Revista Ecológico - Edição 76 - Dezembro 2014

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ANO 7 - Nº 76 - 06 DE DEZEMBRO DE 2014 - R$ 12,50

- Toda lua cheia

www.revistaecologico.com.br

QUANTO VALE A SOMBRA DE UM BURITI? ANO 7 - Nº 76 - 06 DE DEZEMBRO 2014 RevEco_Dez_001_V4 sábado, 6 de dezembro de 2014 12:29:32

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


TM Rio 2016. Fale com os Correios: correios.com.br/falecomoscorreios CAC: 3003 0100 ou 0800 725 7282 (informações) e 0800 725 0100 (sugestões e reclamações) Ouvidoria: correios.com.br/ouvidoria – SIC: correios.com.br/acessoainformacao

Os Correios têm um compromisso com o maior serviço de entrega do mundo: a natureza. Atitudes sustentáveis como a Coleta Seletiva Solidária, o EcoPostal, os veículos elétricos, e muitas outras, são atitudes dos Correios para preservar a natureza e permitir que ela continue fazendo o seu trabalho. E, com o Sistema de Gestão Ambiental, o compromisso com o meio ambiente se tornou ainda maior e mais efetivo.

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EXPEDIENTE

PAISAGEM com Microlicia sp. florida

FOTO: ALFEU TRANCOSO

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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho

REVISÃO Gustavo Abreu

ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com

CAPA Foto: Thiago Fernandes

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com

Representante Comercial Brasília IBIS Comunicação ivone@ibiscomunicacao.com.br Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com

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VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

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MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

Selo SFC

EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

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ÍNDICE

CAPA

DO PIONEIRISMO DE PAULO NOGUEIRA NETO ÀS VEREDAS DE GUIMARÃES ROSA, EM DEFESA DO CERRADO BRASILEIRO, CONHEÇA AS EMPRESAS, PERSONALIDADES E PROJETOS VENCEDORES DA QUINTA EDIÇÃO DO PRÊMIO HUGO WERNECK DE SUSTENTABILIDADE & AMOR À NATUREZA

58 REFLEXÃO O ANTROPÓLOGO ROBERTO CREMA FALA DA “ECOLOGIA DO SER” E DO PODER DO AMOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Pág.

30

E mais... IMAGEM DO MÊS 10 CARTA DO EDITOR 12 CARTAS DOS LEITORES 16 ECONECTADO 18 PÁGINAS VERDES 20 SOU ECOLÓGICO 26 GENTE ECOLÓGICA 28

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS EVENTO REALIZADO EM BH DISCUTIU NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS CIDADES SE ADAPTAREM ÀS ALTERAÇÕES DO CLIMA

ESTADO DE ALERTA 60 EXEMPLO 62 GESTÃO & TI 70 CORAÇÃO DA TERRA 72 FAUNA 74 CÉU DO MUNDO 76 TERRA BRASILIS 82 CONSULTORIA AMBIENTAL 84 NATUREZA MEDICINAL 86 VOCÊ SABIA? 88 OLHAR INTERIOR 90

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS

OLHAR POÉTICO 92 AS MUITAS MINAS NO MUSEU (11) 94 MEMÓRIA ILUMINADA 98 ENSAIO ARTÍSTICO 102 CONVERSAMENTOS 106

DESAPARECIMENTO DE COLMEIAS POR CONTA DA POLUIÇÃO DO AR E DO USO DE PESTICIDAS AFETAM A POLINIZAÇÃO DE VEGETAIS NO PLANETA

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CHEGAR AOS 117 ANOS RECONHECIDA MUNDIALMENTE.

É assim que a gente faz a melhor capital do Brasil. PPP da Educação premiada pelo Financial Times.

Cidade Amiga da Criança Fundação Abrinq.

Atenção com crianças e adolescentes - Unicef.

O projeto de construção de escolas por meio de Parceria Público-Privada foi premiado pelo Financial Times/Citi Ingenuity Awards e pela publicação Infrastructure 100.

Reconhecimento pelo cuidado com crianças e adolescentes. Entre 1.500 cidades avaliadas, somente 9 receberam o Título de Destaque Nacional.

BH foi apontada como a cidade com ambiente mais adequado para crianças e adolescentes.

Segurança Alimentar é exemplo para o mundo - ONU.

Exemplo em Defesa Civil - ONU.

O programa de Segurança Alimentar de BH foi reconhecido pela ONU como referência mundial.

Maior Programa de Saúde da Família do Brasil.

BH é a capital com maior cobertura do PSF: 83% dos moradores são atendidos.

Prêmio Sasakawa 2013, um reconhecimento da ONU ao conjunto de ações da Prefeitura para reduzir riscos de desastres naturais.

Arena da Cultura é referência em prática sustentável e inclusiva.

O projeto foi premiado pela CGLU, organização com sede em Barcelona e presente em 127 países.

Nos últimos anos, o trabalho da Prefeitura de Belo Horizonte tem se tornado referência em políticas públicas. Várias ações foram reconhecidas mundialmente por entidades como ONU e Unicef. Agora, temos mais um motivo para comemorar: a pesquisa nacional Best Cities Index acaba de apontar BH como a melhor capital do Brasil. Esse é o resultado de um trabalho feito a várias mãos: Prefeitura, parceiros e toda a população. Um presente para os 117 anos de BH e para cada belo-horizontino.

Não para de trabalhar por você. www.pbh.gov.br


IMAGEM DO MÊS

FOTO: PAUL HACKETT / REUTERS

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NUDEZ CONTRA A BARBÁRIE

Dezenas de manifestantes seminus da ONG Peta, cobertos de sangue falso, protestam na Trafalgar Square, em Londres, Reino Unido, contra os maus-tratos sofridos por animais em fazendas industriais. O sistema produtivo dos setores de pecuária e laticínios no país é nefasto: os animais têm suas gargantas cortadas ainda conscientes. Leitões jovens têm caudas e testículos decepados e sem anestesia. E bezerros são tirados das mães logo após o nascimento. Nos cartazes, um número chama a atenção: em todo o mundo, mais de um bilhão de animais são mortos anualmente para abastecer a indústria da carne. 10  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2014

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Somos cobras em ecologia E ficamos uma arara com a falta de informação. As páginas da revista ECO•21 são escritas por cobras em ciências ambientais, tubarões em desenvolvimento sustentável e águias em biodiversidade. As feras que fazem a ECO•21 têm memória de elefante, olhos de lince e a sabedoria de uma coruja. Seja esperto como uma raposa e leia.

/revista.eco21


FOTO: THIAGO FERNADES

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

“Desamar e morrer ou amar e sobreviver? Eis a questão ecológica.”

VEREDAS DA SALVAÇÃO E

stá na Bíblia: “Confia no Senhor de todo o teu coração. Reconhece-O em todos os seus caminhos e Ele endireitará as tuas veredas”. Está também nesta edição especial da Revista Ecológico, comemorativa ao “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”: “Do pioneirismo de Paulo Nogueira Neto às veredas de Guimarães Rosa, em defesa do Cerrado brasileiro”. Foram nessas vertentes de ecologia espiritual e humana que buscamos a inspiração temática, este ano, para a realização de mais uma premiação em nome da natureza que nos resta no planeta. A notícia pós-evento é alvissareira: nem tudo está mesmo irremediavelmente perdido. Como defendemos em cada edição, caro leitor, ainda resta uma esperança. Ela tem a cor verde e é pontual na escolha de vários cidadãos conscientes, ONGs valentes, de empresas sérias e políticos comprometidos, todos a seu tempo, com o desenvolvimento sustentável. É o que você vai conferir nesta edição, se confortando na própria história do planeta e da humanidade errante sobre ele - travessia e ponto. Como o autor de “Grande Sertão: Veredas” nos ensinou, a história evolutiva da raça humana sobre essa Terra milagrosamente azul que nos dá vida e abriga nunca foi feita pela maioria. Mas, sim, pela minoria. A maioria de nós, desde que descemos das árvores, sempre preferiu o matadouro. É triste, mas é verdade. É real e faz parte do processo natural da vida. Tal como os grandes perfumes estão nos pequenos frascos, os exemplos de sustentabilidade e preservação ambiental que a Ecológico premiou são poucos diante do tamanho da degradação que nos afli-

ge. Mas suficientes para acelerar nosso destino comum em curso: ou nos salvamos todos ou não sobrará ninguém para contar tamanho pecado ecológico, que é não amar, respeitar e preservar essa beleza de planeta que Deus nos deu. Conheça os vencedores do Prêmio Hugo Werneck, nas próximas páginas, para entender o motivo de tamanha esperança. Desamar e morrer ou amar e sobreviver? Eis a questão ecológica. Se for para inviabilizar o planeta e morrermos juntos, a Ecológico tem uma receita poética, vinda do Pantanal mato-grossense. Se for para morrer, então que morramos, no mínimo, com dor de árvore. É o que você vai ler na “Memória Iluminada” de Manoel de Barros. E ele não está sozinho. Tem ainda o discurso hídrico de Bruna Lombardi que, em 2014, “bombou” nas redes sociais com um vídeo simples, nos ensinando a tomar banho em apenas cinco ecológicos minutos, e ainda aproveitando a água para lavar calcinhas (e também cuecas!). Temas, reportagens, entrevistas e mensagens desejando um ótimo Natal e Ano-Novo é o que não faltam nesta edição de fim de ano. Junte-se aos bons e premiados exemplos. Junte-se às crianças e adolescentes que também nos leem e acessam, prezado leitor, “e o mundo será um só”, como já cantou Lennon. Um mundo de esperança na sustentabilidade e em nós mesmos, por meio da inteligência, da sabedoria e do amor à natureza. É só trocar o “eu acredito” pelo “nós acreditamos” de todas as torcidas e cores, que o arco-íris logo resplandece no céu de nossa pátria ainda tão desamada por nossos governantes. E responder, como os nossos premiados deste ano, quanto vale a sombra de um buriti. Fácil assim! Boa leitura e até a próxima lua cheia! 

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CARTAS DOS LEITORES

l OLHAR INTERIOR – RECICLANDO O LIXO E A MENTE “País desenvolvido que valoriza e investe em educação educa o povo para a consciência ambiental. Por isso, é possível na Noruega, ao contrário do Brasil, que não valoriza a educação como deveria. Esta aí a diferença!” Joana Felício, via Google+ l SUGESTÃO “Como é triste saber que estamos esquecendo cada vez mais da natureza! A cada dia que passa, o meio ambiente e os animais que nele habitam são esquecidos e ameaçados de extinção e destruição. Vamos nos fortalecer e lutar por eles! Criar campanhas de apoio, como são, por exemplo, o ‘Outubro Rosa’ e o ‘Novembro Azul’. Vamos dar início, ano que vem, ao ‘Setembro Verde’! Uma união de amor à natureza, aos animais, à sustentabilidade. Nós podemos sim, claro. Por que não?” Brenda S. Ferreira, via site

l NOS PORÕES DO RETROCESSO - UM RAIO EM CÉU AZUL “Estudei muito Franco Basaglia. Ele foi uma das pessoas que denunciaram este modelo de instituição manicomial que ‘adoecia’ ainda mais o paciente, principalmente por tirar sua dignidade, excluí-lo do meio e não possibilitar condições básicas de reinserção social. Ainda temos muito que melhorar nos tratamentos, mas eram tristes as condições.” Jaqueline Alves, via Facebook l CARTA DO EDITOR “O Brasil e o mundo precisam de educação ambiental para viver em harmonia com o planeta!” Gilmar de Brito, via Google+ l O EXEMPLO DE RYAN HRELJAC “O agir em vez de criticar faz uma enorme diferença. Um jovem com uma vida confortável poderia simplesmente ignorar ou colocar a culpa no governo, nos africanos etc. Esse jovem tem uma alma rara e um senso de solidariedade, que, com certeza, iluminou a vida daquelas pessoas.” Rachel Feitosa, via Google+

l PRÊMIO HUGO WERNECK “Prezado editor: passada a emoção de receber o Prêmio Hugo Werneck, lembro-lhe que ambos somos discípulos privilegiados deste mesmo mestre. Eu tive a honra de conviver com dr. Hugo em momentos únicos e raros. Estar na mata com ele, um senhor de mais de 80 anos, e vê-lo se transformar num garoto de oito é algo indescritível, que não se apaga da memória. Quero registrar ainda que receber o prêmio junto de um homem da estatura técnica e moral de José do Carmo Neves, parceiro do nosso mestre, tem um significado também forte na minha vida. Ainda mais recebê-lo das mãos de José Carlos Carvalho, meu colega de profissão, amigo e companheiro de tantas batalhas. Carvalho chegou ao IEF por meio do José do Carmo, onde foi diretor de Desenvolvimento e diretor-geral, antes de ter se tornado secretário de Estado e ministro de Meio Ambiente. Esses fatores fizeram do prêmio deste ano um evento especial e marcante na minha existência. Hoje, sigo como engenheiro florestal aposentado, buscando difundir e perpetuar os ensinamentos deixados pelo mestre, entre os quais destaco: 'O mundo está carente de afeto e de ternura para se tornar menos violento' e 'A educação ambiental é uma parcela inseparável

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

“Cumprimento a toda a equipe da Revista Ecológico pela realização do V Prêmio Hugo Werneck. Desejo que a iniciativa produza crescente influência nas ações de preservação dos recursos naturais em nosso estado e em todo o país.” Dom Walmor de Oliveira, arcebispo de Belo Horizonte “Emocionante a celebração da nobre causa da sustentabilidade promovida pela Ecológico e seu brilhante time. Temos a consciência de que o Prêmio Hugo Werneck não se encerra no coroamento justo de iniciativas relevantes de nossa sociedade em prol da sustentabilidade das ações corporativas. Nós, da Terramax, e muitos outros que sabem contemplar o mundo das sombras dos buritis, compartilhamos da visão de que o Prêmio Hugo Werneck é, sobretudo, a energia que realimenta. E faz brilhar a lâmpada do farol que precisamos tomar como referência para trilhar o único caminho seguro para o bem maior da humanidade.” Rusto Albuquerque, diretor da Terramax “Parabenizo a Ecológico, mais uma vez, pela premiação deste ano. É sempre um espetáculo que emociona! E eu tenho uma explicação para toda essa falta de água abordada por vocês, na última edição: São Pedro se cansou da gente!” Mônica Santos, gerente de Comunicação da Siamig “Parabéns pelo Prêmio Hugo Werneck, pela cerimônia, pela obra ímpar de jornalismo e de consultoria da Ecológico, urgentíssima em nosso mundo gravemente adoecido.” Luiz Gomide, ator e apresentador do evento “É sempre uma honra participar do Prêmio Hugo Werneck, como indicados ou espectadores desse

EU ASSINO “Assino a Revista Ecológico, primeiramente para que eu possa estar sempre atualizado com os temas socioambientais, rumo ao meu aprimoramento a cada edição. A revista adota nos seus conteúdos características que a fazem a melhor publicação brasileira no gênero. A objetividade das matérias, a impessoalidade, a coerência interna das ideias, um belíssimo e harmonioso design gráfico, além de contar com competentes colunistas que redigem com imparcialidade e seriedade os artigos. Eu não só assino, como também divulgo e recomendo a Revista Ecológico.”

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

da educação para a cidadania'. Por último, quero cumprimentar a Ecológico pelo seu empreendedorismo. O Prêmio Hugo Werneck é fruto da ousadia. Quando mulheres e homens ousados dão as mãos e unem seus pensamentos pode-se produzir maravilhas. Maravilhas como esta premiação que, já na sua quinta edição, extrapolou as montanhas de Minas e também condecorou ações sustentáveis e amorosas de outros estados brasileiros. Como o meio ambiente não tem fronteiras desejo que, em breve, ela se torne internacional.” José Geraldo Rivelli Magalhães, diretor do Instituto Xopotó

Helton Aguiar Neves, engenheiro agrônomo, vencedor do Prêmio Hugo Werneck em 2011, na categoria “Fauna”, com o Projeto Crias

lindo espetáculo de amor à vida, que enche de alegria e esperança nossos corações. O que me vem a todo o tempo em mente é o pensamento de quantas pessoas eu gostaria que estivessem ali, tendo a oportunidade de, como nós, saber a sensação inenarrável de ‘quanto vale a sombra de um buriti’. É encantador estar em um evento vendo tantas pessoas importantes envolvidas com o amor à natureza que a Ecológico defende e promove. Isso me traz tanta esperança! A verdade é que a sombra de um buriti vale mais que um Oscar. Vale um sonho, vale um lobo-guará, um tatu, uma seriema, um rio, uma vereda, um sertão, um Brasil, vale várias vidas.” Alice Rocha, gerente comercial do resort hotel Águas de Santa Bárbara “Gostaria de parabenizá-los pela premiação. O evento foi simplesmente maravilhoso.” Igor Noronha, assessor institucional do Conselho Regional de Biologia – CRBio 04 “Parabéns! Vocês conseguiram trazer uma energia diferente para esta edição do Prêmio Hugo Werneck. A presença do Ponto do Partida trouxe um brilho especial e uma leveza.” Cynara Pereira, da Comunicação da Vale DEZEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO  17

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ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

do que não lhe serve mais. E paciente o suficiente para esperar por aquilo que você merece.” @CaioFAbreuCitou - Caio Fernando Abreu, perfil com frases do escritor

l “Para os jovens, o digital não

representa uma nova mídia, mas sim a mídia ‘normal’, a que eles conhecem, e é imediatamente disponível.” @plevy – Pierre Levy, filósofo

l “Antes de falar em divisão do país,

l “Mundo produz

mais armas do que livros e brinquedos, diz Kailash Satyarthi, Nobel da Paz.” @Lnagle2 - Leda Nagle, jornalista e apresentadora

FOTO: SEM CENSURA

deveríamos falar em união para preservar e proteger nossas reservas de água, principalmente grandes rios e fontes.” @MagaAfroPop – Margareth Menezes, cantora

l “Os oceanos estão sofrendo pela ação do homem. Recicle seu lixo!” @longomonteiro – Jorge Longo, ambientalista l “De verdade, quer mudar o clima?

Torne-se vegetariano.” @georgepferreira - George Porto Ferreira, coordenador de Monitoramento Ambiental do Ibama

l “Paradoxo da Amazônia. Quer

preservar as árvores? Salve as pessoas.” @alexmansur – editor de Ciência e Tecnologia da Revista Época

l “Poderoso para mim não é aquele que

descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).” @Poeta_ManoeldB - Manoel de Barros, escritor

FOTO: CLIPART

l “Seja forte o suficiente para abrir mão

CELEBRAÇÕES ECOLÓGICAS Dezembro é o mês em que tradicionalmente reunimos familiares e amigos para as comemorações de Natal e de Ano-Novo. É também nessa época que costumamos comprar mais: sejam presentes ou provimentos. Mas toda essa festividade não deve ser motivo para um consumismo desenfreado, já que é possível ser responsável com o planeta e, ao mesmo tempo, celebrar todos os bons momentos de 2014. Por isso, a Revista Ecológico separou sete dicas simples de como ser um consumidor consciente, não só em dezembro, mas para todo o ano de 2015. Confira: www.goo.gl/G2SJ6e ATITUDE SUSTENTÁVEL Que tal aproveitar o espírito natalino e fazer doações de roupas, sapatos e até mesmo eletrodomésticos que você não usa mais? Desde que em bom estado, eles podem fazer a diferença na vida de alguém, além de incentivar o reuso de objetos. Gostou da ideia? Então, entre em contato com o Exército da Salvação www. exercitodoacoes.org.br, que atende oito cidades do estado de São Paulo, além de Rio de Janeiro, Brasília, Joinville e Curitiba. Para quem está em Belo Horizonte, o site www.doarbh.com.br dá dicas de várias instituições que também precisam de apoio.

FOTO: DOLLARPHOTOCLUB

TWITTANDO

ECO LINKS

MAIS ACESSADA XÔ, MORTE SEVERINA! No mês passado, a matéria que aborda a situação crítica da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco foi a mais lida no site da Revista Ecológico. O texto apresenta os problemas históricos que o Velho Chico enfrenta, apresenta opiniões de diferentes especialistas e narra como a recente estiagem tem dificultado a vida de cidades e ribeirinhos que vivem no entorno do rio. Ainda não leu? Acesse: http://goo.gl/2tMk6C FOTO: LALO DE ALMEIDA / FOLHAPRESS

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BARRAGEM DOS CRISTAIS: TRANQUILIDADE E SEGURANÇA PARA NOVA LIMA HOJE Tranquilidade e segurança para Nova Lima!

ANTES Enchentes

Foto: Welington de Oliveira

A Prefeitura de Nova Lima inaugurou a Barragem dos Cristais, a 2ª maior obra da história do município que vai pôr fim às enchentes e a uma história de aflição, insegurança e destruição vivida por tantas famílias nova-limenses. Construída com recursos do Governo Federal e contrapartida do município, a Barragem Ribeirão dos Cristais possui 41 metros de altura e 105 de comprimento. Está localizada a 500 metros do Centro de Educação Ambiental da AngloGold Ashanti, cujo acesso segue pela estrada do bairro Campo do Pires, que dá acesso a Macacos. A obra recebeu investimentos da ordem de R$ 34 milhões, sendo R$ 5 milhões de contrapartida municipal.


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PÁGINAS VERDES

“A ÁGUA É O TESOURO FOTOS: DIVULGAÇÃO

DO MILÊNIO” Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

T

alentosa. Inteligente. Engajada. Como se não bastasse, uma das mulheres mais lindas do Brasil e totalmente de bem com a vida. Atriz, escritora, roteirista e produtora, a cidadã Bruna Lombardi surpreende também pela veemência com que defende a causa ambiental. Há alguns meses, reapareceu na TV falando sobre economia de água e, em um vídeo postado em sua página no Facebook, mostrou-se sensível à preocupante crise de abastecimento em São Paulo. Na filmagem caseira e em linguagem simples (para ver o vídeo, acesse o link goo. gl/0o3lzB), a estrela que eternizou Diadorim, do mestre Guimarães Rosa, “ensina” a tomar banho, com direito a lavar os longos cabelos, gastando o mínimo de água e em exatos cinco minutos. Pronto. Bastou o primeiro clique para o vídeo se tornar viral e registrar nada menos que 10 milhões de visualizações. Diretamente de Los Angeles (EUA), Bruna concedeu entrevista exclusiva à Revista Ecológico. Otimista e amorosa, ela declarou sua paixão por Minas e sentenciou: “A água é o maior tesouro do milênio. Fico feliz em poder fazer a minha parte. Quero usar meu nome e meu trabalho para continuar envolvida em ações ambientais e ampliar a transformação por um mundo melhor”. Confira:

BRUNA LOMBARDI: “De gota em gota, a gente faz a diferença!”

