o artesanato do concelho.

Fotos: Paulo Teixeira e D.R. repórterdomarão | julho'13 07


Mel do sustentabilidade

um filão por A produção artesanal de mel na região do Marão já atinge entre 10 e 15 toneladas, correspondendo à instalação de mais de milhar e meio de colmeias. Mas a tendência é para crescer duas a três vezes nos próximos anos, disse ao Repórter do Marão um dirigente da Associação Viver Canadelo, Francisco Matos. O dirigente associativo da Viver Canadelo, organização que no final de julho organiza a terceira edição da Feira do Mel, salientou que os apicultores de Amarante, concentrados maioritariamente nas serras do Marão, Alvão, Meia Via e Aboboreira, necessitam urgentemente de criar um organismo que os represente. É nesse sentido que o programa da feira do mel inclui um colóquio sobre o tema, que tem por finalidade "sensibilizar os apicultores para a criação de uma associação".

Preço médio do mel ronda 5 a 6 euros Francisco Matos admite que a Viver Canadelo possa assumir esse papel no curto prazo, ainda que temporariamente. "O mel que produzimos é muito para vender cá, mas é ainda muito pouco para o mercado externo, ou seja, para a exportação", sintetizou.

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Marão

explorar

Apesar de a colheita deste ano "ser muito fraca", devido à floração tardia, provocada pelas chuvas fora de tempo, a exploração do mel tem vindo a atrair cada vez mais produtores. "Entre grandes e pequenos, já temos nesta região mais de uma centena de apicultores", disse. Vendido localmente, o mel (a granel ou sem marca) tem uma cotação média de 5 a 6 euros, mas a sua cotação no mercado, depois de embalado e com marca sobe para o dobro (12,00 por quilo, 7,00 o frasco de 500 gr.). Ou seja, estamos perante uma importante receita para a economia local, que pode ainda ser substancialmente aumentada se a produção local for preparada e embalada com marcas em vez de ser vendida a granel.

Maior apicultor vende tudo à Nestlé Francisco Matos lamenta que o "valor acrescentado" – como no passado aconteceu no vinho verde e hoje, felizmente, a situação está a mudar – seja "desperdiçado". "Temos apenas uma ou duas marcas de produtores no mercado, pelo que quase 90 por cento do mel produzido é vendido a granel", confirma o dirigente da Viver Canadelo, apesar de o mel da região ser considerado um dos melhores do norte de Portugal, só comparável ao do Gerês. "É tão bom que o maior apicultor da região, que só à sua conta produz 10 toneladas de mel, o vende na totalidade a granel para uma grande multinacional, a Nestlé", assegurou. Outros têm empresas nacionais que lhes esgotam a produção, sendo consensual que metade do mel se destina ao mercado interno e a outra metade à exportação, sobretudo para os mercados de França e Alemanha.

Mais de mil colmeias em novos projetos Segundo Francisco Matos, há apicultores que já vivem quase exclusivamente do mel, mas o setor vai crescer brevemente em mais de um milhar de colmeias, se vierem a concretizar-se os três projetos em desenvolvimento, um deles já aprovado (cerca de 600 colmeias).

— 27 JUL —

Sociedade Filarmónica de Vilarchão Sociedade Artística Banda Vale de Cambra Banda Musical Flôr da Mocidade Junqueirense — 28 JUL —

www.casadamusica.com · tel.220 120 220

Matos considera também ser fundamental apostar na qualificação dos produtores e a Viver Canadelo planeia organizar um curso de formação para 15 formandos no último trimestre deste ano, em colaboração com a Associação de Agricultores de Ribadouro, que está sediada na cidade de Amarante. Outra ideia é a criação da Rota do Mel do Marão, sendo prioridade do projeto a recuperação dos antigos muros apiários de Badoledo, entre Aboadela e Covelo do Monte, perto da antiga Casa da Guarda, investimento que será candidatado a financiamento comunitário.

Banda União Musical Pessegueirense Banda de Música de Vila Boa de Quires Banda Musical de Gondomar MECENAS ENCONTRO DE BANDAS

MECENAS CASA DA MÚSICA

APOIO INSTITUCIONAL

PATROCÍNIO VERÃO NA CASA

MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA PATROCÍNIO VERÃO NA CASA

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regiões

EPAMAC quer crescer até aos 350 alunos A Escola Profissional de Agricultura do Marco de Canaveses (EPAMAC) prevê crescer nos próximos anos mais uma centena de alunos, mas para isso preciso de requalificar instalações e ampliar o alojamento. A escola, que apresenta elevadas taxas de sucesso e empregabilidade dos seus alunos e contribui para a redução do abandono escolar, é agora dirigida por João Gonçalves, que já fazia parte da direção cessante. Para o novo diretor da Escola, a EPAMAC tornou-se numa escola de referência a nível nacional e tem hoje uma abrangência supra-regional, ao ter alunos oriundos de quase duas dezenas de concelhos. Aliás, em pouco mais de quatro anos a EPAMAC cresceu de 5 para 12 turmas, passando de 70 para 250 alunos. Na tomada de posse, o novo diretor referiu como prioridades "manter a qualidade" e "melhorar as condições para receber mais alunos". João Gonçalves admite que a EPAMAC poderá acrescentar em breve mais 80 ou 90 alunos aos 250 já existentes. Nesse sentido, a escola acaba de abrir as inscrições para um novo Curso Vocacio-

nal de Produção Agrícola (ver texto ao lado). Para João Gonçalves, a requalificação das residências escolares e a cantina são tarefas urgentes, uma vez que a Escola "está lotada" e "a residência escolar completamente no limite". "Temos que ter capacidade para receber mais alunos", enfatizou. Outro aspeto que preocupa o diretor é a segurança de alunos e docentes, defendendo a necessidade de encerrar a estrada que passa a meio do recinto da Escola, uma situação que o presidente da câmara, Manuel Moreira, presente na cerimónia, prometeu agilizar em breve. Investir na área agrícola; aumentar a empregabilidade e o número de parceiros-empresas; construir espaços de convívio para os alunos; montar uma adega com todos os equipamentos; concretizar o projeto da Casa do Rossinho - Turismo Ecológico e Centro Interpretativo do Mundo Rural; adquirir novos tratores; construir nova estufa e um picadeiro coberto são, entre outros, objetivos operacionais que o novo diretor da EPAMAC espera concretizar durante os próximos quatro anos.

Curso Vocacional de Produção Agrícola na EPAMAC Uma nova via profissionalizante para alunos que queiram concluir o ensino secundário e ingressar de imediato no mercado de trabalho. A EPAMAC poderá ser uma das três escolas do Norte do país a ter em funcionamento, no próximo ano letivo, a experiência-piloto dos cursos vocacionais de nível secundário. Estes cursos de nível secundário, com a duração de dois anos, vão ser muito práticos, virados para a aquisição de competências profissionais. Terão um estágio em empresa equivalente a praticamente um ano o que facilitará o acesso dos alunos ao emprego.

