6 minute read

Música

Next Article
Tendência

Tendência

Raízes do interior

EM SEU PRIMEIRO ÁLBUM, CARLOS OTTO SE INSPIRA NAS MEMÓRIAS AFETIVAS DAS MUITAS MINAS

Advertisement

texto assessoria fotografia marcelo goulart

ma histÓria de vida inspi-

Urada no que Minas Gerais tem mais de precioso: seu interior, com suas ladeiras, com o cheiro de café coado, com o barulho do sino da igreja tocando ao longe, com a comida sempre farta à mesa, com a simplicidade de um povo hospitaleiro. É assim que Carlos Otto descreve suas inspirações ao criar um álbum repleto de memórias e que traduz, em oito músicas, as suas inquietudes e olhares. É uma forma de tornar palpáveis lembranças afetivas por meio dos sons que vêm de dentro, do interior.

Mais que um álbum, Do Interior revela-se uma vivência pelo interior de Minas Gerais, mas também pelo interior do músico. É um trabalho que diz a verdade sobre sua história e suas experiências ao longo de seus 27 anos de vida. “Há muito tempo eu queria colocar este trabalho no mundo. Já tinha em mente as canções que eu gravaria e quais eram os músicos que estariam ao meu lado nessa imersão criativa”, diz Carlos Otto.

Seguindo essa intuição, ele convidou Amaury Bassi (pianista, diretor e produtor musical), Adriano Campagnani (contrabaixista), Arthur Rezende (baterista), Deivid Santos (guitarras), André Mendes (percussão e sonoplastia), Matheus Luna (violões), Lisandro Massa (sintetizador), Marcelo Cacilias (violoncelo) e Marcos Carvalho (flauta transversal). “Além disso, das oitos canções compostas para o álbum, duas delas foram criadas em parceria com meus amigos Igor Alves, que escreveu ‘Ocasos e Acasos’, e Daniel Rubens Prado, letrista de ‘Manhã do Mangue’”, detalha Carlos Otto.

02

record-vinyl do interior

1. Saudade de Diamantina

2. Mar de Ondas Verdes

3. Quadros Raros

4. Do Interior

5. Manhã do Mangue 6. Colapso de Flor 7. Ocasos E Acasos

8. O Céu em Mim

ÁLBUM DE MEMÓRIAS

Os laços afetivos são uma marca forte na idealização do álbum. Luiz Carlos, pai do músico, foi o responsável por fazer a foto da capa do encarte, o que teve um significado imenso para ele. “Meu pai conta que quando eu estava aprendendo a andar, ele me levava para os trilhos do trem, que ficam perto da casa em que ele e minha mãe moram hoje, em Itumirim. Ele me colocava em pé, se afastava para tirar a foto, e voltava correndo para me segurar antes que eu me desequilibrasse e caísse”, relata. Para simbolizar esse momento tão importante para sua formação, Carlos Otto optou em fazer uma nova foto no mesmo lugar, 26 anos depois. Para esse trabalho convidou o fotógrafo Marcelo Goulart, que concebeu a foto da contracapa do álbum.

Essa história de tantas vivências começou lá atrás, quando, despretensiosamente, Carlos Otto e Amaury Bassi resolveram levar um gravador para a procissão de Nossa Senhora do Carmo,

user-friends Apoio

Carlos Otto foi contemplado pelo edital da Lei Aldir Blanc de Apoio à Cultura, cujo planejamento da execução ficou a cargo do Sérvulo Matias Filho, da Oficina de Teatro Entre & Vista, situada em Tiradentes.

em São João del-Rei, a fim de captar os sons de reza, cantos, sinos, para que, em um momento futuro, pudessem utilizá-los em algum trabalho. Com o álbum ganhando forma, Carlos recordou destas gravações e sugeriu usá-las como introdução da primeira faixa, Saudade de Diamantina, levando a uma viagem pelo mais profundo interior de Minas. “Essa música mostra, logo de cara, quem eu sou e qual a minha essência: a voz e o violão. Diamantina é uma cidade que representa muito para mim, onde vivi muitas experiências, além de o cenário ser um convite para a composição musical”, revela.

