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Uma luta compartilhada
tornasse menor, pareciam em vão. Mesmo que as nossas causas carregassem o mesmo nome, precisávamos lutar a partir de perspectivas bem diferentes.
Sendo vergonhosamente sincera, mesmo estando com Laura em vários dos seus momentos difíceis, demorei para entender que muitas das dores que a afligiam não eram uma exclusividade dela. O racismo é um problema social e foi no começo da juventude que eu descobri que não ser racista é muito pouco e não é suficiente. No Brasil em que vivemos, segundo o Anuário de Segurança Pública de 2019, a cada dez mulheres vítimas de feminicídio, seis delas são negras. Um jovem preto têm 2,5 mais chances de morrer por homicídio e representa 75% dos mortos por intercorrências policiais. Encarar esses fatos como números talvez doa muito menos, mas são pessoas, famílias e crianças e, vira e mexe, eu penso que poderia ser Laura, reduzida a uma estatística.
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Meus pais nunca precisaram me ensinar como me portar em uma revista policial. Minha inteligência e capacidade nunca foram questionadas por causa da minha cor. Em brincadeiras infantis, nunca fui limitada a papéis como os de babá e empregada. Nunca tive meu cabelo tocado por outras mulheres em banheiros de escola e baladas, como se comigo o consentimento pudesse ser descartado. Nunca fui seguida por seguranças em mercados, nunca me trataram como alguém, naturalmente, agressiva, nunca me negaram vaga de emprego por conta da cor da minha pele. Estar alheio a essa realidade é o que eu chamo de privilégio branco, acrescido de uma total falta de consciência social.
Como estudante de jornalismo, escrevo sobre o mundo que vivo e sobre aqueles que não tenho acesso direto, mas que eu observo e me contam. Não sou a protagonista dessa história, muito menos uma heroína que luta contra o inimigo e salva os menos favorecidos. O branco é o grande responsável por permitir que o racismo se mantenha na sociedade. A minha grande dica, caso você também queira contribuir de alguma forma, é: destine um pouco da sua atenção e assista, escute, leia, valorize e conviva respeitosamente com pessoas de todas as raças, especialmente as diferentes da sua.