Revista Repórter do Marão - RM 1278 - AGOSTO 2013

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repórterdomarão + n o rt e AGOSTO ’ 13

Prémio GAZETA

Nº 1278 | agosto ' 13 | Ano 30 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Sede: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 15 a 25.000 ex. | OFERECEMOS LEITURA

CONFRARIA DO MEL QUER RÓTULOS COM INDICAÇÃO DE ORIGEM Hipermercados criticados por ignorarem produto nacional e venderem mel importado da China, Argentina e México "como se fosse português". Mas a culpa também é da legislação, que não obriga a indicar a origem do produto, acusa o Grão-Mestre da Confraria do Mel, Francisco Rogão. Fundada há um ano em Trás-os-Montes, já reuniu um grupo de quatro dezenas de confrades.

Agrival: a longevidade de uma feira que resiste

Autárquicas: eleitores cansados dos partidos?


sustentabilidade

O senhor ENTREVISTA

Francisco Rogão Grão-Mestre da Confraria do Mel

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par o t e j o r

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Roteiro do Mel com 20 a 30 restaurantes A Confraria tem nos planos criar um “Roteiro do Mel”, pelos restaurantes portugueses. “Já temos 5 restaurantes que aderiram ao Roteiro. A ideia é que cada um deles tenha no cardápio um prato com mel”. O Roteiro do Mel deverá ser lançado no início do próximo ano e deverá contar com 20 a 30 restaurantes.

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das abelhas É pelo mel que os dias correm. E foi pelo mel e pela paixão pelas abelhas que Francisco Rogão (nas fotos, que registam alguns atos da associação), começou nas lides da apicultura. Ele que 23 anos depois de ter comprado quatro colmeias, se viria a tornar o Grão-Mestre da Confraria do Mel. Já lá vai um ano desde a sua fundação – em Macedo de Cavaleiros – e para Francisco o balanço é muito positivo. Já lá vamos. Para já, comecemos pelo dia em que Francisco decidiu comprar quatro colmeias a um amigo. “Aí tudo mudou”, conta. “Isto das abelhas começou como um passatempo, um hobby, mas rapidamente se tornou mais sério”.

Francisco Rogão é natural de Macedo de Cavaleiros, terra com tradição na apicultura. “Sabe, as abelhas são viciantes. É como ter cão ou gato. A gente afeiçoa-se...”, conta entre sorrisos. “E depois, quantas mais abelhas temos, mais queremos ter...”. Francisco levou tão a sério a vontade e a paixão pelas abelhas, que hoje tem 600 colmeias e é o principal impulsionador da apicultura em Trás-os-Montes. Todos os dias, a profissão que escolheu ter custa-lhe horas e horas de trabalho. “Tantas que nem sei quantas por dia... a gente esquece-se do tempo. Vai para o campo ou para o monte logo de manhã cedo e só sai de lá às duas ou três da tarde. Nem vemos as horas passar”. O trabalho na apicultura é sazonal, não tem sábados nem domingos. E foi entre afazeres próprios da apicultura e encontros de amigos que percebeu que podia fazer ainda mais pelo mundo que lhe está nos gostos: podia ajudar a divulgar o mel e os produtos do mel. Assim nasceu a primeira Confraria do Mel em agosto do ano passado. “Tem sido muito bom. Temos ido a feiras, concursos, encontros, enfim, temos arranjado várias formas de divulgar a apicultura, o mel e os produtos que dele derivam”. A Confraria do Mel tem 37 confrades e quatro confradinhos – crianças e jovens dos 6 aos 16 anos, filhos ou netos de confrades. “Somos de nove distritos de Portugal e ainda um de Madrid”, conta. “O único pré-requisito para pertencer à Confraria, é gostar do mel e dos produtos da colmeia”, assegura o Grão-Mestre, Francisco Rogão. E.F. Imagens Facebook da Confraria do Mel

+ Banco de imagens

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sustentabilidade

Consumidor compra mel barato da China ou do México a pensar que é português... No negócio do mel nem tudo corre bem. Francisco Rogão aponta o dedo às redes de hipermercados e à legislação. “Os hipermercados vendem o mel que vem da China, Argentina, México...porque é mais barato. O problema é que o consumidor pensa que é mel português, porque no rótulo vem uma anotação muito ampla, onde cabe o planeta todo, os produtos tanto podem vir da comunidade europeia como de fora dela”. Para o Grão-Mestre deveria haver uma legislação que obrigasse a escrever a origem do mel – de forma bem visível – no rótulo da embalagem. “Depois quem queria comprar mel português comprava, quem queria comprar mel da China ou de outro sítio, comprava também, mas sabia o que estava a adquirir”.

Enquanto houver abelhas, há vida... Grande parte do mel continua a ser vendido a granel e a ser exportado. “O mel português continua a ser mais vendido para fora. E, veja-se, importamos mel a outros países...”. A certificação do mel até podia ajudar a uma maior consciencialização, mas para Francisco Rogão o problema resolvia-se com legislação e mudança de mentalidades. “Até há mel português certificado, mas os hipermercados estão-se marimbando para isso...”, lamenta. Para o Grão Mestre da primeira Confraria do Mel, as abelhas, o mel e os produtos da colmeia estão em primeiro lugar. Até porque ele sabe que enquanto houver abelhas, há vida.

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Mel para tudo Portugueses consomem sete vezes menos que alemães Trás-os-Montes já produz 800 toneladas

Desde cremes para a cara, cremes para as mãos, produtos para os cabelos, batons e tudo onde a imaginação da cosmética conseguir chegar, o mel está presente. Também na saúde, os produtos da colmeia, tais como mel, própolis, pólen e geleia real, prometem dias mais doces a quem os consumir. O uso do mel é cada vez mais abrangente, mas é na cozinha e na doçaria tradicional que continua a ter mais fama. O mel está na moda, mas em Portugal é uma moda que vai entrando devagar. “Os portugueses ainda não sabem dar grande importância ao mel. Veja-se que os alemães consomem quatro quilos de mel por ano, per capita, e os portugueses cerca de 600 gramas”, conta Francisco Rogão. Ainda que lentamente, comecem a despontar melhores dias: “Há cerca de quatro ou cinco anos era ainda pior. Consumíamos menos...cerca de 400 gramas per capita”. Em Portugal existem cada vez mais apicultores amadores. “Gente com quatro ou cinco colmeias”, afirma Francisco. “Sabe, como não há emprego, há muitos jovens que começam a ver a apicultura como uma solução”. Para o Grão-Mestre da Confraria do Mel, a apicultura levada a sério, pode e deve ser uma alternativa profissional, uma ajuda para uma região e um país em crise. Em Portugal existem cerca de 18 mil produtores, qualquer coisa como 560 mil colmeias. Em Trás-os-Montes, os produtores deverão ser perto de 800, sendo que 300 estão localizados nos concelhos da Terra Quente (Macedo de Cavaleiros, Alfandega da Fé, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Mirandela). Por ano, em todo o país, são produzidas 11 mil toneladas de mel, 800 toneladas só em Trás-os-Montes. E.F.

