Revista Ecológico - Edição 90

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ANO 8 - Nº 90 - MAIO/JUNHO DE 2016 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


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IMAGEM DO MÊS

LEI ECOLÓGICA Para comemorar a 90a edição da Revista Ecológico, reproduzimos aqui a primeira "Imagem do Mês" publicada no nosso número de estreia. Trata-se de um famoso cartum de Ziraldo, da década de 1960, em que ele cria um novo mandamento tanto atual quanto necessário para a sobrevivência da humanidade.

ZIRALDO

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EXPEDIENTE

FOTO: ROBERTO MURTA

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Pica-pau-do-campo (Colaptes campestris)

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

CAPA Foto: Pozati Filmes/Divulgação

DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com

DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com

CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior

Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais e Vinícius Carvalho

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

REVISÃO Gustavo Abreu

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com

CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br

sou_ecologico revistaecologico

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

EDITORIA DE ARTE André Firmino

FSC

EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

souecologico ecologico

5,18 tCO2 e Abril e Maio de 2016


Água é fonte de vida. E, para o Governo dO Estado de Minas Gerais e a Codemig, também é fonte de Desenvolvimento. Patrimônio do povo mineiro, nossas águas estão entre as melhores do país e podem ser encontradas em um estabelecimento próximo a você. A Codemig trabalha para a continuidade da produção e das vendas das águas minerais de Minas. Assim, o desenvolvimento vai continuar fluindo como a nossa água.


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ÍNDICE

CAPA

CONHEÇA A PROFECIA CLIMÁTICA DO MÉDIUM CHICO XAVIER, QUE PREGAVA O AMOR À NATUREZA E O FIM DAS GUERRAS COMO CAMINHOS PARA A EVOLUÇÃO ESPIRITUAL.

20 PÁGINAS VERDES NOVO MINISTRO DE MEIO AMBIENTE VISITA MINAS GERAIS E AFIRMA QUE TRABALHARÁ PARA QUE TRAGÉDIAS COMO A DE MARIANA NÃO VOLTEM A ACONTECER

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MUNDO EMPRESARIAL DIRIGENTES CRISTÃOS DE EMPRESAS DE VÁRIOS PAÍSES PUBLICAM TRABALHO DE REFLEXÃO SOBRE A ENCÍCLICA ECOLÓGICA DO PAPA FRANCISCO

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MEMÓRIA ILUMINADA O RECADO CLIMÁTICO DE AL GORE, O EXVICE-PRESIDENTE DOS EUA QUE SE TORNOU A ANTÍTESE DA POLÍTICA INSUSTENTÁVEL

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E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 GENTE ECOLÓGICA 12 ECONECTADO 14 SOU ECOLÓGICO 16 SELVA DE CONCRETO 18 ESTADO DE ALERTA 26 CONSERVAÇÃO AMBIENTAL 40 PRÊMIO 44 EMPRESA E AMBIENTE 54 GESTÃO & TI 64 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 67 SAÚDE MENTAL 72 TEATRO 76 AS PEGADAS DE LUND (3) 84 VOCÊ SABIA 88 NATUREZA MEDICINAL 90 CINEMA 92 ENSAIO FOTOGRÁFICO 96 O SEGREDO (3) 100 CONVERSAMENTOS 106


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CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

A LUA CHE

EDIÇÃO: TOD

ANO

ABRIL 8 - Nº 89 -

DE 2016 -

IA

R$ 12,50

l NATUREZA MEDICINAL As propriedades medicinais e culinárias do hibisco (Hibiscus sabdariffa) “Uso a flor do hibisco para fazer decoração. Não sabia que ela tinha essas propriedades também!” Marilda Casaca, via Facebook “Ganhei muitas sementes de hibisco, mas o plantio é em outubro. Se essa semente nascer, estou disponível a dividir essa frutinha. Para fazer geleia é uma delícia!” Yuriko Imai, via Facebook “Chá de hibisco é bom para muitas enfermidades.” Luciene Aragão de Melo, via Facebook

l ROCK IN RIO ECOLÓGICO Festival de música lança ação “Amazônia Live Projeto Social do Rock in Rio” para restauração florestal da Amazônia “Esse sim é um verdadeiro marketing verde, que boa parte das empresas e indústrias de nosso país deveriam fazer para que, um dia, nosso ecossistema voltasse ter a mesma eficiência de anos atrás.” Bruno Dias, via Facebook “Eu acho que um show desse porte, com seus altos decibéis e grande aglomeração de pessoas nas proximidades da floresta, não me parece muito ecofriendly.” André Moraes, via Facebook “Acho muito bom! Nunca achei que veria algo do tipo. Tomara que a Amazônia saia ganhando com isso.” Deivison Lima, via Facebook l ESTADO DE ALERTA – PELO FIM DA CRUELDADE! Texto da colunista Maria Dalce Ricas clama pelo fim dos maus-tratos a animais domésticos e selvagens “Que monstruosidade é maltratar animais tão indefesos!” Cleia Costa, via Google+ “Meu Deus, até quando vamos ver tantas maldades com os inocentes, seja humano seja animal? Todos sofrem e sentem as mesmas dores!” Ivanice Magalhães, via Facebook 08  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

l MEMÓRIA ILUMINADA A escritora Adélia Prado comemora 40 anos de carreira com livro que reúne toda a sua obra poética “Adélia Prado: estupenda poetisa mineira. Parabéns!” Madalena Miranda, via Facebook “Com certeza, Adélia Prado merece ser aplaudida por todos!” Silvane de Oliveira Santos, via Facebook

EU LEIO “A Revista Ecológico é uma delícia de se ler. Tem fotos e textos que se juntam em prol não somente do meio ambiente, mas de uma preocupação em humanizar os assuntos e chamar a nossa responsabilidade para isso, pois parece que a velocidade das informações e do tempo têm nos tampado os olhos e dificultado a respiração! A revista proporciona uma leitura que nos convida a pararmos um pouco com a correria para analisarmos melhor o que estamos fazendo, o que devemos mudar e onde queremos chegar!” MÔNICA SANTOS, gerente de Comunicação da Siamig

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br


Somos produtores rurais. Nosso trabalho faz de Minas uma potência agropecuária. Produzimos alimentos com qualidade e em grande quantidade. O que nos orgulha muito é fazermos tudo isso de forma sustentável: o nosso estado tem hoje cerca de 30% de vegetação nativa conservada

nas propriedades rurais. Para manter o nosso patrimônio ambiental, contamos com o SISTEMA FAEMG, que oferece programas para recuperar nascentes, florestas, solo e outras ações para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Mantendo o equilíbrio do meio

ambiente vamos produzir mais e melhor.

Somos produção e conservação.

sistemafaemg.org.br


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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

O FIM OU RECOMEÇO DA VIDA?

A ESCOLHA É NOSSA! O

FOTO: DIVULGAÇÃO

lha aí, gente! Mais um Dia Mundial do Meio Ambiente. E, infelizmente, ele vai passar! Como passam todos os dias e a nossa permanência, igualmente ameaçada, no único planeta com vida humana que conhecemos. E por que isso acontece? É o que você, caro leitor, vai conferir, de maneira profunda, nesta Edição Especial da Revista Ecológico, comemorativa àquela que deveria ser a data mais importante da humanidade. E não é. Por isso, estamos todos caminhando feito boiada vesga e besta, rumo ao inferno das mudanças climáticas. É deste aquecimento global, ainda evitável se tivermos juízo (e que é o tema escolhido para o próximo “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, cujas inscrições já estão abertas), que abordamos com a nossa esperança de sempre nesta edição. E por que esperança, diante de tanto desalento e degradação à nossa vista? Porque o ser humano, mesmo ainda errante, também traz no seu DNA três características que se repetem uníssonas em tudo que é matéria viva no Sistema Solar, desde uma barata até às estrelas e meteoros mais distantes. Somos criativos, adaptativos e multi-

plicativos. Isso significa que a vida é programada para sobreviver, tal como Fritjof Capra, o autor de “O Ponto de Mutação”, nos informou nos alegres anos 1960. Mas, se nos confrontarmos com ela, aí é fim antecipado. Prevalecerá o nosso autoextermínio. Foi este o aviso que a última campanha “A Natureza Está Falando”, da ONG Conservação Internacional, deu à humanidade e que publicamos na edição anterior: “A natureza não precisa de nós” para sobreviver. Nós é que precisamos dela. É o que você saberá de Chico Xavier, que prevê o ano de 2019 como a data limite para a humanidade não se render às guerras e parar de “esquentar” a Terra. Caso contrário, a natureza vai provar a sua impaciência e poder. O médium brasileiro não está sozinho. Ele tem a companhia pragmática de Al Gore, político e ambientalista norte-americano que produziu o documentário “Uma Verdade Inconveniente”; e o imperdível filme “O Começo da Vida” (foto abaixo), da cineasta Estela Renner, capaz de trazer de volta toda e qualquer esperança perdida em nós mesmos. É por isso que a nossa luta continua. Boa leitura e até a próxima Lua Cheia! 


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FOTO: FELIPE DE AQUINO RAMOS

GENTE ECOLÓGICA ESPECIAL ECOLÓGICO 90

FOTO: DIVULGAÇÃO

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“Minha doutrina é esta: se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes.” ANNA SEWELL, escritora inglesa

“A experiência do corpo humano é a extensão da inteligência da Mãe Terra, que é um organismo vivo e precisa de nós enquanto corpo físico. Estamos unidos à Terra e ao céu como se fôssemos a extensão, os braços da Terra. Isso é mágico para começarmos a entender as coisas não como um indivíduo, mas como um todo.”

ALBERT SCHWEITZER, filósofo e médico alemão

“O caráter é como uma árvore e a reputação como sua sombra. A sombra é o que nós pensamos dela; a árvore é a coisa real.” ABRAHAM LINCOLN, ex-presidente dos EUA 12  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

FOTO: PETE SOUZA / TWH

PATRICIA MARX, cantora

FOTO: JB ECOLÓGICO

“O mundo tornou-se perigoso porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem.”

“Desmatamento Zero já é insuficiente para a Amazônia. A única saída é replantar a floresta.” ANTÔNIO NOBRE, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

“Matar animais por esporte, prazer, aventura ou por suas peles é um fenômeno cruel, repugnante. Não há justificativa na satisfação de uma brutalidade dessas.” DALAI LAMA, monge tibetano


ZÉLIA DUNCAN, cantora, em editorial publicado no Segundo Caderno, do Jornal O Globo

LETÍCIA SABATELLA, atriz e ativista socioambiental

WILSON ANDRADE O diretor-executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF) é um dos indicados para receber o "Prêmio Madeira 2016", que reconhece profissionais que contribuem para o fortalecimento do setor florestal brasileiro. Na empresa, ele coordena projetos como o "Programa Mais Arvores Bahia", que incentiva o produtor rural a investir no plantio e manejo de florestas.

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Animal não é ser humano. Ele tem hábitos e comportamentos que devem ser respeitados. Muitas pessoas confundem amor com dominação. Querem que os animais ajam como humanos.”

“É no interior de vocês que se encontra a força capaz de romper a cadeia infernal da loucura.” FRANCO BASAGLIA, psiquiatra italiano, que liderou o fim dos manicômios

FOTO: REPRODUÇÃO

DENER GIOVANINI, ambientalista e presidente da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas)

JOSÉ DUMONT O ator, que interpreta Zé Pirangueiro na novela Velho Chico (TV Globo), está dando um show de interpretação. A cena em que seu personagem está navegando pelo rio, lança a rede e não consegue pescar - e logo após chora, pega as próprias lágrimas e joga no Velho Chico para "aumentar" suas águas - merece ficar marcada no imaginário popular. É uma das mais emocionantes e ecológicas cenas da teledramaturgia brasileira.

MAIO/JUNHO DE 2016 | ECOLÓGICO  13

FOTO: SANAKAN FOTO: RICARDO ARTNER FILHO

“Se você só quiser tirar vantagens sobre a natureza e sobre o outro, vai haver desequilíbrio e acontecer uma reação em algum momento. Uma hora a natureza fala e chama a nossa atenção.”

BERNARDO PAZ O presidente do Conselho de Administração do Instituto Inhotim assinou, em 13 de maio, um Memorando de Entendimento para formular e implementar uma estratégia de sustentabilidade do Instituto, em alinhamento com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e os Objetivos Globais, com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

FOTO: SAVARESE

FOTO: EDSON LOPES JR. GESP

FOTO: ROBERTO SETTON/DIVULGAÇÃO

“Não vejo nada de bom no ciúme. Não acredito que seja prova de amor ou de importância. Creio que o ciúme seja apenas a prova de nossos limites. Ciúme é sempre sabotagem, seja de que natureza for.”

CRESCENDO


ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

garantia de honestidade, lisura, amor ao próximo. Estes são frutos que só a espiritualidade nos proporciona.” @pefabiodemelo – Padre Fábio de Melo, sacerdote católico

FOTO: SUELLEM MIRANDA - WIKIMEDIA

l “Ser religioso não é

l “Mais morcegos, melhores colheitas!

l “Resumindo: plantar

árvores alimenta a alma!” @miriam_prochnow - Miriam Prochnow, pedagoga

FOTO: DIVULGAÇÃO

Dá até para fazer casinhas pra eles! Vamos cuidar!” @mariamaliasouza - Maria Amália Souza, co-diretora executiva do Fundo Social Ambiental

l “Queima da cana é

l “Sozinho você muda

a sua realidade. Juntos, somos capazes de mudar a realidade de muitos.” @FerRod - Fernanda Rodrigues, atriz

FOTOS: DIVULGAÇÃO

ruim pra nossa saúde e para o meio ambiente! E como suja tudo... Uma tristeza!” @afrabalazina - Afra Balazina, jornalista ambiental

l “Construções à

l “Para aqueles que não viveram as trevas da ditadura, manter a crença na democracia brasileira chega a ser um ato de fé.” @drauziovarella Dráuzio Varella, médico

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FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

beira-mar são insustentáveis, alertam especialistas em novo livro sobre aquecimento global.” @AmeliaGonzalez8 - Amélia Gonzalez, jornalista ambiental

BIBLIOTECA DIGITAL O “Wikipédia das árvores”: é como podemos também chamar o aplicativo “Viva Floresta”, que pretende criar um banco de dados digitais sobre as espécies da flora presentes nas cidades. De forma colaborativa, as pessoas poderão baixar o app em seus celulares e fazer registros sobre localização de árvores, por meio do Google Maps, além de fornecerem outras informações como nome da espécie, tamanho e condições do exemplar. A primeira cidade brasileira a ser incluída na rede será São Paulo. De acordo com o “Viva Floresta”, a capital paulista possui mais de 600 mil árvores nativas. Acesse: www.vivafloresta.org

FOTO: DIVULGAÇÃO

ECO LINKS

TWITTANDO

"BIG BROTHER" DAS MATAS Ainda na onda dos aplicativos de monitoramento florestal, a empresa Jeep, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, acaba de criar o “Vigilant Wallpapers”, uma tecnologia que traz imagens em tempo real de algumas localizações dos 8% de mata nativa ainda restantes no país. A ideia principal é criar um alerta e abrir o debate sobre as ameaças que acontecem diariamente nos parques e reservas, convidando a sociedade a participar ativamente, vigiando as áreas de maior risco por meio de seu computador, smartphone ou tablet. O “Vigilant Wallpapers Jeep” é compatível com sistema Android e Windows. O download está disponível na Google Play. Saiba mais: www.jeepwallpapers.com.br

MAIS ACESSADA INOVAÇÃO ECOLÓGICA O texto que fala sobre um novo processo que possibilita a transformação do lixo e do chorume, procedentes de residências, em uma pasta que pode servir para várias finalidades - entre elas, produzir água potável e matéria-prima para a construção civil - foi a mais acessada e compartilhada no mês de abril. Inovação feita pelo brasileiro e biólogo Guilherme Moraes dos Santos (foto), que dá orgulho brasuca! Quer entender melhor? Acesse a matéria no link: goo.gl/l8YRPt

FOTO: CÂMARA MUNICIPAL DE GUARULHOS

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SOU ECOLÓGICO

hiramfirmino.blogspot.com

O engenheiro metalúrgico Ruben Fernandes, 50 anos, é o novo presidente da Anglo American Brasil. Com 28 anos de experiência na indústria de mineração e passagens pela Votorantim Metais e Vale, ele substitui Pedro Borrego, presidente interino da Minério de Ferro Brasil desde novembro de 2015 e que participou integralmente do desenvolvimento e comissionamento do Projeto Minas-Rio ao longo de oito anos. “O Minas-Rio é o maior investimento da Anglo American no Brasil e recentemente comemoramos o 100o embarque de minério de ferro. Sem dúvida, foi uma experiência de aprendizagem profissional inigualável para mim, assim como para toda a equipe. Agora trabalharei junto com o Ruben para garantir a continuidade dos trabalhos e uma transição adequada”, destacou Borrego, que assumirá um novo cargo na sede da Anglo American, em Londres, nos próximos meses. “Estou muito satisfeito com a oportunidade de liderar os negócios da Anglo American no Brasil e, em particular, por poder contribuir com o excelente trabalho realizado pela equipe da Minério de Ferro Brasil no desenvolvimento do Minas-Rio. Nosso foco será aumentar a competitividade global do projeto, oferecendo aos nossos clientes produtos diferenciados e de alta qualidade, além de continuar progredindo nos processos de desinvestimento de Nióbio e Fosfatos e de Níquel", ressalta Ruben Fernandes.

INTEGRANTES do projeto agora terão um espaço próprio para participar das oficinas

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FOTO: MIKE ELLIS PHOTOGRAPHY

SOB NOVA GESTÃO

RUBEN Fernandes: pela competitividade global

ESTÚDIO DE SOM QUERUBIM

Jovens que foram tocados pela música e participam de oficinas do Projeto Querubins na Vila Acaba Mundo, em BH, agora terão um lugar próprio para o desenvolvimento de suas atividades. O Instituto MRV, organização sem fins lucrativos fundada pela MRV Engenharia, iniciou a construção de um estúdio que abrigará as oficinas de música da entidade permitindo a realização de cursos como técnico de gravação, cenografia e iluminação, além da gravação de material para a comunidade. “A estrutura tem potencial para trazer retorno financeiro, tornando-se sustentável, através do aluguel do espaço para ensaios e gravações, por exemplo. Ter o nome do Instituto MRV vinculado a um projeto como esse é uma grande satisfação para a empresa e seus colaboradores e revela como estamos empenhados com responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, ainda mais em comunidades que estão localizadas próximo à construtora”, afirmou Raphael Lafetá (foto), diretor do instituto. Ao todo, estão sendo investidos R$ 291 mil na construção do espaço, que se chamará “Estúdio de Som Querubim”. As obras têm previsão de serem concluídas no fim de junho. 

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

FOTO: DIVULGAÇÃO

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Acesse o blog do Hiram:


Já pensou que um dia ônibus pudesse andar mais rápido que carro? A Prefeitura pensou e fez o Move de BH.

Quando a gente planeja antes de fazer e faz com a ajuda de todos, os maiores sonhos viram realidade. Por isso, continue pagando seu IPTU em dia. E a Prefeitura continua cumprindo com a sua obrigação.

Mais de meio milhão de passageiros por dia

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SELVA DE CONCRETO

FELIS CONCOLOR redacao@revistaecologico.com.br

SEM AÇÚCAR NEM AFETO

O

AMBIENTAL FOTO: JANICE DRUMOND

nça veia, suçuarana, a cada dia eu entendo me- gânicas da política, em um Estado recém-eleito, pelo nos as coisas da política. Pois não é que, sem sexto ano, como o campeão nacional de desmataalarde, sem transmissão de cargo e comunicado mento da Mata Atlântica, onde vivemos. algum aos funcionários da Semad (que, É o que o meu povo aqui da selva aguarinclusive, estão em greve), Minas já tem da, conferindo, e com o fiapo de espeum novo secretário de Meio Ambiente e rança de sempre, o extenso currículo do Desenvolvimento Sustentável empossanovo secretário. Em outras áreas, a saber: do desde o último dia 23 de maio?  Advogado especializado na área financeira É vero. E louco demais para minha com participação efetiva em todas as enticabeça peluda entender. Em vez de oudades de classe de Minas Gerais e do Brasil; vir, de maneira parceira e apartidária, os  Ex-diretor do BNDES; ambientalistas e o próprio meio empre Ex-secretário de Estado de Fazenda e sarial e jurídico do Estado - todos semde Planejamento de Minas; pre às voltas com a questão mineral e de  Ex-presidente do Conselho de Política licenciamento ambiental, vide a maior Financeira, da Distribuidora de Títulos e tragédia socioambiental acontecida nas ISAAC: estranheza no ninho? nossas montanhas gerais -, o governador Valores Mobiliários (Diminas) e do ConPimentel nomeou quem? E, na contramão do seu pró- selho de Administração do BDMG; prio slogan de governo, “Ouvir para governar”? Até que  Ex-secretário municipal de Fazenda de Contagem (MG); se prove o contrário, é mais um estranho no ninho, o  Ex-superintendente regional do Sebrae MG; advogado Jairo José Isaac.  Ex-diretor do Sistema Financeiro do Banco de CréIsso mesmo. Vai entender as linhas retas e nada or- dito Real de Minas Gerais. 



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PÁGINAS VERDES

"TEMOS DE DAR FOTO: ALEX FERREIRA / CÂMARA DOS DEPUTADOS

GARANTIAS À SOCIEDADE"

SARNEY FILHO: “É preciso focar na segurança da atividade mineral”

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Bia Fonte Nova

redacao@revistaecologico.com.br

N

um gesto simbólico e aplaudido por ONGs como a Fundação SOS Mata Atlântica e a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), o novo ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, visitou Mariana, palco do maior acidente socioambiental da história brasileira, antes mesmo de ir ao seu gabinete oficial, em Brasília (DF). No dia 16 de maio, depois de sobrevoar parte da região “engolida” pelos rejeitos de lama da Barragem de Fundão, da Samarco, que rompeu em novembro do ano passado, Sarney Filho – que assume a pasta pela segunda vez, tendo sido ministro no governo FHC – foi recebido pelo prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), vereadores, representantes das famílias atingidas pelo desastre e por dirigentes da mineradora. Sereno e veemente, ele negou seu apoio à retomada das atividades por parte da empresa, mesmo reconhecendo que o município depende economicamente dela. Pregou cautela e se comprometeu a trabalhar para que tragédias como a ocorrida na cidade não mais se repitam no país. É o que você confere a seguir, em trechos de sua fala em Mariana e em alguns registros de sua trajetória política, como deputado e ministro, que sinalizam uma nova esperança frente à pasta: TRISTEZA “Sobrevoei mais de 100 quilômetros ao longo do Rio Doce, passando

pelo encontro do Carmo com o Piranga, pelo Gualaxo do Norte e, para minha tristeza, vi que a tragédia é continuada, ainda não se esgotou. A cor da água – aquela vermelhidão que carrega o DNA do derramamento da barragem – continua lá. A situação ainda é muito feia.” “Fiquei realmente assustado, porque imaginei que encontraria uma situação mais amenizada. Mas, infelizmente, não foi o que vi. Também ainda há uma série de dúvidas que precisam ser devidamente esclarecidas.” CERTEZA “Sobre a retomada das atividades da empresa, o primeiro aspecto que temos que deixar bastante claro é que essa tragédia ainda não se encerrou. Precisamos, antes de mais nada, ter certeza de que não há mais lama sendo derramada no leito dos rios. Hoje, ainda não tenho essa convicção.” “Quero ter certeza também de que todas as obras que estão sendo feitas – e que sobrevoei agora –, como a construção de diques etc., irão realmente funcionar. E, sobretudo, é preciso assegurar que jamais – jamais, eu repito – a retomada dos trabalhos por parte da empresa se dê nos mesmos moldes que provocaram essa tragédia.” PERDAS “A Samarco precisa apresentar


SARNEY FILHO

SAIBA

MAIS

Antes de assumir o ministério do Meio Ambiente pela segunda vez, o maranhense Sarney Filho estava em seu nono mandato como deputado federal. Formado em Direito, ele ingressou na vida política aos 21 anos e sempre pautou sua trajetória política na defesa das questões ambientais. Na visão da maioria dos ambientalistas, ele integra um seleto grupo de parlamentares que realmente atua em prol da área ambiental e do desenvolvimento sustentável.

uma nova proposta que atenda todas as exigências de segurança socioambiental. Tudo vai depender das propostas apresentadas. De como a empresa vai se posicionar e das garantias que dará para comprovar que as dimensões ambientais da tragédia foram encerradas.” “Por outro lado, é lógico que as dimensões sociais nunca serão encerradas, compensadas. Afinal, houve mortes, distritos foram atingidos, casas destruídas e referências sentimentais desapareceram para sempre... Não há dinheiro no mundo que compense essas perdas. É por isso que temos de ter muita cautela.” SINCERIDADE “Sinceramente, não vou me comprometer com nada que possa facilitar a retomada dos trabalhos por parte da empresa. Não vou participar desse ato de assinatura [da declaração de conformidade que autorizou, em âmbito municipal, a retomada da operação da Samarco]. Minha presença aqui não é para isso.” “Vim a Mariana, antes mesmo de ir ao meu gabinete, em Brasília, para dizer que estamos atentos a

tudo o que envolve esse que é, sem dúvida, o maior desastre socioambiental já ocorrido no Brasil.” “É óbvio que queremos que o processo avance, que a empresa volte a produzir, que os empregos voltem a ser gerados. Mas isso deve ocorrer de forma segura e cautelosa, para que não sirva de precedente, de mau exemplo para outras situações.” FUNDAÇÃO “Tudo tem que ser muito bem esclarecido. Sei que foi criada uma fundação e que o acordo assinado pela Samarco [juntamente com a Vale, a BHP Billiton e os governos federal e estaduais de MG e Espírito Santo] foi homologado pela Justiça. Mas, na Câmara, nós questionamos várias aspectos ligados à criação dessa fundação. Em especial a falta de participação da sociedade, de representantes dos atingidos pelo acidente na discussões e negociações.” “Como ministro, não criarei insegurança jurídica. Mas podem estar certos de que, no ministério, vamos nos debruçar sobre essa fundação, acompanhando de perto suas ações e desdobramentos, para garantir que ela atue da forma mais transparente possível. Permitindo que a sociedade acompanhe todo o processo e dando a celeridade necessária às questões mais urgentes e essenciais. Sei que as providências e benefícios precisam chegar na rapidez necessária, estamos atentos a isso.” “A atuação dessa fundação terá que se dar de forma clara e didática, para que tanto os técnicos e especialistas quanto o cidadão comum possam acompanhar e entender tudo. Saber como o dinheiro será aplicado. Nesse primeiro momento, eu vou participar pessoalmente da condução dessas conversas.”

FOTO: CORPO DE BOMBEIROS-MG / DIVULGAÇÃO

Ministro do Meio Ambiente

“Precisamos ter certeza de que não há mais lama sendo derramada no leito dos rios. Hoje, ainda não tenho essa convicção.”

QUESTÃO MINERÁRIA “Não é de hoje que a questão minerária me preocupa. Participei da comissão especial, criada para elaborar um parecer sobre o novo Marco Regulatório da Mineração – que ainda não foi votado –, e sempre expressei minha grande preocupação em relação ao aspecto socioambiental. O primeiro texto apresentado não levava em consideração as questões ambientais e sociais e, infelizmente, durante as discussões do novo marco, ocorreu esse desastre aqui em Mariana.” “Essa tragédia reforçou ainda mais a minha convicção de que

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MAIO/JUNHO DE 2016 | ECOLÓGICO  21


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SARNEY FILHO

PÁGINAS VERDES

Ministro do Meio Ambiente

FOTO: DOUGLAS COUTO/PREFEITURA DE MARIANA

a legislação não pode se focar exclusivamente na atividade minerária, tem que considerar e priorizar a segurança das populações que direta ou indiretamente são atingidas pela atividade.” “A legislação mineral tem que ser mudada. Precisamos dar garantias à sociedade de que a mineração – uma atividade tão importante e necessária – se desenvolva sem riscos para as comunidades vizinhas e a natureza.” GRAVIDADE “Ontem mesmo, li uma reportagem que alerta para o risco de rompimento de outra barragem de mineração aqui em Minas. Não estamos vivendo uma situação tranquila... E, portanto, não vou compactuar com nada que possa apagar a gravidade do que aconteceu aqui em Mariana.” “Diante de tudo o que aconteceu e vi aqui, estou certo de que os cuidados têm de ser redobrados. Essa é a razão da minha vinda à cidade.” TRANSPARÊNCIA X SEGURANÇA “Não sou contra a atividade minerária. No entanto, reafirmo que ela tem de ser resguardada, bem cuidada. Os licenciamentos ambientais devem ser bem feitos, com todos os processos e operações transcorrendo com seriedade e transparência.” “O mais importante a se fazer, portanto, é focar na segurança da atividade minerária. Investir em segurança para que dirigentes e funcionários graduados não precisem morar longe de onde vivem os funcionários e as populações mais humildes.” RELATÓRIO “Na Comissão Externa criada pela Câmara dos Deputados para 22  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

SARNEY Filho, acompanhado de Duarte Júnior, prefeito de Mariana: "O MMA está atento a tudo o que envolve esse desastre"

FIQUE POR DENTRO Um dos objetivos da visita do novo ministro Sarney Filho a Minas Gerais foi entregar ao governador Fernando Pimentel (PT) o relatório elaborado pela Comissão Externa da Câmara dos Deputados, destinado a acompanhar os desdobramentos da tragédia de Mariana. Sarney foi o coordenador dessa comissão na Câmara, que apresentou o seu relatório final no dia 12 de maio último. Embora não tenha sido votado - devido à atual conjuntura política -, o relatório traz propostas concretas, como o projeto para um novo Código de Mineração, com viés predominantemente socioambiental, ao contrário dos anteriores, voltados apenas para a produção mineral. O documento contém ainda uma proposta de Lei de Barragens e prevê alterações na Lei de Crimes Ambientais, ampliando o valor das multas.

(Com informações do MMA/Câmara dos Deputados e Agência Brasil)

acompanhar os desdobramentos da tragédia de Mariana, propusemos uma série de medidas e de mudanças relacionadas à atividade mineral, à segurança de

barragens e à Lei de Crimes Ambientais. Mesmo não tendo sido votado, esse relatório está pronto e estou entregando uma cópia dele hoje ao prefeito Duarte Júnior. Tenho certeza de que, se esse relatório for aprovado, tragédias como a ocorrida aqui em Mariana não se repetirão no Brasil.” CAUTELA “Estou convicto, ainda, de que as propostas contidas no projeto não vão engessar a atividade minerária em Minas Gerais. Sei que a população e a prefeitura de Mariana dependem dela, mas temos que ser muito cautelosos em relação a esse argumento. Não podemos nos esquecer nunca de que a tragédia ocorrida aqui acarretou dezenas de mortes.” “Sei que não temos como resolver tudo de uma vez. Mas vamos buscar os melhores caminhos e soluções. O que não podemos, de forma alguma, é criar precedente, abrir a possibilidade de pensarem que essa tragédia não servirá para modificar quase tudo no setor de mineração. Temos que fazer mudanças concretas para que a atividade minerária continue existindo em segurança.”


“Esse acidente vai mudar a mineração no mundo” O presidente da Samarco, Roberto Carvalho, desde o acidente ocorrido, expôs a Sarney Filho a posição da empresa frente ao acordo firmado com os governos de Minas e Espírito Santo. Confira trechos de seu depoimento ao ministro em Mariana: FOTO: VALTER CAMPANATO / AGÊNCIA BRASIL

ESFORÇO  “Estamos alinhados com a prefeitura de Mariana. A Samarco não pretende, em momento algum, atropelar qualquer etapa do processo.”  “Estamos todos envolvidos num esforço muito grande – como não poderia deixar de ser –, para fazer frente às dimensões desse acidente. Primeiramente, em nível humanitário, focamos em atender todas as pessoas impactadas e as questões emergenciais.”  “Agora, meses depois, estamos empenhados no retorno da nossa operação. Até o momento, a Samarco não desligou nenhum funcionário. Queremos fazer de tudo para que o impacto sobre o número de empregos seja o menor possível.” CONVICÇÃO  “Temos conversado direta e constantemente com os responsáveis pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Estamos buscando a solução técnica mais adequada e segura. Temos plena convicção de que o que estamos propondo é uma situação segura.”  “Sabemos que há todo um trâmite legal, nas esferas municipal, estadual e federal, daí a necessidade e a importância dessa anuência que está sendo dada pela prefeitura.” MUDANÇA  “Tenho certeza absoluta de que esse acidente vai mudar a mineração no mundo, não só no Brasil. Barragens não se rompem da maneira como a nossa se rompeu. Precisamos entender claramente as causas de tudo.”

CARVALHO: "Vamos tentar reparar tudo o que for possível"

 “Estamos trabalhando com especialistas do mundo inteiro, estudando tudo a fundo e fazendo simulações, para que tenhamos elementos que nos permitam reconstruir todo o processo, a retomada da operação, o licenciamento...” SOLUÇÕES  “Também temos nos reunido constantemente com os responsáveis pelo Ibama. Quanto aos diques construídos, eles estão funcionando como esperado. Estão ‘descarregando’ água com qualidade adequada nos cursos d’água da região. Mas, claro, ainda há muito a ser feito.”  “Estamos envolvendo os melhores técnicos do mundo na tentativa de reparar tudo que for possível, da maneira como deve ser. Estamos abertos a construir soluções conjuntas e seguras. Estou certo de que vamos conseguir.”

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PÁGINAS VERDES

MARIANA, GRANDEZA E AMOR Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

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equenez política e desamor social, pra não dizer desamor ao meio ambiente agredido ao longo do Rio Doce, é tudo que Mariana não precisa para ver resolvida a tragédia que aconteceu. Inútil também ficar repetindo quantas pessoas morreram ou foram desabrigadas, perderam tudo, ex-Bento Rodrigues abaixo. O culto da dor, das acusações, culpas e ressentimentos mútuos também não unirá todos os envolvidos na busca de uma solução pragmática, mesmo que não falte dinheiro – e muito, embora judicializado – para a ‘consertação’ e compensação que a opinião pública internacional aguarda. Foi isso que vi e senti, com muita tristeza, durante o encontro do ministro Sarney Filho com as lideranças políticas, sociais e empresariais de Mariana. Parece Torre de Babel. Todos os atingidos direta e indiretamente – a Samarco, a prefeitura, os vereadores, lideranças sociais dos sobreviventes de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, mais os ambientalistas não radicais – falam de uma mesma receita para reverter a tragédia: transformar o limão acontecido, pelo qual não precisamos mais chorar, numa limonada jamais vista, na mesma proporção. Em outras palavras: permitir que, desde que de forma segura, a empresa volte a operar para manter a sua produção e, assim, não despedir todos os seus empregados. Tal como a população de Mariana, cujos cofres municipais dependem 90% da mineração.

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Que prefeito, secretários estaduais e um ministro do Meio Ambiente não gostariam de ter uma solução possível dessa nas mãos? Ter vontade política, empresarial, social e ecológica – e toda a opinião pública – a seu dispor?

E por que isso não acontece? Por falta de grandeza e de amor em abraçar essa grande oportunidade possível. Falta de um Estado, que não se faz presente, e de uma Semad, que se faz pequena. Ambos - como aconteceu


No acordo firmado com os governos federal, de Minas e do Espírito Santo, a Samarco, a Vale e a BHP Billiton prometeram investir R$ 20 bilhões ao longo de 15 anos na recuperação ambiental da bacia do Rio Doce. Este valor é 20 vezes maior que o orçamento anual do Ministério do Meio Ambiente para cuidar de todo o país no encontro com Sarney – com visão míope diante do desespero repetido várias vezes pelo prefeito e os vereadores de Mariana, em nome da população também desesperada. Quando buscamos saber em quanto tempo o Estado poderia analisar e conceder – com segurança – as novas licenças para a Samarco poder voltar a operar e cumprir o que prometeu refazer, qual foi a resposta da Semad que imobilizou de perplexidade os rostos dos vereadores? Se tudo ocorrer burocraticamente bem, talvez “lá pro mês de dezembro”... Esta é a falta de grandeza. Em vez de tratar o maior acidente socioambiental do país e do mundo, envolvendo o derramamento de lama, como também a maior lição e projeto de recuperação e compensação ambiental da história do planeta, a Semad o trata como outro processo qualquer, a transitar igualmente pelos depauperados gabinetes da Feam, Igam e IEF, que formam o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). Por que não parar e reunir todo o Sisema na busca prioritária dessa solução, e com data marcada para ontem? Isso pode parecer um sonho distante. Mas não é. Guardadas as devidas proporções, a Semad já fez isso, quando o ex-ministro José Carlos Carvalho era seu titular. Foi no licenciamento do Projeto Minas-Rio, hoje da Anglo American, em Conceição do Mato Dentro. Como o Estado – repito, sempre ausente – precisava de um modelo de mineração sustentável para balizar o setor em discussão, o que a Semad fez? Em vez de ficar com os braços cruzados, esperando confortavelmente que a mineração seguisse todo o moroso rito do licenciamento, à sua análise e aprovação, ela colocou todo o seu corpo técnico – da Feam, Igam e IEF, na época – para antecipar e ajudar a própria empresa a fazer o seu dever de casa correto. Voltando a Mariana, a oportunidade extraordinária e possível é essa. Até a Samarco mudou o seu discurso e a sua pegada institucional. Em vez de repetir o seu

slogan “Fazer o que deve ser feito”, bastante criticado no meio jornalístico por passar um sentimento de arrogância e não de humildade à opinião pública diante da tragédia, o que seu novo presidente, Roberto Carvalho, também presente na reunião com o ministro, acrescentou em sua fala? - “Vamos tentar recuperar tudo o que for possível!” Aí dá para acreditar e evitar, desde que haja amor e não mais rancor, nem disputa de poder por parte de todos os envolvidos, a temida e paralisante judicialização do processo. Nada mais que lembrar o que o Ministério Público Estadual sempre defendeu, com presteza: que 85% das causas ambientais que lhe chegam são resolvidas e não emperradas. Caso esse amor judiciário, político e social não ocorra pragmaticamente, nós já sabemos qual será o fim da história, vide o que aconteceu diante dos maiores acidentes ambientais do planeta, já mostrados pela Revista Ecológico em sua maioria, o meio ambiente não foi recuperado nem as populações tiveram a sua qualidade de vida de volta. E a Samarco, mesmo com a sua autoestima elevada, em vez de amada que era até antes do acidente, será maldita para sempre. Com o passar do tempo, os sobreviventes das comunidades atingidas e suas reivindicações continuarão esquecidos na lama nunca 100% removida. E o Rio Doce, de Minas ao Espírito Santo, mais amargo do que nunca. Deixará de ganhar vida, via a “maior limonada do mundo”, que é o tratamento sanitário ao longo dos municípios da sua bacia. A começar por Mariana que, mesmo sendo a primeira capital do Brasil, como também humildemente lembrou o prefeito Duarte Júnior na solenidade do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, sempre jogou os seus esgotos no rio, sem a consciência da sua população nem protesto dos ambientalistas ou judicialização via Ministério Público. A oportunidade única é agora! 

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MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: DIVULGAÇÃO

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ESTADO DE ALERTA

PARQUE DO ROLA MOÇA

AMEAÇADO E

m reunião tensa recente, o Conselho do Parque do Rola Moça negou anuência ao loteamento Novo Barreirinho, condicionando sua apreciação à realização de estudos que comprovem ausência de impactos ambientais sobre áreas de corredores ecológicos, água, fauna e flora. O empreendimento foi iniciado sem autorização do Conselho e do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Representantes das prefeituras de Ibirité, Brumadinho e Sarzedo pressionaram por decisão contrária. O loteamento pertence à empresa Liberdade Empreendimentos, de propriedade da família Pinheiro, que governa Ibirité (MG). O Conselho considerou como base para a negativa o Termo de Compromisso assinado pela Prefeitura de Ibirité e pela empresa com o Ministério Público Estadual. Nele, a Liberdade comprometeu-se a realizar os estudos mencionados, que terão de ser aprovados pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), apesar de o município ter convênio com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) para licenciamento. O Termo de Compromisso é prova dada pela própria empresa de que os estudos apresentados são frágeis e insuficientes para comprovar sua viabilidade ambiental. Se o empreendedor não comprovar au26  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

sência de impactos, logicamente o empreendimento não poderá ser implantado. O Conselho não poderia ter agido de outra forma e por isso ficamos surpresos com a postura de alguns conselheiros. Ao contrário do que diz o poder público, políticos e entidades patronais, a má-fé de empreendedores é um dos mais fortes fatores que avacalham o licenciamento ambiental em Minas e no país. Durante a reunião foram apresentados três pareceres elaborados por conselheiros do parque. O apresentado pelos representantes da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e da Fundação Helena Antipoff, Francisco Mourão e João Batista Rodrigues, demonstrou os riscos crescentes ao parque devido à expansão urbana de Ibirité. Mesmo sem ainda estar ocupado, o loteamento Novo Barreirinho já mostra sinais de forte degradação, inclusive na área do parque. Fotos presentes no relatório mostram lixões em formação e despejo de grande quantidade de cacos de vidro. Infelizmente a realidade evidencia que a proximidade de comunidades humanas, principalmente urbanizadas, são ameaças graves e constantes aos ambientes naturais. A esmagadora maioria não sabe conviver com os mesmos. Por isso é que a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)


"O IEF detectou nada menos que 12 parcelamentos irregulares na zona de amortecimento da Unidade de Conservação. A maior parte, em áreas fundamentais à conectividade entre ambientes de campo presentes nas partes mais altas do parque e ambientes de floresta no pé da serra." proíbe loteamentos nas zonas de amortecimento das Unidades de Conservação de proteção integral. Este loteamento não tem nada de “social”. É apenas “comercial”. A Amda enviará ofício ao secretário de Meio Ambiente questionando o convênio com a prefeitura, por considerar que a delegação do licenciamento à mesma está sendo prejudicial ao parque, que além da importância ambiental, protege diversos mananciais que abastecem a RMBH. AMEAÇAS O Instituto Estadual de Florestas (IEF) detectou nada menos que 12 parcelamentos irregulares na zona de amortecimento da unidade de conservação. A maior parte, em áreas fundamentais à conectividade entre ambientes de campo presentes nas partes mais altas do parque e ambientes de floresta no pé da serra. Esses corredores são fundamentais à sobrevivência da fauna e flora do parque, que inclui espécies ameaçadas como lobo-guará, onça parda, gato-selvagem e inúmeras espécies de aves. Além disso, quanto maior a proximidade da área urbana, maiores são os números de ocorrência de incêndios florestais, que anualmente mobilizam centenas de brigadistas com altos custos financeiros e danos ambientais ao parque. Para Rodrigo Soares, diretor da ONG Associação no Ato Ambiental, que trabalha há cinco anos com comunidades de agricultores familiares da região, o maior receio é que, se o projeto for aprovado, pode abrir “brechas” para novos empreendimentos localizados na zona de amortecimento de Unidades de Conservação (UCs). Ibirité abriga um polo de produção de verduras, composto por agricultura familiar. A expansão urbana ameaça a água e a segurança das quais dependem para continuar exercendo suas atividades.

“A aprovação pode criar uma legitimidade para outros empreendimentos similares. Já sabemos que eles já adquiriram outras áreas, e há projetos em parceria com grandes empresas imobiliárias. E isso levaria à retirada dos agricultores do local e traria impactos sociais e ambientais incalculáveis”, explica. Soares afirmou que a posição da Associação é absolutamente contrária à implantação do loteamento e considera que o resultado da reunião foi uma vitória extremamente importante. “Primeiro porque os estudos iniciais do empreendedor desconsideravam a questão social. E, segundo, porque só com mais estudos o empreendedor terá ideia do impacto que esse empreendimento pode gerar na comunidade. Além dos estudos ambientais é preciso considerar que a permanência dos agricultores naquela região, além da garantia da seguridade econômica e social, ajuda a garantir a integridade do parque, visto que a zona de amortecimento, pela Lei do SNUC, deve ser rural.” Marlene Antônia, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ibirité também é contra a implantação do Novo Barreirinho. Ela acompanhou a reunião com um grupo de agricultores e elogiou a apresentação de Francisco Mourão, que mostrou a degradação na área do parque. A presidente do Sindicato cobra que a legislação seja cumprida e mostra-se preocupada com a situação dos agricultores caso o loteamento prossiga. “Se a lei funciona pra um, tem que funcionar da mesma forma para os outros. Tem gente que nasceu aqui, já trabalhando na terra. O que eles vão fazer senão a agricultura?”, questiona. O Parque do Rola Moça é atravessado pela rodovia que liga a BR-040 a Casa Branca, em Brumadinho, e já aconteceram diversos assaltos, e até assassinatos, facilitados pela proximidade da malha urbana de Ibirité e Belo Horizonte.  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

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1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

2019: A DATA LIMITE DE

CHICO XAVIER Próximo homenageado na sétima edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade”, o líder espírita já alertava para a urgência de como evitar o aquecimento global Luciano Lopes

Colaboração de Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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médium Francisco Cândido Xavier nasceu em Pedro Leopoldo, há pouco mais de 30 km da capital mineira, em 02 de abril de 1910. Naquela época, a cidade tinha pouco menos de 10 mil habitantes e vivia essencial-

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mente da agricultura e da pecuária. Sua natureza era exuberante. E grandes momentos da vida de Chico e da história do Espiritismo têm as paisagens naturais de lá como cenário. Foi assim quando, aos cinco

anos de idade, ele conversava com o espírito de sua mãe entre as árvores frutíferas do quintal de casa. Quando, aos 20, regava a horta de alhos de seu patrão e ao mesmo tempo conversava com espíritos de poetas brasileiros, como Augus-


FOTO: ABBIE TRAYLER / SMITH

to dos Anjos e Casimiro de Abreu. Quando, nas margens do Açude do Capão, em Pedro Leopoldo, orava em silêncio na companhia da mata verde e da água límpida. Foi lá, inclusive, que aceitou a missão como divulgador da Doutrina Espírita em diálogo com seu mentor espiritual, Emmanuel. E, por fim, esteve cercado da natureza, quando já estabelecido em Uberaba, a partir de 1959, Chico proferia palestras em encontros de evangelização sob a copa de uma árvore. “Como Francisco de Assis, Chico nutre pela natureza um amor que só é comum às almas que se espiritualizam”, conta o médium e amigo Carlos Baccelli no livro “À Sombra do Abacateiro”, que apresenta o conteúdo de algumas dessas reuniões. Semelhante ao santo católico, “Chico ama os animais, conversa com eles, parece entendê-los. Chora quando um deles adoece. Ama as flores, a chuva, os pássaros. Neste mundo materialista, em que o homem cada vez mais se afoga nas conquistas da tecnologia, Chico ensina-nos também a cultivar a vida natural, estudando o Evangelho de Jesus junto aos filhos do calvário, no templo da Mãe Natureza”, completa Baccelli, que é dirigente do Lar Espírita Pedro e Paulo em Uberaba. Por que Chico Xavier realizava reuniões espíritas ao pé de uma árvore? Porque o primeiro templo do homem foi e continua sendo a natureza. É o que o próprio Baccelli explica: “Em todas as antigas narrativas históricas, observamos que a criatura procurava dialogar com o Criador sob a paz das estrelas. Moisés subiu ao Monte Sinai para receber o Decálogo. João Batista clamava, em pleno deserto, preparando as veredas daquele que nos ensinaria a amar a Deus em Espírito e Verdade. Nas Gálias, os druidas se colocavam em comunicação com os mortos no silêncio das florestas. A sós, no colo da natureza, o homem sente uma maior integração com a vida”.

MULHER CHORA ao ver sua casa destruída, no distrito de Ule Lhue de Banda Aceh, Indonésia, após passagem do tsunami que matou 220 mil pessoas na Ásia

“A própria Mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, regirá com violência imprevista. O homem começaria a III Guerra, mas quem iria terminá-la são as forças telúricas da natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos.” Chico Xavier MUDANÇA INTERIOR Chico Xavier, eleito “Mineiro do Século XX” e o “Maior Brasileiro de Todos os Tempos” em votação popular aberta realizada, respectivamente, pela TV Globo Minas e pelo SBT, será um dos homenageados da sétima edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, cujos vencedores serão anunciados em novembro próximo. Plenamente convicto da importância do médium de Pedro Leopoldo como guia espiritual para milhões de pessoas mundo afora, a Ecológico saiu em busca de mais conhecimento sobre a sua relação com a natureza para apresentar a sua visão sobre o meio ambiente e a ação humana sobre ele. Bem como compreender o impacto positivo da espiritualidade na transformação de hábitos e costumes da humanidade, principalmente para a resolução dos problemas socioambientais que ela mesmo criou. Nesse caso, especialmente, provocando o aquecimento glo-

bal e as mudanças climáticas, que vêm trazendo graves consequências para a biodiversidade planetária, da qual dependemos e estamos inseridos, e que será tema da premiação de 2016. Para encontrarmos o “Chico ecológico”, era preciso visitar o berço de tudo: Pedro Leopoldo. Hoje com quase 60 mil habitantes, a cidade pouco se parece com aquela do tempo em que Chico nasceu. Ele mesmo, o médium, teve papel essencial para o desenvolvimento socioeconômico do município. No tempo em que morou lá, o aumento do número de turistas e caravaneiros que o visitavam em busca de auxílio espiritual e participavam das reuniões nos centros espíritas da cidade fez nascer hotéis, pousadas e restaurantes, gerando centenas de empregos. Ao chegarmos ao Centro Espírita Luiz Gonzaga, fundado por Chico Xavier em 1927, fomos ao encontro de Célia Diniz, atual presidente da instituição. Ela guarda muitas impressões da convivência com o

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médium: “Chico sempre amou profundamente os animais, as plantas. Todo o amor que ele tinha por Deus se transformou em respeito à natureza. Qualquer pessoa, com um pingo de senso e gratidão ao Criador sente esse respeito pela Criação. E acredito que é uma atitude natural da pessoa realmente evangelizada transferir o amor a Deus também à natureza e às criaturas”, diz. Ela cita uma frase de Chico que aponta como a religiosidade pode reverter nossa ignorância frente às questões naturais: “Sem Deus no coração, as futuras gerações colocarão em risco o futuro do planeta. Por maior que seja o avanço tecnológico da humanidade, é impossível que o homem viva em paz sem que a ideia de Deus espelhe suas decisões”. Isso explica a necessidade de mudança de hábitos, que precisa fluir em cada individualidade. Não se pode, por exemplo, brigar para se ter coleta seletiva em uma cidade se seus moradores não a fazem em casa, separando corretamente o lixo. O mesmo vale para o alto consumo de energia e água. É preciso economizar. Se não queremos aquecimento global ou mudança climática, não se pode poluir. E há tempos a sociedade, empresas e governos sabem disso. VALORES DO ESPÍRITO “Se nós, cristãos, estivéssemos atentos à preservação dos valores do espírito, segundo nos ensinou Jesus Cristo em sua divina revelação, a poluição da natureza, nas cidades e nos campos, não seria hoje esse flagelo que está tomando vulto no seio metropolitano. Se nos respeitássemos segundo a lei áurea – ‘não deseje para o seu vizinho aquilo que você não deseja para si mesmo’ -, a poluição talvez nem chegasse a existir”, disse Chico certa vez. Completou, ainda, que “se todo o mundo industrial, todo o campo da educação, todos os grupos sociais e valores que presidem o progresso humano estivessem, 30  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

FOTO: TORANGE

1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

“Antes de o homem surgir na superfície do planeta, o vegetal, há muito, seguia as leis existentes. Como usufrutuários do Universo, saibamos, assim, que toda ação humana contrária à natureza constitui caminho ao sofrimento.” Chico Xavier quem sabe, condicionados à regra áurea, estaríamos em paz”. Para Célia Diniz, esta mensagem de Chico, que desencarnou em 30 de junho de 2002, também diz respeito às escolhas que a humanidade faz. “O animal tem uma pureza que o homem não tem. Ele age sobre o determinismo divino, que é o instinto. Isso é a pureza. Nós, humanos, detemos o determinismo divino até desenvolvermos o livre-arbítrio. É nas nossas escolhas que deixamos nosso lado puro. Quando se lê no Livro dos Espíritos (Questão 705) que a Terra produz o necessário para as nossas necessidades, pensamos: por que então há tanta escassez de recursos naturais? Porque não nos contentamos com o necessário. Queremos mais, daí o desequilíbrio. Estamos destruindo o planeta em nome da ambição”, alerta Célia. Ou seja, não é possível preservarmos o planeta se a nossa própria alma e nossos

pensamentos estão “desmatados”. O jornalista ambiental André Trigueiro, em seu livro “Espiritismo e Ecologia”, também compartilha dessa reflexão. “Neste momento em que experimentamos uma crise ambiental sem precedentes na história da humanidade, é importante reconhecer a nossa responsabilidade, como espécie ‘mais evoluída’, na destruição dos recursos naturais não renováveis à vida. Mudanças climáticas, escassez de recursos hídricos, produção monumental de lixo, destruição sistemática e veloz da biodiversidade, crescimento caótico e desordenado das cidades em que vive a maior parte da população mundial, transgenia irresponsável, são problemas causados por nós, pelo nosso estilo de vida, hábitos, comportamentos e padrões de consumo. É o nosso livre-arbítrio em ação, determinando escolhas que têm pressionado a resiliência do


natural se fará seguida por amargas consequências de que o tempo trará notícias à humanidade terrestre”, argumentou ele durante participação no programa televisivo Pinga Fogo, da extinta Rede Tupi, mais de quatro décadas atrás. Como constatamos diariamente, essas notícias infelizmente já inundam a mídia. Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, entre 2000 e 2010 a concen-

FOTO: DIVULGAÇÃO

Os livros e psicografias recebidos por Chico Xavier se tornaram um instrumento forte de evangelização. Desde o primeiro livro “Parnaso de Além Túmulo” (1932), foram lançadas mais de 470 obras, que venderam 50 milhões de exemplares. Vários deles abordam a questão ambiental, mas dois merecem destaque: a “Cartilha da Natureza”, um tratado poético de amor aos recursos naturais; e “Nosso Lar”, seu livro mais vendido, e que este ano completa 70 anos de lançamento. Publicado em 1946, o livro apresenta as observações e descobertas do espírito André Luiz sobre a vida no mundo espiritual – inclusive sobre o poder da natureza na cura e renovação interior.

tração de gases de efeito estufa na atmosfera foi a mais alta desde os últimos 800 mil anos. Se nada for feito, a previsão é de que a temperatura média global possa chegar a 5oC até 2100, com consequências drásticas para a biodiversidade. Isso inclui secas e crises hídricas intensas, tempestades, além de possível extinção de espécies da fauna e da flora. Só para se ter ideia, a ONU afirmou recentemente que os três primeiros meses de 2016 já queFOTO: PLATINUM

EFEITOS DA IGNORÂNCIA A conversa com Célia nos proporcionou avançar muito ao encontro do Chico Xavier ecológico que se abria nas nossas mentes e corações. A cada livro, entrevista ou vídeo a que assistíamos sobre ele, uma nova descoberta, uma frase de impacto para refletirmos sobre como tratamos o meio ambiente. E que, incrivelmente, também se alinhava ao tema proposto para o “VII Prêmio Hugo Werneck”. Que cidadão brasileiro melhor poderia apontar a contribuição que devemos dispender para reduzir o avanço e os efeitos das mudanças climáticas, que já estamos sofrendo, do que Chico? Ele, diferentemente dos alarmistas, nos apontou uma direção espiritual, da renovação interior primeira, para a resolução desse impasse. “A destruição dos recursos da natureza, mesmo a título de progresso, é uma triste tendência dos homens da atualidade. E cremos que semelhante agressão à vida

LITERATURA SUSTENTÁVEL

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

FOTO: TORANGE

planeta e o conforto ambiental da espécie que se considera no ‘topo da cadeia evolutiva’”, afirma ele, que também é espírita. Nesse contexto, antevendo o desequilíbrio ambiental e espiritual do ser humano, Chico Xavier já preconizava que o respeito ao meio ambiente era mais que uma necessidade. “Antes de o homem surgir na superfície do planeta, o vegetal, há muito, seguia as leis existentes. Como usufrutuários do Universo, saibamos, assim, que toda ação humana contrária à natureza constitui caminho ao sofrimento. Retiremos dos cenários naturais as lições indispensáveis à nossa vida. Somos interdependentes.” Está aí a contribuição de alguém que, por exemplo, mesmo antes da instituição do Ministério do Meio Ambiente no Brasil, na década de 1970, já defendia a sua criação para punir quem derrubasse “uma árvore sequer”.