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cultura

Encontro de Bandas na Casa da Música O programa "Verão na Casa" da Casa da Música, no Porto, dedica um fim de semana às bandas filarmónicas naquele que é um dos encontros mais festivos da programação. As bandas chegam de várias localidades do país, trazendo consigo muitos anos de tradição e os seus repertórios de eleição. Apresentam-se no formato de arruada, em redor da Casa da Música, convidando depois o público a ouvi‑las nas melhores condições acústicas da Sala Suggia, em concertos sempre marcantes, refere a nota de imprensa da Casa da Música. António Jorge Pacheco, Director Artístico da Casa da Música, considera que o panorama musical português sem o mundo das Bandas Filarmónicas não seria o mesmo. “É com muito orgulho que, mantendo a tradição, a Casa da Música termina a sua programação de Julho com o Encontro de Bandas Filarmónicas, que tanto tem motivado este universo musical e as comunidades que lhe estão geográfica e socialmente associadas.” Imaginada para assinalar o ano festivo de 2001, em que a cidade do Porto foi Capital Europeia da Cultura, a Casa da Música é o primeiro edifício construído em Portugal exclusivamente dedicado à Música, seja no domínio da apresentação e fruição pública, seja no campo da formação artística e da criação. O projeto Casa da Música foi definido em 1999, como resultado de um concurso internacional de arquitetura que escolheu a solução apresentada por Rem Koolhaas - Office for Metropolitan Architecture. As escavações iniciaram-se ainda em 1999, no espaço da antiga Remise do Porto na Rotunda da Boavista, e a Casa da Música foi inaugurada na primavera de 2005, no dia 15 de abril. Concebida para ser a casa de todas as músicas, integra-se no processo de renovação urbana da cidade e numa rede de equipamentos culturais à escala metropolitana e mundial. É uma instituição que acolhe um projecto cultural inovador e abrangente e que assume a dinamização do meio musical nacional e internacional, nas mais variadas áreas, da clássica ao jazz, do fado à eletrónica, da grande produção internacional aos projetos mais experimentais. Para além de concertos, recitais e performances, a Casa da Música promove encontros de músicos e musicólogos, investindo na procura das origens da música portuguesa e apostando fortemente no seu papel de elemento nuclear na educação musical. Define-se também enquanto plataforma cultural aberta a cruzamentos entre a música e outras áreas de criação artística e de conhecimento, um espaço aberto a todos os públicos e a todos os criadores. Proporcionar uma vivência musical plena a todas as pessoas, sem exceção, é o fundamento do Serviço Educativo da Casa da Música, uma estrutura que todos os anos renova o seu compromisso com o público ao envolvê-lo em atividades e projetos que se traduzem em experiências musicais fortes. A oferta é diversificada, com propostas que abrangem desde bebés a seniores, grupos escolares, famílias, cidadãos e comunidades de todos os contextos socioculturais. Workshops, ações de formação, modelos originais de concerto e espaços de experimentação livre (os Hot Spots) compõem uma agenda abundante em iniciativas que fazem da música um espaço aberto à expressão artística e valorização pessoal. As novidades são muitas, sendo de destacar o alargamento dos workshops a novos grupos, designadamente a famílias. “À semelhança das edições anteriores, a EDP volta a apoiar a participação de bandas filarmónicas das regiões abrangidas pelos novos projetos hidroeléctricos, dando palco a instituições de referência, com longa tradição no ensino da música e promoção de dinâmicas culturais e sociais. Para a EDP, divulgar o património cultural das regiões onde está a investir é também uma forma de induzir desenvolvimento sustentável, complementando outras iniciativas em curso, na área do empreendedorismo e inclusão social.”, refere o comunicado.

Encontro de Bandas Filarmónicas EDP Sábado 27; 15h30

Domingo 28; 15h30

PRAÇA 15h30 – Desfile das Bandas do Encontro SALA SUGGIA 16H00 – SOCIEDADE FILARMÓNICA DE VILARCHÃO (Vieira do Minho) 17H00 – SOCIEDADE ARTÍSTICA BANDA VALE DE CAMBRA 18H00 – BANDA MUSICAL FLÔR DA MOCIDADE JUNQUEIRENSE (Vale de Cambra)

PRAÇA 15h30 – Desfile das Bandas do Encontro SALA SUGGIA 16H00 – BANDA UNIÃO MUSICAL PESSEGUEIRENSE (Pessegueiro do Vouga) 17H00 – BANDA MUSICAL DE GONDOMAR 18H00 – BANDA DE MÚSICA DE VILA BOA DE QUIRES (Marco de Canavezes)

Sala Suggia, na Casa da Música, onde vão ter lugar os concertos das bandas.

[Fonte: Assessoria de Imprensa da Casa da Música] repórterdomarão | julho'13 11


Festival do Anho Assado ajuda economia de Baião Com o apoio da Dolmen/Proder, o Município de Baião organiza no final de julho mais um festival do anho assado, um dos três eventos que mais turistas atrai anualmente àquela vila do distrito do Porto. Os apreciadores das iguarias tradicionais da região do Tâmega têm no festival do anho assado e do arroz do forno mais um motivo para fazer uma visita ao interior do distrito do Porto, onde a tradição e a qualidade gastronómicas ainda se mantêm intactas. O festival do anho assado tem lugar este ano de 26 a 28 de julho e realizar-se-á, como habitualmente numa tenda instalada no recinto da feira do Tigelinho. No evento participam diversos restaurantes daquele concelho que habitualmente já servem o anho asado com arroz do forno, um dos pratos mais típicos da região. O certame divulgará também outros produtos daquelas origens durienses, nomeadamente o "biscoito da Teixeira", a broa de milho e a doçaria tradicional. A animação da feira estará a cargo de grupos de concertinas, agrupamentos musicais e ranchos folclóricos. A autarquia tem considerado este festival gastronómico um bom cartaz para potenciar a atração turística do concelho.

Mercado Romano de Tongobriga

EVENTO

Junho

III Mercado Romano do Tongobriga

Centros de Promoção Produtos Locais: MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr.

22 outubro'12 | repórterdomarão


agenda | crónica agenda Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

Feira do Mel em Aboadela (Amarante) ganha estatuto A terceira edição da Feira do Mel, em Aboadela (Amarante), organizada pela Associação Viver Canadelo e promovida e patrocinada pela Dolmen, confere-lhe já um estatuto de evento de verão. Tem lugar no último fim de semana de julho, de 26 a 28. À volta do mel é organizado um festival de música folk e este ano, pela primeira vez, será ainda promovido outro produto importante para a economia local – a carne maronesa. A produção artesanal do mel já envolve cerca de uma centena de produtores. O programa inclui muita música tradicional, produtos locais, workshops, uma caminhada, palestras e pela primeira vez um concurso de mel. Segundo divulga a organização, a festa começa na sexta, dia 26, com uma tertúlia dedicada ao Marão. A abertura da feira dos produtos locais é no sábado, dia 27, pelas 14h00. O segundo dia será preenchido com uma palestra dedicada à carne maronesa, com a presença do presidente da Associação de Criadores do Maronês, Virgílio Alves, jogos tradicionais, tasquinhas, worhshops de mel, de cogumelos, gaitas de cana e fabrico de broa caseira. O evento vai contar com alguns artesãos a trabalhar ao vivo – um oleiro, um cesteiro e uma tecedeira a trabalhar num tear. À noite ocorre a II edição do Festival Folk. No final do dia, um júri constituído por peritos elege o melhor mel presente na feira. A festa prossegue no domingo com uma caminhada pelo Marão, uma palestra dedicada à temática do mel e jogos tradicionais. A organização criou um espaço de campismo gratuito nas margens do rio Ovelha.