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O segredo da longevidade A Feira Agrícola do Vale do Sousa (AGRIVAL), que Penafiel organiza ininterruptamente há 34 anos, continua a ser o maior evento regional, um dos maiores do norte do país e rivaliza já em importância com certames nacionais realizados noutras regiões, nomeadamente as feiras de Braga (AGRO) e de Santarém (Feira Nacional da Agricultura, um certame que já atingiu meia centena de edições). Em termos de público, e em pouco mais de três décadas, o evento de Penafiel, que tem uma média de visitantes entre 110 e 120 mil, segundo a organização, aproximase rapidamente da feira de Santarém (160 mil pessoas em média) e supera mesmo a de Braga – a edição deste ano teve 87 mil visitantes. A notoriedade da feira, a excelência das suas instalações – um recinto inaugurado em 2001 – a fidelidade da maioria dos expositores e o popular cartaz lúdico [a edição deste ano junta Tony e Mickael Carreira, The Gift, Expensive Soul e Emanuel] que só por si atrai milhares e milhares de visitantes, explicam a longevidade de uma feira anual que congrega os interesses de um espaço regional e é o orgulho de Penafiel. Ao contrário de pequenos certames setoriais, nos vários concelhos do Tâmega e Sousa, que foram ficando pelo caminho, a AGRIVAL apostou na congregação dos variadíssimos subsetores da agricultura mas não se ficou por aí: procurou interessar produtores de toda a região, elevando a qualidade das suas produções, nomeadamente através do incentivo dos concursos. Três décadas depois, a AGRIVAL organiza concursos do melhor produto em diversos segmentos, iniciativa que atrai novos operadores ao certame e faz as delícias dos visitantes e que sobretudo ajudam a dar continuidade a um programa de 10 dias. São exemplo os concursos de Broa de Milho e de Pão-de-ló (26 agosto, das 16 ás 18 horas), Cebolas (24 de agosto, 10 horas) e Melão Casca de Carvalho (28 de agosto, 16 horas). "Com a colaboração de técnicos da Direção

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Regional de Agricultura, pretende-se encontrar o melhor entre o melhor de produtos tão típicos, de uma região riquíssima em gastronomia e produtos agrícolas", salienta a organização da feira. Aliás, o concurso Melão Casca de Carvalho, além de ser único nesta região, deu origem a uma confraria, que começa também ela a ter dimensão nacional. No programa deste ano, surge também o lançamento de uma nova confraria (dia 18, às 10 horas, na Igreja da Misericórdia), com o 1º Capítulo da Confraria do Presunto e Cebola do Vale do Sousa. A promoção do vinho verde será feita, este ano, em moldes diferentes, não se realizando o habitual encontro/convívio de produtores e engarrafadores. Segundo a organização, as provas de vinho verde terão lugar em vários locais do recinto da feira. Destaque ainda para a gastronomia, que junta num único espaço, pratos típicos de Trás-os-Montes ao Algarve.

Recinto próprio e sustentabilidade financeira A decisiva contribuição para a profissionalização da feira foi dada, desde 2001, pela abertura do novo recinto. As

condições de realização do certame são infinitamente melhores do que as que proporcionava um espaço exíguo e inadaptável às exigências da mostra como aquele onde a feira decorreu durante mais de 20 anos – os pavilhões e salas de aula da Escola Secundária. As espaçosas naves do novo parque, o auditório e os recintos exteriores foram desenhados para satisfazer as exigências de um certame que há muito queria profissionalizar-se. Por outro lado, e não menos importante, como destaca [no texto ao lado] o vereador da Câmara Municipal de Penafiel responsável pela Agrival, Adolfo Amílcar, é a sustentabilidade económico-financeira da feira, permitindo que as receitas geradas cubram a totalidade das despesas da sua realização. Isso foi possível desde 2005, tirando partido das condições de realização da feira, muito diferentes das que existiam até 2001, com elevadas despesas anuais de montagem e desmontagem de um certame desta dimensão. Apesar das condições adversas existentes nas primeiras 21 edições (vão 13 no novo recinto) realizadas na escola secundária, foi decisivo o empenho dos responsáveis políticos locais, antigos e atuais, que sempre viram o potencial da feira agrícola como uma alavanca para colocar Penafiel no centro do dinamismo económico da sub-região do Vale do Sousa, visto à época como uma alternativa às indústrias do mobiliário ou do calçado dos concelhos vizinhos de Paredes, Paços de Ferreira e Felgueiras. J.S.


de uma feira agrícola

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perguntas ao Vereador

Adolfo Amílcar

1. A que fatores se deve a longevidade da Agrival, a caminho de quatro décadas ininterruptas? O percurso e o sucesso deste certame deve-se essencialmente às suas gentes, aos seus visitantes. Este é um certame com uma grande oferta empresarial, cultural e gastronómica que tem tido uma evolução notável, em especial na última década, fruto precisamente da conjugação destes fatores.

2. Entre as 120 mil entradas, consegue quantificar os visitantes profissionais daqueles que apenas são atraídos pelo cartaz lúdico? Este certame caracteriza-se por uma diversidade de oferta que abrange todas as idades e gostos. São 10 dias, onde toda a região do Vale do Sousa está em destaque, num único espaço, desde a produção agrícola à gastronomia, maquinarias, gado, artesanato, moda, serviços, novas tecnologias, sem esquecer os espaços de cultura e entretenimento.

Para nós organização, é difícil distinguir o principal motivo de atração, acreditamos que a fórmula de sucesso é precisamente a diversidade na oferta quer dos expositores quer do cartaz cultural e de animação, mas há um elemento que identificamos como uma mais valia em termos de visitantes que é a implementação da Mostra Nacional de Gastronomia, que vai já na 12ª. edição.

3. A 10 anos, o atual modelo Agrival continua a ser sustentável ou necessitará de alterações? A autossustentabilidade da feira, sem desvirtuar a sua matriz agrícola nem o cartaz cultural, tem sido a grande prioridade e parece-me que deverá ser o mote para os próximos anos, sem no entanto deixarmos de estar atentos às mudanças próprias dos tempos que vivemos. É de salientar que a Agrival é uma feira autossustentável em termos financeiros, desde 2005, o que nos deixa extremamente satisfeitos e orgulhosos.

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cidadania

O elevado número de candidatos

Os eleitores já não São mais de 80 os candidatos independentes às câmaras municipais, o maior número que até hoje concorreu a eleições locais. Avançam sem apoio de partidos às eleições autárquicas de 29 de setembro, um número que é quase o dobro de há quatro anos, quando sete independentes conquistaram a presidência de municípios. O portal de candidatos autárquicos regista 84 candidaturas independentes. Na sua maioria, são autarcas desavindos com os partidos por que foram eleitos anteriormente. Para o politólogo José Adelino Maltez não é sinal de "uma revolta cívica" o facto de quase ter duplicado o número de candidatos independentes às eleições autárquicas deste ano. Maltez sublinha que a maioria dos candidatos "são falsos independentes" e argumenta que as autárquicas "não espelham o que se passa a nível nacional". Segundo o professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, estes falsos independentes "têm máquinas partidárias por trás". José Adelino Maltez, que dá como exemplo Matosinhos e Sintra, explica. «São candidatos partidários ou ex-candidatos partidários que não foram aprovados pe-

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las direções locais ou nacionais dos respetivos partidos. Ainda não há, pelo menos a nível de câmaras municipais, uma vaga de independentes». Por seu lado, o vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade, Paulo Morais, concorda que o aumento de candidaturas independentes "refresca a Democracia". Para este professor universitário e arauto da luta contra a corrupção, "não é pelo facto de existirem mais candidatos independentes que existe o risco de aumentar o caciquismo", embora admita que as pequenas localidades "estão mais suscetíveis".

A história repete-se em Matosinhos Em Matosinhos, a história de há quatro anos repete-se: Narciso Miranda, ex-presidente da câmara eleito pelo PS, avançou em 2009 como independente contra a candidatura socialista de Guilherme Pinto. O atual autarca desvinculou-se do partido e concorre contra quem o elegeu há quatro anos. Ou seja, nas eleições autárquicas de 29 de setembro, o PS optou por candidatar o líder da concelhia, António Parada, e o atual presidente montou uma candidatura independente. No Porto, também o socialista Nuno Cardoso, que liderou o município entre 1999 e 2002, se apresentará aos eleitores portuenses no final do próximo mês, depois de ter recusado o convite do PS para ser o candidato do partido à Câmara da Maia. Assinale-se que o PS candidata na segunda maior cidade do país o médico, deputado e antigo secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro. Na mesma cidade, uma candidatura independente tem motivado agitação nas hostes partidárias: o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira, recebeu o apoio do CDS-PP, que quebrou a coligação com o PSD que elegeu Rui Rio durante três mandatos. Os sociais-democratas avançaram com Luís Filipe Menezes, antigo autarca de Vila Nova de Gaia, cuja candidatura – como a de todos os presidentes de câmara que já cumpriram três ou mais mandatos consecutivos – fica dependente da interpretação da lei de limitação de mandatos que vier a ser feita pelo Tribunal Constitucional (TC), independentemente das validações ou decisões de inelegibilidade tomadas até agora pelos tribunais de comarca, a primeira instância a que são apresentados as listas de candidatos.


independentes às autárquicas

confiam nos partidos? Há quase duas dezenas de casos polémicos em todo o país. A decidão do TC fará jurisprudência e será válida para todos os casos de presidentes de câmara e eventualmente de juntas de freguesia que cumpriram 12 ou mais anos num concelho e agora se apresentam de novo a eleições mas por município diferente. A decisão do TC deverá ser conhecida entre o final de agosto e a primeira semana de setembro, segundo as últimas previsões, mas não deixa de ser caricato que a um mês do escrutínio muitos dos candidatos – apesar de alguns deles estarem em plena campanha eleitoral há vários meses – ainda não tenham garantido, do ponto de vista legal, que podem ir a votos.