O álbum segue como um convite a vivências afetuosas. Em Mar de Ondas Verdes, o músico se inspira nos mares de morros, que podem ser contemplados no Sul de Minas Gerais. Ele escreveu essa letra na volta de uma viagem de Ubatuba (SP). “Partindo da cidade, rumo ao Sul de Minas, o mar vai ficando para trás, assim como as florestas úmidas da Serra do Mar, e vem surgindo elementos de cerrado, as árvores tortuosas, as cercas de arame farpado e os currais de pedra. Nesta faixa, o violão dá vez ao piano acústico, e a canção embarca em um vazio que remete ao jazz feito na década de 60, como Miles Davis.”

Já Quadros Raros surgiu em um momento de autoconhecimento. “O ano era 2017, estava na faculdade e simplesmente a música veio à cabeça. Era um dia de rompimento de relações afetivas, no qual comecei a excluir fotos das redes sociais com essa pessoa. E cheguei numa foto muito bonita, em uma cachoeira, com a legenda ‘Um sorriso para se fazer um quadro’. Daí o nome da canção.”

A faixa que dá nome ao álbum, Do Interior, é para o músico a sua maior obra-prima. É uma música leve, solta, dançante, genuína e única de todo o trabalho. Os violões desta faixa ficaram

03

por conta do violonista baiano Matheus Luna, que a executou com maestria, sentimento e elegância, além de fazer um dos solos mais marcantes que Carlos já pôde apreciar.

Já Manhã do Mangue é uma reverência à beleza e simplicidade da cachoeira do mangue, na Serra de São José, em Tiradentes, enquanto Colapso de Flor carrega memórias importantes, pois foi essa canção que abriu as portas de festivais e outros palcos para o músico.

Seguindo nessas redescobertas por tantas Minas, o álbum encaminha para o fim com Ocasos e Acasos, trazendo a genialidade do músico Adriano Campagnani, que, a convite de Carlos Otto, fez os arranjos desta canção para ser executada somente com voz e contrabaixo. Os sintetizadores do pianista Lisandro Massa deram uma pitada de magia à canção, composta por Carlos (música) e Igor Alves (letra).

Por fim, o Céu em Mim, que representa fortemente o outro interior, o de dentro. Nesta canção, Carlos Otto canta que carrega o céu e o universo dentro de si. “Alternando em compasso de 5 e de 6 tempos, este rock possui um pequeno trecho cantado, que dá vez aos solos de sintetizador, guitarra, contrabaixo e bateria. E depois de todo mundo solar, transmitir suas mensagens, mostrar seus interiores e suas essências, ela finaliza em uma valsa psicodélica somente com voz e piano, para dizer que tudo que aconteceu e vem acontecendo só foi possível pelo fato de eu não estar só”, finaliza. — iPê

01 Visita à fundação Oscar

Araripe, em Tiradentes 02 Carlos Otto e Amaury Bassi em processo de criação dos arranjos do álbum Do Interior 03 Contracapa do encarte do CD, fotografada no mesmo cenário da capa, 26 anos depois

comments SONS QUE ENCANTAM

“O céu em mim é a minha música favorita do disco. Nessa faixa, o Carlos resgatou a essência do Clube da Esquina e a de cada músico, como instrumentistas solistas. Uma atitude muito louvável do compositor: abrir para solos.” Adriano Campagnani BAIXISTA

“Fiquei muito contente com o convite feito pelo produtor musical Amaury ao me apresentar as canções do Otto. Elas têm uma sonoridade influenciada por Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta, mas com a musicalidade e autenticidade desse talentoso artista.” Deivid Santos GUITARRISTA

“Quando eu fui convidado pelo Otto para participar do disco fiquei muito contente. Por ele ser também um grande violonista, busquei ser fiel ao que ele havia criado no violão e dosar um pouco com meu jeito de tocar.” Matheus Luna VIOLONISTA

This article is from: