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Das cantigas de roda para as rodas de capoeira

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CARTA AO LEITOR

CARTA AO LEITOR

Atividade usa de meios lúdicos para prender a atenção de crianças e ensinar um esporte que faz parte da nossa cultura canção, o mestre para de can- ta animadamente o ‘Iê’, pelo qual capoeira se inicia como uma brincadeira para as crianças. Tudo começa com a batida do pandeiro e termina com o samba. O ritmo, o som, a quantidade de batidas dita o movimento a ser reproduzido. A aula é aberta com uma canção, o mestre para de cantar e dá uma batida mais forte no instrumento, a meninada grita animadamente o ‘Iê’, pelo qual tanto esperavam.

Aatirei o pau no gato entre diversas cantigas”, afirma. Eles imitam os movimentos de animais como leão, caranguejo, burro e jacaré. Agachar e levantar, plantar bananeira e virar estrelinha são apenas algumas das coisas que fazem. Em outro momento, ao falar o nome de uma cor, as crianças correm ao redor da sala procurando algo que a tenha presente para tocar.

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O professor Antônio Marcos de Lima, conhecido como mestre Liminha, de 47 anos, conta que usa da musicalidade como forma de prender a atenção das crianças. No caso, o mais usado são as cantigas de roda que elas mesmas já conhecem. “Usamos o folclore brasileiro, saci pererê, a mula sem cabeça, a cuca,

Uma das atrações do segundo festival de arte, cultura, diversidade e cidadania, Campão Cultural, foram oficinas de capoeira focadas no público infantil. O evento que começou no dia 8 de outubro contou com uma série de programas diferentes, entre elas as aulas de capoeira, que foram ofertadas de acordo com os diferentes temas e direcionadas para todo o público, independente da idade. Entre os assuntos abordados está a forma de introduzir essa atividade de forma lúdica para crianças e adolescentes. O sucesso foi tanto que uma turma separada foi formada para pais que se interessaram em participar. É uma atividade que realmente une a família.

Débora Pergentino, de 28 anos, conhecida como Marretinha, apelido que herdou da mãe que era conhecida como “Marreta”, começou a praticar aos oito anos e conta como começou por intermédio da mãe, que mesmo a poucos dias de dar à luz ainda participava das rodas. A mãe foi quem inseriu essa cultura em sua família, após ver que seus filhos amavam brincar imitando seus movimentos. Foi aí que surgiu a pergunta “vocês querem treinar?”, apenas ela e seu irmão se animaram, já sua irmã nunca curtiu a ideia. A capoeirista relata que os primeiros treinos começaram como brincadeiras divertidas. “Meu pais sempre nos deixaram à vontade para escolher treinar, e farei o mesmo com meu filho, levo ele nas rodas que frequento, vejo brincar, mas só quando ele sentir vontade ele vai participar.”.

Débora conta que a capoeira a permitiu participar de grupos de danças, rodas, viagens e eventos. Foi uma infância divertida, abundante de cultura. “Para mim foi incrível poder viajar dentro da minha ancestralidade. Foi uma das experiências mais ricas que posso falar.”, afirma. Com 20 anos de capoeira, comenta o quanto desenvolveu muita força e desempenho atlético. Entre esses benefícios, diz que pode ter ajudado a ter um trabalho de parto mais tranquilo, calmo e rápido. experiências. Ajuda na formação moral, desperta a curiosidade infantil, promove o desenvolvimento físico,equilíbrio e estimula o controle emocional.

Entre as vantagens conhecidas estão o benefício à saúde física e mental. “Por depender de outra pessoa para jogar capoeira, usamos dela para ensinar a trabalhar o convívio em grupo dentro das escolas”, explica mestre Liminha. Importante ressaltar que ainda auxilia na questão do racismo, a criança preta consegue ver uma identidade nela, levanta mais a autoestima.

Maria Gabriela, de 38 anos, cujo a filha de três anos já é aluna do mestre Liminha em sua escola, relata que surgiu o interesse em querer envolver também o seu filho mais novo, de apenas um ano.“Por conta da desenvoltura que a capoeira estabelece para eles de corpo, disposição e coragem”.

Atualmente, em Campo Grande, há grupos individuais que disponibilizam turmas infantis, entretanto, a atividade é majoritariamente dada em escolas privadas. Há entre elas as que a capoeira faz parte da grade curricular das turmas do 1 ° ao 5°ano. Em algumas das escolas estaduais, são oferecidas por profissionais de Educação oferecidas por proFísica.

A capoeira possibilita às crianças um reencontro com posições corporais recém-utilizadas no seu desenvolvimento como humanos: rastejar, acocorar, engatinhar ou andar nos quatro apoios, preparando o corpo de modo orgânico para novas corporais recém-utilizadas no engatinhar ou andar nos o orgânico para novas

Laura e eu nos conhecemos aos cinco anos na escola. As duas medrosas choravam ao entrar na sala de aula, e assim, por meio da identificação, nos tornamos amigas daquele tipo: inseparáveis. Combinávamos de vestir as mesmas roupas, comprávamos brinquedos parecidos e éramos uma só, até entendermos que essa fusão em uma mesma pessoa não era possível, não só porque inevitavelmente somos duas pessoas, com gostos, criação e desejos distintos, mas porque a cor da nossa pele, também, nos torna diferentes. Ainda que compartilhássemos de uma existência muito parecida e passássemos juntas pelas mesmas situações, eu sou branca e Laura é uma mulher preta.

Quando completamos 13, decidimos, juntas, abrir mão da chapinha e da progressiva e enquanto o meu cabelo ondulado era elogiado como sinônimo de uma mulher decidida, que começava a se aceitar, Laura ouvia das formas mais sutis, até as mais agressivas, como o seus fios eram muito mais hidratados e bonitos quando alisados. Vira e mexe no banheiro, sem permissão alguma, seu cabelo era alvo de mãos curiosas, que a tratavam como um ser exótico. Aos 15, me ligou chateada porque o garoto por quem estava apaixonada não assumia meninas como ela para os amigos. Aos 16, enquanto eu, encantada, me envolvia em lutas contra a desigualdade de gênero, Laura não conseguia se sentir representada pelos movimentos feministas e constantemente se queixava por estar lutando pelo direito das outras, mas nunca pelos dela. “Os problemas de uma mulher preta ainda não estão em pauta”, reclamou uma vez, inconformada.

Na minha ignorância, não entendia que as minhas experiências e as consequências dos meus comportamentos não se aplicavam à minha melhor amiga. O privilégio da pele branca, durante muito tempo, me fez enxergar as minhas vivências como universais, afinal era tudo o que eu via na televisão, nas revistas e nas redes sociais. Descobrimos o mundo juntas, passamos juntas pela transição capilar, entramos juntas para movimentos feministas e a forma como lidamos com tudo isso nos fez enxergar que poderíamos até tentar, mas todos os nossos esforços para fazer com que essa ponte que nos separava se

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