Revista Ecológico - Edição 117

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Soluções inovadoras e sustentáveis na área do meio ambiente. C

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Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) está entre as maiores operadoras aeroportuárias do mundo, contribuindo desde 1973 para simplificar e enriquecer a experiência dos clientes que utilizam os 54 aeroportos da Rede.

Sempre atenta às mudanças e novas estratégias de mercado, a Infraero conta com um novo Planejamento Estratégico (2019-2023) direcionado à prestação de serviços aeroportuários. São soluções customizadas, planejadas e executadas de acordo com as necessidades de seus clientes e em consonância com os ordenamentos regulatórios.

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Com 46 anos de expertise no segmento e um vasto portfólio de serviços e produtos aeroportos tecnológicos nas áreas técnicas, de gestão e operação, a empresa está alinhada ao da Rede que existe de mais atual no mundo da aviação. E o mais importante: equipes de profissionais especializados, com ampla vivência para lidar com qualquer cenário de mercado, nas demandas de planejamento, consultoria, treinamento e execução de projetos. O leque de soluções inovadoras e sustentáveis também se estende à área ambiental, com estratégias em consultoria, ações, pareceres técnicos e programas nas temáticas energia, fauna, licenciamento ambiental, ruído aeronáutico, emissões atmosféricas, solos e flora, resíduos sólidos, recursos hídricos e educação ambiental. Investir em ações ambientais que preservem o meio ambiente e incentivem o uso racional dos recursos naturais em sítios aeroportuários é preocupação constante da Infraero. Nos últimos dois anos, foram 1.640 atividades executadas com foco na sustentabilidade socioambiental nos terminais da empresa. Um dos exemplos é o sistema de captação e reaproveitamento de água dos testes dos caminhões contra incêndio, realizados diariamente. A partir dessa iniciativa, ao todo, já foram economizados 17 mil m³/ano. Outra solução é o sistema contínuo de monitoramento de ruído, que opera a base de energia solar e comunicação remota, permitindo identificar os níveis de ruído do ambiente e aqueles provocados pelas aeronaves. A tecnologia admite ainda identificar informações das aeronaves, tais como modelo, matrícula, altitude e outras, possibilitando endereçar o nível de ruído provocado por determinada empresa ou operação aérea.

46

anos de expertise

1640 atividades

com foco no meio ambiente

17

m³/ano

em economia de água

40

profissionais de meio ambiente

Agora, Governos Estaduais, Municipais além de outros operadores de aeroportos também podem ter acesso aos produtos da Infraero. Para conhecer em detalhes todos os produtos e serviços oferecidos pela empresa, acesse www.infraero.gov.br/negocios, ou entre em contato através do telefone 0800-722-0243.

ASPECTOS AMBIENTAIS EM AEROPORTOS A Infraero lançou uma publicação voltada exclusivamente às questões ambientais de seus aeroportos. O livro “Aspectos Ambientais em Aeroportos” apresenta uma coletânea de estudos técnicos desenvolvidos pelos mais de 40 profissionais de meio ambiente da Infraero. A obra reúne 16 artigos técnicos, publicados entre 2017 e 2018, que exemplificam a atuação da estatal frente a alguns aspectos ambientais inerentes a atividade aeroportuária. O livro está disponível para download gratuito através do endereço: www4.infraero.gov.br/media/676363/livro-aspectos-ambientais-em-aeroportos-ano-2017-2018.pdf.


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EXPEDIENTE

“O Brasil já produz quantidade suficiente de alimentos para saciar a sua população. Devastar mais para quê?” Hugo Werneck

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

REPORTAGEM Bia Fonte Nova, J. Sabiá e Luciana Morais

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

MÍDIAS DIGITAIS Bruno Frade

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte - MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

COLUNISTAS (*) Andressa Lanchotti, Marcos Guião e Maria Dalce Ricas

EDITORIA-EXECUTIVA Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.

REVISÃO Gustavo Abreu

EDITORIA DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Patrícia Boson, Paulo Maciel e Sérgio Myssior

EMISSÕES CONTABILIZADAS

CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

CAPA Samuel Ulhoa DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@souecologico.com

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

MARKETING marketing@souecologico.com ASSINATURA assinatura@souecologico.com IMPRESSÃO Gráfica OLPS

2,24 tCO2e Dezembro de 2018

EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

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FOTO CELSO SANTA ROSA

Voce sabia que a maior área verde e de lazer de BH já foi uma mineração?

O Parque das Mangabeiras, Um dos cartões postais de BH, é a prova do compromisso da Mineração com a preservação do Meio Ambiente. Após a desativação da mina, o local foi reabilitado e tornouse um dos principais pontos turísticos da cidade.

EM DEFESA DA MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL


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ÍNDICE

Capa

Pág.

FOTO: REPRODUÇÃO

A ATRIZ CIDA MENDES, QUE INTERPRETA NO TEATRO A PERSONAGEM CONCESSA, FALA À ECOLÓGICO SOBRE O ESPETÁCULO “DEFEITO ESTUFA”.

20 24

CINEMA DOCUMENTÁRIO DIRIGIDO POR CHRISTIANE TORLONI MOSTRA COMO O BRASIL TEM TRATADO A FLORESTA AMAZÔNICA

E mais... IMAGEM DO MÊS 10 CARTAS DOS LEITORES 11 CARTA DO EDITOR 12 ECONECTADO 14 PREMIAÇÃO 15

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BIODIVERSIDADE

RELATÓRIO DO IPBES APONTA RISCO IMINENTE DE EXTINÇÃO DE 1 MILHÃO DE ESPÉCIES ANIMAIS E VEGETAIS

GENTE ECOLÓGICA 16 BLOG DO HIRAM 18 OPINIÃO PÚBLICA 28 ESTADO DE ALERTA 38 O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA DE GUIMARÃES ROSA (12) 39 PERFIL: GRETA THUNBERG 44 NATUREZA MEDICINAL 48 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 49

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MEMÓRIA ILUMINADA A BIOGRAFIA (E A BRASILIDADE) DE WALTHER MOREIRA SALLES, ESCRITA PELO JORNALISTA LUIS NASSIF



1 IMAGEM DO MÊS

FOTO: WALTER FIRMO

TRÊS ANJOS: a lembrança da ex-Vila Rica do Brasil, hoje com os royalties da mineração em queda

Walter Firmo

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OS TRÊS ANJOS DE OURO PRETO

arece que foi ontem. Mas já se passaram 44 anos que o carioca Walter Firmo (foto), considerado um dos maiores fotógrafos brasileiros, registrou assim a Semana Santa de 1975, em Ouro Preto (MG). Nela, três crianças vestidas de anjos emolduram a sua arquitetura e religiosidade barrocas. E ali, hoje, parecem velar pelo futuro da mineração paralisada em todo o seu município depois das tragédias da Samarco em Mariana e da Vale em Brumadinho. É na ex-Vila Rica do Brasil Colônia que reside a população mais dependente da Vale em toda Minas Gerais: 72% em termos de arrecadação tributária. A foto emblemática dos três anjos estará exposta, até o dia 30 de junho, no Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade. É onde acontece a atual e itinerante exposição de Firmo, intitulada “O Brasil que merece o Brasil”, com imagens de outras cidades mineiras, como os profetas de Congonhas do Campo, à espera da sustentabilidade do setor. 

10  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019


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FA L E C O N O S C O

CARTAS DOS LEITORES

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

como o extrativismo sustentável vem transformando uma comunidade no Norte de Minas

“Acredito firmemente no extrativismo sustentável! Todo comércio só é bom quando é bom para os dois lados. A empresa ganha, as pessoas ganham, e, em consequência, o meio ambiente também.” Adriana Rodrigues, via Facebook

l MATÉRIA DE CAPA – PERFIL RICARDO SALLES Os depoimentos e as atitudes polêmicas do ministro de Meio Ambiente “Esse ministro, pelo que ele pensa e tem agido, não é apenas um estranho no nisso. Ele é o predador no ninho.” Bráulio Balde, por e-mail l PÁGINAS VERDES - HIURI METAXAS Consultor e mestre em Sustentabilidade fala sobre

l O AMBIENTALISTA (10) – FIO DE ESPERANÇA NA ZONA DE SACRIFÍCIO Ilha da Madeira (RJ) luta para superar o passado de degradação causado pela expansão portuária e industrial

“Empresas privadas sem responsabilidade social irão destruir o nosso planeta.” Luiz Antônio Neto, por e-mail l CUMPRIMENTOS “Parabéns pelo conteúdo da revista! As matérias são excelentes!” Noemy Oliveira, via Instagram

RESTAURAR O MEIO AMBIENTE É CUIDAR DO FUTURO. A CENIBRA considera que o futuro acontece em cada ação do presente. O que fazemos hoje é decisivo para o mundo de amanhã. As práticas da Empresa são executadas com todos os cuidados ambientais para garantir a perenidade dos recursos vitais para as gerações futuras. Com esse olhar no horizonte, a CENIBRA realiza ações para recuperar, proteger e ampliar a biodiversidade em mais de 105 mil hectares de áreas protegidas, onde vivem milhares de espécies da fauna silvestre, sustentada por uma rica flora nativa. Para cada 5 hectares cultivados com eucalipto, a Empresa protege 4 hectares com vegetação nativa. Estas áreas protegidas abrigam mais de 4.500 nascentes que fornecem água para as populações vizinhas e para toda a bacia do rio Doce. Cuidar do meio ambiente é compromisso da CENIBRA com o futuro! 5 de junho – Dia Mundial do Meio Ambiente


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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

A NATUREZA É OTIMISTA!

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BANANEIRA RENASCE em Bento Rodrigues: regeneração natural em meio aos destroços da lama

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FOTO: GUALTER NAVES

stá no dicionário, no Google, em toda a nossa natureza: “Otimismo é a disposição que certas pessoas desenvolvem para apreciar todas as coisas pelo lado bom.” E “otimista” é quem se revela “confiante, esperançoso e positivo. Quem acredita que tudo vai dar certo, que nada é considerado impossível. É ter atitudes seguras, em face aos problemas humanos e sociais, e considerá-los passíveis de uma solução positiva”. Os filósofos Leibniz e Voltaire já discutiram isso no Século XVII. Sob o ponto de vista filosófico e religioso, até Deus é otimista. Pois “foi Ele, como Criador da Natureza (que Bolsonaro e Salles tentam destruir), dos céus e da terra, que escolheu a constituição do mundo em que vivemos, com suas alegrias e seus sofrimentos. E nos permite, entre os diversos mundos imagináveis, a conciliação entre o máximo de bem e o mínimo de mal. No nosso caso real, se optarmos pela melhor escolha, poderemos transformar o planeta que temos no melhor planeta possível.” E qual o propósito, caro leitor e internauta, desse papo ecológico? É lembrá-lo, mais uma vez, que nem tudo continua perdido. Que esta certeza, ou escolha, vem da própria Mãe Natureza, do meio ambiente solar e universal que nos dá vida. E ela é otimista. É muito maior, capaz de resistir e vencer todo o desmonte que o Governo Bolsonaro, completamente divorciado de Deus e, portanto, da Sua obra,

está fazendo contra a pasta do Meio Ambiente. Um ministério que já teve o respeito do mundo e hoje é capitaneado por um ministro pessimista que ainda se diz, orgulhoso, não saber quem foi Chico Mendes e a sua luta planetária, muito mais que amazônica. Mas por que, num cenário desse, a natureza é otimista? Porque sua capacidade de regeneração é igual ao amor de mãe: é incondicional. Não depende de nós. Ela só sabe viver e se multiplicar. É autossustentável e acaba de nos dar uma comprovação disso. Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) divulgados pela Fundação SOS Mata Atlântica, o segundo maior bioma do Brasil, depois da Floresta Amazônica, acaba de ver confirmado o seu menor desmatamento ao longo de três décadas. Acredite, pois os satélites não mentem. Dos 17 estados do país ainda com esta exuberante cobertura florestal, nove deles já chegaram ao nível “zero” de desmatamento. Não desmatam mais, o que também significa não impedir mais o processo de regeneração natural da floresta. São eles, e merecem o nosso aplauso: Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo e Sergipe. Já Minas Gerais, Paraná, Piauí, Bahia e Santa Catarina ainda apresentam taxas de desmatamento “inaceitáveis” pelos ambientalistas. Quem vai ganhar a guerra pela vida, os pessimistas ou otimistas? É a torcida que a Revista Ecológico faz nesta sua Edição Especial comemorativa a mais um “Dia Mundial do Meio Ambiente”, através de dois brasileiros teimosamente otimistas, além de Zema e da atriz mineira Cida Mendes, que ilustra a nossa capa. Trata-se da também atriz e ambientalista global, Christiane Torloni, que dirige o documentário “Amazônia, o Despertar da Florestania”. E de Walther Moreira Salles, in memoriam, o mais internacional dos brasileiros, diplomata e fundador da CBMM, em Araxá (MG), a primeira empresa do setor a conseguir a Certificação Ambiental ISO 14000. Que ótimo que ainda há esperança. Boa leitura! Até a próxima lua cheia. 


BEM-VINDO AO MELHOR PORTAL DE NOTÍCIAS SOBRE MEIO AMBIENTE

PODE ENTRAR. AQUI, A CASA É PLANETÁRIA.

SOUECOLOGICO.COM


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ECONECTADO

ECO LINKS

#SouEcológico Confira os conteúdos mais acessados no portal:

Contato com a natureza traz benefícios para saúde e bem-estar Pesquisas comprovam que estar em contato com áreas naturais reduz as chances de desenvolver ansiedade, depressão e estresse, além de prevenir doenças cardíacas Link: bit.ly/2Y3Ibme Abril Marrom alerta para os cuidados com a saúde ocular Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cegueira atinge hoje mais de 1,2 milhão de pessoas no Brasil. Oitenta por cento dos casos são evitáveis ou tratáveis Link: bit.ly/abrilmarrom Programa Compromisso com o Clima abre edital para selecionar projetos de sustentabilidade Ao apoiar projetos socioambientais que geram créditos de carbono, empresas participantes desejam escalonar suas metas de compensação Link: bit.ly/compromissoclima 14  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

PLANTSNAP Sabe aquela plantinha que viu na rua e não sabe o nome? Ou que ganhou de presente e ficou curioso (a) sobre a espécie? Preparese, a partir de agora você terá uma aula de botânica e vai descobrir as maravilhas da natureza! O PlantSnap é um aplicativo que usa inteligência artificial para identificar árvores, flores e suculentas. A plataforma possui banco de dados bem diversificado com informações de plantas encontradas em todo o mundo. Veja como é fácil usar: basta tirar uma foto e em segundos o app revela quem ela é! São oferecidos dois tipos de planos no aplicativo: gratuito (cinco imagens por dia), e pagos, a partir de R$ 7,99. Disponível para smartphones Android link: bit.ly/plantsnapeco e iOS (apple.co/2UXuljg).