CÉLIA DINIZ: "Estamos destruindo a Terra em nome da ambição"

TRIGUEIRO: "Nosso livre-arbítrio pressiona a resiliência do planeta"

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braram todos os recordes de temperatura para o período. Em março, os termômetros registraram 1,07oC mais alto do que a média global calculada para este mês ao longo do século passado. Outra preocupação registrada foi o degelo no Ártico: mais de 10% da calota de gelo da Groenlândia derreteu em apenas 30 dias. A DATA LIMITE O sentido de urgência na reversão desse cenário se fez ainda mais forte quando revimos o documentário “A Data Limite”, lançado há dois anos e dirigido por Fábio Medeiros, com produção executiva de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande. Segundo Chico Xavier, o ano de 2019 representará grandes mudanças para a humanidade e o planeta. Essa transição marcaria a passagem da Terra de mundo de expiação para o de regeneração, trazendo novos avanços para a ciência e, principalmente, para a evolução moral e espiritual do ser humano. Despertando, inclusive, uma nova consciência e atitudes mais efetivas em prol da preservação da natureza e do amor ao próximo. MAS POR QUE 2019? Em depoimento aos médiuns e amigos Marlene Nobre (já desencarnada) e Geraldo Lemos Neto, Chico confidenciou que em julho de 1969, logo após a chegada do homem à lua, as potências angélicas do Sistema Solar se reuniram com Jesus Cristo para decidir os rumos da Terra. “Nosso Senhor”, informou Chico, “deliberou conceder uma moratória de 50 anos à sociedade terrena, a iniciar-se em 20 de julho de 1969 e findar-se em julho de 2019”. Nesse período, “as nações mais desenvolvidas e responsáveis da Terra deveriam aprender a se suportarem umas às outras, respeitando as diferenças entre si, abstendo-se de se lançarem a uma guerra de extermínio

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O ATOR Ângelo Antônio, que interpretou Chico Xavier em filme de 2010: às margens do Açude do Capão, em plena natureza, o médium assume a missão consoladora

nuclear. A face da Terra deveria evitar a todo custo a chamada III Guerra Mundial”. Chico disse mais: “Caso a humanidade encarnada decida seguir o infeliz caminho da III Guerra, uma guerra nuclear de consequências imprevisíveis e desastrosas, aí então a própria Mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista. O homem começaria a III Guerra, mas

O FILME "A Data Limite" já pode ser assistido na internet

quem iria terminá-la seriam as forças telúricas da natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos. E seríamos defrontados então com terremotos gigantescos; maremotos e ondas (tsunamis) consequentes. Veríamos a explosão de vulcões há muito tempo extintos; enfrentaríamos degelos arrasadores que avassalariam os polos do globo com trágicos resultados para as zonas costeiras, devido à elevação dos mares. E, neste caso, as cinzas vulcânicas associadas às irradiações nucleares nefastas acabariam por tornar totalmente inabitável o Hemisfério Norte de nosso globo terrestre”. Ao contrário, se todas as nações aprendessem, nesse período, a arte do bom convívio e da fraternidade, o mundo entraria em tal evolução que seriam solucionados os problemas de ordem social e ambiental, descobertas as curas de doenças e a humanidade teria acesso total à informação e ao conhecimento, além do contato com

FOTO: DIVULGAÇÃO

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A CONTRIBUIÇÃO DE CADA UM “Não haverá a III Guerra Mundial”, acredita Célia Diniz. “Os países sabem que com uma guerra se destrói o que se ganhou também. O dinheiro fala mais alto, e nisso eles ainda são ignorantes. Mas Chico acreditava em uma saída pra a humanidade, porque somos seres em constante processo evolutivo. E a pedagogia divina para a Terra é o erro. Estamos vendo as consequências de nossas ações e isso é muito forte. Vamos nos conscientizar de que precisamos consertar o que estragamos. Não é fatalidade, nem castigo divino. O que vivemos hoje, devido à destruição da natureza, é consequência de nossas escolhas.” Como podemos mudar isso? Invoquemos mais uma lição do próprio Chico: “Através da busca da espiritualização, superação das dores e construção de uma nova sociedade, a humanidade caminha para a regeneração das consciências”. “Não estamos entregues à fatalidade e nem predeterminados ao sofrimento. Estamos diante de uma encruzilhada do destino coletivo que nos une à nossa casa planetária aqui da Terra”, disse Chico em depoimento registrado no livro “Não Será em 2012”. “Temos diante de nós dois caminhos a seguir e o caminho do amor e da sabedoria nos levará à mais rápida ascensão espiritual coletiva.” É essa a reflexão que deixamos para você, caros leitores. Qual caminho você quer seguir? O que temos feito para transformar o mundo em um lugar melhor e mais preservado? Qual é a nossa contribuição? FONTES: Livros “Plantão de Respostas”/ Chico Xavier, “Semeador em Novos Tempos”/ Emmanuel, “Cartilha da Natureza”/Casimiro Cunha; “À Sombra do Abacateiro”/Carlos Baccelli, “O Livro dos Espíritos”/Allan Kardec e “Não Será em 2012”/Marlene Nobre e Geraldo Lemos Neto. www.pozatifilmes.com www.datalimite.com

SABEDORIA ECOLÓGICA “Para nós os religiosos, natureza é sinônimo de manifestação de Deus. Nós nos encontramos no limiar de uma era extraordinária, se nos mostrarmos capacitados coletivamente a recebêla com a dignidade devida. Se os países mais cultos do globo puderem suportar a pressão dos seus próprios problemas, sem entrar em choques destrutivos, como, por exemplo, guerra de extermínio, que deixará consequências imprevisíveis para nós todos no planeta, então veremos uma era extraordinariamente maravilhosa para o homem. Porque a própria automação nos está dizendo que vamos ser aliviados ou quase que aposentados do trabalho mais rude no trato com o planeta, para a educação da nossa vida mental, através de informações sobre o Universo com proveito enorme e incalculável para benefício da humanidade. Mas isso terá um preço. Será o preço da paz.” CHICO XAVIER, no programa “Pinga Fogo”, da extinta Rede Tupi

“A natureza é a fazenda vasta que o Pai entregou a todas as criaturas. Cada pormenor do valioso patrimônio apresenta significação particular. A árvore, o caminho, a nuvem, o pó, o rio, revelam mensagens silenciosas e especiais. É preciso, contudo, que o homem aprenda a recolher-se para escutar as grandes vozes que lhe falam ao coração. A Natureza é sempre o celeiro abençoado de lições maternais. Em seus círculos de serviço, coisa alguma permanece sem propósito, sem finalidade justa.”

FOTO: REPRODUÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

seres extraterrestres que nos ofereceriam tecnologias novas.

“Recordemos Aquele que veio à Terra, começando pela manjedoura; que recebeu pastores e animais como visita primeira; que foi anunciado por uma estrela brilhante; que ensinou sobre as águas, orou sobre os montes, escreveu na terra, transformou a água simples em vinho do júbilo familiar; que aceitou a cooperação de um burrico para receber homenagens do mundo; que meditou num horto, agonizou numa colina pedregosa, partiu em busca do Pai através dos braços de um lenho ríspido e ressuscitou num jardim. Relembremos semelhantes ensinos e recebamos a fazenda do Senhor, não como o filho pródigo que lhe desbaratou os bens, mas como filhos previdentes que procuram aprender sempre, enriquecendo-se de tesouros imortais.” EMMANUEL, em psicografia recebida pelo médium Chico Xavier, que estampa a introdução do livro “Cartilha da Natureza”

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FOTO: ANTÔNIO CRUZ

1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Brasil em risco

Relatório produzido pelo Centro de Monitoramento de Alerta de Desastres Naturais do MCTI com apoio da Embaixada Britânica alerta para os impactos das mudanças climáticas no Brasil

C

oordenado pelo climatologista Carlos Nobre, o estudo “Riscos de Mudanças Climáticas no Brasil e Limites à Adaptação” revela uma possibilidade inquietante para o futuro do país: os principais riscos socioambientais caso a elevação de temperatura seja superior a 4oC. Para isso, foram analisados diferentes cenários e projeções do aquecimento global, ao longo de oito décadas (2020-2100), nos setores de agricultura, saúde, energia e biodiversidade. A pesquisa foi realizada por meio de uma minuciosa revisão de literatura e projeções climáticas, incluindo estimativas dos riscos relativos, e oferece informação para formuladores de políticas de gestão de riscos, de maneira a influenciar de forma urgente a formulação de políticas que priorizem a prevenção e a mitigação desses possíveis impactos. O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), em seu 5º Relatório de Avaliação Cientifica (AR5 – Fifth Assessment

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Report), indica que há uma chance de 40% do aquecimento global ultrapassar o limite de 2oC. Este nível, considerado seguro por especialistas internacionais, foi estabelecido como limite pelo acordo do Clima na COP-21 até 2100. Caso a temperatura seja maior, há grandes riscos de catástrofes mundiais. Porém, como as chances da temperatura ultrapassar os 2oC são relativamente menores em curto prazo, quem tem poder de decisão acaba deixando de lado as projeções mais desfavoráveis ao planeta. O documento, produzido pelo Centro de Monitoramento de Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com apoio da Embaixada Britânica, mostra que, no Brasil, num cenário de alta emissão de gases de efeito estufa, o país tem probabilidade maior que 70% de sofrer um aquecimento superior a 4oC antes do fim deste século. INSEGURANÇA ALIMENTAR A correta compreensão dos riscos

climáticos associados aos potenciais impactos sobre a agricultura e a segurança alimentar (vulnerabilidades e eficácia das opções de adaptação), formam uma evidência sólida para permitir a adaptação às alterações climáticas. “Além de impactos para a saúde humana, níveis altos de aquecimento podem aumentar o risco de eventos extremos e mesmo catastróficos, como a extinção de espécies; reduzir a disponibilidade de água e eletricidade para a população; e causar impactos sérios sobre a produção de alimentos, limitando a área de cultivo de arroz e feijão”, aponta o estudo. No caso do arroz, a perda de redução das áreas de baixo risco, em comparação a 1990, chega a 13%. Para o feijão, a previsão é de 57% de perda de áreas, com tendência de que a produção seja confinada aos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nada se compara, no entanto, com a situação das monoculturas de soja: a perda pode ser de 81%. “Entretanto, cultivares com alta tolerância


SAÚDE Vastas regiões do Brasil poderão se tornar perigosas para a população caso o aquecimento global ultrapasse o limite extremo de 4oC em relação à era pré-industrial. Nessas áreas, a temperatura média pode atingir os 30oC – o dobro da média do planeta hoje –, elevando o risco de mortalidade por calor, especialmente entre crianças e idosos. Haverá também redução da produtividade laboral em diversas frentes de trabalho. O calor poderá reduzir “até 268 horas anuais de trabalho em setores como agricultura, indústria e construção civil”. Há ainda outro efeito mais grave que as temperaturas podem provocar nos brasileiros: o estresse por calor, uma vez que “temperaturas máximas contínuas acima de 37oC e com alta umidade do ar impedem o organismo humano de perder calor por transpiração, podendo causar a morte em caso de exposição prolongada”. BIODIVERSIDADE O relatório também aponta riscos de savanização de florestas, extinção de espécies e colapsos de energia elétrica. “Entre as vítimas estariam espécies de grande importância socioeconômica, como as abelhas da Mata Atlântica, as plantas comestíveis do Cerrado e espécies do litoral.” Mais. “Em 2100, o Brasil perderia 200 dias por ano para o crescimento de plantas, causando impactos de grande magnitude tanto para a biodiversidade quando para a produtividade de ecossistemas e economia.” RECOMENDAÇÕES Duas recomendações são feitas pelos pesquisadores no estudo. A primeira delas trata da necessidade

FOTO: SÉRGIO VALE / SECOM

à seca e deficiência hídrica serão lançadas no mercado e sistemas de produção mais equilibrados em manutenção da água no solo e sequestro de carbono serão adotados”, afirma o documento.

POSSÍVEIS IMPACTOS Um aquecimento igual ou superior a 4oC pode gerar:  Risco

de queda de produtividade entre 20% e 81% em diversas culturas. Para um cenário mais grave, a soja pode chegar a uma perda de até 81%.

 No

período entre 2071 e 2099, os municípios da região Norte, Nordeste, Sudeste e Sul apresentarão condições térmicas ainda mais favoráveis para a disseminação do Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, chikungunya e zika.  Aumento

no percentual de risco de extinção de espécies de até 15,7%.

 Redução

nas populações de espécie de abelhas nativas da Mata Atlântica em 2030 e se agravaria até a extinção entre 2050 e 2080.

 Risco

de savanização e empobrecimento de florestas nas décadas finais do século.

 Em

2100, a perda de biodiversidade nas costas brasileiras será significativa, gerando impactos sobre a alimentação e a economia.

O

déficit no atendimento da demanda elétrica no país se torna praticamente inevitável até 2040.

de implementar ações e programas intersetoriais para reduzir as vulnerabilidades sociodemográficas, econômicas e de acesso aos serviços de saúde, que poderão “reduzir também os impactos do aumento extremo da temperatura, especialmente para doenças transmitidas por água e alimentos contaminados”. E a segunda é desenvolver novas ferramentas de priorização de áreas para conservação (especialmente na Amazônia Ocidental,

Pantanal e Cerrado) e restauração (Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa), que “são utilizadas na orientação de políticas públicas como o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e do Novo Código Florestal. E que devem ser incorporadas nas suas análises a componente climática, como cenários de aumento de temperatura acima de 4oC”. SAIBA MAIS

http://bit.ly/summary_climatechange

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1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Mas que calor! Pesquisa do “Fórum dos Vulneráveis ao Clima”, que envolve 43 países, aponta que aumento de calor no local de trabalho prejudica desempenho profissional

O CALOR reduz a produtividade no trabalho e eleva o risco de lesões ocupacionais

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lançado na sede da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, Suíça, em conjunto com os 43 países-membros do “Fórum dos Vulneráveis ao Clima”, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a OIT, a Organização Internacional para as Migrações FOTO: IISD

E

conomias emergentes enfrentam perdas de 10% nas horas trabalhadas por causa da deterioração das condições térmicas nos locais de trabalho devido às mudanças climáticas. As perdas estimadas representam consequências adversas de uma escala semelhante à produção econômica (ou do Produto Interno Bruto – PIB), para uma ampla gama de países em desenvolvimento, incluindo Índia, Indonésia e Nigéria. Reforçar os planos atuais sob o âmbito do Acordo de Paris para cortar as emissões de gases de efeito de estufa reduz significativamente o impacto econômico e sobre a saúde pública da escalada de calor nos locais de trabalho. Essas são algumas das conclusões do estudo “Mudanças climáticas e trabalho: impactos do calor nos locais de trabalho”,

CECILIA Rebong: “As mudanças climáticas alteraram as condições térmicas no local de trabalho”

(OIM), a Organização Internacional de Empregadores (OIE), UNI Sindicato Global, a Confederação Sindical Internacional (CSI), ACT Alliance e com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório classificou o calor excessivo no local de trabalho como um risco bastante conhecido à saúde e à produtividade ocupacional por trás dos riscos crescentes de exaustão pelo calor, insolação e, “em casos extremos”, a morte. Ele concluiu que mais de um bilhão de empregados, seus empregadores e comunidades em países vulneráveis já lidam com esse calor grave no local de trabalho. E o impacto das alterações climáticas sobre a execução de uma atividade não está sendo adequadamente abordado por políticas climáticas ou de emprego nacionais e internacionais.


Mais de um bilhão de empregados, seus empregadores e comunidades em países vulneráveis já lidam com o calor grave no local de trabalho

Para um país, o relatório constatou que as reduções do total de horas de trabalho disponíveis devido às alterações climáticas já haviam chegado a 4% do que era estimado na década de 1990, destacando a atual natureza do desafio. As regiões mais expostas incluem o sul dos Estados Unidos, América Central e Caribe, Norte da América do Sul, Norte e Oeste da África, Sul e Sudeste da Ásia. Especialmente vulneráveis são os países menos desenvolvidos, pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS) e economias emergentes com altas concentrações de trabalho ao ar livre. E os trabalhadores industriais e do setor de serviços que operam em condições ineficazes de climatização. CONDIÇÕES TÉRMICAS O documento também constata que mesmo com o mais estrito limite de 1,5°C estabelecido no âmbito do Acordo de Paris, regiões-chave enfrentariam quase um mês inteiro de calor extremo a cada ano até 2030 (20102030). Esse calor reduz a produtividade do trabalho, aumenta a necessidade de pausas e eleva os riscos para a saúde e lesões ocupacionais, que também implicam em menor produtividade em uma “macroescala”, aponta o estudo. Cecilia Rebong, representante permanente das Filipinas na ONU, lembra que o impacto do calor no local de trabalho adiciona “outra camada de vulnerabilida-

de aos países em desenvolvimento que já sofrem com os impactos adversos das mudanças climáticas”. A necessidade de limitar o aquecimento global é “urgente e crítica”, acrescentou. De acordo com o relatório, “quando está muito quente, as pessoas trabalham de forma menos eficaz ao ar livre, nas fábricas, no escritório ou em movimento, devido à diminuição da capacidade para o esforço físico e para completar tarefas mentais”. “Os governos e as organizações internacionais há muito tempo estabeleceram normas sobre as condições térmicas no local de trabalho. Mas as mudanças climáticas já alteraram as condições térmicas”, e “o aquecimento adicional é um sério desafio para qualquer trabalhador ou empregador dependente de trabalho ao ar livre ou de ar não condicionado. Os níveis de calor já estão ‘muitos altos’, mesmo para as populações climatizadas”, detalha o relatório. Esse estudo é baseado em pesquisas atualizadas sobre os efeitos relacionados ao trabalho para diferentes economias expostas a condições térmicas cada vez mais extremas por causa das mudanças climáticas. O desenvolvimento técnico do relatório foi baseado na pesquisa do programa de Saúde de Supressão da Produtividade e Alta Temperatura Ocupacional (Hothaps) do Centro de Ruby Coast Research, Mapua, Nova Zelândia, liderado por Tord Kjellstrom.  SAIBA MAIS

www.thecvf.org/climate-labour-impacts

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EVALDO BARBOSA mostra uma das nascentes em seu terreno: em vez de secar, a água aumentou

A VOLTA DA ÁGUA NO

GRANDE SERTÃO Projeto vencedor do “VI Prêmio Hugo Werneck” na categoria “Melhor Exemplo em Água”, comprova que a união entre iniciativa privada, ONG, governo e produtores rurais tem o poder de construir um futuro mais hídrico e sustentável para todos Bia Fonte Nova e J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

O

mestre Guimarães Rosa há tempos nos ensinou: “Perto de muita água tudo é feliz”. E no Brasil de agora, enquanto inúmeras cidades vivem o pesadelo da falta d’água, Paracatu, no Noroeste de Minas, tem histórias preciosas para contar. E dá um valioso exemplo de como a conservação e o cuidado ambiental podem não só revitalizar a paisagem do sertão, mas sobretudo transformar mentalidades e comportamentos. Lá, no coração do Cerrado, em terras onde há séculos bro-

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ta ouro – o metal mais valioso e um dos esteios da economia local – a água, tesouro líquido da vida, também está voltando a borbulhar. Com o apoio e a conscientização de pequenos produtores rurais, nascentes e veredas antes ameaçadas pelo uso inadequado do solo, soterradas pelo pisoteio do gado e pelo desmatamento, estão aos poucos sendo resgatadas, irrigando e esverdeando sítios e fazendas localizadas na Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu. O fio condutor das ações é o “Projeto de Recuperação de

Nascentes do Município de Paracatu”. Iniciado em 2009, ele é fruto de uma parceria entre a Kinross Brasil Mineração, a ONG Movimento Verde de Paracatu (Mover), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e proprietários rurais. No total, já são 150 nascentes cercadas e recuperadas, com mais de 60 quilômetros de cercas construídas. O total de áreas protegidas chega a 890 hectares – o equivalente a cerca de 1.200 campos de futebol. A meta para este ano é cercar mais 30 nascentes em todo o município.


Pelas Águas do Planeta! NOVOS PLANOS As terras do seu Walter Ferreira Gomes, agricultor de subsistência de 72 anos, ficam no Assentamento 15 de Novembro. Ele é um dos 73 proprietários apoiados pelo projeto. A poucos metros de casa, seguindo pelo quintal, já dá para ver a água clarinha e fresca aflorando no terreno que, tempos atrás, era tão seco que parecia cimento. “Chegamos aqui tem 19 anos com o ‘Movimento dos Sem Terra’. Ficamos um ano e meio acampados debaixo de lonas. Só depois é que conseguimos o assentamento pelo Incra. Tenho 36 hectares e meio. Antes, essa parte aqui, que tem as minas d’água, era toda seca, revirada por gado e outras criações. Agora, a gente até atola o pé em certas partes, de tanta água”, comemora seu Walter, ao lado da mulher, Antônia de Souza Oliveira, de 61. Com o cercamento, a água das nascentes já enche um reservatório e, puxada por bombas, garante o abastecimento de mais quatro propriedades vizinhas. No sossego da roça, em meio ao piado dos pintinhos, o produtor conta que compra pouca coisa de comer na cidade. Boa parte

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Além de apoiar o Projeto Nascentes, também investimos em educação e cultura. A ideia é que até o fechamento da mina, previsto para 2030, a cidade consiga estruturar novos projetos destinados à geração de emprego e renda, tornando-se cada vez menos dependente da mineração. Em parceria com a prefeitura e a comunidade, queremos definir um uso futuro planejado, estruturado e sustentável em alinhamento com as vocações do município. Há opções de uso que serão discutidas com a comunidade. Uma delas é transformar toda a área minerada em um parque aberto ao público, ajudando a fomentar o turismo ecológico, cultural e gastronômico, que crescem de forma expressiva em Paracatu.” ALESSANDRO NEPOMUCENO Diretor de Sustentabilidade e Licenciamento da Kinross

FOTOS: NAUH MELO

TONHÃO, seu Walter, e Tobias: unidos pela água e a volta dos buritis

FUTURO PLANEJADO

do sustento da casa é ele mesmo quem planta e colhe: arroz, milho, mandioca e cana. Junto com a água que ressurge do chão também brotam novos planos. Este ano, seu Walter quer aumentar a lavoura e plantar um pouco de feijão e hortaliças. No futuro, a ideia é formar uma pequena área irrigada e, assim, poder cultivar a terra o ano inteiro. “Hoje a gente planta é no sequeiro – no tempo das chuvas, que vai de novembro até meados de janeiro. Deus ajudando que a água aumente mais, a gente pensa em irrigar um pedaço de mais ou menos um hectare para poder plantar o ano todo. Seria bom demais.” VEREDA PARTICULAR Força de vontade e fé num futuro com mais água, verde e vida seu Walter já demonstrou ter de sobra. Prova disso é a vereda que está se formando em seu terreno. Há seis anos, ele recolheu coquinhos de buriti numa fazenda próxima. Colocou as sementes em saquinhos com terra e, meses

depois, conseguiu uma porção de mudas. Oito delas vingaram e hoje estão crescidas. Verdes e viçosos, os buritis ajudam a proteger a nascente e ainda fazem sombra para as piabinhas que se multiplicam por lá. Ariscas, elas são um indicador natural de que a água está limpa e pura. “Eles falam que buriti leva de 10 a 15 anos pra crescer, mas resolvi plantar assim mesmo. Pensei: se eu não ver tudo crescido, meus filhos, meus netos e todo mundo que vier aqui depois vai ver. Sinto que estou fazendo a minha parte, deixando os buritis aqui para segurar a água.” Ao falar como se sente diante desse reencontro com a água e a natureza, o agricultor se emociona. “Dá uma felicidade muito grande dentro do peito, de saber que tem água pra gente, pros vizinhos e pros bichos. Antes, com tudo seco e revirado pela criação, era triste. Tendo água perto tudo muda. A gente vive é melhor, com mais esperança.”

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GANHOS COLETIVOS Para a Kinross, o grande diferencial do projeto é a proximidade mantida com os proprietários rurais beneficiados. A empresa não doa os materiais para cercar as nascentes e depois vai embora. O apoio e o acompanhamento das ações são permanentes. Também levam dicas e orientações sobre práticas de conservação do solo e legislação ambiental, estimulando o desenvolvimento local, uma proximidade que faz toda a diferença. À frente de uma das ONGs mais antigas do Brasil, a Mover, criada em 1987, o ambientalista Antônio Eustáquio Vieira, o Tonhão – vencedor do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza 2013”, na categoria “Mobilização Social” – também se orgulha dos resultados alcançados. Ao cercar e preservar nascentes e veredas, ele explica, o projeto diminui os efeitos negativos da compactação do solo pelo pisoteio de animais e do desmatamento, facilitando a infiltração da água da chuva no solo e, consequentemente, aumentando a recarga dos aquíferos e a vazão de cursos d’água que alimentam o Rio Paracatu. A resposta da natureza à proteção recebida salta aos olhos. Tanto que, mesmo em períodos de seca, as nascentes seguem vivas. E permitem tanto a manutenção da produção agrícola e da pecuária, quanto o abastecimento de inúmeras famílias da região. Para Tonhão, o mais importante de tudo é o envolvimento da comunidade, a mudança de comportamento das pessoas. “Muitos falam em educação ambiental, mas é muito mais do que isso. O que fazemos aqui é convencimento ambiental. No começo, alguns proprietários ficavam ressabiados, com medo de receber ajuda para cercar as nas-

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centes e perder suas terras. Hoje, entendem que o trabalho é sério e constatam na prática os benefícios tanto para a natureza quanto para os envolvidos.” BARULHINHO BOM Na visita ao sítio do produtor rural Evaldo Barbosa Nascimento, de 60 anos, fica fácil entender a satisfação estampada nos rostos de Tonhão, seu Walter e Tobias. Mesmo sem ter caído quase nada de chuva nos últimos meses, a água corre cristalina entre a vegetação e chega a formar uma cascatinha. Dá para ouvir o barulhinho bom da água de longe. Em parte dos 37 hectares do terreno, seu Evaldo planta soja, milho e sorgo. Cria também umas 20 cabeças de gado e vende, em média, 150 litros de leite por dia para uma cooperativa de Paracatu. Na casa só moram ele, a mulher e um filho. Mas a água das nascentes que ele protege já é suficiente

para abastecer outros três vizinhos. Enquanto caminha pela mata, o agricultor espanta a timidez. Aos poucos, vai falando sobre a transformação ocorrida nos últimos tempos. “Moro aqui há cinco anos. Depois que cercamos as minas a água voltou com força. Lá pra baixo, a uns 200 metros, tem até mais água que aqui. Quando vier a chuva, ela aumenta ainda mais”, explica o produtor, mostrando um dos vertedouros usados pela equipe do projeto para monitorar o nível e a vazão da água nas nascentes protegidas, a cada 15 dias. No começo, a água custava a alcançar o vertedouro. “De uns dois anos pra cá, ela aumentou tanto que chega até a transbordar, mesmo com pouca chuva”, afirma seu Evaldo. Respeitada, a natureza retribui e também serve de abrigo para espécies da fauna. “Aqui tem muito bicho, passarinho. É macaco, quati, caititu (porco-do-mato),

"Dá uma felicidade muito grande dentro do peito, de saber que tem água pra gente, pros vizinhos e pros bichos. Antes, com tudo seco e revirado pela criação, era triste. Tendo água perto, tudo muda. A gente vive é melhor, com mais esperança." WALTER GOMES, agricultor


Pelas Águas do Planeta!

NOVA VISÃO Engenheiro ambiental, Tobias Tiago Vieira, da empresa Refloreste, é o responsável pelo levantamento das áreas a serem cercadas. Faz o mapeamento dos terrenos por georreferenciamento, supervisiona a construção das cercas e também monitora a vazão da água em todos os vertedouros construídos. Os números que Tobias controla refletem exatamente a mesma percepção que seu Evaldo tem no dia a dia, a olho nu: a de que a água está aumentando com o passar dos anos. “Desde 2012, quando iniciamos o monitoramento dos vertedouros, constatamos que a produção de água aumentou entre 12% e 20% em toda essa região, variando conforme as características do solo”, compara Tobias. Na Fazenda Nova Esperança, próxima ao sítio do seu Evaldo, essa nova visão de respeito e de cuidado com a água também ganha terreno. Na tarde seca e quente de outono, a represa cheia de água surge como um verdadeiro oásis. “Aqui o trabalho e os custos foram otimizados. Em vez de cercar as nove nascentes, uma por uma, decidimos proteger a reserva por inteiro. Deu mais de 70 hectares”, detalha Tonhão, que apresentou os resultados do “Projeto Nascentes” durante a Conferência RIO+20, realizada em 2012, no Rio de Janeiro. Enquanto todos conversam, comentando sobre escassez e a crise hídrica, Tonhão se inquieta. E, categórico, faz um alerta: “Aqui em Paracatu comprovamos que

FOTO: NAUH MELO

tatu-canastra, jacu e mutum. Tem época que aparece anta. Uma vez, vi uma oncinha daquelas pequenas, a jaguatirica. Cobra tem também: jararacuçu, cascavel e coral”, enumera, sem demonstrar o menor sinal de medo.

SEU WALTER e dona Antônia: os buritis que eles plantaram cresceram e agora protegem a nascente

ENTENDA MELHOR  As

ações do “Projeto de Recuperação de Nascentes do Município de Paracatu” contemplam o cadastramento dos proprietários, o mapeamento das áreas, a aquisição, o transporte dos materiais, o cercamento e o monitoramento da vazão das nascentes.  Paralelamente,

é realizado um amplo trabalho de educação ambiental, envolvendo todos os proprietários rurais beneficiados.  Funcionários

do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Kinross visitam as propriedades, levando informações e materiais educativos sobre: práticas de conservação do solo, a importância da preservação das áreas de nascentes e os seus benefícios, bem como orientações sobre legislação ambiental.  Em

2012, a Kinross contratou uma empresa especializada para a instalação de nove vertedouros, em nove das nascentes protegidas. Os dados de vazão e qualidade são coletados e analisados quinzenalmente, comprovando a eficácia dos cuidados adotados. A

maior parte do investimento financeiro no projeto foi feito pela Kinross, totalizando mais de R$ 300 mil.  Algumas

fases de execução foram custeadas pela ONG Mover e também pelo IEF, que cedeu estacas de madeira para os cercamentos. Os comitês de bacia hidrográfica dos rios São Francisco e Paracatu também são parceiros do projeto. A

Bacia do Rio Paracatu abrange: Bonfinópolis de Minas, Brasilândia de Minas, Buritizeiro, Cabeceira Grande, Dom Bosco, Guarda-Mor, João Pinheiro, Lagamar, Lagoa Grande, Natalândia, Paracatu, Patos de Minas, Presidente Olegário, Santa Fé de Minas, São Romão, Unaí e Vazante.

o que existe mesmo no Brasil é falta de gestão e de carinho com a água. Com cuidados simples, estamos ajudando a proteger esse bem natural, que vale mais do que o ouro. Afinal, a água é

essencial para a sobrevivência de todos nós. Hoje e no futuro”, conclui o ambientalista.  SAIBA MAIS

www.kinross.com.br

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FOTO: RONALDO GUIMARÃES/TV GLOBO MINAS

1 PRÊMIO

HIRAM FIRMINO recebe o troféu das mãos de Gustavo Penna, representando a Comissão Julgadora: vitória também da ecologia

RECONHECIMENTO VERDE Editor da Revista Ecológico é vencedor do “Prêmio Bom Exemplo 2016”, da TV Globo Minas

O

jornalista e ambientalista Hiram Firmino foi eleito vencedor da Categoria “Meio Ambiente” pelo “Prêmio Bom Exemplo 2016”, da TV Globo Minas. O reconhecimento veio pelo fato dele ter fundado a Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (ANAMMA), no início da década de 1980; bem como a criação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) de Belo Horizonte e a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), das quais depois também foi titular. Antes da atual Revista Ecológico e logo após a ECO/92, ele fundou e editou, ao longo de quase duas décadas, o Caderno “Estado Ecológico”, no jornal ESTADO DE MINAS; e a Revista JB Ecológico, no JORNAL DO BRASIL. Firmino é formado em Comunicação Social, bacharel em Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas, ambientalista e gestor público reconhecido nacionalmente por seu trabalho pela preservação da natureza e prestação de serviços em prol do de-

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senvolvimento sustentável, com diversos prêmios nas áreas jornalística e ambiental. Além de jornalista, Hiram também atua como consultor de empresas na área de política, comunicação e educação ambiental. O PRÊMIO Já em sua sétima edição, o “Prêmio Bom Exemplo” tem como objetivo homenagear e levar a público exemplos de trabalho, esforço e realização de pessoas e de organizações que, por meio de uma ótima atuação, lutam por um mundo melhor, mais justo e mais humano. O projeto é uma iniciativa da TV Globo Minas, jornal O Tempo, Fundação Dom Cabral (FDC) e Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).  SAIBA MAIS

Para conhecer a lista completa de homenageados e vencedores do “Prêmio Bom Exemplo 2016”, bem como o vídeo da solenidade de premiação, acesse www.premiobomexemplo.com.br



1 MUNDO EMPRESARIAL

A SUSTENTABILIDADE

NA GESTÃO Dirigentes cristãos de vários países publicam trabalho de reflexão sobre a encíclica ecológica do Papa Francisco Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

L

ançada em 2015, a encíclica “Laudato Si” (“Louvado Seja”), do Papa Francisco, trouxe um sopro de renovação ecológica e espiritual para a humanidade. Endossada por representantes de outras religiões, como também por ambientalistas e políticos, ela recebeu apoio de líderes empresariais que vêm implantando uma nova forma de administrar suas empresas, por meio da gestão focada na espiri-

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tualidade – seguindo os valores do ensinamento social de Cristo. É o caso dos dirigentes cristãos de empresa, reunidos e representados no Brasil pela ADCE-MG (saiba mais no box ao lado), entidade filiada à União Internacional de Associações de Dirigentes Cristãos de Empresa (Uniapac), fundada na Bélgica na década de 1930. Em fevereiro passado, eles publicaram os “Comentários da Uniapac a respeito da Encíclica

Laudato Si do Papa Francisco”, um trabalho colaborativo feito com a participação de empresários engajados de países como Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Equador, Itália, México, Paraguai e Uruguai. “A Uniapac entende também que as condições atuais do mundo requerem um compromisso do setor empresarial ainda maior e mais amplo do que se pratica hoje em dia. E que a sustentabili-


dade só é possível se garantirmos a existência da cultura de responsabilidade empresarial com foco no ser humano”, afirma Sérgio Cavalieri, presidente da ADCE Uniapac Brasil. Para ele, segundo a ótica exclusiva dos processos empresariais, do trabalho e da atividade econômica, não é arriscado ou custoso almejar que princípios e valores respeitosos ao próximo e ao meio ambiente sejam aplicados nos procedimentos de empresa e de todos os integrantes da cadeia de valor. “Além de nos completar como seres humanos, garantem, sem nenhuma margem de erros, maior competitividade, perenidade e lucro, tanto para o empresário quanto para seus empregados e partes relacionadas”, defende. E é exatamente esta visão que o Papa Francisco queria despertar no meio empresarial. “A ‘Laudato Si’ é de fato uma contribuição relevante da Igreja para os dirigentes cristãos tomarem consciência de sua responsabilidade em relação aos problemas que afetam toda a humanidade. Ela convida todos a contribuírem, apontando caminhos e sugestões para a solu-

SÉRGIO CAVALIERI: cultura empresarial

SÉRGIO FRADE: convite global

ção dos problemas ambientais e sociais que afetam a todos”, complementa o presidente da ADCE Minas, Sérgio Frade. A seguir, a Ecológico selecionou alguns trechos da declaração da Uniapac a respeito da encíclica do Papa Francisco, já considerado um dos importantes estadistas que atuam hoje na defesa do meio ambiente. Confira:

nhos, procurando atender às necessidades das gerações atuais, incluindo a todos, sem prejudicar as gerações futuras. Se não nos vemos entre nós como irmãos e se não aplicamos o princípio que salienta a respeito de que aquilo que acontece a um de nós, ocorre para todos nós, então qualquer desenvolvimento, que possamos alcançar, não será integral.”

VISÃO INTEGRAL “O Papa não só faz referência, corretamente, para as dimensões ambiental, econômica e social da ecologia, mas acrescenta uma quarta dimensão: a ecologia cultural. Ele nos convida a construir lideranças que marquem cami-

CLIMA COMUM “Ao definir o clima como ‘um bem comum’, o Papa Francisco faz coincidir o foco da sua Carta totalmente com aquele da tradição quanto à doutrina social. (...) A Uniapac adere plenamente à seguinte proposta: em ‘uma ecologia integral, que não exclua o ser humano, é indispensável incorporar o valor do trabalho’. É fundamental proteger o meio ambiente se, além do mais, queremos resguardar a dignidade da pessoa humana que necessita de forma ‘mais plena e mais fácil’ do acesso aos recursos naturais como meio para obter a sua própria perfeição.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

A ADCE UNIAPAC Brasil – Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa é uma ONG fundada em São Paulo em 1961, que posteriormente se expandiu para várias regiões do país, estando presente hoje em seis estados do Brasil. Tem como objetivo a formação dos líderes empresariais segundo os valores do ensinamento social cristão para que conduzam seus negócios visando à geração de riqueza de forma sustentável e a distribuição desta riqueza com justiça, tendo como pressupostos básicos a dignidade da pessoa humana e o bem comum.

FOTO: WAGNER COSTA

FOTO: WILLIAN DIAS

FIQUE POR DENTRO

TRABALHO colaborativo: para baixar o documento, é só acessar o site www.adcemg.org.br

PELOS POBRES “O princípio da solidariedade e da opção preferencial pelos pobres chama para dar uma maior atenção ‘às necessidades dos pobres, fracos e vulneráveis’. Sobre este ponto, a Uniapac apoia a chamada do Papa para que ‘se continue procurando, como prioridade, o acesso ao trabalho da parte de to-

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1 MUNDO EMPRESARIAL PARCERIA CRISTÃ E ECOLÓGICA Doravante, em todas as luas cheias, os empresários e empreendedores que integram a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) irão receber a Revista Ecológico fisicamente em seus endereços, além de também poderem acessar, via digital, todo o seu conteúdo editorial, replicando-o entre os seus funcionários, clientes e fornecedores. Esta ideia de parceria surgiu desde a cobertura jornalística que a Ecológico fez, na edição 85 (veja capa ao lado), do Leia e Assine ! “10º Seminário Internacional de Sustentabilidade” e “XXV Congresso Mundial da Uniapac”, realizados em outubro do ano passado, lotando o Grande Teatro do Palácio das Artes, na capital mineira. Na opinião do mundo político, empresarial e institucional ligado à questão ambiental, tratou-se de um dos mais concorridos, inovadores e aprofundados eventos sobre sustentabilidade já realizado no país, incluindo até espiritualidade na gestão. Justamente uma das pautas defendidas pela revista.

Sustentabilidade é a nossa pauta!

dos’ e compartilha as crenças de que ‘ajudar os pobres com dinheiro deve ser uma solução provisória para solucionar urgências’.” ATIVIDADE EMPRESARIAL COMO NOBRE VOCAÇÃO “A Uniapac considera as palavras do Papa como uma fonte de ânimo quando manifesta: “A atividade empresarial, que é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda para promover a região onde instala os seus empreendimentos, especialmente se entender que a criação de postos de trabalho é parte ineludível do seu serviço para o Bem Comum.” PROGRESSO TECNOLÓGICO É A SOLUÇÃO? “O fenômeno da globalização e do progresso tecnológico causou vários desequilíbrios no mundo: a pobreza e a desigualdade, a trans48  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

formação do mercado de trabalho e do emprego, a falta de instituições efetivas e a questão da ecologia. Todos eles são graves problemas que a humanidade deve encarar hoje em dia. Nossas sociedades devem administrar os riscos e acelerar as mudanças com a finalidade de promover não só a sustentabilidade social e ambiental, senão também o desenvolvimento integral do ser humano. Como afirmou o Papa acertadamente: ‘um desenvolvimento tecnológico e econômico, que não logra um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não pode se considerar progresso’.” ORDEM ECONÔMICA “Os países menos desenvolvidos e de economia mais frágeis, evidentemente, são aqueles que mais serão beneficiados com tais correções feitas no modelo de crescimento e uma economia aberta lhes ajudará a assegurar um crescimento estável.

Sob estas condições, a corrupção e o capitalismo clientelista são reduzidos e o efeito do desenvolvimento econômico positivo chega, diretamente, àqueles mais pobres.” ORDEM POLÍTICA “O Estado de Direito (ao invés da lei do mais forte) é, certamente, a única solução. Não é suficiente apelar para o sentido individual e moral de cada dirigente de empresa. A ética é, ao mesmo tempo, ‘individual’ e ‘institucional’.” DIÁLOGO ABERTO “Para conseguir o exposto acima, um diálogo aberto é imprescindível. O Papa, refletindo isto na ‘Laudato Si’, dirige a sua palavra não só para a Igreja, senão também ‘a cada pessoa que habita este planeta’ e exprime a sua vontade de ‘entrar em diálogo com todos a respeito da nossa casa comum’.” SAIBA MAIS

www.adcemg.org.br


1 ARTIGO

A ecologia da solidariedade Dom Joaquim Mol (*)

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO

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passa de marketing, lenitivo de consciências, distribuidores de migalhas, enquanto continuam usufruindo do luxo e fortunas incalculáveis. É a “economia FOTO: GUALTER NAVES

á no mundo muitas pessoas solidárias, que facilmente se mobilizam, sobretudo quando se trata de ajudar vítimas de tragédias, como a que aconteceu no final de 2015, quando distritos da cidade de Mariana e comunidades ribeirinhas do Rio Doce foram destruídos; pessoas, mortas brutalmente; meio ambiente devastado pela força do dinheiro, do lucro sem medida, transformado em lama de duas barragens da mineradora Samarco, controlada pela Vale/BHP Billiton, que se romperam e tudo enlamearam, rio abaixo, até chegar ao mar, no estado do Espírito Santo. Há no mundo muitas pessoas solidárias, que facilmente se mobilizam, sensíveis às agruras da vida humana, à pobreza, à falta de muitas coisas, de afeto, de boas palavras, de comida e bebida, de emprego, de lugar para morar, ficar, tratar-se. Logo se dispõem a ajudar, partilhar, socorrer com campanhas, espaços, doações, certo aconchego. São exemplares na assistência que os pobres precisam. Há no mundo 1% de pessoas egoístas, espertas, que acumulam mais de 50% de todos os bens do mundo, fazendo sobrar 50% a serem distribuídos para os outros 99% da população mundial. Insensíveis, destroem o planeta, desrespeitam a humanidade que há em cada ser humano, feito à imagem e semelhança de Deus, a quem não devotam respeito. A “responsabilidade social”, para uma parte de dirigentes de grandes corporações, não

DOM JOAQUIM Mol, recebendo o Prêmio Hugo Werneck em nome do Papa Francisco: por uma "economia com coração"

sem coração” de que fala o Papa Francisco, como voz que clama no deserto, feito João Batista. As nossas ações de solidariedade e de assistência aos pequeninos e mais pobres precisam crescer e se ampliar generosamente, na esperança de que todos os envolveremos e nos empenharemos, fortemente, na verdadeira repartição dos bens do mundo pela erradicação da pobreza. É uma bela missão para os discípulos de Cristo e para as mulheres e homens de boa vontade. 

(*) Bispo-auxiliar da Arquidiocese de BH e reitor da PUC Minas, em texto para a quarta edição do documento “Arquidiocese em Movimento 2015”.

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INOVAÇÃO AMBIENTAL

INOVAÇÃO E CRISE DE RECURSOS Como o investimento em soluções tecnológicas nacionais pode minimizar o impacto da crise hídrica e energética brasileira Iaçanã Woyames

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á alguns anos o Brasil sofre com a ameaça da crise hídrica e energética que acabou se concretizando de forma expressiva ano passado em estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2016, o cenário geral apresentou melhoras, mas continua sendo alvo de preocupações. Afinal, os dados mostram que as torneiras secas não são resultado apenas da falta de chuva. O esgotamento dos reservatórios tem origem também no descuido com as nascentes, no desperdício e na gestão inadequada desse precioso recurso. Muito se fala sobre as causas da escassez de água e, consequentemente, os altos custos da energia. Mas o que pode ser feito para solucionar e minimizar seus efeitos? Entre as várias respostas, um caminho apontado por especialistas nos últimos anos é a ino50  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

redacao@revistaecologico.com.br

vação ambiental. O professor Cláudio Valladares Pádua, reitor da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade e vice-presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), afirma que “o Brasil é um ‘case’ que deve ser examinado de perto no campo da ciência e da tecnologia. Inúmeras vezes em que tentou de forma ordenada e bem planejada avançar nesse campo, o país mostrou sua grande capacidade de encontrar boas soluções. Estamos vivendo uma crise hídrica e energética associadas a um desafio climático e de perda de biodiversidade globais, que requer a busca de mais um desses momentos de sucesso nacional. A superação de nossos desafios deve, sempre que possível, se dar com soluções científicas e tecnológicas nacionais. Precisamos arregaçar

as mangas e mostrar mais uma vez nossa competência”. João Pirola, gerente de Prospecção da INSEED Investimentos, empresa responsável pela gestão do Fundo de Inovação em Meio Ambiente (FIP INSEED FIMA), criado pelo BNDES, e que está em busca de empresas com tecnologias que promovam a redução do impacto ambiental, complementa reforçando que hoje no Brasil existem diversas tecnologias com alto grau de inovação. “Elas surgem tímidas, a partir de pesquisas científicas realizadas em universidades e laboratórios. São desenvolvidas a partir da perseverança de empreendedores em criar algo realmente novo, que resolva uma demanda do mercado e da sociedade. E, dado o desafio da escassez de recursos naturais, essas tecnologias já nascem com grande potencial para resolver


não apenas um problema brasileiro emergencial, como a crise hídrica e energética, mas para gerar impacto de longo prazo, em dimensões globais”, explica. A área de Prospecção da INSEED tem como papel buscar, analisar e efetivar o aporte de recursos do Fundo em empresas que atendam ao perfil procurado. João atua no planejamento e suporte de ações que atraiam empresas com esse perfil e na negociação das condições do investimento do Fundo junto aos empreendedores. Devido à atuação nacional, viaja constantemente pelo Brasil para conhecer empreendedores com muita vontade e capacidade de construir empresas de sucesso por meio da inovação. A seguir, ele relata vários cases de empresas que podem contribuir para solucionar algumas dessas questões. Confira:

REDUÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA NA AGROPECUÁRIA Outro problema que está na mira do FIMA em sua busca constante

ALEXANDRE ALVES: "Poder público desconhece soluções inovadoras"

FOTO: CLÁUDIO CAMAROTTA

FOTO: PEDRO QUEIROZ

MINIMIZAR O DESPERDÍCIO DE ÁGUA Analisando os problemas relacionados à crise de recursos versus respostas inovadoras encontradas no mercado brasileiro, o desperdício de água é um dos grandes gargalos. Para se ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera aceitáveis níveis de perdas de até 15% de

água, causadas por vazamento. Na Alemanha e Japão, o desperdício é de aproximadamente 8%, nos EUA, 15%. O índice mais baixo é em Tóquio, com 2%. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), ligado ao Ministério das Cidades, revelam que 37% de toda a água tratada e distribuída no Brasil se perde antes de chegar às torneiras dos consumidores. Mas como a inovação ambiental poderia contribuir para evitar isso? João Pirola cita empresas com soluções ligadas à área de inteligência artificial e reaproveitamento de água. “Criada pela Optimale, a ferramenta LeakNow utiliza inteligência artificial para detectar vazamentos e desvios em tempo real em adutoras, redes, ramais, conexões e reservatórios. Trabalha de forma integrada com os sistemas das concessionárias. A Águas Guariroba, concessionária do Grupo Aegea em Campo Grande (MS), adota a solução e conseguiu reduzir o índice de desperdício de água de 56%, em 2006, para 20%, em 2013.”

JOÃO PIROLA: "Tecnologias nascem com potencial de longo prazo"

REÚSO DE ÁGUA DAS CHUVAS Durante uma chuva intensa, um telhado de 100 m² recebe cerca de 15 m³ de água, que normalmente caem diretamente no solo, podendo gerar erosão e desperdício. O “ChoveChuva” é uma solução da empresa Hidrologia, de Nova Lima (MG). Eles criaram um dispositivo que não precisa ser conectado a fontes de energia e é instalado diretamente na calha da residência. Os resíduos são separados da água por turbilhonamento. A água ainda passa por pedras de calcário, por um clorador e por um filtro que retém partículas menores que um grão de talco. Ao fim do processo, a água pode ser armazenada em cisternas e aproveitada para diversos fins domésticos ou industriais, exceto para o consumo humano.

por soluções inovadoras é o alto consumo de água na agropecuária. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), no Brasil 72% da água captada para uso humano é destinada para irrigação, sendo 7% para uso industrial, 9% urbano e 12% na pecuária. “E no caso do agronegócio, as inovações no sistema de irrigação ajudariam a evitar uma grande dor de cabeça aos donos das lavouras e um alívio ao bolso dos consumidores na hora de pagar a conta no mercado”, lembra João. Entre as empresas que estão saindo na frente e podem contribuir nisso destaca-se a Irriger, de Viçosa (MG), que oferece sistemas inteligentes de gerenciamento da irrigação, que racionalizam o uso de água e energia, enquanto au-

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INOVAÇÃO AMBIENTAL

FONTES ENERGÉTICAS DE MENOR IMPACTO De um lado está a estiagem, que atinge a Região Sudeste há pelo menos três verões e afeta, por consequência, o potencial de geração hidrelétrica. Do outro, o alto custo financeiro e ambiental das termelétricas, já que essa foi a alternativa encontrada pelo governo atual para a geração de energia. Com isso, a eletricidade alcançou o custo médio mais caro da sua história, além de embutir o uso recorde de fontes campeãs em poluição atmosférica, como o óleo diesel e o carvão mineral. Para os caçadores de inovação ambiental do FIMA, parte da solução deste problema poderia vir da geração própria, ou da geração distribuída, que é quando consumidores industriais, comerciais e residenciais podem gerar pelo menos parte da energia de que necessitam. “Produzida de forma descentralizada, esse tipo de solução geraria melhoria na segurança do abastecimento (qualidade e constância) e maior previsibilidade dos custos”, explica João. O gás natural, por exemplo, é uma alternativa bastante viável para a geração distribuída em estados onde gás é barato e a energia, cara. Mas em um gerador eficiente, 52  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

APROVEITAMENTO FOTO: SOLAR ENERGY/DIVULGAÇÃO

mentam a produtividade. “Eles ajudam a planejar a decisão de irrigação, definir metas de desempenho de suprimento de água às culturas, gasto de energia e eficiência de funcionamento dos equipamentos de irrigação. Junto ao sistema informatizado é associado um conjunto de serviços de inteligência para ajudar os gestores a tomarem decisões mais assertivas sobre a irrigação, além de treinamento para as equipes que atuam diretamente nele”, reforça João.

Outro exemplo é o uso de painéis de silício para a captura de energia solar e transformação dessa em energia elétrica própria. A Solar Energy, empresa criada em Curitiba (PR), já desenvolveu uma solução completa para residências e empresas. Em seu sistema (foto), o excesso de energia solar gerado durante o dia é injetado na rede da concessionária em horários sem luz solar. Isso gera créditos para serem consumidos pelo usuário posteriormente, o que reduz a necessidade de consumir energia da concessionária. E que tal transformar resíduos em energia? As principais soluções encontradas no mercado com esse objetivo envolvem a maximização da geração de metano, gás com bom poder energético, produzido a partir de dejetos da produção de suínos e aves, resíduo sólido urbano, vinhaça de canade-açúcar e resíduos de indústria de alimentos. A Methanum, empresa de Nova Lima (MG), desenvolve tecnologias e soluções que associam o tratamento de efluentes e resíduos orgânicos à geração de energia, oferecendo soluções customizadas, de acordo com a demanda do cliente.

apenas 40% da energia total do combustível usado é efetivamente transformada em eletricidade. Os outros 60% representam energia perdida para o meio ambiente, principalmente em forma de calor. Atualmente, projetos combinam o processo de gerar energia elétrica, com o aproveitamento da energia térmica desperdiçada pelo gerador. A CPH Brasil, no Rio de Janeiro, é um exemplo de que a cogeração de energia tem potencial para alcançar até 90% de eficiência energética. Por causa disso, ela foi uma das empresas selecionadas pelo FIMA para receber investimento do Fundo. O aporte será de R$ 7,5 milhões e o objetivo do investimento é estruturar a CPH produtiva e comer-

cialmente e permitir que reforce sua estrutura de pesquisa e desenvolvimento para incrementar seu pipeline de produtos. COMO VIABILIZAR ESSAS SOLUÇÕES? Após conhecer tantas alternativas que poderiam solucionar, ou ao menos minimizar o impacto da crise hídrica e energética brasileira, uma questão permanece: o que falta para elas serem conhecidas, propagadas e adotadas de forma ampla? “Para a equipe do FIMA, um dos fatores que mais dificultam ou inviabilizam a contratação de soluções inovadoras por grandes empresas e poder público é o desconhecimento de que elas


FOTO: CPH BRASIL/DIVULGAÇÃO

existem e o receio de contratar soluções de empresas pequenas e ainda sem nome no mercado. Já o empreendedor dos pequenos negócios inovadores desconhece ou tem dificuldade de acesso às fontes de financiamento que poderiam ajudá-lo a alcançar outro patamar de negócios e, assim, acessar governos e grandes empresas”, explica Alexandre Alves, diretor da INSEED Investimentos. “Felizmente há um movimento crescente de abertura de grandes empresas para acolher propostas de pequenas companhias inovadoras, seja por meio de políticas internas que facilitam, ou ao menos viabilizam esse tipo de relação comercial, seja por outras formas mais estruturadas, que visam à criação de parcerias mais profundas e duradouras. As mais conhecidas são os concursos e a organização de rodadas de negócio para ouvir os empreendedores e suas novas propostas”, destaca. De forma geral, as empresas inovadoras em fase inicial precisam de recursos financeiros e muita gestão estratégica para crescer e alcançar todo o seu potencial em mercados mundiais. Entre as fontes de recursos disponíveis, a que melhor se encaixa ao perfil de empresas com soluções tecnológicas inovadoras de alto impacto e grande potencial de crescimento em nível global é o Venture Capital, também chamado de Capital Empreendedor. “É uma das formas de captação de recursos na qual investidores, em troca de participação acionária, tornam-se sócios dos empreendedores. O Capital Empreendedor se aplica a todo empreendedor que tenha um negócio com diferencial competitivo forte, baseado em inovação, e esteja em busca de um crescimento acelerado”, diz Alexandre.

GERADORES da CPH Brasil alcançam até 90% de eficiência energética

COMO FUNCIONA O CAPITAL EMPREENDEDOR? Pode parecer complicado, mas não é. “Os investidores aportam seus recursos em fundos de investimentos com a expectativa de obter retornos financeiros posteriores. Esses fundos, por sua vez, otimizam a relação entre o risco e o retorno do capital dos investidores. Fazem isso aportando não apenas capital, mas também governança e gestão nas empresas investidas. Em troca, as empresas “vendem” uma participação societária minoritária ao fundo de investimento. Essa transação permite que a empresa tenha recursos financeiros e gerenciais para desenvolver-se e implementar um processo em grande escala dentro de um período de tempo definido. A participação dos fundos de investimento no processo é a garantia de que os investidores terão retornos esperados”, explica João Pirola. E é assim que funciona o Fundo de Inovação em Meio Ambiente (FIMA), criado pelo BNDES e gerido pela INSEED Investimentos. Ele possui R$ 165 milhões de capital para ser investido em até

20 empresas até o fim de 2016. O perfil das empresas procuradas pelo FIP INSEED FIMA são: instituições estabelecidas no Brasil, que desenvolvam tecnologias inovadoras e que tenham alto potencial de crescimento. Negócios relacionados à promoção da sustentabilidade e à redução de impacto ambiental nas cadeias de valor. E empreendimentos que incorporem inovação em suas tecnologias, produtos ou processos para favorecer o desenvolvimento de ciclos produtivos sustentáveis. Desde 2012, a INSEED Investimentos, gestora do Fundo, prospectou 1.271 empresas, das quais 496 passaram do crivo inicial, 84 foram analisadas em profundidade e 12 desenvolveram seu projeto de investimento. Já foram investidos cerca de R$ 30 milhões em seis empresas. Os recursos são destinados a ampliar a capacidade produtiva, desenvolver recursos humanos e expandir mercados.  SAIBA MAIS

Para conhecer o FIP INSEED FIMA e submeter seu negócio para receber investimento, acesse: www.inseedinvestimentos.com.br/fima

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EMPRESA & MEIO AMBIENTE

FOTO E ARTE: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO

MINERAR com responsabilidade socioambiental é um compromisso assumido pela Anglo American

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A SEGURANÇA EM

PRIMEIRO LUGAR Anglo American mantém abertas as portas do Minas-Rio e renova o compromisso de se tornar o modelo de mineração sustentável a que se propôs

O

s desafios e avanços da implantação e operação de um dos maiores empreendimentos de mineração do mundo – o Minas-Rio – seguem fortalecendo e motivando a atuação da Anglo American em Minas Gerais. As diretrizes seguidas diariamente em todo o empreendimento, da mina e planta de beneficiamento localizadas em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, em Minas Gerais, até o embarque no Porto do Açu, em São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro, comprovam o compromisso da empresa de

ser cada vez mais reconhecida como uma mineradora segura, responsável e sustentável. Num rápido retrospecto – e sem se furtar a reconhecer o grande aprendizado da empresa após superar os inúmeros desafios que marcaram o projeto, desde o começo de sua implantação, em 2008 –, o presidente interino da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil, Pedro Borrego, reafirma o ponto forte da Anglo American: o seu compromisso permanente de minerar com responsabilidade e sustentabilidade,

ajudando, assim, a construir uma imagem mais positiva do setor perante toda a sociedade. Em tom otimista, ele relembra o bem-sucedido primeiro embarque de minério de ferro da companhia, ocorrido em outubro de 2014: “Essa conquista se deu dois meses antes do planejado e com uma economia de US$ 0,4 bilhão, totalizando um aporte de US$ 8,4 bilhões na implantação de todo o sistema. Nossa meta é continuar otimizando nossa operação no atual cenário de preços do minério de ferro e alcançar, neste ano, uma pro-

VISÃO GERAL DO MINAS-RIO

33 municípios

2 estados 2 MAIO/JUNHO DE 2016 | ECOLÓGICO  55


EMPRESA & MEIO AMBIENTE

PORTO de Açu, em São João da Barra (RJ), onde o minério é embarcado

dução de 15 a 18 milhões de toneladas. Acabamos de alcançar a marca de 100 embarques de minério de ferro exportando para a Ásia, Europa e Américas”, pontua. GEOLOGIA FAVORÁVEL Além de se apoiar na competência técnica e na dedicação de seus dois mil empregados, a Anglo American aposta num diferencial oferecido pela própria natureza para manter a competitividade do seu negócio. Trata-se da sua enorme reserva de minério de ferro – 2,8 bilhões de toneladas –, distribuída em uma formação geológica rica e de fácil processamento. Isso porque há grande quantidade de minério friável, mais fácil de ser beneficiado, além de uma baixa relação minério versus estéril, o que se traduz em menores custos de operação e produção. “A qualidade do nosso ativo, do nosso time e do nosso produto nos coloca em situação competitiva no mercado. Nós acreditamos no Brasil e entendemos que superar desafios faz parte do nosso negócio. O Minas-Rio é grande e complexo e a nossa

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missão é operá-lo primando pela segurança e pela sustentabilidade”, destaca Borrego. OBRA GRANDIOSA Alguns números são emblemáticos e atestam a grandiosidade construtiva do Minas-Rio. A implantação da mina a céu aberto e da planta de beneficiamento de minério (ambas em MG), bem como a construção do mineroduto de 529 quilômetros – que atravessa 33 cidades mineiras e fluminenses e permite escoar a produção pelo Porto do Açu –, demandaram 170 milhões de horas/ homem trabalhadas. Esse tempo seria suficiente para erguer sete Burj Khalifa, considerado o arranha-céu mais alto do mundo e localizado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. No projeto da Anglo American, foram consumidos, ainda, 600 mil metros cúbicos de concreto, volume que permitiria construir dois estádios de futebol do tamanho do Maracanã, no Rio. Além de 19 mil toneladas de aço, o equivalente a três torres Eiffel, em Paris.