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B R U N A LO M B A R D I

Atriz, escritora, roteirista e produtora

“Estamos tratando recursos naturais finitos como se fossem infinitos.”

SISTEMA CANTAREIRA, em São Paulo: de crise em crise, a questão hídrica já dói na vida dos paulistanos

Este é o primeiro vídeo com foco em uma questão ambiental que você cria e compartilha com o público? Como surgiu a ideia? Como a situação da água em São Paulo hoje é emergencial pensei: “O que eu poderia fazer para ajudar?”. Às vezes, a gente paralisa. A questão é tão séria, que nos achamos impotentes e não conseguimos fazer nada. Mas, se cada um fizer um pouquinho, faremos a diferença. Foi aí que surgiu a ideia de fazer um vídeo caseiro. Queria estimular as pessoas a compreenderem que uma pequena ação, dentro de casa, pode fazer uma enorme diferença. E então nasceu a frase: “De gota em gota, a gente faz a diferença!” Você é uma formadora de opinião. Tem uma legião de fãs inclusive nas redes sociais. Pretende usar essa sua “audiência” para abordar outros temas ligados à conservação ambiental?

Para mim, água é um tema fundamental, porque é o maior tesouro do milênio. Falo dela no nosso filme “Amor em Sampa”, que vai estrear em breve, e no vídeo postado na minha página no Facebook (www.facebook.com/brunalombardioficial) para conscientizar as pessoas sobre o uso consciente desse recurso natural. Para minha surpresa, o vídeo tornou-se viral e teve mais de 10 milhões de visualizações. Há anos, tenho sido uma ativista em tudo o que acredito e trabalho constantemente para defender e transformar a maneira como lidamos com a natureza e os seus recursos. Como você tem atuado? Em que acredita? Precisamos repensar uma mudança de estilo de vida que permita despoluir o nosso ar, desenvolver o uso da energia limpa, fazer uso sustentável das florestas, plantar árvores, proteger os animais, ter

QUEM É

ELA

Apaixonada por bichos, a leonina Bruna Lombardi cria, em São Paulo, Amora, Tango e Tom, três vira-latas pegos por ela na rua. Na casa em Trancoso, na Bahia, há outros oito cachorros e quatro gatos. Todos adotados. Sempre que pode ela faz campanhas contra maus-tratos e abandono de animais. É “piscovegetariana” e bebe muita água. Álcool, só socialmente. E não fuma. Mas, acima de tudo, procura ser coerente com os seus valores de vida. É casada com o ator e diretor Carlos Alberto Riccelli e tem um filho.

alimentos livres de agrotóxicos e muitas outras questões. Educação ambiental tem que estar nas escolas. Fico feliz em poder fazer a minha parte. Quero usar meu nome e meu trabalho para continuar

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envolvida em ações como essas e ampliar a transformação por um mundo melhor. Quando se fala em meio ambiente, considerando o Brasil e o mundo, o que mais lhe preocupa ou primeiro lhe vem à mente? Estamos tratando recursos naturais finitos como se fossem infinitos. Dizimando fauna e flora e acabando com os rios. Essa responsabilidade com o planeta é de todos. As mudanças climáticas, o aumento drástico das temperaturas, as grandes enchentes e as secas terríveis são consequências. Mas ainda dá tempo de reverter essa situação, mudando tanto o comportamento individual quanto a vontade política – que deve se voltar para essa situação emergencial. Além do banho consciente, você adota outros hábitos sustentáveis em sua rotina? Há décadas me preocupo com a economia de energia elétrica, a reciclagem de lixo, o consumo de alimentos orgânicos, muito antes de esses temas terem tanto espaço na mídia. A minha casa tem vários recursos de reaproveitamento de água, energia solar e de reciclagem de lixo. Tenho também uma pequena horta, mas a gente trabalha para que haja cada vez mais hortas orgânicas comunitárias… No seu aniversário, em agosto, você visitou crianças no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Foi uma ação pontual ou você sempre faz isso? Faço isso há muitos anos. Inclusive, sou madrinha da Amigo H, associação do Hospital Albert Einstein. Abraço várias causas em que posso ajudar as pessoas a serem mais felizes. Assim como cuidar de animais abandonados, procurar abrigos e incentivar a adoção. 22  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2014

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O que a gente quer é dar mais alegria a todos. Na minha página no Face e em toda a minha comunicação com a mídia, a mensagem é: melhorar a vida das pessoas e do planeta. Luto por um mundo mais verde, pelo fim da violência contra mulheres e por uma sociedade de paz e harmonia. Queremos mais qualidade de vida para o cotidiano das pessoas. Saúde física, emocional e espiritual. Atingimos o equilíbrio quando conseguimos equalizar todos os canais de percepção do corpo. Em recente entrevista à TV você disse: “Sou uma pessoa sensitiva, que acredita na capacidade de despertar o melhor nos outros”. Como cultivar essa virtude em tempos de tanta correria e carência de gentilezas? Fazendo um trabalho que seja generoso e alcance as pessoas. Não podemos olhar apenas para o próprio umbigo, precisamos ter uma visão do todo. Pensar no outro e na coletividade é trabalhar por um mundo melhor. Ser gentil beneficia todos. Precisamos estar abertos aos novos conhecimentos, olhar para a vida como uma grande escola. Estamos todos aprendendo o tempo inteiro. É preciso eliminar o egoísmo, distribuir e compartilhar os saberes. Assim, teremos um mundo melhor e mais feliz. O tema do Prêmio Hugo Werneck 2014, promovido pela Revista Ecológico, foi a preservação do Cerrado e das veredas retratadas por Guimarães Rosa. Nos anos 1980, você eternizou Diadorim, personagem de “Grande Sertão: Veredas”. Como foi o “mergulho” em Minas durante as filmagens? Que lembranças você guarda? Minas é um dos lugares mais importantes da minha vida. Eu me considero mineira por adoção, tenho muitos amigos queridos

BRUNA POETA TRAJETO “Eu fui pisando no medo até chegar na coragem. Eu disse a ele ‘não chora’, que a vida da gente demora para ir onde a gente quer. Só que o lugar é agora, é aqui, no que está acontecendo. Não adianta ficar prevendo, pensando no que virá, que a gente se esquece do agora e só fica preocupada. O bom mesmo é a trajetória porque não existe chegada. A gente só sabe mesmo é que a gente não sabe nada. Até que a gente descobre que a gente sabia tudo mas tudo estava escondido. E o tempo não foi perdido. Foi o tempo da jornada. Então eu disse ‘vem junto’, a gente vai nessa trilha, nessa doce caminhada, com toda dificuldade que existe em qualquer viagem. Aprende, resiste, reinventa erra, desiste ou tenta, mais uma vez, e acha jeito de achar uma passagem. Vem para perto, fica junto e vamos indo pelo medo até chegar na coragem.”

aí. Sem dúvida, é um dos lugares mais bonitos do mundo. Foi em Minas que tudo começou quando interpretei Diadorim, uma das personagens mais importantes da literatura brasileira. Esse papel mudou a minha vida. Durante três meses, tive de treinar muito. Fiz aulas de tiro, de faca e aprendi a domar cavalo selvagem, além de atividades físicas pesadas para um forte preparo físico. Nessa viagem, registrei minha transformação e metamorfose para

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R e s p e i t o a o m e i o a m b i e n t e é u m d o s n o s s o s va l o R e s . Á g u a l i m pa e t R ata d a é o n o s s o c o m p R o m i s s o .

A CBMM tem um grande respeito pela natureza e principalmente pela água que utiliza. Localizada em Araxá, a companhia recircula hoje 95% da água usada em seus processos de produção. Investindo continuamente em tecnologia e controle de qualidade, a CBMM espera alcançar a marca de 98% nos próximos dois anos. Esse é um compromisso com o meio ambiente e com o futuro. CBMM. Aqui tem nióbio.

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“Precisamos cuidar do corpo. É ele que carrega a nossa alma. Saúde é fundamental, mas quando a gente se gosta, consegue ver beleza em tudo.”

me tornar Diadorim. Esse relato deu origem ao meu livro: “Diário do Grande Sertão”, escrito para não enlouquecer e conseguir me orientar nessa nova identidade. Você nasceu no Rio de Janeiro e há anos divide seu tempo entre Los Angeles e São Paulo. Que paisagem ou destino considera a cara do Brasil? O Brasil inteiro é muito especial para mim. É um dos países com o maior potencial turístico do mundo, graças à sua diversidade cultural e belezas naturais. Tenho o maior orgulho de ser brasileira, adoro o meu país. Temos uma diversidade de gente, de comida, de cultura, de paisagem... De norte a sul, temos vários “Brasis”. Beleza: você é um ícone nacional. Considerando a diversidade brasileira, os

BRUNA NAS REDES SOCIAIS 

“Vamos cuidar dos nossos rios. Água não se fabrica.”

 “Gente, como estamos vendo nas notícias, o Sistema Cantareira está em alerta. Ele abastece toda a Grande São Paulo e é um dos maiores sistemas de abastecimento de água do mundo. A situação é a mais crítica da história! Essa também é uma luta nossa! Vamos preservar a natureza, cuidar dos nossos rios, economizar a água que usamos em nosso dia a dia. São pequenas ações que fazem a diferença, pequenos atos de economia. Assim, poderemos reverter esse quadro e voltar a ver a Cantareira linda e cheia de vida!”  “A situação em São Paulo está cada vez mais difícil. Já falta água em muitos bairros. Precisamos mais do que nunca nos conscientizar e economizar água. Pense em todas as pequenas coisas que você pode fazer no dia a dia. De gota em gota, a gente faz a diferença!”  “Olhem para o céu com essa lua cheia linda que está nascendo agora! Você não está aqui por acaso. Vamos juntar nossos pensamentos positivos e pedir o melhor do universo para todos.”

“Crie os seus filhos com amor e valores legais. Ensine-os a amar os bichos e a natureza. Assim, você já está contribuindo para um mundo melhor.”

 “A natureza é generosa e está repleta de coisas lindas que nos fazem bem. Você já reparou nas árvores do seu bairro?”

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B R U N A LO M B A R D I

Atriz, escritora, roteirista e produtora

padrões ditados pela moda, o culto à magreza... O que é beleza para você? Vejo beleza em tudo e em todos, respeito a diversidade. Na minha página do Face estimulo o amor e que todos gostem de si como são, com os mais diferentes padrões. Precisamos sempre buscar o equilíbrio espiritual. E isso faz com que a beleza física não seja primordial. Precisamos estar bem de corpo e alma. Claro que devemos cuidar do corpo. É ele que carrega a nossa alma. Saúde é fundamental, mas quando a gente se gosta, consegue ver beleza em tudo. Mais uma vez, o segredo é alcançar o equilíbrio emocional, mental, físico e espiritual. Que valores considera importantes cultivar no convívio

com a família e os amigos? O amor, acima de tudo. Sempre! Eu sou daquelas que se pergunta o que fiz para merecer tanto amor e sou profundamente agradecida pela família que tenho. A gente divide e mistura o trabalho em tudo o que faz: arte e vida, criação e diversão, compromisso e responsabilidades. Buscamos a excelência em tudo, em fazer um trabalho generoso, que toque as pessoas, mexa com as emoções e faça bem a todos. É otimista em relação ao futuro da natureza? Acredita que a humanidade corrigirá a sua trajetória, adotando novos hábitos em favor da conservação do planeta? O Brasil é um país abençoado com todos os recursos naturais.

Há uma enorme esperança. Que futuro a gente quer? O problema econômico, social e ambiental não vem da falta de recursos, mas sim das escolhas e da má distribuição. O que virá depende de nossas escolhas agora. O Brasil pode ser o maior exemplo de energia limpa do século XXI e fazer da biotecnologia o seu grande trunfo. Quer deixar um recado para os nossos leitores? Quero que entrem nas minhas redes sociais. No Face, no Instagram (lombardibruna), no Twitter (lombardibruna) e no YouTube (Brunalombardi). Lá eu converso com os fãs sobre as coisas em que acredito, troco ideias, mostro meus vídeos e fotos. É uma grande troca amorosa. As pessoas se sentem mais felizes na página. 

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SOU ECOLÓGICO

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

OS DESTACADOS: Álvaro Lage (Bahamas), Antônio Celso Azevedo (Verdemar) e Viviane Nascimento (Super Nosso)

ARTBHZ ECOLÓGICA O produtor cultural Lúcio Oliveira (ARTBHZ) e dona Dalca, sua mãe, no aconchego de Pompéu, na beira do Rio Paraopeba.

COMENDADOR VALIM O sociólogo e professor Elson Valim, coordenador do "Programa Parcerias com Organizações Sociais (POS) da Fundação Dom Cabral", também adotado pela Revista Ecológico, foi premiado com a Comenda Liberdade, outorgada pelo Rotary Club de BH Liberdade. A cerimônia ocorreu no último dia 22.

OSCAR DA AMIS Durante cerimônia concorrida, tipo o “Oscar” do setor, na noite do último dia 27, em Nova Lima (MG), o Verdemar foi agraciado com o “Destaque dos Destaques” do “Troféu Gente Nossa Supermercadista 2014” na categoria “Sustentabilidade”, ao lado das redes Bahamas e Super Nosso. A entrega das premiações, promovidas pela Associação Mineira de Supermercados (AMIS), foi feita pelo jornalista Hiram Firmino, diretor da Revista Ecológico.

FOTO: LUÍSA NAVES

FOTO: DIVULGAÇÃO

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ELSON VALIM: reconhecimento

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Acesse o blog do Hiram:

hiramfirmino.blogspot.com

AS MAIS SUSTENTÁVEIS Quarenta por cento das empresas associadas ao Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) foram vencedoras e citadas na “15ª Edição do Guia Exame de Sustentabilidade" como uma das mais sustentáveis do país. O Guia avalia a estratégia e as práticas das empresas nas áreas de sustentabilidade, governança corporativa, econômico-financeira e social, sendo uma das pesquisas mais abrangentes realizadas no Brasil. A metodologia e a análise dos dados são desenvolvidas pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces), instituição de referência no desenvolvimento de estratégias, políticas e ferramentas de gestão públicas e empresariais em sustentabilidade no país.

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FOTO: WORLD TRAVEL & TOURISM COUNCIL

GENTE ECOLÓGICA FOTO: HYACINTHE RIGAUD

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“A honra é como a pedra preciosa: um pequeno defeito faz o seu preço ser enormemente reduzido.”

FOTO: JOSÉ PAULO LACERDA

JACQUES BOSSUET, teólogo francês

SHELLEY CARNEIRO, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI

“Luto pela causa ambiental porque quero sobreviver. Esse é meu interesse. É um erro separar o próprio bem-estar do bem-estar de outros seres vivos do mundo. Nós e o meio ambiente fazemos parte da mesma coisa.” DARYL HANNAH, atriz e ativista norte-americana

“Se não retomarmos as políticas de incentivo ao etanol, vamos matar uma das galinhas dos ovos de ouro do Brasil. Como não estimular a produção de um combustível que é limpo, renovável, brasileiro?” "O carro de hoje é o cigarro de ontem."

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Nosso objetivo é construir estratégias de negócios sustentáveis, que garantam a competitividade da indústria no cenário de uma economia de baixo carbono.”

MARCONI PERILLO, governador de Goiás

JAIME LERNER, arquiteto e urbanista

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FOTO: DIVULGAÇÃO

NIÈDE GUIDON Reconhecida internacionalmente pelas pesquisas sobre sítios préhistóricos no sul do Piauí, a arqueóloga doou mais de um terço do valor do prêmio de R$ 300 mil que recebeu da Fundação Conrado Wessel para realizar obras na pista do aeroporto da cidade de São Raimundo Nonato. As modificações na pista foram uma condição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para liberar R$ 13 milhões para a inauguração do Museu da Natureza, que ficará dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara.

“Essa polarização que se viu nas eleições é ridícula. Governos, presidentes e partidos passarão. Tem que parar com essa palhaçada de divisão do povo entre partidos. Se continuar do jeito que está, vamos virar uma venezuelazinha de quinta. E esses pedidos de volta da intervenção militar? Horrível, um retrocesso.”

FOTO: ANTÔNIO CRUZ / ABR

JOHN PARSONS, ambientalista

DÉLIO MALHEIROS Quem o imaginava um político e ativista dividido, se enganou. Mineiramente, o atual secretário municipal de Meio Ambiente e viceprefeito de BH tem sido um coringa e aliado estratégico do prefeito Marcio Lacerda em sua pegada pela sustentabilidade. Sua recente e surpreendente tarefa, consorciada com o Iclei junto de mais um evento internacional sobre a sustentabilidade que a capital mineira sediou, foi convocar e reunir todos os seus pares em busca da municipalização da gestão ambiental. Isso explica sua recondução, por aclamação, ao cargo de coordenador-geral do CB27, que é o Fórum dos Secretários de Meio Ambiente das Capitais Brasileiras.

NEY MATOGROSSO, cantor, ao jornal O Globo

FOTO: TV GLOBO ZE PAULO CARDEAL

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

CRESCENDO

“Enquanto não mudarmos nosso convívio com o planeta que nos sustenta, seremos destruídos. Nos últimos 40 anos, o clima caminhou na direção de um descontrole catastrófico. Agora, estamos vendo a destruição de muitas espécies. Mas quando será nossa vez?”

“Antigamente, para desfazer um relacionamento, você tinha que sentar na frente do outro, tinha de olhar, dizer os porquês, e, às vezes, mentir. Tudo muito difícil, mas era vivido a dois. Agora não. Você pega e deleta. A pessoa que se arrebente lá sozinha.” MAITÊ PROENÇA, atriz e escritora, sobre seu último livro “Todo Vícios”

“Não. Atualmente só lembro nome de bicho!” ANGELO MACHADO, biólogo, em resposta a uma repórter que o abordou na entrega do "V Prêmio Hugo Werneck". Ela já o entrevistou dezenas de vezes e perguntou se o professor se lembrava dela

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

MINGUANDO

CARLOS MIELE O estilista, proprietário da M5, empresa detentora da marca M. Officer, teve a firma condenada judicialmente pela exploração de trabalho escravo. Em sua decisão, a juíza responsável pelo caso considerou a empresa responsável pelas condições a que um grupo de trabalhadores resgatados estava submetido em oficina “quarteirizada”. A empresa terá de pagar R$ 100 mil a um trabalhador resgatado a título de indenização por danos morais. DEZEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO  29

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Quanto vale a sombra de um buriti?

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QUANTO VALE O EXEMPLO DAS

EMPRESAS?

Mais de duas décadas depois da ECO/92, quando foram apontadas como “vilãs” do meio ambiente, as principais empresas do país já abraçam e realizam a sustentabilidade, muito mais que governos e cidadãos comuns Hiram Firmino

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ssa foi uma das conclusões da quinta edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, realizada pela Revista Ecológico e presidida pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, na noite do último dia 11 de novembro, em Belo Horizonte. Diante de um público representativo de 500 convidados, entre militantes, empresários e políticos, que lotou o Teatro Francisco Nunes, em pleno Parque Municipal, foi possível constatar essa tendência que parece ser irreversível diante das mudanças climáticas. Dos 67 projetos selecionados em 2014, não apenas de Minas, como também de cinco outros estados brasileiros, dentro do processo de nacionalização crescente da premiação, 89,5% deles foram inscritos por empresas – e não por ONGs, cidadãos ou órgãos de governo ligados à questão ambiental. Detalhe também importante e confirmado pelos jurados: em sua grande maioria, os projetos

finalistas dessas empresas concorreram com cases extras e específicos de sucesso. Ou seja, com ideias, ações e resultados aferidos além do simples cumprimento do que já manda a legislação ambiental, o que também confere prova de “amor à natureza”, segundo pilar da premiação. Na opinião das instituições que apoiam o evento, isso significa que, com o poder econômico e de escala produtiva que têm em mãos, sem falar na pressão do mercado consumidor cada dia mais consciente do estado nada ecológico do mundo, vide o esgotamento das reservas naturais, as empresas verdadeiramente responsáveis têm saído na frente. Elas são mais capazes que os governos, os políticos e os cidadãos de captar as mensagens da sociedade e de dar, cada uma, sua contribuição à causa comum da sustentabilidade. Parodiando Caetano Veloso em sua canção “Sampa”, desde que conscientes e pragmáticas, as empresas brasileiras e seus braços globais têm

mais condições de não “apagar as estrelas” com suas poluições; mas sim “reerguer coisas belas” onde implantam seus negócios, à custa do meio ambiente que, até a RIO/92, geralmente só degradavam ao chegar. São exemplos infindos que você vai conhecer nesta edição, por comprovarem a esperança no “economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente mais justo”. Ou seja, o tripé da sustentabilidade, uma das 10 palavras mais acessadas hoje na internet. Palavra mágica e real que, lato sensu, não tem nada de glamourosa. Significa “sobrevivência”! A de todos nós e do planeta, daí a sua importância estratégica tematizada este ano com o valor-símbolo da sombra de um buriti, inspirado na frase de Hugo Werneck. Do pioneirismo de Paulo Nogueira Neto, primeiro ministro de Meio Ambiente do país, às veredas de Guimarães Rosa, em defesa do Cerrado, confira, a seguir, os vencedores e homenageados do “Prêmio Hugo Werneck 2014”.

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FOTO: THIAGO FERNANDES

redacao@revistaecologico.com.br

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

HOMENAGEM

Paulo Nogueira Neto

FOTO: GUALTER NAVES

Evandro Xavier e o exministro José Carlos Carvalho entregaram a estatueta à ministra Izabella Teixeira: cochicho à mineira

Biólogo, advogado e escritor, professor emérito da Universidade de São Paulo, PhD em Ciências Biológicas e presidente emérito do Conselho da WWF-Brasil, Paulo Nogueira Neto tem lugar cativo na história ambiental do país. Ativista desde a juventude, à frente da Associação de Defesa do Meio Ambiente de São Paulo (Adema), ele foi o criador da Secretaria Especial de Meio Ambiente (Sema), que presidiu durante doze anos, nos difíceis governos Médici, Geisel e Figueiredo. Na época, a então “secretaria verde” era ligada diretamente à Presidência da República, no âmbito do Ministério do Interior, depois transformada em Ministério de Meio Ambiente e Habitação. Até 2012, apesar da idade avançada, Paulo Nogueira foi o membro mais assíduo às reuniões do Conselho Nacional de Meio Ambiente, o Conama, em Brasília, cuja criação teve a sua inspiração no Conselho de Política Ambiental (Copam) de Minas. Aos 92 anos e com dificuldades de locomoção, ele deixou uma mensagem em vídeo, bem-humorada, sobre a coin-

cidência de ele, em São Paulo, e Hugo Werneck, em Minas Gerais, terem usado o mesmo tipo de transporte no alvorecer de suas lutas e carreiras como ambientalistas e amantes da natureza. Este transporte, que também servia como sede ambulante de suas respectivas ONGs, era... uma velha Kombi! Ao receber o prêmio em nome do ambientalista, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, acompanhada do ex-ministro José Carlos Carvalho, afirmou que “Dr. Paulo é um homem que não viu o meio ambiente apenas pelo verde. Ele tinha preocupação com a qualidade do ar, das águas. Criou e liderou o Conama em uma época em que não se falava em conselhos deliberativos. Se temos um Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) é graças a ele, que teve a coragem de propô-lo durante a ditadura, em forma de uma lei (6.938) que hoje, no Congresso, não seria aprovada. A homenagem a ele é mais que simbólica. Ele tem uma história ambiental no país que orgulha a todos os brasileiros”. Confira, a seguir, mais trechos da fala da ministra.