MAIS LIDA Nas andanças do jornalista e consultor em plantas medicinais Marcos Guião pelo sertão mineiro, ele já ouviu várias histórias, algumas fantasiosas, outras refletindo as durezas da vida. Uma delas aconteceu na região central de Minas: a “Surra de maria-preta e alecrim no defunto”. Esse “causo” rendeu uma boa prosa com nossos leitores e foi a mais acessada do mês no site da Revista Ecológico. Para ler o conteúdo, acesse: bit.ly/mariapretaalecrim

FOTO: MARCOS GUIÃO

NA REDE

VEGMAN Está cada vez mais comum encontrarmos pessoas que escolheram se alimentar de forma saudável e, ao mesmo tempo, promover o bem-estar dos animais. A dieta vegana tem como base produtos de origem vegetal e exclui carnes, ovos e lacticínios. Você pode estar se perguntando: “Mas é fácil encontrar restaurantes com esse perfil hoje?”. Sim! E o melhor: em várias cidades do mundo! Por meio do aplicativo VegMan é possível conhecer e localizar estabelecimentos que pensam com carinho em sua alimentação e nos animais. É só pesquisar a cidade e informar qual é seu estilo de vida: vegano ou vegetariano! Como baixar? Para quem utiliza Iphone, acesse Apple Store (apple.co/2ZRAW2j). Já os usuários com Google Play podem fazer o download pelo link bit.ly/ecovegman.


1 PREMIAÇÃO

O SOL DA TERRA De Van Gogh à Energia Solar

VEM AÍ... PRÊMIO HUGO WERNECK 2019!

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á estão abertas as inscrições para a 10ª edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, promovido pela Revista Ecológico. Este ano, a premiação terá a companhia da Fiemg como correalizadora, dada a inclusão de novas categorias, que abrangerão áreas políticas e institucionais de Minas e do país. A parceria foi acertada entre o diretor da Revista Ecológico, Hiram Firmino, o presidente do Sistema Fiemg, Flávio Roscoe, e o Governo do Estado, por meio do secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Germano Vieira. O tema deste ano, voltado para energia solar fotovoltaica, também tem a simpatia do governador Romeu Zema. Por meio da Cemig e da Siamig, ele tem incentivado a expansão de fazendas solares em quase todo o Norte de Minas, bem como a utilização

da biomassa da cana-de-açúcar como fonte de energia renovável. Minas é hoje o estado líder na produção de energia solar. E Belo Horizonte se tornou a capital com mais painéis fotovoltaicos instalados do país, tanto em indústrias quanto em residências, por conta da incidência de raios solares na maioria dos dias do ano. O Brasil todo, enfim, está bem na fita. A contribuição do país, em termos de energias renováveis, já ultrapassou as metas exigidas pelo Acordo de Paris,

VINCENT VAN GOGH: homenagem especial

com a esperança de conter as mudanças climáticas. A premiação irá homenagear ainda a obra ensolarada do pintor holandês Vincent Van Gogh. Ao contrário dos artistas de sua época, ele se recusou a criar uma visão pessoal da natureza. Mas, sim, buscou reproduzir, a seu modo, o que Deus criou perfeito e autossustentável: o sol, que se revela diariamente no meio ambiente terrestre, fazendo da nossa biosfera a única pulsante em todo o universo conhecido. Literalmente enlouquecido com a luz do sol, o pintor holandês vendeu apenas um quadro em vida: “O Vinhedo Vermelho” (1888). Mas, hoje, uma das pinturas mais valiosas em todo o planeta é de sua autoria. E se chama, não à-toa, “Os Girassóis” – flores que crescem e se movem acompanhando o astro celeste.  SAIBA MAIS

www.premiohugowerneck.com.br JUNHO DE 2019 | ECOLÓGICO  15


GENTE ECOLÓGICA

FOTO: JEAN-POL

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FOTO: LÚCIA SEBE / DIVULGAÇÃO

“Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico.” LÚCIO SÊNECA, escritor e filósofo romano

“A gente atua assim eternamente. Nunca houve abundância na cultura. E investimento privado não cai de graça.” ELIANE PARREIRA, presidente (pela segunda vez) da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), sobre como administrar a crise

“A natureza detesta o vazio.”

FOTO: DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

FOTO: ARQUIVO GERALDO L. NETO / VINHA DE LUZ

BLAISE PASCAL, filósofo francês

“Viver sem amigos é morrer sem deixar lembranças.” CHICO XAVIER, médium espírita 16  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

“Ter fé não é rezar até Deus te ouvir. É você rezar até ouvir Deus. A minha fé está na conexão com esse algo maior, com este planeta e toda sua natureza.” ISIS VALVERDE, atriz


HILDEBRANDO PONTES NETO, advogado

MARINA SILVA, ex-ministra de Meio Ambiente

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

“A Floresta Amazônica não pode, ela própria, entrar na Justiça contra os seus desmatadores. Nós é que temos de fazer isso.”

FOTO: REPRODUÇÃO TWITTER

“A ecologia só será respeitada no dia em que o ser humano não se achar melhor do que um pé de abacate.”

“A vida é mistério para ser vivido e não um enigma a ser decifrado. Tentar decifrá-lo nos faz perder o sol, as cores, o afeto, o gosto, o tato, a natureza. A vida é apenas para ser saboreada.”

“O amor ao planeta já nasceu sustentável. Ele vem da consciência ecológica.”

ANTÔNIO ROBERTO, consultor em Desenvolvimento Humano

ROBERTO GUARINO, engenheiro e espiritualista

JORGE ANGEL GARCIA Abralatas 1

FOTO: DIVULGAÇÃO ABRALATAS

FOTO: TALITA OLIVEIRA

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

MARCELO LIGERE, diretor regional da TV Globo Minas, durante entrega do “10º Prêmio Bom Exemplo", em BH

Com uma brilhante participação no filme “Amazônia, o Despertar da Florestania”, dirigido e recém-lançado por Christiane Torloni e Miguel Przewodowski, a colunista de O Globo e apresentadora da Globo News colhe mais um reconhecimento público do seu trabalho profissional. Ela será a grande homenageada do “14º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji”, indicada pelo “Jornalistas&Cia”.

Em segunda missão, o engenheiro químico pela Universidade Federal da Bahia está de volta à presidência do Conselho de Administração da Abralatas. Vicepresidente da Ball, durante sua primeira passagem como CEO da entidade, destacou-se por ter dado atenção especial à defesa da “Tributação Verde” como política pública de estímulo ao consumo e a produção sustentáveis. CÁTILO CÂNDIDO Abralatas 2

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: BRUNO SOARES

MÍRIAM LEITÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

CRESCENDO

“Todos os nossos premiados têm uma coisa em comum: muito otimismo. Independentemente da realidade à sua volta, eles fazem acontecer e ajudam as pessoas. Nos dias de hoje, é disso que a gente mais precisa: otimismo.”

Novo presidente executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio: “Temos a embalagem para bebidas mais sustentável do planeta, numa época em que a responsabilidade ambiental é condição de sobrevivência para qualquer indústria”. JUNHO DE 2019 | ECOLÓGICO  17


BLOG DO HIRAM

FOTO: BRUNO PERES / MCTIC

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O OTIMISMO DE ROMEU ZEMA

COMO MINAS E O BRASIL PODEM SE MIRAR NO EXEMPLO DE RUANDA Desde a tragédia da Vale em Brumadinho que o governador Romeu Zema vem colecionando críticas veladas pelo seu otimismo, principalmente ao abordar o tema da mineração em crise no estado. Por causa de suas declarações notadamente positivas (confira algumas delas no box ao lado), de esperança no futuro e fé na vida pública, muitas vezes ele é visto

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igualmente como ingênuo. Por pensar assim, o nosso governador pode estar sozinho, cercado de maus agouros, desde parte da imprensa até alguns de seus colaboradores mais próximos. Mas nem tudo está perdido. Pelo contrário. Só otimismo e ingenuidade jamais o levariam aonde chegou. Mas podem ajudá-lo, e muito, na missão “quase impossível” que abraçou e o faz levantar todos os dias difíceis que vivemos. Foi o que fiquei matutando dia desses, lembrandome de Zema e das nossas Minas Gerais, após ouvir um comentário do colega Lourival Sant'Anna, na Rádio CBN, sobre o que de mais desafiante e real aconteceu em Ruanda, na África. Alguém aí, caros leitores, já assistiu ao filme “Hotel Ruanda”? Pois o alugue de novo. Aquilo tudo (um país sem natureza, com quase um milhão de habitantes se matando a golpes de facões) virou passado e perdão. Ex-colônia da Bélgica, entre os dias sete de abril e quatro de julho de 1994, esse território africano já aquecido pelas mudanças climáticas foi palco de um dos piores genocídios ocorridos na face tórrida da Terra. Um verdadeiro massacre perpetrado por extremistas hutus contra tutsis e hutus moderados, os seus dois maiores grupos éticos. Uma rivalidade que se acentuou com o passar do tempo, dada à escassez ambiental de terras para plantio e a sua fraca economia nacional não diversificada, basicamente sustentada pelo cultivo e exportação de café. Isso, até 1989, quando o preço da saca foi reduzido à metade, fazendo o país praticamente dependente de um único produto, perder em 40% a sua renda oriunda das exportações. A partir daí, Ruanda tornou-se uma das nações mais pobres do planeta. E a que também mais reagiu a partir disso: virou case de sucesso em gestão econômica governamental. A "CINGAPURA" DA ÁFRICA Foi o que continuei ouvindo no rádio. Em apenas duas décadas e meia depois do genocídio que exterminou cerca de 800 mil dos seus sete milhões de habitantes e, na sequência, mandou para o exílio parcela considerável de sua antiga força de trabalho, Ruanda vive hoje em ritmo de crescimento acelerado em torno de 9% ao ano. Por motivos óbvios, tem 60% da população abaixo dos 30 anos e um dos parlamentos mais femininos do mundo (64% de mulheres na Câmara e 40% no Senado). É ainda considerado um dos lugares mais seguros da África e também um dos mais estáveis politicamente. Segundo a escritora Scholastique Mukasonga,


www.blogdohiram.com.br

DEPOIMENTOS DE ESPERANÇA DIVERSIFICAÇÃO “Estamos iniciando a era pós-tragédias em Minas Gerais. Brumadinho será a última. Queremos que a nossa economia venha se diversificar mais. A mineração sempre foi e continuará importante, mas outras atividades precisam surgir e dinamizar o nosso desenvolvimento de maneira sustentável. Nós temos de mudar a mentalidade reinante no Brasil de que mais regulamentação e leis é que proporcionam melhor desempenho.” REINVENÇÃO “Nós temos uma das legislações tributárias mais complexas do mundo e, apesar disso, um alto grau de informalidade e sonegação. Nosso Supremo Tribunal Federal é o único no planeta que julga habeas corpus, em vez de questões de caráter superior. Somos um país que, de certa maneira, precisa se reinventar. Essa cultura burocrática que herdamos tem impedido e muito, que nos tornemos uma sociedade mais eficiente e mais rica.” EXPECTATIVA “A nossa expectativa de vida atual é a maior de todos os tempos. A segurança que temos é a maior de todas as eras. Nunca se teve tão poucas guerras. Quando eu falo isso é comparando séculos e não pequenos intervalos, porque algumas recaídas podem acontecer. As condições de trabalho nunca foram tão boas quanto agora. Temos de lembrar que viemos de um país de escravos e que trabalho, no passado, era algo que quase condenava uma pessoa à morte. Nunca tivemos tanto bem-estar, moradias, transportes e, principalmente, tanta liberdade de expressão e transparência.”

que perdeu praticamente toda a sua família durante os massacres, Ruanda se tornou, sim, um modelo possível para o mundo. E pode inspirar o Grande Sertão, já sem veredas, que trazemos dentro e fora da gente: “As pessoas que nos visitam hoje constatam o resultado do desenvolvimento econômico, da luta implacável contra a corrupção e o lugar que as mulheres têm. A segurança que reina na capital Kigali leva as grandes empresas a estabelecerem suas sedes em Ruanda. Nós sonhamos ser, enfim, a pequena Cingapura da África” – disse ela. E, detalhe final em termos de ecologia humana e social reportada, in loco e ao vivo, por Lourival Sant'Anna na CBN: “Nem moradores

CONFISSÃO “Eu só virei governador exatamente por causa do meu otimismo. Foi o que mais escutei durante minha campanha, e ainda escuto: ‘Você é louco de querer assumir um estado como Minas Gerais’. Mas busco me lembrar sempre que desafios é o que, muitas vezes, nos mantêm vivos. Escalar o Monte Everest, em vez da Serra da Mantiqueira, todo mundo sabe, é bem mais desafiante. O que o meu governo quer fazer é exatamente isso. É apossar-se desse tamanho desafio que temos pela frente.” OTIMISMO “Eu quero sempre demonstrar o meu otimismo. Qualquer pessoa que pegar um livro de história e entender um pouquinho do que aconteceu com a nossa raça tem todos os motivos para ser extremamente otimista.” “Estou otimista também porque Minas está intacta, diferentemente de um país como a Síria, totalmente arrasada e destruída. Caso a economia do mundo, do Brasil e do mundo venha a reagir, a nossa produção tem condição de aumentar rapidamente, em questão de meses, até 40%, que é uma capacidade gigantesca.” RENASCIMENTO “Muitas vezes as tragédias nos obrigam a construir um mundo novo e melhor. Japão e Alemanha são dois grandes exemplos dessa possibilidade real. Eles foram países arrasados por duas guerras mundiais e hoje estão entre os mais prósperos, justos e com melhores índices de bem-estar do mundo para as suas populações. Fazer dessas nossas tragédias um futuro melhor é tudo que queremos. Só depende de nós.”

de rua pedindo esmolas são mais vistos hoje em Ruanda”, ele confirmou. Eu desliguei o rádio, com esperança novamente no ser humano. Como diria José Carlos Carvalho, nosso ex-secretário e ministro de Meio Ambiente, diante da insustentável beleza do mundo “nenhum de nós tem mais tempo para ser pessimista”. E lembrei-me, indagativo, do governador: e quanto a Minas, destroçada temporariamente pela mineração insustentável? E quanto ao Brasil, que tem um ministro do Meio Ambiente que é contra o Meio Ambiente? E o Planeta Terra, onde todos os dias do ano deveriam ser dias mundiais do Meio Ambiente, de reflexão, e não somente hoje, 5 de junho? Continue otimista, Zema!  JUNHO DE 2019 | ECOLÓGICO  19


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PÁGINAS VERDES

O "DEFEITO ESTUFA" DE CONCESSA Hiram Firmino e J. Sabiá

FOTO: SIMONE CAETANO

redacao@revistaecologico.com.br

CIDA MENDES, a atriz atrás da personagem: "Somos o aquecimento global de nós mesmos" 20  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

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magine um teatro lotado e, de repente, uma senhora com bobes no cabelo entra em cena segurando uma malinha. Ela caminha entre os corredores da plateia, cumprimenta todos com seu jeito simpático, mostrando a sabedoria natural que é própria das pessoas que vêm do campo. Estamos falando de Concessa, a personagem criada pela atriz mineira Cida Mendes, que vem fazendo enorme sucesso com o espetáculo “Defeito Estufa”. Cansada do modo de vida estressante da cidade grande, Concessa volta para a roça. E faz uma comparação dos “calores” da menopausa com os provocados pelo aquecimento global. O riso é certo, mas há lições também. O processo de criação da personagem envolveu muita pesquisa. Cida ouviu histórias, leu bastante sobre meio ambiente e mudanças climáticas para passar uma mensagem inteligente e positiva a todos. “Até hoje estudo e atualizo o texto desse espetáculo. Presto atenção em cada palavra que digo. A responsa é muita habilidade’”, ressalta a artista, que falou com exclusividade à Revista Ecológico após apresentação recente da peça na capital mineira. Ciente da importância de seu trabalho para conscientizar as pessoas, a atriz é otimista sobre o futuro do ser humano. “Jamais quero perder a esperança. Temos de mostrar mais coisas boas para entendermos que há uma corrente positiva que vai fazer a coisa mudar, trazer equilíbrio.” Confira:


C I DA M E N D E S,

FOTO: SAMUEL ULHOA

atriz

“O planeta e nós somos feitos da mesma coisa, da mesma matéria das estrelas. E se você tem consciência disso, vive melhor, respeita a natureza e as pessoas.” De onde veio a inspiração para tratar de forma humorística o efeito estufa real e a ecologia humana das mulheres? A primeira inspiração foi minha mãe, Alice. Quando ela morreu, procurei fazer graça para aliviar a dor. Ela nasceu em uma cidade pequena e sempre foi uma mulher muito correta, apesar de não ter terminado os estudos. Mas a origem da Concessa vem mesmo é do campo. Queria criar uma personagem humana. E isso norteou o processo o tempo todo. A Concessa é antenada com a realidade, principalmente com as questões ambientais. É isso que a faz ser diferente? Quem é um bom ser humano, ou se torna assim, é ecológico. Muita gente desecológica e má por aí está virando um arreme-

do de gente. Não é nem gente mais. Principalmente as que destroem a natureza. Para criar a Concessa e manter minha consciência crítica, sempre fugi dessa coisa caricata do caipira bobo, que todo mundo passa para trás. As pessoas do campo têm muita sabedoria. Existem muitas mulheres, assim como foi minha mãe, que faziam e ainda fazem “sopa de pedra”. Que a história é essa? Minha mãe a contava pra gente desde criança. Uma pessoa queria tomar uma sopa, mas não tinha nada em casa. Ela foi, então, bater na porta de outra para pedir alguns ingredientes. Mas quem a atendeu, além de não querer dar nada, perguntou: “Você quer umas pedras?”. Ao que ela respondeu: “Quero,

mas a senhora também tem um pouco de água quente para me arrumar? E um pouco de óleo? Sobrou um pouco de verdurinha do almoço?” Com esses poucos conseguidos ela fez a sopa e, depois, tirou as pedras. Essa história norteou muito a minha vida. Nasci em Pará de Minas, sou caçula de 11 filhos. E, para dar conta de tanta gente, minha mãe conseguia fazer muito com pouco. Tirava sopa das pedras. Isso também é ser ecológico. Como foi o processo de pesquisa para criar a personagem? Quando as pessoas ao seu redor veem que está estudando, pesquisando para criar algo, as coisas naturalmente vão chegando até você. É igual a montar uma biblioteca. Você logo começa a

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PÁGINAS VERDES

ganhar muitos livros. E eu come- Sim. O “Defeito Estufa” foi em cei a ganhar histórias. As pessoas 2016. O título foi uma clicada chegavam até mim e diziam: “Ah! que tive. Foi criado para falar do Tenho uma tia que você precisa micro e do macro. Ecologia não conhecer, ela passou por situa- é isso? Eu falo do meu corpo e ções muito engraçadas”. Aí eu ia do planeta. A Concessa, uma até elas. Levava gravador para re- mulher que está na menopausa, gistrar as conversas e ficava ou- sente as mesmas coisas que a vindo depois. Até o dia em que Terra está passando agora, cada eu conheci uma senhorinha na dia mais grave. minha terra natal que se chama Concessa. Gostei tanto dela que A Antroposofia, que reconhece batizei a personagem com o seu o ser humano e qualquer outro nome. Apenas absorvi o seu rit- elemento natural como parte mo. Ela era alucinante, muito de um sistema harmônico engraçada, rápida. maior, a orientou Sentava, contava na construção da “Somos a poeira um caso triste, oupersonagem? da poeira. Por tro alegre, levanPositivo. Tenho tava, lavava uma isso temos de ser muitos amigos anvasilha, amassava troposóficos. Leio responsáveis com muita coisa do biscoito... o planeta e a sua filósofo austríaHá quanto tempo Rudolf Steiner, natureza que nos co você interpreta que fundou a doumantém vivos.” essa personagem? trina. A base conJá são 22 anos. Até ceitual dela é de hoje estudo e atualizo o texto que nós e o planeta somos feitos desse espetáculo. Presto atenção da mesma coisa, da mesma maem cada palavra que digo. Dou téria das estrelas. E se você tem muito valor à palavra, é por isso consciência disso, vive melhor, que descubra novas. O texto é respeita a natureza e as pessoas. como uma partitura para mim. Como diz Concessa, a “responsa Você aborda muito a questão é muita habilidade”. do consumo e lixo exacerbados. Qual a mensagem que passa O artista é responsável por sobre isso? quem cativa? O lixo é algo que nos deixa atorAs pessoas saem de casa, com- doados, perturba nossos sentidos. pram ingresso, pegam trânsito, As pessoas ainda estão muito desprocuram vaga para estacionar o preparadas nisso. Elas têm de ser carro e sentam nas poltronas do catequizadas ecologicamente, sateatro para te ver, te ouvir. É preci- ber porque é importante separar o so respeitá-las muito. E eu respei- lixo, trabalhar com o reaproveitato. A comédia é um meio de co- mento de resíduos, não desperdimunicação maravilhoso, porque çar. A mudança é interna, começa você desarma as pessoas quando primeiro com a gente. Temos de faz elas rirem. É nessa hora que ter humildade para entender isso. consegue transformá-las, porque A Terra não é uma poeira no unia arte tem esse poder. verso? Somos a poeira da poeira. Por isso temos de ser responsáveis Você escreveu todos os roteiros com o planeta e a sua natureza da Concessa? que nos mantém vivos. 22  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

QUEM É

ELA

Nascida em 1966, desde pequena Cida Mendes dava sinais de seu talento artístico. A vocação só foi levada a sério mais tarde, quando ela abandonou dois anos de estudos na faculdade de Educação Física e mais três anos no Conservatório de Música da UFMG para se dedicar ao teatro. A personagem Concessa levou Cida a conquistar o primeiro lugar no “Prêmio Nacional Multishow de Humor – Globosat”, em 1997, disputado por 187 atores. Iniciavase a trajetória do Grupo Tripetrepe - uma parceria bem-sucedida de Cida com a diretora Iolene de Stéfano e a produtora Consuelo Ulhoa. Cida também teve atuação destacada no cinema e na TV, com participações na “Turma do Didi”, na TV Globo, e na “Escolinha do Barulho”, na TV Record.

Que lição ou mensagem principal a Concessa quer que seu público leve pra casa, ao sair do teatro? Que as pessoas têm de absorver e espalhar o amor, o riso, porque isso cura. Tem gente que chega tensa para assistir à peça e sai relaxada, feliz. Não há nada mais bonito do que deixar uma pessoa melhor do que ela já é. A outra lição é a de que devemos enxergar, respeitar e reverenciar Deus na natureza, sempre. O Deus ou Criador de todas as coisas que se revela através do mundo natural é o mesmo que está dentro de nós.

FOTO: SAMUEL ULHOA

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C I DA M E N D E S, atriz

“O mundo tá sem lógica. Nóis temo que sê é cológico!” “Eu tava aqui pensando, fisolofando com meus botão. Essa vida da gente é um come-coisa, é um suja-e-lava. Até na Semana do Meio Ambiente as pessoa suja muito mais do que limpa. Por isso que nunca fica limpo. As pessoa só fica falando: ‘Mãe Natureza’ pra cá, ‘Mãe Natureza’ pra lá. Mas... isso é jeito de tratar a Mãe? Se a natureza é a nossa Mãe, o praneta é a nossa casa. E tá tudo eles ficando entuiado de lixo! Falando em lixo, ocê conhece seu lixo? Sabe o que tá lá dentro? Ocê ainda tá separando o seco do moiado ou ainda tá ponhando tudo misturado? É por isso que tô falando que é preciso miorá muito ainda pra ficar ruim, porque nós ainda tamo muito atrasado nesse trem, não é?

Eu já tenho meu meutodo. Separo uma caixa e vô ponhando todas as embalagens desses trem que a gente compra e vai virando lixo. E só vai pra caçamba o lixo moiado da cunzinha e o lixo do vaso sagitário. Depois eu vou lá nessa caixa e nós separa o que recicla. Mas isso é poco. Nós temo que aprendê é a reduzir. Comprá menos coisa que faz lixo, porque aí ele todo diminói. Nóis tem que tê conscença, porque o mundo tá sem lógica. Temo que sê é cológica.

“Só deve ir pra caçamba o lixo moiado da cunzinha e o lixo do vaso sagitário.”

A pessoa cológica, prestenção nos ‘eco’, ela economiza. Economiza água, economiza luz, economiza o lixo. Agora tem muitas pessoa que eles fala que é ‘dez’! Só se for desperdiça!? E pior. Tudo delas tem que sê muito. Elas despreza, elas destrói, nem desconfia do pobrema que tá virando esse negócio do lixo no praneta todo. Nós e o praneta é feito das mesmas coisa. Viu como tô ficando antroposófica? Eu sei que a natureza não é pra nós. Ela é parte de nós. É por isso que a gente tem que tê conscença. O mundo tá sem lógica. E nós tem de sê mesmo cológica. Senão, sabe o que vai acontecer? Vai explodir tudo: - Bum! Cabô!” 

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FOTO: DIVULGAÇÃO

1 CINEMA

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BRASIL URGENTE!

FOTO: MARCELO FAUSTINI

Como chorar de amor e dor pela AMAZÔNIA

CHRISTIANE TORLONI de volta à maior e mais ameaçada floresta tropical do planeta: dádiva divina que o Brasil ainda não enxerga, não respeita nem defende

Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

É

tão bonito e faz bem a gente ver que ainda existem pessoas sensíveis, com coração e consciência política que, à parte de suas profissões e ocupações cotidianas, ainda dão vida e abraçam causas humanitárias do tamanho do mundo. E por isso nos fazem chorar, tamanha a indiferença da espécie humana pela degradação ambiental à sua volta. Mas também nos

levam a sonhar, por acreditarem que ainda podemos salvar o único planeta conhecido com vida entre as estrelas do céu. Essas pessoas existem, outras já se encantaram. Há nomes conhecidos, como Ailton Krenak, André Trigueiro, Benki Piyãko, Caetano Veloso, Carlos Minc, Darcy Ribeiro, Fernando Henrique, Frans Krajcberg, Juca de Oliveira, Lucélia Santos, Milton Nascimento, Marina Silva, Míriam

Leitão, Papa Francisco, Paulo Adário, Sérgio Abranches, Thiago de Melo, Virgílio Viana, Victor Fasano e tantos outros companheiros de luta ambiental. São essas, enfim, sob direção da atriz Christiane Torloni e de Miguel Przewodowski, as estrelas-guias do documentário “Amazônia, o Despertar da Florestania”, em cartaz na maioria dos cinemas do país. O documentário aborda a ques-

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FOTO: REPRODUÇÃO

1 CINEMA

tão ambiental brasileira desde o começo do século XX, passando pelas Diretas Já e pelo assassinato covarde de Chico Mendes (que o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ainda não sabe quem foi) até o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, considerado o maior desastre socioambiental do país. É como rememorou o líder indígena Ailton Krenak, personagem constante no documentário, três anos e meio depois da lama de minério ter matado 19 pessoas e poluído o Rio Doce, no Espírito Santo, estado que abriga a última reserva de seus antecedentes e descendentes. “Esta terra de meu povo, às margens do Watu, nome indígena do Doce, hoje não tem mais água para beber. Eles trocaram, de maneira muito desigual, o nosso antigo e despoluído rio por caminhão-pipa. Esse contrato que tivemos de aceitar é muito doloroso” – foi o que confirmou Krenak, logo após o lançamento do filme em BH, em debate com o público presente. Voltando à “Amazônia”, as ce26  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

nas são igualmente dolorosas, machucam. Mostram que, ao cair em série, as árvores gigantescas da maior floresta tropical do mundo não apenas fazem barulho mecânico com seus troncos batendo violentamente no solo sagrado. Elas choram, de verdade, como se fossem animais, uivando de dor. E produzem água, tipo lágrimas, que brotam na base de seus troncos, onde a motosserra faz o corte mortal e criminoso. Um dos episódios mais inacreditáveis na história ambiental brasileira remonta à época do primeiro Governo Amazonino Mendes, no Amazonas. É quando, para angariar votos ou por maldade ou ignorância mesmo, o governador faz a distribuição, gratuita e em massa, de motosserras para a população cabocla. São caminhões e mais caminhões saindo em filas, com as suas carrocerias lotadas dessas motosserras de última geração, compradas com o dinheiro público, saindo ensandecidas rumo à Grande Floresta, sob os gritos dos seus líderes: “Vão lá, gente! Cortem tudo que

QUEM SÃO

ELES

Os diretores Christiante Torloni já atuou em 14 peças, 27 novelas e 16 filmes. Como ativista política, ela participou das “Diretas Já”. Como ambientalista liderou o Movimento “Amazônia para Sempre”, que coletou mais de um milhão de assinaturas contra a devastação da Floresta Amazônica. Miguel Przewodowski é jornalista, diretor e roteirista de televisão, cinema e teatro. Tem em seu currículo documentários, filmes, séries, videoclipes, música e programas jornalísticos de TV.

puder de árvores pela frente!”. E eles, todos sabemos, cumpriram as ordens até onde foi possível. E a natureza, onde não foi poupada, deixou de existir. “Que país é esse, o único do mundo, que esqueceu que tem nome de árvore? Que não dá conta que, em suas veias, corre seiva e não apenas sangue?”, pergunta Christiane Torloni.


FOTO: REPRODUÇÃO

FOTO: MARCELO FAUSTINI

É dela também, em meio à beleza divina dos igarapés que o documentário descortina, de maneira amazônica, a mensagem final do documentário: “Se todos os brasileiros, e incluindo principalmente os políticos, empresários e governantes, pudessem ter a oportunidade de conhecer a Amazônia, ela jamais seria agredida”. Pelo contrário, a indignação seria geral em sua defesa. Além de cidadania planetária, todos nós entenderíamos o subtítulo convocador do filme: “O Despertar da Florestania”, que é o outro nome da floresta e seus povos terem mais valor em pé do que burramente ceifados e assassinados. Esse é detalhe maior do roteiro. As primeiras cenas são da Terra em azul, saindo da escuridão cósmica e focando o verde gigantesco da Amazônia. As últimas cenas

TORLONI E MIGUEL PRZEWODOWSKI: “Quando foi que nós esquecemos que o Brasil tem o nome de uma árvore? Que o que corre em nossas veias não é sangue, é seiva?”

são propositadamente iguais. Elas fazem a viagem cósmica de volta. E confirmam que somos habitantes de um único e minúsculo ponto azul milagrosamente existente entre o sol e a nossa insensibilidade. E ainda podemos mudar e

salvá-lo, salvando-nos amazônicamente juntos, via o DNA democrático da florestania.  SAIBA MAIS Assista ao trailer

twixar.me/X1hn

VOCÊ SABIA... que a ArcelorMittal Brasil ficou em 1º lugar, no segmento de Metalurgia e Mineração, no estudo “Transparência em Relatórios Corporativos - As 100 maiores empresas e os 10 maiores bancos brasileiros”, publicado pela Transparência Internacional em 2018? Relatório de Sustentabilidade 2018 ArcelorMittal Brasil Acesse e fique por dentro das novidades

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ANDRESSA DE OLIVEIRA LANCHOTTI* redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: TOMAZ SILVA - AGÊNCIA BRASIL

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OPINIÃO PÚBLICA

MUSEU NACIONAL, no Rio de Janeiro, em chamas: é preciso mais investimento em prevenção para garantir a perpetuação de nossa memória

O MP NA DEFESA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL BRASILEIRO

A

ausência de fiscalização adequada dos bens integrantes do patrimônio histórico e cultural brasileiro é fator que contribui para a ocorrência de graves tragédias, como o incêndio que destruiu o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no dia 02 de setembro de 2018. Em poucas horas, vestígios de milhares de anos de história desapareceram, deixando evidente a fragilidade dos bens materiais históricos e a necessidade de maior investimento em prevenção para a garantia da perpetuação de nossa memória. 28  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

Minas Gerais é o estado da federação com maior número de bens culturais formalmente protegidos pelo tombamento. Possui, ainda, quatro sítios reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade – Centros Históricos de Ouro Preto e Diamantina, Conjunto Arquitetônico Moderno da Pampulha, em Belo Horizonte, e Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas. Segundo levantamento preliminar realizado pela Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico (CPPC) do Ministério Público de Minas


"A ausência de sistemas adequados de combate a incêndios já levou diversos bens culturais edificados a serem consumidos parcial ou inteiramente pelo fogo em Minas Gerais."