FIQUE POR DENTRO

SOBRE O MINAS-RIO  Sua produção em 2015 foi de 9,2 milhões de toneladas e a previsão para 2016 é produzir de 15 a 18 milhões de toneladas de minério de ferro.

 Ele inclui uma mina e uma unidade de beneficiamento em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, em MG; e um mineroduto com 529 km de extensão, que atravessa 33 municípios, chegando ao terminal de minério de ferro do Porto do Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro, no qual a Anglo American é parceira da Prumo Logística, com 50% de participação.

ÁGUA É PRIORIDADE Diante da preocupação com a escassez de água, em especial no Sudeste brasileiro, o executivo também dá o seu recado sobre o tema. Lembra


FOTOS: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO

PLANTA de beneficiamento em Alvorada de Minas (MG)

que, desde o início da implantação do Minas-Rio, a Anglo American mantém uma equipe técnica dedicada à gestão da água: “Estamos atentos e preparados. Temos expertise e estamos compartilhando tecnologia e conhecimento a todo o momento”. O Minas-Rio reutiliza uma quantidade superior a 80% de toda a água necessária em seu processo produtivo na planta de beneficiamento. Além disso, o empreendimento recupera da barragem de rejeitos a maior parte da água utilizada no transporte e deposição do rejeito. A empresa também tem como meta reutilizar 100% do recurso no processo de filtragem no porto. Ele destaca, ainda, o investimento feito na planta de filtragem do terminal portuário, que conta com 12 filtros cerâmicos, em substituição aos convencionais filtros a vácuo. “A tecnologia de clarificação que adotamos permite que a água seja devolvida à natureza em excelentes condições. Ao fim do processo, tem-se uma água que não é potável, mas pode servir a vários fins industriais. Além disso, eles oferecem um diferencial significati-

vo para o processo de filtragem do minério de ferro: uma economia de 95% de energia elétrica em relação ao método convencional. Quando o Minas-Rio foi concebido, a ideia era que essa água fosse reaproveitada no próprio complexo portuário. Infelizmente, essa opção não se viabilizou porque ainda não existem muitas empresas instaladas no Porto do Açu para que essa água seja reaproveitada em outros processos. Mas estamos buscando alternativas.” Em relação à captação para uso industrial, em Conceição do Mato Dentro, Borrego esclarece que os limites de outorga estão sendo cumpridos à risca. E que toda a captação de água é feita abaixo dos pontos destinados ao abastecimento das comunidades locais. “Conforme previsto na outorga, se o volume de água na Bacia do Rio do Peixe, por exemplo, chegar a um nível mais baixo do que o previsto, somos obrigados a reduzir a nossa captação. O abastecimento público é a prioridade. Isso não se questiona.” A Anglo American é participante do “Pacto de Minas pelas Águas”.

ENTENDA MELHOR  Localizada em Conceição do Mato Dentro, a mina do Minas-Rio produz um material rico em ferro. Para atingir a qualidade e formato ideal para comercialização, esse material bruto, que é extraído em blocos, passa por vários processos.  A transformação ocorre na planta de beneficiamento, onde os blocos têm seu tamanho reduzido e as impurezas retiradas até atingirem o tamanho (granulometria) e a qualidade (propriedades químicas) adequados ao seu uso nos processos siderúrgicos de produção de aço.  A planta de beneficiamento é composta por vários prédios nos quais o minério passa por processos secos (britagem e peneiramento) e úmidos, que empregam água, como a moagem, a flotação e o espessamento.

ORGULHO INSTITUCIONAL A capacitação profissional de moradores de Conceição do Mato Dentro

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FOTO: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO

EMPRESA & MEIO AMBIENTE

ORGULHO DE SER ANGLO AMERICAN: a mineradora prioriza a contratação de mão de obra local na região de Conceição do Mato Dentro

e região é outro motivo de orgulho para a Anglo American. Até agora, foram formados quase 600 estudantes, em cursos de mecânico, eletricista, soldador e operador de equipamento de mina, entre outros. E para fomentar a economia do município e de outras localidades vizinhas, também foi criado um Programa de Desenvolvimento de Fornecedores Locais, o Promova, totalizando 140 empresas beneficiadas. MODELO PARA MINAS Pedro Borrego esclarece que, em seus mais de 25 anos de trabalho na mineração, essa é a primeira vez que teve a chance de começar um projeto do zero (greenfield), situação que traz enormes desafios, mas apresenta também novas e valiosas oportunidades de amadurecimento e de aprendizado. “Estou convicto de que estamos no caminho certo. Minerar com segurança e sustentabilidade não é algo

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novo para nós. Estamos há quase 100 anos no mercado global e há mais de 40 anos no Brasil. Mudar a imagem que as pessoas têm do nosso setor é, sem dúvida, um desafio permanente. É por isso que estamos aqui, com total transparência, para mostrar a todos o que estamos fazendo.” TRABALHANDO JUNTOS Consciente da força que tem a opinião pública e certo de quem emite a verdadeira licença de operação para qualquer projeto, seja ele de mineração ou não, é a sociedade, o presidente interino conclui: “Queremos avançar a cada dia, sempre apoiados em nossos valores: segurança, responsabilidade, inovação, integridade, colaboração, preocupação e respeito”.

SAIBA MAIS

www.angloamerican.com.br

FIQUE POR DENTRO SOBRE A ANGLO AMERICAN Seu portfólio de operações e recursos de alta competitividade mundial fornece as matérias-primas para atender às crescentes demandas voltadas para o consumidor, tanto das economias desenvolvidas como em desenvolvimento. A companhia utiliza as mais recentes tecnologias para encontrar novos recursos, planejar e desenvolver suas minas e extrair, processar, transportar e comercializar os seus produtos – desde diamantes (por meio da De Beers) até platina, outros metais preciosos e cobre - para seus clientes ao redor do mundo. No Brasil, a Anglo American está presente com quatro produtos: minério de ferro, com o Minas-Rio; níquel, com operações nos municípios de Barro Alto e Niquelândia, em Goiás; nióbio, presente nos municípios de Catalão e Ouvidor, em Goiás; e fosfato, com operações nos municípios de Ouvidor (GO), Catalão (GO) e Cubatão (SP).


A mina a céu aberto operada pela Anglo American na região de Conceição do Mato Dentro e tem 12 km de extensão. Está localizada na Serra do Sapo e integra a parte sul da Cadeia do Espinhaço. Sua vida útil é estimada em 45 anos. Sua capacidade máxima de produção é de 26,5 milhões de toneladas, numa dinâmica que envolve caminhões fora de estrada, escavadeiras, perfuratrizes para desmonte de rochas e carregadeiras. Tratores também ajudam nas obras de infraestrutura e manutenção dos acessos. A organização do trânsito, em especial dos veículos fora de estrada, é foco central do plano de segurança da companhia. Para demarcar as vias de acesso à mina e ordenar a circulação de veículos foram erguidas leiras centrais – muretas de terra – destinadas a evitar acidentes, principalmente com colisões frontais. “A segurança é a chave do nosso desempenho. Em todas as nossas atividades, sendo elas executadas por empregados próprios ou terceirizados, a segurança está em primeiro lugar. Esse é um trabalho diário que precisamos realizar para que todos possam voltar para casa da mesma forma que chegaram no início do seu turno. Acreditamos que a zero lesão é possível.” enfatiza Rodrigo Vilela, diretor de Operações da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American. MOINHOS VERTICAIS No quesito eficiência energética o uso de moinhos verticais – para remoagem do concentrado de flotação – assegura uma redução superior a 30% no consumo de energia elétrica, se comparado à moagem convencional com o uso de bolas. De acordo com Rodrigo Vilela, a adequação da granulometria do produto, ao final do processo, é essencial para assegurar o seu bombeamento seguro, via mineroduto, até o Porto do Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro.

FOTO: RONALDO GUIMARÃES

Ecoeficiência

RODRIGO VILELA: "A segurança é a chave do nosso desempenho"

MINERODUTO Alberto Vieira, diretor de Projetos da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American, lembra que a polpa de minério de ferro é impulsionada até o Porto do Açu por duas estações de bombas. O material “viaja” a uma velocidade média de 6 km/h, e demora cerca de quatro dias para cumprir todo o seu percurso de 529 km. Como há diversas variações de terreno, com áreas planas e montanhosas – entre elas a Serra da Mantiqueira –, em alguns trechos é preciso impulsionar e, em outros, frear o material transportado. No segundo caso, esse papel é desempenhado por uma estação de válvulas. Para facilitar o transporte e minimizar os impactos ambientais, foram contruídos HDDs (Horizontal Directional Drilling ou furo direcional horizontal), túneis e passagens aéreas. A tecnologia é adotada para que o mineroduto atravesse rios, rodovias e montanhas com segurança. Os HDDs são feitos por equipamentos de perfuração, resultando em um furo com folga para a passagem da tubulação e evitando a mo-

vimentação de grandes quantidades de terra. O fluxo de transporte do material ao longo de todo o mineroduto é monitorado 24 horas, em tempo real. Periodicamente, um equipamento com sensores, chamado pig, e um software especial faz a varredura de todo o sistema, identificando qualquer possível anormalidade ou falha. PRÉ-HISTÓRIA PROTEGIDA A conservação de sítios arqueológicos dentro da área do empreendimento é outro diferencial do Sistema Minas-Rio. Um acordo entre a Anglo American e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ainda na fase do licenciamento ambiental, assegurou a demarcação, a proteção e o estudo de ocupações pré-históricas importantes, como a Lapa do Fogão. Um claro exemplo de que é possível harmonizar a implantação de projetos industriais com a conservação de relíquias arqueológicas. Além de permitir a produção de conhecimento, por meio da publicação de livros e de materiais educativos que ajudam a divulgar a importância paisagística, cultural e histórica de toda a região.

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FOTOS: RONALDO GUIMARÃES

EMPRESA & MEIO AMBIENTE

A SEDE do projeto tem salas de exposição, laboratório e viveiro de mudas e reúne dados sobre a geologia das serras do Sapo e Ferrugem, bem como vestígios pré-históricos descobertos na área do Minas-Rio

Estação Ciência: exemplo de educação ambiental

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queijo –, além de registros audiovisuais sobre tradições e meios de produção das comunidades locais, como o artesanato em bambu. RECOMPOSIÇÃO VEGETAL O viés da sustentabilidade está presente em toda a construção, com pisos permeáveis, painéis para a captação de energia solar e sistema FOTO: REPRODUÇÃO

O projeto de educação ambiental Estação Ciência é outro destaque surpreendente do Minas-Rio. Vencedor do “VI Prêmio Hugo Werneck” na categoria “Melhor Projeto de Parceiro Sustentável”, foi construído no Km 23 da Rodovia MG-010 e visa resgatar e disseminar conhecimento sobre a natureza, a cultura e a história da região. Reúne e preserva dados sobre a geologia das serras do Sapo e Ferrugem, bem como vestígios pré-históricos descobertos na área do empreendimento da Anglo American. Com oito mil metros quadrados, a Estação Ciência conta com auditório, salas de exposição, galpão para oficinas, laboratório, anfiteatro e viveiro de mudas. O jardim temático, com espécies de Campo Rupestre, inclui plantas típicas, como a canela-de-ema. Há, ainda, um rico acervo composto por objetos de uso das populações locais – entre elas formas de madeira usadas para a fabricação de

CANELA-DE-EMA

para coleta de água da chuva, que é usada na limpeza e na irrigação dos jardins. Inaugurada em março de 2014, a Estação Ciência já recebeu mais de sete mil visitantes, a maioria deles, alunos de escolas locais, mas também empregados da empresa e suas famílias”, frisa Aldo Souza, diretor de Saúde, Segurança e Desenvolvimento Sustentável. Durante a implantação do espaço, mais de 900 espécies da fauna foram monitoradas e produzidas mais de 350 mil mudas de árvores nativas. E o programa para a reintrodução de espécies típicas de Campo Rupestre tem gerado resultados animadores. Desenvolvido em parceria com as universidades federais do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, ele conta com um percentual de 80% de reintrodução de espécies bem-sucedida. Entre elas, estão cinco espécies de canela-de-ema encontradas na região, que estão sendo reproduzidas


FOTOS: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO

FIQUE POR DENTRO A concepção dos espaços e a disposição de todo o acervo da Estação Ciência foram idealizadas pela museóloga Célia Corsino, diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan e responsável pelo projeto do Museu de Artes e Ofícios, localizado na Praça da Estação, em Belo Horizonte. Atualmente, as atividades são mantidas com a curadoria do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas. Já os serviços de manutenção, jardinagem e atendimento/receptivo de estudantes e visitantes são oferecidos com o apoio da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

“Já recebemos mais de sete mil visitantes, a maioria deles, alunos de escolas locais.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

Aldo Souza

por semeadura. “No viveiro também são reproduzidas sementes e mudas de árvores da Mata Atlântica e do Cerrado, além de diversas atividades envolvendo a doação e o plantio de mudas. Hoje, essa demanda é atendida de forma pontual, mas pretendemos ampliar nossa atuação, por meio de parcerias com escolas, prefeituras e ONGs locais”, explica Souza. ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA Estudos feitos ao longo do processo de licenciamento ambiental estão

sendo transformados em livros, que são distribuídos em escolas e outras entidades parceiras. Um exemplo é o livro “Arqueologia e História – Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro e Dom Joaquim”, editado em 2013. Com fotos de Roberto Murta, a publicação registra os primeiros resultados das pesquisas arqueológicas feitas nas três cidades da área de influência direta do Minas-Rio. Objetos encontrados durante as escavações também estão em exposição na Estação Ciência. Alguns foram enviados para datação de carbono nos Estados Unidos e atestam que parte da ocupação ocorrida em Conceição do Mato Dentro remonta há mais de 10 mil anos. São vestígios importantes para a arqueologia nacional. Como comparação, Luzia, o fóssil humano mais antigo do Brasil, foi datado em 11,5 mil anos. O esqueleto foi escavado em 1975 na Lapa Vermelha IV, em Pedro Leopoldo. Uma das áreas protegidas pelo Minas-Rio é a Lapa do Fogão. Esse sítio arqueológico foi assim batizado por causa da existência de um fogão a lenha no local. Apenas lá foram encontradas mais de 44 mil peças

arqueológicas. Uma parte dessas peças está exposta na Estação Ciência e o restante está na reserva técnica do museu CAALE – Centro de Arqueologia Annete Laming Emperaire em Lagoa Santa, uma instituição parceira da Anglo American. A reabilitação de toda a área do empreendimento é uma diretriz estratégica da Anglo American. Tanto que a recomposição vegetal é feita em paralelo com a operação do empreendimento. Existe uma caixa de ferramentas especialmente desenvolvida pelo Grupo, que é referência internacional nas ações de fechamento de mina. Um caminho seguro, a empresa garante, com todos os passos e etapas essenciais para se recuperar, ao máximo possível, as paisagens naturais.

SAIBA MAIS

As visitas à Estação Ciência podem ser feitas de terça a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 16h. Grupos com mais de 15 pessoas precisam ser agendados com antecedência. Informações: estacaocienciaangloamerican@ angloamerican.com

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EMPRESA & MEIO AMBIENTE

DUAS PERGUNTAS PARA...

PEDRO BORREGO

Presidente Interino da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American

Segurança, respeito e sustentabilidade Desde o início da implantação, o Minas-Rio enfrentou uma série de desafios, inclusive no diálogo com as comunidades locais e o Ministério Público. Qual é o clima atual nos relacionamentos mantidos pela Anglo American tanto em Conceição do Mato Dentro quanto no restante do estado? Nos últimos anos, evoluímos bastante em todos os nossos relacionamentos. Temos investido um percentual altíssimo de horas de trabalho para ampliar e fortalecer o diálogo com os mais diferentes setores. Continuamos nos reunindo com representantes das comunidades e das prefeituras locais, e também com aqueles ligados aos governos estadual e federal, apresentando a realidade do nosso empreendimento. É essencial que as pessoas conheçam e entendam o nosso trabalho, em especial a capacidade que temos de agregar valor à mineração, ajudando na formação profissional e na melhoria das condições de vida das pessoas. Também temos feito isso em nível internacional. Ano passado, estivemos em Washington (EUA), em um evento de sustentabilidade do Banco Mundial, onde apresentamos a nossa experiência com o Minas-Rio para empresários de todo o mundo e este ano participaremos novamente. FOTO: FLÁVIA VALSANI

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QUEM É ELE

Pedro Borrego ingressou na área de Serviços Geológicos em 1987, quando atuou na Força Aérea do Serviço Nacional Sul-Africano como engenheiro geólogo na unidade Dolomite, em Pretória (África do Sul). Em janeiro de 1989, iniciou sua carreira na Anglo American onde começou como geólogo na mina de ouro em Vaal Reefs Gold. Entre 1996 e 2000, ele foi diretor-geral da Anglo American em Moçambique em apoio às empresas do grupo. Entre 2000 e 2005, foi Diretor Executivo de Informação na AngloGold Ashanti Limited e a partir de maio de 2005, após várias promoções, tornou-se vicepresidente de RH e Administração para a AngloGold Ashanti Limited na região sul-americana, com sede em Nova Lima (Minas Gerais, Brasil). Pedro Borrego juntou-se à unidade Minério de Ferro Brasil em maio de 2008, como responsável pelas áreas de RH, Comunicação, Segurança, Desenvolvimento Sustentável e Social e Relações Governamentais, e é membro do Comitê Executivo da empresa. Em janeiro de 2016, ele foi nomeado presidente interino da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil.


FOTOS: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO

PRIMEIRO embarque de minério de ferro do Minas-Rio, em outubro de 2014. O empreendimento alcançou, recentemente, o seu 100º embarque

Que legado a Anglo American espera deixar? Como a empresa quer ser lembrada por sua atuação em MG? A Anglo American, desde o início, se preocupa em atuar de forma sustentável, respeitando o meio ambiente e as comunidades vizinhas. O desenvolvimento sustentável, um dos pilares de atuação da companhia,

baliza a definição das nossas estratégias e subsidia todos os nossos processos de tomada de decisão. Temos como visão “sermos parceiros do futuro”, e é esse o legado que queremos deixar: contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país e, em especial, das comunidades onde atuamos. Temos nos empenhado para cumprir esse papel por meio de investi-

mentos em áreas que são fundamentais para a sociedade, como a geração de emprego e renda, educação, saúde, infraestrutura, segurança pública e meio ambiente. Nós levamos, por exemplo, o Senai para Conceição do Mato Dentro e já formamos quase 600 profissionais. Esse é o tipo de investimento que nos orgulhamos em fazer, que trará uma contribuição real e duradoura para a população. 

Ernest Oppenheimer foi um empresário de origem alemã que construiu, na África do Sul, um império baseado na extração de diamantes e ouro. Quinto filho de uma família judaica, ele viveu os horrores da Primeira Guerra Mundial e estabeleceu-se na Inglaterra. Em 1931, transferiu o controle dos negócios para o seu filho Harry Oppenheimer (1908-2000) que, anos depois, foi sucedido por Nicky Oppenheimer. Atualmente, Nicky vive em Johannesburgo. Segundo Ernest, “a missão do nosso Grupo é, e continuará sendo, prover lucro aos nossos acionistas, mas fazê-lo de forma a trazer uma real e duradoura contribuição às comunidades nas quais operamos”.

FOTO: REPRODUÇÃO

O RECADO DO GRUPO

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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

ELE, O SR.

VALTER ZAP

D

ia desses meus ouvidos cansados de tanto absurdo foram brindados com um absurdo inesperado. Agora foi o jornalista Ricardo Boechat. Ele disse algo do tipo: “Bloqueia mesmo o WhatsApp, eles desrespeitaram a lei, precisam ficar bloqueados e pronto! Quem quiser continuar a usar aplicativo dessa natureza, que use o Telegram!”. Façamos a anatomia do absurdo. Eu, que trabalho há mais de 20 anos com inclusão digital, afirmo que as coisas não funcionam assim. Tomemos o exemplo do João, um nome imaginário para meu pedreiro real que conversa com seus clientes pelo aplicativo. João contrata e descontrata, combina e descombina pelo celular, sempre no WhatsApp. João não instalou o software. Alguém instalou para ele. Mais trivial que pareça ser, boa parte da gente simples do mesmo tamanho que não tem mais telefone fixo e que descobriu o quanto economiza usando o seu Valter, como carinhosamente apelidei o dito cujo, sim, Valter Zap, ele mesmo, aceitou ajuda do filho, do sobrinho, de qualquer um mais jovem que meteu a candonga a funcionar num passe de mágica. Aí vem um jornalista que eu até admiro, diz que o João sabe instalar o Telegram e avisa todo mundo de sua rede para instalar também. E todos viverão felizes para sempre, condenando aos píncaros do inferno o Bill Gates, o Zuckerberg e o Steve Jobs, que até já deve estar lá, a julgar pelas aparências, fazendo companhia ao tinhoso - Deus o livre! Não funciona assim, gente! Não dá para brincar com a vida do povo simples que depende de ajuda familiar para usar tecnologia. É assim na minha família e, eu garanto, na sua também. Ninguém precisa ir para o inferno junto com os barões da tecnologia, isso não! Queria ver bloquear uma estrada porque uma concessionária não quer fornecer a foto do ladrão que passou no pedágio, isso eu queria! A tecnologia está em todos os lugares e tem todos os sabores. E entrará cada dia mais na vida das pessoas sem que percebam. Só que ela, só ela, tem uma chavinha que pode, aqui e ali, ser desligada, parando todo mundo, parando o mundo! Já que

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tem a chave, o juiz usa. Afffff! Sejamos sérios, gente! Tecnologia é um bem do povo. Prendam os desmandantes! Multem os desobedientes, mas, façam-me o favor, não mexam no queijo em que se transformou a tal da internet. Este sou eu, cheio de indignadas exclamações! 

TECH NOTES l WhatsApp ou Telegram?

http://goo.gl/kz50qw

l Sobrevivendo ao bloqueio?

http://goo.gl/vvxCR7

l Quem se incomoda de verdade

com o WhatsApp? http://goo.gl/e5Im6J

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.



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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - MADEIRA CERTIFICADA

CONSUMO RESPONSÁVEL É

A CHAVE DO EQUILÍBRIO Extração responsável de madeira e de outros produtos de origem florestal, respeitando a capacidade de reposição da natureza, cria incentivo para a sua sobrevivência. Consumidor pode fazer a sua parte, optando por produtos certificados Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

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resentes em 31% da superfície terrestre, as florestas abrigam grande parte da biodiversidade e dos recursos vitais do planeta. No Brasil, mais da metade do território é coberto por florestas, com 60% desse total sendo formado pela Amazônia, totalizando cerca de 350 milhões de hectares. Além de essenciais ao equilíbrio climático, as florestas também fornecem matéria-prima para inúmeros produtos e alimentos de amplo uso no dia a dia de toda a humanidade. Em nossas casas, seus produtos estão presentes no telhado, portas, janelas, móveis, papéis, lápis, embalagens, utensílios de decoração e ainda sob a forma de alimentos, tais como a castanha-do-pará e outros frutos amazônicos, além da erva-mate, espécie típica da Mata Atlântica. Mas, infelizmente, o valor das florestas está longe de ser reconhecido e protegido na mesma proporção de sua importância para a manutenção da vida humana – em equilíbrio com a conservação do planeta. Uma das principais “contribuições” brasileiras para o aumento da temperatura da Terra é exatamente a destruição das florestas. Entre as atividades humanas que provocam o aquecimento global – e consequentemente as mudanças climáticas –, estão o desmatamen-

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to, a queima de combustíveis fósseis (derivados do petróleo, carvão mineral e gás natural) para geração de energia, as atividades industriais e os transportes. A elas se somam a conversão e as mudanças na forma de uso do solo, a agropecuária e o descarte de lixo. Conforme dados da ONG WWFBrasil, as mudanças no uso do solo e o desmatamento nas diferentes regiões são responsáveis pela maior parte das emissões brasileiras e fazem do Brasil um dos líderes mundiais em emissões de gases de efeito estufa (GEE), especialmente de gás carbônico (CO²). Isso acontece porque as áreas de florestas e os ecossistemas naturais são grandes reservatórios e sumidouros de carbono, por sua capacidade de absorver e estocar CO². Mas quando ocorre um incêndio florestal ou uma área é desmatada, esse carbono é liberado para a atmosfera, contribuindo para o efeito estufa. Vale ressaltar, ainda,

que as emissões de GEE por outras atividades, tais como agropecuária e geração de energia, vêm aumentando consideravelmente ao longo das últimas décadas. MATÉRIA-PRIMA RENOVÁVEL Portanto, quando se fala em iniciativas para conter as avanços das mudanças climáticas, é essencial considerar as ações voltadas para o uso de madeira certificada. Com a missão de difundir e facilitar o manejo sustentável e seguro das florestas ao redor do mundo, o FSC – Forest Stewardship Council® (em português, Conselho de Manejo Florestal), com sede em Bonn, na Alemanha, está presente em mais de 80 países e é considerada uma das entidades mais atuantes do Brasil. Sob o ponto de vista ambiental e social, a madeira nativa ou plantada com o selo FSC é mais vantajosa do que outros materiais de construção civil, como aço, cimento e plástico. Ao contrário desses materiais, a matéria-prima florestal é renovável e também contribui para a geração de renda e a valorização da floresta, fazendo com que se mantenha de pé e conservada. É importante destacar, ainda, que toda madeira certificada é legal, mas nem toda madeira legal é certificada. Madeira nativa legal é aquela extraída da floresta median-


ENTENDA MELHOR

VOCÊ SABIA? Que a população mundial já consome mais de um 1/4 acima do que o planeta pode naturalmente repor? E que 15 dos 24 serviços ambientais vitais prestados pela natureza, tais como produção de água, garantia de equilíbrio climático e oferta de solos para a produção de alimentos, estão em forte declínio, segundo dados da ONU?

l Ao diferenciar produtos florestais que respeitam o meio ambiente, os trabalhadores e o bem-estar das comunidades, o selo FSC subsidia decisões de compra por consumidores e empresas que buscam novas referências, além do preço, prazo e qualidade. Isso é essencial. Afinal, a força do consumo nunca esteve tão atrelada às questões ambientais como hoje. l É necessário obter matériaprima para indústrias, produzir alimentos, construir moradias e gerar energia com redução de impactos ao equilíbrio do planeta e menor desigualdade no acesso aos recursos naturais.

te um plano de manejo aprovado pelo órgão ambiental competente. No transporte até o comprador, o produto precisa ter a documentação emitida pelo sistema de controle do governo. Já a madeira certificada pelo FSC é obtida a partir de critérios ambientais, sociais e econômicos que são mais rígidos e abrangentes do que os exigidos pela lei, além de ser submetida a auditorias independentes periódicas. Na prática, compradores optam pela certificação também como garantia de legalidade, porque nem sempre a madeira vendida como “legal” teve a sua exploração autorizada. Em muitos casos, ela é extraída de maneira predatória de áreas proibidas, como terras indígenas e reservas ecológicas. O produto irregular chega ao mercado, porque o sistema de controle do governo que emite a documentação para o transporte é

precário e sujeito a fraudes. PANORAMA PREOCUPANTE Segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), entre fevereiro e março deste ano foram registrados alertas de desmatamento em 213 km² de floresta, o equivalente a um aumento de 113% em relação ao mesmo período de 2015. Já a degradação teve um aumento ainda mais assustador – de 339% –, com alertas encontrados em 281 km². A degradação florestal, explicam os especialistas do Imazon, é causada pelo corte seletivo de árvores de interesse comercial de maneira exploratória e ilegal e também por queimadas intencionais. Esse processo enfraquece a floresta, diminuindo a sua capacidade de estocar carbono e conservar a biodiversidade, comprometendo assim as suas funções originais.

l Nesse contexto, o aumento da população mundial impõe novos e sérios desafios. Em todo o mundo, cerca de três bilhões de novos consumidores de classe média pressionarão os recursos naturais, nos próximos 25 anos, exigindo soluções e produtos sustentáveis. l Segundo a ONU, em 20 anos o crescimento econômico global elevou em 36% as emissões de gases de efeito estufa, ocasionando a perda de 12% da biodiversidade. l A preferência por madeira nativa certificada gera renda para as populações da Amazônia e evita que se derrubem árvores indiscriminadamente para implantação de pastagens e estabelecimento de outras atividades econômicas. l No Brasil, além do sistema FSC, há ainda a certificação do Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor). Criado em 2002, ele segue critérios e indicadores nacionais prescritos nas normas elaboradas pela ABNT e integradas ao Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade e ao Inmetro.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - MADEIRA CERTIFICADA O QUE É A FSC? É um sistema de certificação florestal internacionalmente reconhecido, que identifica, por meio de sua marca, produtos originados do bom manejo florestal. Reconhecido mundialmente, o selo FSC atesta que a madeira e outros produtos não madeireiros têm como origem a produção responsável na floresta, dentro de regras que reduzem danos e permitem a regeneração do que foi explorado.