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“O sertão se divulga é onde os pastos carecem de fecho.”

FOTO: MARCELLO CASAL JR. / ABR

Lembranças amorosas

“A HOMENAGEM a dr. Paulo e à sua história é mais que simbólica. Vou pessoalmente entregar o Prêmio Hugo Werneck a ele”, disse a ministra

“DR. PAULO está absolutamente lúcido e continua me escrevendo cartas e recados sobre o que devemos fazer no meio ambiente do Brasil. Isso mostra o carinho e a atenção dele com a agenda. Foi meu primeiro chefe e se eu construí essa carreira no setor público foi graças a ele. Ela aconteceu de maneira muito inusitada, pois eu era pesquisadora na Universidade de Brasília e estudava o comportamento sexual do caramujo.” “DR. PAULO é extraordinário como homem público e profissional. Levamos anos para fazer a Lei Complementar 140 e ela não tem, no meu ponto de vista, a perfeição política que a 6.938 tem, e que ele ajudou a criar. Ele tinha o olhar para o setor empresarial, para a sociedade civil, para a capacidade de trabalhar com os estados – isso há 30 anos! É um homem extremamente competente, dedicado e de uma generosidade que eu encontrei em pouquíssimos seres humanos na minha vida profissional.” “GUARDO histórias muito divertidas. Ele foi declarado persona non grata pelo então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães. Era por conta da instalação de uma indústria química, perto de Salvador, que tinha um problema de contaminação de mercúrio. Ele enviava a pesquisadora Sandra Hacon, que era hippie e hoje está na Fiocruz, para a Bahia, e ela fazia o monitoramento de mercúrio,

ouvia os pescadores. Ela voltava e entregava os dados para o dr. Paulo para ele não licenciar o empreendimento lá.” “DR. PAULO ia nos garimpos, em Poconé (MS) e dizia para os garimpeiros que o mercúrio causava impotência. Não é verdade, mas ele pedia perdão a Deus e falava isso para que eles não degradassem mais o meio ambiente. E tentava convencer as pessoas a adotar práticas e trabalhos que não destruíssem a natureza.” “ELE TEVE um cuidado de tomar nota, diariamente, de fatos da política ambiental do Brasil e do mundo. Parte disso está reunido em um livro, que todo mundo deve ler, para entender o que é meio ambiente. Tinha como amigo o jornalista Rogério Marinho que, religiosamente, toda sexta-feira, almoçava com ele. E juntos discutiam como o setor privado poderia contribuir para a criação de áreas protegidas.” “A HOMENAGEM à sua pessoa e história é mais que simbólica. Vou pessoalmente entregar o Prêmio Hugo Werneck a ele. Comecei minha carreira com dr. Paulo e vou terminar a minha gestão, no Ministério do Meio Ambiente, com ele. É um amigo querido, um inspirador e, mais do que isso, uma pessoa com um caráter que raramente se encontra nos homens públicos deste país.”

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

MELHOR PARCEIRO SUSTENTÁVEL FOTO: ROBERTO MURTA

VALE

BELEZA IMENSURÁVEL da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Capivari II na região de Itabirito: biodiversidade também preservada em outras 16 Unidades de Conservação (UCs) que a Vale administra no Quadrilátero Ferrífero de Minas

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FOTO: GUALTER NAVES

“Os gerais correm em volta. Esses gerais são sem tamanho.”

FIQUE POR DENTRO

OS PROJETOS VITORIOSOS  “Mapeando Sinergias pela Sustentabilidade da Pan-Amazônia”, Fundo Vale/Associação Vale para o Desenvolvimento Sustentável  “Estudo de Valoração Econômica Total da Reserva Natural Vale”, Vale  “União intersetorial para a prevenção e combate a incêndios florestais Vale, Amda, Terra Brasilis e Governo do Estado, juntos pela preservação ambiental”, Vale  “Prestação de Serviços Ecossistêmicos a partir da Criação e Manutenção de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs)", Vale

A maior mineradora brasileira concorreu com o somatório de quatro projetos distintos nesta edição do prêmio. O primeiro deles foi ter mapeado as sinergias pela sustentabilidade do bioma amazônico em oito países e parte do Pantanal Brasileiro. O seu segundo projeto foi ter estudado quanto valem 23 mil hectares de Mata Atlântica que ela preserva no sul do Espírito Santo, onde hoje conseguem sobreviver 20% das espécies de aves registradas no país, incluindo mais de 2.800 espécies de plantas e uma das últimas populações de onçaspintadas da região. O seu terceiro projeto exitoso ocorre no Quadrilátero Ferrífero de Minas, onde a empresa foi além do cumprimento da lei. Ela ajudou o estado e várias ONGs parceiras a salvarem do fogo, na forma de brigadas, mais de 40 mil hectares de

Alceu Torres (Semad), Gleuza Jezué (Fundo Vale), Vania Somavilla (Vale) e Izabella Teixeira (MMA): prêmio à preservação ambiental e valoração da natureza

“A nossa preocupação com o meio ambiente é crescente e relevante. E entendemos que é impossível fazer desenvolvimento sem preservação.” VANIA SOMAVILLA, diretora de Sustentabilidade e Energia da VALE

áreas verdes que protege, reservas legais e particulares. Em seu último projeto, à lem-

brança de Hugo Werneck, a vencedora de 2014 também se perguntou quanto custam os serviços que a natureza nos presta nas 17 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) que ela criou e preserva no Quadrilátero Ferrífero. Quanto vale o estoque de carbono nelas armazenado? E as águas existentes que são imprescindíveis para o abastecimento de municípios próximos a elas? Considerada uma das 20 empresas com melhores práticas sustentáveis do país, a Vale investiu quase R$ 3 bilhões em ações socioambientais em 2013.

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

MELHOR EMPRESA

FIEMG

Estender as mãos e ajudar as indústrias a se tornarem fontes de negócios rentáveis, ecologicamente corretos e socialmente responsáveis, incentivando o uso de novas tecnologias e o bom relacionamento com as comunidades do entorno. É com esses objetivos e em sintonia com o bem-estar coletivo que o “Programa Minas Sustentável”, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), segue ampliando as suas ações e beneficiando, em especial, as micro e pequenas empresas. Lançado em 2010, o programa foi implantado em formato piloto nas cidades de Contagem e Betim. Na etapa seguinte – com a metodologia testada e aprovada pelos empresários locais – ex-

“A indústria está deixando de ser vista como patinho feio pela sociedade.” CIBELE MAGALHÃES, coordenadora do programa “Minas Sustentável”

pandiu suas atividades e hoje está presente em toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte (Regional Sede) e nas regionais Fiemg do Vale do Aço, Pontal do Triângulo, Vale do Paranaíba, Vale do Rio Grande, Norte, Rio Doce e Alto Paranaíba. Os resultados alcançados são animadores. Atuando na Gerência de Desenvolvimento Social (SESI), com o apoio da Gerência

de Meio Ambiente da Fiemg, a equipe do Minas Sustentável contabiliza, entre outros indicadores, 2.267 empresas diagnosticadas (com relatórios socioambientais concluídos e entregues), 1.188 pessoas capacitadas e 1.488 indústrias orientadas para a obtenção do licenciamento ambiental. “Em 2015, nossa meta é chegar à Zona da Mata, ao Sul e ao CentroOeste”, informa a coordenadora do Programa Minas Sustentável, Cibele de Araújo Magalhães. CUIDANDO DA ÁGUA Entre as ações desenvolvidas ao longo deste ano merece destaque a “Indústria na Meta 2014”. Essa parceria, firmada com o Projeto Manuelzão, é destinada a desenvolver, em conjunto com o empresariado,

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FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

“O dia vindo depois da noite. Esse é o motivo dos passarinhos.”

Olavo Machado, ao lado de Patrícia Boson (Ecológico), recebe a estatueta das mãos de Lázaro Luiz Gonzaga, presidente da Fecomércio/Sesc/Senac-MG: reconhecimento à indústria verde

ações para a despoluição do Rio das Velhas, nas sub-bacias dos ribeirões Itabirito, Arrudas, Onça, da Mata, Jequitibá, Água Suja, Caeté-Sabará e Jaboticatubas. De janeiro a setembro foram visitadas e orientadas 335 empresas. Nessa parceria, o “Minas Sustentável” oferece capacitações e orienta as indústrias a adotarem ações de conservação e reutilização da água, com foco no tratamento de efluentes industriais e na gestão de resíduos. “Percebo que a mudança de atitude é coletiva. Ao apoiar as empresas na avaliação dos impactos ambientais de suas atividades e na identificação das oportunidades de melhoria de seus processos, estamos ajudando também a consolidar uma nova imagem do setor. A in-

“Acho que estou virando ecologista. Li uma frase do dr. Hugo afirmando que você deve influenciar as pessoas. E eu fui influenciado.” OLAVO MACHADO, presidente da Fiemg

dústria está deixando de ser vista como patinho feio pela sociedade e comprovando que tem cuidado e compromisso verdadeiro com o meio ambiente, em especial com a água, um bem vital e a cada dia mais escasso”, pondera Cibele.

As micro e pequenas indústrias que buscam a regularização ambiental e o aperfeiçoamento de seus processos se beneficiam ainda de outra parceria, entre o Minas Sustentável e a Caixa Econômica Federal (CEF). Atualmente, já são 18 empresas com financiamentos aprovados, totalizando aproximadamente R$ 10 milhões em investimentos. Ao agradecer, o presidente da Fiemg confessou: “Acho que estou virando ecologista. Li uma frase do dr. Hugo afirmando que você deve influenciar as pessoas. E eu fui influenciado. Estou muito feliz em poder receber este prêmio. Estamos colocando as indústrias mineiras na frente das demais justamente pela nossa preocupação e compromisso ambiental.”

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

MELHOR EMPRESÁRIO

Diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi foi responsável pela empresa ganhar o Prêmio Hugo Werneck em 2011, na categoria “Melhor Parceiro Sustentável”. Na época, o executivo fez unir duas áreas geralmente opostas no ramo da mineração – a de Operação e a de Meio Ambiente, esta última quase sempre perdedora – em uma só unidade, chamada “Diretoria de Sustentabilidade”. Em maio último, Vescovi voltou à cena superando a gestão inovadora que havia implantado. Foi durante a palestra que ministrou em uma reunião com os membros da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE/Minas Gerais), na sede da Fiemg, em BH, e que a Revista Ecológico reproduziu, na íntegra, em sua edição 71. Mais que emocionar todos, com seu exemplo de vida e aposta num futuro melhor, por meio da educação ambiental, ele provou que a mineração pode e deve preservar valores outros além do mercado, como respeito, integridade e verdade, como bem retratou no depoimento a seguir:

FOTO: DIVULGAÇÃO

RICARDO VESCOVI

Vescovi à frente da empresa bicampeã do Prêmio Hugo Werneck: as organizações também podem amar

O amor no nosso quintal “Sustentabilidade, amor à natureza e seus princípios. Segundo Alain, pseudônimo literário de Émile-Auguste Chartier, jornalista, ensaísta e filósofo francês nascido em meados do século XIX, o amor ‘é encontrar a riqueza fora de si’. O autor da frase não se refere a riquezas materiais, mas sim àquilo que somos capazes de apreciar e proteger de forma espontânea e gratuita, que dispensa motivo, interesse ou justificação. Pensemos: nós mesmos, homens e mulheres que habitamos o planeta, somos produto social da natureza. Ela também é dona da fauna, da flora, da terra, da água, do clima e dos minérios que nos

“Por trás de cada ação empreendida no caminho da sustentabilidade revela-se o amor pela vida.” oferecem insumos para criar. Hoje e sempre a natureza foi nosso hábitat. Mas, durante muito tempo, ela foi vista como inesgotável em seus recursos, o que faz com que hoje precise ser não apenas lembrada e celebrada, mas também recuperada e preservada. Retomando a fala de Alain, se

amar é encontrar a riqueza fora de si, esse movimento é restaurar o contato com a gênese do que há de mais rico e precioso para cada um de nós: a natureza. Porque ela justifica e alimenta a vida, que deve ser uma vida digna, em que cada um se reconheça no papel de construtor da sociedade que não será nossa pra sempre, mas deve ser de alguém no futuro. Do pioneirismo de Paulo Nogueira Neto às veredas de Guimarães Rosa, em defesa do Cerrado brasileiro. No início dos anos 1980, o dr. Paulo, considerado o primeiro ambientalista brasileiro, foi representante da América Latina na Comissão Brundtland, das Nações

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Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Foi onde surgiu, pela primeira vez, a expressão ‘desenvolvimento sustentável’. Sua defesa persistente de políticas que instaurassem um olhar atento sobre o destino do planeta contribuiu para que a questão ambiental mudasse de patamar na mídia, na indústria e nos governos, dos quais participou em vários cargos públicos. Acredito que, guiando as crenças de Paulo Nogueira Neto, estivesse seu amor pela natureza e pela humanidade. Do Cerrado mineiro, nascido em Cordisburgo, um dos maiores escritores da língua portuguesa, João Guimarães Rosa elevou sua voz para criar uma nova línguapátria, um verdadeiro hino libertário do sertão de Minas Gerais. Com ele, dono de muitos idiomas, a temática regional ganhou feição universal. É como se o escritor trouxesse para a margem a natureza escondida no fundo da terra e do rio, sem intenção de dali retirá-la, mas simplesmente de revelá-la em toda a sua grandeza. A partir da publicação de ‘Grande Sertão: Veredas’, em 1956, ele descortinou seu amor pela natureza. E como não mencionar, ainda, o próprio Hugo Werneck, ambientalista brasileiro, fundador de uma das primeiras ONGs da América Latina a levantar a bandeira do que chamamos hoje de sustentabilidade? O Centro para a Conservação da Natureza, que ele criou, já defendia o meio ambiente, a economia verde e a redução da fome e da pobreza no mundo. No mundo corporativo, quando abrimos o dicionário para procurar palavras que definam nossos objetivos e metas, o termo amor jaz esquecido. Talvez porque nós,

FOTO: GUALTER NAVES

“Vivendo se aprende, mas o que se aprende mais é só fazer outras maiores perguntas.”

O empresário do ano entre Hiram Firmino e Eloah Rodrigues, diretores do Grupo Ecológico: duplo reconhecimento

homens ocupados em pensar e edificar um futuro melhor para nossos descendentes, consideremos que ele é um termo restrito ao âmbito pessoal. Quando o Prêmio Hugo Werneck chama nossa atenção para uma palavra tão expressiva e, ao mesmo tempo, tão frágil, cabe-nos perguntar: o que de amoroso há na busca pelo desenvolvimento sustentável? Talvez a resposta não venha de imediato. Mas se deixarmos por um momento as nossas agendas e mirarmos as lições que amantes da natureza como Paulo Nogueira Neto, Guimarães Rosa e Hugo

Werneck nos legaram, veremos o indispensável: por trás de cada ação empreendida no caminho da sustentabilidade revela-se o amor pela vida, o único que não pode deixar de existir, o que nos garante que o desenvolvimento só se justifica se for para o bem do homem. Talvez a resposta para o que existe à sombra de um buriti não seja outra senão este poder amoroso de transformar o mundo a partir da sombra em nosso quintal.” Acesse o link goo.gl/IctPUY e leia na íntegra a palestra que ungiu a indicação vitoriosa do presidente da Samarco.

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

MELHOR PERSONALIDADE

O homenageado ladeado por José Cláudio Junqueira, o filho Cástor Henrique, Marina Werneck, bisneta de Hugo, e Pedro Borrego, diretor de Sustentabilidade da Anglo American: história de vida e humildade

história ecológica de Minas ele agradeceu, em especial, a cinco companheiros de luta: Hugo Werneck, Angelo Machado, Octávio Elísio, José Cláudio Junqueira e José Carlos Carvalho: “Nos anos 1970, pela primeira vez em Minas, houve aglutinação de pessoas em torno de uma causa ambiental. Éramos FOTO: REPRODUÇÃO

“Ficar nas coisas negativas? Não. Havendo o sol, para que ficar nas sombras? Se há sombras, o sol da esperança dos que vêm atrás de nós vai fazer com que elas diminuam. Para alguém que teve a felicidade de cair neste país, aos 18 anos, e nunca se sentiu estrangeiro, e de ter uma mulher e um filho brasileiros, é aqui que quero morrer.” Foi com esse depoimento emocionado que o vencedor da categoria “Melhor Personalidade” recebeu a estatueta em homenagem à sua história atuante na luta ambiental. Uma das mais importantes autoridades sobre paleontologia em Minas e no Brasil, Cartelle é formado em Letras Clássicas, Filosofia, História, Biologia, mestre em Geociências e doutor em Morfologia. Sua mais recente obra, o livro “Das Grutas à Luz”, que teve o apoio de Ilmar Bastos e da Anglo American, e prefácio do nosso ex-governador e futuro senador da República, Antonio Anastasia, já se tornou referência da história arqueológica do estado. Ex-criador e participante histórico do Copam, Cartelle ainda tem um sonho: que essa obra chegue a todas as instituições de ensino, estudantes e pesquisadores em paleontologia e arqueologia do país. E que o dinheiro arrecadado com a venda dos exemplares seja revertido para o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, do qual é um dos curadores, renascido como uma fênix, também este ano, das chamas de um incêndio, a exemplo do que ocorreu em quase todo o país. “Vejo, com esse prêmio, que fiz alguma coisa útil”, disse ele. Ao relembrar fatos importantes da

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

CÁSTOR CARTELLE

O SONHO de Cartelle é que o livro esteja em todas as instituições de ensino do país

contra a construção de um aeroporto em uma região cárstica. Não conseguimos impedi-la, mas, pelo menos, criamos a APA Cárstica de Lagoa Santa. Foi assim que conheci o dr. Hugo, esse humanista ambiental e ambientalista humano. E também o Angelo Machado, de quem fui suplente no Copam, e que exigia presença permanente para que eu aprendesse sobre como o estado de Minas pensa a questão ambiental. Isso com a influência, também, do Octávio Elísio, esse gigante não só em altura, mas em coração. Nessa trajetória, também fui levado pelas mãos de um antigo aluno meu que acabou virando meu professor: José Cláudio Junqueira. Além deles, há uma outra pessoa, pensador do futuro que sempre traz ideias geniais para o presente: José Carlos Carvalho. Hoje, só quem recebeu seus ensinamentos consegue fazer alguma coisa boa no meio ambiente.”

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No próximo ano, vamos continuar com o nosso jornalismo verdade e uma programação ainda mais diferenciada, com o melhor sinal HD.

AFINAL, É POR VOCÊ QUE A RECORD MINAS FAZ MAIS. FELIZ 2015! www.recordminas.com

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

DESTAQUE NACIONAL O grande vencedor desta categoria proporcionou aos brasileiros uma aula magna de jornalismo e educação ambiental, por meio de uma reportagem sobre a tragédia climática da seca e da falta d’água vivida na pele e na garganta de moradores do Sudeste brasileiro. Uma tragédia que tem causa, mas presidente algum na nossa história política jamais ousou enfrentar com o coração pulsante: o desmatamento ignorante, criminoso e continuado da Floresta Amazônica. Ao receber e agradecer o prêmio em nome da equipe do Fantástico, o diretor de Jornalismo da TV Globo Minas, Renê Astigarraga, ressaltou: “Esse tipo de denúncia nos ajuda a proteger o planeta por muito mais tempo, para nossos filhos, netos e as gerações que virão”. Acesse o link goo.gl/WH21cm e assista ao vídeo vencedor.

FOTO: GUALTER NAVES

TV GLOBO / FANTÁSTICO

Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da CocaCola Brasil; Maria Dalce Ricas (Amda) e Renê Astigarraga (TV Globo Minas): a verdade sobre a devastação da Amazônia e a seca no Sudeste

DESTAQUE ESTADUAL FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS

Amândio Fernandes (Oncomed), Alexandre Enout (Biodiversitas), Cibele Vitarelli (Oncomed), Angelo Machado e Gustavo Pedersoli (Ecoavis)

Comandada pelo prof. Angelo Machado, a Fundação Biodiversitas venceu nesta categoria com o “Projeto Conexão: implementando o corredor ecológico Sossego-Caratinga”, na Zona da Mata mineira. É onde se preserva a espécie ameaçada de extinção do mono-carvoeiro ou muriqui, considerado o maior primata das Américas. Tendo como protagonistas os agricultores familiares de Simonésia, na Zona da Mata, três mil hectares de Mata Atlântica foram conectados com o plantio de 40 mil mudas no entorno de nascentes na região, tornando o corredor ecológico o primeiro oficialmente reconhecido por decreto estadual entre as montanhas de Minas. As ações de sensibilização ambiental do projeto envolveram 1.005 crianças, 125 professores e 173 moradores de comunidades agrárias. Por seu êxito, o projeto foi renovado por mais dois anos e irá restaurar e preservar mais de 120 hectares de florestas nativas.

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“Se o senhor não conheceu este homem, deixou de certificar que qualidade de cabeça de gente a natureza dá, raro, de vez em quando.”