Cisão também a sul Em Sintra há outro caso de cisão: o atual vice-presidente da autarquia, Marco Almeida, decidiu candidatar-se sozinho, depois de o PSD ter optado por Pedro Pinto para suceder a Fernando Seara, que quer apresentar-se a Lisboa (é mais um caso que depende da decisão do TC). Marco Almeida tem como candidato à presidência da Assembleia Municipal de Sintra o também social-democrata António Capucho, ex-autarca de Cascais e muito crítico da liderança de Pedro Passos Coelho. Em Aveiro, o presidente cessante, Élio Maia, também vai avançar sozinho, depois de o PSD ter escolhido Ribau Esteves, que cumpriu o terceiro mandato à frente da Câmara de Ílhavo. Sete candidatos independentes conquistaram a presidência em 2009 – foram os casos de Oeiras, Alandroal, Amares, Estremoz, Redondo, Gondomar e Sines. Em Oeiras, o presidente Isaltino Morais foi elei-

to pelo movimento "Isaltino Oeiras Mais à Frente". O autarca foi detido em abril e o tribunal não o deixa candidatar-se sequer à Assembleia Municipal, mas o seu vice-presidente da Câmara, Paulo Vistas, candidata-se às eleições através do mesmo movimento. Em termos nacionais, Santarém é o distrito com mais candidaturas independentes (11 -- Almeirim (duas), Golegã, Alcanena, Sardoal, Santarém, Cartaxo, Tomar, Rio Maior, Ourém e Alpiarça). Segue-se o Porto, com nove candidatos: dois no Porto, em Vila Nova de Gaia e Marco de Canaveses e, ainda, Matosinhos, Amarante e Gondomar. No distrito de Lisboa, há sete candidaturas sem apoio dos partidos: duas em Cascais e em Sintra, e uma em Oeiras, em Torres Vedras e em Lisboa. O distrito de Braga também tem sete candidatos independentes: Vieira do Minho, Fafe, Terras de Bouro, Braga, Cabeceiras de Basto, Barcelos e Amares. Em Évora também há sete candidatos independentes – dois no Alandroal e em Vila Viçosa e um nos concelhos de Borba, do Redondo e de Estremoz. Faro tem seis candidatos independentes, no total, nos concelhos de Faro, Alcoutim, Lagos, Monchique, Loulé e Albufeira. Aveiro tem cinco candidatos independentes, em São João da Madeira, Anadia, Aveiro, Santa Maria da Feira e Estarreja. Também com cinco independentes surge o distrito de Leiria, com duas candidaturas na Marinha Grande e na Nazaré e uma nas Caldas da Rainha.

Na Madeira, há quatro candidaturas independentes anunciadas: Ponta do Sol, São Vicente, Santa Cruz e Porto Santo. Em Setúbal, surgem duas candidaturas independentes em Grândola e uma em Sines e em Sesimbra. Em Castelo Branco há independentes em Oleiros, Idanha-a-Nova, Belmonte e Covilhã. No distrito de Viana do Castelo avançam sozinhos candidatos em Ponte de Lima, Vila Nova de Cerveira e Ponte da Barca. Em Vila Real há dois candidatos independentes, em Chaves e Alijó, enquanto na Guarda há outros dois. Em Coimbra, há igualmente dois candidatos sem apoio partidário, em Mira e em Coimbra. Também em Beja há dois candidatos, nos concelhos de Almodôvar e Beja. Em Portalegre há um candidato independente à presidência do município, tal como em Bragança. Finalmente, no distrito de Viseu, que era o único que não tinha candidaturas anunciadas, surgiu uma lista independente no concelho de S. João da Pesqueira.

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economia regional

Turismo fluvial no Douro número de passageiros ... mas operadores locais queixam-se de que nada fica na região

O número de passageiros que utilizou a via navegável do Douro nos primeiros sete meses deste ano mantém os níveis de 2012, um pouco menos de 36 mil de média mensal, anunciou a Delegação do Norte e Douro do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM). Admite-se que a penetração de turistas no Douro vinhateiro seja feita maioritariamente pela via navegável, mas os números que amiúde são divulgados estão empolados ou pelo menos mal explicados. As próprias estatísticas do IPTM indicam que os cruzeiros em barco-hotel e os cruzeiros de um dia , aqueles que fazem habitualmente um percurso pelo rio entre o Porto/Gaia e o Alto Douro (subida ou descida, sendo o outro percurso feito geralmente de autocarro ou comboio), tiveram 28 mil e 136 mil passageiros em 2012, respetivamente, cerca de um terço do total. Este número (164 mil passageiros), muito inferior ao propalado por alguns organismos ligadas ao setor, é aquele que espelha com rigor os turistas que "penetram" do Douro vinhateiro. O resto são pequenos passeios no rio... Segundo aquele instituto, foram registados 450 mil passageiros no ano passado a utilizar o Douro, mas cerca de 60 por cento só o fizeram numa albu10

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feira, ou seja, não utilizaram nenhuma das cinco eclusas do curso do rio, entre a foz (Porto/Gaia) e Barca de Alva, termo da via navegável – Crestuma, Carrapatelo, Régua, Valeira e Pocinho. Por conseguinte, analizando as estatísticas do IPTM, percebe-se que a maioria dos turistas que passeiam de barco no rio Douro o fazem no circuito das pontes, entre o Porto e Gaia ou até à barragem de Crestuma. O mesmo tipo de percurso, de curta duração, é feito entre a Régua e o Pinhão, neste caso com a passagem de uma das eclusas (Bagaúste/Régua). Por outro lado, tomando por válidos os números de passageiros avançados pelo IPTM, regista-se também uma discrepância enorme se os compararmos com os que são avançados pelo maior operador da navegação fluvial, agora concentrado exclusivamente na venda de cruzeiros em barco-hotel. Um documento relativo à atividade da Douro Azul em 2012, a que tivemos acesso, revela que o número de passageiros transportados naquele ano tanto em barco-hotel como em cruzeiros de um dia fica muito aquém dos valores revelados pelo IPTM. Para ser ter uma ideia, a empresa informa ter transportado cerca de 14 mil passageiros em barco-hotel (tinham sido pouco mais de


mantém

12 mil em 2011) mas o IPTM contabilizou em 2012 mais de 28 mil relativo aos dois operadores em barco-hotel. Estes números causam alguma estranheza ao constatar-se que a Douro Azul é o maior operador neste tipo de navegação (com oito barcos-hotel atualmente, foram cinco/seis em 2012). O outro operador licenciado em barcos-hotel no Douro – desde 2002 – é a empresa francesa CroisiEurope (líder dos cruzeiros fluviais na Europa) e tem apenas três embarcações a navegar naquele rio – os barcos Vasco da Gama, Fernão Magalhães e Infante D. Henrique. A via navegável foi inaugurada em toda a sua extensão em 1990 e tem um percurso de 210 quilómetros, desde o Porto até Barca de Alva. Os dados mais recentes apresentados pela Delegação do Norte e Douro do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM), entre janeiro e o final de julho, indicam que utilizaram a via navegável 250 mil passageiros, acrescentando que verificou-se um aumento nos cruzeiros de um dia, comparativamente com o mesmo período do ano passado. No ano passado este segmento de viagens, que tem como principais clientes os portugueses, tinha registado um decréscimo. Tudo indica que este ano haverá um aumento de passagei-

ros em barcos-hotel, contributo de mais duas embarcações que começaram a operar no rio Douro. As pequenas viagens – os chamados cruzeiros na mesma albufeira (viagens com duração variável, de meia e uma hora, e que se concentram nas zonas Porto/Gaia, Entre-os-Rios, Régua, Pinhão, Foz do Sabor e Pocinho) – representam 60 por cento do total de passageiros e está por aferir a sua valia económica para a região, mas é seguramente neste segmento que os operadores locais deverão envolver-se, por ser o único que pode trazer mais-valias à região do Douro. O problema é que aqueles cruzeiros dos operadores sediados no Porto funcionam em "circuito fechado", não representando riqueza para a região. A maioria das refeições, além das dormidas, são feitas nos barcos, sendo mesmo escassas as ligações a quintas ou hotéis da região. As queixas vêm de operadores de hotelaria e restauração mas também das lojas de artesanato e outros produtos locais, que se queixam de nada vender aos turistas que atracam, por exemplo, no cais da Régua. "Os turistas chegam ao Douro mas pouco deixam cá", enfatizam. J.S.

