Revista Ecológico - Edição 89

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ANO 8 - Nº 89 - ABRIL DE 2016 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


UM MOSQUITO NÃO É MAIS FORTE QUE UM PAÍS INTEIRO. Cuide da sua casa, mobilize a família, seus vizinhos e a sua comunidade.

Participações voluntárias de Drauzio Varella e da atriz Camila Pitanga (Embaixadora Nacional da ONU Mulheres Brasil).

O país inteiro está se mobilizando para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da chikungunya e do vírus Zika, que pode causar microcefalia em nossos bebês. A saúde da população está em jogo e eliminar os criadouros do mosquito é um dever de todos os brasileiros. Faça a sua parte.

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EXPEDIENTE

FOTO: ROBERTO MURTA

RATO-DO-CHÃO (Akodon cursor)

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

CAPA Foto: Shutterstock

DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com

DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com

CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior

Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

REVISÃO Gustavo Abreu

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com

CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

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MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

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EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

ecologico

2,16 tCO2 e Dezembro de 2015


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IMAGEM DO MÊS RESISTÊNCIA PREMIADA

FOTOS: GUALTER NAVES

Um gavião-carcará, garrancho ou águia-do-sertão, nomes populares desta ave da família dos falconídeos, pousando triunfantemente na ponta de um buriti após enxotar dois intrusos que rondavam seu ninho, no Parque Estadual do Rola-Moça, em BH, valeu mais um prêmio para o fotógrafo Gualter Naves, colaborador da Ecológico. Desta vez, o primeiro lugar na categoria "P&B" do concurso "100 Best Photos of The Year 2016", na Rússia. O flagrante nos leva a recordar, nos tempos políticos atuais, o que escreveu a colunista do Jornal do Brasil, Maria Lucia Dahl, sob o título "Gerações Carcará": "Estamos vivendo uma espécie de Geração Carcará, aquela que 'pega, mata e come'. Só que os jovens de hoje não entenderam bem o que Nara Leão, Maria Bethânia e Chico Buarque queriam dizer com a letra da música 'Carcará', composta por João do Vale e lançada no Teatro Opinião, nos anos 60, simbolizando a vida difícil dos sertanejos mortos de fome, comparando-a à ave carcará, que tem de matar para sobreviver no interior do Maranhão. Tudo tinha um significado ideológico na época. O carcará era considerado um herói que matava para comer e sustentar a família, embora fizesse qualquer coisa para alcançar o seu objetivo". No caso do Rola-Moça, cujo parque ainda é cheio de nascentes e incendiado criminosamente todos os anos, o clique premiado de Gualter (foto) também poderia ser chamado de "Resistência da natureza". Parabéns duplo!

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ÍNDICE

CAPA

CONHEÇA OS VENCEDORES E OS HOMENAGEADOS DO "VI PRÊMIO HUGO WERNECK DE SUSTENTABILIDADE & AMOR À NATUREZA".

22 E AGORA, MARIANA? (4) A ECOLÓGICO MOSTRA A REGIÃO DE MACACOS, EM NOVA LIMA (MG), 15 ANOS APÓS O ROMPIMENTO DA BARRAGEM DA MINERAÇÃO RIO VERDE

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS ENTENDA COMO A MODA SUSTENTÁVEL PODE CONTRIBUIR PARA CONTER A EXPLORAÇÃO DESENFREADA DOS RECURSOS NATURAIS

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MEMÓRIA ILUMINADA ADÉLIA PRADO LANÇA NA CAPITAL MINEIRA, AO PARTICIPAR DO PROJETO “SEMPRE UM PAPO”, LIVRO QUE REÚNE TODA A SUA OBRA POÉTICA

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E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 GENTE ECOLÓGICA 12 ECONECTADO 14 SOU ECOLÓGICO 16 PÁGINAS VERDES 18 ESTADO DE ALERTA 26 MÚSICA 28 INOVAÇÃO AMBIENTAL 76 GESTÃO & TI 84 VOCÊ SABIA? 86 EMPRESA & AMBIENTE 88 AS PEGADAS DE LUND (2) 90 NATUREZA MEDICINAL 94 O SEGREDO 100 OLHAR POÉTICO 106


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Foto meramente ilustrativa. Todos os empregados desta empresa cumprem rigorosamente todas as normas de segurança e saúde no trabalho.


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CARTAS DOS LEITORES

 E AGORA, MARIANA (3)? - ENTRE O ÓDIO E O AMOR A matéria mostra a “escolha de Sofia” que a mineração ainda não fez 15 anos depois da tragédia da Rio Verde em Macacos (MG) “Belo texto. Mas com uma mensagem quase utópica, em minha opinião.” Clécio Santana Pereira, via Google+ “A mineração não fez essa escolha porque não tem interesse em manter nada de bom, nem da parte dos gananciosos empresários. E muito menos do governo.” Antônio Santos, via Google+  ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – UMA AMEAÇA SILENCIOSA Matéria trata os perigos que a desertificação representa ao equilíbrio dos sistemas e à segurança alimentar

 VI PRÊMIO HUGO WERNECK “Quero parabenizar toda a equipe da Ecológico pela sexta edição do ‘Prêmio Hugo Werneck’. Foi uma noite com histórias especiais. Saí da solenidade com um sentimento muito positivo de que querer fazer é poder fazer. Muito obrigado!” Marcos de Oliveira, gerente comercial da Log Print, por e-mail “Parabéns, Hiram Firmino e equipe da Ecológico por mais esta edição de sucesso do Prêmio Hugo Werneck!” Ana Laura Guimarães, diretora do jornal "Minas Marca", via Facebook “Foi uma satisfação imensa para a Siamig receber o ‘Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza’. E ter o reconhecimento do esforço feito pelas usinas associadas no estado na busca da atuação sustentável em todos os níveis: seja econômico, ambiental, social e também cultural. Como sempre, a solenidade foi um espetáculo em prol do meio ambiente e da cultura ao homenagear nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, agregando ao evento a poesia, o teatro e a música! Nosso muito obrigado pelo prêmio e a atenção de sempre!” Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), por e-mail

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“O pior é que a desertificação é fruto da ignorância das pessoas que estão pensando e agindo como se a água potável e doce do mundo não fosse acabar! Cortam árvores, não aproveitam a água da chuva, além de demais atitudes que causam a variação da temperatura, o surgimento de doenças etc. Temos que cuidar enquanto resta um pouco de tempo. Mas tem que ser para ontem!” Luciene Solima, via Google+  O SEGREDO – PARA VENCER A CRISE Texto fala sobre o livro e documentário “O Segredo”, que aborda o poder do pensamento positivo para se alcançar o sucesso “Li o livro e assisti ao filme. Agora só falta aprender a usar a mente a meu favor.” Antônio Carlos da Rosa Neto, via Google+ “Confesso que é realmente surpreendente descobrir que nós somos a fonte de todo esse poder. Pena que a grande maioria de nós aprende o contrário.” Jac Fran Cruz, via Google+ “Acredito que o grande segredo da vida é ter otimismo, bondade e tratar bem o próximo!” Júlia Mirelle Coutinho, por e-mail “Toda crise é provocada pelo próprio homem. Para vencê-la, ele tem de resolver a crise interna, encontrar a ecologia interior.” Marcos Freire, por e-mail


FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

 ERRATA Na edição passada, na matéria sobre a ampliação da RPPN Mata do Passarinho (pág. 60) da Fundação Biodiversitas, a foto de abertura foi utilizada equivocadamente. A imagem não é da RPPN, que abrange os municípios de Bandeira e Jordânia (MG) e Macarani (BA) e recentemente ganhou mais 300 hectares. E sim da Reserva de Floresta Urbana Mata do Passarinho, localizada em Olinda (PE) - que não pertence à Biodiversitas. A imagem correta da RPPN pode ser conferida no link http://goo.gl/cFFnMY.

“Leio a Revista Ecológico porque sou um entusiasta das causas que envolvem a preservação do planeta. Mantenhome informado sobre as questões regionais, nacionais e globais que envolvem a conservação do meio ambiente e os seus aspectos políticos e jurídicos. Também uso a informação como forma de motivar as pessoas que conheço, incentivando-as a adotarem medidas em prol da preservação do meio ambiente. O planeta carece urgentemente de cuidados e nós, humanos, precisamos nos esforçar muito para recuperar os danos já causados.” ANDRÉ ARRUDA ANTUNES, educador físico

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FOTO: FELIPE LESSA

“Nossa! Amei a matéria! Formei-me em pedagogia no final do ano passado e sempre quis conhecer de perto esse tipo de escola.” Dyane Cristina, via Facebook

EU LEIO FOTO: ARQUIVO PESSOAL

 EDUCAÇÃO AMBIENTAL - APRENDENDO NA FLORESTA Instituição educacional de Nova Lima (MG) mostra que é possível aliar teoria e prática de forma integrada à natureza