DESTAQUE MUNICIPAL FOTO: GUALTER NAVES

PREFEITURA DE NOVA LIMA

Cássio Magnani e sua mãe, Terezinha, ladeado por Délio Malheiros, vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente de BH, e Carlos Cavalcanti, presidente da Aliança Municipal das Ações Comunitárias de Nova Lima (AMA)

À frente da cidade mineira com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o prefeito Cássio Magnani vem reformulando o Plano de Saneamento Básico com propostas mais assertivas para o tratamento de água e esgoto, drenagem urbana, coleta seletiva e destinação correta de resíduos em todo o município. Outros desafios enfrentados, com verbas já asseguradas, são a recuperação ambiental do Lixão do Galo e a implantação de corredores ecológicos em parceria com a Prefeitura de BH, em todo o complexo ambiental da Serra do Curral, símbolo da capital mineira. Em apenas dois anos de governo, sua administração criou cinco monumentos naturais, preservando as serras do Souza, da Calçada, morros do Pires e do Elefante, e Banqueta do Matozinho, atendendo à reivindicação de mo-

“Temos a consciência que Nova Lima representa hoje o 'pulmão' e a 'caixa d'água' da Região Metropolitana de Belo Horizonte.” CÁSSIO MAGNANI, prefeito de Nova Lima

radores e ambientalistas para preservar integralmente esses locais. Hoje, existem apenas 36 áreas de preservação deste tipo no país. “Dedico esse prêmio a todos aqueles que têm a coragem de preservar a biodiversidade maravilhosa que temos em nosso município, com 62% de seu território preservado. Quero dividi-lo com Roberto Messias Franco, nosso se-

cretário de Meio Ambiente, e dizer que essas medidas que tomamos em dois anos de governo refletem uma responsabilidade que temos e que vai além dos limites do nosso município. Temos a consciência de que Nova Lima representa hoje o ‘pulmão’ e a ‘caixa d’água’ da Região Metropolitana de BH. Apesar do índice de desenvolvimento crescente e a mineração alterando o nosso município e um assédio grande do setor imobiliário, nada disso é capaz de nos demover do encanto e da busca incessante pela preservação. Que esse prêmio sirva para que Nova Lima tenha sempre como lição a conservação de seus ecossistemas e que a Região Metropolitana possa se beneficiar dessa riqueza maior e insuperável que conseguimos preservar”, afirmou Cassinho, como também é conhecido, ao receber o Prêmio Hugo Werneck.

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

MELHOR EXEMPLO DO TERCEIRO SETOR

Criar um espaço onde cultura e ambiente interagissem num jogo contínuo de criação e recriação de relações de identidade com os membros do arraial e das comunidades vizinhas. Essa é a inspiração do Instituto Kairós, ONG fundada há 12 anos no distrito de São Sebastião das Águas Claras, também conhecido por Macacos, do município de Nova Lima, na Grande BH. Sua proposta maior, em parceria com a Vale, Fundação Dom Cabral, Vallourec e Prefeitura de Nova Lima, é gerar e transferir tecnologias sociais orientadas ao desenvolvimento humano integral das comunidades à sua volta. “Agradeço ao Grupo Ecológico pelo prêmio e aos nossos parceiros. Se a gente está aqui hoje, com essa história bonita pra contar, é porque tivemos o apoio deles”, afirmou Rosana Bianchini, coordenadora-geral do instituto. Leia na próxima edição uma reportagem completa sobre esta ONG vitoriosa.

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

INSTITUTO KAIRÓS

Antônio Padovezi (Vale), Rosana Bianchini e Nestor Sant’Anna, ex-presidente do Conselho de Administração do instituto

MELHOR EXEMPLO EM ÁGUA Para recuperar uma área de 174 hectares de sua propriedade no município de Santa Rosa de Goiás (GO), o agropecuarista Fábio de Paula Santos revitalizou três Áreas de Preservação Permanente (APPs). Replantou mais de 36 mil árvores e implantou curvas de nível e bacias de contenção de água em toda a sua outrora degradada propriedade. Tudo isso fez retornar e novamente garantir a umidade do solo. Aumentou a vazão de nascentes da região, além das de sua fazenda particular. E o mais simbólico: ser ator e testemunho do surgimento do Córrego Cafungadinha, que hoje brota no interior de sua propriedade e corre 500 metros de extensão protegido pelas matas ciliares que o próprio Fábio recuperou em ambas as margens. Leia a reportagem completa na edição de janeiro.

FOTO: GUALTER NAVES

CÓRREGO CAFUNGADINHA

Marcos Jeber Jardim (Regap/Petrobras), Bento de Godoy (Semarh/Goiás); Fábio de Paula e suas filhas Elena e Ester; e Breno Carone, presidente do Cibapar/Comitê Hidrográfico da Bacia do Paraopeba

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

MELHOR EXEMPLO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

FOTOS: GUALTER NAVES

FOREA

Nísia Werneck (FDC), Renato Gomes e Bettý Giovannoni (ForEA), e José Carlos Carvalho

Idealizado pela Prefeitura de Carangola, o Fórum Regional de Educação Ambiental da Zona da Mata (ForEA) promove aos seus servidores o conhecimento da legislação ambiental, bem como os sensibiliza para a adoção de condutas sustentáveis em relação à preservação do meio ambiente. A cada ano, 600 profissionais, principalmente professores, participam do evento. Eles geram como resultado, por exemplo, campanhas de preservação da biodiversidade e formação de brigadas de prevenção e combate a incêndios florestais. O ForEA já foi finalista duas vezes do Prêmio Hugo Werneck.

INSTITUTO XOPOTÓ / CREADS JOSÉ DO CARMO NEVES

José Rivelli (Xopotó) e José Carlos Carvalho entregam o prêmio a José do Carmo Neves: memória viva

O Programa “Econhecendo as Trilhas” é fruto da cooperação técnica entre o Instituto Xopotó, fundado e dirigido pelo engenheiro florestal José Geraldo Rivelli, e o Centro de Referência em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável (Creads) José do Carmo Neves. Promovendo iniciativas como hortas orgânicas, criatórios e reabilitação de animais silvestres, consumo consciente e energia alternativa, já atendeu mais de 2.500 universitários, alunos e professores de escolas públicas e particulares do estado. Ele acontece na Fazenda Engenho D’Água, em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, e tem como patrono o engenheiro agrônomo, emblemático na luta e história ambiental mineira: o ex-diretor-presidente do IEF, José do Carmo Neves.

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“Passarinho que se debruça, o voo já está pronto.”

MELHOR EXEMPLO EM FAUNA

PROGRAMA PEIXE VIVO, CEMIG Em atividade desde 2007, o programa busca preservar os peixes dos cursos d’água do estado e definir estratégias para evitar e prevenir a morte dos animais aquáticos nas hidrelétricas da Cemig. Com ele, foi possível reduzir a mortandade de peixes em operações das usinas em 77%, além da soltura média anual de 730 mil novos alevinos de espécies nativas. A iniciativa também envolve as comunidades ribeirinhas. Por meio dos projetos de educação ambiental e de esportes, 1.800 estudantes já foram beneficiados em todo o estado.

Hugo Vilaça (PBH), Raquel Loures (Peixe Vivo), Enio Fonseca (Cemig) e Gladystone Rodrigues (CRBIO)

MELHOR EXEMPLO EM MOBILIZAÇÃO SOCIAL

PROGRAMA JOGUE LIMPO, SINDICOM Sediado no Rio de Janeiro, o programa já reciclou mais de 300 milhões de embalagens desde a sua fundação, em 2005. Por meio de um sistema de logística reversa, a coleta é feita na cadeia cadastrada de revenda do produto e o material é transportado por 57 caminhões especiais para 21 centrais de recebimento. Idealizado pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), o Jogue Limpo atinge 2.142 municípios e tem 30 mil pontos geradores cadastrados em todo o país. Apenas em 2013, foram recicladas 70 milhões de embalagens.

Mário Campos, presidente do Siamig, Marcelle Azeredo e Maurício Séllos, coordenador do Sindicom, e Alessandro Nepomuceno, diretor de Sustentabilidade da Kinross

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

MELHOR EXEMPLO EM TI

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

ECOTECA DIGITAL, TERRA BRASILIS

Leonardo Bortoletto (Sucesu Minas), Sônia Carvalho e Sônia Trigueiro (Terra Brasilis) e Roberto Francisco (Plansis)

Criada em 2012, pelo Instituto Terra Brasilis, a Ecoteca Digital é uma biblioteca virtual onde estão reunidas milhares de publicações referentes às áreas protegidas do país. O objetivo é disponibilizar ao público, em especial aos gestores de unidades de conservação, uma ferramenta para aperfeiçoar e compartilhar conhecimento sobre como proteger a flora e a fauna locais. Mensalmente, cerca de 60 novas publicações são inseridas no acervo da Ecoteca, que já conta com mais de 2.100 títulos digitais de diversos idiomas, e tem mais de 30 mil acessos por ano. Por ter vencido ano passado na Categoria “Flora”, com o projeto Pato Margulhão, a Terra Brasilis também é bicampeã do Prêmio Hugo Werneck.

MELHOR EXEMPLO EM FLORA

UH GUILMAN-AMORIM / VEREDA BERÇO DAS ÁGUAS

José Eduardo Ramos, presidente do Grupo Brennand Cimentos; Cyro José, Ricardo Boaventura, José Arimatéia, diretor do Consórcio GuilmanAmorim, e Marcos Leandro (TV Record Minas)

Com fotografias de Cyro José e coordenação editorial de Ricardo Boaventura, o livro “Vereda Berço das Águas”, patrocinado pela Usina Hidrelétrica Guilman-Amorim, contribui significativamente para a divulgação científica de informações sobre as veredas, ressaltando a sua importância ecológica e econômica para o país. Com textos temáticos, educativos, e imagens belíssimas de paisagens de várias regiões brasileiras, a obra possibilita que pessoas de diferentes áreas de atuação se unam pelo objetivo comum de conhecer, respeitar e preservar esses estratégicos patrimônios naturais do Cerrado brasileiro.

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

HOMENAGEM

GUIMARÃES ROSA O segundo homenageado da noite foi o escritor Guimarães Rosa. A contemporaneidade de sua obra também foi lembrada durante todo o evento, em que artistas do Grupo Ponto de Partida, com harmonia e teatralidade, declamaram belíssimos trechos de livros como “Grande Sertão: Veredas”. Rosa nasceu em Cordisburgo, em 1908. Foi médico, era poliglota (falava fluentemente alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto e russo) e, até sua morte, em 1967, havia publicado apenas nove livros. Com “Grande Sertão”, não apenas lançou um novo olhar sobre o Cerrado brasileiro, ao descrever o cenário natural entremeado por buritis, veredas e água em abundância, com as bênçãos do Velho Chico, como também recriou a linguagem regional do sertanejo. “Buriti, minha palmeira, lá na vereda de lá. Casinha de banda esquerda, olhos de onda do mar”, escreveu ele. Dois momentos emocionantes da noite que marcou a entrega do Prêmio Hugo Werneck foram quando o Ponto de Partida, liderados pela diretora, atriz e produtora Regina Bertola, entoou as músicas “Dois Rios” e “Buriti”. Como Riobaldos e Diadorins da arte, os integrantes resgataram a essência do poeta com uma interpretação incrível, que arrancou aplausos dos convidados. “Queria agradecer ao Grupo Ecológico por essa honra que não tem medida. Receber um prêmio em nome de João Guimarães Rosa, aquele que deu asas às palavras. E, mais ainda, teve a sabedoria e o talento de desencravar raízes para proporcionar a todos nós arquiteturas de voos nunca imaginados. Foi ele que nos ensinou que ‘o diabo, não há. Se existe, é homem humano, travessia’. E é esse homem humano que eu e o Grupo Ponto de Partida preservamos em tudo que a gente faz. Está na mão desse bicho-homem matar ou salvar este planeta. É a gente, não temos escapatória: ou nos salvamos juntos ou nos afogamos. Somos filhos e protetores da Nhá Terra, que é mãe e útero. Cabe a nós proteger esse planeta maravilhoso em que vivemos. E isso não cabe apenas às empresas e governos, mas a cada um de nós. É hora do bicho-homem agasalhar a esperança no mundo.”

Olavo Romano, presidente da Academia Mineira de Letras, Délio Malheiros e Marília Carvalho (IGAM) fazem a entrega simbólica da estatueta para Regina Bertola, atriz e diretora do Grupo Ponto de Partida

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“Viver é muito perigoso, porque ainda não se sabe, porque aprender a viver que é o viver mesmo.”

MANIFESTO

FOTOS: GUALTER NAVES

O RECADO DE NHÁ TERRA

A premiação terminou com o Grupo Ponto de Partida lendo o seu “manifesto” pela sustentabilidade humana

“Há de se cuidar das nascentes e da água que alimenta a morada dos homens. Há de se pajear os peixes e os rios, os ninhos e as florestas, as sementes e os frutos, os voos e os nascimentos, os seres minúsculos e os oceanos. Há de se tomar posse da energia que se oferta do sol e dos ventos. Nada pode tornar-se lixo. Tudo tem de ser reciclado, recomposto, reinventado. Há de se plan-

tar árvores longamente e proteger o ar para que seja apropriado para as borboletas e os meninos. Prometem atender aos pedidos de Nhá Terra? Então eu os consagro cavalheiros, filhos e guardiões da Terra. E agora vão. Vão devolver para os povos e os animais do Cerrado seus motivos de esperança. Meu ventre precisa estar livre para parir a vida.”

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

FESTA DO CERRADO FOTO: GUALTER NAVES

Confira algumas presenças na festa de consagração da sustentabilidade e do amor à natureza ocorrida, este ano, no Teatro Francisco Nunes, em pleno coração verde de BH

Hiram Firmino e Olavo Machado

Alceu Torres, Gleuza Jesué, Izabella Teixeira e Vania Somavilla

Zuleika Torquato e Angelina Moraes

Pedro Borrego e Cástor Cartelle

Izabella Teixeira, Evandro Xavier e José Carlos Carvalho

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FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

“Com o tempo se refrescando, e o desabafo do ar, buriti revira altas palmas.”

Déa Januzzi e Regina Bertola

Rodolpho Samorini, Cristiane e Ricardo Vescovi

Liliane Carneiro Costa, Fábio Vincent, Maria Elvira e Diva Dorothy Safe

Olavo e Kátia Romano

Fernanda Lima e Fernanda Zebral

Ronaldo Vasconcelos e Cleinis Faria

Bertholdino Apolônio e Alceu Torres

Leonardo Mattos e Délio Malheiros

Maurício Séllos, Marcelle Azeredo e Silmara Belinelo

Caio e Eunice Rodrigues

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

Lúcio Sampaio, Olavo Machado e Nestor Sant’Anna

Sanakan Firmino, Janaína De Simone, André Firmino e Ester Magalhães

Gustavo Amaral, Cristina Lacerda e Douglas Santos

Francisco Lafetá leg e Bruno Castilho

Alexandre Sion, Pedro Borrego e Ranasari Firmino

Luiz Gomide e Christiane Antuña

José Luiz, Ethel Kacowicz e Ruston Albuquerque leg

Poliane Brennand e Murilo Laurindo

Salomão Perico e Eloah Rodrigues

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FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Hiperedes Atheniense e Cássio Magnani

Ricardo Muniz e Christian Andrade

Gilson de Deus, Newton Viguetti e Edinilson Barbosa

Roberto Messias, Angela Drummond e Alison Coutinho

José Francisco e Viviane Rezende

José Guilherme, Cristiane Malheiros e Alessandro Lucioli

Trajano Raposo e Giovanni Peres

José Centeno, Sílvia Nunes e Júlia Chagas

Guilherme Paculdino

Octávio Elísio

Amândio Fernandes, Cibele Antunes e Fábio Vincent

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1 REFLEXÃO

A ECOLOGIA DO SER O antropólogo Roberto Crema fala sobre o grande embate contemporâneo: o amor ao poder ou o poder do amor Déa Januzzi

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redacao@revistaecologico.com.br

CREMA: “Façamos um brinde à borboleta do ser que está prestes a desprender-se da crisálida da crise contemporânea”

À

luz de velas e com direito a ouvir Gilvan de Oliveira cantando “O Cio da Terra”, de Milton Nascimento e Chico Buarque, Roberto Crema, de 64 anos, antropólogo, psicólogo, reitor da Universidade da Paz (Unipaz) em Brasília, com mais de 30 livros publicados, veio a Belo Horizonte para falar sobre o “Totem da Inteireza Humana”. Era sexta-feira à noite, e a plateia ouviu atentamente a palestra dele sobre o ser humano, na perspectiva transdisciplinar e holística (ou seja, integrativa), que analisa a pessoa como um todo. Todos se esqueceram dos ruídos dos bares lá fora, das freadas de carros no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul de BH, porque as palavras de Crema aquietaram a alma dos presentes. A convite da médi-

ca homeopata Acely Hovelacque, Roberto Crema teve o dom de silenciar os ruídos externos, quando falou sobre o momento trágico que vivemos: “Não há tempo a perder para os que conspiram pelo prosseguimento evolutivo da aventura humana e da preservação, com qualidade e dignidade, da vida planetária”. Apocalipse? Segundo o antropólogo, isso simboliza “a morte e o renascimento e também uma revelação, sobretudo do que se passa no invisível. Todas as épocas conhecidas se reconhecem no apocalipse. É um gênero literário desde o apóstolo João”. Ele garante que “uma época como a nossa não tem o direito de reivindicar essa metáfora apocalíptica, pois o ser humano não viveu até hoje a

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Segundo Roberto Crema, a "Ecologia do Ser" implica uma visão inclusiva do humano como um microcosmo. “É uma costura de mundos envolvendo o embate da parte material e instintiva e a espiritual, o ser com a consciência ampliada, mais humano, solidário e amoroso, de coração aberto. Cada um de nós encarna uma partícula do universo e um pedacinho de praça pública. É prioritariamente nesse espaço da nossa morada interior que, inicialmente, necessitamos introduzir ordem, harmonia, justiça, amor solidário e paz. Como não estamos separados do grande universo, quando nos pacificamos e cultivamos um certo equilíbrio na parcela de mundo que nos foi confiada, então, naturalmente transpiramos essa conquista para a ecologia social e ambiental. A mudança do mundo tem início em nossos corações. As revoluções fracassam por serem tentativas de mudar a realidade exterior sem o pré-requisito da autotransformação. Mudar o mundo é, antes de tudo, mudar o olhar.”

possibilidade de uma destruição total da biosfera. Nesse momento, há uma intensificação de processos degenerativos e regenerativos, e o grande embate é o amor ao poder ou o poder do amor, como dizia o psicólogo Pierre Weil”. No apocalipse de João, “o cordeiro degolado triunfa de pé, sem gerar perdedores, demonstrando que o amor é mais forte que a morte. Sim, estamos vivendo um momento crítico, crucial e criativo, onde todos nós somos convocados a aderir a essa polêmica que podemos chamar de ego. Ou penetrar em trilhas rumo ao florescimento do ser”, diz Crema. Ele usa, inclusive, uma metáfora para explicar isso. “O dia nasce no coração da noite. E quando chegamos ao fim, em que crianças

são violadas e filhos matam pais que matam filhos, em que governantes só pensam em seus quintaizinhos, então podemos encontrar um terreno firme para subir. Como? Basta dar o passo seguinte. A chegada é o portal para o outro passo. Nem entrar em estagnação nem querer chegar ao destino, porque tudo é processo.” Em última instância, “só existe o agora. As pessoas que são capazes de habitar o agora recebem a nutrição de confiança e de força para prosseguir. Como dizem os bons navegantes: “o pior naufrágio é não partir”. NOVO TEMPO O desafio do momento, segundo Crema, é o da integração. Para ele, o futuro da humanidade depende da integração do saber e do ser, do profano e do sagrado, do masculino e do feminino, da razão e do coração, do finito e do infinito. E dá uma receita para isso: “É preciso ousar para não findar. Nas comunidades tribais, é função do xamã atualizar o mito antigo à realidade emergente. Assim, o velho torna-se adubo para o florescimento do novo. É tempo do ruflar dos tambores e da dança alquímica em roda de fogueira. É tempo do xamã. É tempo do parto de uma nova consciência para um novo existir. É tempo de reconstruir o tempo da inteireza”. Em meio ao silêncio reflexivo dos presentes, Crema definiu esse novo tempo como uma síntese transacional e ecológica interior, convidando a todos a fazerem “um brinde à borboleta do ser que está prestes a desprender-se da crisálida da crise contemporânea”. AS ESTAÇÕES DA EXISTÊNCIA Ao fim do evento, o antropólogo fez uma reflexão sobre as estações da existência para nos compreendermos melhor e o próximo, em busca da evolução do ser: “Não acredito no envelhecimento. A

velhice é uma doença normótica (um termo criado por ele, para definir a patologia da normalidade). Não nascemos para envelhecer. Nós passamos como as montanhas, os rinocerontes e as estrelas. Por isso, falo nas estações da existência: a primavera, com a sua beleza, o seu desenvolvimento psicossomático e a leveza do lúdico, que é a de inclinar o coração para aprender. O verão é a estação da cidadania, quando precisamos realizar uma tarefa na coletividade e desenvolver a própria família. Então vem o outono, a estação dos frutos, do amadurecimento. O outono é velho? O outono é o outono. A velhice é a pessoa no outono. Não dá para fazer de conta que é primavera. Inverno é a estação do silêncio e da despedida. E depois do inverno vem a primavera novamente, caso a pessoa não tenha aprendido a lição da existência.”