OS de

o 2013

Feira à Moda Antiga de Amarante

Segunda edição da Feira à Moda Antiga de Amarante

. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004

BAIÃO: DOLMEN - Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154

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regiões

Autoestrada Transmontana Exposição e volta a derrapar os prazos homenagem ao Padre Fontes

A Autoestrada Transmontana, que ligará Bragança a Vila Real e que deveria ter ficado concluída em setembro de 2012, acaba por não cumprir o prazo limite de julho deste ano que a concessionária Auto-Estradas XXI tinha anunciado há alguns meses. De derrapagem em derrapagem, a concessionária volta agora a prometer concluir a via até ao fim do mês de agosto, embora ainda faltem obras de algum vulto no nó de ligação ao IP4, em Parada de Cunhos, e no troço que circunda Vila Real pela lado sul e que inclui o viaduto sobre o rio Corgo. O viaduto tem uma extensão de quase 2,8 km e a distância ao solo varia entre 197 e 230 metros. No dia da abertura de mais um lanço no distrito de Bragança, Rodrigues de Castro, diretor-geral da Auto-estradas XXI, confirmou que com aquela entrada em serviço ficaram operacionais 102 dos cerca de 130 quilómetros da autoestrada e que até ao final do mês de julho vão abrir mais 18 quilómetros entre Santa Comba de Rossas e o nó da Amendoeira, em Macedo de Cavaleiros. Nessa altura, a via ficará totalmente concluída no território do distrito de Bragança, faltando terminar os trabalhos dos restantes 10 quilómetros do distrito de Vila Real, a chamada "Variante de Vila Real", que tem perfil de autoestrada e será portajada. Esta questão, prevista no contrato inicial, diga-se, levou já o Bloco de Esquerda a questionar o valor da porta14

julho'13 | repórterdomarão

gem a pagar para quem quiser atravessar Vila Real por autoestrada em vez de fazê-lo pelo antigo IP4. Uma variante semelhante foi construída em Bragança e é igualmente portajada, embora o número de veículos que a utiliza seja muito reduzido – entre 10 e 15 por cento do tráfego que acede ao respetivo nó, segundo as estatísticas da Estradas de Portugal. O Bloco de Esquerda de Vila Real pergunta "concretamente quais os custos para os automobilistas da variante associada com o viaduto e qual o desvio do custo da obra relativamente ao orçamentado". A confirmar-se que este troço abrirá em agosto, a autoestrada transmontana ficará concluída com um ano de atraso relativamente ao prazo inicialmente estipulado. A continuidade até Amarante, com a ligação por AE ao Porto e litoral norte terá de aguardar a conclusão da concessão Túnel do Marão, parada há dois anos. O Governo já resgatou a concessão mas não foi ainda anunciado qualquer prazo para o reinício da obra, trabalhos que só chegarão ao terreno depois de novos concursos e adjudicações dos lanços por concluir. Estima-se que o túnel esteja escavado em cerca de 60 a 70 por cento dos 5,6 km de extensão e é improvável que a conclusão da A4 ocorra antes de 2016, um cenário considerado "realista" por técnicos do setor da construção e obras públicas.

O padre e etnólogo António Fontes, de Montalegre, vai receber mais uma homenagem à sua vida e obra, evento a que a Câmara Municipal de Montalegre também se associa. Desta feita, são os 50 anos de vida sacerdotal que serão recordados. Acontece no dia 27 de julho. "É mais um render de vénia, que se junta a outros já realizados, à figura viva mais emblemática do concelho de Montalegre", refere uma nota de imprensa do município local. No mesmo dia, será inaugurada a Exposição “Padre Fontes, um dos grandes de Trás-os-Montes”, da autoria de Paulo Reis Santos, no Ecomuseu de Barroso. Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Paulo Santos, também natural da região, quer mostrar ao grande público o "Padre Fontes®", "uma marca nacional que pretende assumir-se como elemento âncora de estratégia, desenvolvimento, promoção e dinamização da Cultura da região de Barroso". A mostra pode ser vista até 17 de setembro.

Jorge Manuel Costa Pinheiro

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crónica

Novo reitor da UTAD toma posse a 29 de julho

​O novo reitor da UTAD, António Augusto Fontaínhas Fernandes, toma posse na tarde de 29 de julho para um mandato de quatro anos. Professor catedrático de bioquímica ambiental, Fontaínhas Fernandes foi eleito a 5 de julho por unanimidade dos membros do Conselho Geral da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. A eleição, que teve Fontaínhas Fernandes como candidato único, foi precedida de uma audição pública na Aula Magna da Universidade, onde apresentou o seu programa de ação e respondeu a todas as questões colocadas "com absoluta segurança e determinação", como faz questão de mencionar a nota de imprensa da instituição de ensino superior. "Toda a academia e públicos presentes reforçaram neste ato a convição sobre as potencialidades do candidato para o exercício do cargo. Na sua intervenção, o futuro reitor destacou a necessidade da UTAD diminuir a sua dependência do peso do Estado, devendo apostar em múltiplas parcerias regionais, nacionais e internacionais", acrescenta o comunicado. Segundo a fonte, as linhas mestras da sua candidatura incluem quatro agendas estratégicas: Ensino e Formação; Ciência e Tecnologia; Desenvolvimento Económico e Social; Organização, Gestão e Sustentabilidade. Fontaínhas Fernandes, natural de Guimarães, tem dedicado toda a sua carreira científica e académica à região transmontana, para onde se deslocou em 1979 para frequentar o então Instituto Universitário de Trás-os-Montes e Alto Douro. Doutorou-se em 1999 e desempenhou na instituição cargos de crescente responsabilidade, nomeadamente o de diretor de curso e de departamento, pró-reitor e presidente da Escola de Ciências da Vida e do Ambiente. No plano científico, o seu percurso foi centrado no domínio da bioquímica ambiental, é responsável por diversos projetos de I&D e publicou mais de cem trabalhos académicos, incluindo livros e capítulos de livros, artigos e comunicações em livros de atas, incluindo mais de 60 artigos publicados em revistas internacionais indexadas. É membro da direção da Portusparque, um dos responsáveis pela criação do Regia Douro Parque, coordena a rede EmpreenDouro, membro da Sociedade Ponto Verde e integra a comissão de admissão e qualificação da Ordem dos Engenheiros, onde tem exercido funções nos últimos 20 anos.

A.M.PIRES CABRAL

E AGORA, ANÍBAL? E agora, Aníbal? Devo dizer que este texto foi escrito imediatamente sobre a declaração que António José Seguro, com a pose emproada de statesman que afivela nos grandes momentos, fez ao país em 19 de Julho. Isso significa que nem sequer tive tempo para ouvir a chusma de comentadores que, logo após a declaração, se desunharam nas diversas estações de televisão, perorando de papo, a dissecar o cadáver do acordo que não chegou a ser. De resto, confesso que me vai faltando a paciência para os comentadores — fauna que, ao contrário do lince da Malcata, se encontra em forte expansão. Desde que o inefável comentador Camilo Lourenço (creio que é assim que se chama o sujeito) decretou a inutilidade da História e proclamou a ciência económica como a única verdadeiramente útil, que comecei a torcer o nariz a essa gente. Não há espirro que dê o governo, o FMI, a Comissão Europeia, a senhora Merkel ou o senhor Draghi, que não provoque uma enxurrada de comentários de economistas, de politólogos, de especialistas nisto e naquilo e até de simples diletantes. Começa a não haver pachorra para tanto comentador — que deve ser hoje a única profissão que floresce quando todas as outras parecem estiolar. (Um parêntesis. Eu não sei se o estimado Leitor já reparou que o paradigma profissional e laboral de hoje não tem nada a ver com o de há dez anos. Há dez anos, ou, vá lá, vinte anos, ainda era possível equacionar as profissões em termos de futuro. Hoje só se podem equacionar em termos de presente, e qualquer dia nem isso. Ninguém tem segura a sua profissão, porque o progresso (se é que podemos chamar progresso a esta alucinante cavalgada em direcção à negação do Homem, sob a aparência de que se cavalga em direcção à sua promoção) torna obsoletas estimáveis profissões de antanho e inventa novas profissões que, ninguém se iluda, serão também obsoletas dentro de poucas décadas. Uma dessas novas profissões é a de comentador televisivo. Que, como digo, não ouvi antes de escrever estas mal amanhadas regras.) Volto pois à pergunta inicial: e agora, Aníbal? Ou me engano muito, ou o Presidente da República, com a sua proposta de 10 de Julho, limitou-se a acrescentar água e lodo ao pântano em que já estávamos atolados até ao pescoço. Proposta polémica, que uns consideraram adequada, outros arriscada e outros ainda pura e simplesmente disparatada. Pessoalmente acho que foi apenas ingénua. Que raio de ideia terá passado pela cabeça do Presidente, que o levou a pensar que — com os políticos que temos — seria possível sanar em meia dúzia de rondas negociais, aquilo que tem vindo consistentemente e irreconciliavelmente a afastar o PS do PSD e do CDS-PP? Como lhe foi possível acreditar que — com os políticos que temos — qualquer dos partidos recuasse e negasse o que sempre tem afirmado? Que o saco de gatos que é o nosso palco político amansasse a pedido do Presidente da República? Fiado apenas na sua magistratura de influência, um valor cada vez mais degradado? Ouvir Cavaco Silva chamar «compromisso de salvação nacional» a uma diligência excepcional envolvendo os três partidos levou-me a uma amarga reflexão: mas afinal não é a salvação nacional a tarefa natural e quotidiana da Assembleia da República e do Governo? Se não é para salvar a nação, o que estão lá a fazer? Que outro compromisso têm que não seja o da salvação nacional? E quando ouvi, com estupefacção que não escondo, o Diktat de 10 de Julho, não pude deixar de pensar que não haveria mais de um por cento de probabilidades de a coisa dar certo. E, no caso altamente improvável de dar errado, o resultado lógico da aventura seria o cavar de um fosso ainda mais largo e mais profundo — logo, mais intransponível — entre os partidos. Isto é: as recriminações mútuas subiriam de tom e se estávamos mal, pior ficaríamos. Quando este texto for publicado logo se verá se me enganei. Estimarei que me tenha enganado. O Leitor estará nesta altura a pensar com os seus botões: afinal este fulano (o fulano sou eu) prega contra os comentadores e mete-se ele próprio na pele de um. Nada mais errado, Leitor. Este texto não é um comentário político. É apenas o desabafo aflito de um cidadão anónimo que assiste impotente ao desmantelamento do seu bem-amado país pela inépcia dos seus políticos, e se inquieta e angustia com o que vê. Nada mais do que isso. pirescabral@oniduo.pt Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico.

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poder local

EPAMAC

António Sousa: mais um enólogo que começou na EPAMAC António Sousa, conceituado enólogo que se especializou sobretudo nos vinhos verdes e é hoje responsável por marcas de topo, é mais um ex-aluno da EPAMAC (Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Marco de Canaveses), que frequentou entre 1989 e 1993. Depois da sua passagem como aluno, ainda regressou como professor de Química em 1998, antes de começar a trabalhar como enólogo na Região dos Vinhos Verdes. O enólogo conta-nos, na primeira pessoa, a atração pela via profissional de ensino, que o levou até à EPAMAC, o prosseguimento dos estudos em enologia na UTAD e um dos últimos projetos que abraçou, os vinhos Vales de Ambrães.

A escolha da EPAMAC

Após o 9º. ano queria algo diferente, foi aí que ouvi falar na escola EPAMAC que estava a nascer, fui a uma apresentação do projeto na Escola Secundária do Marco de Canaveses, e fiquei agradado com a ideia, andava na busca de algo mais prático, que valorizasse a aprendizagem pelo fazer e não apenas pelo conhecimento teórico. Pela proximidade, o meu gosto pessoal pela área agrícola pareceu-me uma escolha óbvia. Sim, na EPAMAC pratiquei muito ou não fosse um dos alunos que frequentou o primeiro curso, fomos nós os envolvidos na instalação da maioria das infraestruturas pecuárias, e culturas plurianuais ainda hoje existentes na escola, foram anos a aprender intensamente, de nunca parar de aprender e crescer como pessoa, e principalmente de nos sentirmos filhos dessa que é uma grande família atualmente. Nós fomos os 16 primeiros! O espírito familiar é muito intenso ali e no início ainda seria mais. A minha relação com a escola continua impecável, continuo a colaborar, vou às coisas da Escola, faço o vinho da Escola, parte da produção sou eu que a faço há três anos. Acho que a Escola tem sabido evoluir, tentou várias vertentes, começou inicialmente só com o nosso Técnico de Gestão Agrícola, depois teve muitos mais e continua a ter. Está bastante dinâmica, ajusta-se muito bem ao mercado e às opções de colocação que podem surgir para os alunos que forma. Ser um ensino de base muito prático também ajuda na colocação no mundo do trabalho.

A atração pela Enologia

Enologia - algo de diferente, novo na altura, arriscado, mas sobretudo um enorme desafio e uma escolha com potencial de futuro, foi o que vi em 1993 (há 20anos), e como já tinha um exemplo que tinha corrido bem, na EPAMAC, porque não arriscar. O futuro - felizmente trabalho num setor dinâmico, e muito competitivo que tem vindo a crescer principalmente no mercado externo, e para já o trabalho não tem faltado, pelo contrário continua a aumentar. Para encarar este futuro estou já a preparar a empresa, como aumento do potencial de resposta, quer na área O enólogo António Sousa durante uma prova de vinhos.

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técnica, quer na comercial, e fazer um pouco mais em termos de valorização pessoal, como algumas vindimas/ estágios no hemisfério Sul (aprender e ensinar, só assim posso crescer como profissional).

A experiência Vales de Ambrães

O projeto Vales de Ambrães tem para mim um significado especial, pois foi também uma das primeiras adegas modernas da região que visitei, corria o ano de 1996, e foi-me apresentada pelo proprietário, o Eng. Belmiro de Azevedo, não fazia ideia que 14 anos depois me surgisse o convite para integrar esse projeto! No entanto para mim é ainda um projeto recente, tendo noutras empresas muito mais trabalho criado, como é o caso da Quinta de Gomariz, Casa de Vilacetinho, Quinta da Herdade e Quinta da Levada, todas estas aqui próximas, mas com as quais trabalho a já longos anos... Além de outras dos vales do Minho, Lima e Cávado. Nem sempre é fácil criar um perfil de vinho capaz de agradar a todos, como nem sempre é fácil conciliar interesses e equipas de sucesso. Mas é um desafio que se renova a cada nova vindima, e por isso mesmo, sempre muito interessante sendo eu apenas não mais que um elo de ligação entre as partes envolvidas... O meu trabalho é pois um trabalho de back office , pois o principal são os Vinhos, e eu como responsável tenho que dar a cara por eles.


Produção editorial da responsabilidade da EPAMAC

repórterdomarão | fevereiro'13 15


regiões

Siza Vieira recupera mosteiro de Ancede

O arquiteto Álvaro Siza Vieira vai ser o responsável pelo restauro do mosteiro de Ancede, imóvel classificado do concelho de Baião. O estudo prévio do projeto de conservação e restauro do Mosteiro de Ancede foi agora apresentado no local (foto à direita). É a segunda intervenção do arquiteto portuense na área dos imóveis religiosos na região do Tâmega, depois de ter assinado, há 17 anos, a Igreja de Santa Maria, em Marco de Canaveses, um imóvel também considerado de interesse público. Segundo o projetista, aquele trabalho já foi admitido pelo Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR), pelo que vai passar ao desenvolvimento do anteprojeto. Nesta fase, a intervenção abrange a reconversão da antiga casa moços e hospedaria, adaptando aqueles espaços a cafetaria, referiu fonte da autarquia. O projeto prevê ainda a criação de quatro unidades de alojamento que serão complementadas por salas de leitura e de pequenos-almoços. "Está prevista a criação de salas de trabalho, de exposição e sala de conferências. A sala de refeições do mosteiro e respetiva cozinha também serão alvo de intervenção, com o objetivo de recuperar os espaços mantendo a sua função primitiva", lê-se numa nota de imprensa. O Mosteiro de Ancede, propriedade do Município de Baião, é um monumento de interesse público e está incluído na Rota do Românico do Vale do Sousa e Baixo Tâmega. Segundo a autarquia baionense, "a essência do projeto é a criação de condições para o repouso e para o pensamento, que sejam capazes de atrair o visitante que procura conhecer o vale do rio Douro e as serras envolventes, mas também as gentes ligadas ao mundo das letras, da música e das artes que procuram refúgio e inspiração". As origens do Mosteiro de Santo André de Ancede, segundo a nota de imprensa da autarquia, remontam ao século XII, e a mais antiga referência conhecida, de 1120, é respeitante à sua ligação aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Durante vários séculos este mosteiro deteve um considerável património fundiário ligado à produção vinícola, que lhe permitiu beneficiar de grande poder económico. A igreja foi reedificada, desenvolvendo-se em três naves separadas por arcaria de volta perfeita, com teto de madeira. Um amplo arco triunfal, com dois altares colaterais, articula este espaço com o da capela-mor, onde ganha especial importância o retábulo-mor, em talha dourada com tribuna de grandes dimensões. Contemporâneos deste retábulo, de estilo nacional, são certamente as sanefas que se encontram sobre as janelas e o arco triunfal. 18