FOTO: ALFEU TRANCOSO

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

O AMOR QUE CRESCE

á dizia o amante e fotógrafo de natureza Alfeu servação”. É condição sine qua non de mantermos este Trancoso, nosso filósofo e pensador de plantão: planeta e todos nós vivos, sejamos mineradores ou “As águas são como as pessoas. Crescem porque minerados, contra ou a favor do impeachment natural se encontram”. É por isso, caros leitores, apoiadores e que vem por aí, chamado de mudanças climáticas. anunciantes, que estamos aqui, reunidos nesta Edição Foi isso, esse sentimento humano maior, que Especial da Ecológico comemorativa ao VI Prêmio os 300 convidados para a solenidade de entrega Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natu- da sexta edição da premiação que leva o nome de reza, sob a temática “Pelas Águas do Planeta, da Caixa Hugo Werneck confirmaram em suas mentes e cod´água do Brasil à Terra das Cataratas”. rações, durante o evento no último dia 23 de março, Reunidos para confirmar que nem tudo está per- na capital mineira. Nem o intrépido jornalista Andido. Pelo contrário, ainda há muita gente boa. Ci- dré Trigueiro, da TV Globo, vencedor na categoria dadãos, empresas, empresários, políticos e institui- “Personalidade do Ano”, resistiu ao chamado amoções fazendo a sua parte na questão hídrica. Dando roso. Diante do clima de solidariedade e aposta na exemplos bons, país afora, de que ainreconstrução social e ambiental que da é possível e mais inteligente respeio envolveu, ele também deixou sua “As águas são tarmos a natureza, e termos as nossas mensagem de esperança. chuvas, águas e peixes de volta. E ainda Trigueiro não está sozinho. Nenhum como as pessoas. ganhar e multiplicar dinheiro com recude nós está. Segundo o neurobiólogo Crescem porque chileno Humberto Maturama, venceperação ambiental. se encontram.” A gente nem precisava de outro motidor do “Prêmio Nacional de Ciências”, vo. Só pela sua beleza exuberante, seu 99% das doenças humanas – e o que, Alfeu Trancoso sistema autossustentável e perfeito de doentes, também fazemos adoecer na fabricar ar, chuva, água e floresta, plantas natureza – têm a ver com a negação e bichos, incluindo nós, humanos, este planeta azul do amor. Degradados ou degradadores ambientais, que nos abriga deveria ser preservado. Em vez de de- “todos nós somos filhos do amor. Surgimos do amor. gradá-lo, deveríamos amá-lo sobre todas as coisas. Dependemos do amor. E adoecemos quando não soE por que isso não acontece? mos amados”. Hugo Werneck, a quem a Ecológico é dedicada a É o que você, caro leitor, tendo de companhia a poecada nova lua cheia que surge no céu, sabia e nos pre- sia de Carlos Drummond de Andrade, São Francisco gava a resposta. É porque nos afastamos em demasia de Assis e Adélia Prado, vai conferir na cobertura jorda natureza. E tudo aquilo que não vemos, nem senti- nalística completa que fizemos sobre os vencedores mos, muito menos experimentamos, nos impossibili- de 2015 contemplados no “VI Prêmio Hugo Werneck ta valorizar, respeitar, amar e preservar. de Sustentabilidade”. Observe que o “amor”, não por acaso, precede a “preBoa e amorosa leitura! Até a próxima lua cheia.  10  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016


ÁGUA É FONTE DE VIDA. E, PARA O GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS E A CODEMIG, TAMBÉM É FONTE DE DESENVOLVIMENTO. Patrimônio do povo mineiro, nossas águas estão entre as melhores do país e podem ser encontradas em um estabelecimento próximo a você. A Codemig trabalha para a continuidade da produção e das vendas das águas minerais de Minas. Assim, o desenvolvimento vai continuar fluindo como a nossa água.


FOTO: DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

GENTE ECOLÓGICA FOTO: JEAN-POL GRANDMONT

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“Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre. Se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico.”

FOTO: REPRODUÇÃO

SÊNECA, filósofo romano

“O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de dominarem a si mesmos.”

“Alimentar-se bem é uma regra que se aprende aos poucos. É como usar cinto de segurança.”

ALBERT SCHWEITZER, médico e teólogo francês

FOTO: MEDDE / ARNAUD BOUISSOU

GIOVANNA ANTONELLI, atriz

“Os defeitos das mulheres foram dados pela natureza para pôr em atividade as qualidades dos homens.” SUZANNE NECKER, escritora suíça 12  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

“O mundo mudou. Nós entramos na era do baixo carbono, um movimento poderoso e irreversível.” FRANÇOIS HOLLANDE, presidente da França


FOTO: WORLD ECONOMIC FORUM

“É necessário hidratar a cultura, mudando a percepção sobre a água, reduzir a hidroalienação e tornar a sociedade e os indivíduos hidroconscientes.”

FOTO: REPRODUÇÃO

CAMILA PITANGA Atriz, que interpreta a personagem Teresa na novela “Velho Chico”, da TV Globo, traz de volta a questão dos agrotóxicos desde o período colonial no Brasil. Ao enfrentar o coronel Afrânio, seu pai, interpretado por Antônio Fagundes, ela reacende a falta de ética do agronegócio em produzir e vender alimentos sabidamente contaminados, cuja maior vítima continua sendo o homem do campo. MPMG O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) conseguiu na Justiça liminar que obriga o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) a utilizar, preferencialmente, massa asfáltica produzida com borracha de pneus inservíveis na construção e recuperação de vias públicas. Apurou-se que foram concedidas 42 licenças ambientais ao DER-MG para pavimentação de rodovias, sendo que em nenhuma delas a Secretaria de Estado de Meio Ambiente exigiu a utilização de borracha de pneus inservíveis na massa asfáltica.

MAURÍCIO ANDRÉS, ambientalista

“As doenças do coração não são causadas unicamente pela obesidade, tabagismo e estresse. Mas, principalmente, pelos calos provocados pela forma como as pessoas carregam o fardo de suas vidas.” FÁTIMA LOYOLA, médica angiologista e cirurgiã-vascular, ex-bióloga da Secretaria de Meio Ambiente de BH

“Temos um compromisso com a sociedade. Nossa meta é que as regiões impactadas voltem à situação que estavam antes do acidente. Nos casos em que não for possível, haverá uma compensação.” ROBERTO CARVALHO, diretorpresidente da Samarco

FOTO: VALTER CAMPANATO / AGÊNCIA BRASIL

MINGUANDO

JAIR BOLSONARO Durante votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, em 17 de abril último, o deputado (PP) declarou ser favorável ao processo “em memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”. O coronel foi o primeiro militar oficialmente reconhecido pela Justiça, em 2008, como torturador durante a ditadura. Também foi acusado pelo Ministério Público Federal por envolvimento em crimes como assassinato e sequestro.

ABRIL DE 2016 | ECOLÓGICO  13

FOTO: DIVULGAÇÃO

ALBERT II, príncipe de Mônaco, o primeiro na linhagem real a levantar a bandeira da sustentabilidade

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTO: DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

CRESCENDO

“Quero deixar para meus filhos gêmeos um planeta com uma nova abordagem do consumismo.”


ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

ECO LINKS

 “É preciso amor. É preciso respeito. É preciso diálogo. É preciso calma. É preciso cuidar do nosso bem comum.” @taisdeverdade - Taís Araújo, atriz

FOTO:REPRODUÇÃO YOUTUBE

TWITTANDO

 “Butão celebra nascimento do novo

 “Todo profissional precisa avaliar constantemente sua performance. O líder não é diferente.” @abilio_diniz - Abílio Diniz, empresário  “Não apenas nós: novo estudo

mostra que todas as espécies de primatas serão gravemente afetadas pela mudança climática.” @billmckibben - Bill McKibben, escritor e ambientalista americano

 “Em 2015, decidimos

agir para resolver a crise climática com o Acordo de Paris. Agora temos de trabalhar para implementar esses compromissos!” @algore – Al Gore, político norte-americano

 “Se tivermos que escolher uma regra mor para o alcance de uma boa alimentação iria muito bem aquela: “descascar mais e desembalar menos.” @ailtonvieira - Ailton Vieira, médico  “Brecar emissões

é o que mais importa hoje, se não, a única coisa que importa. Se o permafrost derreter, e está derretendo, acabouse tudo.” @fmei7777 - Fernando Meirelles, cineasta 14  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

FOTO: KIKO FERRITE

príncipe plantando mais de 100 mil árvores.” @apadovezi - Aurélio Padovezi, gerente de programas de Florestas e Água do WRI Brasil

CONSUMO SUSTENTÁVEL Você sabia que o inhame, também conhecido como taro, não precisa ser guardado na geladeira e dura até dez semanas se guardado em local fresco e arejado? Ou que abóboras com cascas brilhantes significam que foram colhidas muito novas e, por isso, não amadurecem totalmente? Essas e outras informações sobre 50 hortaliças comuns no prato do brasileiro estão no site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A página também traz informações da origem desses alimentos, como consumi-los e guardá-los adequadamente, além de receitas. Uma boa dica para um consumo sustentável e saudável de comidas. Acesse: www.cnph.embrapa.br/hortalicasnaweb. JUSTIÇA NAS MÃOS O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) possui um aplicativo gratuito para celulares com sistema Android e IOS. A ferramenta permite que o usuário consulte processos e procedimentos do MP, além de permitir que a população faça denúncias, leia informações do Portal da Transparência e do Diário Oficial, bem como acesse publicações como jornais, cartilhas, revistas e redes sociais do órgão. O app também possui uma área específica para o público interno do Ministério com utilitários como e-mail, agenda, catálogo de telefones e endereços. A ferramenta pode ser baixada nas lojas virtuais do Google Play e Apple Store e pode ser encontrada pelo nome do próprio Ministério.