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FIQUE POR DENTRO

SAIBA MAIS

“Saúde e Plenitude – Um caminho para o ser” Editora Summus. Preço: R$ 74,90. E-mail: robertocrema@gmail.com

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

A CAIXA D’ÁGUA

(VAZIA) DO BRASIL? A

falta de água em diversos municípios do país está sendo tratada como problema decorrente de perda na distribuição e desperdício no consumo. Sem dúvida, isso é verdadeiro: estima-se que a perda seja de mais de 40%! Mas reflete apenas parte da questão. O restante da verdade é bem mais incômodo. Nós, seres humanos, somos consumidores de água e não produtores. Quem a produz é a natureza. Sem cobertura vegetal, não há água. A perda pode ser resolvida consertando as redes. O consumo pode diminuir por educação ou por taxação. Mas a produção de água é e sempre será dependente da proteção do meio ambiente. Dezenas de nascentes estão secando a cada ano. Nem todas elas estavam degradadas (entretanto, a maior parte, sim), pisoteadas por gado ou ocupadas por culturas agrícolas, tanto quanto as áreas de recarga. Estas são tão importantes quanto as nascentes. Nelas, é que se infiltra a água da chuva que abastece os lençóis subterrâneos que alimentam as nascentes. Grande parte das encostas e topos de morro são áreas de recarga e deveriam estar protegidas com cobertura vegetal. A política agrícola do país, talvez a maior responsável pela degradação do solo e da água, tanto por parte do poder público, quanto pelo setor agrope-

cuário, está, com algumas exceções, atrasada em séculos, parada na época da chamada “colonização”, quando a terra brasileira visível pelo mar era coberta pela maravilhosa Mata Atlântica. E, a partir daí, derrubá-la e saquear a terra era o objetivo de todos. Essa incompreensível incapacidade de entender a ligação entre o bom uso do solo e a proteção da água continua sendo verdadeira. Ao contrário do que dizem os ruralistas, os produtores rurais (sempre lembrando das exceções), conscientes ou não do que fazem, continuam praticando a conhecida agropecuária do “solo arrasado”. E as políticas públicas que deveriam ter como prioridade “para ontem” mudar essa situação são frágeis e insuficientes, alimentando a crença de que a administração pública no Brasil está realmente falida. O resultado não poderia ser diferente do que agora enfrentamos. Mudanças profundas no ciclo das águas são consequências previstas e anunciadas pelos cientistas. Mas, se cuidássemos de nossas nascentes, córregos, ribeirões e rios, seus efeitos poderiam ser bem menores. Do jeito que está, Minas Gerais continuará sendo a caixa d’água do país. Só que vazia.  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

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FOTO: MARINA BHERING

1 EXEMPLO

INICIATIVA DA AMDA homenageou 93 combatentes do fogo que assolou as matas de Minas

HERÓIS ECOLÓGICOS

Brigadistas recebem homenagem da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) pela atuação no combate aos incêndios florestais em 2014 Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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tarde quente do dia 17 de novembro, em Belo Horizonte, ainda mantinha o alerta para a falta d’água e o risco iminente de incêndios florestais em toda Minas Gerais. Mas, uma pausa merecida nos trabalhos foi feita no auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), na região centro-sul da capital mineira, para homenagear 93 brigadistas profissionais e voluntários treinados. Todos, heróis ecológicos. Somente em agosto, eles enfrentaram um incêndio que consumiu o equivalente a 193 campos de futebol no Parque Estadual Serra do Rola Moça, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Número desolador, que seria ainda mais grave sem o trabalho das brigadas - equipes formadas por homens e mulheres, voluntários ou contratados por parcerias feitas entre ONGs, como a Amda, que organizou a homenagem, e a Terra Brasilis, e empresas privadas, como Vale, Gerdau, Usiminas, AngloGold, Ferrous e Vallourec, empenhadas em mitigar os danos que os incêndios florestais causam à flora, fauna e mananciais que abastecem 34 municípios da RMBH. Vestidos com uniformes azuis ou com suas melhores roupas, os brigadistas subiram ao palco, um a um, para receber a “Medalha de Honra ao Mérito”, diante de uma plateia composta por autoridades, representantes de empresas e profissionais da área ambiental, que estavam ali para expressar admiração e respeito pelo trabalho deles.

INCÊNDIOS GERAIS 12.085 focos ativos de incêndio foram registrados no estado de Minas Gerais, em 2014, até meados de novembro, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Até o encerramento do ano, é possível que o número cresça, devido aos novos focos que poderão ocorrer ao longo deste mês.

Motivo de satisfação para o brigadista Luciano Alexandre da Silva, superintendente da Brigada da Amda, homenageado duas vezes durante a cerimônia: uma pelo trabalho e a outra pelo desempenho exemplar. Orgulhoso, Silva contou que foi a primeira vez que recebeu um reconhecimento assim. “É um privilégio fazer o bem para a natureza e as futuras gerações”, disse ele, acrescentando que “gosta muito do trabalho que faz”. Dedicação reconhecida pelo presidente do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Bertholdino Apolônio Teixeira Júnior. “Hoje é um dia de homenagens. Como diretor do IEF, só posso agradecer. Sem as brigadas profissionais e voluntárias, a situação de nossas florestas teria ficado muito pior”, afirmou.  SAIBA MAIS

www.amda.org.br www.terrabrasilis.org.br

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AO SEU LADO, NOSSAS HISTÓRIAS GANHAM MAIS UM CAPÍTULO EM 2015. Toda vida é uma história escrita a cada momento. E todo dia que nasce é uma oportunidade de encurtar a distância entre os sonhos e a realidade. Queremos seguir juntos para escrever os novos capítulos de 2015. Porque é dos relacionamentos de confiança que cultivamos que surgem as nossas melhores histórias.

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FOTO: ISABEL BALDONI / PBH

1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O PREFEITO Marcio Lacerda, na abertura do evento: "A causa da sustentabilidade é o que nos une"

ADAPTAÇÃO NECESSÁRIA Jornada Nacional sobre Cidades e Mudanças Climáticas, realizada na capital mineira, discutiu novas políticas públicas em prol do desenvolvimento sustentável

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pós três dias dedicados à discussão de temas ligados às mudanças climáticas – entre 12 e 14 de novembro –, a “Jornada Nacional Sobre Cidades e Mudanças Climáticas” encerrou suas atividades trazendo contribuições positivas para que as cidades possam se adaptar melhor às mudanças climáticas. E conferiu mais força e consistência à elaboração e à aplicação de políticas públicas efetivas para o desenvolvimento sustentável urbano. O evento, que também englobou o “5º Encontro Nacional do Fórum dos Secretários de Meio Ambiente das Capitais Brasileiras (CB27) e Cidades do Projeto Urban LEDS”, foi promovido pela Prefeitura de BH, por meio da Secretaria Municipal de Meio

Ambiente e do Comitê Sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência (CMMCE), em parceria com o CB27, o Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade) e a Fundação Konrad Adenauer. Dezenas de prefeitos e secretários municipais de Meio Ambiente de todo o país participaram da jornada. O vice-prefeito de BH e secretário municipal de Meio Ambiente, Délio Malheiros, afirmou que o evento foi uma ótima oportunidade para que os gestores possam aprender e ensinar sobre como resolver problemas ambientais enfrentados localmente. “Cada capital tem seus desafios e estratégias para solucionar e combater situações adversas. A solução em um município pode ser uma iniciativa já aplicada em

outro. Esse compartilhamento de ideias é muito interessante e temos orgulho de sediar esse encontro em BH”, concluiu. O seminário também ofereceu aos participantes a oportunidade de conhecer e aderir ao “Urban LEDS”, projeto resultante de um acordo firmado entre o ONUHabitat e a Comissão Europeia, que tem o Iclei como principal implementador, e que visa à redução da emissão de carbono em países emergentes. Desenvolvido ao longo de três anos e meio, tem término previsto para agosto de 2015, em quatro países de economia emergente: Brasil, África do Sul, Índia e Indonésia. Em cada um deles foram selecionadas cidades ou áreas metropolitanas a fim de demonstrar

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CAPACITAÇÃO Além das palestras realizadas nos três dias de evento, a agenda foi de muito trabalho, em especial com as “Sessões de Capacitação às Cidades”. Nelas, foram detalhados temas como a elaboração do “Inventário de Emissões de Gases de Efeitos Estufa (GEE)”, a “Gestão de Resíduos Sólidos” e “Compras Públicas Sustentáveis”. Também foram apresentadas as propostas de cada cidade participante do CB27 ao Fundo do Clima, do Ministério do Meio Ambiente, que financia projetos, estudos e empreendimentos para mitigar impactos gerados pelas mudanças do clima e para adaptação aos efeitos. A Prefeitura de BH também apresentou o seu “Plano de Adaptação à Vulnerabilidade”, debatido no Comitê sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência, vinculado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que traz a proposta de adaptação da cidade para a possibilidade de eventos climáticos futuros.

estratégias de desenvolvimento urbano inclusivo, de baixa emissão de carbono em condições de crescimento, e transição acelerados. No Brasil, as cidades-modelo são Fortaleza e Recife, além de outras seis, entre elas, BH. “O Pacto da Cidade do México” e a “Carta de Adaptação de Durban” foram apresentados aos gestores pela secretária executiva do Iclei para a América do Sul, Jussara de Carvalho. Esses documentos, que já têm a adesão da Prefeitura de BH, estão abertos à participação de prefeitos que, ao assinarem, assumem o compromisso de estabelecer práticas sustentáveis em suas cidades. PROTAGONISMO LOCAL Na capital mineira, a busca pelo desenvolvimento sustentável está inserida no Planejamento Estratégico 2030. Considerada a

FOTO: BRENO PATARO / PBH

FIQUE POR DENTRO

ESTÁDIO MINEIRÃO: exemplo de construção sustentável reconhecido pela Prefeitura de BH no evento

“Capital Solar do Brasil”, com 923 mil metros quadrados em placas de energia solar, BH também se destaca quanto à gestão de resíduos sólidos: mantém uma central de tratamento no aterro sanitário, que processa e queima

A EDIÇÃO 70 da Ecológico, sobre a sustentabilidade no Mineirão, foi distribuída aos participantes do evento

o gás metano produzido a partir da decomposição do lixo aterrado, gerando energia elétrica que é fornecida à Cemig. Para o prefeito Marcio Lacerda, Belo Horizonte tem uma história positiva de mobilização em relação à questão ambiental e, certamente, tem uma consistente contribuição a dar. “A causa da sustentabilidade é o que nos une. Uma das principais ações da prefeitura, além de aumentar a área verde na cidade, é trabalhar para que a emissão dos gases gerados pela queima de combustíveis fósseis, como consequência do trânsito da capital, seja reduzida, e essa ideia possa ser estendida a outras capitais”, disse. Outro projeto em execução na capital, o “Plano de Mobilidade de Belo Horizonte” (PlanMob-BH) prevê a redução de 15 a 20%

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FOTO: SMMA

1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O SELO "BH Sustentável" é conferido aos empreendimentos nas categorias “Bronze”, “Prata” ou “Ouro”

FOTO: DIVULGAÇÃO

na emissão de gases de efeito estufa por meio da intensificação do uso do transporte público e meios de locomoção menos poluentes, como as bicicletas. O prefeito acrescentou ainda que medidas como o programa “BH Mais Verde”, que plantou mais de 50 mil árvores de 2011 até agora, e o BRT/Move, que já transporta cerca de 500 mil passageiros por dia, tornaram possí-

“Em relação a uma edificação convencional, no caso da água, devese ter uma redução do consumo de 30%. No caso de energia, de 25%. E, em relação aos resíduos sólidos, uma reciclagem da ordem de 80%.”

vel fazer com que a curva de tendência do aumento de emissão de carbono em BH se estabilizasse. “Isso já é um avanço. A redução se dará ao longo do tempo com o fomento do transporte coletivo de qualidade, o que, inclusive, já vem acontecendo.”

WEBER COUTINHO, gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da PBH, sobre os requisitos mínimos que um empreendimento deve atender para receber o “Selo BH Sustentável”

SELO BH SUSTENTÁVEL A prefeitura também criou, em 2011, o “Selo BH Sustentável”. O certificado é uma garantia de desempenho superior dos empreendimentos ao atender a índices de eficiência preestabelecidos para os itens “água”, “energia”, “resíduos” e “emissões”, premiando com os selos “Bronze”, “Prata” ou “Ouro”, segundo o número de objetivos atendidos. Até hoje, 47 empreendimentos já foram certificados em BH, quatro deles durante o evento. O estádio Mineirão, administrado pelo Consórcio Minas Arena, estava entre os contemplados. Premiado

com o selo “Ouro”, as ações avaliadas foram a coleta de água da chuva, utilizada para a irrigação do gramado e dos jardins e nas descargas, proporcionando uma economia de água de 40%, a captação e distribuição da energia solar pelo sistema instalado no teto do estádio, que permite a redução do consumo em 60%, e a coleta, reciclagem e destinação correta de resíduos sólidos. No Poder Público, destacaramse duas escolas infantis, as UMEIs Manacás e Urca Confisco, que obtiveram elevados índices de redução nos consumos de água e de energia e uma gestão eficiente dos resíduos sólidos. Já na iniciativa privada, o Hotel Lavras 150 conseguiu reduções da ordem de 35% no consumo de água, 41% no de energia, além de reciclar 80% dos resíduos sólidos.

ROBERTO MÁRIO, presidente da construtora e incorporadora MASB, recebeu a certificação entregue por Délio Malheiros ao Hotel Lavras 150

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No último dia do evento, os membros do CB27 se deslocaram até a Pampulha por meio do sistema BRT-Move e, na Casa do Baile, decidiram, por aclamação, reeleger o viceprefeito e secretário de Meio Ambiente de BH, Délio Malheiros, como coordenador-geral do CB27. E Nelson Moreira Franco, representando a Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, como secretário executivo. Guiados por Délio, os participantes visitaram, na sequência, a Igreja da Pampulha, enquanto ele mostrava, na prática, como a prefeitura estava atuando. Apontou para a Praça Dino Barbiére, que teve seu projeto refeito para não suprimir árvores e descortinar de vez a vista da lagoa. “Não autorizamos o corte de nenhuma árvore”, atesta ele. Sobre as capivaras,

FOTO: GABRIEL DE CASTRO / PBH

CARTA DE BELO HORIZONTE

“NÓS, SECRETÁRIOS E REPRESENTANTES DO CB27: DECIDIMOS perseguir a construção de uma ilha de financiamento na área de monitoramento e avaliação do Fundo Nacional de Mudanças do Clima para apresentar conjuntamente projeto de maior impacto para apoio à realização de inventários e reporte de ações. DECIDIMOS considerar a construção de projetos adicionais para promoção de ações transversais às capitais, estratégicos para o enfrentamento às mudanças climáticas nas cidades do CB27. MANIFESTAMOS nosso compromisso de que todas as capitais tenham, até a COP21, a se realizar em Paris, em dezembro

A CASA DO BAILE, na Pampulha: palco do encontro do CB27

ele disse que ”a PBH e a Secretaria de Meio Ambiente sempre agem pautadas pelas normas técnicas. Depois de muitos estudos, as capivaras tiveram de sair”. O viceprefeito também justificou a recente polêmica da retirada dos ficus da Avenida Bernardo Monteiro, na região Centro-Sul da cidade: “As árvores foram atingidas pela praga da mosca branca. Gastamos mais de R$ 250 mil tentando salvá-las, mas não foi possível.” Em contrapartida, lembrou o êxito do programa “BH Mais Verde”: “A

cidade agora está entre as três melhores capitais em termos de área verde do país: são 18 m2 por habitante”, comemora. Como acontece em cada encontro do CB27, também foi lavrada e lida a “Carta de Belo Horizonte”, um conjunto de iniciativas a ser encaminhado ao secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Carlos Klink. A ideia é que elas sejam financiadas por meio do Fundo Clima, do Governo Federal. Confira:

de 2015, seus inventários de emissão de gases de efeito estufa, bem como suas ações para mitigação e adaptação reportadas em plataforma global.

Com relação ao processo de preparação da contribuição do Brasil ao novo acordo sob a UNFCCC (Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, em português) e à atuação junto à Convenção:

DECIDIMOS, para viabilizar o compromisso acima, buscar alternativas ao Fundo Nacional de Mudanças do Clima, tais como o estabelecimento de convênios. DECLARAMOS que seguiremos cooperando e compartilhando experiências. DECIDIMOS que seguiremos buscando o aprofundamento dos laços com os governos estaduais e federal, a fim de promover ações coordenadas em prol do cumprimento dos compromissos adotados no Brasil internamente ou perante a comunidade internacional.

DECIDIMOS que o CB27 irá aderir ao processo global do Mapa do Caminho dos Governos Locais pelo Clima. CHAMAMOS o Ministério das Relações Exteriores a considerar em qualquer contribuição nacional a necessidade e a importância de coordenação de ações com os níveis subnacional e local, e de pleitear dentro da Convenção e no contexto nacional por instrumentos de apoio técnico e financeiro às ações necessárias nesses níveis de governo.” 

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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

FONTE DE LEITE E MEL G

overnos, o mais das vezes, não costumam ser criativos para resolver problemas. Eles pairam sobre as questões mais desafiadoras da humanidade de forma limitada e tradicional, resistentes na arte de ouvir a sociedade ou de respeitar a inventividade de sua gente. Importam e exportam produtos, mas ainda não sabem fazer o mesmo com soluções. Desenham dificuldades, vendem facilidades. Nossa casinha, permitam-me chamar a Terra assim, reclama cuidados. E as pessoas que nela vivem, mais ainda. Cada vez adiantará menos resolver problemas velhos com soluções velhas: Falta água? Então, dá-lhe represas! Falta energia? Toma hidrelétrica! Falta educação? Opa, faz escola! Falta saúde? Leva aí um hospital! Já aprendemos que o modelo não funcionou. É preciso algo novo e os exemplos não faltam, espalhados pelo nosso planetinha. Quem aponta a solução é a tecnologia. Só ela é capaz de empoderar as populações, não os governos! Um passeio pelo site da Fundação TED (www.ted.com), destinada à disseminação de boas ideias, não me deixa mentir. Do que adiantarão novas represas se as nascentes estão morrendo? Do que adiantarão novas hidrelétricas, se não há mais água? Do que adiantarão novas escolas, se o modelo de ensino é o mesmo e faltam professores? Do que adiantarão novos hospitais se faltarem médicos, equipamentos e materiais? A resposta é única para todas as perguntas: de nada! Mas a transformação social produzida pela tecnologia é brutal. Esgotos se transformando em água potável. Casas produzindo energia elétrica e vendendo o excedente para o governo. Regiões pobres ou distantes dos grandes centros recebendo educação barata, a distância. Populações em regiões inóspitas ganhando acesso a médicos especialistas. A despeito das evidências, os governos ainda preferem mover recursos, não conhecimento. Precisam de projetos megalomaníacos com grandes contas a pagar e quase nenhuma transferência real de autonomia para as comunidades locais. Precisam de cidadãos dependentes, que não se apropriem da tecno-

logia e não se desenvolvam. É assim em quase todo o planeta, independentemente de convicções políticas. Se a web pode ser usada para o mal, seu uso para a transformação social é incontestável. Nós, os ativistas da tecnologia, aqueles que acreditam que dar acesso à informação fará das pessoas cidadãos autônomos e conscientes, vamos lutando para que o bem mais precioso da humanidade seja produzido em abundância e distribuído com generosidade: o conhecimento. Enquanto lutamos essa guerra no mundo da informação, os governos continuam a dizer que as soluções simples são caras e que mudar hábitos é difícil. Fazem isso para serem, eles próprios, os únicos provedores da vida, aqueles que decidem o bem e o mal para seus povos. São deuses, no fim das contas. Chegará o dia em que todo ser humano saberá que, de um cabo de internet, jorra leite e mel. Jorra pão, água, saúde, educação e diversão. E por meio dele virá a maior de todas as cobranças: o direito ao conhecimento. Aí teremos tempo para preservar e usufruir a nossa bela casinha Terra. 

TECH NOTES l Transformando esgoto em água potável

http://goo.gl/YDl9iy

l Produzindo energia em casa e vendendo o

excedente http://goo.gl/d9LGUa

l Erradicando a pobreza com Educação a

Distância http://goo.gl/plTkov

l Medicina de alto desempenho a distância em

regiões carentes http://goo.gl/XeX4L9

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.

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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*) redacao@revistaecologico.com.br

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cura de uma dor que não tem nome veio por meio do barro. O mesmo barro que deixou cicatrizes profundas na alma dela. Estou falando de Sonia Imanishi, 54 anos, e que depois de tudo voltou para Minas, mais exatamente para Brumadinho, onde vive com o marido Geraldo Faraci. Entre ser vítima ou sobrevivente, essa mãe escolheu a última. Não partiu para o caminho de vítima nem de tentar culpar alguém por uma tragédia que poderia ter arruinado a sua vida por completo. Ela é mãe de Yumi, a jovem de 18 anos que foi soterrada junto com mais dois colegas do curso de Arquitetura naquele réveillon de 2009 para 2010, em Angra dos Reis (RJ). Os pais de Yumi eram donos da Pousada Sankay, na Enseada do Bananal, Ilha Grande, um lugar paradisíaco, que escolheram para ter qualidade de vida e criar a filha junto à natureza. Até que o pesadelo veio na virada do ano de 2009, às quatro da manhã, depois das comemorações de ano-novo. Até hoje, Sonia se belisca para ver se não está dormindo. Como se tivessem tirado o seu chão – e ela continuasse a flutuar sem bordas para segurar. Imagine perder ao mesmo tempo casa, trabalho e a única filha. No primeiro momento, mesmo sendo muito difícil, Sonia teve que resolver as pendências da pousada, que foi destruída, onde 20 funcionários perderam seus empregos. Com a simplicidade zen de seus antepassados, ela teve que refazer a vida, restaurando tudo, com paciência, aceitação e a força dos guerreiros samurais. Sonia é carioca, nasceu no Rio de Janeiro, mas é filha de pais japoneses que vieram para o Brasil no fim dos anos 1950. Até os 10 morou no Rio, onde os pais trabalhavam em uma indústria japonesa, depois vieram para Minas. Ela se confessa carioca, mineira e japonesa. Desde 2012, o casal mora num condomínio fechado na região de Brumadinho, onde está o ateliê de Sonia e o jardim em homenagem à filha, onde os girassóis a lembram da passagem rápida e ensolarada de Yumi entre nós. A casa tem todos os caquinhos da pousada, fica no meio do mato, embaixo do topo do mundo, onde os pais jogaram as cinzas da filha que, por incrível que pareça, já havia expressado o desejo de ser cremada. Foi justamente a urna com as cinzas de Yumi que

FOTO: ATELIÊ SONIA IMANISHI

QUANDO A DOR VIRA ARTE

SONIA e sua arte: recomeço

fizeram de Sonia uma ceramista digna de estar entre os grandes. A ideia era aprender a fazer o mais belo pote em cerâmica para colocar parte das cinzas da filha. O antigo pote de porcelana nunca fora do agrado de Sonia, até que descobriu uma vizinha famosa, a ceramista Erli Fantini, com o seu gigantesco forno a lenha para queima do barro. Ficou apaixonada com o fogo, o barro e as pessoas em volta da queima. Com o barro que soterrou os seus sonhos, ela reencontrou a filha. Cada peça de Sonia é dedicada a Yumi, pois as duas amavam a arte. Viajavam, visitavam museus, pintavam, desenhavam e decoravam juntas. Na casa de Sonia, as lembranças da filha estão por toda a parte. Afinal, em sua meteórica passagem pela Terra, Yumi falava cinco idiomas, tocava violão, teclado, compunha e reunia títulos como o de ser a segunda mulher a conquistar a faixa preta na arte marcial kobudô. Se ela sente saudade de Yumi? Todos os dias, mas transformou a dor em arte. Pegou o barro que lhe tomou tudo e o transmutou em beleza. Hoje, ela respira cerâmica. Acorda às quatro da manhã para moldar o barro com a dor de perder, mas guarda a felicidade de ter convivido com essa espécie de anjo que só esteve aqui para alegrar as pessoas à sua volta. Enquanto trabalha no barro, Sonia recita o mantra: “Farei dos meus olhos os seus; e dos seus olhos, os meus.”  (*) Jornalista e escritora.

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O Brasil desperdiça cerca de R$10 bilhões por ano devido ao mau uso da energia. Nestas festas, apague todas as luzes antes de dormir. A WayCarbon deseja a todos um fim de ano brilhante e um 2015 mais consciente! Fonte: Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (Abesco)

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ALÉM DO ÓBVIO INOVAÇÃO EM CONSULTORIA AMBIENTAL Vantagem sustentável para uma nova economia.

Porque a solução para o desenvolvimento sustentável depende de todos nós.


FOTOS: DOLLARPHOTOCLUB

FOTO: SANGAMITHRA IYER - WAN PARK

1 FAUNA

UM PASSO CONTRA A

CRUELDADE Projeto de Lei aprovado em São Paulo proíbe a criação de animais em confinamento

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Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) aprovou o Projeto de Lei 714/12, de autoria do deputado Feliciano Filho (PEN), que proíbe a criação de animais em sistema de confinamento. Nesse método, lotes de animais são colocados em piquetes ou locais com área restrita, impossibilitando-os de expressar seu

comportamento natural e o pleno atendimento de suas necessidades físicas e mentais. De forma cruel, visa acelerar a engorda dos animais, aumentando a produtividade e diminuindo os custos do negócio. “Esse sistema vem se intensificando em nome do ganho produtivo. Mas ele é perverso com os animais, provocando lesões e estresse. Muitos passam a vida

sem ver o sol ou a natureza. Apenas nascem, sofrem e morrem”, explica Feliciano. Um relatório publicado recentemente pela organização de proteção animal norte-americana Humane Society International aponta que “o confinamento intensivo desses sistemas de produção prejudica severamente o bem-estar dos animais, pois são incapazes de se exercitar,

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FOTO: MÁRCIA KALUME / AGÊNCIA SENADO

AS CELAS DA INDIGNAÇÃO

FELICIANO FILHO: "O sistema é perverso com os animais"

de esticar completamente seus membros, ou de se envolver em muitos comportamentos naturais importantes. Como resultado da restrição severa desses sistemas de alojamento monótonos, os animais podem experimentar significativas e prolongadas agressões físicas e psicológicas. Além disso, extensiva evidência científica mostra que os animais confinados intensamente são frustrados, angustiados e sofredores”. Segundo o texto, “produtividade não é sinônimo de bem-estar, igualar um ao outro não tem respaldo científico. A produtividade é muitas vezes medida em nível de grupo, o que não reflete com exatidão o bem-estar individual”. No Brasil, as práticas mais comuns de confinamento são as gaiolas em bateria, celas de gestação e gaiolas para bezerros (leia mais no box ao lado) utilizados, respectivamente, para galinhas poedeiras, porcas prenhes e bezerros criados para vitela. A União Europeia, por meio de processos graduais, eliminou tais práticas até 2013. Nos Estados Unidos, os estados do Colorado, Arizona, Flórida, Oregon e Califórnia também têm coibido o confinamento. O projeto de lei determina que

GAIOLAS EM BATERIA São pequenas enclausuras de arame, que portam de cinco a 10 aves. Cada animal se restringe a um espaço médio de 430 a 550 centímetros quadrados, algo similar a uma folha de papel carta. Dessa forma, ficam impedidas de realizar seus comportamentos naturais, tornando-se inativas, em um chão estéril de gaiola. Tais restrições severas causam, além de estresse, a má condição do pé e distúrbios metabólicos como osteoporose e danos hepáticos.

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CELAS DE GESTAÇÃO As porcas reprodutoras passam os quatro meses de prenhez nas chamadas celas de gestação, jaulas individuais com piso de concreto que medem, em geral, 0,6 x 2,1 metros quadrados. Pouco maior que o próprio animal, é tão severamente restritiva que a impede até mesmo de se virar. Os riscos desse tipo de confinamento são infecção do trato urinário, ossos enfraquecidos, claudicação e alterações comportamentais.

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GAIOLAS PARA BEZERROS O confinamento intensivo de bezerros é realizado para a produção de vitela (corte de animal jovem). O animal de raça de leite é criado até 16 a 18 semanas de idade, período em que chega a pesar cerca de 200 quilos, antes de ser destinado à indústria de carne. Somente uma pequena porcentagem é criada até a maturidade e utilizada para reprodução. Os vitelos são mantidos em gaiolas individuais com cerca de 70 centímetros de largura, amarrados na parte da frente da gaiola com uma coleira curta. Ficam com os movimentos restritos e impedidos de se deitar da maneira mais confortável às suas necessidades. A falta de exercícios regulares leva ao comprometimento do desenvolvimento ósseo e muscular, assim como a doenças nas articulações. CANIS E GATIS Em muitos deles, oficiais e clandestinos, as matrizes são mantidas confinadas em gaiolas, por toda a vida, sem receber luz do sol e podadas da possibilidade de se mover de acordo com as necessidades anatômicas, fisiológicas, biológicas e etológicas. Muitos animais desenvolvem transtornos comportamentais irreversíveis.

o descumprimento das disposições resultará em punição com pagamento de multa de 2.000 UFESPs (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo) por animal (cerca de R$ 40.280), valor que dobrará em caso de reincidência. Poderá ainda ser realizada a apreensão do animal ou do lote, a suspensão temporária do alvará de funcionamento, assim como sua suspensão definitiva, de

acordo com a progressão do caso. O projeto autoriza o Estado a reverter os valores recolhidos para custeio das ações, publicações e conscientização da população sobre guarda responsável e direitos dos animais, para instituições, abrigos e santuários de preservação, ou para programas estaduais de controle populacional ou que visem à proteção e bem-estar dos animais. 

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CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO

MAR SUBINDO

O nível do mar aumentou 20 centímetros nos últimos 100 anos, o que não acontecia há quase seis milênios. A afirmação consta de pesquisa publicada pela Universidade Nacional da Austrália, que analisou as flutuações do nível do mar nos últimos 35 mil anos.

FOTO: ROSINO

ACIDIFICAÇÃO DOS MARES (I)

A economia mundial pode perder US$ 1 trilhão por ano, até o final do século, caso não sejam tomadas medidas urgentes para impedir a acidificação dos oceanos. O alerta foi feito pela Unesco e se refere somente à perda econômica das indústrias ligadas aos arrecifes de coral, uma das espécies mais vulneráveis.

ACIDIFICAÇÃO DOS MARES (II)

Elaborado por uma equipe de 30 especialistas, o relatório afirma também que a acidificação dos oceanos aumentou em 26% desde os tempos préindustriais e vai continuar se agravando nos próximos 50 a 100 anos, afetando organismos marinhos, ecossistemas, bens e serviços que eles fornecem.

FOTO: DANIEL BELTRA / GREENPEACE

EL NIÑO

De acordo com a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, a NOAA, uma nova edição do fenômeno El Niño deve começar até o fim do ano e aumentar a temperatura do Oceano Pacífico. Segundo os cientistas, a anomalia na costa pacífica da América do Sul deixa o mar ao menos 0,5ºC mais quente e enfraquece os ventos alísios, que sopram de leste para oeste na região equatorial.

DESMATAMENTO PERUANO

Não é apenas no Brasil que o desflorestamento da Amazônia continua. No Peru, segundo dados divulgados pelo ministério de Meio Ambiente de lá, mais de 145 mil hectares foram devastados em 2014, um aumento de 22% em relação ao ano passado e de 80% se comparado aos índices de 2001, quando foram perdidos 80 mil hectares de área verde.

MUNIQUE VERDE

Autoridades da terceira maior cidade da Alemanha anunciaram o compromisso de suprir a demanda de eletricidade com energia 100% renovável até 2025. Para isso, a Stadtwerke München, empresa municipal de eletricidade, terá que produzir cerca de 7,5 bilhões de kilowatts/hora de energia verde para mais de um milhão de habitantes.

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FOTO: SHUTTERSTOCK

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ABELHAS

EQUILÍBRIO

FOTOS: DOLLARPHOTOCLUB

AMEAÇADO

Responsáveis pela polinização da maioria dos vegetais que alimenta a humanidade, as abelhas estão desaparecendo em velocidade preocupante, inclusive no Brasil Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

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osso planeta é composto por terra, água, atmosfera e seres vivos, como plantas e animais, incluindo nós, os humanos. Juntos, formamos e habitamos os ecossistemas responsáveis pelo delicado mosaico que sustenta a grande teia da vida. A urgência e a importância de conservar todo o rico patrimônio natural que nos cerca são crescentes. Hoje, consumimos 25% mais recursos naturais do que a Terra é capaz de nos fornecer. Diante dessa realidade, aumentam a cada dia a pressão e a ameaça à sobrevivência de diferentes espécies, hábitats e populações, levando à perda de exemplares da

fauna e da flora, alguns ainda nem mesmo estudados. O desaparecimento de uma espécie essencial à sobrevivência humana – as abelhas – tem motivado esforços de centenas de pesquisadores e entidades mundo afora. Trabalhadeiras e vigilantes, as abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 70 das 100 espécies vegetais que fornecem 90% dos alimentos consumidos no planeta, segundo dados da ONG WWF-Brasil. O alerta de conservação é essencial. Afinal, em um mundo sem abelhas, não ficaremos apenas sem mel, cera e flores; corremos o risco de ficar sem comida. Isso

num planeta em que, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), um em cada nove habitantes já passa fome. POLINIZADORES VITAIS Poucos sabem, mas espécies vegetais como o maracujá, a berinjela e o pimentão, por terem flores mais fechadas, precisam de polinizadores específicos. Mas a lista de frutas, vegetais e sementes que dependem das abelhas para serem produzidas é ainda maior, incluindo também uva, limão, maçã, melão, cenoura, amêndoa e castanha-do-pará. Produtores de abelhas em todo o mundo, em especial nos Estados

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FOTOS: MELIPONÁRIO DO SERTÃO

FOTO: THIAGO MLAKER

FOTO: JOSÉ REYNALDO DA FONSECA

FOTO: DEMETER

JATAÍS, irapuãs, uruçus, mandaçaias e mamangavas são algumas das 20 mil espécies de abelhas existentes

Unidos, já relatam perdas de até 50% em suas populações de abelhas em colmeias. Em algumas regiões da China, elas já não existem mais. Uma das principais causas do desaparecimento desses insetos, segundo pesquisas, é o uso abusivo de inseticidas e agrotóxicos. Substâncias presentes nesses produtos atingem o sistema nervoso e digestório das abelhas, desestabilizando seus voos e deslocamentos. Quando não morrem intoxicadas, elas perdem o caminho de volta, deixando a colmeia vazia. Em casos mais graves, não conseguem se alimentar e morrem por inanição. Além do uso de pesticidas, outros fatores, como eventos extremos causados por mudanças climáticas, poluição do ar, des-

Polinização:

as abelhas são responsáveis por levar o pólen de uma planta a outra, colaborando com a fecundação das flores que, por sua vez, geram novos frutos e sementes. Esse é o processo de polinização. Quando essa cadeia é interrompida, como vem acontecendo por meio do CCD, a reprodução fica comprometida.

matamento seguido pela ocupação do solo por extensas monoculturas (milho, trigo e cana), bem como técnicas para aumentar a produção de mel também contribuem para o chamado Distúrbio de Colapso de Colônias, ou CCD, na sigla em inglês. ABELHA AFRICANIZADA Em todo o mundo há cerca de 20 mil espécies de abelhas. No Brasil, cálculos indicam a existência de duas mil a três mil espécies. A mais conhecida é a Apis mellifera, popularmente chamada de “abelha de mel” ou “africanizada”, que não é nativa do país. Ela foi introduzida nos séculos passados, com diferentes linhagens vindas da Europa e África. Aqui se reproduziu e originou a abelha africanizada. As abelhas nativas do Brasil são

Inseticidas neonicotinoides:

são usados para combater pragas, principalmente em lavouras de soja, algodão e milho. Atualmente, têm o seu uso restrito no Brasil. Substâncias presentes nesses produtos se “movimentam” dentro da planta e, uma vez aplicadas, permanecem agindo por até 45 dias.

os meliponíneos ou abelhas sem ferrão (jataís, irapuãs, uruçus, mandaçaias), as mamangavas (Bombus e Xilocopas) e várias outras espécies de abelhas solitárias. As africanizadas estão distribuídas por todo o Brasil. As demais são espécies com distribuições regionais ao longo do território brasileiro, dependendo de suas adaptações. A velocidade da perda de colmeias no Brasil preocupa e acendeu o sinal vermelho. Há registros de perdas de 20 mil colônias em São Paulo, entre 2008 e 2010. Em Santa Catarina, esse número chega a 100 mil, somente em 2011. Em Minas Gerais, as perdas oscilam entre 20% e 40%, principalmente na região do Triângulo Mineiro. Há ainda relato de um caso específico, na região de João Monlevade, com a perda de duas mil colmeias em 2013. No site “Beealert” também são citados casos nas cidades mineiras de Frutal, Passos, Lavras, Barbacena, Entre Rios de Minas e Jaboticatubas, esta última na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No entanto, nesses locais, segundo especialistas, não há dados sobre o número de colmeias afetadas nem mesmo comprovação das causas da mortalidade.

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FOTO: VALE / CSIRO

1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ABELHAS

Comportamento monitorado

FOTO: VALE / CSIRO

Uma metodologia que permite avaliar os fatores que impactam a saúde das abelhas, levando-as à morte de forma prematura, acaba de ser desenvolvida por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale de Belém (ITV) e da CSIRO, agência nacional de pesquisa da Austrália. A pesquisa está sendo desenvolvida com colmeias na Amazônia e na Tasmânia e foi apresentada em outubro. “Descobrimos uma função de longevidade, uma espécie de índice de saúde das abelhas. Com essa função, conseguimos medir o impacto de qualquer fator debilitante sobre os insetos e, possivelmente, o ponto crítico de ruptura da estrutura social da colmeia, ou seja, o Distúrbio de Colapso de Colônias (CCD)”, explica o físico Paulo de Souza, coordenador do experimento. Desde junho, está sendo monitorado o comportamento de um grupo de 400 abelhas africaniza-

ALTERAÇÕES no comportamento das abelhas têm preocupado cientistas

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das, por meio de microssensores instalados no tórax dos insetos. O experimento está sendo desenvolvido em um apiário de Santa Bárbara do Pará, na região metropolitana de Belém. O levantamento integra um estudo maior, iniciado em setembro do ano passado na Tasmânia, para descobrir as causas do CCD. Essa doença tem provocado a morte da população das abelhas duas vezes mais rápido do que alguns anos atrás. Na Amazônia, a intenção dos pesquisadores é observar, ainda, em que medida as mudanças do clima – principalmente a alteração do regime de chuvas – estão afetando o comportamento desses insetos. Fatores que podem explicar a causa do CCD:  O uso abusivo de pesticidas nas lavouras.  Ondas eletromagnéticas emitidas por redes de telefonia celular.  Mudanças climáticas, particularmente com a maior ocorrência de eventos extremos.  Infestação por praga (varroa, ácaro que se alimenta do sangue das abelhas).  Disseminação da monocultura.  Poluição do ar e o uso de técnicas para aumentar a produção de mel, que estressam e desorientam os insetos.

ENTENDA MELHOR

 O Ibama foi o responsável pela iniciativa de levantar o problema do desaparecimento das abelhas no Brasil, com a publicação da portaria de suspensão das aplicações aéreas de inseticidas neonicotinoides, em 2012. Até então, poucos representantes dos demais órgãos governamentais, das empresas do setor e até mesmo agricultores tinham consciência da importância das abelhas e dos polinizadores na produção de alimentos para a humanidade.  Essa portaria tornou o problema público e despertou a atenção de outros segmentos da sociedade, inclusive da mídia. Hoje, grande parte da população já ouviu falar do desaparecimento das abelhas, da importância de sua preservação e estão se posicionando em sua defesa. VOCÊ SABIA... ...Que a Região Sul responde por 49% da produção brasileira de mel? Segundo dados de 2012, do IBGE, o Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional, seguido dos estados do Paraná e de Santa Catarina. No Nordeste também há uma produção significativa: aproximadamente 46 mil apicultores, de nove estados, produzem 40% do mel brasileiro. Em todo o país, são 350 mil produtores.

FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Unesp Rio Claro (Centro de Estudos de Insetos Sociais-IB), WWF Brasil, Vale, Ibama e Agência Envolverde.

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TRÊS PERGUNTAS PARA...

OSMAR MALASPINA

Professor do Departamento de Biologia e pesquisador do Centro de Estudos de Insetos Sociais do Instituto de Biociências, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) A mortandade de abelhas ameaça lavouras que dependem delas para a sua polinização, como a do maracujá. Há outras culturas que também podem ser comprometidas? No caso do maracujá, sim. Essa cultura é dependente da polinização por abelhas conhecidas como mamangavas. Se elas desaparecerem, a polinização terá de ser feita manualmente, o que acarretará um expressivo aumento dos custos de produção. No Brasil, temos várias culturas totalmente dependentes da polinização por abelhas. Vou citar três delas: melão, maçã e castanha-do-pará. Se não tivermos abelhas para polinizá-las, não teremos como seguir produzindo. O modo de aplicação do agrotóxico – como a pulverização feita por aviões, por exemplo – aumenta o risco de contaminação das colmeias? Sim. A pulverização aérea pode provocar um fenômeno conhecido como deriva, no qual o agrotóxico é levado pelo vento e atinge áreas maiores que as desejadas, como as matas ou fragmentos florestais. Normalmente, é nessas matas que as abelhas fazem seus ninhos e os apicultores colocam seus apiários. Assim, a presença de agrotóxicos acaba causando mortalidades. A aplicação de inseticidas durante o período de floração das culturas também é prejudicial. Com as flores abertas, as abelhas vão coletar néctar ou pólen e acabam absorvendo os resíduos de inseticidas ali depositados. Elas levam esses resíduos para o interior dos ninhos, causando a morte das crias e contaminando produtos como o mel.

maior tem de ser a criação de um sistema de convivência sustentável entre as atividades agrícolas e o meio ambiente, principalmente os polinizadores. Também considero fundamental a participação do Ibama nesse processo e no apoio à construção de agendas positivas destinadas à proteção dos polinizadores. 

Qual é o caminho para que se restabeleça o equilíbrio entre oferta de alimentos/produtividade das lavouras/controle de pragas e a conservação das colmeias? A definição de políticas públicas e privadas mais rigorosas, visando às boas práticas de aplicação e manejo do sistema agroflorestal. O objetivo

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1 TERRA BRASILIS

PARQUE NACIONAL da Tijuca, que abriga o Corcovado, no Rio de Janeiro, uma das muitas belezas naturais do Brasil: 48% dos entrevistados afirmam que áreas protegidas ajudam a melhorar a qualidade do ar

ORGULHO DA NATUREZA Pesquisa do Ibope encomendada pelo WWF-Brasil mostra que mais da metade dos brasileiros têm orgulho do patrimônio natural do país

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lém do futebol, o brasileiro acaba de revelar que tem outra paixão. Uma pesquisa nacional encomendada pela ONG WWF-Brasil aponta que a maior parte da população tem um forte sentimento de orgulho pelo meio ambiente e pelas riquezas naturais do país. A maioria sabe da importância das áreas protegidas para o bem-estar humano e acha que a natureza não está sendo tão bem cuidada como deveria.

A pesquisa foi realizada com cerca de duas mil pessoas em todas as regiões do país e buscou entender como a população brasileira se relaciona com as unidades de conservação, como parques, reservas e outras áreas protegidas. Os resultados da pesquisa foram apresentados em 18 de novembro durante o Congresso Mundial de Parques, realizado em Sydney, Austrália. Os dados mostram que 58% dos entrevistados têm no meio am-

biente um motivo de orgulho. Esse mesmo sentimento faz bater o coração de 37% da população quando o tema é diversidade cultural. E 30% afirmam que têm no esporte a razão para exaltar sua brasilidade. O brasileiro também está ciente do papel das áreas protegidas para o bem-estar de todos. Entre os entrevistados, 65% afirmaram que a proteção da fauna e da flora é um dos benefícios dessas áreas. A população também sabe que proteger o meio ambiente signifi-

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DESCOMPASSO POLÍTICO “O que a pesquisa deixa claro é que há um descompasso entre as políticas públicas de meio ambiente no Brasil e os anseios da população. Apesar do apreço que o brasileiro tem pelas áreas naturais, da importância delas na vida cotidiana das pessoas, esse tema não é uma prioridade nacional do ponto de vista dos governos”, afirma Maria Cecília Wey de Brito, CEO do WWF-Brasil. Exemplo disso, diz ela, é o fato de que no recente debate eleitoral, a questão ambiental ficou na escuridão. “Foi isso que nos inspirou a fazer a pesquisa. Achamos que os políticos ainda não percebem o quanto o meio ambiente pode beneficiar o país. E o pior: não são capazes de perceber que a proteção da natureza é uma expectativa nacional.” Segundo a CEO, as áreas protegidas ajudam a conservar a água que abastece desde a agricultura até o consumo doméstico. As florestas e outros ecossistemas também colaboram no equilíbrio do clima, no regime de chuvas e fornecem uma diversidade enorme de outros serviços, como matérias-primas para medicamentos, alimentos e cosméticos. Têm, portanto, um papel econômico que ainda não está sendo considerado. “Será que vamos ter de sofrer outra crise como a da água em São Paulo para começar a dar valor à conservação do meio am-

FOTOS: DOLLARPHOTOCLUB

ca garantir a proteção de nascentes e rios, principais reservas de água para o consumo humano. Essa relação está clara para 55% dos que responderam à pesquisa. Para 48% dos pesquisados, as áreas protegidas ajudam a melhorar a qualidade do ar; 34% identificam nesses locais uma oportunidade para o descanso e o lazer; e 25% enxergam perspectivas econômicas a partir da conservação do meio ambiente.

DE ACORDO com a pesquisa, 30% dos entrevistados afirmaram que têm no esporte uma razão para exaltar sua brasilidade

biente?”, pergunta Wey de Brito. Segundo ela, a resposta dada pelo governo de São Paulo na questão hídrica foram obras que gastarão R$ 3,5 bilhões. “E não vai nada para a conservação dos mananciais. Não está certo.” A falta de atenção com o meio ambiente é uma preocupação do brasileiro que se reflete na pesquisa encomendada pelo WWF-Brasil. De cada 10 entrevistados, oito consideram que a natureza não está protegida de forma adequada. Apenas 11% acham que sim. “De fato, nosso sistema nacional de unidades de conservação nunca esteve tão ameaçado quanto agora. E isso está ocorrendo com anuência do Congresso Nacional por meio de projetos de lei e uma avalanche de pedidos de licença para mineração e construção de grandes obras de infraestrutura”, adverte Jean François Timmers, superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil. Todas essas atividades podem gerar muito desmatamento. Não é à toa que 27% dos entrevistados veem no corte raso das florestas uma das principais ameaças à na-

tureza. A poluição das águas está em segundo lugar, com 26%. Caçar e pescar em locais proibidos são motivos de preocupação para 19% dos entrevistados. Outras ameaças apontadas na pesquisa são as grandes obras de infraestrutura e as mudanças climáticas. Como resolver esse problema nacional? Setenta e quatro por cento dos entrevistados acham que o governo deve agir em primeiro lugar. Em segundo, são os cidadãos que devem tomar a frente (46%). As ONGs também foram citadas. Para 20% dos brasileiros ouvidos na pesquisa, essas organizações têm papel importante na hora de cuidar das unidades de conservação. “Precisamos de um pacto amplo, que envolva todos os setores, para mudar o cenário atual e posicionar a conservação da natureza e as áreas protegidas como prioridades reais na agenda do governo nos próximos quatro anos”, afirma Timmers. “Não dá mais para esperar, os resultados dessa negligência estão batendo à nossa porta.”  SAIBA MAIS

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1 CONSULTORIA AMBIENTAL

REALIZAR o monitoramento da fauna aquática e terrestre antes, durante e após um empreendimento é dever dos licenciantes

FOTO: JUSSARA S. DAYRELL / ACERVO SETE

CONSULTAR É PRECISO

Empresas de consultoria estão cada vez mais preparadas para o mercado, fazem seus clientes transcender o dever de cumprir a legislação e partilham com a sociedade uma visão integral do meio ambiente Ana Carolina Novaes de Almeida redacao@revistaecologico.com.br

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solução de questões como seca, desmatamento e poluição é cada vez mais relevante para o bem-estar do planeta. Para isso, um ciclo virtuoso de desenvolvimento deve, imprescindivelmente, incluir mais qualidade de vida para todos. Em Minas Gerais, não é diferente. Explorar as riquezas naturais e, ao mesmo tempo, desenvolver ações para preservá-las são desafios que sempre fizeram parte da história ambiental do estado. Foi-se o tempo em que empresas privadas e estatais, instituições e órgãos públicos não levavam em conta a manutenção do equilíbrio ecológico da região onde se instalavam. Há três décadas, a Lei 6.938/81, da Política Nacional do Meio Ambiente, e a Resolução Co-

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nama nº 001, de 23 de janeiro de 1986, determinaram a prática da avaliação de impacto ambiental para implantação e ampliação de empreendimentos, tendo em vista a preservação, a restauração, o uso racional e a disponibilidade permanente dos recursos naturais. O licenciamento ambiental passou a ser indispensável na viabili-

zação de projetos e Minas ganhou ampla expertise no assunto, tendo sido o primeiro estado a adotar e formatar um sistema de política de meio ambiente, vide que o modelo do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) foi inspirado no nosso Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Nesse contexto, várias empresas de consultoria foram criadas, seguindo a tradição desse pioneirismo, e se consolidaram no mercado. “Hoje, a estimativa é de termos aproximadamente 250 empresas de consultoria atuantes em Minas”, assegura Ronaldo Malard, sócio-fundador e presidente do Instituto Mineiro de Desenvolvimento Ambiental (Imda), associação que visa discutir, avaliar e defi-

EVANDRO ALVARENGA: "A consultoria é parceira do desenvolvimento sustentável"

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SUPORTE SUSTENTÁVEL A consultoria ambiental tem o papel de dar suporte a empresas e instituições, desenvolvendo e implementando estudos e programas que correspondam às exigências para a obtenção das licenças Prévia (LP), de Instalação (LI) e de Operação (LO). Além disso, podem ser ofertados serviços como estudos estratégicos, auditorias, monitoramentos, apoio à certificação (ISO 14001) e gestão, entre outros. Por exemplo: o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) exige que seja apresentado um Diagnóstico Ambiental, isto é, um “retrato” do local onde será implantado ou ampliado determinado empreendimento. A missão dos consultores é fazer um trabalho apropriado de investigação das condições ambientais de uma região e conjugar isso com todo o “estado da arte” do projeto e o processo de licenciamento. Isso significa consultar fontes de estudos de universidades, instituições governamentais e outras sobre o processo social, econômico, cultural e do meio ambiente regional. E, ainda, realizar e desenvolver estudos em campo sobre os vários aspectos que se interligam e se interrelacionam nos meios físico (ar, clima, ruído, vibração, relevo, solo, água, rocha etc.), biótico (flora e fauna) e socioeconômico e cultural (sociedade, história, saúde, educação, saneamento, economia, segurança, lazer e patrimônio cultural - arqueológico, material e imaterial, comunidades tradicionais etc.). Em segundo lugar, ainda no caso da elaboração do EIA, os técnicos identificam e avaliam os

FOTO: DANIEL C. SILVEIRA / ACERVO SETE

FOTO: DANIEL C. SILVEIRA / ACERVO SETE

nir critérios relativos a um Sistema de Gestão da Sustentabilidade, de forma a garantir às organizações respaldo para formular e implementar uma política e objetivos que levem em conta normas e requisitos legais, seus compromissos éticos e sua preocupação com a cidadania e o meio ambiente.

A IDENTIFICAÇÃO de espécies arbóreas é um fator essencial para se conhecer a condição ambiental de uma região

impactos decorrentes da implantação do projeto. Essa avaliação deve estar ancorada em um bom diagnóstico e na capacidade técnica da equipe em adotar uma metodologia capaz de definir a real magnitude dos impactos. Por fim, devem propor medidas de controle, monitoramento, mitigação, prevenção, compensação e potencialização (para impactos positivos), visando assegurar a viabilidade de tal projeto. “A consultoria abre oportunidades para profissionais exercitarem seus trabalhos de forma diferenciada, ou seja, de maneira multi, inter e transdisciplinar. O processo não enfatiza um único aspecto. Ao contrário, propicia uma visão integrada de um determinado território. Esse é um dos grandes diferenciais desse trabalho”, atesta Evandro Alvarenga, diretor da SETE Soluções e Tecnologia Ambiental, empresa de consultoria que desde 1997 atende clientes das áreas de mineração, energia, infraestrutura e indústria, nos quatro cantos do país. Além disso, abre-se aí um grande mercado de trabalho para profissionais de várias esferas do conhecimento, com níveis elevados de formação, o que carrega uma forte responsabilidade e papel social. Empresas sérias e bem estabelecidas contam com equipes de trabalho de, no mínimo, 30 pessoas. Vale lembrar que vários

técnicos que trabalham e abriram empresas nesse segmento vieram dos próprios órgãos oficiais, como a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), por exemplo. Ao longo de mais de 30 anos, o mercado da consultoria evoluiu, estabeleceu metodologias vinculadas a uma abordagem científica apropriada para esse ofício. Empresas se consolidaram, gerando serviços que são frutos de um tempo de maturação, investimento, conhecimento e capacitação de equipes. Hoje, as empresas estão aperfeiçoando sua administração e se ajustando às novas exigências de seus clientes, principalmente nos setores de saúde e segurança, desenvolvimento de pessoas, controle da informação, responsabilidade social e sistema de gestão (ISO 9000, 14000 e 18000). Tudo isso abre oportunidades de emprego e crescimento na profissão e incorpora um grande número de indivíduos que se realizam neste trabalho. Capacita o empreendedor para entender o processo de licenciamento. E contribui para a sociedade na medida em que se compartilha uma perspectiva e uma análise integral do meio ambiente. Uma boa e confiável empresa de consultoria é capaz de ajudar a conciliar exploração e preservação, buscando o caminho mais adequado e justo para todos: o da sustentabilidade. 

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MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: MARCOS GUIÃO

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NATUREZA MEDICINAL

ÁGUA DOS CÉUS A

água é elemento essencial à vida. E, sem ela, nossa existência por aqui é completamente inviável. Quando nascemos, 90% do nosso corpo é constituído de água. Na adolescência, cai para 70%. Na fase adulta, para 60%. E, nos idosos, pouco mais de 50% de água. Isso faz parte do processo natural de envelhecimento e, por isso, o idoso que fica confuso, irritado e meio fora do ar, de repente, pode estar com desidratação. Água pura é o melhor líquido para limpar os tecidos e ativar a função intestinal. Seu consumo diário, na quantidade adequada, promove boa saúde. O ideal é tomar pelo menos oito copos de água por dia, começando por um ou dois ainda em jejum. Durante as refeições, não é bom ingerir líquidos porque eles diluem os sucos digestivos e retardam a digestão. Muita gente se queixa de indolência, fadiga, dor de cabeça e nervosismo, mas isso pode ser resolvido simplesmente bebendo mais água. Como tudo na vida, o exagero castiga e a falta também. Aqui no Gerais, quando é chegado o tempo das águas, em toda roda de prosa o assunto predileto são elas. Este ano, estamos experimentando tempos de pouca água descendo dos céus, e dia desses dei reparo no proseio do Zé Tabinha, caboclo esguio, de rosto magro, ornado por um fio de bigode contornando a boca. Se demos pela primeira vez devido à precisão de um pedreiro, mas daí derivou-se uma

amizade das boas. Andejo, já rodou meio mundo de São Paulo a Belo Horizonte, mas sua paixão declarada é pelas alturas do Espinhaço, berço das cabeceiras do Jequitinhonha. “Essa serraria tem nas entranhas muito minério e isso puxa raio e trovão nas tempestade, que Deus me livre”, vai falando e se benzendo. “No geral, é nas entrada e nas saída delas que acontece essa relampeação, com o céu esturrando e o vento revirando meio mundo...”, completa ele com seriedade, pois já passou muitos aperreios. “Pois óia moço, indesde pequeno quando formava as nuvens pra aquele lado dali, vixe! Mãe passava a mão na fiarada e trepava com os 11 fios em riba da cama de casal inté a tempestade passá. Ela inda rebuçava a cabeça de nóis tudo com um lençol branco – tinha de sê branco! Virava o espelho pra parede e a gente danava rezá, garrado na casaca de Jesus pedindo misericórdia... Inté hoje inda corro pro quarto e me rebuço sem colocá os pé no chão de jeito maneira inté a bagaceira se assentá. Medo muito que eu tenho. Já vi gente morrida disso, animal ficado torradinho com raio.” Pois é assim! Sem a água não podemos ficar, mas que ela chegue de mansinho, sem assustar. Inté a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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Na tela da TV Horizonte

Foto: Marcos Figueiredo

Sexta Ă s 21h45


1 VOCÊ SABIA?

NASCIDOS PARA BRILHAR Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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a um fenômeno chamado bioluminescência. É a capacidade que um organismo vivo tem de produzir e emitir luz. Quer conhecer alguns desses seres brilhantes? Acompanhe a seguir:

FOTO: WILLIAM HO

m dezembro, não são apenas as luzes de Natal que cintilam por aí. Na natureza, há espécies que dispensam o pisca-pisca e produzem - muito bem - o próprio brilho, devido

PLÂNCTON ILUMINADO Em San Diego, na Califórnia (EUA), um surfista que decidir "pegar" ondas à noite pode encontrar o mar coberto por pequenas luzes azuis. O belo fenômeno, que a princípio parece artificial, nada mais é que do que fitoplâncton bioluminescente, chamado Lingulodinium polyedrum. Isso ocorre porque esses pequenos organismos marinhos reagem, com brilho, a situações de contato com pranchas, embarcações e mesmo com a costa. Espetáculo que também ocorre nas ilhas Maldivas, pequeno país insular situado no Oceano Índico.

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LUZ CIENTÍFICA Já a água-viva Aequorea victoria, também conhecida como geleia-de-cristal, não só produz um espetáculo à parte, devido ao seu brilho, como também rendeu o Prêmio Nobel de Química, em 2008, para o cientista Osamu Shimomura e seus colaboradores Martin Chalfie e Roger Tsien. Eles descobriram na espécie uma proteína verde fluorescente, batizada de GFP. Graças a esse composto, os pesquisadores criaram formas de observar processos que eram antes invisíveis, como o desenvolvimento de neurônios no cérebro ou como as células cancerosas se espalham.

FOTO: ART FARMER

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LAKE

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BRILHO TUPINIQUIM Se observar luzes marinhas é um privilégio de quem vive em outro país, avistar um inseto “aceso” é bem mais comum no Brasil. Aqui, os conhecidos vaga-lumes, da família dos Lampirídeos, que emitem na parte inferior do abdômen uma luz, produzida por um processo químico, são encontrados em biomas como Mata Atlântica e Amazônia. O oxigênio inalado pela espécie reage com uma molécula de luciferina, formando outra molécula de oxiluciferina. Quando essa molécula perde sua energia, é emitida uma luz, que, por não ter perda de calor, é fria. Tudo isso só para chamar a atenção dos futuros pretendentes.

AMIGOS ILUMINADOS O peixe-lanterna Photoblepharon sp vive nas profundezas do Oceano Índico e conta com a parceria de “amigas” valiosas para iluminar seu caminho. Bactérias simbióticas que vivem em órgãos abaixo dos olhos da espécie provocam a liberação da enzima luciferase sobre o substrato luciferina. Eles reagem entre si, liberando uma luz que ajuda tanto na caça quanto na defesa do peixe. Resultado da bela amizade? Olhos brilhantes e barriga cheia.

FOTO: REPRODUÇÃO

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ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE OSLO, NORUEGA

GRATIDÃO

empo de Natal e fim de ano é sempre assim: “As pessoas relatam o poder de cura do agradeciaquela euforia, comilança, compras, estresse, mento; de sarar mágoas do passado, bem como o festas, ressacas... Em meio a esse redemoinho de promover sentimentos de esperança e inspiração de eventos que nos engolfa, tanto as marcas do fim para o futuro. Elas descrevem ainda o poder de muquanto do início de um novo ciclo em nossas vidas dar suas vidas, o que representa, em muitos casos, se dão por eventos externos a nós. De um lado, são uma ‘mudança mental’ para se concentrar não no as festas e celebrações. Mas o que você me diz da que falta, mas valorizar o que elas já têm.” outra face desses rituais? Do momento de olhar Philip Watkins, cientista e pesquisador da Eastern para trás, para esses 12 meses da sua vida, e sentir Washington University (EUA), ressalta que gratidão gratidão? Ou ainda da oportunidade de mirar o fu- neutraliza adaptação e habituação. Nós temos o hábituro e estabelecer suas intenções? to de pensar que felicidade é somente prazer e alegria Não! Não descarte como banais essas práticas. Pes- ou se sentir bem sobre as coisas que nos trazem praquisas científicas sugerem fortemente zer. Só que pesquisas sobre sentimenque desconsideramos gratidão em nos- “A gratidão nos faz tos mostram que “emoções positivas” so próprio detrimento. Na verdade, a se desgastam rapidamente. O nosso gratidão é tão essencial para a felicidade apreciar o valor de sistema emocional gosta de novidades, que alguns especialistas veem os dois alguma coisa, nos mudanças. Nós nos adaptamos até termos como praticamente sinônimos. mesmo às circunstâncias positivas da tornando menos Cientificamente, hoje está comprovida, de modo que em um curto períovado que as pessoas que praticam propensos a tomá-la do de tempo, o carro novo, o cônjuge consistentemente gratidão estão sunovo, não são percebidos como tão excomo dada.” jeitas a uma série de benefícios psicocitantes mais. A gratidão, por sua vez, lógicos (maior nível de emoções positivas; ficam mais nos faz apreciar o valor de alguma coisa, nos tornando ativas e alertas; sentem mais alegria e prazer; mais menos propensos a tomá-la como dada. otimismo e felicidade), físicos (apresentam sistemas Pronto para praticar gratidão? Sozinho, com amigos imunológicos mais fortes; menos incômodo com do- ou sua família, conte suas bênçãos. A que ou a quem res e sofrimentos; baixa pressão arterial; se exercitam você é grato nesse ano de 2014? Observe suas emomais e cuidam melhor de sua saúde; dormem mais e ções e a energia ao seu redor ao praticar a gratidão. se sentem mais revigoradas ao acordar) e sociais (são Outra dica que os cientistas sugerem é manter um mais úteis, generosas e compassivas; perdoam mais; diário de gratidão, onde serão listadas até cinco coisas têm maior disponibilidade para atividades sociais; e pelas quais você é grato a cada semana. Essa prática se sentem menos solitárias e isoladas). o leva, conscientemente, a concentrar intencionalMas, afinal, o que é gratidão? Primeiro: a verda- mente sua atenção no desenvolvimento de um pensadeira gratidão é mais um estado de espírito do que mento mais grato e em eliminar pensamentos tóxicos. um único ato. “Gratidão é o sentimento de reve- Esse exercício ajuda a nos proteger contra o risco de rência pelas coisas que são dadas”, define Roconsiderar as coisas como garantidas, como dadas; em bert A. Emmons, Ph.D., cientista e líder vez disso, vemos a vida agora, no presente, como mundial em pesquisa sobre gratialgo novo e excitante. dão, professor na Universidade da A você, meu caro leitor, com gratidão, Califórnia (EUA). desejo um feliz Natal!  Gratidão, segundo Emmons, tem a capacidade de curar, ener(*) Life coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação. gizar e mudar vidas.

FOTO: DOLLARPHOTOCLUB

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OLHAR INTERIOR

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Pelo terceiro ano consecutivo a Ekofootprint é reconhecida por seu modelo sustentável de negócios. Em 2012 recebeu o Prêmio SEBRAE de Práticas Sustentáveis. Em 2013 recebeu o Prêmio Benchmarking Brasil, em São Paulo. Importante ressaltar que em doze anos deste Prêmio a única outra gráfica a recebe-lo foi a Casa da Moeda do Brasil. Agora, em agosto de 2014, recebemos no Rio de Janeiro a certificação do Prêmio IBEF - Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, na categoria "Marca Sustentável" . Nestas premiações figuramos consistentemente entre grandes empresas e gigantes multinacionais, mostrando que estamos alinhados com as melhores práticas do mercado, no que toca à sustentabilidade e "fair trade". Se sua empresa deseja transformar os gastos com impressão em investimento em sustentabilidade, basta nos procurar.


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OLHAR POÉTICO

ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

MARIO QUINTANA, SÃO LONGUINHO E

AS COINCIDÊNCIAS P

FOTOS: JB ECOLÓGICO / DIVULGAÇÃO

ara achar objetos perdidos havia antigamente “simpatias”. Ela se lembrou de Quintana, que gostava de pelo menos três simpatias que apelavam para coisas assim e era devotíssimo de São Longuinho. São Noquim e São Dindo – santos que nunca Por que um poeta de tal calibre seria devoto de tal sanexistiram. Foram inventados pelo povo. Outras eram to? Logo, descobri. Solteirão, ele vivia perdendo coisas dedicadas a São Longuinho, também conhecido como ou esquecendo ideias pelos cantos do pequeno quarto São Longino. Este, dono de uma história trágica. onde morava, no antigo Hotel Majestic, em Porto AleSoldado do exército romano, pagão, nasceu na Ca- gre (RS). Certa vez, declarou a outra amiga que achara padócia (Turquia), no século I. Segundo a lenda, ele minúsculo o seu quarto: “Eu moro em mim mesmo. teria perfurado com sua lança o corpo de Cristo na Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim cruz. Logo se arrependeu e se converteu ao Cristia- tenho menos lugares onde perder minhas coisas”. nismo. Mais tarde foi preso e torturado por causa da Então, naquela mesa de pizzaria, combinamos de fafé: teve os dentes arrancados e a língua cortada. Ve- zer uma homenagem ao nosso “poeta das coisas simnerado em Portugal e na Itália, a Basílica de São Pedro ples e perdidas”. Detalhe: Quintana fazia aniversário exibe um belo nicho com sua estátua empunhando no mesmo dia, 30 de julho. Foi assim que nasceu o tal a lança, criada pelo escultor barroco Gian Lorenzo livro. E enviei-o de presente ao poeta (sob as bênçãos Bernini, no século XVII. da Bruna), pelo correio, quanNo Brasil, a crença popular do ele completou 83 anos. Em ensina que, para se encontrar 1989, Quintana foi despejado do objetos perdidos, repete-se: “São antigo hotel, hoje, uma Casa de Longuinho, São Longuinho, se Cultura com seu nome. Passou eu achar... (dizer o nome do objea morar num quarto maior, no to perdido)... dou três pulinhos!”. Hotel Royal, de propriedade do Quando o objeto é encontrado, jogador Roberto Falcão: um anrapidamente, é preciso cumprir jo-da-guarda que lhe pagou as a promessa, senão o feitiço pode despesas e lhe deu guarida. Por virar contra o feiticeiro. esse tempo, então, Quintana me QUINTANA e São Longuinho: Minha vó Sebastiana (que sarevelou noutra cartinha: "Três pulinhos" bia de cor as palavras escondidas “Com São Longuinho não se na voz do vento) era devota desse santo. O poeta Mario brinca, poeta! Deixa de exercitar os três pulinhos pra tu Quintana também. Explico. Quintana, com quem tive veres onde as coisas vão parar! Somem todas novamena honra de trocar pequena correspondência ao final de te ou nunca mais se dão a ver. Outras reaparecem de ousua vida, foi a primeira pessoa que leu e gostou (para gló- tro jeito, com outra cor e forma, quiçá, em outro lugar. ria do humilde escriba-recruta que vos fala), dos rascu- Esse deve ser o santo dos fantasmas que habitam sónhos de um certo “Livro das Coisas Perdidas”, que veio tãos, porões e quartinhos temporários como o meu...”. a chamar-se, lá pelos idos de 1989, apenas isso: “Livro Vinte e cinco anos se passaram. Hoje, por acaso, das Simpatias”. Na época, tínhamos uma amiga em co- percebo que a cartinha do mestre era datada de 16 mum: a bela e poetíssima Bruna Lombardi. Na verdade, de outubro – por coincidência, dia em que se comeconheci Bruna uns dez anos antes (num 30 de julho de mora, na Igreja Ortodoxa da Capadócia, o aniversá1979), quando veio a Beagá gravar trabalhos de publici- rio de São Longuinho. Por coincidência: dia em que, dade. Para minha surpresa, acabou recitando “O Sono sem saber, escrevo essa crônica: três pulinhos!!! E Provisório” (meu livrinho de estreia) no coreto da Praça viva São Mario de Miranda Quintana!  da Liberdade. Na mesma noite, saímos pra jantar com (*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ). amigos, numa pizzaria. Coisa vai, coisa vem, falamos de antonioba@uol.com.br | facebook.com/antonio.barreto.12139