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A fachada principal, em cantaria, que corresponde à lateral da nave, apresenta portal de verga reta encimado por nicho de frontão triangular. Com a extinção das ordens religiosas o mosteiro foi vendido em hasta pública, ficando na posse do Visconde de Vilarinho de São Romão. A capela e a igreja passaram, em 1932, para a paróquia de Ancede e desde 1985 o mosteiro é pertença da Câmara Municipal de Baião.


Associação de Paços de Ferreira antecipa em três semanas a Capital do Móvel A Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF) decidiu, a pedido dos expositores e associados, antecipar para o início de agosto a 41ª edição da Capital do Móvel. Segundo a organização, os industriais pretendem aproveitar a presença de emigrantes de férias em Portugal, habitualmente em maior número na primeira quinzena de agosto. O evento de verão da "Capital do Móvel", como é designada a feira, costuma ter lugar no final de agosto e início de setembro, mas neste ano decorrerá entre os dias 3 e 11 de agosto. “Estamos, com esta alteração, a tentar chegar a um público diferente”, refere a fonte da AEPF. Esta edição de agosto será montada integralmente no pavilhão de exposições com 14.000 metros quadrados completamente renovado. Segundo a associação, os expositores vão dispor de melhores condições térmicas e acústicas, garantidas pelo revestimento em cortiça das paredes exteriores. O espaço foi também beneficiado com mais facilidades elétricas, garantindo as condições de montagem e funcionamento dos espaços de exposição.

Pavilhão requalificado para multiusos Um dos pavilhões foi dotado de piso novo, preparado para uma utilização multiusos, nomeadamente para a realização de espetáculos e eventos desportivos. A "Capital do Móvel" propõe-se apresentar as principais novidades e tendências da indústria de mobiliário e decoração produzidas no concelho de Paços de Ferreira. A organização anunciou que vai manter a campanha “Comprou, ganhou”, que habilita os visitantes de fora do Grande Porto, que façam compras, poderem ser apoiados nas despesas de deslocação, alojamento e refeições. “A ideia é tentar minimizar os efeitos da crise económica”, assinala a fonte da AEPF. Em 2012, a feira foi visitada por cerca de 35.000 pessoas, tendo sido gerado um volume de negócios de cerca de sete milhões de euros, segundo números da entidade organizadora. A exposição-feira de mobiliário realiza-se há três décadas (a primeira feira teve lugar em 1984) e segundo a Associação Empresarial de Paços de Ferreira "este evento responde às necessidades das empresas da principal região produtora e de comércio de mobiliário do país, aproxima a vasta oferta existente do público consumidor e assegura a visibilidade da marca Capital do Móvel". Por fim, assinala a AEPF, "a tradicional qualidade dos produtos made in Capital do Móvel, aliada ao design moderno e inovador e à excelente relação qualidade-preço são os principais atrativos para os milhares de visitantes da principal feira de mobiliário de Portugal, destinada ao grande público". repórterdomarão | julho'13 19


opinião

Estamos sempre a aprender...

Armando Miro Jornalista

Mude de cérebro, mude de vida

Beja Santos

Ex-Assessor D.G.Consumidor

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Numa prova oral de Matemática do antigo 7º ano do liceu, o então reitor veio completar o júri de que eu também fazia parte. O cansaço afastou a colega que presidia. A certa altura, perante uma enorme calinada do examinando, com um ar tão sério que quem assistia suspirou de alívio julgando que o calino se safara, o reitor afirmou: «estamos sempre a aprender coisas novas...» Recordo imensas vezes este episódio. Porém, recentemente, ele tem-se reafirmado ainda mais. Não tanto pelo que tem de evidente, já que a vida é uma contínua Universidade, também porque nem sempre o que parece é a realidade, mas acima de tudo porque há coisas que parecendo ser algo acabam por não o ser. Até o sentido e significado das palavras, bem como as afirmações, sentenças e proclamações, raramente podem ser lidas, ouvidas e entendidas no sentido que nos querem fazer crer. Não vou fazer uma análise exaustiva do que quero referir. Apenas um ou outro episódio que logo relembrará uns quantos mais, já que a época tem sido em tal pródiga e produtiva. Também não vale a pena lembrar o que significam as palavras assertivas que qualquer desculpa da “Nação em primeiro lugar", como se ela não merecesse tal em permanência, acaba por lhes raptar as consequências. Sobre eventuais críticas ao PR dizia um responsável que «a hora é de colaborar institucionalmente, não é hora de abrir frentes entre órgãos de soberania». Não sendo a “hora”, será que no dia, mês ou ano se pode fazer o contrário? E já antes disso, sobre a crise, outro responsável do mesmo lado, que está à espera de ser ministro, à porta do conclave máximo dizia que «é importante dar um sinal de tranquilidade e de paz». Repetiria a pergunta, não fosse acrescer que é preciso dar sinal mas, tranquilidade e paz, parece que apenas são para mostrar, fazer de conta ou quando dá jeito ao discurso. Outra pecha que me desfranja os nervos é a candura de altos responsáveis que, perante perguntas de jornalistas ou em discursos “oficiais”, afirmam que «o dinheiro dos contribuintes (cidadãos/portugueses) não é para se gastar desta maneira inutilmente».A última vez que o ouvi foi sobre a não criação de vagas no Ensino Superior. E para outras coisas, em maior escala e grandeza, pode gastar-se de qualquer jeito? O dinheiro dos contribuintes são apenas os trocos? Só duma assentada, para cobrir o processo de despedimento de quem foi posto na rua pelo BIC/BPN, foram 50 milhões. Lucrou dois milhões, já que comprou por 48 milhões. Na mesmo informação estimava-se que a despesa que o Estado assumiria noutros compromissos com o mesmo banco ultrapassaria os 100 milhões. Mas, logo no dia seguinte, a Roland & Berger dizia que as responsabilidades do Estado, em relação aos mesmos, seriam de 816 milhões... Se calhar este não é dinheiro dos contri-