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Dolmen promove gastro

Cruzeiro no Douro vai juntar a 29 de agosto

A Dolmen organiza a 29 de agosto um evento promocional da gastronomia e dos vinhos do território Douro Verde. Será realizado um pequeno cruzeiro no rio Douro, entre a albufeira do Carrapatelo e a Régua, que juntará operadores turísticos da região, autarcas dos cinco concelhos da área da Dolmen (Amarante, Baião, Marco de Canaveses, Cinfães e Resende e ainda jornalistas e críticos de gastronomia e vinhos de órgãos de comunicação nacionais e regionais. O objetivo, que faz parte do plano de promoção do corrente ano, é mostrar o valor deste território banhado pelos rios Douro e Tâmega e sobretudo demonstrar aos operadores regionais que não podem ficar a ver os barcos passar… O presidente da Dolmen, Telmo Pinto, explica os contornos e o alcance do evento, que deverá reunir quase duas centenas de convidados. "Em termos paisagísticos, em termos de produto e em termos gastronómicos o que importa é realçar este capital que existe no nosso território… Os barcos sobem e vão para o Douro Vinhateiro e não atracam, não criam riqueza no nosso território, que vai de Entre-os-rios a Bar-

queiros (Mesão Frio). O território tem a excelência dos vinhos, da gastronomia e da oferta diversificada do alojamento turístico e importa potenciar este produto, em ordem a que no futuro haja a possibilidade de termos uma embarcação ou um operador que trabalhe muito em função das ofertas do nosso território. Estamos a falar de Cinfães, Resende, Baião, Marco e Amarante, onde se pode ter uma oferta integrada. No fundo é isso que se pretende com este cruzeiro. Há aqui um espaço de muitos sabores, muitos saberes e oferta cultural, o conteúdo destas paisagens milenares." - Este evento também pretende chamar a atenção dos operadores, que têm de se associar… "Obviamente. É uma forma de demonstrar que cada vez mais os nossos promotores têm que ter uma oferta mais diversificada e que somos capazes de atrair mais gente ao território quando trabalhamos em conjunto, seja os públicos com os públicos ou com os privados ou ainda com as várias instituições culturais e mesmo do lazer." - O evento é uma ideia para repetir?

Festival do Anho Assado de Baião

EVENTO

Ju lh o

Chega de Bois em

CENTROS DE PROMOÇÃO PRODUTOS LOCAIS: MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr.

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agenda | crónica agenda Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

onomia no Douro Verde

o operadores turísticos, autarcas e jornalistas

A embarcação "Princesa do Douro" vai transportar os convidados entre a albufeira de Carrapatelo e o cais da Régua. Após a viagem de regresso, a jornada terminará com um almoço no Hotel Porto Antigo.

OS de

2013

"Este é um evento que quer valorizar todos os produtos, os vinhos e a gastronomia regional. Mas nós ao longo do ano estamos a apoiar muitas iniciativas ligadas à gastronomia, seja o cozido à portuguesa, o fumeiro, seja o anho assado, a vitela arouquesa, a doçaria conventual, a doçaria de Resende, nomeadamente as cavacas." - Para esta iniciativa convidaram…. "Convidamos as instituições, alguns promotores, alguns hoteleiros mas também muita gente de fora da região, nomeadamente do Grande Porto, alguns jornalistas do Norte de Espanha, das Astúrias e Castilha Y Leon. Também convidamos jornalistas nacionais e principalmente as revistas da especialidade, seja de turismo, seja de vinhos, bem como os órgãos de comunicação televisivos a operar em Portugal." - Uma iniciativa ligada aos vinhos também está prevista? "Na região devíamos ter uma grande festa ou feira do vinho verde. E a Dolmen está inclinada para realizar, com os parceiros do território, os produtores, as associações representativas do vinho, um evento que seja capaz de atrair muita gente ao território."

- Um evento para realizar em 2014? "Porventura sim, ou melhor, caso haja condições com os promotores e com as associações representativas, a Dolmen está interessada em apoiar." - A ideia de haver uma embarcação a fazer cruzeiros no território do Douro Verde para contrariar a tendência de que a região apenas vê passar os barcos turísticos mantém-se? Há operadores interessados? "Tem sido uma ideia que nós na Dolmen temos lançado junto de alguns operadores mas reconheço que tem alguma dificuldade visto que o investimento também é elevado. O que posso dizer é que na próxima estratégia de desenvolvimento, no próximo quadro comunitário, nós queríamos ter um projeto estratégico para a região e apoiar uma empresa que possa trabalhar/operar na nossa região e que essa operação turística seja um motor de desenvolvimento de todos os concelhos da região. E quando digo todos refiro-me a Amarante, Baião, Marco, Resende, Cinfães." - A Dolmen poderia juntar-se a privados nesse investimento? "Porventura sim. Estamos abertos para isso…"

Feira do Mel de Aboadela (Amarante)

Valadares (Baião)

. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004

BAIÃO: DOLMEN - Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154

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regi천es

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crónica

Congresso de Vilar de Perdizes na 27ª edição

A.M.PIRES CABRAL

A CABRA Acho que já escrevi sobre este assunto uma boa dúzia de vezes. Mas, como em nenhuma delas recebi de algum Leitor apiedado um feed-back que me mente caridoso que me explique. Trata-se, em suma, daquilo que para mim é um mistério inexplicável: o poder que os políticos têm ou adquirem em tempos de campanha eleitoral, de convencer o cidadão comum de que desta vez as promessas que faz são mesmo para cumprir. A história e a experiência (esse braço-direito da história) estão fartas de nos ensinar que promessa eleitoral não passa de lixo, de engodo, de conversa para esquecer no dia seguinte à contagem dos votos. Pois a coisa funciona. O eleitor deixa-se ir, como um burrico manso, levado pela

desta vez foi igual às vezes anteriores. E então proaguentar com ele os anos da legislatura penosamente. Passos Coelho dava, só ele, um manual de promessas feitas e dolorosamente não cumpridas. Ele eram os impostos que não subiam. Ele eram os vencimentos e pensões que não desciam. Ele eram os funcionários públicos que não tinham que recear despedimentos. Ele era o diabo a quatro. Pois na sua prática governativa quotidiana se vai vendo a solidez das suas promessas. Diga-se em abono da verdade que não é ele o único. Antes dele, José Sócra-

O Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes está de regresso. A 27ª edição terá lugar de 5 a 8 de setembro, período em que "o misticismo quebra a pacatez desta pitoresca aldeia do concelho de Montalegre". O Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes é um dos eventos de referência do concelho de Montalegre, iniciativa que continua a galvanizar muitos curiosos em torno de temáticas relacionadas com o misticismo. A esta aldeia do Barroso acorrem muitas centenas de pessoas, de todo o país, há quase três décadas... Por outro lado, a figura do padre Fontes continua a ser o centro do evento. O padre António Fontes impulsiona há 27 anos o Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes, que junta o sagrado ao profano e tem o mérito de reunir no mesmo evento curandeiros, videntes, médiuns, bruxos, adivinhos, massagistas, astrólogos, tarólogos e ervanárias. "A junção do sagrado e do profano protagonizado por um padre deu mais valia e chamariz ao congresso. Foi como que a arte de sacralizar o profano e profanar o sagrado", afirma o sacerdote. António Fontes nasceu em Cambezes do Rio, em 22 de fevereiro de 1940, tendo ingressado no Seminário de Vila Real em 1950, de onde saiu em 1960. Foi ordenado sacerdote em 1963. O sacerdote costuma recordar que o congresso de Vilar de Perdizes nasceu numa altura "em que as tradições e a medicina popular antiga estavam a cair em desuso devido à concorrência ou oposição da medicina química ou moderna". Vilar de Perdizes [que se notabilizou pelos seus congressos], recorda o padre Fontes, "surgiu como ponto de encontro de culturas, credos, medicinas, religiões, saberes, uma feira original, popular e erudita, um espaço para questionar métodos e crenças, novidades e antiguidades e uma ocasião para conhecer o país real, profundo, oculto, esquecido, marginalizado". Vinte e sete anos depois, o objetivo da iniciativa mantém-se atual porque, segundo Fontes, o congresso pretende "dar a conhecer às pessoas o valor da medicina popular e o poder das plantas para combater doenças".

Nuno Morais Sarmento, a verberar as promessas não cumpridas de Coelho — fez exactissimamente a mesma coisa. E antes de Sócrates, Durão Barroso. E antes de Barroso, António Guterres. E antes de Guterres — bom, o Leitor poupar-me-á ao trabalho, que é extenuante, de levar a coisa mais além. E é isto que não entendo: como podem os políticos prometer tanto e, já agora, como pode o Zé Pagode ser tão crédulo. Haja uma alma compadecida que me explique. Conversava há dias com um amigo, quando este assunto veio à baila. Zurzíamos ferozmente os políticos promitentes, quando me ocorreu uma comparação: – Pois. São como a cabra. A comparação não podia abismar mais o meu interlocutor. – Como a cabra?!... – Sim, como a cabra. – Como assim? – Nunca ouviste o povo dizer que a cabra apregoa mel e vende azeitonas? – Por acaso não. Mas troca lá isso por miúdos. – Pois seja. Como faz a cabra? – Mé… – Pronto. O ‘mel’ está por esse mé que a cabra berra. – Estou a ver. Mas, e as azeitonas? – Nunca viste os excrementos da cabra? – Já. – E parecem o quê? – Azeitonas. dá… são azeitonas. – Bem visto, pá! – Aprende, que eu não duro sempre…

alegremente apanhando com ‘azeitonas’. A cabra. Tal e qual. pirescabral@oniduo.pt

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poder local

EPAMAC

NOVA EXPERIÊNCIA-PILOTO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA A FUNCIONAR NA EPAMAC CURSO VOCACIONAL DE NÍVEL SECUNDÁRIO – TÉCNICO DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA O Ministério da Educação e Ciência lançou, para este ano letivo 2013/2014, uma experiência-piloto com a criação de Cursos Vocacionais de nível secundário. Prevê-se que, no Norte do país, funcionem três turmas desta nova oferta formativa, uma delas na EPAMAC. Os Cursos Vocacionais de nível secundário têm a duração de dois anos (80 semanas de aulas), num total de 2975 horas de formação, das quais 1400 são atribuídas a um estágio em contexto de trabalho. Estes cursos conferem equivalência ao

pretendam ingressar no mercado de trabalho, mas permitem o prosseguimento de estudos em igualdade de circunstâncias com as outras modalidades de ensino secundário.

Assim, irá funcionar na EPAMAC o Curso Vocacional de Técnico de Produção Agropecuária (Nível IV), com o plano curricular que se anexa. Podem frequentar este curso alunos com mais de 15 anos que terminaram o 9º ano (regular) e alunos provenientes de Cursos Vocacionais, CEF e PCA, sem necessidade de realizarem os exames nacionais com aproveitamento. Tendo estes cursos vocacionais um estágio que equivalerá, praticamente, a um ano letivo, representam uma oportunidade de acesso a um posto de trabalho, podendo corresponder de forma mais direta às expectativas de muitos jovens que frequentam o nosso sistema de ensino.

PLANO CURRICULAR Cursos Vocacionais de Nível Secundário Curso Vocacional de Técnico de Produção Agropecuária Total

1.º Ano

2.º Ano

h

h

h

Português

110

145

255

Comunicar em Inglês

110

140

250

70

-

70

Disciplina/Área

Total Componente de Formação

Componente Geral

Educação Física

575

Componente Complementar Matemática Aplicada

50

50

100

100

100

200

Mecanização Agrícola

100

100

200

Produção Vegetal

150

100

250

Produção Animal

150

100

250

600

800

1400

1400

1440

1535

2975

2975

Biologia aplicada à Agricultura

300

Componente Vocacional

700

Prática em Contexto de Trabalho PCT

Total

14

fevereiro'13 | repórterdomarão


Produção editorial da responsabilidade da EPAMAC

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economia regional

Vindimas no Douro também deverão atrasar alguns dias Quantidade de uvas su perior a 2012

O atraso médio de uma a duas semanas previsto para as vindimas na região dos vinhos verdes, poderá também verificar-se em algumas regiões do Douro, mas eventualmente apenas quanto à colheita de uvas tintas. As uvas brancas deverão ser colhidas primeiro e na data usual. Assim, a perspetiva é que o grosso das vindimas ocorram no Douro apenas na segunda quinzena de setembro. A maior pluviosidade nos meses da primavera e temperaturas mais baixas que o habitual, ambas situações consideradas "tardias", podem ter contribuído para um atraso global entre uma e duas semanas, segundo vários especialistas da área. Um documento de avaliação do abrolhamento e da floração das vinhas (o início do ciclo vegetativo) das várias quintas do grupo Sogrape, datado de junho e elaborado por um responsável do grupo já referia o ano de 2013 "como atípico". "O clima que se fez sentir em Portugal entre outubro de 2012 e abril de 2013 foi caracterizado por uma pluviosidade intensa aliada a temperaturas baixas para a época, condicionando o início da atividade vegetativa da videira.", refere Vasco Magalhães, Wine Educator da Sogrape Vinhos.

18

agosto'13 | repórterdomarão

Esta oscilação não parece, contudo, preocupar os produtores, até porque o tempo quente da segunda quinzena de julho e da quase totalidade de agosto poderá ter recuperado algum do atraso, sobretudo na maturação da uva. Aliás, já no ano passado se tinha registado um pequeno atraso que não foi superior a uma ou duas semanas, segundo os relatos da época.

Produtividade aumenta, qualidade é uma incógnita Uma coisa parece certa: a quantidade de uva vai ser bastante superior ao ano passado, até porque já não são previsíveis fatores que possam estragar os cachos, a menos que ocorram episódios de queda de granizo. Por outro lado, também as doenças típicas da vinha, como o míldio, foram muito benevolentes nesta safra. Segundo o técnico da Sogrape, "a pluviosidade registada de norte a sul do país poderia também ter tido consequências graves a nível de doenças como, por exemplo, míldio (...) mas as

vinhas não foram afetadas devido ao efeito combinado das temperaturas baixas, que não terão cedido ao desenvolvimento desta doença". António Saraiva, presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto, concorda que vai haver mais vinho em 2013 mas também não se compromete com a qualidade, reiterando, tal como diversos produtores, que é necessário chegar primeiro com as uvas à adega para se aferir da qualidade da colheita deste ano. De recordar que ainda há dois anos houve uma colheita excecional, que levou à maior declaração de vintage de que há registos, vinhos que começaram recentemente a chegar ao mercado. Praticamente todas as marcas de Vinho do Porto declararam o Vintage 2011 e os preços no mercado já refletem esse ano de excelência no Douro. A refletir o previsto aumento da produção, o quantitativo de mosto para benefício (vinho do Porto), fixado pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) aumentou para as 100 mil pipas, mais 3.500 que em 2012.


empresas

Descontos Continente atingiram 200 milhões em seis meses O Continente, insígnia do grupo Sonae, ofereceu aos seus clientes e consumidores poupanças superiores a 200 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, através de descontos em cartão e talão, anunciou o grupo de distribuição. “A Sonae tem um firme compromisso

de estar ao lado das famílias portuguesas em todos os momentos, mas em especial nos mais difíceis, através da disponibilização dos melhores produtos aos melhores preços, bem como de um leque alargado de referências que permitem aos consumidores uma escolha mais inteligente. Este compromisso contribuiu para os ganhos de quota de mercado alcançados pela generalidade dos formatos de retalho da Sonae, como é o caso do Continente”, enfatiza Luís Moutinho, CEO da Sonae MC. Segundo a fonte do grupo, "a política de preços baixos e atividade promocional das insígnias da Sonae tem procurado facilitar a gestão dos orçamentos familiares, sendo este esforço reconhecido pela crescente preferência dos consumidores pelas lojas da Sonae", que solidifica "a sua posição de liderança no retalho em Portugal". O Cartão Continente continua a alargar a sua oferta, inclusive com ofertas fora do universo Sonae, tendo merecido a confiança de 3,3 milhões de famílias portuguesas, acrescenta o comunicado daquele grupo empresarial.

MCoutinho aposta na Mercedes-Benz para a região do Vale do Sousa Desde 2006 que marca Mercedes-Benz faz parte do portefólio de marcas comercializadas pelo Grupo MCoutinho, primeiramente com a abertura de uma concessão no distrito de Bragança e depois em Vila Real. Agora a MCoutinho conta com um novo espaço em Paredes. Localizado na Av. Dr. Francisco Sá Carneiro (junto à estação da CP), este novo espaço Mercedes-Benz dispõe de todas as comodidades para um serviço de após-venda e vendas StarSelection de excelência, característica distintiva da marca e do Grupo MCoutinho. Os clientes e apreciadores da marca MercedesBenz do Vale do Sousa têm agora ao seu dispor um serviço de exclusividade, com os equipamentos

mais modernos, uma equipa técnica liderada por profissionais de qualidade e um grande nível de experiência. Numa época de contração económica o Grupo

MCoutinho continua a destacar-se pelo seu dinamismo comercial tendo um grande orgulho em representar marcas como a Mercedes-Benz onde a aposta é sem dúvida, a excelência.

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opinião

EM (NA) CADEIA

Armando Miro Jornalista

O RETRATO DA MÃE DE HITLER

Beja Santos Ex-Assessor D.G.Consumidor

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agosto'13 | repórterdomarão

A desejada pausa política é cada vez menos possível e provável. Não é que não goste, desde cedo acreditei nela, mas esta não é, nem de perto nem de longe, aquela que me seduziu e fez sonhar e envolver. Há uns tempos, as coisas aconteciam com alguns intervalos para dar tempo a digeri-las, era lento o seu olvido abafado noutros ruídos, e o que me fazia dizer “é bem feito” aos que tendo acreditado no que outros disseram em contrário do feito também apanhavam por tabela. Sendo pouco e raro, eu lá ia aguentando a minha quota parte. Agora acontecem à velocidade de pelo menos um por dia - as cavadelas que dão minhoca são mais que muitas e as regras da sua sucessão e efeito desmoronaram-se por completo. Porém, parecendo que é um azar assim acontecerem, caindo-nos em cima o fado da desgraçadinha, tenho como certo que é uma táctica a complementar uma estratégia comunicacional bem delineada. Sucedendo-se desta forma, não é preciso desmentir ou clarificar, nem tão pouco ouvir a candura dos visados de consciência tranquila e cobertos de razão e legalidade. O novo facto encarrega-se de obliterar o(s) anterior(es). Comparando-os com outros de igual teor ou parecido, e por personalidades acima ou de igual estatuto que o fizeram de idêntico modo, tal não é agravo antes se reveste da generalização detergente que torna as coisas banais e inconsequentes. Aliás, a questão da legalidade é matéria a merecer debate e exigência para evitar vírgulas e alçapões. Para que as

leis não tenham de ser corrigidas mesmo antes de sair e entrar em vigor. Para que de uma vez por todas sejam claras, simples e objectivas. Roubo é Roubo e ponto final. Bem sei que não é assim tão simples mas, do modo como vêm sendo tratadas, melhor seria que o fossem. Antes, o que as autoridades não descobriam ou descortinavam, tinha castigo eterno. Hoje, mudada a fé, quem determina o bem e o mal, o bom e o mau, é a finança e o mercado. As onças de ouro de D. Afonso Henriques a obter a bênção papal são agora o esbulho de quem paga impostos para satisfazer as tríades que nos tutelam. Expliquem-me lá como é que é legal e direito adquirido a reforma de certas castas, e não se passa o mesmo com as do povoléu? Por que é que uns podem acumulá-las de sítios onde apenas passaram para constar dos quadros, ficando inatacáveis independentemente dos (raros) tempos de descontos, e quem tem uma, com a idade e os descontos exigidos, está sempre a levar no corpo? E por que é que quem faz negócio aparentemente legal, mas depois se verifica ser vigarice e roubo, não passa a declarado como participante económico em negócio, associação criminosa, lavagem de dinheiro e demais classificações em que o Código Penal é bem prolixo, mas que raramente vão além da droga e um ou outro caso mais mediático, mas este apenas até à prescrição? “Folgo” ainda em saber que há um grande espírito solidário de umas almas caridosas a defender a honra e o pas-

Não causa surpresa a atração que o cenário de Lisboa em plena II Guerra Mundial provoca aos criadores da literatura de entretenimento. Antes do 25 de Abril, vários autores, mesmo em linguagem codificada, procuraram utilizar aqueles ambientes onde desaguavam judeus ricos e pobres, intelectuais em fuga, milionários amargurados, espiões de várias proveniências, reis no exílio. Alves Redol em “O Cavalo Espantado” procurou traçar o drama de um casal judeu já em fase de relação esgotada e a aproximação entre Pedro e Jadwiga, uma relação impossível, um pouco ao jeito do que era inviável no grande amor entre Humphrey Bogart e Ingrid Bergman no filme “Casablanca”. “O Retrato da Mãe de Hitler”, por Domingos Amaral (Casa das Letras, 2013) é uma nova tentativa de recuperar o amplo cenário da capital neutral, mas desta feita a guerra na Europa já atingiu o seu termo. Convém recordar que esta forte atração pela Lisboa desses tempos é recorrente. Os fugitivos políticos de maior embaraço iam para povoações e ficavam sujeitos a forte vigilância. Um general das SS, Walter Schellenberg, chegou a vir a Lisboa numa tentativa de aliciamento do Duque de Windsor para a causa nazi. São histórias de pouca monta mas que suscitam mistério, com um pouco de boa vontade cria-se uma envolvente de suspense. Vamos à história. Um coronel das SS em fuga, conseguiu apoderar-se de algumas das relíquias de Hitler, caso de uma pistola dourada e o retrato da mãe do Führer. Precisa de dinheiro. Tem perseguidores no encalço. Em Lisboa, temos Jack Gil Mascarenhas Deane que, sob a camuflagem de trabalhar em transportes marítimos, esteve ao serviço dos serviços secretos ingleses. O seu pai, também de nome Jack Deane, chega entretanto a Lisboa, vem a farejar os valiosos tesouros dos dignatários nazis em fuga. Estes personagens movem-se no hotel Aviz, no Palácio Estoril, na Lapa, na Baixa. Domingos Amaral recorreu a uma estrutura que lhe assegura dar fluidez ao conteúdo: Jack Deane, bem velhote, é contatado pelo neto, Paul, que lhe pede para regressar a Lisboa e reencontrar-se com a Alice, um grande amor dos tempos de Lisboa, amor trágico, Alice não olhava a meios para satisfazer os seus interesses. Esta estrutura abre caminho a um thriller com pitadas de aventura libidinosa, a caça ao tesouro, uma certa dissecação ao funcionamento do Estado Novo, relegando o desfecho para as últimas páginas. Esta literatura de entretenimento cumpre o seu dever, satisfaz as necessidades de amplas camadas que se dessedentam com aspetos históricos que desconhecem. O autor dá a moldura dos acontecimentos, maneja

a cronologia, as atitudes mentais são mesmo transferidas para o nosso tempo, todos falam não como se tivessem em 1945 mas na atualidade. Jack Deane é um estupor e parece um malandreco aparentado com os vilãos das telenovelas, humilha o filho, usa-o como uma marioneta. O autor em tudo envereda por uma simplicidade que por vezes descamba na facilidade. Mesmo supondo que um homem culto, como era Jack Júnior conversasse com os taxistas, ninguém imagina um taxista em 1945 a dizer ao cliente “somos sete cães a um osso!” ou “ó doutor, finalmente o facínora do bigodinho esticou o pernil”. Na literatura de entretenimento o impossível também se torna exequível: o general Silva consegue uma entrevista entre Jack Deane pai e Salazar, um estupor atreve-se a sugerir um negócio com luvas para o habitante de S. Bento, foi posto na rua, o general Silva sentiu-se traído com a desfaçatez do meliante. Como do leitor da literatura de entretenimento não se espera uma cultura profunda, ganha sentido descrever os hotéis onde se podiam aboletar os agentes secretos


crónica

sado de grande orgulho e serviço à Nação de alguns daqueles. Esquecem, por trapaça intelectual ou servilismo à espera de paga, que o que está - exclusivamente – em causa, é a ética dos procedimentos pelos lugares ocupados, e o dinheiro que todos continuaremos a pagar sem que isso dê qualquer proveito a não ser aos visados. Não sendo virgem na matéria, e outros na sua escala de representatividade também têm compinchas que agamelaram numa qualquer parceria que se formou tendo em conta que é mais seguro ter um ou mais de cada lado, o PS deixou-se enredar na teia. Estando em causa um «casulo» PSD, dá a ideia que não lhe faltará outro independentemente de ter maior ou menor dimensão. Bem sei que são diferentes mas é ao PS que compete explicar/clarificar. Será por isso que não descola nas sondagens? Será por não falar claro na matéria e não, distinguindo Justiça de Política, se acobertar no «são os Tribunais que devem tratar destas coisas»? Desta forma, e da maneira como por esse mundo fora as coisas se vão passando, e não é por haver um crescimentozinho da Economia - a reboque da Alemanha/França e das férias onde todos gastam mais alguma coisinha num fenómeno que ainda vai perdurar algumas semanas – não se vislumbra uma alternativa para o futuro, seja o nosso ou o de todos. Até a quezília Gibraltina, que tanto jeito dá para distrair atenções - principalmente na Espanha onde, como é bênção/lema da direita, ninguém tem de prestar contas pois o dinheiro é «Privado» - faz temer um crescendo de nacionalismos e patrioteirismos, que tanto podem dar conflitos internações altamente militarizados, como revoltas sociais de forquilha e picareta. Recorde-se a História do século passado e as “razões” das duas contendas que o Mundo de então enfrentou. Voltando a nós, e para que as sucessões de casos em cadeia esmoreça e se entre na normalidade, seria bom que as cadeias, as outras que tanta falta fazem a corrigir sociedades, não sirvam só para o Isaltino Morais – que em vez de sobrinho pobre devia ter arranjado tio rico – pois os outros, acusados ou até presos, lá vão fazendo a vidinha com ou sem pulseira electrónica, à espera que o manto diáfano do tempo se encarregue de as desvanecer ou prescrever.

de diferente proveniência, confere uma certa aura de importância a essa Lisboa porto seguro da Europa e teatro da grande espionagem: “Em 1942, um documento dos serviços secretos ingleses distinguia os hotéis da zona de Lisboa consoante as suas tendências políticas, classificando-os como pró-nazis ou pró-ingleses. Entre os pró-ingleses estavam o Aviz, o Palácio Estoril, o Grande Hotel Itália, o Grande Hotel do Estoril, o Metrópole e o Europa. Do outro lado, existiam o Vitória (muito perigoso, pois à superfície era pró-aliado, mas era, na verdade, controlado pelos nazis), o Tivoli, o Suíço, o Atlântico, o Duas Nações, o Avenida Palace, nos Restauradores, onde existia um corredor secreto de ligação à estação de comboios do Rossio, por onde circulavam os amigos da gerência, normalmente nazis relevantes. Dizia-se que até o almirante Canaris, o todo-poderoso chefe da Abwher em Berlim, tinha atravessado aquele caminho misterioso, na sua curta estada em Lisboa”. Jack terá confidências da maior intimidade com Paul, os engates são descritos a preceito, força-se a nota a tais extremos em que a própria literatura de entretenimento se torna inverosímil. Naquele fim de guerra, recuperam-se operações e contactos do passado, a trama cruza-se com a viagem do coronel das SS que vem a caminho de Lisboa, Alice continua a fazer das suas e a provar, Luisinha, a filha do general Silva inicia o seu romance de amor com Jack Júnior, pelo meio ficamos a saber que nas termas das Caldas de Felgueiras estão concentrados nazis deportados, suspeita-se que alguns estão ligados aos Nazis de Ferro, um fantasmagórico grupo de fanáticos que pretende pôr o mundo do avesso. O encadeado de episódios prossegue, Alice anda dengosa, pretende captar a todo o custo o afeto de Jack Júnior, ele resiste como uma muralha de aço. Jack Júnior ou Jack Gil precisa de ir ao Algarve contactar nazis, diligência nula. Luisinha, entretanto, fica proibida pelos pais de ver o seu amor, há encontros às escondidas graças à criada, Ofélia. Jack vem do Algarve e traz Rosa, irá fazer limpezas em escritórios e Jack confessa ao neto que não resistiu aos serviços sexuais da Rosa, um homem não é de pau. Afonso Caldeira é um advogado da oposição, está informado de um golpe militar que se prepara para apear Salazar, recebe informações de um jovem chamado Mário Soares. As histórias enrolam-se, já estamos em agosto de 1945, o Japão rendeu-se, Afonso Caldeira anda delirante, informa Jack que o general Norton de Matos estará à frente do golpe da Mealhada. O retrato da mãe de Hitler é alvo de alguma cobiça, disputa-se a relíquia. Haverá tiroteio da doca de Alcântara. Jack consegue um passaporte falso para a Luisinha, o plano é fugirem num Clipper da Pan Am, que parte da gare de Cabo Ruivo. Jack é chamado à PVDE, consegue baratinar o agente, a história avança para o seu clímax, Alice continua a fazer das suas, e enquanto o golpe da Mealhada falha, Luisinha e Jack fogem para outro lado do Atlântico. Jack será muito feliz com a Luisinha, esta morreu. Jack vem a Lisboa para se reencontrar com Alice, não se vêm desde 1945, é um encontro para esclarecer coisas do passado, mas Jack está inquieto. O autor esclarece: “O amor alarma sempre. Alarma quando nasce, ou quando renasce; alarma quando não é correspondido, mas também quando é; alarma quando somos novos, ou se somos velhos; alarma ontem, hoje, amanhã ou mesmo quando já passaram mil anos desde que acabou. O amor alarma sempre, mas mesmo assim ficamos ali os dois, de mão dada, a sorrir e a olhar o rio, que corre à nossa frente, alheio a nós e ao que acabámos de dizer”. Ponto final, o resto é uma suposição que pertence ao leitor. Ao fim ao cabo, a literatura de entretenimento é mesmo isto, usa-se e deita-se fora, depois reinventa-se novo produto, com caça ao tesouro e paixões forçadas, e uma outra intrigante mãe de Hitler, um ingrediente picante que acicata sempre a bonomia da leitura.