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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (11)

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NA SALA“Celebrações”, o encontro entre a religião, o homem e a arte

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FOTO: FERNANDO MARTINS

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ENCERRANDO COM FESTA E DEVOÇÃO Em nossa última viagem ao Memorial Vale e à história de Minas, um passeio pelas celebrações culturais e religiosas de nosso povo Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br

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gosto de 1990. Ansioso, esperava o sinal de trânsito fechar para correr em direção à Praça da Matriz, em Montes Claros, minha terra natal. Enquanto isso, contemplava as bandeirolas e as fitas coloridas que enfeitavam as ruas ao redor da praça, mesmo sem saber por que elas estavam ali. Não era carnaval e tampouco estávamos perto das comemorações natalinas. Foi então que minha mãe disse que era o tempo das Festas de Agosto, um dos principais eventos culturais e religiosos da cidade - e que eu iria gostar muito do que ia ver. Uma tradição secular, o evento era (e continua) muito concorrido. Nos passeios lotados das calçadas, tínhamos de nos apertar na busca por um lugar ao sol da cultura montes-clarense. No entanto, esquecia por completo o empurra-empurra quando ouvia o coro dos grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos entoando “Oh! Minas Gerais”, o belíssimo hino de nosso estado. Liderados por Mestre Zanza, figura histórica das Festas de Agosto, os Catopês rodavam e dançavam em seu balé próprio, o que só rivalizava no chamariz com os “capacetes” multicoloridos de miçangas, pedrarias e quadradinhos espelhados que usavam. Outro espetáculo à parte, esses ornamentos eram circulados por fitas coloridas de cetim que quase tocavam o chão. Enquanto iam desfilando pelas ruas com suas roupas brancas, a multidão acompanhava os Catopês com palmas. Assim acontecia, também, na

ritmada passagem dos Marujos e dos Caboclinhos. E, maravilhado, novamente olhava para cima e me perdia em pensamentos ao fitar as bandeirolas que decoravam o céu de Montes Claros. Vinte e quatro anos depois, cá estou na Cidade Jardim de Minas apreciando outro “céu”: o da sala “Celebrações”, no terceiro andar do Memorial Vale. O espaço é uma homenagem aos rituais sagrados e festivos do povo mineiro, além do artesanato, do bordado e da música que os acompanha. E reúne elementos que mostram a diversidade de nossas manifestações culturais, uma herança riquíssima que os povos africanos, europeus e indígenas deixaram para nós. “Encontramos nas celebrações alguns aspectos que merecem ser destacados, tais como a capacidade criativa dos seus organizadores e integrantes, o sentido didático por meio do qual diferentes gerações ensinam e aprendem saberes importantes e, por fim, o espírito colaborativo que une homens, mulheres, crianças, jovens e idosos”, afirmam os professores Leda Martins e Edimilson de Almeida, doutores em Estudos Literários e em Comunicação e Cultura, respectivamente. Para eles, essas comemorações permitem, ainda, observar que “a diferença, a negociação e o conflito estão na base das muitas Minas que constituem um complexo mosaico social, político e cultural”. ESPIRITUALIDADE E TEATRALIDADE Desbravando a sala do museu, veio a certeza de

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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (11)

que mineiro é gente que vive da fé. Isso se explica, principalmente, por nossa devoção ao Sagrado: os ritos e as tradições têm papel essencial na manutenção das crenças – a admiração às imagens e dezenas de festas dedicadas aos santos católicos, por exemplo, são um sinal disso. Da Semana Santa ao feriado de Corpus Christi, quando cidades históricas como Mariana, Ouro Preto e Diamantina enfeitam suas ruas com tapetes de serragem, pó de café, pétalas de flores, terra e areias coloridas, reproduzindo elementos da liturgia cristã, nosso fervor religioso é reafirmado como “modelo de vivência do Sagrado”. Por cima dessa tapeçaria devocional, que exprime a força da fé, da solidariedade e da

entrega do povo, desfilam as procissões com a Santa Hóstia (o corpo de Deus), acompanhadas por canções religiosas. Outra manifestação tradicional da cultura mineira é a Folia de Reis – confesso, uma das minhas preferidas. Nossa família acompanhou várias vezes a procissão dedicada a eles em uma fazenda próxima ao sítio de meus pais. Era emocionante ver a reação das pessoas escolhidas para carregar a bandeira dos santos... De origem ibérica, a Folia é realizada hoje em várias regiões do Brasil e revive “o percurso mítico dos Reis Magos (Gaspar, Melchior e Baltazar), que seguiram a estrela de Belém, até a lapinha, para saudar o Deus Menino que veio salvar os homens”, como ressaltam os pesquisadores Leda Martins e Edimilson de Almeida em texto publicado no livro “Minas Gerais”. DESPEDIDA MINEIRA Cavalhada, Encomendação das Almas, Festa de Santa Cruz, Festas Juninas, Pas-

CATOPÊ: herança cultural africana

PROGRAMAÇÃO DEZEMBRO (ENTRADA FRANCA) 07/12 “Na Volta que o Mundo Dá” - Coral Coro de Cobras Horário: 11h Local: Auditório (sujeito a lotação) 10/12 “Quem Conta um Conto Aumenta um Ponto” – Diálogos Cênicos com o Grupo Oficina Multimídia Horários: 15h e 19h Local: Auditório (sujeito a lotação) 11/12 Leitura Rara: "O Outro Doutor Bob", com Byron O’Neill Horário: 19h30 Local: Auditório (sujeito a lotação) *Retirada prévia de ingressos uma hora antes da apresentação. 13/12 Lançamento do filme “Caetana”, de Rafael Castro Horário: 11h Local: Auditório (sujeito a lotação) Sarau do Memorial com José Santos Convidados: Jonas Worcman e Fernando Batata Curadoria/coordenação artística: Wagner Merije Horários: 11h e 13h Local: Casa da Ópera (sujeita a lotação)

14/12 Eu, Criança no Museu “Escuta Só” – Grupo Ziriguibum Horário: 11h Local: Auditório (sujeito a lotação) 20/12 Performance no Memorial: “Ateliê 2.1”, com Arthur Camargos Curadoria/coordenação artística: Marco Paulo Rolla Horário: 11h Local: Sala “Espetáculo Mineiro” (sujeita a lotação) Até 21/12 Exposição “Figurinos da Ópera Rigoletto” Horário: de funcionamento do Museu Local: Escadaria do Memorial Até 11/01/2015 Exposição “Fotomusic de Invenção” Fotos de Fabiana Figueiredo Horário: de funcionamento do Museu Local: Café do Memorial Até 18/01/2015 Ciclo de Exposições de Jovens Artistas Mineiros 2014-2015 Horário: de funcionamento do Museu Local: Sala de Exposição temporária (3º Pavimento)

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FOTO: JOÃO MARCOS ROSA / NITRO

EXPOSTAS no espaço dedicado às festividades mineiras, esculturas de barro representam os figurinos usados nas festas típicas

torinhas, Dança de São Gonçalo, Ritual de Capina... Minas guarda tantas expressões culturais e religiosas que seria impossível mostrar todas as suas peculiaridades aqui. Entretanto, uma delas não poderia ficar de fora: a nossa teatralidade. Essa característica especial traz uma universalidade de significados, um desfile de sentimentos que se tornaram símbolos das nossas festas. Afinal, há coisa mais característica do mineiro do que cantar promessas, louvar e recitar orações em homenagem a santos, na busca incessante pela graça e benção divinas? Nas montanhas de nossa terra, festejar é definitivo. É onde nos religamos às origens. É voltar ao ventre e, a cada ano, celebrar a vida. Em minha despedida da sala do museu, parei em frente à imagem de Nossa Senhora do Rosário, a mesma da foto que abre o texto desta edição, e agradeci. Pela incrível viagem que fizemos ao seu lado, caro leitor, aos recantos da história de Minas. Pela música, pelo teatro, pelo cinema, pelas personalidades, pelas famílias. Enfim, pela natureza que a cada dia nos inspira ainda mais e por tudo que faz de nós, mineiros, o povo que é a cara do Brasil. Terminamos com festa,

no coração da capital mineira, às vésperas das festas natalinas e de ano-novo, celebrando a posição ímpar que conquistamos na história brasileira. E que continuaremos a construir, com a desconfiança, a quietude e a poesia de nosso jeito de ser.  SERVIÇO - MEMORIAL MINAS GERAIS VALE (*) Endereço: Praça da Liberdade, 640, esquina com rua Gonçalves Dias. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO Terças, quartas, sextas e sábados: das 10h às 17h30, com permanência até as 18h. Quintas: das 10h às 21h30, com permanência até as 22h. Domingos: das 10h às 15h30, com permanência até as 16h. Entrada franca. Informações: (31) 3308-4000 Para visitas mediadas ou em grupo ligue: (31) 3343-7317 www.memorialvale.com.br (*) Mantenedor: Vale, por meio da Fundação Vale

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MEMÓRIA ILUMINADA - MANOEL DE BARROS

O PÁSSARO DAS PALAVRAS

Após 97 anos de vida, Manoel de Barros encantou-se. Para diminuir a saudade, a Ecológico relembra sua poesia natural, simples e cativante

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Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

MANOEL DE BARROS, o poeta do Pantanal, explicando sua autorreclusão: "Não tenho boa convivência com a glória. Acho que ela me perturbaria. Preciso muito do escuro"

FOTO: LUCAS DE BARROS

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le era escritor e passarinho. Voava pelas matas, jardins e rios do mundo lançando sua poesia natural e marcante. Cativava o mais duro dos corações com o baque de um verso. Para o poeta com barro no nome, nada e tudo eram planejados. Sílabas sentidas mais que pensadas. Tinha maestria em declamar a natureza pela íris do coração. E a instabilidade semântica sempre foi sua melhor flor. Não tive a oportunidade de encontrar com o ser de luz que era Manoel de Barros, poeta cuiabense que publicou seu primeiro livro – “Poemas Concebidos sem Pecado” – em 1937, aos 21 anos. Mas me conforto com as coincidências: somos ligados pelo dia de nascimento, 19 de dezembro, pelo signo, pela devoção à natureza e pelas palavras. Estas, a minha melhor fraqueza. Formado em Direito na capital carioca, o escritor se envolveu com comunistas, desiludiuse da política, foi morar no exterior. Recluso e tímido, o reconhecimento só veio nos anos 1980, quando três outros grandes pássaros das nossas florestas literárias - Drummond, Millôr Fernandes e Antônio Huaiss - deram notícia do seu belíssimo bater de asas. Como se materializava a poesia do mestre, que viveu as últimas décadas no meio do Pantanal? Ele mesmo diz: “A água passa por uma frase e por mim. Macerações de sílabas, inflexões, elipses, refegos. A boca desarruma os vocábulos na hora de falar e os deixa lanhos na beira da voz”. Na década terceira de seu voo pela Terra, jogou sementes e fez nascer três árvores: os filhos João, Pedro e Martha, todos vindos da união em flores com a amada Stella, quem sempre presenteava com um cheiroso jasmim. Depois do falecimento do poeta, no mês passado, só Martha e a mãe continuavam em fotossíntese. As copas das árvores de João e Pedro já haviam alcançado o céu e o sol divinos bem antes do Manoel pássaro e semeador. Fez seu voo de despedida em 13 de novembro, pouco mais de um mês antes do alvorecer da sua 98ª primavera. Voltou para o ninho de Deus. Deixou-nos órfãos de sua presença, mas envolvidos no aconchego de sua poesia, que rememoramos a seguir:

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MEMÓRIA ILUMINADA - MANOEL DE BARROS

FOTO: REPRODUÇÃO

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“A gente nasce, cresce, amadurece, envelhece, morre. Pra não morrer, tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste.”

l NATUREZA “A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim: o dia está frondoso em borboletas. No amanhecer, o sol empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz. Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem.” “Nunca sabia direito qual o período necessário para um sapato ser árvore. Muito menos era capaz de dizer qual a quantidade de chuvas que uma pessoa necessita para que o lodo apareça em suas paredes.” “Natureza é primordial? Três coisas importantes que eu conheço: lugar apropriado para um homem ser folha; pássaro que se encontra em situação de água; e lagarto verde que canta de noite na árvore vermelha. Natureza é uma força que inunda como os desertos. Que me enche de flores, calores, insetos e me entorpece até a paradeza total dos reatores.” l SOL “Quem tira a roupa da manhã e acende o mar. Quem assanha as formigas e os tesouros. Diz-se que: se a mulher espiar o seu corpo num ribeiro florescido de sol, sazona. Estar sol: o que a invenção de um verso contém.” l ALEGRIA “Alegria é apanhar caracóis nas paredes bichadas! Coisa que não faz nome para explicar. Como a luz que vegeta na roupa do pássaro.” l PENSAMENTOS “Se os pensamentos tivessem voz despertariam

com certeza os galos empoeirados nas cercas. E as borboletas no pé do tamarindo, e todos os patinhos que estavam dormindo debaixo das árvores.” l RIO “Escuto o meu rio: é uma cobra de água andando por dentro de meu olho.” “Procuro com meus rios os passarinhos. Eu falo desemendado.” l ÁGUA “A água é madura. Com penas de garça. Na areia tem raiz de peixes e de árvores. Meu córrego é de sofrer perdas. Mas quem beijar seu corpo é brisas.” l COISAS “Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe à distância servem para poesia.” “As coisas que não pretendem, como por exemplo: pedras que cheiram água, homens que atravessam períodos de árvore, se prestam para poesia.” l CARACOL “Caracol é uma solidão que anda na parede.” l RENOVAÇÃO “Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às seis horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai, mas eu preciso ser outros. Eu penso em renovar o homem usando borboletas.”

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FOTOS: DOLLARPHOTOCLUB

“Sapo é um pedaço de chão que pula.”

l FORMIGAS “Anos de estudo e pesquisas: era no amanhecer que as formigas escolhiam seus vestidos.” l TRAJETÓRIA “Eu andei muito para enrugar meu couro. Cada um tem seu caminho que percorre em todos os insetos.” l TRANSFIGURAÇÃO “Eu queria fazer parte das árvores como os pássaros fazem. Eu só não queria significar. Porque significar limita a imaginação. E com pouca imaginação eu não poderia fazer parte de uma árvore. Como os pássaros fazem. Então a razão me falou: o homem não pode fazer parte do orvalho como as pedras fazem. Porque o homem não se transfigura senão pelas palavras. E era isso mesmo.” l POESIA “Poesia é a loucura das palavras. Na beira do rio o silêncio põe ovo. Para expor a ferrugem das águas eu uso caramujos. Deus é quem mostra os veios. É nos rotos que os passarinhos acampam! Só empós de virar traste que o homem é poesia.” l TIMIDEZ “Não tenho boa convivência com a glória. Acho que ela me perturbaria. Preciso muito do escuro.”

AUTORRETRATO “Ao nascer eu não estava acordado, de forma que não vi a hora. Isso faz tempo. Foi na beira de um rio. Depois, eu já morri 14 vezes. Só falta a última. Escrevi 14 livros. E deles estou livrado. São todos repetições do primeiro. (Posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim.) Já plantei dezoito árvores, mas pode que só quatro. Em pensamento e palavras namorei noventa moças, mas pode que nove. Produzi desobjetos, 35, mas pode que onze. Cito os mais bolinados: um alicate cremoso, um abridor de amanhecer, uma fivela de prender silêncios, um prego que farfalha, um parafuso de veludo etc. etc. Tenho uma confissão: noventa por cento do que escrevo é invenção, só dez por cento é mentira. Quero morrer no barranco de um rio: sem moscas na boca descampada!” Poema publicado em 2000. Ao todo, o autor lançou 26 livros.

l MORTE “No meu morrer tenho uma dor de árvore.” FONTES:“Poesia Completa” – Manoel de Barros. Editora LeYa / O Globo.

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1 ENSAIO ARTÍSTICO

ARTE SEM LIMITES Nova coleção de itens para presentes feitos pelos pintores da APBP tem a natureza e o Natal como principal inspiração

CASAL DOS PERIQUITOS Pintado com a boca Daniel Rodrigo F. da Silva

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ENTARDECER NO LITORAL Pintado com a boca Keith Jansz

FLORES AMARELAS Pintado com o pé Moacir Ferraz

NATUREZA Pintado com o pé Adolfo Simões de O. Neto

CAMPO FLORIDO Pintado com a boca Thomas Kahlau

Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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odo fim de ano é a mesma coisa. Shoppings cheios, correria... E, às vezes, não encontramos um presente que é “a cara” de quem queremos homenagear. No tempo em que a tecnologia reina nas vitrines e no gosto popular, é mais que necessário renovar nossas escolhas e buscar formas mais criativas de presentear amigos e familiares. Uma alternativa diferente e, ao mesmo tempo, fruto de um trabalho belíssimo, é a nova coleção de itens para presentes criados pelos artistas da Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP), sediada em São Paulo. Na instituição, os integrantes aprendem a desenhar e pintar sus-

tentando o pincel na boca e nos dedos dos pés. Eles são, inicialmente, admitidos como bolsistas e, depois de participarem das aulas de pintura, se tornam membros associados ou efetivos. A coleção traz cartões de natal, adornos de presentes, calendários, envelopes, marcadores de livros e papéis de carta, que podem ser vendidos separadamente ou em forma de kit. O resultado é um trabalho profissional, com pinturas de traçados firmes e desenhos coloridos que recriam cenas do nascimento de Cristo, elementos natalinos e imagens de natureza. Uma prova indiscutível de que, na arte, não há limites para criar e mostrar o que é belo. Confira:

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1 ENSAIO ARTÍSTICO VISITA DOS PASTORES Pintado com a boca Jon Clayton

VELAS E FLORES Pintado com a boca e o pé Maria Goret Chagas

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ENFEITANDO O NATAL Pintado com a boca Ruth Christensen

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PLANTANDO FLORES Pintado com a boca Chris Opperman

SAIBA

MAIS

A APBP A Associação de Pintores com a Boca e os Pés foi fundada em 1956, quando o alemão Eric Stegmann, que pintava com a boca, reuniu um pequeno grupo de artistas com deficiência de oito países para criar uma instituição que reproduzisse suas pinturas em forma de kits, calendários, marcadores de livros, papel de carta e cartões para serem comercializados. Hoje, ela representa 800 artistas de 75 países. No Brasil, são 47 profissionais, que também realizam exposições, palestras e demonstração de pintura para escolas e empresas. A APBP não é uma entidade beneficente e sobrevive da venda dos produtos, que podem ser comprados pelo site (www. apbp.com.br) ou por meio do telefone (11) 5053-5100. A sede da APBP fica na Rua Tuim, 426, Vila Uberabinha, na capital paulista.

VIDA NO CAMPO Pintado com o pé Ronaldo Pio dos Santos

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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

O LADO BOM

DA NATUREZA HUMANA

As festas natalinas são um forte indicativo de que podemos estrelar com mais constância a nossa passagem por este planeta. Essas festas também nos falam, de modo claro, da aliança indestrutível entre o ser humano e a natureza. E é essa aliança que nos faz compreender como essa imensa rede de interações torna possível a vida nesta bela joia azul que cintila, pulsa e navega velozmente pelo espaço. Assim como nosso corpo é constituído por trilhões de células e por bilhões de micro-organismos, o amor planetário é a soma de todos os corações dirigidos para um mesmo objetivo: o de tornar a vida mais fraterna e, portanto, mais feliz. As trocas de alegria se tornam o atrativo maior dessa atividade festiva. A despeito das dores indesejáveis das nossas escolhas mal feitas, que 2015 represente para os seres humanos, principalmente para os feitores e os leitores da Ecológico, todas as luzes, cores, cheiros e flores duplicados, triplicados de todas as primaveras-verões deste mundo. 

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m nosso hemisfério, dezembro é um mês luminoso por excelência, já que é um tempo de nascimentos, de passagens, de grandes sonhos e de muitos amores. É quando a festa da natureza – a passagem da primavera para o verão - e a da cultura - passagem do tempo cíclico, rumo ao ano-novo - se unem e se congratulam com a luz da esperança – o Natal. Esses acontecimentos vão formar o desfecho triangular da festa natalina. É uma irradiância, um espírito de positividade que atinge quase todas as pessoas, causando, na maioria delas, um bem-estar indizível. Essa experiência de paz e congraçamento transmite bondade e felicidade a todos aqueles que nos cercam. É um período de contagiante alegria interior, de união e de comunhão com todos os seres humanos, pois tem por finalidade nos tornar cúmplices de um destino não só planetário, mas cósmico. É por isso que as festas natalinas, como rituais comemorativos, nos relembram da necessidade de manter viva a memória desse acontecimento exemplar que ocorreu num passado distante: o nascimento de Jesus Cristo. O dia 25 de dezembro é o dia do nascimento da luz, não importa se Cristo tenha nascido ou não nessa data. Pouco importa, pois os rituais têm essa intenção espiritual de reativar lembranças que não podem ser jamais esquecidas. É por isso que abraçamos e dançamos tanto nessa data, porque ela nos ensina que a experiência da felicidade, como um estado quase permanente de ser, pode ser vivida. O enfeite mais colorido e mais atraente de toda essa festa é a seguinte mensagem: por meio da confraternização, esse estado de ser pode continuar para além dessas festividades, tornando-se uma presença constante em nosso cotidiano. É sabido que não existe conquista sem esforço, nem escolha sem renúncia. Por isso, precisamos de muita persistência, discernimento e de boa dose de sabedoria para que cada um de nós descubra por si a fórmula mágica dessa alquimia: como continuarmos alegres e dançantes pela vida toda? Como transformar nossa vida inteira num ato de alegria?

(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.

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Job: 37021 -- Empresa: Ogilvy RJ -- Arquivo: 37021 ANR-REVISTA ECOLOGICO-205 x 275-06-12_pag001.pdf

Registro: 159650 -- Data: 18:05:11 21/11/2014


A SETE MIL METROS DE PROFUNDIDADE, ENCONTRAMOS PETRÓLEO, INSPIRAÇÃO E RESPEITO. —

Somos líderes mundiais na exploração e produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas, sendo responsáveis pela operação do pré-sal, que nos posicionou estrategicamente frente à grande demanda mundial de energia. Investimos também na diversificação da matriz energética a partir de matérias-primas renováveis. Além disso, seguimos os princípios do Pacto Global da ONU e integramos o índice Dow Jones de Sustentabilidade pelo nono ano consecutivo. Tão importante quanto crescer é ter responsabilidade social e ambiental. Petrobras. A gente é mais Brasil.

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