MAIS ACESSADA É O FIM DA PICADA! O texto que aponta que a empresa Via 040, administradora da Rodovia BR-040, pretende cortar mais de 15 mil árvores no trecho entre Ouro Preto e Curvelo (MG) foi o mais acessado no site da Ecológico. E também o mais compartilhado no Facebook. Os leitores ficaram indignados com o argumento da empresa. Ela afirmou que os cortes estão sendo feitos “para diminuir a gravidade dos acidentes e aumentar a segurança dos motoristas naquele trecho”. Quer entender melhor sobre o assunto? Leia a matéria completa em: http://goo.gl/5SyQG0 FOTO: SANAKAN

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SOU ECOLÓGICO TRILHAS PARA SEMPRE

Vencedor na categoria “Destaque Municipal” do “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade”, em 2014, por ter transformado em “Patrimônios Naturais” os quatro maiores morros de Nova Lima (MG), o prefeito Cássio Magnani continua mostrando a seus pares que abraçar a causa ambiental faz bem pra todos, além de angariar votos. Numa atitude sem precedentes, simples, criativa e corajosa ao mesmo tempo, ele se somou às ONGs Arca Amaserra da Calçada e Mountain Bike BH, além das Associações dos Condomínios Horizontais e Centro Municipal de Apoio ao Ciclista. E criou, por decreto, mês passado, a preservação de todas as trilhas existentes no município, inclusive as que cortam mineradoras e propriedades particulares. Ou seja, passe livre e consciência ecológica ao mesmo tempo, uma vez que são os próprios ciclistas os maiores fiscais da natureza por onde passam. FOTOS: FERNANDA MANN

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CÁSSIO MAGNANI, Fred Lanna, Christian Wagner, Simone Bottreu e Jean Lamas: trilhas mapeadas e preservadas

PRÊMIO À QUALIDADE URBANA

Levar as pessoas e empresas a apresentarem ideias que contribuam para a promoção de uma cultura que gere valor para toda a comunidade, trabalhadores e empresas da Lagoa dos Ingleses. Esse é o objetivo do “I Prêmio CSul de Qualidade Urbana”, idealizado pela CSul Desenvolvimento Urbano, lançado este mês. A iniciativa, chancelada pela União Brasileira de Qualidade (UBQ), visa reunir e avaliar ideias que contribuam para a promoção da cultura local, criando novas ou adaptando e melhorando soluções já existentes, gerando valor para a comunidade. As inscrições são gratuitas e abertas para pessoa física, empresas públicas e privadas e Organizações da Sociedade Civil (OSC). A premiação contempla 10 categorias, divididas nos seguintes eixos temáticos: Ocupação e Desenho Urbano; Qualidade Ambiental; Ecossistema e Biodiversidade; Mobilidade e Acessibilidade; Gestão de Energia; Gestão da Água; Materiais e Recursos; Gestão de

Resíduos; Informação, Comunicação e Tecnologia e Governança e Desenvolvimento Local. De acordo com o superintende da CSul, Waldir Salvador, a premiação foi pensada a partir do próprio "Protocolo de Sustentabilidade da CSul", abrangendo ideias sustentáveis também para as áreas do Vale do Sol, Jardim Canadá, Água Limpa e terrenos compreendidos no Masterplan da empresa, que ocupam uma área de mais de 27 milhões de m² no entorno. A proposta é transformar a localidade em um destino urbano, turístico e de lazer, a partir de valores que priorizem o bem coletivo e a criação de novas oportunidades: “O projeto deverá conter dados que comprovem sua aplicabilidade ou ação de melhoria, bem como prever resultados, recursos financeiros e humanos. Além disso, é preciso ser algo criativo, replicável e que tenha perpetuidade e sustentação econômica”, ressalta. SAIBA MAIS

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PÁGINAS VERDES

O AVISO QUE FOTO: REPRODUÇÃO

NÃO FOI OUVIDO

PIMENTA DE ÁVILA: "É preciso mudar o espírito das pessoas. A sociedade precisa saber do risco que corre"

A segurança na operação deste tipo de barragens é um assunto em discussão no mundo inteiro. Como os outros países têm buscado soluções para esse problema? Há cinco anos, o Pnuma procurou a Comissão para discutir o assunto. Desde então, vários trabalhos vêm sendo produzidos e o estudo mais recente, publicado em setembro de 2000, é o boletim “Barragens de Rejeitos: Riscos das Ocorrências Perigosas, Lições Aprendidas de

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Há 15 anos, quando da tragédia da Mineração Rio Verde que soterrou cinco trabalhadores, o mesmo consultor atual da Samarco, Joaquim Pimenta de Ávila, já alertava sobre o rompimento das barragens de rejeitos. É o que reproduzimos a seguir, fruto de uma entrevista exclusiva que ele deu à nossa repórter Luciana Morais, no então suplemento “Estado Ecológico”, do jornal Estado de Minas, precursor da atual Revista Ecológico. Em sua reportagem, intitulada “Ainda precisamos de mortes”, a jornalista começou dizendo: “Não estamos sozinhos. O temor em relação ao rompimento de barragens de rejeitos de mineração é um problema real e ameaça comunidades do mundo inteiro, sem escolher países desenvolvidos ou não. A situação desses empreendimentos é tão preocupante que acendeu, até mesmo, o alerta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), da ONU, através da Comissão Internacional de Grandes Barragens”. Luciana acrescentou, antes de escrever a anunciada entrevista: “Quem faz um panorama dessa realidade mundial, a partir do rompimento da barragem da Mineração Rio Verde [ocorrido em 2001] em Macacos, distrito de Nova Lima (MG), é o consultor Joaquim Pimenta de Ávila, membro do Comitê Brasileiro de Barragens e representante do Brasil junto à ONU. Pleno conhecedor do assunto e das experiências ao redor do mundo, ele traça um relato contundente de acidentes ocorridos e aponta caminhos para superarmos as deficiências existentes. Mas vai além: defende a necessidade de criação de uma lei sobre o assunto, tendo Minas Gerais como modelo”. Confira:

Experiências práticas”. Ele reúne um inventário de 400 barragens em todo o mundo, inclusive no Brasil. Cada uma delas está ficando inchada, contendo dados como o tipo de rejeito, altura, volume do reservatório, o tipo de acidente que ocorreu, quais foram as consequências e causas. O Brasil tem algum caso registrado no boletim? Sim, o da barragem de Fernandinho, da Itaminas, que não consta-

va do estudo, e só foi incluído posteriormente. Isso porque, quando o Brasil informou à Comissão Internacional o acidente, não registrou as sete mortes ocorridas. O levantamento também toma como referência acidentes como o ocorrido na África do Sul, em 1994, quando o rompimento da barragem de uma mina de ouro provocou a morte de 117 pessoas, além de cegar outras centenas. Esse foi o maior?


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J O A Q U I M P I M E N TA D E ÁV I L A

Consultor, engenheiro civil e mestre em Engenharia de Solos

ORIGINALMENTE publicada no caderno "Estado Ecológico", em 2001, a entrevista do consultor traz um alerta que continua a não ser ouvido pela mineração hoje

Não. O marco principal é o acidente em Buffalo Creek (EUA), em 1972, com 116 mortes, o que levou à total reformulação das práticas de segurança de barragens norte-americanas. A partir dele, o governo inspecionou e classificou mais de 60 mil barragens. Aquelas consideradas de maior risco foram obrigadas a reavaliar sua operação. Na verdade, a legislação da segurança deste tipo de barragens ainda avança pelos acidentes. Quais foram as soluções propostas pela Comissão, diante das situações analisadas? No geral, o levantamento preconiza que o projeto, construção, operação e fechamento de barragens com risco potencial devem incluir requisitos mínimos. Muitos podem aparecer óbvios, mas nem sempre são seguidos. Entre eles, podemos citar a utilização de sondagens e investigações de campo. A Mineração Rio Verde, por exemplo, não apresentou estudo algum nesse sentido. Além disso, é preciso fazer amostragens e ensaios de laboratório e exigir a aplicação do chamado “estado de arte”. Ou seja, a aplicação do conhecimento mais recente e mais correto, do ponto de vista de segurança e operação. Outro aspecto importante é o uso de equipes especializadas durante a construção e a operação de barragens. Tudo tem de ser feito por um especialista. Ninguém vai ao clínico geral para colocar uma ponte de safena; pois sabe que essa é uma intervenção especiali-

“A barragem é um organismo vivo, que se deteriora continuadamente como o nosso corpo. Daí a importância de as empresas investirem em auditorias de segurança.” zada. Mas com barragens, muitas empresas pensam que é assim. Que é só chegar lá e construir. E em relação aos equipamentos de monitoramento de barragens? Eles realmente ajudam a evitar acidentes? Sim. É preciso instalar pesômetros, que medem o nível da água e atestam se a barragem está segura ou não. Mas, além disso, é preciso fazer monitoramento sistemático. A barragem é um organismo vivo, que se deteriora continuadamente com o nosso corpo. Daí, a impor-

tância das empresas investirem em auditorias de segurança, feitas por pessoal habilitado e independente. Tenho clientes em Minas que já contrataram auditores internacionais para avaliar suas barragens. Somente assim é possível ter certeza de que todos os cuidados estão sendo aplicados. Não basta criar normas de segurança. Uma norma só tem eficácia quando você faz duas coisas: treina pessoas para colocá-la em prática e audita para saber se elas estão seguindo. Outro grande avanço, já obrigatório em vários países, é

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ABRIL DE 2016 | ECOLÓGICO  19


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J O A Q U I M P I M E N TA D E ÁV I L A

Consultor, engenheiro civil e mestre em Engenharia de Solos

PÁGINAS VERDES

a realização de estudos para dimensionar impactos ambientais e humanos em caso de rompimento. Um deles é a simulação de propagação da onda de ruptura, mostrando o que pode acontecer se a barragem romper, os estragos na região abaixo dela e as áreas que podem ser atingidas. Isso quer dizer que acidentes como o de Macacos podem ser evitados? Exatamente. Em Minas Gerais, acredita-se que há cerca de 50 barragens de rejeitos, muitas delas com grande potencial de dano ao meio ambiente e às comunidades vizinhas. Na época da ruptura de Fernandinho, vivemos o mesmo clima que marcou o acidente da Rio Verde, em Macacos. Mas, infelizmente, isso não se traduziu em ação. Com o tempo, a coisa foi esquecida e a memória apagada. É preciso mudar o espírito das pessoas. A sociedade tem que saber do risco que corre. Tem que conhecer e estar satisfeita com o que o empreendedor está fazendo. Se eu morasse abaixo de uma barragem queria ter certeza de que o dono, lá em cima, está tomando conta. Senão, como é que eu vou poder dormir tranquilo? É preciso também fazer plano de contingência. Em muitos países, as empresas chamam as famílias que podem ser atingidas, em caso de rompimento, e comunicam a situação. E quais as conclusões e lições aprendidas? Que as rupturas em barragens de rejeitos continuam a ocorrer apesar da moderna tecnologia disponível para o projeto, construção e operação. E mais, comprovam que, apesar de em muitos casos a causa da ruptura incluir características geotécnicas e de compor20  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

CENÁRIO ATUAL Segundo o “Inventário de Barragens 2015”, divulgado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) em março último, há 730 barragens cadastradas no estado. Desse total, 710 foram avaliadas quanto à estabilidade pela instituição. Dezenove delas estão inseguras, ou seja, não tiveram a estabilidade garantida pelos auditores. Outras 16 estruturas tiveram parecer inconclusivo devido à falta de dados ou documentos técnicos.

tamento do terreno, um grande número de ocorrências pode ser evitado com a adoção de soluções já existentes. Isso reforça a tese de que o conhecimento disponível não é utilizado pelas empresas, por ignorância ou negligência. Outro ponto importante na pesquisa é a confirmação de que os cuidados com a segurança das barragens precisam ser redobrados após o encerramento da operação. As estatísticas demonstram que o número de barragens que se romperam durante a operação é quase tão grande quanto o daquelas rompidas após o abandono. Alguns países já estão avançados neste aspecto. Nos EUA, uma empresa que abre uma mina hoje tem de fazer uma caução, prevendo o valor do fechamento. A sociedade tem a garantia de que ela não vai falir no meio do caminho, não vai fechar e deixar um passivo ambiental para ser pago pela população. E no Brasil, quando poderemos alcançar esse estágio de maturidade? Infelizmente, no aspecto operacional, ainda estamos longe disso. Para reverter essa situação, a

primeira coisa a fazer é assegurar que os proprietários e operadores de minas com barragens sejam obrigados a adotar procedimentos gerenciais de segurança. Essas responsabilidade é do proprietário e não do órgão de fiscalização ambiental. A empresa mineradora tem que assumir o ônus do empreendimento. Se ela inicia uma mina e extrai benefícios dela, tem que pagar pelo passivo ambiental que gera. O lucro só pode ser calculado depois que esse passivo é creditado à sociedade. Mas para chegarmos a esse ponto, precisamos de uma lei que os obrigue a ter essa atitude. Desde 1980, o Comitê Brasileiro de Grandes Barragens vem fazendo tentativas nesse sentido. Agora, finalmente, parece que vamos avançar, com a criação de leis setoriais. Através da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já estamos conseguindo, por exemplo, uma norma para as usinas hidrelétricas. Em Minas, temos muita chance de sair na frente e ser modelo na questão das barragens de rejeito. Já conversamos com promotores do Ministério Público e esperamos que eles possam catalisar um processo definitivo. A expectativa é de que, em breve, o assunto chegue à Assembleia Legislativa para ser discutido juntamente com a população. Afinal, não cabe ao órgão ambiental definir o que é necessário. É a sociedade civil que deve dizer a ele como fiscalizar. O fiscal da Feam tem que representar o cidadão que vive abaixo de uma barragem e não tem conhecimento técnico para avaliar o risco da situação. Precisamos assegurar a tranquilidade dessas pessoas. De seres humanos que correm risco e não podem viver ameaçados para sempre. 


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1 MARIANA? 4 E AGORA,

A NATUREZA

PAVIMENTADA O que aconteceu com a natureza e o meio ambiente impactados pelo rompimento da barragem de rejeitos da Mineração Rio Verde, em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), distrito de Nova Lima, há 15 anos? J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

22  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

FOTO: GUALTER NAVES

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ó a natureza, ajudada pela mão humana, fez a sua parte. Já o meio ambiente, sem ajuda empresarial ou institucional, continua o mesmo: destroçado. A lama de rejeitos, até hoje intacta, transformou seis quilômetros do outrora piscoso Córrego Taquaras, afluente do Fechos, em uma grande e pavimentada avenida. Uma avenida sem vida, artificial e retilínea, sem mais as cachoeiras e poços d’água de outrora. O percurso bucólico que os moradores vizinhos à mineração faziam pelas águas claras que dãonome ao distrito, dois quilômetros antes do local do rompimento até a entrada da comunidade, durava quase o dia inteiro, tamanha a quantidade de atrações naturais pelo caminho. Hoje, sem mais as matas ciliares levadas pela lama, não se gasta mais que duas horas. Até os peixes, dizem os moradores da região, diminuíram de tamanho, tal como o volume dos cursos d’água hoje igualmente retilíneos, não mais represados, profundos e adequados à reprodução da fauna aquática, segundo as leis da natureza.

APÓS o rompimento da barragem da Rio Verde, 43 hectares de Mata Atlântica e 12 quilômetros do Córrego Taquaras foram devastados pela lama em Macacos

Após o trágico acidente, que causou a morte de cinco operários, a empresa mineradora chamou para si a responsabilidade da recuperação ambiental. Foi

uma questão de honra que deu certo. Porém, conforme a Ecológico verificou in loco, isso somente aconteceu no tocante à vegetação, flora e fauna que existiam ali. Quem também comprova isso é o comerciante Márcio Rodrigues, de 43 anos, filho do seu João de Macacos, ambos proprietários da Pousada e Bar do Marcinho, restaurante e point tradicional de motoqueiros e turistas. Na época, a lama montante abaixo chegou a poucos metros do estabelecimento, deixando-os isolados por muito tempo, até a reconstrução do antigo acesso rodoviário. O depois, segundo Marcinho, compensou tudo: “Logo após o estrondo, eu e minha família fomos os primeiros a ver a tragédia de perto. Mas, hoje, eu também dou este testemunho. As coisas melhoraram. Eles plantaram tanta árvore aqui, mas tanta, que a mata hoje é mil vezes mais densa e tem mais bicho e passarinho que antigamente. Sem falar no volume d´água, que também aumentou. Até os moradores, professores e alunos das escolas de Macacos costumavam fazer excursões até


FOTOS: ECOLÓGICO

aqui, subindo pelo próprio Córrego Taquaras. Hoje o tamanho do verde recuperado e emaranhado não permite isso mais. Virou uma coisa boa, muito melhor. Não dá nem pra perceber mais a quantidade de lama que ficou pregada no chão da nova e regenerada floresta. Tudo virou natureza”. E quanto às margens e cursos d’agua à jusante e sem vegetação, ainda hoje visivelmente “pavimentados” pelos rejeitos do minério escorrido, após o encontro do Taquaras com o Córrego de Fechos? De quem é a responsabilidade? Na época, os ambientalistas de Macacos sugeriram à Mineração Rio Verde e à própria Vale, que arrendou a mina, e não o seu passivo ambiental, um recurso até doméstico para limpar ambos os córregos: a contratação de até 100 trabalhadores braçais para, aproveitando a força das águas, removerem os rejeitos no fundo d´água e irem depositando-os aos poucos, nas margens. Para depois

A ESTRADA de rejeitos que virou o Córrego Taquaras: sem condições para reprodução da vida aquática

serem recolhidos pelas empresas e doados à prefeitura para utilização em obras de pavimentação. Nada disso, nem outra providência tecnológica, aconteceu. Procurado pela Ecológico, o ex-diretor e proprietário da Rio Verde, Pedro Lima, não quis conversar sobre o assunto. Dizendo-se traumatizado até hoje, ele apenas lembrou que acidentes como esse MARCINHO: "Onde houve rearborização, tudo virou natureza"

não são mais causados somente pelas pequenas e médias mineradoras. Mas, muito mais graves, pelas grandes também, “vide o exemplo, quem diria, da Samarco em Mariana” – exemplificou. O que fazer para evitar o rompimento de outras barragens de rejeitos em Minas e mundo afora? Foram essas suas únicas palavras finais: “Não existe outro caminho. Temos que evoluir em termos de engenharia, de prevenção, de tudo”. 

2 ABRIL DE 2016 | ECOLÓGICO  23


1 MARIANA? 4 E AGORA,

MAR DE LAMA NUNCA MAIS! Associação Mineira do Ministério Público lança campanha para criar projeto de lei que fiscalize barragens no estado Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

quando e onde ele vai acontecer”, tamanha a probabilidade real de novos acidentes. Por isso, o promotor salienta que a campanha é de interesse de toda a sociedade. “Minas Gerais tem mais de 700 barragens, das quais 442 de mineração. Dessas, 35 sequer têm garantia de estabilidade atestada, sendo enorme o passivo e causa de extrema preocupação.” Para o promotor de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcos Paulo de Souza Miranda, o momento é de mudança. “Alguém teria coragem de construir uma casa sobre a lama? É isso que está acontecendo em Minas Gerais. E não se trata de algo que ficou para trás, o perigo está presente e nós precisamos aproveitar esse momento para mudar a mineração no Estado. Nós não queremos dizer basta à mineração, mas queremos dizer basta à mineração insustentável”, pontua. FOTO: BÁRBARA PEIXOTO

Mobilizar a sociedade em prol de um projeto de lei que estabeleça normas de segurança específicas para as barragens de rejeitos de Minas Gerais. Esse é o objetivo da campanha “Mar de Lama Nunca Mais” recém-lançada pela Associação Mineira do Ministério Público (AMMP) em parceria com o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Meio Ambiente, Patrimônio Histórico Cultural, Habitação e Urbanismo (Caoma). A iniciativa pretende coletar 10 mil assinaturas da sociedade civil e encaminhá-las à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para criação de um projeto que estabeleça normas de licenciamento, manutenção e fiscalização das barragens. Segundo o coordenador do Caoma, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, a questão que deve ser refletida por todos “não é se vai ocorrer um novo rompimento de barragem. Mas

Essa preocupação fez com que a presidente da Fundação SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota, e o diretor de Políticas Públicas da entidade, Mario Mantovani, também conselheiro da Ecológico, viessem pessoalmente de São Paulo para o lançamento da campanha como forma de apoio à iniciativa. Mantovani conta que a SOS tem trabalhado muito com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em todos os temas ligados à floresta já que o Estado foi, por cinco vezes, o que mais desmatou a Mata Atlântica no Brasil, segundo mapeamento anual feito pela entidade. No caso da campanha “Mar de Lama Nunca Mais”, ele afirma que a contribuição será com fornecimento de informações e apoio na divulgação. “Fizemos uma expedição no Rio Doce sobre a questão da qualidade de água. E, a partir disso, produzimos um grande laudo que o MP incorporou e que também foi encaminhado para o Congresso Nacional.” E completa: “A SOS já tinha alguns trabalhos nos municípios da região, mas agora, com a crise ambiental gerada com o desastre de Mariana, tivemos uma forma mais direta de participação a convite do MP. Nós vamos apoiar na divulgação e na mobilização para o abaixo-assinado. Mas precisamos que a sociedade reaja e também se mostre mobilizada.” SAIBA MAIS

CARLOS Eduardo: “Queremos dizer basta à mineração insustentável”

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O PL proposto, além do abaixoassinado e os pontos de entrega, estão disponíveis no site www.ammp.org.br.