António Mota

BASTIAN e LOURENÇO Oui, lembro-me muito bem. Oui, havia aqui uma fonte. Não era bem uma fontaine como deve ser, mas era uma fonte que tinha uma água muito fresquinha, quase ao rés ao chão. Bien, não era bem uma fonte como as de agora, era uma nascente que estava a borbulhar ao fundo de um penedo. Tudo feito pela natureza, entendes o que te estou a dizer, Bastian. Nesse tempo, eu gostava muito de beber dessa água tão fria nos dentes e na boca. Ah, Bastian, mas isso já aconteceu há tanto tempo! E sabes que às vezes, lá no Luxemburgo, eu sonho com este penedo e com esta água. Oui, c'est la vérité!. Quando recordo a minha infância lembro-me com muita nitidez da fontaine que estava aqui. Também me lembro das cabras e das ovelhas que andava a guardar por essas bouças, e dos ninhos que descobria, e das cobras, e dos pássaros que matava com uma fisga que o meu avô me deu de presente no dia em que fiz nove anos, mas sem a minha mãe saber. Isto é um segredo, Bastian, não vais contar a ninguém. Tu sabes o que é uma fisga, Bastian, une fronde, Bastian? A fronde que o meu avô me deu era muito boa. Fartei-me de matar pássaros. Mas depois não os comia, dava-os aos gatos que tínhamos em casa. A minha mãe, coitadinha, gostava muito de gatos. E eles gostavam dela, seguiam-na para todo o lado. Quando ela ia lavar a roupa para o lavadouro, iam atrás como se fosse um casamento, e por lá se deixavam estar a fazer-lhe companhia, se não aparecesse o cão da velha Elisa, que corria atrás deles como un fou. Mesmo maluco, aquele cão. Como hei de explicar, os lavadoiros, quer dizer, les lavoirs publics, eram os tanques onde as mulheres iam lavar a roupa. Nesse tempo não havia luz elétrica nem havia machines à laver. Era tudo muito atrasado, Bastian. Mas sabes, eu gostava de ver a roupa estendida na erva, a corar. Oui, o sol e a água é que branqueavam a roupa. Coisas antigas. Bem, às vezes os gatos e o cão passavam por cima da roupa, e as mulheres ficavam danadas com as peugadas que deixavam atrás daquela correria. Ó, la, la, nesse tempo eu teria os meus oito anos, por isso isto que te estou a contar já se passou há muito tempo. Agora tenho sessenta e oito. Soixante-huit, já são muitos anos, não? Essa fonte ficava perto da casa da tua avó. A avó era muito bonita, tinha olhos verdes. Oui, a avó Gracinda morava perto da fonte. Eu tinha treze anos quando descobri que estava apaixonado por ela. Eu nem dormia. Ah, como é bom estarmos apaixonados. Tu já te apaixonaste alguma vez? Avez-vous déjà tombé amoureux? Sim! Isso bom. É portuguesa? Ah, Belga. É tudo a mesma coisa. Como é que ela se chama? Louise! A sério? Luisa era o nome da minha mãe. Eu gostava tanto que a minha mãe estivesse viva para que tu a conhecesses. Tu ias gostar dessa bisavó que morreu tão nova. Sabes que foi ela que me disse: Lourenço, se continuas nesta aldeia não fazes vida nenhuma. Procura uma terra grande, onde possas estender-te até onde puderes. Percebes o que ela queria dizer? É bom ouvir o que as mães nos dizem, elas não são falsas, só querem o nosso bem. Toma nota do que te digo, Bastian. Nunca esqueci essas palavras, e abalei. E sabes porque é que não me custou muito sair daqui? Porque a tua avó Gracinda tinha deixado a aldeia, e estava com os pais dela no Luxemburgo. Claro que fui lá ter, e casámo-nos muito cedo. Tudo acaba, até as nascentes. Nem sabes como é ingrato não poder matar as saudades dessa água que era mais fria que a neve. Desculpa, Bastian, eu sei que já te contei esta história algumas vezes, se calhar sempre todos os anos. Mas é a minha história, só tenho esta. Amanhã, depois de termos aterrado no Luxemburgo, vou visitar a campa da tua avó para me sentir muito mais leve cá por dentro.

anttoniomotta@gmail.com repórterdomarão | agosto'13 21


artes

Cartoons de Santiagu

[PseudĂłnimo de AntĂłnio Santos]

JosĂŠ Saramago

2013

XV PORTOCARTOON WORLDFESTIVAL

O olhar de...

EDUARDO PINTO MISTOS DE FASCĂ?NIOS

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agosto'13 | repĂłrterdomarĂŁo

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SENSIBILIDADES

Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortogråfico. PorÊm, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

Fotografia e Fotojornalistas: Marta Sousa, Manuel Teles, Jorge Sousa, Paulo Teixeira. Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota, Eduarda Freitas. Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas Permanentes e Ocasionais: António Fontaínhas Fernandes, JosÊ Carlos Pereira, Clåudia Moura, Armando Miro, Beja Santos, Alberto Santos, JosÊ Luís Carneiro, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino Sousa, JosÊ Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, JosÊ Pinho Silva, Mårio Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª JosÊ Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, JosÊ Carlos Póvoas, Sílvio Macedo.

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eventos

Douro Film Harvest volta em setembro para homenagear João Botelho O Douro Film Harvest volta a realizar-se de 14 a 21 de setembro. Ao longo deste festival, que vai na quinta edição, serão apresentados 24 filmes e na sua abertura será prestado um tributo ao realizador João Botelho, que na sua obra cinematográfica remeteu muitas vezes a sua história para a região do Douro. Das suas obras destaca-se o filme "Um Adeus Português" (1985) que explorava o tema da Guerra Colonial e "A Mulher Que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos" (2002) onde mostra a sátira ao exercício do poder. Os filmes em competição vão dividir-se em três secções: a “Wine Films” com «A Year in Burgundy» (David Kennard), «Wine of Summer» (Maria Matteoli, com participação de Sónia Braga), «Red Obsession» (David Roach e Warwick Ross), «Somm» (Jason Wise) e «Tesouro» de Marcantonio del Carlo, primeiro filme portugês a competir nesta categoria; a “Food Films” com «18 Comidas» (Jorge Coiro), «Jiro Dreams of Sushi» (David Gelb), «Dive!» (Jeremy Seifert), «Perfect Sense» (David Mackenzie) e «Tasting Menu» (Roger Gual) e a categoria «Curtas da Casa». Fora da competição serão apresentadas as rubricas «A Nossa Colheita» com a curta-metragem "Mau Vinho" de Marcantonio del Carlo e produzida pelo Douro Film Harvest em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), «Fora da Carta» com o filme "Vinho de Chinelos" e um episódio extra de "Mondovino" (2004), exibido há uns anos neste festival. Este evento de cinema, que arranca no Douro e termina na cidade do Porto, procura assim juntar a melhor seleção de filmes às melhores colheitas de vinhos produzidos na região duriense.

Ribeira de Gaia recebe a segunda edição do Porto Wine Fest O maior festival de vinho do Porto, Porto Wine Fest (PWF), regressa à Ribeira de Gaia de 4 a 8 de setembro, juntando o vinho do Porto e a gastronomia, numa paisagem deslumbrante proporcionada pelas margens do rio Douro. Na segunda edição do PWF vão estar presentes 25 marcas principais do vinho do Porto, um evento em que os visitantes podem assistir e participar em várias ações vínicas, gastronómicas e lúdicas. Segundo a organização, face ao sucesso da primeira edição, que superou todas as expectativas, a aposta deste ano será nas provas de vinho do Porto, cabendo a cada expositor fazer provas comentadas dirigidas por enólogos convidados. Haverá também uma segunda sala de provas.

Concurso de fotografia em parceria com a FNAC, grande prova de vinhos Vintage, demonstrações de culinária, duelos de Chefs e animação entram no programa do festival. A entrada no Porto Wine Fest tem um custo de 7,50€/dia, valor que inclui um copo do evento, 5 senhas de provas de vinho do Porto, acesso a uma demonstração culinária, a uma aula prática e a uma prova comentada. Os menores de 14 anos têm entrada gratuita quando acompanhados pelos pais ou adulto responsável. De 4 a 6 (quarta, quinta e sexta feira) estará aberto das 16:00 às 24:00 horas; sábado, dia 7, das 11:00 às 24:00 horas e no domingo, dia 8, das 11:00 às 21:00 horas.

repórterdomarão | agosto'13 23


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