buintes, nem será também os não sei quantos mil milhões que a CGD já lá “enfiou”. Há despachos e telefonemas que são bem mais milagrosos que as rosas da Rainha Santa ou a multiplicação dos pães e dos peixes. Como se vê a nossa sapiência, além da Universidade da Vida e do Tempo, é bem mais enriquecida por estes senhores que, como já há muito aqui expressei, os altos dirigentes políticos e partidários, que achavam graça ao que os “putos” faziam nas jotas, como se fossem gente grande, acabaram por os deixar brincar aos governos sem lhes pôr freio nem trela. Mas não se afoitem pois estes conhecimentos, sendo bem importantes para a vida e para as escolhas que nela fazemos, não dão para ir a uma qualquer Universidade pedir equivalências e grau académico. Espero agora, mudando de assunto, que os tempos que correm, para além do desgoverno que grassa, recordemos o que aprendemos para o que aí vem em termos autárquicos. Não é na migração clandestina, mas no que vai ser proposto pela nova vaga de autarcas que deverá aparecer, de preferência os verdadeiramente novos e não os recauchutados ou com abertura de friso no pneu para disfarçar. É que tem sido voz corrente que as novas autarquias terão um novo paradigma mais virado para o Social e menos para as estruturas. No Social tudo bem, principalmente no apoio aos verdadeiros flagelos que não pararão de aumentar nos próximos tempos, principalmente na criação de emprego que é o verdadeiro suporte da dignidade humana. A caridade será apenas o último recurso na ausência de alternativas, e não a satisfação do ego do caridoso, o“lead” da notícia, ou a foto da vaidade e sem respeito pelos que sofrem. Apostem nos incentivos, na atractividade, na simplificação de processos, na desburocratização e noutras formas de convencer quem quer investir, e não na transformação das autarquias e instituições por elas criadas em centros de emprego. Já quanto às estruturas, se bem que na generalidade estejam mais ou menos garantidas, ainda há um grande número de acções a desenvolver e a necessitar de investimento, sem o regabofe da fartura dos fundos estruturais. Há muito que corrigir, reciclar, reformar, restaurar e reparar, pois não só o tempo decorrido se encarrega de o requisitar, como alguma ligeireza na formulação, concurso e decurso das obras o evidenciam. E se o automóvel é um cómodo meio de locomoção (não emblema social), e o transporte público de qualidade e adequado a quem serve eficaz remédio para o desencorajar, que se dê o primado às “Pessoas”. Não ao “peão” como poderia pensar-se ao planear a urbe. É que este, com tanto carro, bola, meco, caixa de luz, poste, rampa e todo o tipo de obstáculos, tem sido o eterno peão das nicas...

Pega-se no livro com alguma surpresa. Mais a mais, tem escrito na contracapa: “Sente-se frequentemente deprimido e desanimado? Sente pânico quando tem de falar em público ou dificuldade em estabelecer novas relações? Ocorrem-lhe repetidamente pensamentos negativos? Se tem alguma destas dificuldades e não as consegue superar – se a depressão, a ansiedade ou o comportamento compulsivo estão a limitar o seu bem-estar emocional – este livro é a solução para si. Além da motivação ou da psicologia positiva, Mude de Cérebro, Mude de Vida oferece-lhe as ferramentas para mudar verdadeiramente a sua vida para melhor”. Fica-se indeciso se não haverá para aqui uma nova crença ou algum charlatanismo. Contudo o autor é neurocientista, especialista reconhecido na medicina nuclear com abundante trabalho na imagiologia cerebral. “Mude de Cérebro, Mude de Vida”, por Daniel G. Amen, Editora Pergaminho, 2013, é pelo menos um livro ousado. O seu autor usa um estudo cerebral em medicina nuclear denominado SPECT (tomografia computorizada por emissão de fotão único) depois de ter estado envolvido em estudos quantitativos sofisticados sobre ondas cerebrais. O que o fascina? Ele esclarece: “O cérebro é o hardware da alma. Não podemos ser quem queremos ser se o nosso cérebro não funcionar bem. O funcionamento do cérebro determina o quanto nos sentimos felizes, o quanto nos sentimos eficientes, o quanto interagimos com os outros”. E a fiança: “Ao conduzir esta investigação, vi com os meus próprios olhos os padrões cerebrais SPECT que

mostram anomalias que interferem com o comportamento. Eu vi como a correção (a normalização) de funções cerebrais anómalas pode mudar a vida das pessoas, até a própria alma das pessoas. Umas após outra, as pessoas anteriormente tidas como fracassos de tratamento, começaram a melhorar com a prescrição de fármacos direcionados para a otimização do funcionamento físico do cérebro. Eram um conceito tão simples: Quando o cérebro funciona bem, a pessoa também pode funcionar bem. Quando o cérebro não funciona bem, é impossível a pessoa funcionar bem”. Estamos pois na questão central do livro, o funcionamento do cérebro e como otimizar a função cerebral. Daí a viagem à volta dos sistemas cerebrais mais envolvidos no comportamento: sistema límbico profundo, no centro do cérebro, é o centro do controlo de vínculos e humores; os gânglios basais que controlam a velocidade do corpo em estado de latência; o córtex pré-frontal, é o supervisor, a parte do cérebro que ajuda a manter a concentração, fazer planos, controlar impulsos e tomar decisões; a circunvolução cingulada, a parte do cérebro que corre longitudinalmente pela parte média dos lobos frontais; e os lobos temporais, que estão envolvidos na memória, na compreensão da linguagem, no reconhecimento facial e no controlo de temperamento. Em rigor, não é um livro que conduza a autodiagnósticos, compete ao leitor, se acaso a sua capacidade de funcionar na vida quotidiana de modo deficiente saber procurar ajuda apropriada junto de um profissional de saúde.


TANTO BARULHO PARA NADA

José Carlos Pereira Gestor

Escrevo estas linhas dois dias após a comunicação do Presidente da República e quando se anuncia a remodelação do Governo e a aprovação de uma moção de confiança na Assembleia da República. Por isso, quando os leitores tiverem em mãos esta revista, já novos dados estarão lançados, o que não invalida que nos debrucemos sobre os vinte dias de suspense e tempo perdido. Os pedidos de demissão dos ministros Vítor Gaspar e Paulo Portas precipitaram uma crise no seio da coligação PSD/ CDS, que foi amplificada pela inesperada decisão de Cavaco Silva de procurar um “compromisso de salvação nacional”, que envolveria o PS e os partidos da maioria. A atitude tomada pelos dois ministros de Estado, um dos quais líder do partido mais pequeno da coligação, foi reveladora da débil liderança do primeiro-ministro e das muitas fragilidades do executivo, mas também foi o reconhecimento do falhanço do Governo em cumprir as metas a que se propôs, pese embora as sucessivas medidas de austeridade que foram asfixiando os portugueses. Vítor Gaspar reconheceu que não conseguiu atingir os objectivos negociados com a troika e que foi surpreendido pelos efeitos negativos das políticas seguidas pelo executivo. Além disso, deixou claro que a liderança de Passos Coelho não era capaz de lhe proporcionar o suporte político de que necessitava. Demissionário há oito meses, o que é verdadeiramente inacreditável, Gaspar quis fazer de Portugal um laboratório para a aplicação de medidas macroeconómicas, gozou com a cara dos portugueses, levou-os ao tapete e saiu de mansinho, pouco se importando com os efeitos que a sua demissão provocaria. Já Paulo Portas veio confirmar a conturbada coabitação entre os dois partidos do Governo, que se podia adivinhar pelas declarações públicas de ambos os contendores. Portas foi dando sinais de um oportuno distanciamento face a algumas medidas, deixando claro que não se revia nas políticas que aprofundavam a austeridade. Além disso, Passos Coelho nunca lhe mereceu uma especial consideração. Despeitado e sem pensar nas consequências nefastas do seu gesto para a economia, pediu a demissão escassas horas antes do Presidente da República dar posse à ministra que substituía Vítor Gaspar. Uma cena pouco digna para quem gosta de vincar a sua pose de Estado. Cavaco Silva resolveu então surpreender o país, ao reclamar um “compromisso de salvação nacional” entre os partidos que assinaram o memorando de entendimento. O