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

PELO FIM DA CRUELDADE

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prisionamento, venda de animais silvestres e maus-tratos inimagináveis, não somente no Brasil, são algumas das mais fortes expressões do antropocentrismo humano. Curiosamente, as mais fortes religiões têm preceitos sobre respeito aos animais, que parecem não tocar grande parte dos fiéis. Vários filósofos já abordaram o assunto. Uma das abordagens mais conhecidas foi de René Descartes, no século XVII. Para ele, os animais não têm alma, logo não pensam e não sentem dor. A afirmativa hoje, além de execrada, é ingênua. Mas durante muito tempo serviu como justificativa para muita crueldade e indiferença ao sofrimento animal infligido pelos seres humanos. O famoso filósofo francês Voltaire (apelido de François Marie Arouet respondeu a Descartes: “Que ingenuidade, que pobreza de espírito dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam!”. O escritor escocês John Oswald, que morreu em 1793, argumenta no livro “The Cry of Nature or an Appeal to Mercy and Justice on Behalf of the Persecuted Animals” que “se cada ser humano tivesse que testemunhar a morte do animal que ele come, a dieta vegetariana seria bem mais popular”. Afirmativa semelhante foi feita pelo beatle Paul McCartney: “Se matadouros tivessem paredes de 26  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

vidro, ninguém comeria carne”. Mais tarde, no século XVIII, o filósofo britânico Jeremy Bentham argumentou que a dor animal é tão real e moralmente relevante como a humana. E que “talvez chegue o dia em que os animais venham a adquirir os direitos dos quais jamais poderiam ter sido privados, a não ser pela mão da tirania”. Bentham afirma ainda que a capacidade de sofrer e não a capacidade de raciocínio deve ser “a medida para como nós tratamos outros seres”. Se a habilidade da razão fosse critério, muitos seres humanos, incluindo bebês e pessoas especiais, teriam também que serem tratados como coisas, escrevendo o famoso trecho: “A questão não é ‘eles pensam?’, ou ‘eles falam?’. A questão é: eles sofrem?”. E a bimilenar cultura chinesa, que durante muito tempo foi endeusada, hoje é mundialmente e duramente criticada por matar milhares de gatos e cachorros para consumo. Inclusive roubados de seus donos. E também por contribuir para a extinção de uma das mais belas criações da natureza, que são os tigres, além de ursos, rinocerontes e outras espécies. A chamada “medicina tradicional” utiliza e vende a ideia de que seus órgãos curam diversas doenças. A morte a pancada (para não estragar a pele) de milhares de filhotes de focas anualmente, de milhares de golfinhos na Dinamarca e Japão. As cruéis touradas na Espanha. O esfolamento de arminhos e raposas vivas para a


“No Brasil, até muito pouco tempo, os militantes pela proteção animal eram objeto de deboche. Mas hoje ganham cada vez mais espaço. Nas redes sociais, as denúncias pipocam e são condenadas por milhares de pessoas.”

produção de casacos de pele. A extração de penas de gansos vivos para fabricar travesseiros e edredons ou foie gras, torturando-os. A vivissecação (experimentos “científicos” em animais vivos) e muitos outros “costumes culturais” ou “atividades econômicas” são cada vez mais rejeitados em todas as partes do mundo. Inclusive por grande parte da população dos países onde isso acontece. No Brasil, até muito pouco tempo, os militantes pela proteção animal eram objeto de deboche. Mas hoje ganham cada vez mais espaço. Nas redes sociais, as denúncias pipocam e são condenadas por milhares de pessoas. Há alguns dias uma delas explodiu: em Oliveira (MG), um rapaz de 20 anos espancou e enforcou uma cadela. O crime foi filmado e repercutiu internacionalmente. Preso, ele declarou que fez isso porque ela estava no cio e não deixou ele a família dormir em paz. O rapaz pode ser condenado, com base na Lei de Crimes Ambientais, a uma pena ridícula (até três meses de prisão), como aliás ela prevê para qualquer tipo de crime ambiental. Mas sua prisão e reconhecimento legal do crime é, sem dúvida, uma demonstração de como avançamos em nossa relação com os animais. Recentemente recebemos no Projeto Asas (Área de

Soltura de Animais Silvestres), que a Amda mantém em convênio com o Ibama e proprietários rurais, dois papagaios, levados por um casal que salvou suas vidas. A história de um deles mostra o caminho difícil que ainda temos nessa área: numa festa, eles ouviram barulhos em um quarto totalmente escuro da casa. Encontraram um dos papagaios preso numa minúscula gaiola, literalmente jogada entre diversas tralhas. O “dono” ainda tentou vendê-lo a eles. Eles contaram que nos primeiros dias o papagaio não conseguia manter-se em pé, de tão fraco. E, durante mais de um mês, não saía de perto da comida e da água. Agora está bem, apesar de não conseguir voar. Sou quase vegetariana (ainda como tilápia). Mas o objetivo deste artigo não é este. É contribuir para fortalecer a causa da proteção e respeito a animais silvestres e domésticos, homenageando aqueles que lutam por isso. E termino citando Mahatma Gandhi, que afirmou que a grandeza de um país e seu progresso podem ser medidos pela maneira como trata seus animais. Mas se pensarmos que nem conseguimos ainda acabar com os maus-tratos a crianças (filhotes humanos), imagine com os animais... 

(*) Superintendente-executiva da Associação Leia edeAssine ! (Amda). Mineira Defesa do Ambiente

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MÚSICA

FOTO: DIVULGAÇÃO ROCK IN RIO

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ROBRTO MEDINA: “Nosso desafio é frear as alterações climáticas”

ROCK IN RIO ECOLÓGICO Maior festival de música do planeta irá esverdear ainda mais a Floresta Amazônica e promoverá show inédito no Rio Negro com Plácido Domingo e Ivete Sangalo

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o início deste mês, o Rock in Rio realizou o lançamento do “Amazônia Live - Projeto Social do Rock in Rio” para todas as edições do festival até 2019. Foi apresentada uma grande campanha de mobilização que incentiva a população a abraçar a causa, sob o mote “Mais do que Árvores, Vamos Plantar Esperança”. O encontro contou com artistas, formadores de opinião e parceiros. Segundo a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), de 1500 a 1977 cerca de 4,7% da Amazônia foi desmatada. Só nos últimos 36 anos, este número subiu para 18%. Até 2013 o Brasil perdeu, segundo a Raisg, 632 mil km2 de florestas. O desmatamento afeta o clima e o equilíbrio das chuvas. E, também, quem está perto e vive

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bem longe da floresta. E o que o Rock in Rio tem a ver com isso? Tudo. Para os organizadores do evento, a música é uma linguagem universal que une pessoas em todo o mundo através da emoção e é uma importante plataforma para causas socioambientais. O pilar de sustentabilidade do festival — “Por Um Mundo Melhor” — foi criado em 2001 e já beneficiou milhares de pessoas no Brasil, Portugal, Espanha, Estados Unidos e em diversos outros países. Os investimentos são provenientes da venda de ingressos e de ações promovidas junto aos parceiros. Agora, a organização do festival inicia um movimento global que ajudará na restauração florestal da Amazônia para chamar a atenção das pessoas para a importância do consumo conscien-

te dos recursos naturais. E convocá-las a serem agentes ativos no combate às alterações climáticas através da sua própria mudança de comportamento. A região da Amazônia é estratégica, pois abriga a mais importante reserva de biodiversidade do mundo, com papel fundamental na redução do impacto do aquecimento global. A ação vai restaurar áreas desmatadas nas cabeceiras e nascentes do Rio Xingu. “Pela primeira vez estamos adotando globalmente uma mesma causa que será promovida em todos os países onde o Rock in Rio está. E se estenderá por várias edições do evento. Estamos garantindo o plantio de um milhão de árvores e, com a ajuda de marcas parceiras e dos fãs do festival, queremos chegar a cerca


Por um mundo melhor Desde 2001, o Rock in Rio já investiu cerca de R$ 70 milhões em projetos sociais e ambientais:  304 mil árvores plantadas até 2016 em projetos de reflorestamento.  100% de compensação das emissões de gases de efeito estufa do evento.  Mais de 200 entidades apoiadas.  Mais de 56 mil beneficiários apoiados anualmente em todo o mundo.  100 salas de aula em comunidades carentes do Rio de Janeiro.  28 projetos da UNESCO financiados.  1 escola na Tanzânia.  1 centro de saúde no Brasil.  14 salas sensoriais para cegos e jovens com deficiências.  760 painéis solares instalados em 38 escolas portuguesas. Este projeto ganhou o prêmio internacional “Energy Globe Awards”.  10 salas de música em escolas públicas brasileiras.  2.200 instrumentos doados a 150 ONGs brasileiras.  40 jovens formados em assistente de Luthier.  80 bolsas de estudo de dois anos em Educação Musical.  15.632 refeições e 37.000 sanduíches doados a instituições que apoiam famílias carentes em Portugal e nos EUA.

Compromissos em cada edição:  Certificação na norma ISO 20.121 eventos sustentáveis.  Plano de sustentabilidade para a organização, patrocinadores e fornecedores.  Compensação da pegada carbônica.  Abrangente campanha sobre mobilidade sustentável.  Plano de mobilidade do público, incluindo espaços e acessos diferenciados e preparados para pessoas com mobilidade reduzida.  Campanhas de sensibilização sobre boas práticas de sustentabilidade desenvolvidas para artistas, patrocinadores, fornecedores, público e comunidade.  Entrega de certificados Carbono Zero aos artistas, garantindo que o Rock in Rio compensa a sua pegada carbônica.  Exigente plano de gestão de resíduos para reduzir, reutilizar e reciclar o máximo de resíduos possíveis - alcançando taxa média de reciclagem global de 70%.  Doação de materiais reciclados ao final de cada edição do evento.  Doação de sobras alimentares em boas condições em Portugal e nos EUA.  Prêmio para patrocinadores e fornecedores com melhores práticas de sustentabilidade na Cidade do Rock – “Rock in Rio Atitude Sustentável”.

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MÚSICA

FOTO: JOSE ZAKANY

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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ARTHUR VIRGÍLIO NETO, PLÁCIDO DOMINGO E IVETE SANGALO: unidos pela causa ambiental planetária

de três milhões de novas árvores na região. Com essa ação, vamos chamar a atenção do mundo inteiro para um problema urgente e mostrar que é possível plantar, sobretudo, esperança. Para se ter uma ideia da importância disso, segundo dados do Instituto SocioAmbiental (ISA), uma floresta com três milhões de árvores transpira a cada dia cerca de 48 milhões de litros de água. Outro dado importante e que merece a nossa atenção é que a Amazônia tem 20% de toda a água doce do planeta. E isso não pode se perder”, explica Roberto Medina, presidente do Rock in Rio. MÚSICA E CONSCIÊNCIA A ideia dessa iniciativa surgiu em 2015, quando a equipe do Rock in Rio foi procurada pela Prefeitura de Manaus. “Fomos desafiados pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, a promover um evento na região como forma de chamar atenção para a importância da floresta no equilíbrio da vida em todo o planeta. O desafio foi totalmente ao encontro do compromisso que assumimos desde 2006 de contribuirmos ativamente no combate às alterações climáticas”, detalha Medina. O dia 27 de agosto marcará o ponto alto do projeto. O Rock in 30  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

Rio apresentará um espetáculo sem precedentes que colocará a causa em grande evidência. Um palco flutuante será montado no Rio Negro, em Manaus (AM). O espetáculo poderá ser acompanhado pelo mundo inteiro, com live streaming pela internet, em todo o Brasil, via Multishow. Apenas 200 pessoas, entre formadores de opinião e jornalistas, terão a oportunidade de assistir ao show. A apresentação contará com o tenor lírico Plácido Domingo, com a Orquestra Sinfônica e ainda com o tenor Saulo Lucas interpretando a canção “Canto Della Terra”. A abertura será de Ivete Sangalo, acompanhada também pela orquestra. Ainda em Manaus e na mesma data, Ivete fará um show aberto ao público, com o objetivo de chamar a atenção da população para as questões socioambientais. A ocasião também dará início à contagem regressiva de um ano para a sétima edição do festival no Brasil, em 2017. Paralelamente, o Rock in Rio vai lançar uma campanha publicitária estrelada pelo ator Marcos Palmeira. A mensagem é um alerta para a importância do consumo consciente dos recursos naturais do planeta e um convite para que cada pessoa seja agente ativo no combate às alterações

climáticas através da sua própria mudança de comportamento. A campanha estará em todas as grandes mídias e criará também uma gigantesca mobilização nas redes sociais, convidando também cada pessoa a plantar uma árvore na Amazônia. Serão investidos mais de R$ 28 milhões nessa iniciativa, incluindo custos de plantio, assistência técnica, monitoramento e gestão, campanhas de mídia, produção do show e gastos logísticos. “Queremos chamar a atenção para um problema que afeta o mundo todo, sem qualquer exagero. Este é o grande investimento de uma empresa privada, mesmo em um momento de crise, pensando em um retorno direto para o planeta, e não para uma causa própria. E o investimento não será apenas financeiro, mas também uma união de esforços, com o engajamento de famosos e anônimos em prol de uma causa social e ambiental”, detalha Roberto Medina. A iniciativa do Rock in Rio para o plantio de árvores já conta com parceiros como Itaú, Manaus Luz, Manaus Ambiental, Banco Mundial, Universidade Estácio de Sá e Gol. Além das um milhão de árvores garantidas pelo festival, os parceiros também já se comprometeram com a causa, elevando


MUVUCA De acordo com o presidente do Rock In Rio, Roberto Medina, também está sendo construída “uma parceria com o Banco Mundial, no âmbito do ‘Programa Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA’, onde serão plantadas, no mínimo, um milhão de árvores junto ao Amazônia Live”. Para este projeto, o Rock in Rio se associou a um time de peso, garantindo assim o melhor resultado. A parceria envolve o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e o Instituto Socioambiental (ISA) e visa contribuir para a restauração florestal, a recuperação de nascentes e matas às margens dos rios e gerar renda de forma participativa e inclusiva

FOTO: MANOEL MARQUES

este número para 2,1 milhões. A parceria da Estácio com o Rock in Rio teve início em 2011 e vem ganhando força ao longo dos anos. Segundo Claudia Romano, diretora de responsabilidade social e parcerias da Estácio, a universidade vai doar 100 mil árvores e mobilizar 500 mil alunos e 15 mil colaboradores a fazerem o mesmo. “Se cada um plantar uma árvore já será um grande feito. Nossa missão de educar para transformar se expressa também na formação de profissionais e cidadãos conscientes e comprometidos”, disse. Já a Manaus Ambiental tem em sua missão o comprometimento natural com causas que incentivem o respeito e a preservação do meio ambiente. “O projeto Amazônia Live traz um apelo global para a responsabilidade que todos devemos ter em relação à natureza. A concessionária utilizará os meios disponíveis, como as contas de água, para levar o recado que orienta esta iniciativa: nossos atos determinarão a continuidade da Amazônia com todo o seu esplendor”, afirma Sérgio Braga, diretor-presidente da empresa.

ARTISTAS como o ator Marcos Palmeira, que participará de uma campanha publicitária pelo consumo consciente, também endossaram o evento

às comunidades locais. Para o plantio das árvores será utilizado um mix de sementes chamado de “muvuca”, técnica escolhida e aprimorada pelo Instituto Socioambiental (ISA) para reproduzir o processo natural da floresta. A técnica utiliza semeadura direta e a experiência de plantadores de árvores do Xingu-Araguaia. E prova que plantar as sementes diretamente no chão, no seu local definitivo, é o melhor método para a maioria dos tipos de árvores. Durante os três primeiros anos após o plantio serão publicadas notícias e relatórios técnicos sobre a situação das árvores e da floresta recuperada, garantindo transparência e monitoramento para quem acreditou nesta ideia. “As melhores soluções são criadas de maneira compartilhada e em rede. Este é

o aprendizado do nosso grande parceiro, a Rede de Sementes do Xingu. Nós do ISA e os mais de 420 coletores de sementes estamos animados com o desafio de plantar um milhão de árvores no coração do Brasil. Mas também muito empenhados em levar o alerta sobre os riscos que a Amazônia está enfrentando neste momento e o papel de cada pessoa nas questões socioambientais”, afirma Rodrigo Junqueira, do ISA. Segundo ele, a Amazônia é responsável pelo controle climático global e renovadora atmosférica da poluição causada pelo homem. “Sem ela, a capacidade de retirar o dióxido de carbono atmosférico se concentraria unicamente no oceano, com aumento de temperatura da Terra e pondo em risco a vida de diversas espécies animais”, explica.

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MÚSICA

Por que a

Amazônia? Segundo dados da Raisg, a Amazônia se estende por cerca de seis milhões de quilômetros quadrados ao longo dos nove países sul-americanos: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. É o maior bioma do Brasil, onde ocupa 4,1 milhões de quilômetros quadrados (IBGE, 2004). Nele, crescem 2.500 espécies de árvores, o que corresponde a 1/3 de toda a madeira tropical do mundo. Só na Amazônia brasileira há cerca de 30 mil espécies vegetais (das 100 mil da América do Sul), 1,8 mil de peixes, 399 de mamíferos, 1,3 mil de aves, 284 de répteis, 250 de anfíbios. No bioma tam-

32  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

bém está a maior bacia hidrográfica do mundo, que ocupa cerca de seis milhões de quilômetros quadrados e tem 1.100 afluentes. O Rio Amazonas, maior da região, lança a cada segundo cerca de 175 milhões de litros d’água no Oceano Atlântico. De acordo com o Atlas da Raisg, 58,8% do território brasileiro é amazônico, distribuindo-se pelos estados do AM, PA, MT, AC, RO, RR, parte de TO e parte do MA. O IMPACTO DO DESMATAMENTO A Amazônia desempenha um papel importantíssimo no ciclo de carbono global que ajuda a dar forma ao clima no planeta. Cerca

de 200 bilhões de toneladas de carbono estão contidos na vegetação tropical em todo o mundo, dos quais se estima que cerca de 70% esteja apenas na Amazônia. Sem ela, a capacidade de retirar o CO2 atmosférico se concentraria unicamente no oceano, pondo em risco a vida de diversas espécies de animais, que correriam o risco de extinguir-se, devido ao aumento da temperatura da Terra. Um dos graves efeitos mundiais do desmatamento é, sem dúvida, a diminuição da biodiversidade global, mas também a contribuição para o aquecimento global. Hoje, 1/3 da população mundial não tem acesso a água


FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE

potável. Se a temperatura global aumentar 2,5°C acima dos níveis pré-industriais, este número pode duplicar. Os índices de desmatamento a um ritmo muito rápido causam a conversão de mais carbono em dióxido de carbono, seja quando as árvores são queimadas ou mais lentamente pela decomposição de madeiras não queimadas. Estima-se que apenas a destruição da floresta tropical mundial poderá, nos próximos quatro anos, libertar mais carbono para a atmosfera do que todos os voos desde o nascimento da aviação até 2025. O Brasil, por exemplo, está entre os cinco maiores emis-

sores de gases estufa, não devido às suas elevadas emissões de combustíveis fósseis, mas por causa do desmatamento. As alterações climáticas têm potencializado mais riscos do que nunca em termos de crises de água, escassez de alimentos, crescimento econômico restrito, coesão social mais fraca e aumento dos riscos que afetam a segurança. E, como a atmosfera não tem fronteiras, estima-se que cerca de 90% de todas as catástrofes naturais registradas na Europa, desde 1980, foram causadas direta ou indiretamente pelas alterações climáticas. “A restauração florestal é um