QUAIS SÃO AS SUAS VANTAGENS? Para os produtores florestais l Preços melhores: a procura por madeira certificada é grande e aumenta a acessibilidade ao mercado internacional, especialmente europeu. Hoje, países como Holanda preferem importar madeiras certificadas FSC do que de outras fontes. l Aumento da produtividade: trabalhadores treinados em técnicas de manejo florestal reduzem o desperdício na floresta, já que não esquecem árvores cortadas em campo, não permitem que as árvores rachem no momento do corte e reduzem o desgaste de máquinas e equipamentos. l Melhoria de imagem: para empresas que trabalham com o setor madeireiro, o certificado FSC traduz a responsabilidade socioambiental com o manejo da floresta. Para os beneficiadores e revendedores l Garantia de origem: ao comprar produtos certificados, a empresa sabe que a madeira que está consumindo provém de uma floresta bem manejada e, portanto, não está contribuindo para a exploração predatória dos recursos florestais. l Reconhecimento do mercado: um número crescente de consumidores conscientes estão dando preferência aos produtos que têm selo: seja piso, papel, lápis, porta, móvel ou até casa pré-fabricada. Para as empresas exportadoras, o selo pode aumentar a acessibilidade ao mercado mundial. l Responsabilidade social: empresas certificadas e aquelas que compram produtos com o selo estão 70  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

QUAIS AS MODALIDADES DE CERTIFICAÇÃO? Manejo florestal: atesta que as empresas manejam a floresta de maneira responsável, de acordo com os princípios e critérios do FSC. Cadeia de custódia: atesta a rastreabilidade da matéria-prima que sai da floresta até chegar ao consumidor final (ou seja, os produtos que levam o selo de cadeia de custódia foram de fato produzidos a partir de matérias-primas florestais certificadas pela modalidade manejo florestal). Madeira controlada: atesta que produtos florestais provenientes de florestas não certificadas evitam fontes controversas. A madeira controlada FSC somente pode ser associada a produtos florestais certificados FSC, que são etiquetados como de fontes mistas. traduzindo em ações o seu comprometimento com a responsabilidade social.

Para os consumidores l Garantia de origem: ao comprar produtos certificados, o consumidor consciente sabe que aquela matéria-prima florestal foi explorada através de técnicas de manejo, nas quais foram aplicadas localmente as leis ambientais e trabalhistas. l Contribuição para a causa: ao escolher um produto certificado, o consumidor está “premiando” as empresas responsáveis que respeitam a legislação, o direito dos trabalhadores e da comunidade, além de respeitar todos os padrões estabelecidos para um bom manejo da floresta.

SAIBA MAIS

www.br.fsc.org Assista ao vídeo “Procure o selo” https://goo.gl/eEKV8Z FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Sites e cartilhas FSC Brasil / WWF Brasil e Ministério do Meio Ambiente.


FOTO: FSC

TRÊS PERGUNTAS PARA...

ALINE TRISTÃO BERNARDES

Diretora-executiva do FSC-Brasil

MANEJO SUSTENTÁVEL A Amazônia abriga quase um terço das reservas mundiais de florestas tropicais úmidas e uma em cada dez espécies que ocorrem no mundo. Como conciliar a conservação desse valioso patrimônio natural com a crescente demanda por madeira, energia e comida? Os recursos naturais das florestas podem e devem ser explorados, desde que seja com responsabilidade. Colher a madeira de forma sustentável, dentro da capacidade de reposição da floresta, é um incentivo para a sua conservação, valoriza os recursos naturais e gera renda para as comunidades. Assim como colher jabuticabas não mata a jabuticabeira, colher três árvores no total de mais de 100 por hectare, uma vez a cada 30 ou 40 anos, também não mata a floresta. Ao mostrar que a solução ambientalmente adequada, socialmente benéfica e economicamente viável é o caminho a ser trilhado, o mercado usa sua força e seus recursos para construir valor para todos. O FSC viabiliza esse processo por meio da certificação de manejo florestal e também da certificação de produtos florestais não madeireiros, por comunidades tradicionais, manejadores comunitários e empresas. Qual é a realidade do mercado de madeira certificada no Brasil: corresponde ou está aquém das suas potencialidades? Aproximadamente 80 empresas no Brasil têm florestas certificadas. Trocando isso em números, significa que 65% do total de plantações em território brasileiro (florestas de eucaliptos e pinus, por exemplo) e não mais que 1% das florestas nativas da Amazônia Legal Brasileira são certificadas. A certificação no setor de plantações florestais vem aumentando significativamente nos últimos

anos, diferentemente do setor de nativas, cujos números seguem estáveis desde 2006. Podemos dizer, portanto, que o mercado de madeira certificada de florestas plantadas sim, corresponde às suas potencialidades, mas o de florestas nativas ainda está muito aquém. Cabe aos governos melhorar os sistemas de controle e licenciamento, criar condições para logística de transporte de cargas, incentivos e políticas públicas que favoreçam o manejo florestal e, consequentemente, a certificação de produtos da Floresta Amazônica. E cabe aos consumidores demandarem e buscarem produtos com certificação FSC. Muitos acreditam que deixar de consumir madeira e outros produtos florestais é uma forma de ajudar a preservar as florestas. Essa lógica procede? Não! Está completamente errada. Se deixarmos de consumir madeira, estamos entregando as nossas florestas para fins muito menos nobres. Infelizmente, essa conclusão é um dos principais motores de continuidade da ilegalidade e falsa legalidade da madeira e, consequentemente, do desmatamento e da destruição de nossas florestas. Ao não consumirmos seus recursos de forma sustentável, estamos deixando de valorizá-la! Descartar o uso da madeira significa incentivar o corte raso de florestas para a implantação de outras atividades econômicas e deixar de gerar empregos em locais com vocação florestal. Portanto, não devemos deixar de consumir produtos florestais, mas temos a obrigação de verificar a sua origem. Para o consumidor saber se está adquirindo um produto cuja madeira é de origem responsável, basta procurar o selo FSC, que garante não só os princípios de manejo, mas também a rastreabilidade completa em todas as etapas do processo produtivo. 

Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação. Junte-se a nós!

Nós apoiamos essa ideia! MAIO/JUNHO DE 2016 | ECOLÓGICO  71


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SAÚDE MENTAL

PAVILHÃO ANTÔNIO CARLOS: o antigo hospício foi construído na antiga Fazenda da Caveira, que pertenceu a Joaquim Silvério dos Reis, traidor dos Inconfidentes. Hoje, abriga a esperança

Eloah Rodrigues

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: CHRISTINA MARÂNDOLA

Cavernas pesquisadas por Lund integram o Grupo Bambuí, que beira os 700 milhões de anos, seguindo o curso do Velho Chico. Enchentes arrastaram animais para dentro das grutas e a natureza, sábia, se encarregou de conservá-los

72 ECOLÓGICO ECOLÓGICO||MAIO/JUNHO MAIO/JUNHO DE DE2016 2016 XX


A LOUCURA DE VOLTA AO

AO MUSEU

Espaço que conta a história dos 60 mil pacientes mortos no antigo Hospital de Barbacena é reinaugurado após denúncia de abandono feita pela Revista Ecológico Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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mo. Filhas que as famílias queriam esconder por terem engravidado fora do casamento. Esposas abandonadas pelos maridos. Jovens cujo comportamento era considerado rebelde pelos pais, entre uma centena de outras histórias que se esvaíram daquele local. Mas que, graças ao Museu da Loucura, serão constantemente rememoradas. Reinaugurado numa tarde quente de outono, a reabertura do museu contou com a presença de autoridades federais e municipais, o corpo clínico do CHPB, além do Coral Pira Pirou, formado por alguns dos 144 pacientes sobreviventes do antigo hospício. Hoje, eles estão acolhidos em residências terapêuticas e recebem atualmente tratamento médico que nada lembra aqueles outros tempos de abandono e desumanidade. Tanto que, na ocasião, foi lançado o livro “Uma Falha no Silêncio”, baseado em depoimentos amorosos dados pelos funcionários que lidam diariamente com os pacientes do espaço. Segundo o presidente do CHPB, Wander Lopes, essas conquistas foram obtidas graças à capacidade FOTO: OSVALDO AFONSO

de maio último: “Dia Nacional da Luta Antimanicomial” e “Dia Mundial dos Museus”. A data não poderia ser mais significativa para a reinauguração do “Museu da Loucura”, onde antes funcionou o ex-Hospício de Barbacena (MG). Fechado há dois anos para reformas, o espaço - aberto em 1996 para não apagar da memória da sociedade o verdadeiro holocausto que ali ocorreu - passou por fases que foram do prestígio ao abandono, até a mais recente melhoria. Localizado na torre central do antigo Hospital Colônia, atualmente intitulado Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), o museu faz parte de um prédio histórico construído em 1903 que foi cenário de um dos períodos mais sombrios na história psiquiátrica brasileira. Estima-se que, entre os muros do CHPB, desde a sua construção, mais de 60 mil pessoas foram mortas vítimas de maus-tratos e negligência médica. E que apenas 25% dos internos possuíam realmente algum tipo de transtorno mental. Os demais pacientes eram pessoas com problemas de alcoolis-

O PRESIDENTE DA FHEMIG, Jorge Nahas (à esq.), cumpriu a sua palavra ao reinaugurar o Museu da Loucura

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SAÚDE MENTAL FIQUE POR DENTRO

O Museu da Loucura é fruto da parceria entre a Prefeitura Municipal de Barbacena e a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). O projeto museológico foi idealizado pelo historiador Edson Brandão. O lugar possui dois andares com salas cujas temáticas estão relacionadas ao passado e ao presente do CHPB. Há dois espaços multifuncionais onde são exibidas peças de artesanatos produzidas pelos pacientes do hospital em oficinas terapêuticas.

que o espaço tem de se transformar. Ele conta que o Museu tem registradas 131.156 visitas desde a sua criação, mas que era preciso ser renovado. “Em junho de 2014 iniciamos um novo projeto de reestruturação do museu, com ampla reestruturação do prédio, adequação da área física e revisitação da área museológica. A nova exposição permanente mostra, além da história do hospital, informações sobre reforma psiquiátrica, a trajetória da luta antimanicomial e os serviços substitutivos em Barbacena, ampliando o conceito histórico e acrescentando os recursos tecnológicos”, relata. Luz sobre um passado que durante muito tempo incomodou a cidade de Barbacena, segundo o prefeito do município, Antônio Carlos Andrada. Ele conta que os moradores conviveram com o estigma da loucura por longos anos e acredita que a cidade foi injustiçada nesse processo histórico. “Se houve erros e equívocos no tratamento da loucura, durante décadas e décadas, o barbacenense não era culpado disso. Era produto de uma concepção daqueles que concebiam o tratamento da loucura, e por meio dos órgãos estaduais e federais da época, impunham

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Existem também salas com exibição dos instrumentos utilizados à época do Hospital Colônia, como algemas e aparelhos de eletrochoque. Em outro ambiente também é possível ler a série de reportagens de denúncia "Nos Porões da Loucura", de Hiram Firmino, publicada no jornal Estado de Minas em 1979 e vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo. Também estão expostas fotografias dos antigos internos do Hospital Colônia, que fazem um convite reflexivo sobre a história do tratamento de sofredores de transtorno mental.

aquela meta, aquele trabalho”, avaliou ele, completando: “Era preciso tratar a loucura de uma maneira transparente, à luz do dia, para que a história fosse contada de forma verdadeira. E que Barbacena fosse colocada nesse processo de uma maneira justa”. Para o secretário de Estado de Planejamento e Gestão de Minas, Helvécio Magalhães, também presente na reinauguração, o novo Museu da Loucura é um marco significativo para a luta antimanicomial. “Temos que manter viva a memória para que não se repitam os erros do passado”, salientou. SAIBA MAIS

www.fhemig.mg.gov.br


FOTO: OSVALDO AFONSO

Confira a denúncia que a Ecológico fez em agosto de 2014 revelando os motivos pelos quais Barbacena quis acabar com o Museu, abandonando-o, em goo.gl/I00ZVa

Uma outra sensibilidade Jorge Raimundo Nahas, presidente da Fhemig “O antigo Colônia e atual CHPB são autênticos lugares de memória, cujo valor vai além do patrimônio arquitetônico ou histórico, ou de um acervo valioso. São locais cujas evocações incitam ou impõem o recolhimento, a reflexão, a escolha. O nosso museu, o Museu da Loucura, cumpre com louvor este papel. Ali, podemos perceber como tem sido longa, complicada e difícil a caminhada pelos direitos humanos, ou melhor, por uma sociedade garantidora de direitos. No terreno do sofrimento mental, da saúde mental, no terreno do Colônia, as marcas dessa caminhada ainda são visíveis, dolorosas e recentes. A minha turma da escola de Medicina dissecava cadáveres vindos, todos sabíamos, de Barbacena. Nem piores nem melhores que ninguém, não questionávamos o porquê daquela fonte farta. Respeitávamos mais o cadáver, aquela carne inerte, do que o ser humano que fora. No Museu da Loucura e território do Colônia, nesta encruzilhada da razão e da desrazão, vemos como foi demorado esse reconhecer-se no outro, na loucura do outro. Reconhecer que somos todos pedaços da mesma madeira e que, portanto, temos direito, ainda que loucos, à individualidade preservada e cuidada e à dignidade em cada momento de nossas vidas. O museu nos mostra que o Hospital Colônia não era um mundo clandestino e oculto. Mas foi necessário um outro olhar, um outro momento histórico, o desenvolvimento de uma outra sensibilidade para além da mera compaixão, para que percebêssemos que o que ali se passava era um insulto inaceitável e intolerável à humanidade. O atual CHPB, herdeiro direto do Colônia, hoje integrante da rede de saúde mental da região, opera um assim chamado Hospital de Agudos. Ele recebe unicamente pacientes encaminhados da rede de Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) da região, com média de permanência baixa e pactuada. Acolhe e cuida ainda, com respeito, desvelo e carinho admiráveis, dos internos remanescentes daqueles tempos sombrios. Todos eles, sem exceção, merecem viver em residências terapêuticas, adequadas naturalmente às suas necessidades, que eles conhecem melhor do que ninguém.” 

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FOTO: ANDRE FOSSATI

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DESECOLOGIA humana: os loucos se abraçam para não morrer de frio

A LOUCURA NO PALCO Baseado no livro homônimo de Hiram Firmino, espetáculo resgata, em montagem sensível e intensa, a trajetória do holocausto ocorrido no ex-maior hospício do Brasil

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ucesso de público, comoção e esperança na luta antimanicomial, iniciada há 37 anos com a vinda ao Brasil do psiquiatra italiano Franco Basaglia, que liderou o fim dos hospícios em seu país. Foi assim a estreia e contribuição, em Belo Horizonte, da peça “Nos Porões da Loucura”, lotando, durante quatro dias de apresentação, o Grande Teatro do Sesc Palladium, integrando o Festival Internacional de Teatro (FIT 2016). Adaptada da série de reportagens publicadas pelo Estado de Minas em 1979 e reunidas em 76  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

livro pelo autor, a montagem teatral resgata o horror - que não existe mais - vivido pelos

pacientes portadores de sofrimento mental ou simplesmente indesejados pela sociedade na época. Com dramaturgia e direção de Luiz Paixão, e produção de Ana Gusmão, o espetáculo relembra o extermínio cruel de 60 mil pessoas desde a fundação, em 1903, do ex-Hospital Colônia de Barbacena. Com inúmeros casos de negligência, abandono e indiferença, sua trajetória foi retratada pioneiramente na imprensa pelo então repórter Hiram Firmino, o que foi decisivo para a reforma psiquiátrica que se seguiu. Seu trabalho, depois


A trilha sonora é assinada por Marcus Viana, responsável pelas trilhas de novelas como “Pantanal”, “O Clone” e o filme “Olga”. Na esfera da interpretação, tomou-se um grande cuidado para não cair na emoção melodramática ou na crítica leviana e irresponsável, facilmente permitidas pelo tema. O diretor optou, assim, por duas instâncias de abordagem e concepção cênica, em uma relação dialética de aproximação e distanciamento, que pretende equilibrar e conduzir o público à emoção. Mas, também, a ter uma visão crítica da história do Hospital de Barbacena. Sobre isso, Paixão conclui: “Discutir um tema tão delicado como esse nos exigiu bastante cuidado. E, sobretudo, respeito absoluto com a memória dos que ali morreram e com os que estão vivos. Nos meus 40 anos de teatro, nunca me cobrei tanto quanto agora, fazendo ‘Nos Porões da Loucura’. Cobrança estética, política e ideológica. Não se pode ser irresponsável quando se trata da degradação, desumanização e da verdadeira animalização de pessoas que foram jogadas, sem nenhum cuidado e respeito humano, num hospital que deveria cuidar delas. E, simplesmente, as maltratou. O Estado não cumpriu sua responsabilidade para com essas pessoas. Agora, cabe a nós, artistas, cuidar para que essa história não seja esquecida nem se repita jamais. Nossa responsabilidade é enorme, e dela não fugimos”.

UM DIRETOR E SEUS ATORES FOTOS: DIVULGAÇÃO

FOTO: ANDRE FOSSATI

lançado em forma de livro pela Editora Codecri, de “O Pasquim”, foi vencedor do “Prêmio Esso de Jornalismo” de 1980. Como destaca Luiz Paixão, “essas reportagens em série devem sempre ser lembradas pela sua importância histórica. E, sobretudo, de como colocar o jornalismo a serviço da dignidade humana. Foi a partir delas que surgiram outras obras que aprofundaram a discussão, hoje irreversível na área de saúde mental, abordando outros aspectos muito importantes também na luta antimanicomial”. Sobre a colaboração da diretoria e funcionários do Instituto Raul Soares, Luiz também comentou: “Todos ali abraçaram o projeto, compreendendo a importância de se discutir, no âmbito do teatro, um dos mais graves e terríveis eventos da nossa história. Barbacena, como o Raul, é um ponto de partida para se discutir não só o tratamento de portadores, mas também os cruéis métodos de degradação do ser humano”. Para a construção das personagens, o diretor propôs uma pesquisa das fotos de pacientes do Hospital de Barbacena presentes em livros. Cada um dos nove atores do elenco escolheu uma imagem e, a partir de uma postura corporal, elaborou sua personagem. Os figurinos da montagem foram desenhados pelo estilista Ronaldo Fraga, a partir de uma pesquisa estética e também histórica.

Luiz Paixão

Alberto Tinim

Anaís Della Croce

Antônio Rodrigues

Carlos Henrique

Luiz Gomide

Marco Túlio Zerlotini

Marina Bizzotto

Meibe Rodrigues Nanda Freitas

SAIBA MAIS

Ana Gusmão, Ronaldo Fraga e Marcus Viana: “vestindo” a causa

O espetáculo “Nos Porões da Loucura” foi viabilizado com recursos das Leis Municipal e Federal de Incentivo à Cultura, com o patrocínio da CBMM, Unimed-BH e Cera Ingleza, em correalização com o SESC Palladium e apoio da Revista Ecológico. www.poroesdaloucura.com.br MAIO/JUNHO DE 2016 | ECOLÓGICO  77


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MEMÓRIA ILUMINADA – AL GORE

“CEDO ou tarde, os anjos de nossa melhor natureza vencerão”, afirma o ex-vicepresidente dos EUA

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UMA VOZ CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL

Um dos mais reconhecidos políticos norte-americanos a alertar os Estados Unidos e o mundo sobre as consequências das mudanças climáticas, Al Gore ainda se mantém como a antítese da governança política insustentável Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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FOTO: IISD

as eleições norte-americanas de 2000, Al Gore tinha todos os predicados possíveis para se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos. Perdeu para George W. Bush – então considerado pela imprensa como o “inimigo número um do meio ambiente” – por apenas cinco votos. No país, a vitória em cada estado representa um número diferente de votos eleitorais, que são contabilizados para o candidato escolhido conforme o número de membros do Congresso a que aquele estado tem direito nas eleições. E, em meio a uma polêmica recontagem de votos na Flórida, Bush venceu. Al Gore então decidiu reverter a derrota nas urnas por uma vitória sem precedentes como ambientalista: percorreu o mundo alertando sociedade, políticos e empresas sobre o perigo do aquecimento global e das mudanças climáticas. Lançou o documentário “Uma Verdade Inconveniente” (leia mais a seguir), baseado em seu livro homônimo, que lhe rendeu um Oscar. “A Mãe Natureza fala mais alto. Se este filme ajudou a ligar os pontos, fico orgulhoso. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é verde. Mais um exemplo de indústria que está entre os líderes mundiais na hora de enfrentar a crise”, disse ele ao receber a estatueta. Vice-presidente dos EUA na era Bill Clinton (1993-2001), Al Gore é filho de Albert Arnold Gore, antigo deputado federal e senador norte-americano, falecido em 1998. Formado em Administração Públi-

ca em Harvard, trabalhou como repórter investigativo em um jornal de Nashville, cursou Teologia e largou a faculdade de Direito para tentar vaga como deputado federal em 1976. Foi eleito, reeleito e se tornou senador entre 1984 e 1992. Al Gore, que é divorciado e tem quatro filhos, se tornou a antítese de Bush e sua política antiambientalista. Abriu um canal de TV em que o tema meio ambiente era prioridade na programação, criou um fundo (Generation Investment Management) para incentivar a adoção de práticas sustentáveis e mostrar que a sustentabilidade pode ser incorporada ao processo de investimentos financeiros, e organizou em 2007 uma série de concertos musicais em nove países – o “Live Earth” – com participações de artistas como Madonna, Bon Jovi, Xuxa, Rihanna, e Jorge Ben Jor. O objetivo dos shows? Alertar o mundo para o perigo das mudanças climáticas. Nesse mesmo ano, Al Gore e o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC/ONU) celebraram mais uma conquista, ao serem agraciados com o “Prêmio Nobel da Paz” pela campanha de conscientização mundial contra o aquecimento do planeta. Em reconhecimento aos seus 40 anos de carreira política e protagonismo nas questões ambientais, a Revista Ecológico selecionou trechos de textos e entrevistas de Al Gore. Eles nos fazem pensar ainda mais na contribuição de cada um de nós perante a natureza que nos resta. Confira:

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“A luta contra a mudança climática é tão importante quanto combater o terrorismo. Caso a Groenlândia derreta, os efeitos sobre Manhattan seriam muito piores do que o atentado de 11 de setembro de 2001.”

FOTO: ARTURO DE FRIAS MARQUES

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MEMÓRIA ILUMINADA – AL GORE

l MUDANÇAS CLIMÁTICAS “Como seres humanos, estamos suscetíveis a confundir o sem precedentes com o improvável. Em nossa experiência cotidiana, se algo nunca ocorreu antes, assumimos que não vai acontecer no futuro. Mas as exceções podem nos matar. E a mudança climática é uma dessas exceções.” l MEIO AMBIENTE “Investir no meio ambiente dá lucro e é excelente para o planeta. Os políticos estão começando a perceber isso.” l MISSÃO “Acho que, hoje, minha melhor missão é fazer a opinião pública dos Estados Unidos evoluir sobre a questão ambiental. Só existe um planeta. Todos, democratas e republicanos, vivemos nele.” l CRISE “O aquecimento global é a pior crise que já enfrentamos.”

de decidirmos que tipo de futuro queremos e, se não fizermos escolhas com cuidado, as regras do mercado podem nos trazer resultados indesejáveis. O psicólogo Abraham Maslow, famoso por estudar o que tem valor e o que não tem, certa vez disse que se a única ferramenta que você tem é um martelo, todo problema passa a ser tratado como um prego.” “Da mesma forma, se ao analisarmos o mercado a única ferramenta que utilizarmos para decidir o que tem valor for a precificação, o que não puder ser precificado possivelmente parecerá não ter valor algum. Os economistas usam o termo ‘externalidades’ para descrever todas as coisas que não são precificadas e que eles não levam em conta. Porém, se você observar as externalidades, elas incluem o ar, a água, a beleza do pôr do sol, o amor de nossas famílias, a saúde e a vitalidade das comunidades – que, na verdade, são coisas que internalizamos. Todas elas são importantes.”

“Para resolver a crise climática precisamos resolver a crise democrática.” “Se nos lançarmos numa guinada para formas de energia renováveis e de baixo carbono em transportes, imóveis residenciais e comerciais e agricultura e silvicultura sustentáveis, podemos solucionar totalmente a crise do clima, com folga.” l MERCADO “O mercado é uma das principais maneiras 80  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

“Cada um de nós é uma causa do aquecimento global. Mas cada um pode fazer escolhas que mudem isso.”


FOTO: EC / ECHO

“Se o mar subir um único metro, haverá 100 milhões de refugiados a mais no planeta. Se forem seis metros, o número salta para 400 milhões... Temos tudo que necessitamos para que medidas sejam tomadas. O que falta é vontade política.”

l PLANETA “Se nossos filhos têm febre, os levamos ao médico. Bem, nosso planeta tem febre, e já está sentindo isso há algum tempo. Está alguns graus acima do que deveria estar. Os cientistas já nos deram sua resposta. Podemos ter apenas dez anos para agir, antes que se torne irreversível.”

l FUTURO “Há um consenso de que o futuro que começa a surgir será bem diferente de tudo o que vimos no passado. Não se trata de uma diferença de intensidade, mas de natureza. Até hoje, não houve um período de mudanças sequer parecido com o que a humanidade está prestes a viver.”

l EXEMPLO “Há dois anos decidi viver uma vida sem carbono. Tudo o que eu e minha família fazemos visa a emitir a menor quantidade possível de gás carbônico.”

l DESAFIO CLIMÁTICO “Estamos à altura do desafio que temos. Precisamos vencê-lo para expressar o amor que temos pelos nossos netos. Para evitar sermos lembrados pelas gerações futuras como uma geração criminosa, que ignorou de forma egoísta e cega os claros sinais de que o seu destino estava em nossas mãos. Porque o modo como fomos criados nos dá um respeito destemido pela verdade e pela justiça. Não importa quanto tempo ela seja obscurecida por aqueles que encaram a verdade como inconveniente. Cedo ou tarde os anjos de nossa melhor natureza vencerão.”

l TECNOLOGIA “A transformação da economia global e a consolidação da Terra como organismo único, integrado por meio do uso intenso de tecnologia, exigirão abordagens políticas totalmente novas. As mudanças trazidas por um mundo cada vez mais interconectado são verdadeiramente globais e históricas.”

Fontes: Redação IHU/ Repórter Eco/Exame.

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MEMÓRIA ILUMINADA – AL GORE

São tantas as inconveniências... Em 2006, Al Gore lançou o documentário “Uma Verdade Inconveniente”, em que convida a humanidade para evitar a mudança climática, tal como enfrentou e venceu o aumento do buraco de ozônio na atmosfera. Confira a mensagem do filme: “JÁ SABEMOS tudo o que precisamos para lidar eficazmente contra as mudanças climáticas. Temos de fazer muitas coisas, não apenas uma.

aquecimento. Climatize sua casa, aumente o isolamento e faça uma auditoria energética; 

 

SE USARMOS aparelhos elétricos mais eficientes, podemos cortar a quantidade de poluição que causa o aquecimento global que, de outro modo, seria lançada para a atmosfera.

Diga para seus pais não estragarem o mundo em que você vai viver. Se é pai ou mãe, junte-se aos seus filhos para salvar o mundo em que eles vão viver; Mude para fontes renováveis de energia; Telefone para sua companhia de eletricidade pedindo que lhe ofereça energia sustentável. Se disserem que não, pergunte por quê. Vote em quem prometer acabar com esta crise; 

Escreva ao Senado, à Câmara dos Deputados, à Assembleia Legislativa, à Câmara dos Vereadores de sua cidade. Se não lhe fizerem caso, candidate-se! 

SE TIVERMOS carros mais eficazes, eficiência no transporte, tecnologia renovável, captura e separação do carbono, tudo isso começa a somar.

Plante árvores, muitas árvores; 

TEMOS TUDO que precisamos, salvo a vontade política. E na América, a política também já é um recurso renovável. Temos a capacidade de fazer isso.

Ligue para programas de rádio, escreva para jornais; Reduza a dependência do petróleo estrangeiro; 

CADA UM de nós é uma causa do aquecimento global. Mas cada um pode fazer escolhas que mudem isso. A SOLUÇÃO está em nossas mãos. Apenas temos de ter a determinação para fazer as coisas acontecerem. A CRISE DO CLIMA pode ser resolvida. Você está pronto para mudar o modo como vive sua vida? Então comece a reduzir, até zero, as suas emissões de carbono. Veja como: 

Recicle;

Compre aparelhos mais eficientes;

Regule o seu termostato para reduzir energia no

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Fale na sua comunidade;

FOTO: NATHALIA SAVINI

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Ajude os fazendeiros a adotarem a cultura de produção do álcool (biodiesel); 

Exija menores emissões dos automóveis; 

Se acredita em reza, reze para que as pessoas encontrem a força para mudar. Como diz um velho provérbio africano, ‘quando rezar, mexa com os pés’; Aprenda tudo o que puder com a crise climática. E ponha seus conhecimentos em ação; É o seu mundo, a nossa capacidade de viver no planeta Terra, de termos um futuro enquanto civilização, que está em jogo.” 


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MUDANÇAS

CLIMÁTICAS Qual a sua contribuição?

Homenagem Especial

Chico Xavier

www.premiohugowerneck.com.br


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AS PEGADAS DE LUND (3)

ÁGUA

MOTOR DA FOSSILIZAÇÃO

Cavernas pesquisadas por Lund integram o Grupo Bambuí, que beira os 700 milhões de anos, seguindo o curso do Velho Chico. Enchentes arrastaram animais para dentro das grutas e a natureza, sábia, se encarregou de conservá-los Cástor Cartelle

redacao@revistaecologico.com.br

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und acertou em cheio quando optou pela área de Lagoa Santa na sua procura por fósseis. Nessa região concentra-se grande quantidade de grutas localizadas em maciços calcários que fazem parte de um enorme conjunto rochoso denominado Grupo Bambuí. Este teria uma antiguidade beirando os 700 milhões de anos e os maciços atravessam o Estado de Sul para Norte em grande parte escoltando o nosso rio-mor – e maltratado – São Francisco. Lund descreveu em 1837 a região onde realizava seu trabalho com “...despojos fósseis. Todos eles, sem exceção alguma, foram encontrados em cavernas. Estas cavernas estão situadas nas montanhas calcárias... do centro do Brasil. Uma cadeia de montanhas... destaca-se da serra mais importante do planalto central – a Serra do Espinhaço – perto da capital de Minas

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(na época Ouro Preto), e alarga-se para o noroeste, servindo de separação às águas do Rio das Velhas e do Paraopeba. Esta cadeia tem sido, até o presente, o campo principal das minhas explorações”. Para a preservação dos fósseis de vertebrados, nas grutas encontra-se ambiente propício. Ao ocorrer um meio básico, ossos e dentes preservam-se com facilidade, o que não acontece em ambientes ácidos como podem ser os terrenos de cerrado ou o ambiente de floresta. Alguns ossos de animais recolhidos em grutas de Minas Gerais já foram datados. Sabemos que as espécies às quais pertenceram viveram entre 30 e 11 mil anos atrás. Em relação ao ambiente de gruta, há animais que não as frequentam, outros que utilizam as cavernas para alguma finalidade, mas precisam delas sair para comple-

tar seu ciclo de vida. Eles não são capazes de viver somente no ambiente subterrâneo. Os morcegos são os animais mais conhecidos desse grupo denonimado troglóxenos (“estranhos às grutas”). Há ainda os que podem completar seu ciclo de vida tanto dentro quanto fora das cavernas, como a maioria dos invertebrados que se encontram em cavernas, tais como aranhas, tatuzinhos, baratas... São os troglófilos (“amigos das grutas”). Já os troglóbios (“vida nas cavernas”) são um grupo mínimo de seres que têm seu ciclo de vida completo no interior delas, como acontece com uns poucos invertebrados ou mesmo com alguns raros peixes. São obrigatoriamente cavernícolas. De que maneira chegaram até o interior das grutas os esqueletos que, fossilizados, foram nelas coletados? Explicar os achados que per-


CARREGAR UM MASTODONTE Corujas que habitavam o interior das cavidades na penumbra regurgitavam as partes duras dos animais que capturavam, assim introduzindo nelas tais restos que poderiam tornar-se fósseis. Não se descarta que alguns animais possam ter penetrado numa gruta e, tendo-se extraviado, não conseguiram retornar. Outros, em entradas irregulares, poderiam sofrer uma queda acidental. Mas fósseis desses animais seriam raridade, exceções. Numa reação instintiva de defesa, poucos são os mamíferos que se aventuram a penetrar na escuridão. Lund acreditava que alguns carnívoros poderiam carregar para o interior das cavernas suas vítimas para nelas as devorarem. É possível que, em alguns casos, tal situação possa ter acontecido. Mas essas refeições teriam ocorrido na penumbra das entradas, o que não explica os esqueletos localizados em galerias do interior nem a presença de peças pertencentes a animais de grande porte nas grutas. Nenhum predador seria capaz de carregar um mastodonte para dentro de uma gruta. A maior parte dos restos fósseis encontrados no interior de cavernas teve uma causa comum que nelas os introduziu: a água. Foi ela que, ao longo de dilatado tempo, esculpiu e adornou as galerias de cada gruta. E foi ela que carreou para o interior a maioria dos animais que acabaram depositando-se galerias adentro. O transporte foi realizado por rios ou por córregos temporários que atravessavam ou invadiam as cavernas e que carregavam cadáveres flutuantes de animais que

FOTOS: REPRODUÇÃO

tencem a animais, como por exemplo os morcegos, é o óbvio. Mas a maior parte dos fósseis consiste em restos pertencentes a animais que não frequentavam as grutas.

Pteronotus gymnonotus, esqueleto incrustado em chão estalagmítico

se afogavam ou que morriam à beira deles, sendo arrastados pela correnteza. Grutas labirínticas ou com percursos sinuosos poderiam reter no seu interior esses cadáveres. Após as suas partes moles apodrecerem, os ossos depositavam-se no leito dos remansos ou no fundo de lagos endógenos. As enchentes inesperadas, possivelmente, seriam mais eficientes para carregar candidatos à fossilização, pois surpreenderiam e poderiam arrastar animais doentes ou filhotes que, naturalmente, estabeleciam-se ao longo dos cursos de água. Confirma essa opinião o fato de que nas grutas é frequente o achado de animais jovens fossilizados. Mergulhadores encontram hoje grutas fossilíferas submersas. Como nestas, em grutas atualmente secas, no passado, teriam ocorrido inundações totais ou parciais que carrearam para seu interior os futuros fósseis. Em regiões bem preservadas, sem atividade antrópica, algum observador que permanecesse à margem de um rio ou regato não demoraria muitos dias para ver,

flutuando, o cadáver de algum animal. Se esse rio atravessasse ou inundasse uma gruta, esta poderia vir a retê-lo. Milhares de anos e variados eventos climáticos propiciaram ocasiões para que isso acontecesse. Sabemos que entre 30 e 10 mil anos ocorreram diversos picos de frio nos quais houve incremento da pluviosidade. Esse, ao que parece, seria o processo mais comum que permite explicar o fato de se encontrarem ossadas, especialmente de mamíferos, no interior das grutas. OBRAS DE ARTE Os fósseis encontrados em caverna não têm padrão definido. Por exemplo, a coloração dependerá, frequentemente, da atuação sobre eles da água com variadas substâncias nela dissolvidas. Há fósseis de intensa coloração escura devido ao óxido de manganês, ocre pelo ferro ou amarelados pela argila. Alguns restos são muito friáveis. Para melhor preservá-los, no laboratório aplica-se, geralmente, um endurecedor, cola diluída em água, por exemplo.

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AS PEGADAS DE LUND (3)

Outras peças, impregnadas por calcário, tornam-se mineralizadas, adquirindo a consistência da rocha. Ocorrem também verdadeiras obras de arte quando sobre a peça deposita-se fina camada de calcário, como que a protegê-la com delicado invólucro. Às vezes, a camada calcária pode ser espessa. Há peças que se encontram quase aflorando, soltas nos sedimentos. Outras, envoltas por camadas de argila ou areia. Há também as que estão firmemente encobertas por dura camada de brecha (areia ou cascalho compactados por carbonato de cálcio). Diversos sofreram desgaste por rolamento ou fragmentações, uma vez que o ambiente nas cavernas, muito frequentemente, é dinâmico devido à ação, em especial, das águas que nelas penetram. Marcas de dentes de roedores que rasparam a superfície de ossos ainda frescos e até perfurações feitas por coleópteros podem ser percebidas. Mas essas são ocorrências raras. Para seguro resgate das peças fósseis, além da paciência sem pressa e ferramentas apropriadas, é necessário possuir conhecimentos de anatomia e habilidade manual. No laboratório ocorre a complementação do trabalho de campo com a preparação do material resgatado e o seu estudo. A respeito dos achados fósseis na região, ninguém melhor que o pai da paleontologia americana para descrever um dos seus achados e sua interpretação. Lund escavava em Cerca Grande. “Após três dias de trabalhos contínuos, achei-me de posse de uma coleção considerável de restos de dois animais fósseis, havendo exemplares diversos e perfeitamente conservados.” “A terra na qual se acharam essas ossadas era argila comum rubro-pardacenta, que por toda a extensão destas regiões forma a camada superior, e de que estas grutas estão mais ou menos cheias. 86  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

As enchentes inesperadas, possivelmente, seriam mais eficientes nesse carregar candidatos à fossilização Além deste elemento... aqui e ali encontravam-se pequenas camadas, formadas exclusivamente de areia e seixos rolados. Imediatamente abaixo da crosta de estalagmite estava a terra fortemente impregnada de infiltração calcária, o que lhe dava consistência pétrea; mas, à medida que se penetrava mais profundamente, a infiltração calcária decrescia, tornando-se a terra menos coerente e mais fácil de trabalhar.” “As duas espécies de animais de que provêm os ossos pertencem uma ao grupo dos cães, outra ao grupo das pacas... Os ossos achavam-se misturados e sem ordem... eram tão numerosos que de cada punhado de terra destacado pela alavanca era possível retirar uma considerável porção. Quanto ao seu estado de conservação... alguns achavam-se inteiros e sem o mínimo estrago, sucedendo isto principalmente aos ossos curtos... Os grandes ossos tubulares só em parte se achavam assim conservados, apresentando-se muitos quebrados... Pequena parte dos ossos apresentava cor amarelo claro cera, por vezes mosqueada de manchas negras... a maior parte, porém, tinha a cor negra.” A respeito do estado e aparência dos fósseis, Lund fez pitoresca descrição. Percebe-se um tanto de admiração diante do novo trabalho, num escrito de 1837, um dos primeiros por ele redigidos sobre seus achados em grutas. “Em geral os ossos fósseis... acham-se inteiros e conservam suas menores saliências, as arestas e as cristas mais delicadas; na superfície têm uma

bela cor amarelo-avermelhada de ocre, e a fratura apresenta o branco mais puro. São mais leves que os ossos frescos e a tal ponto quebradiços que se esfacelam entre os dedos a um contato imprudente... Parte da terra em que são encontrados fica-lhes sempre aderente. Quando a argila tem depósito calcário, adere de tal modo aos ossos que se torna impossível separá-la. Em casos mais raros... têm as células de seu tecido cheias de matéria pétrea... neste estado merecem o nome de ossos petrificados... Quanto às alterações mecânicas... que os ossos experimentam, podemos agrupá-las em três classes... a primeira, fraturas e fendas... às quais se une muitas vezes um achatamento... de toda a peça... A segunda... procede da ação dos dentes de animais carnívoros... também... o vestígio dos dentes de pequenos roedores... A terceira classe... consiste no gasto mais ou menos sensível das arestas e cristas dos ossos”. IMENSIDÃO DAS GRUTAS Em Minas Gerais ocorrem grutas que têm grande importância por diversos motivos: históricos, pelos achados nelas realizados, pelo tipo de vida único dos seus troglóbios, pelos registros artísticos de pintura rupestre, por fazerem parte do patrimônio histórico da nação, uma vez que o homem primitivo viveu em algumas delas ou por estarem abertas à visitação pública. Na imensidão do número das grutas calcárias mineiras (mais de 500 estão catalogadas) é difícil destacar umas poucas entre elas: com qualquer critério sempre faltará alguma. Há as que foram, infelizmente, muito depredadas, como a Gruta dos Cristais, que era riquíssima nessas estruturas de calcita, em sua maioria destruídas. A Lapa Vermelha de Lagoa Santa situavase nos arredores da cidade à beira


FOTO: A.BRANDT

da estrada que chega da capital do Estado, Belo Horizonte. Nela, Lund encontrara, dos primeiros na América, restos humanos fossilizados. E ainda nessa gruta descobriu fósseis de espécies extintas, como capivara gigante, cachorro, tigre-de-dentes-de-sabre, tatu gigante, paleolhama, preguiças terrícolas e de espécies viventes, como a raposinha, anta, taiaçu e onça. À visitação pública estão abertas três grutas. A da Lapinha, com belíssimos e variados espeleotemas, tem pouco mais de 500 metros de extensão e uma profundidade máxima de 40. Lund a conheceu, mas nenhum fóssil encontrou nela. Integra um conjunto de grutas no mesmo maciço calcário e está situada no município de Lagoa Santa. A Gruta de Maquiné, localizada no município de Cordisburgo, a 120 quilômetros da capital do Estado de Minas Gerais, desde a década de 1960 está aberta ao turismo. Já referimos a importância simbólica dessa gruta, a primeira pesquisada por Lund, que dela fez soberba descrição e topografia acurada. Com 650 metros de comprimento, quase plana e de ornamentação excepcional, tem por volta de 500 metros de percurso preparados para visitação. Em Sete Lagoas, a meio caminho entre Cordisburgo e Belo Horizonte, localiza-se a terceira gruta turística, a Rei do Mato, de beleza quase agressiva pelos surpreendentes e inesperados espeleotemas que a ornamentam. Seus acentuados declives, fáceis de serem percorridos devido ao equipamento instalado, e duas colunas esguias que unem o teto ao chão, com mais de 20 metros de altura e sem igual em outras grutas, têm ornamentações que provocariam inveja ao mais conceituado ourives árabe. A porção aberta à visitação é de 250 metros, um quarto do comprimento total da gruta. No mesmo maciço cal-

ROEDOR Trichomys apereoides (punaré ou rabudo) com trabalhadores numa gruta

cário há um pequeno ducto que tem testemunhos de ocupação humana pré-histórica. CRÂNIO DE LUZIA Ainda na área arqueológica é preciso destacar a Gruta de Confins, onde pesquisadores da Academia Mineira de Ciências encontraram, na década de 1940, o denominado Homem de Confins; o conjunto de Cerca Grande, no qual o Museu Nacional do Rio de Janeiro realizou, na década de 1960, importantes descobertas; a Lapa Vermelha de Pedro Leopoldo, local onde uma expedição franco-brasileira, na década de 1970, encontrou o crânio de Luzia, datado de 11.500 anos. É considerado, até o presente, um dos mais antigos da América. Na década de 1980, em abrigo localizado em Santana do Riacho, o arqueólogo André Prous, um dos descobridores do crânio de Luzia, coletou numerosos esqueletos com idade em torno de 11 mil anos. O arqueólogo mineiro Walter Neves realiza desde o final do século XX, em grutas da fazenda Jaguara (Matozinhos), o resgate de importante conjunto de enterramentos. As grutas de interesse paleontológico são ainda mais numerosas. O que ocorreu em termos de

achados na região de Lagoa Santa poderá ser repetido em outras áreas do Estado como em Arcos, Pains, Parque do Peruaçu, Montalvânia, Montes Claros ou Curvelo, por exemplo, quando nelas surgir um Lund para explorá-las. De todas as pesquisadas pelo pai da paleontologia americana, talvez a Gruta do Baú (Matozinhos) mereça a primazia devido aos resultados obtidos por ele tanto pela quantidade quanto pela variedade dos achados, e a do Sumidouro, pelo significado científicofilosófico, como já assinalado. Após Lund, a arqueologia teve maior desenvolvimento na área de Lagoa Santa do que a paleontologia. As mais de 12 mil peças da megafauna fóssil enviadas pelo naturalista dinamarquês para sua pátria de origem quase se tornaram um sinal desencorajador para quem desejasse conseguir novidades paleontológicas na região. Após o ingente trabalho de Lund, poucas novidades poderiam surgir.  Apoio cultural:

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1 VOCÊ SABIA?

Antas, sim!

COM MUITO ORGULHO! Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

S

e alguém chamá-lo de anta, não se ofenda! Ao contrário do que dizem por aí, o animal tem muitas qualidades. Entre elas, a de ser reconhecida pelos biólogos como um animal muito inteligente! Por isso, para desmistificarmos a injusta fama desse mamífero, a Ecológico separou sete curiosidades bem interessantes que vai fazer você mudar de ideia. Confira:

PERFIL

A anta é o maior mamífero terrestre da América do Sul. As fêmeas são maiores, podendo medir até dois metros de comprimento, um metro de altura e pesar até 300 quilos. No Brasil, a espécie ocorre nos biomas Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Amazônia e tem até uma data especial para se comemorar o seu dia: 27 de abril. Celebração que foi criada para chamar a atenção sobre a importância da conservação desse animal no seu hábitat natural.

MÁ FAMA

A anta tem os olhos pequenos e não enxerga bem. Por isso, quando se sente ameaçada, sai correndo pela mata batendo a cabeça nas árvores e galhos. Fato que deu a ela a errônea fama de ser um animal ignorante. Porém, pesquisadores da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab) que analisaram o cérebro do animal garantem que ela possui muitos neurônios. E, se por um lado o bicho não enxerga, o faro e a audição são muito precisos.

FUNÇÃO BIOLÓGICA

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ÃO

Apesar da aparência robusta, as antas carregam um título bem delicado: jardineiras das florestas, já que elas são importantes dispersoras de sementes – por meio das fezes –, garantindo assim a formação e a manutenção de árvores e plantas. E, por consequência, da biodiversidade de que todas as espécies dependem para sobreviver.

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FOTO: NILTON ROLINITAIPU BINACIONAL

RARIDADE

O nascimento de antas gêmeas é um caso raro. Mas, em julho de 2011, o Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), localizado em Foz do Iguaçu e de propriedade da Itaipu Binacional, registrou o nascimento em cativeiro de um casal de irmãos que foram batizados de Amada e Bio. O nascimento dos gêmeos surpreendeu os pesquisadores, que não encontraram registro de caso semelhante no mundo. Mas, as boas surpresas não pararam por aí! Em abril deste ano, a gêmea Amada deu à luz a um primeiro filhote, mostrando que a família vai muito bem, obrigada!

NOME NAS ESTRELAS

Você conhece a constelação “Anta do Norte”? Os indígenas, assim como todos os outros povos antigos, também tinham o costume de olhar o céu e dar nomes aos conjuntos de estrelas. Entre elas, segundo a astronomia indígena, a curiosa constelação “Anta do Norte”. A constelação de Tapi'i - que significa “anta” em guarani - era conhecida, principalmente, pelas etnias de índios brasileiros que habitavam a Região Norte e Nordeste do Brasil. Ela se encontra na Via Láctea, ou melhor, na região de Tapi'i rapé (“Caminho da Anta”, como é conhecida pelos índios), e seu contorno realmente lembra o animal.

MODO DE VIDA

Também chamadas de "tapir", as antas possuem hábitos noturnos e se alimentam de vegetais como frutas, folhas, gramas e brotos. São animais solitários e formam casais somente no período de reprodução. Durante essa fase, os machos emitem assobios estridentes para atraírem as fêmeas. A cópula pode ser feita dentro ou fora da água. E apesar de todo o romance, logo após o “namoro”, o casal se separa.

FONTES: Agência Fapesp, Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), Infoescola e Galeria do Meteorito.

FOTO: DIVULGAÇÃO

DIVERSIDADE AMEAÇADA

Existem no mundo quatro espécies de antas. A anta-da-montanha, que vive nos Andes, a anta-centro-americana, que vive na América Central. A anta-malaia, que vive no Sudeste-Asiático, e a sul-americana ou brasileira, que pode ser encontrada em 11 países da América do Sul. Diversidade que não impediu, infelizmente, que todas elas estejam listadas como ameaçadas de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Os motivos? Caça ilegal, desmatamento, expansão agrícola e atropelamentos.


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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

PARTO NO SERTÃO N

FOTO: MARCOS GUIÃO

um gastou nem bater palmas pra Maria do Céu apontar na porta da frente de sua casa, enxugando as mãos nas alvuras de seu avental protegendo o vestido multicolorido. Depois dos primeiros cumprimentos, cacei jeito de assentar num banco antigo, disposto no avarandado da casa simples e fresca. Maria também se acomodou na outra ponta e deu de me contar sobre o casamento da filha de sua vizinha de roçado. E daí a se lembrar dos antigos, foi um tim. “Pois é, seu Marcos, quando tinha casamento por aqui, as muierada se ajuntava formando um rodeiro lá no meio do mato, fechado em derredor da noiva, pra ela se trocar da roupa de poeira que vinha se ajuntando indesde a roça. E os home tamém fazia a merma coisa pra dar tratamento no noivo.”

Eu sempre me encanto com suas histórias e quando vejo que ela tá soltando a língua, fico de lado só dando corda enquanto vou anotando tudinho. “E as muié num dilatava tempão iguarmente hoje pra se apresentá prenhe. Antigamente, muié buchuda era tudo saudia, tomando conta de casa, varrendo terreiro, lavando roupa, cuidando de roça. De premeiro, as muié trabaiava muito na roça ajudando os maridos. Buchudas, elas num procuravam nada e nem ninguém. Só mermo é na hora das dores de nascimento que se buscava a parteira.” Enquanto mirava suas mãos calejadas, ela continuava a contar suas aventuras que eu não ousava interromper: “Já segurei muito minino nessas minhas mão, tirava eles, rezava em riba do bucho pro resto do parto sair e dava de primeiramente cuidar do bebê. Era cortano o umbigo, dano banho nágua morna, e dispois se dava um tiquim de óleo de mamona misturado num chá de funcho, pra tirar a ferragem que fica garrada nas entranha. Se ele já nasce na berração caçando comida, o melhor é buscar uma muié que já tá dando leite, pois os dois ou três primeiros dias vem pouco ou nenhum leite na mãe”. Maria levava seu olhar para um longe, colorindo as palavras com sua poesia vivida no simples. “A muié parida ficava quieta, apartada de fazimentos, só tomando chá de raiz de salsa e mentrasto. Por três dias, ela num arribava da cama. Se o parto se desse cedo, era servido um pirão de frango novo sem os pés, com uma dose de garrafada. Mas se fosse do meio-dia pra tarde, ela só vinha bulir em comida dia seguinte cedo. Por seis mês ela num podia comer fava e nem repolho, nem dobradinha, nem pequi ou quiabo. Dispois de sete dias é que o minino dava de sair pra fora da casa. Curava umbigo com azeite de mamona misturado com rapé de fumo, molhando em derredor do pé do umbigo. As veiz num tinha fumo e a gente usava pena de galinha torrada para se misturar no azeite e aplicar. Um paninho alvinho era furado no meio e vestido o umbigo, amarrando uma faixa para proteger.” Daí em diante, ela me arrastou pra cozinha enquanto passava um café servido com os enfeitos de suas quitadas. Pois é minha gente, vida na roça tem tempo de ouvir e contar. Ontem escutei e hoje conto. Inté a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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“ANTIGAMENTE, muié buchuda era tudo saudia, tomando conta de casa, varrendo terreiro, cuidando de roça”



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CINEMA

“DÊ AMOR. E DEUS CUIDARÁ DO RESTO” Filme “O Começo da Vida”, da cineasta Estela Renner, traz nova reflexão sobre o cuidado com os primeiros anos de vida para a formação de seres humanos bons, éticos e respeitosos com o próximo e a natureza Eloah Rodrigues

redacao@revistaecologico.com.br

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

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ma obra para assistir, se emocionar e se alegrar. São essas as percepções e sensações de quem assiste ao filme “O Começo da Vida”, da cineasta e roteirista Estela Renner. Ao afirmar que os bebês são mais do que apenas carga genética, a neurociência apontou uma nova reflexão que já é dada como fato: o bom desenvolvimento de um ser humano está diretamente ligado à qualidade da relação com o ambiente em que está inserido. “Ao longo de dois anos de produção, meu sentimento crescente era de que em cada bebê existe um mundo, e que cuidar do bebê é cuidar deste mundo. Quando a gente cuida, a gente se transforma, não é uma relação de doação simplesmente. É uma relação a dois, eu sou porque tu és, como um dos especialistas um dia citou. É através das relações humanas, principalmente com um ser em formação, que o mundo terá a capacidade de vir a ser a potência que ele tem para ser”, afirma Estela, que além de diretora de cinema é cofundadora da Maria Farinha Filmes, que produziu “O Começo da Vida”. Este contato com o cinema e o universo da infância não é novidade na vida da cineasta. Nascida em São Paulo na década de 1970, ela herdou da avó o gosto pela sétima arte. Ainda menina, admirava e acompanhava sua avó paterna, dona Cilú, registrando a família com uma câmera na mão. A vivência a marcou tanto que serviu de estímulo para a descoberta futura de sua própria profissão. Após um trabalho voluntário em uma creche na fronteira do México com os Estados Unidos, decidiu ser cineasta. Especializou-se na temática da infância por acreditar, verdadeiramente, tanto na importância dessa fase da vida quanto na possibilidade da transformação positiva da sociedade por meio do cinema. Estela já acumula um currículo com três longas: “Criança, a Alma do Negócio”, lançado em 2008. “Muito Além do Peso”, em 2012. E, finalmente, “O Começo da Vida”, lançado agora em 2016, e que nasceu a partir de um pedido de três instituições dedicadas à causa da infância: a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a ONG Instituto Alana e a Fundação Bernard van Leer. Assim surgiu a nova imersão de Estela no mundo dos bebês. Gravado em oito países - Brasil, China, EUA, Canadá, Itália, Argentina, Quênia e Índia -, o filme traz depoimentos de mães e pais, médicos, cientistas, psiquiatras, educadores, economistas e outros, todos envolvidos na temá-

ESTELA RENNER: sensibilidade

tica da primeira infância (da gestação aos seis anos de idade). A todo momento, e sem abandonar o foco das primeiras relações das crianças com o mundo, a diretora não hesita em concluir, assim como a máxima utilizada por tantos filósofos, que “o homem é fruto do meio”. Estela Renner preconiza que os bebês são o “recomeço da humanidade”, revelando o amor como alimento primordial para o desenvolvimento equilibrado e sadio de toda criança. Há no filme, inclusive, uma passagem em que um jovem pai é questionado sobre o que ele faz para que seu filho cresça assim, tão rápido, bonito e saudável. A resposta foi curta: “É só amor. Deus cuida do resto”. Também por acreditar nessa receita tão simples e infalível, a Ecológico selecionou trechos de depoimentos dos participantes desse imperdível filme que em muito contribui para que fiquemos atentos e vigilantes à educação e ao amor às nossas crianças. Certos de que estão centradas nelas as nossas verdadeiras esperanças de um mundo melhor para se viver, mais desenvolvido, socialmente mais justo e ambientalmente mais preservado! Boa leitura!

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CINEMA

l CAPACIDADE “Sabemos que os bebês são as melhores máquinas de aprendizagem do universo.” “Até os seis meses, bebês são cidadãos do mundo. São capazes de distinguir os sons de qualquer língua.” “A cada segundo, o cérebro de um bebê faz de 700 a 1.000 novas conexões.” “Eles não vêm prontos. Mas estão prontos para aprender.” l CRIATIVIDADE “Crianças são as inovadoras originais do mundo.” l APRENDIZAGEM “Os bebês não aprendem com vídeos e nem com a TV. Eles aprendem da interação com outras pessoas.” “Os seres humanos aprendem mais e mais rápido da gestação aos três anos do que em todo o resto de suas vidas.” “Nos primeiros cinco anos, os bebês são supermaleáveis às experiências que eles vivem. Antes pensávamos neles como folha em branco, desenvolvendo-se em um ambiente confuso. Agora sabemos que são os melhores cientistas do Universo e os melhores aprendizes sobre o que sabemos do Universo.” l TEMPO DO AMOR “Se você não ouve as crianças, você as perde.” “Eles só se importam se nós, pais, estamos presentes.” “Se você conquista a criança, conquista o adulto.” l HUMANIDADE “A mãe é o primeiro exemplo de humanidade que a criança tem contato.” “A relação afetiva de coração para coração é que vai estruturar aquele indivíduo.” l MISSÃO “Compreender que você está trazendo uma nova vida para o mundo, me pareceu o trabalho mais importante que eu jamais poderia ter.”

“Ser mãe me tornou uma pessoa mais humilde.” “A mãe é suprema. Acho que existe uma questão biológica. As pessoas não gostam de admitir, mas ela existe.” l PATERNIDADE “O papel do pai é fundamental e diferente, de ir mostrando para a criança que existe um mundão lá fora, para além da mãe.” “Pais que se envolvem, que passam mais tempo com seus filhos, liberam hormônios que os fazem mais felizes.” l EXPERIÊNCIA “Eu aprendi mais com meu filho em dois anos do que eu aprendi na minha vida inteira.” l SIMPLICIDADE “As crianças vêm novidade nas coisas mais simples.”

“O mais importante é que eles tenham uma vida livre, que encontrem seu próprio desejo.”

l AMOR MATERNO “Este amor é uma parte importante da economia que não é totalmente reconhecida pela sociedade.”

l MATERNIDADE

“A mãe e todo esse oceano de capital humano

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“Quando as crianças não recebem esse amor, elas se sentem sem centro, estressadas. Este tipo de negligência pode afetar muito o desenvolvimento cerebral dessa criança e seu comportamento mais tarde.” l GRATIDÃO “Mães adolescentes, mães mais velhas, mães homossexuais, mães solteiras, todas merecem companhia, amizade, afeto e solidariedade.” l SATISFAÇÃO “Eu vou até o céu quando vejo meu filho batendo palminha.” l INVESTIMENTO “Os primeiros anos são como construir a estrutura de uma casa. E será sobre ela que toda a casa será construída.” “Não se volta atrás com o desenvolvimento do cérebro. Você tem que construir em cima do que foi feito no começo.” “Custa dinheiro, mas é muito mais barato cuidar dos primeiros cinco anos do que tratar dos problemas futuros.” “Os programas de primeira infância diminuem drasticamente a criminalidade e dão às crianças controle sobre suas próprias vidas.”

FIQUE POR DENTRO “O Começo da Vida” é um filme que percorre os quatro cantos do mundo para mostrar a importância dos primeiros anos de vida na formação de cada pessoa. A estrutura narrativa do filme apresenta o bebê não como uma tábula rasa, mas como um indivíduo competente, capaz de elaborar hipóteses para melhor entender o mundo. E revela seu desenvolvimento por meio de seus relacionamentos primordiais com sua mãe, seu pai, seus irmãos, seus avós, seus cuidadores, e ainda com a natureza, com suas brincadeiras e experimentações, e com as histórias que são contadas a ele. O filme está em cartaz nos cinemas e em exibições públicas gratuitas pela VIDEOCAMP.

l VÍNCULO “O afeto é um isolante nas ligações entre neurônios. Uma vez ligados, vem o afeto e faz com que seja tão forte que nunca mais se desfaça.” “Não se importe em dar ao seu filho brinquedos caros e tecnológicos. Você é a coisa mais importante na vida da criança. Este vínculo que você constrói com seu filho faz toda a diferença no mundo.” l CRIAÇÃO “Criar uma criança não é uma ciência, é uma arte.” “Como se pode pensar num mundo de paz, de bem aventurança, onde o começo da vida não é levado em conta?”  SAIBA MAIS

www.ocomecodavida.com.br FOTOS: DIVULGAÇÃO

investido na criança, cuja parcela maior vem da mãe, é uma parte muito importante da economia.”

“Cada criança que nasce é uma surpresa para a humanidade. Se mudarmos o começo da história, mudamos a história toda.”

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

ALGAS se movimentando com um cardume de cangulos em Penedos de São Pedro e São Paulo, Brasil (2002)

PELOS MARES

DO MUNDO

O fotógrafo e oceanógrafo Marcelo Skaf comemora seus 20 anos de trajetória com obra que traz 130 fotos inéditas de suas principais expedições ao fundo do mar RECIFE de coral com destaque para os corais moles rosa e vermelho, além dos peixestesourinha, Egito (2005)

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FOTOS: MARCELO SKAF

TUBARÃO caribenho de recife "pintado" pela luz do flash em Nassau, Bahamas (2003)

Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

H

á alguns dias, chegou às minhas mãos o livro “Pelos Mares do Mundo”, uma compilação de imagens da biodiversidade marinha feita pelo fotógrafo e oceanógrafo carioca Marcelo Skaf. Ao abri-lo, tive uma explosão de sentidos e indagações. Quando vemos uma floresta desmatada, isso nos causa uma tremenda indignação, não é verdade? Mas ver a beleza que ainda sobrevive no fundo do mar, longe dos olhos e do capitalismo nada sustentável, me levou à reflexão. Estamos preparados para ficar sem todas essas maravilhas? Deixaremos que elas sejam destruídas pela nossa ignorância? Como está a situação de nossos mares hoje? Fui buscar as respostas com o próprio Marcelo. “Não podemos nos dar ao ‘luxo’ de lidar com o mar de forma tão inconsequente e amadora. A situação dos oceanos hoje é gravíssima. Em termos de recifes de coral, temos sérios problemas de branqueamento e poluição. Isso sem contar a sobrepesca, a ocupação de áreas de manguezais e zonas costeiras, mais a pressão imobiliária. A preservação efetiva não está no mesmo patamar que o nível de consciência ambiental.” “Pelos Mares do Mundo” é um balanço das duas décadas de trabalho de Marcelo, que também é consultor em Oceanografia, Planejamento Ambiental de Parques Nacionais e documentarista de natureza. Toda essa aventura começou aos 12 anos de idade, quando pela primeira vez colocou uma máscara de mergulho e entrou no mar. “A partir daí, minha vida mudou. Foi

uma paixão sem volta”, disse. Ele conta que, dois anos após o episódio, pediu à mãe que o matriculasse em um curso de mergulho. Mais tarde, largou o curso de Engenharia para se formar em Oceanologia pela Fundação Universidade Rio Grande (FURG). Hoje, é um dos maiores conhecedores da costa brasileira e já realizou expedições aos cinco oceanos da Terra, incluindo belíssimos mares como o do Caribe e o Vermelho. “Há locais no planeta em que você não consegue sair da água da mesma forma que entrou. E um deles é Galápagos, um lugar que me marcou muito. Em um dos meus mergulhos lá, fiquei no meio de um cardume de tubarões-martelo e, na sequência, passaram arraias douradas, um tubarão-baleia e alguns golfinhos. Foi inesquecível, saí em êxtase da água!”, afirmou. As 130 imagens que ilustram as 80 páginas do seu livro, feitas em lugares como Moçambique, África do Sul, Antártica e Nova Zelândia, mostram paisagens submarinas, detalhes e texturas de seres marinhos – desde espantosas baleias-jubarte até um cavalo-marinho pigmeu de apenas três milímetros: “A ideia é que as pessoas vejam o que pensaram que não existia, que não é comum aos olhos do cotidiano. Além do encantamento, que elas comecem a se preocupar que o que veem no livro tem de ser conservado. Não podemos destruir uma coisa tão bonita”. Confira: SAIBA MAIS

www.editorabatel.com.br

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

CONCHA chamada Tridacna, em Rangiroa, Polinésia Francesa (2012)

CABEÇA de peixe-pedra multicolorido, em Papua-Nova Guiné (1998)

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FOTOS: MARCELO SKAF

Nascido em São Paulo e mergulhador desde os 15 anos de idade, Marcelo Skaf é formado em Oceanologia pela Fundação Universidade Rio Grande – FURG. Foi um dos fundadores do Instituto Baleia Jubarte e, durante três anos, diretor do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Fotógrafo e cinegrafista há mais de duas décadas, juntou suas duas paixões (a câmera e o fundo do mar) e participou de inúmeras expedições de mergulho, do qual também é instrutor NAUI, com uma experiência de mais de 3.000 mergulhos.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

QUEM É ELE PEIXE-PALHAÇO, Papua-Nova Guiné (1998)

ESTRELA-DO-MAR pérola, Sudão (2005)

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O SEGREDO

DA CURA

O livro-filme “O Segredo” completou sua saga de sucesso na Ecológico. Iniciada em março, a série se tornou um êxito sem precedentes na história da revista. E, para fechar com chave de ouro, confira a seguir a última parte:

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ossa fisiologia cria doenças para que saibamos que nós estamos fora de equilíbrio, para que saibamos que não estamos amando, que não estamos firmes. Os sintomas do corpo não são coisas terríveis. A pergunta frequentemente feita é se, quando uma pessoa tem uma doença manifestada, esta pode ser eliminada pelo poder do pensamento correto. A resposta é absolutamente sim. Temos um programa básico que se chama autocura. Se você se cortar, a pele crescerá de novo. Se você tiver uma infecção bacteriana, o sistema imunológico entra em ação e dá conta de tais bactérias. O sistema imunológico é feito para curar a si próprio. Doenças não sobrevivem em um corpo que está emocionalmente saudável. O seu corpo elimina milhões de células a cada segundo e cria milhões de células novas. Na verdade, literalmente, partes do nosso corpo são substituídas todos os dias. Outras partes levam alguns meses, outras levam alguns anos. Dentro de alguns anos, nós temos um corpo físico totalmente novo. Se você tiver uma doença e se focar nela, se você falar a outras pessoas a respeito, você irá criar mais doença. Se imagine vivendo num corpo perfeitamente saudável. Deixe que o médico cuide da doença. Você consegue perceber a diferença entre ter uma dolorosa artrite no seu quadril e estar temeroso e esperançoso a respeito? A diferença entre temeroso e esperançoso é entre se recuperar e não se recuperar. Pensamentos mais felizes levam a uma bioquímica mais feliz, um corpo mais feliz e mais saudável. Pensamentos negativos e estresse degeneram o corpo seriamente, e 100  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016


"Para conseguir amor, encha-se dele até se tornar um ímã." Charles Haanel, empresário e escritor também o funcionamento do cérebro. Porque são nossos pensamentos e emoções que, continuamente, remontam, reorganizam, recriam o nosso corpo. Remova o estresse fisiológico do corpo e ele fará o que foi projetado para fazer: curar a si mesmo. “Incurável” quer dizer “curável internamente”. Você pode mudar a sua vida e você pode curar a si próprio. “O ser humano se torna aquilo no qual ele pensa e sente”. Nós sabemos que há muitas pessoas que vivem em grande condicionamento. Elas vêem coisas que acham maravilhosas e dizem: “Nós queremos mais disso, nós votaremos nisso, nós apoiaremos isso com o nosso tempo, energia e dinheiro”. Quando elas veem coisas que elas não querem, coisas terríveis com as quais não querem conviver, e com as quais os outros não tenham que conviver, dizem: “Nós precisamos fazer algo a respeito, precisamos nos livrar disso”. Mas elas não percebem que conforme rejeitam o indesejado, dão poder a ele. Neste mundo há guerra contra a pobreza, guerra contra o câncer, guerra contra a gravidez adolescente, guerra contra o terrorismo, guerra contra a violência. Tudo isso é um ato de rejeição a algo. Você não pode dizer “não” e simplesmente fazer essas coisas sumirem, porque quando se foca em algo e diz “não”, a lei da atração traz mais disso. “Aquilo a que você resiste, persiste”. A razão pela qual o que você resiste persiste é que quando resiste a algo e diz: “Não, eu não quero isso, porque me faz sentir de determinado modo, assim como eu me sinto neste momento”, você está colocando para fora uma emoção muito forte em relação ao que está rejeitando. Isso atrai mais ainda o objeto que está sendo rejeitado. Os movimentos antiguerra criam mais guerra; os movimentos antidrogas, na verdade, criam mais drogas, pois eles se focam no que não se quer. Pessoas dizem: “Nós devíamos nos focar nas coisas que não queremos” e outras pessoas ouvindo isso acham que também devem fazê-lo. Madre Teresa de Calcutá era brilhante. Ela dizia que nunca faria parte de uma passeata antiguerra, apenas de passeatas a favor da paz. Ela sabia. Ela entendia o segredo. Veja o que ela manifestou no mundo. Então, se você for contra a guerra, seja a favor da paz. Se você for contra a fome, seja a favor de que as pessoas

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(3) "Nossos sentimentos são um mecanismo de 'feedback', que nos informa se estamos no rumo certo ou não, se estamos na rota ou fora dela." Jack Canfield, especialista em empreendorismo

tenham mais do que o suficiente para comer. Se você for contra um político específico, seja a favor do seu oponente. Muitas eleições são vencidas pelo candidato que é rejeitado pela maioria, porque ele recebe a maior parte da energia e do foco. Você deve procurar se focar no que quer e não no que não quer. Saber o que você não quer não é ruim, porque assim você saberá como se focar no que você quer. Mas o fato é que, quanto mais nós falamos sobre o que não queremos ou sobre quão ruim essas coisas são, ou lemos sobre isso o tempo todo, nós criamos mais disso. Muitas pessoas dizem: “Mas tenho que me manter informado!”. Talvez você tenha que se manter informado (a), mas não tem que se inundar de informações. Mantenha-se informado. Mas tire a sua atenção das coisas que quer e de todas as cargas emocionais em torno delas, e se foque no que você deseja vivenciar. Quando a voz e a visão de dentro se tornam mais profundas, mais claras e maiores do que as opiniões de fora, você se torna o Senhor da sua vida. Você não está aqui para tentar fazer com que o mundo seja tão justo quanto você gostaria que fosse. Você está aqui para criar um mundo ao seu redor, ao redor de sua escolha, ao mesmo tempo em que permite que o mundo que outros escolheram também exista. Todo grande mentor que já passou pelo planeta nos disse que a vida foi feita para ser abundante. Quando nós achamos que os recursos estão ficando escassos, nós encontramos novos recursos para as mesmas necessidades. Mesmo que nós digamos que algo está em falta é porque não abrimos nossos olhos para ver tudo o que está ao nosso redor. Comece a mudar a vida ao seu redor. Isso é tão 102  ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2016

imenso que a palavra para descrever quão poderoso isso pode ser é “visualize”. A mente não distingue os objetos dos sentidos dos objetos do pensamento. Nós pegamos atletas olímpicos, os conectamos a equipamentos sofisticados de medição e pedimos para que eles corressem suas provas somente em suas mentes. Incrivelmente, os mesmos músculos acionados, na mesma sequência, quando eles corriam suas provas em suas mentes, eram os mesmos músculos quando eles corriam de verdade. Como isso é possível? A mente não consegue distinguir se você está realmente correndo ou se é só imaginação. O que estiver na mente vai para o corpo. COMPARTILHAMENTO Muitos dos líderes do passado se esqueceram de uma parte muito importante do segredo: compartilhá-lo com os outros. Essa é a melhor época para se estar vivo. É uma época em que é possível ter o conhecimento facilmente à mão. Quando nós olhamos ao redor, até mesmo o nosso próprio corpo, o que nós vemos é apenas a ponta do iceberg. Pense nisso por um momento: olhe para a sua mão. Sua mão parece sólida, mas na verdade ela não é. Se você a visualizar em um microscópio específico, você verá uma massa de energia vibrando. Tudo é feito da mesma matéria-prima, quer seja a sua mão, o mar, ou uma estrela. Tudo é energia. Entenda isso. Há o Universo, onde há a nossa galáxia, onde há o nosso planeta, onde há indivíduos. Dentro de cada corpo há um sistema de órgãos, onde há as células, onde há moléculas, onde há átomos, onde há energia. Tudo no Universo é energia. Não importa em que cidade você viva, você tem energia no seu corpo suficiente para iluminar essa cidade por quase uma semana. Muitas pessoas se definem pelo seu próprio corpo. Mas você não é só esse corpo, você é energia. Energia é isso: você pergunta para um físico quântico o que compõe o mundo e ele lhe dirá que é energia. Você pede para ele descrever o que é energia e ele lhe dirá que é algo que jamais pode ser criado ou destruído. Sempre foi e sempre será. É tudo que existe e tudo que já existiu. Então você pergunta para um teólogo sobre o que criou o Universo e ele lhe dirá que foi Deus. Então você pede para ele descrever Deus e ele lhe dirá que é algo que sempre foi e sempre será e jamais pode ser criado ou destruído. É a mesma descrição com terminologias diferentes. Se você acha que é só um monte de carne andante, repense isso. Você é um ser espiritual, você é um campo de energia operando em um campo de energia ainda maior. Nós estamos todos conectados, nós apenas não percebemos isso. Não existe um “lá fora” e um “aqui dentro”. Tudo no Universo está conectado. É apenas um campo de energia. Você é a “energia fonte”. As pessoas trabalham para


"Tudo que você deseja - alegria, amor, abundância, prosperidade, bem-aventurança - está ali, pronto para você pegar. E você precisa ter fome disso. Precisa ter intenção. E quando você agir intencionalmente e desejar com ardor, o Universo lhe entregará cada coisa que você desejou." Lisa Nichols, escritora e diretora de programas de capacitação se manterem bem fisicamente. Mas o corpo lhe distrai e lhe faz esquecer do que você realmente é. Você é um ser eterno, é a força de Deus. Você é o que você chama de Deus. Espiritualmente se diz que nós somos a imagem e semelhança de Deus. Pode-se dizer que o Universo toma consciência de si mesmo, revelando possibilidades. Nós somos um campo imenso de possibilidades. Tudo isso é verdade. Todas as grandes tradições dizem que você é criado à imagem e semelhança da fonte criadora. Isso significa que você tem o poder e o potencial divino para criar o seu próprio mundo. E você o está criando. Talvez você tenha criado coisas até aqui que foram maravilhosas e valorosas e talvez não tenha percebido. A questão é: os resultados que você tem na sua vida são os que você realmente quer? Eles são valorosos? Caso não sejam, agora seria o momento adequado para mudar isso, porque você tem o poder de fazê-lo. “Todo o poder vem de dentro e está, portanto, sobre nosso próprio controle.” Muitas pessoas se sentem como vítimas da vida. Muitas se prendem aos eventos do passado como, por exemplo, um abuso na infância, uma família desequilibrada. Muitos psicólogos acreditam que 85% das famílias são desequilibradas, assim sendo, você não é tão único. “Meus pais eram alcoólatras”, “meu pai abusava de mim”, “meus pais se divorciaram quando eu tinha seis anos” e assim por diante. Vá a algum lugar onde você possa oferecer os seus pensamentos deliberadamente, onde possa guiar os seus pensamentos de propósito. Você é o criador da sua própria experiência, você gerencia os seus próprios pensamentos. A beleza da lei da atração é que

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(3) você pode começar onde está. Começar a pensar e gerar dentro de si mesmo um sentimento de harmonia, de felicidade e a lei passará a responder a isso. Você passará a acreditar em outras coisas como, por exemplo, que há mais do que o suficiente para todos no Universo (Deus), que tudo dá certo para você, e até mesmo que você não envelheça, mas rejuvenesça. Nós podemos criar o mundo da forma que quisermos usando a lei da atração. E você pode se libertar de padrões hereditários, códigos culturais, crenças sociais e provar, de uma vez por todas, que o poder dentro de você é maior do que o poder que está no mundo e que não depende de qualquer denominação ou congregação que seja. Alguns de vocês podem estar pensando: “Isso tudo parece muito bonito, mas eu não consigo fazer isso” ou “ela não me deixará fazer isso” ou “ele não me deixará fazer isso” ou “eu não tenho dinheiro o suficiente para fazer isso” ou “eu não sou forte o suficiente”. “Eu não...”, “eu não...”, “eu não...”. Todo “eu não...” é um ato criador improdutivo. “Quer você pense que pode ou que não pode, você está certo”. Há algum limite para isso? Absolutamente não. Nós somos seres ilimitados. Nós não temos limites. As capacidades, os talentos, os dons e o poder que está dentro de cada indivíduo nesse planeta são ilimitados. Não há um quadro negro no céu onde Deus tenha escrito o seu propósito, sua missão na vida. Não há um quadro negro no céu onde se possa ler, por exemplo: “Fulano de tal, boa pinta, vive na primeira metade do século 21, vocação...”. Na frente de vocação então teríamos um espaço em branco. Então tudo o que eu teria que fazer é entender o que eu estou fazendo aqui, porque estou aqui. Tudo o que eu teria que fazer é encontrar esse quadro negro e descobrir o que Deus tem em consciência para mim. Mas o quadro negro não existe. Então, o seu propósito de vida é o que você disser que é. E sua missão é a missão que você der a si mesmo. Sua vida será como você a criar e ninguém jamais te condenará. Anote essa frase: “Se não é divertido, não faça”. Alegria, amor, liberdade, felicidade, riso. Se você sente ale-

"Por isso vos digo que tudo o que pedirdes em oração, crede que recebestes, e será vosso." Marcos, Cap.11, Vers. 24

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gria ao meditar por uma hora, então medite! Se você sente alegria com um sanduíche, então coma um! Quando brincamos com um gato ou cachorro, estamos em um estado de alegria. Quando estamos perto de alguém que amamos, ficamos em estado de alegria. Quando eu ando em meio à natureza, eu estou em um estado de alegria. Devemos nos colocar constantemente nesse estado e, quando fizermos isso, tudo o que devemos fazer é intencionalizar o pedido. E então ele se manifestará. Felicidade interior é o combustível do sucesso. Tudo que lhe faça se sentir bem sempre lhe trará mais. Você está lendo isso neste momento. Foi você que atraiu isso para a sua vida e é sua a escolha de agarrar e utilizar isso ou não. Se isso lhe faz se sentir bem, agarre. Se não faz, deixe ir embora. Encontre algo que lhe faça se sentir bem, designado pelo seu coração. “Siga a sua alegria e o Universo abrirá portas para você onde antes só haviam paredes”. Joseph Campbell disse: “Siga a sua alegria”. Talvez estas sejam as melhores palavras que já ouvimos da boca de um ser humano. E se alguém puder seguir a sua alegria, seguirá a trilha para a abundância e bem estar em todos os setores. Aproveite a vida, porque a vida é fenomenal. É uma viagem magnífica. Você viverá em uma realidade diferente, em uma vida diferente e as pessoas olharão para você e dirão: “O que você faz de diferente de mim?”. A única coisa diferente é que você trabalha com o segredo. Você poderá fazer e ter coisas que muitos dirão ser impossível. Nós estamos entrando em uma nova era. É a era onde a última fronteira não é o espaço, como se diria em “Jornadas nas Estrelas”, mas a fronteira pessoal. Vejamos um futuro de um potencial irrestrito, possibilidades irrestritas. Lembre-se de que nós usamos no máximo 10% do potencial da mente humana. Usar 100% é resultado de uma educação apropriada. Imagine um mundo onde as pessoas usassem o potencial mental e emocional totalmente. Nós poderíamos chegar a qualquer lugar, poderíamos fazer e alcançar qualquer coisa. Imagine-se com o bem que você deseja. Toda religião, todo grande livro de filosofia, todo grande líder. Estude os grandes sábios, muitos deles foram apresentados a você durante este relato. Sabe de uma coisa? Todos eles entendiam uma só coisa, eles entendiam o segredo. Agora você também o entende. Quanto mais você o usar, mais você irá entendê-lo. Você pode imaginar que seria mais fácil ter escuta-


"Se está carente, preso de pobreza ou doença, é porque não acredita ou não entendeu o poder que é seu. Não se trata de receber algo do Universo individualmente - ele oferece tudo a todos, sem qualquer parcialidade." Robert Collier, escritor do essas coisas nos primeiros dias da sua existência na Terra. Se estivéssemos falando com você nos seus primeiros dias de vida, nós lhe diríamos: “Bem-vindo ao planeta Terra! Não há nada que você não possa ser, fazer ou ter. Você é uma criatura magnífica e está aqui pela sua poderosa e deliberada vontade de estar aqui. Vá em frente, dando atenção para o que você quer, atraindo vivências para lhe ajudar a decidir o que você quer. Uma vez que você decida, dê atenção a isso. Muito do seu tempo será passado coletando dados que o ajudarão a decidir o que você irá querer. Mas o seu verdadeiro trabalho é decidir o que você quer e se focar nisso. Focando-se no que você quer é que você irá atrair. Esse é o processo de criação.” Você é grande. Há algo de magnífico a seu respeito. Não importa o que esteja acontecendo a você na sua vida, não importa quão jovem ou quão velho você ache que seja. Quando passar a pensar apropriadamente, esse poder interior começará a emergir e tomará conta da sua vida, irá lhe alimentar, lhe vestir, lhe guiar, lhe proteger, lhe direcionar. Sustentará a sua existência, se você o permitir. Fique tranquilo. Divirta-se. Não há nada que você tenha que fazer. Apenas o que você quer fazer. “Seja Feliz! Ame. Sinta gratidão!” . Um corpo doente é um corpo que não está tranquilo. Existem milhares de diagnósticos e doenças diferentes, mas elas são apenas uma coisa: conexão fraca com essa energia. Todas resultam de uma só coisa: estresse. Quando há estresse suficiente na corrente, uma das conexões se rompe. 

“MADRE TERESA era brilhante. Dizia que nunca faria parte de uma passeata antiguerra e sim a favor da paz. Ela conhecia o segredo”

Para adquirir o livro, acesse www.ediouro.com.br. MAIO/JUNHO DE 2016 | ECOLÓGICO  105


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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

AMOR PLANETÁRIO

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FOTO: NASA

uerida Mãe Terra, nesses dias luminosos de junho, queria muito que as mais belas evoluções de sua órbita favorecessem os encontros e as muitas alegrias de uma aliança conferida com amor. Que sua iluminação acordasse os ventos e eles amenizassem as dores de suas feridas. E que, nos desenhos de seus trajetos, aparecesse, em tela, os afazeres mais simples do nosso caminhar. Além disso, talentosa joia azul, em seu orbitar contínuo mande, em cachos floridos, os amores e as alegrias mais intensas para sorvermos todo o mais indizível prazer. Pode estar certa de que nós lhe retribuiremos com afetos. E, em ondas, pois sabe muito bem absorver, para sua grandeza, os afetos mais doces do carinho humano. Nós todos sentimos como esse seu privilégio de voar em elíptica no universo é a dotação maior de suas asas. São elas que nos oferecem a mocidade dos nossos sonhos e a garantia iluminada de nossa itinerância cósmica. Pode viajar tranquila pelos mares da infinitude, pelos espirais da Via Láctea. Esperamos ansiosos, irradiante esfera leitosa, que suas infindáveis evoluções favoreçam o apaziguamento amigável de todas as pessoas, pois todos os seres vivos, gerados no seu ventre, querem continuar no seio dessa maravilhosa casa planetária. E que o conforto térmico e equilibrado do seu aquecimento favoreça divagações talentosas, para que todos os nossos sonhos sejam azuis

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como a vemos de longe. Torcemos também para que sua maternidade cósmica possa expelir em profusão sonhos, abraços, sabores e amores. Que ela remeta para os confins do Cosmos todos os sofrimentos em sua carne, provocados pelos poluidores inconsequentes, pela ambição desmedida das atividades predadoras e pela ansiedade neurótica dos partidários do crescimento a qualquer preço. Não se desespere! O amor e a paz vencerão, não sem luta, sempre. Por isso, não se esqueça de nos brindar com esses ocasos avermelhados tão próprios do outono. Em sua homenagem, essas palavras foram todas escritas pela alma. Enfim, esplenderosa bola matinal, pedimos, neste Dia Mundial do Meio Ambiente, que favoreça o apelo ao entendimento e à concórdia de todos os seus filhos, pois o nosso destino é comum. Mesmo que inconscientes, somos todos passageiros felizes viajando no bojo confortável dessa linda joia azul pelos espaços galáxicos. Temos certeza de que a intensidade do seu brilho iluminará a sua rota na escuridão do espaço cósmico, formando uma procissão de luzes a ovacionar essa obra-prima da Criação. Bendita seja em azul, que ainda vai nos colorir e nos encher de esperança, enquanto o aquecimento não quebra o gelo do coração dos homens. Feliz dia solar! 

(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.




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