O SPECT é um estudo de medicina nuclear que “olha” diretamente para a corrente sanguínea cerebral e indiretamente para a atividade cerebral. E o autor também esclarece que os estudos de medicina nuclear medem o funcionamento fisiológico do corpo e podem ser usados para diagnosticar uma miríade de problemas médicos: doença coronária, certas formas de infeção, o alastrar do cancro, doenças ósseas e na tiroide. A viagem é fascinante: pelas funções do sistema límbico profundo e os problemas que ele suscita e como é que os problemas são tratáveis e quais as receitas: pensamentos rigorosos, boa gestão de recordações, criação de vínculos positivos; pelas funções do sistema dos gânglios basais, conhecer os seus problemas; as funções do córtex pré-frontal, os seus problemas e doenças associadas como é o caso do distúrbio do défice da tensão ou traumatismo craniano e quais as receitas mais adequadas; as funções do sistema cingulado, os problemas inerentes, caso das compras compulsivas e quais as receitas sugeridas; um olhar sobre a memória e temperamento, cabem aqui as funções dos lobos temporais, os respetivos problemas e quais as receitas; o que se entende por poluição cerebral (caso das drogas e do álcool em excesso), as manifestações de violência que se lhe associam; enuncia os padrões cerebrais que interferem com a intimidade, para alertar para a necessidade de conhecer as características relacionais de córtex pré-frontal e as características relacionais dos lobos temporais. O autor suporta as suas expo-

Presidente da República, porém, despertou tarde para a necessidade de um acordo alargado entre as forças políticas do arco do poder. Devia ter confrontado os partidos com essa necessidade em 2011, logo após as eleições legislativas. Não o fez, mostrou-se depois sempre alinhado com as políticas e a acção do Governo e contribuiu, desse modo, para que se cavasse um distanciamento irremediável entre a maioria e o PS. As negociações entre os três partidos não podiam ter conhecido um desfecho diferente, de tal modo eram divergentes as bases de partida. António José Seguro não poderia validar medidas que fossem em sentido contrário ao que tantas vezes apregoara. Como seria possível, por exemplo, concordar com os cortes de 4,7 mil milhões na despesa do Estado, agravando por essa via a contracção do PIB e a destruição de emprego? Em sentido contrário, Seguro veio sublinhar que o PS foi o único partido a propor nas conversações uma regra para limitar a despesa corrente primária, apresentando medidas concretas para a consolidação orçamental que permitiriam abrandar a austeridade e colocar a economia a crescer. A promessa de eleições antecipadas em 2014, que Cavaco avançou, não era razão suficiente para o PS alinhar numa estratégia suicida. Como salientou Pedro Silva Pereira, se o PS deixasse de ser uma alternativa na oposição como poderia querer afirmar-se como alternativa nas próximas legislativas? Perante o colapso das negociações, Cavaco Silva veio revelar – hélas! – que tudo ficará como dantes, prometendo manter a legislatura até 2015. Contudo, independentemente de algumas afinações, de políticas e de protagonistas, que venham a ocorrer no executivo, a verdade é que esta maioria ficou diminuída na sua credibilidade aos olhos dos portugueses. Aliás, este Governo apenas se mantém porque não vingou a solução de consenso alargado preconizada pelo Presidente da República. Os motivos que levaram à demissão dos dois ministros de Estado não desapareceram, as fragilidades da liderança de Passos Coelho estão bem presentes, as desconfianças do Presidente da República persistem e as políticas não vão mudar no essencial, pois isso só seria possível com uma negociação em bases diferentes com a troika e o executivo já mostrou que não quer ir por aí. A bonança não está, pois, para chegar.

sições na apresentação de inúmeros casos de doentes que lhe batem à porta, recorda amiudadas vezes quando é que é a altura de consultar um profissional quando surgem os problemas e quais as condições em que se devem fazer estudos SPECT, em que as razões mais comuns: avaliar a atividade das crises; avaliar doenças vasculares cerebrais; avaliar a demência; avaliar o efeito de todos os tipos de traumatismos; no caso da suspeita de afeções cerebrais orgânicas; para avaliar o comportamento agressivo, e para determinar a extensão da incapacidade cerebral causada por consumo de drogas ou álcool. E por último apresenta um resumo de ideias para otimizar a função cerebral e quebrar maus hábitos cerebrais. Seguramente que este livro deixará muitos autores séticos ou perplexos, invoca as mais recentes descobertas na área da imagiologia, o leitor irá vacilar acerca dos exercícios cognitivos e alterações nutritivas que são propostas para recondicionar a função cerebral e curar cada um dos problemas descritos. Pode até muito bem acontecer que este método revolucionário para ultrapassar a depressão, a ansiedade e o comportamento compulsivo venha a ser superado por outros estudos ou ratificado pela comunidade científica. O melhor é ler esta obra com um espírito de grande abertura e conversar com os profissionais de saúde. Não se esqueça que neste domínio das coisas cerebrais o autodiagnóstico não existe.

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artes

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

O olhar de...

eduardo pinto

1933-2009

Publicação da IV Série

YURI KOSOBUKIN

SENSIBILIDADES 2013

(1950-2013)

Mestre ucraniano do Cartoon, vencedor de mais de 300 prémios internacionais.

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Caminhada solitária Amarante

Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

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artes | crónica

GISELA JOÃO a miúda de Barcelos que encanta a Lisboa fadista

Diz-se, por vezes, que o Fado é só de Lisboa e que quem melhor o sente e canta são as gentes da capital. No entanto, Amália foi criada no Fundão; Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Tony de Matos e José Fontes Rocha, por exemplo, nasceram no Porto; Lucília do Carmo é de Portalegre; e, neste caso, Gisela João nasceu em Barcelos, conquistou a “Cidade Invicta” e tal como algumas das suas principais referências, desceu até à “Mouraria” para conquistar o mundo... Hoje, é considerada por muitos os entendidos como uma das mais interessantes vozes dos últimos anos a surgir no panorama musical do Fado. Minhota e nortenha de corpo e alma, traz o canto como uma condição de vida, uma forma de fazer transparecer o peso das palavras, prendendo-nos do princípio ao fim, tanto nos fados tradicionais, como nas músicas mais alegres da história das suas gentes que tanto defende e respeita. E não se imagina que aquela mulher de ar gaiato, franzina, tem toda aquela voz, de uma rouquidão bem timbrada e com um espírito único que nos transporta para uma portugalidade genuína e autêntica. Desde muito cedo a ouvir rádio, o Fado e a Gisela apaixonaram-se mutuamente de tal forma que nunca deixou de cantar. Primeiro para a família e os vizinhos, depois para os colegas de escola e em concursos de pequenos cantores. Aos dezanove anos muCapa do disco de estreia da fadista nortenha, editado este mês dou-se para o Porto, para estudar Design de Moda e, como seria de esperar, procurou um lugar no fervilhante, se bem que por vezes desconhecido e “underground”, circuito portuense das casas de Fados – mais rude, castiço e até genuíno do que o de algumas das congéneres alfacinhas. Há três anos, deixou-se levar pelo destino e rumou definitivamente a Sul para arriscar uma carreira dedicada exclusivamente à música e, neste caso, ao Fado. Foi convidada para integrar o elenco da mais prestigiada casa de Fados de Lisboa: o Sr. Vinho, de Maria da Fé e José Luís Gordo. Começou a frequentar alguns locais de culto da Cidade e facilmente conquistou um público que agora, ávido, pergunta: “A miúda do Norte anda por aí...?”. [Fonte: Nota de imprensa da HM Música s/ o lançamento do álbum]