FIQUE POR DENTRO

O Rock in Rio é o maior evento de música e entretenimento do mundo. Criado em 1985 e com 31 anos de vida, é parte relevante da história da música mundial. O evento já soma 16 edições, 96 dias e 1.498 atrações musicais. Ao longo desses anos, mais de 8,2 milhões de pessoas passaram pelas Cidades do Rock. Criado no Rio de Janeiro, o Rock in Rio conquistou não só o Brasil como, também, Portugal, Espanha e, em maio de 2015, chegou aos Estados Unidos, sempre com a ambição de levar todos os estilos de música aos mais variados públicos. Muito mais que um evento de música, o Rock in Rio pauta-se também por ser um evento responsável e sustentável. Em 2001, através do projeto social “Por um mundo melhor”, assumiu o compromisso de consciencializar as pessoas para o fato de que pequenas atitudes no dia a dia são o caminho para fazer do mundo um lugar melhor para todos. Em 2013, o Rock in Rio recebeu a certificação da norma ISO 20.121 - Eventos Sustentáveis, um reconhecimento do poder realizador da marca que desenvolve diversas ações com vista à construção de um mundo melhor. Entre elas, a criação de 173.500 empregos diretos e indiretos em 16 edições.

desafio global. E o plantio de um milhão de árvores nas cabeceiras do Xingu é uma contribuição para a biodiversidade, a qualidade e o volume de água. Em 20 anos, o FUNBIO já apoiou 39% da superfície protegida do Brasil. E esperamos, com o apoio de parceiros, ter o mesmo impacto na restauração florestal”, diz Rosa Lemos de Sá, secretária-geral da instituição, que fará a gestão financeira do projeto.  SAIBA MAIS rockinrio.com

ABRIL DE 2016 | ECOLÓGICO  33




PELAS ÁGUAS

DO PLANETA

Com a companhia poética de Drummond e a mensagem amorosa de dois Franciscos - o Papa e o Santo -, sexta edição do Prêmio Hugo Werneck traz um novo olhar para a questão hídrica e mineral Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

L

ouvado seja, meu Senhor, pela irmã Lua e as estrelas, que no céu as formaste claras, preciosas e belas.” “Louvado seja, meu Senhor, pela irmã Água, que é mui útil e humilde. E preciosa e casta.” “Louvado seja, meu Senhor, pela nossa irmã e mãe Terra, que nos sustenta e governa. E produz frutos diversos e coloridas flores e ervas.” Quando São Francisco de Assis escreveu o “Cântico das Criaturas”, que traz os belos trechos que abrem esta edição especial da Revista Ecológico, estava enfraquecido pelos estigmas e enfermida-

des. Ainda assim, quis deixar para a humanidade um hino de amor a Deus e à Criação. Foi essa mensagem de exaltação e amor à natureza que se fez ecoar na solenidade de entrega do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade”, em 23 de março último, na capital mineira. A lua cheia, que teimava em se sobrepor às nuvens que emolduravam o céu e as montanhas de Minas, em plena “Semana Mundial da Água”, parecia abençoar o evento, que deveria ter acontecido ano passado, mas acabou adiado duas vezes em respeito às

vítimas e ao meio ambiente degradado pela tragédia da mineração em Mariana. Na companhia do santo, outro Francisco também foi lembrado e homenageado por seu exemplo ecológico em 2015: o pontífice da Igreja Católica, Papa Francisco. Por meio da encíclica “Laudato Si”, que faz um convite ecumênico pela preservação do planeta Terra, a nossa “Casa Comum”, ele consolidou, de forma segura e consistente, a posição da Igreja frente aos desafios que devemos vencer para equilibrar desenvolvimento e sustentabilidade. E condenou


Pelas Águas do Planeta!

CORRENTE DE AMOR Mais de 300 pessoas, incluindo ambientalistas, empresários, autoridades, publicitários, técnicos e especialistas em meio ambiente, energia renovável, mineração, gestão e espiritualidade, além de assinantes, anunciantes e leitores da Revista Ecológico, participaram do evento. Ele foi realizado no Teatro do SICEPOT-MG (leia mais a se-

guir), a casa sustentável do setor de Construção Pesada em Minas Gerais. E contou com a participação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado, do ator Victor Fasano, do jornalista André Trigueiro – vencedor na categoria “Personalidade do Ano” –, e Dom Joaquim Mol Guimarães, bispo-auxiliar da Arquidiocese de BH, reitor da PUC Minas e membro do Conselho Cultural do Vaticano, que recebeu o prêmio “Destaque Internacional” em nome do Papa Francisco, entre outras autoridades. Sob o tema “Pelas Águas do Planeta – da Caixa D’Água do Brasil à Terra das Cataratas”, o “VI Prêmio Hugo Werneck” teve 78 projetos selecionados de 13 estados brasileiros – Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo, mais Distrito Federal. Um aumento de 64% de participação nacional em relação ao ano anterior. Ao todo, 18 projetos e indivíduos que se destacaram por seu exemplo em prol da sustentabilidade e da vida foram reconhecidos nesta edição do prêmio. Entre eles, es-

tava o poeta Carlos Drummond de Andrade, responsável por um novo pensamento – leia-se mais amoroso, ecologicamente correto e socialmente mais justo - na atividade minerária. Durante todo o evento, frases sobre natureza do escritor itabirano cruzaram o telão do palco principal. Somada aos vídeos da campanha “A Natureza Está Falando”, da ONG Conservação Internacional, que visa inspirar a sociedade e promover o debate sobre a importância da natureza para o bem-estar humano, a poesia de Drummond nos mostrou que “a natureza não faz milagres. Faz revelações”. Se quisermos lutar para que ela continue a nos dar alimento e água, revelando mais que a sua importância para a nossa sobrevivência, devemos fazê-lo de forma equilibrada e respeitosa. De “mãos dadas”, como diz os versos do poema de Drummond, que encerraram o evento: “Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”. FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

a “sutil ditadura” do capitalismo, que impõe a lógica fracassada do lucro pelo lucro. “Lanço um convite urgente para renovarmos o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós”, afirma ele no documento. E emenda o coro para que, finalmente, possamos escutar o grito de dor da Terra: “Esta nossa irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos”. Isso é perceptível, inclusive, tanto no Rio Doce quanto no Velho Chico, desintegrados pela poluição, o desmatamento e o assoreamento de suas margens e afluentes. Na noite de bons exemplos que o Prêmio Hugo Werneck consagrou, o Rio da Integração Nacional também foi mais um Francisco a nos pedir socorro e atenção.

TAL COMO os Franciscos, o espírito e o recado poéticos de Drummond também se fizeram presentes


A benção de Anastasia FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Mensagem do ex-governador e atual senador relembra os ensinamentos do mestre

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: durante o governo Anastasia, a Revista Ecológico passou a ser adotada em todas as escolas públicas de ensino fundamental de Minas

“Nada mais justo, meritório e digno de nosso aplauso, a outorga do ‘VI Prêmio Hugo Werneck’ àqueles que se destacam por suas ações para a recuperação e a preservação do meio ambiente. O prêmio torna-se ainda mais especial nesta sua sexta edição ao fazer distinta homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, que buscava na natureza inspiração para seus versos, exaltando-a com beleza incomum. O tema escolhido para esta edição é representativo. Vivemos no Brasil uma crise hídrica das mais violentas, já resultante do destempero climático do planeta. E nós – cidadãos, governos e empresas – temos que agir. Há que se aprimorar as ações e os investimentos em educação ambiental, na recuperação de áreas degradadas, no desenvolvimento de novas tecnologias e, lembrando aqui a recente tragédia em Mariana, na efetiva fiscalização dos empreendimentos e na preparação de planos de contingências eficazes. Enfim, temos que ter um olhar especial na promoção de uma economia verde cada dia mais forte. Agradeço o amável convite para participar da solenidade de premiação este ano. Lamentavelmente, não pude estar presente para aplaudir e saudar os vencedores desta edição. Assim, peço a gentileza de transmitir a cada um deles os meus sinceros cumprimentos. Que os princípios dos ensinamentos do doutor Hugo Werneck - ‘conhecer, amar e cuidar da natureza’ - estejam sempre presentes em suas ações.”


Pelas Águas do Planeta! Os vencedores Melhor Exemplo em Comércio de Bens e Serviços Projeto Alambique Escola, Cachaça Taverna de Minas Melhor Exemplo em Educação Ambiental Projeto Navegando com o Theo pelo Rio das Velhas, TantoExpresso/Semad Melhor Exemplo em Fauna Projeto Pirarucu, Ibama Amazonas Melhor Exemplo em Mobilização Social André D’Elia, diretor do documentário “A Lei da Água” Melhor Exemplo em Água Projeto de Recuperação de Nascentes do Município de Paracatu, Kinross Melhor Exemplo do Terceiro Setor Fundação Amazonas Sustentável Destaque Municipal (1) Projeto Ipiranga Sustentável, Prefeitura Municipal de Ipiranga Destaque Municipal (2) Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior, prefeito de Mariana Destaque Estadual Projeto Reciclar, Emater

Destaque Nacional Projeto Conservador das Águas, Prefeitura Municipal de Extrema Melhor Empresa Fiat Chrysler Automobiles (FCA) Melhor Empresário Luiz Otávio Pôssas Gonçalves Melhor Projeto de Parceiro Sustentável Estação Ciência, Anglo American Melhor Parceiro Sustentável Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) Personalidade do Ano André Trigueiro, jornalista Homenagem Carlos Drummond de Andrade Léo Santana, artista plástico Homenagem do Ano Programa Cultivando Água Boa, Itaipu Binacional Destaque Internacional Papa Francisco


Por que o Rio São Francisco?

Por que não o Rio Doce? Porque a temática da premiação referente a 2015, até o acidente da Samarco na bacia do Rio Doce, no dia cinco de novembro, era mesmo sobre o Rio São Francisco. A solenidade da premiação, então marcada para o dia 10, menos de uma semana após o acidente de Mariana, foi transferida para o início deste ano, excepcionalmente,

em respeito às vítimas da tragédia. Foi por isso que mantivemos nossa confraternização e premiação anual, em nome do Velho Chico, em razão também da quantidade de projetos e cases concorrentes, apresentando exemplos pontuais de soluções possíveis para conter a sua degradação.