Gerais (MPMG), há no estado mais de 6.500 bens gularidades em imóveis históricos no estado. A de interesse cultural que deveriam contar com CPPC elaborou um amplo material de apoio volSistemas de Prevenção contra Incêndio e Pânico tado aos promotores de Justiça, para que estes, (SPCIP) instalados e em funcionamento. Destes, por meio de uma atuação resolutiva, proponham cerca de 430 são museus, sendo 125 na Região medidas de salvaguarda aos gestores municipais Metropolitana de Belo Horizonte e 68 na capi- ou de museus particulares, a fim de fomentar tal. Segundo o Corpo de Bombeiros Militar de ações de curto, médio e longo prazo para a comMinas Gerais (CBM-MG), em setembro de 2018, pleta regularização desses imóveis. Durante a II Reunião Ordinária do Grupo Nafoi realizada vistoria em 367 desses estabelecimentos e constatou-se que apenas 38 possuíam cional de Direitos Humanos (GNDH), que inteAuto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) gra o Conselho Nacional dos Procuradores-Gee 66 estavam com processos em andamento; os rais (CNPG), realizada em setembro de 2018, demais estavam irregulares. A ausência de siste- em Fortaleza, Ceará, a Comissão Permanente de mas adequados de combate a incêndios já levou Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo e Patridiversos bens culturais edificados a serem con- mônio Cultural (Copema), que é composta por representantes de todas as unidades e ramos do sumidos parcial ou inteiramente Ministério Público, aprovou enunpelo fogo em Minas Gerais. A título “É necessário ciado conclamando o Ministério de exemplo, podemos citar o incêndio do antigo Hotel Pilão, ocorrido maior investimento Público brasileiro a aprimorar sua em abril de 2003, que provocou a por parte do Poder atuação na preservação do patrimônio histórico e cultural, exigindo destruição de parte do conjunto Público em medidas dos órgãos públicos competentes a arquitetônico da Praça Tiradentes, fiscalização periódica dos bens inpreventivas para em Ouro Preto; em março de 2009, tegrantes desse patrimônio. em Dores de Guanhães, um curtoa proteção dos A partir desse entendimento, ar-circuito provocou o incêndio que bens culturais ticulou-se a “Ação nacional: o Midestruiu a histórica Igreja de Nossa nistério Público em defesa do Pamateriais.” Senhora das Dores; em outubro de trimônio Histórico e dos Museus 2014, a Capela do Senhor do BonBrasileiros”, que teve início em 17 de setembro fim de Itaúna, com 161 anos de história, foi quade 2018 e consiste em uma série de ações coorse totalmente destruída por um incêndio, entre denadas do Ministério Público brasileiro cujo outros que ocasionaram perdas irreparáveis. Para a proteção efetiva do patrimônio histórico foco é verificar a existência de sistemas eficiene cultural é imprescindível a elaboração de um tes de prevenção e combate a incêndio em muprojeto e a efetiva instalação e funcionamento seus situados nos 19 estados participantes. Com base em reuniões realizadas com órgãos de Sistema de Proteção contra Incêndio e Pânipúblicos envolvidos com a proteção dos bens culco, devidamente aprovado pelo Corpo de Bomturais, audiências públicas com a sociedade civil beiros (AVCB válido) nesses imóveis. As questões e vistorias em museus e outras edificações de inavaliadas no AVCB são de extrema importância teresse público, medidas extrajudiciais e judiciais para garantir o funcionamento seguro das edifiestão sendo tomadas pelo Ministério Público para cações. O documento atesta que a estrutura não sanar os problemas encontrados. Todavia, essas se encontra em risco de incêndio e que, caso este medidas, por si só, não são suficientes para imocorra, possui os equipamentos necessários para pedir novas tragédias. É necessário maior invesapagar as chamas e salvar vidas. O AVCB deve ser timento por parte do Poder Público em medidas renovado a cada três anos e as penalidades admipreventivas para a proteção dos bens culturais nistrativas previstas para os locais irregulares vão materiais. Caso contrário, o fogo e as intempéries de advertência e multa até a interdição parcial ou continuarão a apagar parte de nossa memória.  total das atividades. Atualmente, o MPMG, por meio da CPPC, (*) Promotora de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). acompanha centenas de casos envolvendo irreJUNHO DE 2019 | ECOLÓGICO  29


1 BIODIVERSIDADE

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A SEXTA EXTINÇÃO

Relatório do IPBES sobre o estado da biodiversidade planetária alerta: é iminente o risco de desaparecimento de mais de um milhão de espécies animais e vegetais sobre a face devastada e aquecida da Terra

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FOTO: JONNY LINDNER

JÁ COMEÇOU


FOTO: CHANKLANG KANTHONG / GREENPEACE

1 BIODIVERSIDADE

LIXO E PEIXE morto em Wonnapa, província de Chonburi, na Tailândia: realidade crescente na maioria das praias do planeta

Elton Alisson, Agência FAPESP agencia.fapesp.br

A

s taxas de extinção de espécies animais e vegetais estão aumentando em uma escala sem precedentes. A abundância média de espécies nativas na maioria dos principais hábitats terrestres caiu em, pelo menos, 20%, principalmente desde 1900. Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos corais e mais de um terço de todos os mamíferos estão ameaçados. 32  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

Essa perda é resultado direto da atividade humana e constitui uma grave ameaça ao bem-estar humano em todas as regiões do mundo, alerta um grupo de cientistas de 50 países, incluindo do Brasil. Eles são autores da primeira avaliação global do estado da natureza da “Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos” (IPBES, na sigla em inglês).

O sumário para os formuladores de políticas do relatório foi lançado mês passado, em Paris, após ter sido aprovado por 132 países durante a sétima sessão plenária do órgão, chamado de “IPCC para a biodiversidade”. “A saúde dos ecossistemas de que toda a humanidade e as espécies dependem está se deteriorando mais rapidamente do que nunca. Estamos erodindo os próprios alicerces de nossas


FOTO: CHANKLANG KANTHONG / GREENPEACE

economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo”, disse Robert Watson, presidente da IPBES. Elaborado ao longo dos últimos três anos por 145 especialistas, com contribuições de outros 310 autores, o relatório avaliou mudanças na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos – como o fornecimento de alimentos e de água – durante as últimas cinco décadas. Para isso, foi feita uma revisão sistemática de cerca de 15 mil fontes científicas, governamentais e de conhecimento indígena e de comunidades tradicionais. “Esse é primeiro relatório intergovernamental que foca não só a biodiversidade, mas também suas interações com trajetórias de desenvolvimento econômico e com fatores que afetam a natureza, como as mudanças climáticas”, disse Eduardo Sonnewend Brondizio, professor da Indiana University, dos Estados Unidos, à Agência FAPESP. “Nunca tantos dados, de diferentes áreas, como das ciências naturais e sociais, foram reunidos para fazer uma avaliação detalhada da condição do ambiente em escala global e em uma perspectiva integrada de interação com a sociedade”, disse Brondizio. O DESAPARECIMENTO DA NATUREZA O relatório aponta que ecossistemas, espécies, populações selvagens, variedades locais de plantas e de animais domesticados estão encolhendo, deteriorando ou desaparecendo. Dessa forma, a rede essencial e interconectada da vida na Terra está ficando menor e cada vez mais desgastada.

Pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à extinção desde o século 16 e mais de 9% de todas as raças domesticadas de mamíferos usados para alimentação e agricultura foram extintas até 2016. Além disso, estima-se que 1 milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção. Entre os fatores responsáveis por esse declínio de espécies estão, em ordem decrescente, as mudanças no uso da terra e do mar, a exploração direta de organismos, as mudanças climáticas, a poluição e espécies tóxicas invasoras. Desde 1980, as emissões de gases do efeito estufa dobraram, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7oC. O aquecimento global já tem afetado a natureza, do ecossistema à genética das espécies, e os impactos devem aumentar nas próximas décadas, em alguns casos, superando o impacto da mudança do uso da terra e do mar e outros fatores, apontam os autores do relatório. “O sumário mostra que a situação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, essenciais para a qualidade de vida, é ainda mais crítica do que a do aquecimento global”, disse Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do programa BIOTA-FAPESP. A DEGRADAÇÃO DA TERRA Mais de um terço da superfície terrestre do mundo e quase 75% dos recursos de água doce são agora dedicados à produção agrícola ou pecuária. O valor da produção agrícola aumentou em cerca de 300% desde 1970, a extração de madeira aumentou em 45% e aproximadamente 60

O IPBES mostra que é preciso mudar a narrativa de que o desenvolvimento econômico é um fim em si mesmo e que todos os custos para alcançá-lo, como a degradação ambiental e a desigualdade social, são inevitáveis e justificáveis bilhões de toneladas de recursos renováveis e não renováveis são extraídos globalmente a cada ano – número que quase duplicou desde 1980. A degradação da terra, contudo, reduziu a produtividade de 23% da superfície terrestre global. Até US$ 577 bilhões em safras globais anuais estão em risco de perda de polinizadores e entre 100 e 300 milhões de pessoas estão em risco aumentado de inundações e furacões devido à perda de hábitats costeiros e proteção, ressaltam os autores do relatório. A poluição plástica cresceu 10 vezes desde 1980 e entre 300 e 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lama tóxica e outros resíduos de instalações industriais são despejados anualmente nas águas do mundo. QUEM MAIS SOFRE “O relatório mostra que as populações mais ricas ou privilegiadas se acostumaram a ignorar os problemas ambientais porque não convivem com os impactos no dia a dia. São as populações mais pobres ou menos privilegiadas que estão sofrendo o impacto desse padrão de vida, na forma de

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1 BIODIVERSIDADE AUTORIA BIODIVERSA Radicado há mais de 20 anos nos Estados Unidos, o cientista brasileiro, Eduardo Brondízio que foi um dos três copresidentes do relatório, é um dos pesquisadores responsáveis por um projeto apoiado pela FAPESP em parceria com o Belmont Forum – um consórcio das principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo. Os outros brasileiros autores do relatório são Ana Paula Aguiar, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); Bernardo Baeta Neves Strassburg, do Instituto Internacional para Sustentabilidade (ISS); Cristina Adams, da Universidade de São Paulo (USP); Gabriel Henrique Lui, do Ministério do Meio Ambiente; Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, da USP; Pedro Henrique Santin Brancalion, também da USP; e Rafael Dias Loyola, da Universidade Federal de Goiás (UFG). PARA SABER MAIS: www.ipbes.net

poluição, desmatamento e atividades de mineração em lugares longe dos olhos do resto do mundo”, disse Brondizio. Segundo os pesquisadores, as tendências negativas na natureza continuarão até 2050 e, além desse período, persistem em todos os cenários de política explorados no relatório, exceto aqueles que incluem mudanças transformadoras – devido aos impactos projetados de mudanças crescentes no uso da terra, exploração de organismos e mudança climática, embora com diferenças significativas entre regiões. Apesar do progresso nas políticas de preservação, os auto34  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

“Três quartos do meio ambiente terrestre e 66% do ambiente marinho já foram significativamente alterados pelas ações humanas. Em média, essas tendências foram menos severas ou evitadas em áreas mantidas ou geridas por povos indígenas e comunidades locais” DEGRADAÇÃO HUMANA: menino nada em rio poluído por esgoto e lixo plástico em Manila, capital das Filipinas

res consideram que as metas globais para conservar e usar a natureza de forma sustentável e para alcançar a sustentabilidade não podem ser alcançadas nas trajetórias atuais. As metas até 2030 e para além desse período podem ser alcançadas apenas por meio de mudanças transformadoras e de fatores políticos e tecnológicos, ponderam. FUNDO DO POÇO? Uma das ações indicadas é a adoção de abordagens integradas e intersetoriais de gestão que levem em conta as compensações da produção de alimentos e energia, infraestrutura, manejo de água doce e costeira e conservação da biodiversidade. “Ainda não chegamos a um ponto de irreversibilidade na perda de biodiversidade e a consequente degradação dos serviços ecossistêmicos essenciais para a qualidade de vida.

Se tomarmos decisões agora, para, em conjunto e de forma coordenada e cooperativa, promovermos mudanças transformativas integradas, inclusivas e baseadas no melhor conhecimento científico disponível, é possível reverter a velocidade da degradação”, disse Joly. “Isso passa, obrigatoriamente, por conseguir cumprir as metas do Acordo de Paris, pois o aquecimento global já é um dos principais impulsionadores da perda de biodiversidade e degradação dos serviços ecossistêmicos”, ressaltou. Os autores também identificam como um elemento-chave de políticas futuras mais sustentáveis, a evolução dos sistemas financeiros e econômicos globais, visando a construção de uma economia global sustentável, afastando-se do atual paradigma limitado de crescimento econômico. 


PUBLIEDITORIAL

A (in)coerência normativa e a (in)segurança jurídica nas questões ambientais em Minas Gerais FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E

stamos assistindo a graves relativizações em relação à matéria ambiental no Brasil. Mas não podemos esquecer que o entendimento hodierno mundial inclui o meio ambiente no rol dos mais elevados bens jurídicos tutelados pelos Ordenamentos Jurídicos, o que é absolutamente acertado. Entretanto, sob tal argumento, temos assistido também ao emanar de regulamentos que extrapolam princípios constitucionais, tendo-os apenas como pano de fundo para se promover a arrecadação pelos Entes Federados, sem o devido amparo legal, apesar de aparentemente se revestirem de aspectos de legalidade. É o caso, por exemplo, do Decreto 47.041/2016, do Governo de Minas Gerais, que dispõe sobre os critérios para a compensação e a indenização dos impactos e danos causados em cavidades naturais subterrâneas existentes no território mineiro, o qual foi exarado em meio à crise que assola o país e o Estado. Estima-se que Minas Gerais possua o maior número de cavidades do Brasil. São mais de 5.500 geoespacializadas em seu território e a insegurança jurídica nesse caso é inquestionável. Olvidando que a compensação econômica possui caráter residual e, em claro, afã arrecadatório, o Governo mineiro promove o desestímulo às atividades humanas e dificulta os já graves quadros de crise e de insegurança jurídica experimentados. Impõe norma retroativa, sendo o Decreto cirúrgico ao atingir empreendimentos dos mais diver-

HARLISON SCORTEGAGNI SOARES, advogado e sócio do escritório Machado & Scortegagni Advocacia Ambiental

sos segmentos, que, a partir de critérios estabelecidos sem qualquer debate e sem amparo em lei específica, podem ter que pagar pelo exercício lícito de atividades outrora autorizadas por meio de devidos processos de licenciamentos. O questionamento ora realizado não é uma súplica em prol de anistia a empreendedores por impactos e danos ambientais que podem remontar há décadas. Nem tampouco se desconhece que o meio ambiente é e sempre deve ser reconhecido como de interesses coletivo e difuso, merecendo especial proteção legal e normativa. Todavia, não se pode inovar no mundo jurídico com finalidades outras que não aquelas afetas às matérias em debate, devendo ser destaca-

da a importância de preservar o meio ambiente e de se buscar mecanismos que promovam o desenvolvimento sustentável. Mas que haja também coerência nas leis e regulamentos, de modo a oferecer segurança jurídica nos processos de licenciamento ambiental, sempre com a atuação direta dos Entes Federados, de empresas de consultoria ambiental, de operadores do Direito e, especialmente, dos empreendedores.  SAIBA MAIS

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PUBLIEDITORIAL

O EMPREENDIMENTO DA CSUL tem a sustentabilidade como sua principal linha norteadora FOTO: DIVULGAÇÃO CSUL

ENTENDENDO A REALIDADE HÍDRICA DO VETOR SUL DA RMBH Projeto da CSul Desenvolvimento Urbano irá realizar, por meio de estudo inédito, detalhamento profundo da questão hídrica no entorno da Lagoa dos Ingleses

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oje em dia, no mundo todo, acordos e tratados estão sendo promovidos em prol do meio ambiente para diminuir os impactos causados por anos de exploração e mau uso dos recursos naturais. Essa é uma realidade que está bem próxima a todos nós. Pensando nisso, a CSul Desenvolvimento Urbano está realizando, na Lagoa dos Ingleses, Nova Lima (MG), um estudo pioneiro que permitirá um amplo conhecimento da condição hídrica subterrânea do local, tanto para o uso racional dos recursos naturais quanto para sua preservação. “A ideia é registrar a realidade atual e estudar cenários futuros, não tendo chance de causar impacto em

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quem já está instalado e usa o recurso atualmente”, explica Fabíola Carvalhido, Gerente de Urbanismo e Licenciamento Ambiental da empresa. O “Projeto de Monitoramento e Pesquisa Hidrogeológica” contempla perfurações dos poços de monitoramento que consolidarão os resultados desse estudo. É o primeiro projeto de parcelamento do solo em Minas a fazer uma pesquisa como essa. “Iremos detalhar os conhecimentos sobre a água subterrânea, especialmente sobre o aquífero Cauê, que é o principal da região”, conta Fabíola. SOBRE O ESTUDO Em agosto de 2016, quando teve iní-

cio, foi feito um inventário e um cadastro das nascentes, cursos d’água e poços da região. A partir daí, essa rede de recursos hídricos, constituída de 23 pontos, vem sendo monitorada mensalmente com medição de vazão, nível d’água e análise de parâmetros como temperatura do ar e da água, condutividade elétrica, pH, entre outros. Já em outubro do mesmo ano, a CSul também implantou em sua sede um pluviógrafo automatizado. “Ele mede a pluviometria na região em tempo real - o quanto choveu no período, hora a hora, armazenando os dados. Assim, uma vez por mês, esses dados são descarregados e alimentam uma planilha que contém o histórico de pluviometria dessa região. Esses registros serão essenciais


para que o estudo hidrogeológico em curso seja o mais fiel possível em relação às particularidades da região a que ele se refere”, conta a gerente. Neste primeiro semestre de 2019, a nova etapa - de perfuração de quatro poços tubulares e oito piezômetros - foi iniciada, permitindo a coleta de dados primários do aquífero Cauê e demais aquíferos existentes na área do projeto, bem como a existência ou não de interferências em outros recursos hídricos regionais. “Quando os poços tubulares forem perfurados, será feito um teste de bombeamento de 45 dias, 24h por dia e em paralelo a equipe vai acompanhar também o comportamento da rede superficial e subterrânea que já é monitorada mensalmente. Com a obtenção dos dados primários gerados pelo ensaio prolongado, será possível alimentar o modelo hidrogeológico numérico para responder questionamentos como: o bombeamento causou impacto em alguma nascente? Como o nível d’água dos poços de monitoramento está variando naquele entorno? Quanto de água subterrânea será possível captar sem causar impacto? Com isso, será possível avaliar possíveis impactos ou não nessa rede hídrica do entorno. E, se houver, serão propostas medidas de mitigação”, explica Maurício Bertachini, Hidrogeólogo da MDGEO e responsável técnico pela Pesquisa hidrogeológica realizada pela CSul. Ao final do processo, todos os dados coletados pelo monitoramento da rede de recursos hídricos serão usados na elaboração de um modelo numérico matemático que vai retratar esse aquífero (Cauê) e a hidrogeologia da região. A gerente da CSul conta que o resultado final do projeto de pesquisa e monitoramento é o fornecimento à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) de uma ferramenta de

gestão dos recursos hídricos no entorno da área do empreendimento. Esse modelo numérico permitirá análise de cenários de desenvolvimento urbano dessa região em relação às demandas por consumo de água e proporcionarão ao órgão ambiental a segurança hídrica no momento de concessão de outorgas de uso de recursos hídricos para o empreendimento Centralidade Sul ou outros previstos para aquela localidade. O empreendimento tem a sustentabilidade como principal linha norteadora das ações. Contempla um índice de área verde por habitante sete vezes maior que o de Belo Horizonte: entre 92 e 129 m2 contra apenas 18 m2 da capital.

O projeto da CSul recebeu a Licença Prévia (LP) do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) no segundo semestre de 2018 “O estudo representa uma evolução do conhecimento que temos até hoje e vai ajudar a identificar fontes potenciais capazes de atender nossa demanda de abastecimento, sem trazer nenhum prejuízo ao meio ambiente e à região”, diz Fabíola. Os resultados devem ser apresentados no primeiro semestre de 2020. O PROJETO CSUL Inspirados pelos conceitos do novo urbanismo, a proposta da CSul é criar em Nova Lima, no Vetor Sul da RMBH, um lugar verdadeiramente planejado para as pessoas. Onde o verde é parte da vida cotidiana e não só da paisagem. Onde o processo de urbanização promove a qualidade de vida dos moradores de forma inovadora, integral, coletiva e sustentável.

O projeto da Centralidade Sul, na Lagoa dos Ingleses, possui 27 milhões de metros quadrados e segue para consolidar o planejamento urbano de forma sustentável, com a diversificação econômica, a atração de novos investimentos e a geração de empregos no Vetor Sul da RMBH. Recebeu a Licença Prévia (LP) do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) no segundo semestre de 2018 e agora se prepara para a próxima fase: a de Licença de Instalação. Para isso, a equipe técnica da CSul e seus consultores estão empenhados no detalhamento dos estudos e programas ambientais e de todos os projetos necessários à proposta da Centralidade Sul (urbanístico, terraplenagem, geométrico, drenagem, abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, iluminação, entre outros). O planejamento regional é marca forte desse projeto, pois ao adotar soluções integradas e de longo prazo, permitirá ao município e ao Estado programarem ações e viabilizarem parcerias estratégicas de projeção no cenário nacional, atraindo investimentos para toda a região. E na busca desse desenvolvimento urbano e da diversificação econômica do Vetor Sul, a CSul tem se empenhado no fomento regional e já vem atraindo importantes empresas e instituições, como a Biomm, fábrica de insulina; a Biotech Town, incubadora e aceleradora de startups na área de biotecnologia, e a PUC Minas, que implantará um campus com cursos de graduação e pós-graduação na Lagoa dos Ingleses.  SAIBA MAIS

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

INDIGNAÇÃO ECOLÓGICA

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FOTO: CEGLI / ISTOCK

ambém na área ambiental, o governo de Jair cas que inibam fabricação de produtos plásticos Bolsonaro tem sido alvo de um turbilhão de e sua substituição por outros materiais, como pacríticas e indignações no Brasil e fora dele. Até pel – causas básicas do problema. Mesmo assim, ex-ministros do meio ambiente, que deixaram ras- se fosse cumprido, traria benefícios ambientais. tros negativos durante suas respectivas gestões, exMas o “oásis” parece não ser mais do que uma pressaram recentemente preocupação quanto aos miragem no deserto de políticas ambientais atual. pronunciamentos e atos do ministro Ricardo Salles. O Brasil, em mais uma atitude de vassalagem aos No início de abril, em pronunciamento na Câ- EUA, não aderiu à resolução da ONU para fomenmara dos Deputados, o ministro, ao falar sobre a tar pesquisas no sentido de descobrir alternativas Amazônia, unidades de conservação e biodiversi- e fazer estudos científicos para a reciclagem de dade, disse que a agenda “disfarçada de ambiental” plásticos, apoiada por 187 países. tolhe desenvolvimento, que todos os recursos naSegundo a ONU, “a poluição proveniente do turais devem militar em favor do desenvolvimento lixo plástico atingiu proporções epidêmicas com do Brasil. Que o meio ambiente, em uma estimativa de 100 milhões de que pese sua relevância, não é um toneladas de plástico encontra“A poluição fim em si mesmo e que o governo das atualmente nos oceanos”. Para por plásticos atuará para acabar com os lixões no completar, o Brasil posicionou-se país. Chegou até a lançar um plano oficialmente contrário ao “Planenos oceanos é de combate ao lixo no mar. ta Limpo, Pessoas Saudáveis: Boa alarmante e o A poluição por plásticos nos oceaGestão de Produtos Químicos e Renos é alarmante e o Brasil está enBrasil está entre síduos”, título dado ao acordo assitre os cinco maiores contribuintes. os cinco maiores nado em Genebra. O plano poderia ser considerado Anna Carolina Lobo, coordenacontribuintes.” um oásis no turbilhão de besteiras dora do Programa Marinho e Mata que assola o país, mas prevê, como Atlântica da ONG WWF, afirmou sempre, “educação, destinação correta, etc.”. Não que o plástico é o lixo número um encontrado ataca consumo e ausência total de políticas públi- no Oceano Atlântico aqui no Brasil. Baleias, golfinhos e tartarugas morrem aos montes, todos os anos. Eles nadam até a praia para morrer e, quando se abre o estômago deles, está coberto de plástico. Para ela, é difícil entender a posição do Brasil no Acordo conseguido em Genebra. Assim, além da vergonha pelas posições do país, resta-nos continuar agindo e acreditando que a esperança é a última que morre. A utopia de um mundo melhor tem de ser nosso guia. E para alimentá-la, peço adesão de todos ao abaixo-assinado lançado pela WWF, dirigido aos líderes mundiais, para que estabeleçam metas rigorosas para acabar com o despejo de plástico nos oceanos até 2030. Para assinar a petição, é só acessar: PLÁSTICO NO MAR: promo.wwf.org.br/plastico.  poluente e mortal

(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente. 38  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019


FOTO: PABLO DAVI KIRCHHEIM

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ENCARTE ESPECIAL (XII)

O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA DE

Guimarães Rosa


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ENCARTE ESPECIAL (XII)

Citações breves sobre

diversas enfermidades

Parte 4

Eugênio Goulart

redacao@revistaecologico.com.br

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emprego de termos populares, com cono- Guimarães Rosa. Graciliano escreveu em 1946, em tação médica, é frequente na obra de Gui- uma crônica sobre o recém-lançado livro “Sagaramarães Rosa. Muito comum antigamente na”: “Certamente ele fará um romance, romance era o uso da palavra “mofino”, para significar uma que não lerei, pois, se for começado agora, estará pessoa doentia, enfermiça. No “Sagarana”, no pronto em 1956, quando meus ossos começarem conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, é usada a esfarelar-se”. para descrever uma criança magra, mimada e irDe fato, sua premonição se confirmou, pois Graritadiça, filha do personagem principal do conto: ciliano Ramos morreu em 1953, e três anos depois E, assim, mal madrugadinha escassa, partiram as seria publicado o livro “Grande Sertão: Veredas”, duas - Dona Dionora, no cavalo de silhão, e a Mimi- que retomou o tema de grupos de jagunços a peta, mofina e franzina, carregada à frente da sela do rambular pelo sertão de Minas Gerais. “Mazelar” é camarada Quim. E no livro “No Urubuquaquá, no outro verbo de uso popular que surge frequentePinhém”, no conto “Cara-de-bronze”, novamente o mente, dada a dura vida dos jagunços no “Grande emprego da palavra: Vi. Ele foi amofim e voltou bi- Sertão: Veredas”: Doenças e doenças! Nosso pessoal, zarro, com cores boas... montão deles, pegou a mazelar. “Roncolho”, que Outro sentido para a palavra significa ter apenas um testículo, “mofino” é empregado por Rosa aparece em um vaqueiro no conto Guimarães Rosa foi “A estória de Lélio e Lina”, do livro no “Grande Sertão: Veredas”: Da amizade de Diadorim eu possuía “No Urubuquaquá, no Pinhém”: um mestre na arte completa certeza. E mais não me - “E o Placidino?” de inventar palavras. amofinei. No contexto dessa fra- “Bom rapaz. Você sabe, ele há Para se expressar se, “não me amofinei” quer dizer uns três anos, faz, passou por uma “manter-se persistente”. E pode sobre um momento desgraça: levou uma guampada de ser garimpada mais uma palavra vaca, nas partes, teve um grão arde mau humor, por derivada de “mofino”, agora no rancado a chifre, Virgem! O bago sentido usual de ‘estar adoentado”, exemplo, criou com pulou no ar, foi parar pendurado também na fala de Riobaldo, refenum ramo de árvore...” toda propriedade a rindo-se novamente a Diadorim: - “Coitado! E ele esfriou?” palavra “desfígado” Eu não podia tão depressa fechar - “Bom, prejudicar de todo a meu coração a ele. Sabia disso. E ele homência dele, não teve esse pericurtia um engano: pensou que eu estava amofina- go. Você vai ver como ele vive lá nas ‘tias’. Mas, como do, e eu não estava. O que era sisudez de meu fogo de todos sabem que ele é roncolho, agora não tem corapessoa, ele tomou por mãmolência. gem de namorar moça nenhuma mor de se casar...” O termo popular “escandecido”, que significa “Sarrido”, que popularmente é sinônimo de disp“estar com inflamação”, é também utilizado: [...] neia intensa, ou mais, de estertor de moribundo, mas eu ando muito escandecido e meu estômago aparece no livro “Grande Sertão: Veredas”, no monão presta p’ra mais... Essas são palavras do chefe mento da morte do chefe Medeiro Vaz: A morte jagunço seu Joãozinho Bem-Bem, no conto “A hora pôde mais. Rolou os olhos; que ralava, no sarrido. e vez de Augusto Matraga”, de “Sagarana”, persoA palavra “resfriado” não é utilizada no sentido nagem que impressionou Graciliano Ramos e fez médico de virose respiratória, e, sim, no significacom que este vaticinasse um futuro promissor para do popular de “local úmido”. Aparece duas vezes no

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No livro “No Urubuquaquá, no Pinhém”, no conto “O Recado do Morro”, Seu Olquiste, provavelmente o cientista Peter Lund (foto), maravilha-se com a profusão de plantas em um país tropical, bem diferente da monótona vegetação de sua terra natal, a Dinamarca

“Grande Sertão: Veredas”, com esse mesmo sentido: Nós estávamos na beira do cerrado, cimo donde a ladeirinha do resfriado principia [...] E, ainda, em outro momento do relato de Riobaldo: Os cavaleiros tomavam pela meia-encosta de um resfriado, e na vereda abaixo os buritis estalavam de verde novo [...]. Plantas medicinais e medicamentos naturais são valorizados com constância por Rosa. São recomendados em várias situações, desde tratamentos contra feitiçaria, disenteria, tísica, passando por combate aos extremos febris da malária, e até mesmo em picadas de cascavel. Como no conto “São Marcos”, de Sagarana, trecho já citado anteriormente, na tentativa de cura de um mal-olhado: [...] mas a mulher não parava de gritar, e..., qu’é de remédio?! Nem angu quente, nem fomentação, nem bálsamo, nem emplastro de folha de fumo com azeite- doce, nem arnica, nem alcanfor!... A receita com arnica e bálsamo, ambos com efeito anti-inflamatório, além de outras propriedades, é repetida no “Grande Sertão: Veredas”, quando Riobaldo se sentiu adoentado: Uns recomendavam arnica-do-campo, outros aconselhavam emplastro de bálsamo, com isso rente se sarava. Aí, Raimundo Lé garantiu cura com erva-boa. Mas onde era que erva-boa se ia achar? No livro “No Urubuquaquá, no Pinhém”, no conto “O Recado do Morro”, Seu Olquiste, provavelmente o cientista Peter Lund, maravilha-se com a profusão de plantas em um país tropical, bem diferente da monótona vegetação de sua terra natal, a Dinamarca: Ao dito, seu Olquiste estacava, sem jeito, a cavalo não se governava bem. Tomava nota, escrevia na caderneta; a caso, tirava retratos. A gameleira

grande está estrangulando com as raízes a paineira pequena! - ele apreciava, à exclama. Colhia com duas mãos a ramagem de qualquer folhinha campã sem serventia para se guardar: de marroio, carqueja, sete-sangrias, amorzinho-seco, pé-de-perdiz, joão-da-costa, unha-de-vaca-roxa, olhos-de-porco, copo-d’água, língua-de-tucano, língua-de-teiú. Uma hora, revirou de correr atrás, agachado, feito pegador de galinha, tropeçando no bamburral e espichando tombo, só por ter percebido de relance, inho e zinho, fugido no balango de entre as moitas, o orobó de um nhambu. O marroio é considerado como expectorante e diurético; a carqueja é usada para diarreia e má digestão; a sete-sangrias, cujo nome deriva da antiga prática médica de fazer sangria - e o chá dessa planta equivalia a sete delas -, é usada para diarreia; a unha-de-vaca pode ter algum benefício no diabetes. Outras plantas citadas no texto anterior são nomes regionais de difícil identificação. No conto “Bicho mau”, do livro “Estas Estórias”, o calomelano, que é uma medicação purgativa à base de mercúrio, é empregado em picada de cascavel: Não teriam, acaso, dado ao doente algum remédio de curandeiro? Garrafadas, calomelano com caldo de limão? O curandeiro é chamado por Rosa também pelo nome indígena de “puçanguara”. Com eles, sempre teve um bom relacionamento, desde a amizade duradoura que construiu em Itaguara com Seu Nequinha, personagem citado anteriormente. No “Grande Sertão: VeJUNHO DE 2019 | ECOLÓGICO  41


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ENCARTE ESPECIAL (XII)

redas”, Riobaldo sempre fala respeitosamente do companheiro Raimundo Lé, que o socorreu várias vezes com suas medicações: Raimundo Lé, puçanguara, entendido de curar qualquer doença [...]. Ainda no “Grande Sertão: Veredas”, chás de macela, erva-doce e losna são recomendados pelo jagunço Paspe, porém, de uma vez, sem resultados benéficos em Riobaldo. Não foram eficazes contra doenças da mente, já que seu mal-estar se devia a ciúmes de Diadorim, que se ausentara por vários dias, sem avisar, para se curar solitariamente de um ferimento à bala: Um me disse que eu estava estando verde, má cara de doença - e que devia de ser de fígado. Pode que seja, tenha sido. O Paspe, que cozinhava, cozinhou para mim os chás: o de macela, o de erva-doce, o de losna. Oi. Dor, mesmo, nenhuma eu não tinha. Somente perrengueava. Mais uma vez, no texto anterior, o uso de “perrengueava”. Interessante é que o verbo “perrenguear” é citado várias vezes em toda a sua obra, inclusive no elaborado discurso de posse de Guimarães Rosa na formalíssima Academia Brasileira de Letras, pouco antes de morrer. A ARTE DE INVENTAR PALAVRAS Nosso grande escritor sempre foi, também, um mestre na arte de inventar palavras. Por exemplo, para se expressar sobre um momento de mau humor, cria com toda propriedade a palavra “desfígado”, no conto “Fantasmas dos vivos”, do livro “Ave, Palavra”: Ponderei-me tudo não passasse de impressão equivocada, maus olhos meus ou desfígado, volúveis vagas circunstâncias. Para se referir a uma pessoa insistente, inventou o verbo “sarnar”, a partir da dermatose sarna, ou escabiose, que tem como característica um prurido constante e incômodo: O Ivo não quis - por esperança de maior dinheiro, sarnava de ficar até o fim. Bem a propósito, no conto do qual se retirou o trecho, “O Recado do Morro”, do livro “No Urubuquaquá, no Pinhém”, o personagem Ivo é inconveniente, mau caráter e provoca um grave conflito no final. Também ao se referir a um vaqueiro, Rosa reutiliza a palavra no conto “Sota e barla”, do livro “Tutaméia”: Desordeiro sarnava por exemplo um Rulimão [...]. Outra palavra inventada é “protomédico”, no sentido de médico muito importante, usada no livro “Estas Estórias”, no conto “Os Chapéus Transeuntes”: Protomédico de região vasta, e de toda a fama, residia o supra doutor em distante cidade, sumamente. E ainda criou “psiquiatrista”, derivado de psi42  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

Plantas medicinais e medicamentos naturais são valorizados com constância por Rosa. São recomendados em várias situações, desde tratamentos contra feitiçaria, disenteria, tísica, passando por combate aos extremos febris da malária, e até mesmo em picadas de cascavel quiatra, no livro “Primeiras Estórias”, no conto “Darandina”: [...] tão certo que até o dr. Diretor em seus créditos e respeitos vacilasse - psiquiatrista. Também, no mesmo conto, a palavra “psiquiartista”, ao se referir ao louco que é o personagem principal do conto “Darandina”, quando este finalmente desceu da árvore, “nu, adão, nado, psiquiartista”. Inventou a palavra “prostitutriz”, unindo prostituta com meretriz, no “Grande Sertão: Veredas”: Igual gostava de Nhorinhá - a sem mesquinhice, para todos formosa, de saia cor-de-limão, prostitutriz. Por fim, no livro “Grande Sertão: Veredas”, o que seria a “doença do toque”? Foi citada por Riobaldo ao se lembrar de uma carta recebida anos após ter sido enviada a ele: Último, que me veio com ela [a carta], quase por engano de acaso, era um homem que, por medo da doença do toque, ia levando seu gado de volta do gerais para a caatinga, logo que chuva chovida. Guimarães Rosa destacou a palavra “toque”, que no texto original está em itálico, enquanto o restante da frase está com a letra em fonte normal. O relato se refere a um bilhete enviado para


Riobaldo pela saudosa e fugaz Nhorinhá, e que demorou vários anos em “algibeiras e capangas”, para ser entregue por “tropeiros e viajores” que cruzavam o sertão. Doença do toque é um nome incomum para o carbúnculo, também chamado de antraz, doença causada por bactérias, que atacam vários animais e, raramente, o homem. O nome popular deve-se ao fato de que a moléstia provoca no organismo grandes nódulos, que crepitam ao serem “tocados”, devido à produção de gás no interior da lesão. O problema está hoje praticamente controlado pela vacinação dos rebanhos e de seres humanos que estejam em situações especiais de risco. Como curiosidade, o antraz foi empregado como arma biológica em guerras do passado, como na Primeira Guerra Mundial, quando cidades inteiras foram contaminadas. Em 1925, em um encontro internacional que ficou conhecido como a Convenção de Genebra, proibiu-se o emprego de armas biológicas e químicas pelos exércitos regulares, o que nem sempre foi acatado. Nos últimos anos ocorreram nos Estados Unidos várias tentativas de ataques individuais, por meio do envio pelo correio de correspondências recobertas com espo-

ros do antraz, que provocaram cinco mortes. O restante do citado trecho de Riobaldo é facilmente compreensível, pois o boiadeiro estava levando seu gado “de volta do gerais”, que é o Cerrado, com suas árvores tortuosas e esparsas - porém recebendo uma quantidade razoável de chuva - que ocupa grande parte do sertão, “para a caatinga”, que são faixas de vegetação rasteira em um clima mais árido e seco, que invadem o cerrado mineiro e baiano em algumas áreas. De fato, o bacilo do antraz necessita de uma boa umidade no solo para germinar.  Confira, na próxima edição, a primeira parte do capítulo final da série “O Viés Médico na Literatura de Guimarães Rosa”.

APOIO CULTURAL:

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PERFIL: GRETA THUNBERG

UMA NOVA VOZ CONTRA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS FOTO: ANDERS HELLBERG / REPRODUÇÃO TWITTER

Conheça a ativista sueca de 16 anos que está inspirando e mobilizando jovens de todo o mundo para exigir dos governantes mais atenção e respeito com o meio ambiente planetário

A ADOLESCENTE já indicada ao Prêmio Nobel da Paz: "Estamos lutando contra a crise climática porque queremos um futuro melhor”

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s adultos ficam dizendo: ‘Devemos dar esperança aos jovens’. Mas eu não quero a sua esperança. Não quero que estejam esperançosos. Quero que vocês estejam em pânico. Quero que sintam o medo que eu sinto todos os dias. Quero que ajam como se a sua casa estivesse pegando fogo, porque ela está.” O alerta da garota sueca Greta Thunberg, de 16 anos, na última edição do “Fórum Econômico Mundial”, em Davos, ecoou fora dos limites da Suíça, onde o evento foi realizado. Quem era aquela jovem ativista, tão segura e exigente nas suas colocações, que ganhou fama internacional ao inspirar milhares de crianças e jovens para participar de um movimento contra as mudanças climáticas? E, ainda, exigir dos países que estejam alinhados ao Acordo Climático de Paris? A primeira vez que Greta ouviu falar em “mudança climática” foi na escola, aos oito anos. Na ocasião, os professores mostravam aos alunos como as alterações no clima e o aumento da temperatura, causados pela mão humana, estavam impactando o meio ambiente. Exibiram imagens de ursos polares magros, com fome, plásticos boiando no oceano, florestas em chamas e sendo desmatadas. “Fiquei muito impressionada. Isso abriu meus olhos”, declarou Greta, a mais velha de duas irmãs, em uma entrevista. Três anos depois, ela entrou em depressão. “Fiquei muito triste. Isso teve a ver com a crise climática e ambiental. Achava que havia algo errado e o que estava sendo feito não fazia sentido.” Foi aí que ela decidiu que tentaria mudar essa realidade. Começou em sua própria casa. Tornou-se vegetariana. Pediu aos pais para não comerem carne nas refeições e a não viajar mais de avião para reduzir a emissão de gás carbônico (desde 2015, eles só usam trens).


RECADO AOS POLÍTICOS A partir de agosto de 2018, toda sexta-feira, Greta passou a faltar às aulas na escola (que obviamente não é favorável à greve) para se sentar em frente ao Parlamento sueco, em Estocolmo. Ela exigia dos políticos a adoção de medidas concretas contra o avanço do aquecimento global e das mudanças climáticas. Inicialmente, iria protestar por apenas três semanas, mas decidiu continuar. Publicou seu protesto nas redes sociais e, com a repercussão internacional, inspirou milhares de jovens ao redor do mundo a aderir ao movimento “Fridays For Future” (Sextas pelo Futuro). “No começo, eram só eu e meu cartaz. Percebi que o movimento cresceu mesmo quando estudantes de 54 cidades australianas aderiram de forma massiva. Depois veio Bélgica, Alemanha, Suíça e Canadá”, comemora Greta. Em 15 de março deste ano, as manifestações ganharam ainda mais força. Mais de 1,5 milhão de estudantes, em 123 países, saíram às ruas para protestar. Apenas na Alemanha foram mais de 300 mil. No Brasil, estudantes de 20 cidades participaram dos protestos pelo fim da crise climática.

FOTO: VATICAN NEW

RECADO AOS POLÍTICOS Greta é uma jovem doce, mas também é direta e, quando preciso, sarcástica. Esse, por exemplo, foi o tom da resposta que ela deu à então primeira ministra britânica, Theresa May, que menosprezou as manifestações do movimento “Fridays for Future”

realizadas na capital, Londres: “Um desperdício de tempo em lugar de assistir às aulas”, disse May. “Mas e os políticos, que desperdiçaram 30 anos e não fizeram nada? Isso é um pouco pior”, rebateu Greta. Outros parlamentares, entretanto, reconheceram a importância da atitude de Greta para a preservação ambiental. O deputado norueguês Freddy Ovstegard indicou-a ao “Prêmio Nobel da Paz”. E, ao contrário de Theresa May, o secretário britânico de Meio Ambiente, Michael Gove, ficou ao lado de Greta: “Sua voz, calma e clara, é como a de nossa consciência. Ao ouvi-la, sinto admiração, mas também uma sensação de responsabilidade e culpa, porque sou da geração de meus pais”. A geração que, inclusive, mais permitiu o avanço da degradação da natureza. A influência da ativista sueca vem rendendo uma série de convites para discursar em eventos importantes. Além do “Fórum Econômico Mundial”, ela participou da Conferência do Clima da ONU, na Polônia, e de reuniões no Parlamento Europeu. Foi neste último que ela pediu aos políticos para ouvirem mais os cientistas: “Convidem eles para conversar. O que estou dizendo a vocês, eles dizem a décadas”. Ela também exigiu mais compromisso em relação às emissões de gases poluentes, uma vez que “a maioria delas não é causada pelas pessoas, mas pelas instituições e governos”. E fez um último alerta: “A janela de oportunidade para combater a mudança climática não estará aberta por muito tempo. Vocês devem agir agora”.

EM ENCONTRO com o Papa Francisco, Greta agradeceu ao líder da Igreja Católica por defender o clima. “Significa muito para nós”, disse a estudante. “E você continue o que está fazendo. Vá em frente”, respondeu o papa

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PERFIL: GRETA THUNBERG

FOTO: REPRODUÇÃO TWITTER

Ecos de Greta FIQUE POR DENTRO

Greta tem Síndrome de Asperger, uma espécie de autismo, e afirma que essa condição pode contribuir para que ela se dedique mais à proteção climática. “Isso significa que meu cérebro funciona de um jeito um pouco diferente. Eu vejo as coisas em preto e branco, com lógica. Se eu não fosse tão estranha, teria me distraído com o jogo social das pessoas”, diz a ativista, que escreve os próprios discursos. Ela consulta especialistas em clima e meio ambiente e ouve a opinião de várias pessoas antes de apresentá-los publicamente.

"QUERO falar em nome das pessoas que serão afetadas pelo aquecimento global."

POLÍTICOS “As pessoas que estão no poder se afastaram sem se preocupar com a crise climática, mas vamos nos certificar de que eles não farão isso mais. Seremos chatos, queremos continuar em greve até que eles façam alguma coisa.” “Os políticos europeus devem agir agora, já que não há muito tempo. Ainda temos uma janela aberta durante a qual podemos agir, mas ela não ficará aberta por muito tempo, por isso devemos aproveitar essa oportunidade.” “Quero falar em nome de pessoas como eu, que serão afetadas por essa crise climática e que não podem votar. Convoco os jovens de todo o mundo para pressionar os governantes e as gerações mais velhas. É uma ótima oportunidade para enviar uma mensagem e falar em nome dos jovens que compartilham as mesmas preocupações que te-

nho sobre mudança climática.”