António Mota

IRINA e JÚLIO Eu bem lhe digo: mãe, não vás, já chega, já estou cansado, já não aguento mais, por favor, dona Irina. Mas ela faz de conta que não me ouve e insiste, insiste. A minha mãe é tão teimosa. Eu já não aguento os olhares dos empregados quando a veem entrar. Eles sorriem, mas eu bem sei que estão a pensar: olha, já cá faltava a melga das tardes de domingo. Desde o primeiro domingo de maio até hoje, terceiro domingo de julho, a história repete-se sempre antes de irmos fazer as compras da semana. Só depois é que eu guio o carro do supermercado imaginando que estou a conduzir um carro de verdade numa estrada quase intransitável, a minha mãe consulta o caderninho das faltas e vai picando nas teclas do telemóvel os preços do que compra. E a calculadora vai-nos avisando que o dinheiro que temos não dá para comprar tudo o que está escrito no caderno. Antes não era assim. Mas depois do meu pai ter saído de casa, tudo mudou. Antes, todos os anos íamos de férias para longe de casa. O meu pai tirava muitas fotografias que agora estão guardadas em doze álbuns numerados. O meu pai sempre foi muito metódico. Ai, é tão bom espairecer, é tão bom ter quem nos faça a comida e quem nos sirva coisas fresquinhas, é tão bom conhecer gente, é tão bom conhecer mundo, dizia a minha mãe. Eu gostava de a ver assim, tão terna, tão feliz, a dar beijinhos ao meu pai, e dizia: dois pombinhos de mãos dadas. Eles riam, eu dava gargalhadas, e era tudo tão bom. Depois do meu pai ter ido viver com a Ana, que até é minha amiga, a minha mãe passa os dias a somar e a subtrair na calculadora do telemóvel, muitas vezes sem saldo, dá grandes suspiros, irrita-se, e grita que assim não se pode viver. Às vezes fica deprimida e diz que se não fosse eu, emigrava para o Brasil porque conhece dois primos que vivem em S. Paulo. Eu não gosto nada que ela diga que eu sou um estorvo, mas não lhe digo nada, porque sei que ela diz aquelas palavras, mas não as sente. Às vezes ponho-mo a imaginar o que é que acontecia se eu fugisse de casa e fosse aventurar-me por esse mundo fora. Com algum dinheiro, ou com um cartão de crédito no bolso, e um telemóvel com gps, devia ser muito fixe, não concordas comigo? Agora que não temos dinheiro para nada, a minha mãe deu-lhe para abrir os álbuns das fotografias. E quer que esteja junto dela a ouvir suspiros e comentários: Ai esta, que gira! Lembras-te? Foi na praia da Falésia! Que saudades. Esta foi tirada em Monte Gordo, ou na Manta Rota, já não me lembro. Olha o Porto Santo, tão bom! Esta foi no Porto de Galinhas, no Brasil, tão bom, tão bom! Quando já não havia mais álbuns para revisitar, dona Irina, cada vez com mais olheiras, começou a frequentar as agências de viagem do centro comercial nas tardes de domingo. Entra, pega numa brochura, senta-se e vai desfolhando e perguntando, muito interessada, como se fosse a sério. Já sabe tudo sobre Itália al dente completa, maravilhas da Eslovénia, Paris sonhada, Belezas da Europa Central e Países Bálticos, Cruzeiro aos fiordes da Noruega. Pede sugestões, pede orçamentos e guarda-os numa pasta com delicadeza, sorri, diz que vai pensar, e despede-se, muito amável. E o tempo passa devagar. Concluindo: as nossas férias estão guardadas em pastas. São mesmo umas férias de sonho.

anttoniomotta@gmail.com repórterdomarão | julho'13 23


UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO www.utad.pt

Oferta Educativa 2013/2014 Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias 1º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Licenciado) Arquitetura Paisagista Engenharia Agronómica Engenharia Florestal Engenharia Zootécnica Enologia Medicina Veterinária (Mestrado Integrado)

2º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Mestre) Arquitetura Paisagista Engenharia Agronómica Engenharia Florestal Engenharia Zootécnica Medicina Veterinária (4º ano) Segurança Alimentar Sistemas de Informação Geográfica

3º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Doutor)

Ciências da Educação - Especialização em Comunicação e Tecnologia Educativas Ciências da Educação - Especialização em Educação de Adultos Ciências da Educação - Especialização em Educação Especial: Domínio Cognitivo e Motor Ciências Económicas e Empresariais Empreendedorismo Ensino de Biologia e de Geologia no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário Ensino de Educação Pré-Escolar Ensino de Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico Ensino de Física e de Química no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário Ensino de Inglês e de Alemão no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário Ensino de Matemática no 3º Ciclo do Ensino Básico e Secundário Ensino de Português no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário e de Espanhol nos Ensinos Básico e Secundário

Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico Ensino do 1º e do 2º Ciclos do Ensino Básico Ensino de Informática Ensino de Teatro Gestão – Gestão Agrária e Agroalimentar Gestão – Gestão Empresarial Gestão – Gestão Pública Gestão dos Serviços de Saúde Línguas Estrangeiras Aplicadas - Variante Comércio e Relações Internacionais Psicologia Clínica Psicologia da Educação Serviço Social – Gestão das Organizações

2º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Mestre) Comunicação e Multimédia Engenharia Civil Engenharia de Energias Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas Engenharia Eletrotécnica e de Computadores Engenharia Informática Engenharia Mecânica Estatística Aplicada Tecnologias da Informação e Comunicação

3º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Doutor) Ciências Físicas Didática de Ciência e Tecnologia Engenharia Eletrotécnica e de Computadores Informática

2º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Mestre) Arqueologia Pré-histórica e Arte Rupestre Biologia Biologia Clínica Laboratorial Bioquímica Biotecnologia e Qualidade Alimentar Ciências do Desporto - Especialização em Atividades de Academia Ciências do Desporto - Especialização em Avaliação e Prescrição na Atividade Física Ciências do Desporto - Especialização em Jogos Desportivos Coletivos Educação Física e Desporto - Especialização em Desenvolvimento da Criança Engenharia do Ambiente

Enologia Genética Molecular Comparativa e Tecnológica Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso Gestão dos Recursos Naturais

Ciência Animal Ciências Agronómicas e Florestais Ciências Veterinárias

Escola de Ciências Humanas e Sociais 1º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Licenciado) Animação Sociocultural (a funcionar em Chaves) Ciências da Comunicação Economia Educação Básica Gestão Línguas e Relações Empresariais Línguas, Literaturas e Culturas Psicologia Serviço Social Teatro e Artes Performativas Turismo (a funcionar em Chaves) 2º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Mestre) Ciências da Comunicação – variante em Jornalismo Ciências da Comunicação – variante em Relações Públicas e Publicidade Ciências da Cultura – Especialização em Cultura e Comunicação. Ciências da Educação - Especialização em Administração Educacional Ciências da Educação - Especialização em Animação Sociocultural

3º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Doutor) Ciências da Cultura Ciências da Educação Ciências da Linguagem Estudos Literários

Escola de Ciências e Tecnologia 1º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Licenciado) Comunicação e Multimédia Engenharia Biomédica Engenharia Civil Engenharia de Energias Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas Engenharia Eletrotécnica e de Computadores Engenharia Informática Engenharia Mecânica Matemática Tecnologias de Informação e Comunicação

Escola de Ciências da Vida e do Ambiente 1º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Licenciado) Bioengenharia Biologia Biologia e Geologia Bioquímica Ciência Alimentar Ciências do Desporto Ecologia Aplicada Educação Física e Desporto Escolar Engenharia do Ambiente Genética e Biotecnologia Química Medicinal Reabilitação Psicomotora

Escola Superior de Enfermagem 1º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Licenciado)

Enfermagem

No ano letivo 2013/2014 alguns cursos poderão não abrir vagas.

2º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Mestre) Enfermagem Enfermagem Comunitária Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia Desenvolvimento Humano e Saúde

3º Ciclo de Estudos (conducente ao grau de Doutor) Ciências da Terra e da Vida Ciências do Desporto Ciências Químicas e Biológicas Genética Molecular Comparativa Geologia Quaternário, Materiais e Culturas


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