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POLÍTICOS “Quando eu era pequena, tinha planos de ser várias coisas, de atriz a cientista. Até que meus professores me falaram na escola sobre a mudança climática. Isso abriu meus olhos. Fiquei muito impressionada.” “Parei de ir à escola, parei de falar, porque estava muito triste. Aquilo me deixou preocupada. Teve muito a ver com a crise climática e ecológica. Achava que havia algo muito errado e o que estava sendo feito não fazia sentido. Então prometi a mim mesma que iria fazer algo de bom com a minha vida.”

DONALD TRUMP “Se eu tivesse a oportunidade de me encontrar com o presidente dos EUA, Donald Trump, não diria nada que ele não tenha ou-

vido antes. Obviamente, ele não está ouvindo a ciência e o que temos a dizer, então não seria capaz de mudar a opinião dele.” CRISE CLIMÁTICA “Solucionar a crise climática é o maior e mais complexo desafio que o homem já enfrentou.” “Deveríamos estar em pânico. E quando digo pânico, não quero dizer sair correndo e gritando. Quero dizer que precisamos sair da zona de conforto.” “Poucos políticos estão escutando a mensagem. Mas acredito também que a maioria deles ainda não tem conhecimento básico sobre a crise climática. Isso é porque eles estão ocupados fazendo outras coisas para serem reeleitos.” 

GREVE ESCOLAR “Percebi que ninguém estava fazendo nada para impedir que 


FOTO: REPRODUÇÃO TWITTER

MAIS

as mudanças climáticas aconteçam, então eu precisava fazer alguma coisa.” “Sentei no chão, do lado de fora do Parlamento sueco, e decidi que não iria à escola. No primeiro dia, eu fiquei lá sozinha. No segundo, outras pessoas começaram a se juntar a mim. Jamais poderia imaginar, nos meus sonhos mais loucos, que isso aconteceria. E aconteceu muito rápido.” “Como não posso votar, essa é uma das maneiras que eu posso fazer minha voz ser ouvida.” “No começo eram só eu e meu cartaz. Então, publiquei no Twitter e no Instagram e mais pessoas começaram a aparecer. O plano era sentar lá no Parlamento durante três semanas, mas no fim delas decidi continuar. Foi assim que comecei o movimento ‘Fridays for Future’.” “Tenho Síndrome de Asperger e isso me faz diferente. Ser diferente é uma dádiva. Isso me faz

A ATIVISTA PEDE aos líderes mundiais que tomem posições mais efetivas em relação à crise climática. E reduzam as emissões de gases de efeito estufa de 80% para 40% até 2030 FOTOS: REPRODUÇÃO / FACEBOOK KERSTIN LANGENBERGER

Rosa Parks, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, foi a grande inspiração de Greta para lutar pela preservação ambiental. Rosa, que era costureira, foi presa em 1955 por ter se recusado a levantar de seu assento em um ônibus para ceder lugar a uma pessoa branca. Este caso foi fundamental para dar fim à segregação racial nos Estados Unidos.

FOTO: REPRODUÇÃO

SAIBA

GRETA ASSISTIU a vários documentários sobre o derretimento do gelo no Ártico e ficou impressionada com a situação dos ursos polares morrendo de fome

ver as coisas além do óbvio. Se eu fosse como todo mundo, não teria começado essa greve da escola. Porque devemos ir para a escola se não há futuro? E por

que devemos aprender sobre fatos, se os fatos mais importantes, como a preservação da natureza, não importam?”.  SAIBA MAIS www.fridaysforfuture.org

JUNHO DE 2019 | ECOLÓGICO  47


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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

AMOR NO SERTÃO

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FOTO: MARCOS GUIÃO

bexiga cheia havia me empurrado da cama e saí da casa procurando não fazer barulho, pois já se passava das dez horas da noite e todos já estavam dormindo há bem tempo. Andei alguns passos em meio à escuridão até perceber uma goiabeira que sabia ficar por ali e no negrume da noite sem lua me aliviei com gosto. Levantei os olhos e me vi debaixo de um céu apurado e salpicado de milhares de estrelas e aos poucos fui percebendo que ele “escorregava” diante de meus olhos, como que se estivesse desmanchando. Custei um pouco a perceber as centenas de vagalumes pontilhando a escuridão, recobrindo com sua recatada luz todo o milharal à minha frente. A frescura da noite era embalada pela aragem que vinha do sul, balançando a palhada e barulhando como se fosse chuva mansa caindo no telhado. Impossível não render graças ao Criador por tamanha beleza e paz.

“AMOR no sertão pode de sê assim, de peito aberto."

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Lentamente retornei até à casa envolvido por esse sentimento devocional enquanto me alembrava dos acontecimentos do dia. O ponto mais alto tinha sido a visita à casa de Jacó e Mara, onde havia conseguido apalpar a amorosidade existente entre o casal morador da comunidade de Lapa Quebrada. Jacó é um homem de quase 70 anos, de corpo atlético e força incomum debaixo de uma cabeleira grisalha invariavelmente adornada por um chapéu de feltro, já bem ensebado, que lhe encaixa no alto da cabeça como uma coroa. Seus olhos azuis iluminam por onde passam, decorando o rosto magro de pele queimada do sol. Mara lhe acompanha os movimentos com olhar estrigado de adolescente, apesar de já passar dos 60. Seu rosto redondo, enfeitado por um par de olhos negros escondidos atrás dos óculos quadrados, estão sempre atentos a tudo que acontece, demonstrando espanto genuíno com o que vê e ouve, como uma criança no deslindamento do mundo. A visita a eles se deu no final do dia e os assuntos foram se esticando com habilidade pelo anfitrião. Discorreu sobre o chiqueiro dos porcos, passou pela disputa política local, até chegar ao amor extremado ao casal de filhos, se esparramando sobre as netas. A enorme cumplicidade entre os dois se percebia numa espécie de blindagem ao derredor, onde todas as outras coisas do mundo são apartadas. O começo são eles se amando e tudo o mais é o resto. Os mimos estão presentes na comida preparada a quatro mãos de forma simples, amorosa e sempre acompanhada de sorriso aberto. Amor no sertão pode de sê assim, de peito aberto. Enquanto voltava pra cama fiquei matutando sobre a maneira que cada um de nós busca para expressar seus sentimentos. Naquele caso ali, sem rodeios, de chofre. Passei dias encantados por lá, gravando na memória a delícia de amar sem fronteiras ou condicionantes. Entendi que beleza no sertão pode de não sê coisa, mas sentimento. Inté a próxima lua! 

(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais. Saiba mais em www.ervanariamarcosguiao.com


E MAIS: minientrevista com Alexandre Uhlig, mestre e doutor em Energia pela USP

ECOLÓGICO

NAS ESCOLAS No 64

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Combate ao desperdício de energia elétrica envolve a adoção de novos hábitos de consumo e a reflexão sobre os impactos de sua geração na natureza


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A ENERGIA

QUE NOS MOVE Uso eficiente ajuda a poupar recursos naturais. Portanto, combate ao desperdício deve mobilizar todos nós Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

A

ssistir à TV, operar uma máquina industrial, tomar um gole de água geladinha ou um banho bem quentinho. Qualquer atividade exercida atualmente pela sociedade moderna só é possível por meio do uso de uma ou de mais formas de energia, provenientes das diversas fontes disponíveis para a produção desse bem imprescindível. No caso da energia elétrica, além de estar associada às nossas tarefas cotidianas, ela também é essencial para o funcionamento das indústrias, dos serviços de saúde, do comércio e para a oferta de atividades de lazer. Diante da tendência de crescimento das cidades, do maior poder de compra da população e do ace-

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lerado desenvolvimento de novas tecnologias – que acarretam uma demanda cada vez maior por energia –, o desafio coletivo global é evitar o seu desperdício. De maneira geral, a eficiência energética mede a qualidade no uso da energia para os fins a que ela serve à sociedade. Segundo estudos da Organização Latino-

-americana de Energia (Olade), com sede no Equador, quando os cidadãos são sensibilizados sobre a eficiência no uso de energia, eles podem economizar até 15% desse insumo, em relação àqueles que não são orientados. Portanto, a economia de energia exige não apenas o desenvolvimento de técnicas, produtos e


DIVULGAÇÃO CEMIG

ENTENDA MELHOR

l A energia renovável é obtida de fontes naturais capazes de se regenerar e, portanto, virtualmente inesgotáveis – como o sol e o vento – ao contrário de recursos não-renováveis, como o petróleo, o carvão e o gás natural, que são combustíveis fósseis. É considerada alternativa ao modelo energético tradicional, tanto pela sua disponibilidade garantida quanto pelo seu menor impacto ambiental.

A USINA fotovoltaica do Mineirão produz mais de 1 MW de energia para o sistema de distribuição da Cemig

serviços mais eficientes. Requer, acima de tudo, mudança nos padrões de comportamento e consumo da sociedade. Cabe então a todos nós – nos mais diferentes setores e atividades – associar a redução do consumo de energia à maior proteção da natureza e à conservação de recursos naturais escassos e vitais, como a água. E fazer isso, óbvio, sem perder a qualidade de vida e o conforto alcançados tanto aqui no Brasil quanto no mundo afora. BASES SUSTENTÁVEIS De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), nas próximas décadas, as fontes renováveis de energia terão participação cada vez maior na matriz energética global. A crescente preocupação com as questões ambientais e o consenso mundial sobre a necessidade de promover o desenvolvimento em bases sustentáveis estão estimulando novas pesquisas e o progresso científico. O debate sobre o aumento da

segurança no fornecimento de energia – impulsionado pelos efeitos da redução da dependência de combustíveis fósseis – também contribui para o interesse mundial por soluções mais sustentáveis, por meio da geração de energia proveniente de fontes limpas e renováveis. Nesse quesito, o Brasil ocupa posição de destaque, em função da significativa participação das fontes renováveis em sua matriz energética. Nossa principal fonte de geração de energia elétrica é a hidráulica (água dos rios), que responde por 71% da capacidade instalada do país. Em seguida, estão as termelétricas (combustíveis fósseis, biomassa e nuclear) com 28%. O restante é proveniente de usinas eólicas (força do vento) e de outras fontes, como a energia solar, cujo uso tem crescido nos últimos anos. Em Belo Horizonte, uma boa referência é a Usina Solar Fotovoltaica do Mineirão. Construída pela Cemig, em parceria com o

l Cinquenta e quatro por cento das emissões de gases de efeito estufa são resultado do desmatamento. A geração de eletricidade, com 1,4%, ocupa a sétima posição como fonte de emissão de gases de efeito estufa no Brasil. l O sol é uma fonte inesgotável de energia. E, portanto, uma excelente alternativa para países tropicais de grandes extensões territoriais, porque dispõem de alta incidência de radiação solar. Com a tecnologia, a energia do sol pode ser transformada em outras formas de energia: térmica e elétrica. l A energia elétrica também pode ser obtida por meio da queima de petróleo, óleo, álcool, bagaço de cana, lenha, carvão mineral, gás, lixo e outros, nas usinas termelétricas, que transformam a energia térmica em energia elétrica.

consórcio Minas Arena e o banco alemão KfW, ela injeta, desde abril de 2014, mais de 1 MW de energia no sistema de distribuição da Cemig. Esse volume é suficiente para abastecer cerca de 1.200 casas de médio porte. Para o funcionamento da usina, foram instalados na área útil da cobertura do estádio 6.000 painéis solares. Conheça, a seguir, algumas formas de energia e dicas de economia. Fique ligado e faça a sua parte! JUNHO DE 2019 | ECOLÓGICO  51


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

ECONOMIZE!

DICAS SUSTENTÁVEIS l Substitua as lâmpadas incandescentes por fluorescentes, que são mais econômicas. l Apague as lâmpadas dos ambientes desocupados. l Evite o sol direto nos ambientes e nos aparelhos de ar-condicionado. Assim, você gasta menos. l Aproveite ao máximo a iluminação natural e evite acender lâmpadas durante o dia. l Instale os aparelhos de ar-condicionado na parte superior dos ambientes. l Limpe sempre o filtro do ar-condicionado para diminuir o consumo e melhorar a qualidade do ar que você respira.

Energia:

é a capacidade de realizar trabalho. Ela é encontrada em formas como vento ou a água corrente e armazenada em matéria como os combustíveis fósseis - petróleo, carvão, gás natural, que podem ser queimados para “realizar uma ação”. É mais bem descrita em termos do que pode fazer: não podemos “ver” a energia, apenas seus efeitos; não podemos criá-la, apenas usá-la; e o ideal é não desperdiçá-la, ou seja, usá-la de forma ineficiente.

l Quando o ar-condicionado estiver ligado, deixe portas e janelas fechadas. l Pinte paredes e tetos com cores claras. Assim, será preciso menos luz para iluminar bem os ambientes.

Painel fotovoltaico:

l Desligue os aparelhos assim que os ambientes forem desocupados. l Regule a temperatura da geladeira de acordo com a quantidade de alimentos armazenada. l Providencie regularmente a limpeza dela para evitar o acúmulo de gelo. l Organize os produtos dentro da geladeira de modo a não impedir a circulação do ar. Evite usar plástico para forrar as prateleiras.

usado para converter a energia solar em eletricidade, não depende de calor. A conversão da energia é feita pelas células solares, através do efeito fotovoltaico: os fótons (carga elétrica nula) incidentes e os átomos de certos materiais provocam um deslocamento dos elétrons, carregados negativamente, e geram uma corrente elétrica. O painel fotovoltaico depende diretamente da incidência dos raios solares.

l Prefira geladeiras que consomem menos energia (Selo Procel) e verifique o estado das borrachas de vedação. l Instale a geladeira em local ventilado e protegido do sol.

FONTES DE ENERGIA Sol: energia solar Vento: energia eólica Rios e correntes de água doce: energia hidráulica Mares: energia maremotriz Matéria orgânica: energia da biomassa Calor da Terra: energia geotérmica

SH UT TE RS C TO K


ENERGIA SUSTENTÁVEL

A matriz energética brasileira é altamente renovável (hidrelétricas), mas dependente do regime de chuvas. Com planejamento eficiente é possível evitar eventuais apagões e racionamento? Toda matriz energética com forte dependência de recursos naturais – hidráulico, eólico, solar ou biomassa – por mais bem planejado que seja o sistema de produção e distribuição, envolve/ admite sempre o risco de não suprir toda a demanda por energia elétrica. Um sistema totalmente livre de riscos custaria muito caro para a sociedade. Além disso, é preciso considerar que estamos vivendo uma situação atípica no Brasil. Segundo informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), essa é a seca mais severa dos últimos 60 anos. O brasileiro está maduro em relação ao consumo consciente de energia elétrica? De modo geral, respondemos mais rápido ao estímulo econômico. Ou seja, quando “dói” no bolso, a gente reage. No Brasil, como temos recursos naturais abundantes, muitos ainda não se deram conta da importância de usá-los com responsabilidade. Basta acionar o interruptor, e a nossa sala se ilumina; temos energia para alimentar o computador, assistir à TV. A maioria das pessoas não pensa no trabalho que dá fazer a energia chegar às nossas casas, nos impactos

causados pela construção de reservatórios, nas famílias que têm de deixar suas terras e nos animais que por ventura morrem. Há algum material educativo do Acende Brasil que possa ser usado em escolas? Sim. Produzimos a série “Na Trilha da Energia”. É um documentário dividido em cinco episódios e neles mostramos, em linguagem acessível, o passo a passo desde a geração até a distribuição da energia elétrica no Brasil. Os vídeos estão disponíveis em nosso site, no link “Vídeos e Animações”. 

SAIBA MAIS

Com sede em São Paulo, o Instituto Acende Brasil é um centro de estudos voltado para o desenvolvimento de ações e projetos destinados a aumentar o grau de transparência e sustentabilidade do setor elétrico brasileiro. www.acendebrasil.com.br

SHUTTERSTOCK

FOTO: EDI PEREIRA

ALEXANDRE UHLIG

Mestre e doutor em Energia pela USP e diretor de Assuntos Socioambientais e Sustentabilidade do Instituto Acende Brasil

Nós apoiamos essa ideia!

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MEMÓRIA ILUMINADA

A brasilidade de

WALTHER MOREIRA SALLES FOTO: ARQUIVO WALTHER MOREIRA SALLES / ACERVO IMS

Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

WALTHER SALLES, o “construtor” de pontes diplomáticas: um mineiro nos salões do poder mundial

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arte da história do Brasil pode ser revisitada por meio de detalhes sobre a vida e o legado de um dos poucos brasileiros a frequentar a cúpula do capitalismo mundial. Como diplomata, o mineiro Walther Moreira Salles (1912-2001), nascido em Pouso Alegre e criado em Poços de Caldas, foi figura central em renegociações da dívida externa que viabilizaram o segundo governo de Getúlio Vargas, o de Juscelino Kubitschek e o de João Goulart. Extremamente reservado em relação à sua vida particular, Moreira Salles revelou suas memórias ao jornalista Luis Nassif. Foram quatro anos de entrevistas, de 1991 a 1994, que lhe permitiram colher comentários, pequenas confidências e desabafos do banqueiro e embaixador refinado, mas também homem de alma simples, apreciador de arroz com feijão, pasteis e doces mineiros. O resultado pode ser conferido no livro “Walther Moreira Salles – O banqueiro-embaixador e a construção do Brasil”, recentemente publicado pela Companhia Editora Nacional. Em mais de 400 páginas, Nassif entremeia informações inéditas e casos pitorescos protagonizados por Moreira Salles que, do Sul de Minas para o mundo, tornou-se o mais internacional dos brasileiros. Sobre a vida política, há relatos diversos, entre eles a sua participação em episódios relevantes, como sua indicação para ministro da Fazenda, na montagem do gabinete parlamentarista de coalizão de Tancredo Neves, que possibilitou a posse de Jango. Na seara pessoal, a narrativa, sempre extremamente rica em detalhes e recheada de personagens com sobrenomes famosos, esmiúça os bastidores do relacionamento de Moreira Salles com políticos, empresários e artistas. Parte de um dos capítulos, por exemplo, é dedicada a narrar um jantar, em Nova York, no qual ele conheceu a atriz Greta Garbo – a mulher mais admirada do seu tempo – e com quem trocou muitas taças de vinho. Outro destaque do livro é a importância dada a Elisinha Gonçalves, a segunda mulher de Moreira Salles, e mãe de três de seus quatro filhos. Nascida em Santa Luzia e expert na arte do bem receber, ela foi a responsável por impulsionar os negócios e os relacionamentos do marido, conquistando destaque e admiração no jet set internacional. É o que você confere, a seguir:


l A INFÂNCIA “A avó Georgina Duarte era a segurança, a descoberta do afeto, a proteção contra o medo de escuro que atormentou sua infância e o acompanhou vida afora. O mundo de Walther girava em torno da família do avô e de Pouso Alegre, cidade muito protocolar, que haveria de imprimir no menino o gosto pela formalidade.” “As casas mais nobres ficavam em grandes chácaras e cultivava-se a arte das visitas. As famílias preparavam-se com apuro, sendo recebidas com biscoitos e licores coloridos de rosas e tangerinas, muito bons para a visão, segundo Walther. Almoçava-se às 10 da manhã, o jantar era às 5 da tarde.” “Walther não frequentava o grupo escolar, mas recebia aulas particulares em casa, ministradas pela diretora do grupo, dona Judith de Paiva Sapucahy, esposa do promotor local. O filho dela, Sinezio, foi o primeiro amigo que fez. Menino, lia bastante. Aos 8 anos já tinha completado toda a coleção de Júlio Verne, emprestada pelo jovem amigo.”

Walther foi oficialmente admitido pelo pai como sócio-gerente da casa bancária. Seu Salles mudouse pela segunda vez para Santos com a família, para tocar a casa comissária. O sócio João Affonso, o Zé Pelota, cedeu sua parte a Walther.” “De 1933 a 1940, Walther morou no Palace Hotel. Nos primeiros anos, se dividia entre Poços de Caldas e São Paulo, onde completava o curso de Direito, aproveitando, com a liberdade recémconquistada, a parte mais saborosa de sua vida.”

l A POÇOS DE CALDAS “A Poços de Caldas dos anos 1930 tinha uma prefeitura com orçamento de 1,5 milhão de contos, uma casa bancária que emprestava dinheiro, 12 mil habitantes e uma raffinée insuperável. O Centro da "Brasilidade, cidade era composto de quatro significa 'caráter ou quarteirões cercados, de um lado, pela Rua Paraná, a do qualidade peculiar, comércio, e, do outro, pelos individualizadora, do que jardins do Palace.”

ou de quem é brasileiro. Sentimento de afinidade ou de amor pelo Brasil'. Tudo o que Salles tinha e Nassif tornou eterno, ao longo de 400 páginas, na memória empresarial e política brasileira."

l A ADOLESCÊNCIA “As rodas carnavalescas dos jovens poço-caldenses faziam ponto na casa de dona Lucrécia. Ela recebia as amigas da filha Elza e do filho Walther. Os blocos disputavam espaço. Os Junqueira, os Mourão e os Moreira Salles juntavam-se no grupo holandês, de tamanco e tudo. Walther fazia par com Hebe Junqueira, sua primeira namorada. À noite, o baile de carnaval era no Grande Hotel, a construção faustosa de Cássio Prado.” “Quando os amigos chegavam, em geral o encontravam no seu quarto, enorme. Estava quase sempre lendo. Já dominava idiomas estrangeiros, lia em francês e inglês, para admiração dos jovens colegas. Quando de pijama, ele se preparava com roupão e echarpe para receber os amigos. Oferecia licor e café e tratava-os com intimidade cerimoniosa.”

l A MAIORIDADE “Com 21 anos completados em 28 de maio de 1933,

“Quando a República descia para Poços de Caldas, o Palace era palco de amores clandestinos, intrigas políticas, tudo sob os olhares atentos e aparentemente discretos do porteiro Waldemar Hait, um russo alto e bonitão. A discrição era só fachada. Nos intervalos do serviço, o russo procurava o jovem Walther para contar os detalhes picantes do que testemunhara.”

l O EMBAIXADOR “Em 20 de junho de 1952, a Portaria 274-A nomeou Walther embaixador do Brasil nos EUA. Além da negociação da dívida externa, tinha a incumbência de firmar um contrato de empréstimo de US$ 12,5 milhões, através do BIRD, para financiamento e reaparelhamento da Estrada de Ferro Central do Brasil. Também foi encarregado de cobrar um favor político pessoal a Vargas: obter empréstimo de US$ 25 milhões do BIRD para financiar projetos de eletrificação do Rio Grande do Sul.” “Havia muito a vida diplomática fascinava Walther. Em seus dez anos de Rio de Janeiro, já se dera conta de que, depois do Country Club, os grandes pontos de influência eram as embaixadas, sobretudo as de França, Inglaterra, Estados Unidos

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MEMÓRIA ILUMINADA FOTOS: ARQUIVO WALTHER MOREIRA SALLES / ACERVO IMS

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COM OS FILHOS Walter, Pedro, João, e Fernando: “Foi mérito dele não esmagar os filhos com o peso de sua personalidade e destaque. Nunca os pressionou a seguir sua profissão. ‘Antes de mais nada, você precisa fazer uma coisa de que goste. Sua obrigação é fazer com correção e dedicação o que escolher’, aconselhava"

e Itália. A vocação diplomática e seus contatos com os EUA o tornaram candidato natural ao cargo...” l A BELA HÉLÈNE “A primeira mulher de Walther, a francesa Hélène Tourtois, era uma das mais belas mulheres de Nova York. A paixão foi instantânea – e em francês, língua na qual os dois se expressavam. Ele veio ao Brasil, rompeu com Alzirinha Camargo e voltou para Nova York. Casaram-se em 17 de março de 1941, dia de São Patrício, na igreja dos jesuítas, na Park Avenue. Divorciaram-se em 1947.”

Walther teve olhos para aquele monumento. Envergava um vestido preto, simples, que seria discreto em qualquer outra mulher, não nela, que subia as escadas mancando ligeiramente. Antes que chegasse ao último lance, reconheceu a madona, feito acessível a qualquer pessoa que não fosse completamente cega. Era Greta Garbo, já afastada do cinema, mas ainda na plenitude de sua beleza.”

FOTO: REPRODUÇÃO

“Na mesa, Walther ficou entre a anfitriã e Greta Garbo. Naquela época, ele só bebia vinho tinto, Garbo, apenas branco. Foi o mote para engatarem uma boa conversa. Ele propôs que ambos enchessem os copos l A DIVA GRETA de vinho branco e tinto e depois trocassem GARBO entre si. A conversa aprofundou-se e muito “Em um jantar naturalmente combinaram que se encontrariam da revista Look, para um almoço. Durante um ano e meio em Nova York, continuaram trocando taças de vinho... E mais na companhia não se sabe desse relacionamento, a não ser do chanceler por uma coleção de fotos autografadas de La brasileiro João Neves da Fontoura, Garbo, conservadas com carinho nos arquivos mesmo entretido do embaixador. E também duas viagens a GRETA GARBO: um ano e meio com o protocolo, trocando taças de vinho branco e tinto Estocolmo, a convite da diva.” 56  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019


l O ENCANTO FEMININO “Parte do encanto de Walther se devia ao fato de ele genuinamente gostar da companhia das pessoas. Muitas pessoas são educadas por questão de formalidade. Walther era educado porque gostava das pessoas e as tratava bem, principalmente as mulheres. Gostava da companhia delas, da conversa com mulheres, da sua presença. Era o contrário de um misógino. Por isso, as mulheres se sentiam tão bem a seu lado.” “Não era etiqueta, mas derivava do sincero prazer com a presença do feminino. Tinha genuíno interesse em saber o que sentiam. E elas se sentiam privilegiadas por essa atenção. Walther não falava dele: queria saber delas. E elas se sentiam imensamente seduzidas por aquela atenção, por aquele tom mineiro de ser discreto, de nunca falar de si, de ter a vida particular resguardada.” l O FURACÃO ELISINHA “Depois do divórcio, Walther ficou morando sozinho. Em uma festa, na casa de Hugo Gouthier, no Rio, na companhia do amigo Homero, encontraram Elisinha Gonçalves, secretária do presidente da Central do Brasil. Walther não conseguiu desgrudar os olhos da moça. No dia seguinte, em um baile no Copacabana Palace, pediu a Homero que o apresentasse. Foi feito. Logo depois, convidou-a para jantar. Achou-a extremamente inteligente e bonita. E a primeira impressão nunca se esquece.” “Casaram-se em maio de 1954, em uma pequena cidade ao lado de Toulon, na costa sul da França. Em pouco tempo, Elisinha se transformou em uma das hostesses mais prestigiadas do circuito Nova York-Rio-Paris. O sucesso social, impulsionado pela presença exuberante dela – que aprendera a importância do bem receber como estratégia de suporte para os negócios e os relacionamentos do marido – foi um reforço para o lado empresarial e político de Walther.” “Em 1960, a revista Time anunciava a relação das dez mulheres mais bem-vestidas do mundo. Elisinha aparecia nela, ao lado da princesa Grace Kelly, da atriz Audrey Hepburn e outras. Foram intensas as intervenções de Elisinha na formação dos filhos [Waltinho, João e Pedro]. Era capaz de levá-los nas férias para conhecer os pintores holandeses, na Holanda, ou para aprender filosofia grega, na Grécia.”

l O ENCONTRO COM EINSTEIN “Em companhia de Lucia Curia [sua terceira mulher], um dos ‘causos’ prediletos de Walther era contar de seu encontro com o historiador inglês Arnold Toynbee. Walther pretendia convidá-lo para uma palestra no Brasil. Em certa ocasião, foi encontrá-lo no campus onde morava. Ao passar por um das casas, Walther elogiou: ‘Que bela residência!’. ‘Aqui mora o professor Einstein. Quer conhecê-lo?’, perguntou Toynbee. Einstein tratou-o muito bem e Walther reparou nos seus olhos, muito azuis. Na saída, observou a Toynbee: ‘Interessante, o professor Einstein tem um olhar jovial’. E Toynbee, no mais aguçado humor britânico respondeu: ‘Também pudera, ele não faz nada, não tem problemas. Passa o dia inteiro só fazendo cálculos’.’ l A OUSADIA E A ÉTICA “Eu era muito ousado, às vezes corria riscos enormes, mas sempre bastante pensados. À medida que fui ganhando experiência, o processo de decisão ficou mais simples. Em geral era tudo intuitivo, sem muitos estudos.” “Eu poderia ter feito mais, muito mais. Mas todos os passos de minha vida, inclusive de ordem particular, sempre foram tomados tendo em vista os reflexos sobre o banco. Achava que o banco dependia muito do meu nome. Por isso, sempre tive muita preocupação com a questão da ética.” l A DIPLOMACIA “Para negociar uma dívida, o relacionamento

WALTHER E ELISA GONÇALVES, com quem se casaria em 1954, na festa do réveillon de 1952

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MEMÓRIA ILUMINADA FOTO: ARQUIVO CBMM

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A CBMM em Araxá: primeira empresa do setor no mundo a conseguir a Certificação Ambiental ISO 14000, em 1997. E vencedora, em 2012, do "III Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza" na Categoria "Melhor Empresa"

l A PARTIDA “O fim chegou suavemente. No início de 2001, acumulava-se água no pulmão devido à 58  ECOLÓGICO | JUNHO DE 2019

FOTO: REPRODUÇÃO

l A AUTODEFINIÇÃO E OS NEGÓCIOS “Certa vez, o embaixador me deu sua autodefinição: ‘Eu sou uma pessoa que usa bem as poucas coisas que sabe’. Essa intuição extraordinária foi sua principal característica para os negócios e mesmo para a cultura. Não era o especialista. Não entendia profundamente de agricultura, mas foi grande fazendeiro. Não gostava do dia a dia do banco, mas se tornou um grande banqueiro. Pouco sabia de mineração, e montou a CBMM [Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração].”

insuficiência cardíaca. Walther convidou filhos, noras e netos para passarem o Carnaval em sua casa em Araras, distrito de Petrópolis (RJ). Os filhos nunca o viram tão à vontade, a ponto de vestir calção de banho para brincar com os netos na piscina. Curtiu um a um os parentes. E deu por encerrado o expediente, suavemente, como era seu estilo.” 

FOTO: DIVULGAÇÃO

social funciona. Se o nome do negociador inspira confiança, solidariedade e abertura de conversa, ajuda bastante. Relações de ordem pessoal permitem avançar metade do caminho. O primeiro passo estratégico consiste em conhecer pessoas, saber com quem se está conversando. Diplomacia é questão de contatos de ordem pessoal, não há outra maneira. Sem alarde, sem ser do tipo ‘estou defendendo isto ou aquilo’, é conversando suavemente, socialmente.”

LUIS NASSIF e o biografado: história do Brasil

SAIBA MAIS

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