FOTO: LEANDRO COURI / EM / D.A PRESS

Pelas Águas do Planeta!

A NASCENTE queimada e seca, pela primeira vez em sua história de vida: crime de lesa-pátria

É triste, mas é verdade. Num mundo onde mais da metade da população ainda não tem acesso nem bebe água potável, o nosso “Rio da Integração Nacional” também continua morrendo. Secando, como aconteceu na primavera passada, pela primeira vez, com a sua nascente, no Parque Nacional da Serra da Canastra. Morrendo de mor-

te provocada, fruto de nossa ignorância e desrespeito à sua natureza, como Carlos Drummond de Andrade descreveu em versos, no poema “Águas e Mágoas do Rio São Francisco”. E que foi declamado pelos artistas Nil César e Kátia Couto na abertura da premiação, ao som das “Bachianas Nº 5”, de Heitor Villa-Lobos.


Por que o amor? A solicitação à plateia de um minuto de silêncio em respeito à tragédia de Mariana, antes do Hino Nacional ser interpretado em solo de bandolim pelo violonista e compositor Marcos Frederico, vencedor do 11º Prêmio BDMG Instrumental, desencadeou uma reação amorosa ao longo de toda a premiação. A exibição simultânea no telão, durante os 60 segundos, de uma foto do Greenpeace reproduzindo um quadro bucólico do que era o distrito de Bento Rodrigues antes do rompimento da Barragem de Fundão, consolidou este sentimento maior. Reforçou até mesmo a referência “... & Amor à Natureza” que, pelo sexto ano consecutivo, completa o nome principal “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade”. Por incrível que possa parecer, e no mundo atual

de tamanha violência e desesperança, falar de amor parece mesmo banal, infantil. Já no mundo científico, como defende o professor, ambientalista e nosso conselheiro maior, Angelo Machado, o mais acertado é falar de “Conservação da Natureza”, e não deste sentimento hoje visto como piegas. A própria ONG que o dr. Hugo presidia, lembra ele, se chamava assim: “Centro para a Conservação da Natureza...” Resumo da ópera: entre conservação ou amor, amantes que os ambientalistas sempre foram da natureza, prevaleceram a denominação e a mensagem românticas. A fala do próprio Hugo, relembrada em vídeo na abertura da solenidade, deu a primeira dica: “Não existe maior dom e instrumento de mudança que o amor”. Assim, sem protesto algum, a amorosidade, co-


Pelas Águas do Planeta!

FOTO: VICTOR MORIYAMA / GREENPEACE

A IMAGEM do quadro enlameado que ilustra a capa da edição passada da Ecológico foi clicada por Victor Moriyama, para o Greenpeace. A réplica do desenho do artista Valentim Keppk enfeitava a casa de Geraldo Nascimento, morador de Bento Rodrigues

meçando pela reconstrução sustentável de Bento Rodrigues e o enfrentamento positivo da crise hídrica, fez parte de praticamente todos os discursos e agradecimentos que se seguiram na noite. Foi contagiante, como se o próprio espírito de Hugo Werneck estivesse presente. O comunicador Marco Antônio Lage, diretor de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Fiat Chrysler Automobiles, lembrou que no momento em que o Brasil vive uma crise ética sem precedentes, falar de amor e receber um troféu que tem o nome de amor à natureza é muito importante. Significa amor à vida e ao nosso país”. André Trigueiro, editor-chefe do “Programa Cidades e Soluções”, da Globo News, lembrou que “todo jornalista

interessado em meio ambiente é, por definição, ecochato ou biodesagradável”. Mas completou: “Entretanto, para cumprir a nossa função social é preciso denunciar, com amor” - frisou - “os crimes de lesa-planeta”. O também jornalista Nelton Friedrich, diretor de Meio Ambiente e coordenador do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional, completou: “Nós trabalhamos com aquilo que o dr. Hugo sempre defendeu, que é a afetividade, o amor humano. Um novo jeito de ser. Menos logos e mais pathos. Mais sentimentos e emoções. Menos lógica e razão, o que implica em uma nova forma de produzir, consumir e preservar. Chegará um dia em que não teremos mais premiação para a sustentabilidade, porque ela será a própria existência de todos nós”.


Pela sustentabilidade amorosa Hiram Firmino (*)

O

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

brigado a São Francisco de Assis, que povoa os corações e as almas de todos nós. O nosso padroeiro da ecologia sabe por que, excepcionalmente, estamos realizando essa premiação falando do Velho Chico e não do Rio Doce, recém-ferido de morte. Parece que foi ontem o pesadelo ocorrido. Cinco dias antes do nosso primeiro encontro marcado, mais precisamente no dia 05 de novembro, quando Mariana, Minas, o Brasil e o mundo viram romper a barragem de Fundão, da Samarco. Testemunharam, atônitos, a maior tragédia socioambiental já ocorrida na história do país. Foi por ela, em respeito e solidariedade às vítimas, aos sobreviventes e ao meio ambiente degradado Bacia do Rio Doce abaixo, rumo ao mar do Espírito Santo, que adiamos essa nossa confraternização ecológica. É por isso que recorremos em pensamento, mais uma vez, ao dr. Hugo Werneck e ao amor incomum que ele pregava na luta ambiental e no enfrentamento dessas tragédias: não ao ódio paralisante. Mas ao amor subversivo, que educa e corrige mais que todas as leis, fiscalizações, multas, comandos e controles juntos. Segundo ele nos dizia, somente por meio do contato, da reaproximação e do respeito do homem pela natureza, que é a face natural de Deus, o ser humano conseguirá percebê-la, valorizá-la e preservá-la. Até evitar acidentes como esse.

HIRAM FIRMINO: "A receita da esperança também inclui sermos humildes frente a grandeza e a autossustentabilidade da natureza"

Se o dr. Hugo estivesse aqui no meu lugar, ele não teria dúvida em afirmar que toda a crise atual e desastrosa que estamos vivendo é fruto do desamor que ainda temos conosco e com o ambiente à nossa volta, seja ele econômico, ambiental, social, político ou ideológico. ‘Quem não ama não é amado e pode ser expulso do paraíso a qualquer momento’, lembraria ele, dessa lei universal. E em Minas Gerais – que carrega no próprio nome – a questão é ambiental e mineral ao mesmo tempo. Não há mais como negarmos a mi-

neração que existe em nós, como já poetizou Drummond. Temos, sim, 90% de minério de ferro nas calçadas e 80% nas nossas almas. Como também sempre nos faz lembrar nosso conselheiro Fernando Coura, presidente do Sindiextra e do Ibram: ‘Cada aparelho de celular teclado hoje no planeta por mais da metade da população contém 41 elementos minerais’. Vamos desligá-los? Quem atira o primeiro chip? Impossível! Vamos continuar, então, aceitando todos os produtos advindos


da atividade da mineração e, ao mesmo tempo, condenar e proibir a sua produção? E assim evitar novos acidentes? Como, enfim, resolver esse dilema? É simples, responderia Hugo Werneck, com a sua receita: tornar a mineração não apenas sustentável, via os pilares do ‘economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente mais justo’. Mas acrescentar-lhes, de maneira revolucionária e subversiva, a dimensão maior do amor à natureza, que dá título a essa nossa premiação. Transformar a mineração em uma atividade superlativamente amorosa com o ambiente natural e, consequentemente, com as pessoas à sua volta. Essa é a visão werneckiana, inovadora e construtiva em sua essência. Mais que sustentável, tornar a atividade compreendida e aceita. E não mais temida pela população. Fazer mais do que deve ser feito. E não por obrigação, mas por merecimento. Ambas, mineração e sociedade, se merecerem. Como o dr. Hugo pregava, se a mineração vive 100% da exploração da natureza, ela e seus acionistas deveriam ver a questão ambiental não somente como um estorvo, obrigação e despesa. Mas, agradecidamente, como seu cartão de visitas maior. Como a oportunidade de também conseguir 100% de aprovação de sua imagem perante a opinião pública. Fazer do que faz, pela natureza e mesmo por força da lei, o seu estandarte de aceitação e querência. A falta disso talvez explique um pouco o ressentimento recente da opinião pública nacional e mundial sobre a tragédia de Mariana. A revolta generalizada que ressuscitou no seio da sociedade não foi pontual apenas contra a Samarco.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Pelas Águas do Planeta! “O amor vencerá! A vida não tem sentido sem a existência do homem em interação respeitosa com a natureza.” HUGO WERNECK

Mas contra todo o segmento, por sua história antiga de não amar a natureza ‘até doer’, como dizia Madre Teresa de Calcutá, até o advento feliz e cada dia mais irreversível da consciência ecológica. Segundo já cantou o mais subversivo e amado conjunto de rock da humanidade, no fundo do fundo do fundo da gente, ‘o amor é mesmo tudo o que precisamos’. E, sejamos minerados ou não, conforme São Paulo escreveu aos Coríntios: ‘Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.’ Nessa receita de esperança para resolvermos a questão ambiental, além de amor, temos de acrescentar

outro ingrediente estratégico e infalível: o sentimento da humildade. A humildade óbvia de aceitarmos, nem que seja na marra e diante do que a natureza já está nos devolvendo em forma de secas e enchentes nunca vistas, que ela é maior que nós. Maior que toda nossa autocracia, prepotência e arrogância juntas. A campanha ‘A Natureza Está Falando’, da Conservação Internacional, nos faz lembrar de uma verdade irrefutável: ‘A natureza não precisa de nós’, nem se sensibiliza com a crise hídrica que nos ameaça. Várias vezes ela já cobriu de água todo o planeta, fazendo o sertão virar mar e o mar virar sertão. E pode fazê-lo de novo. ‘Somos nós que precisamos dela’.” Detalhe: É este o recado oceânico personificado pelo ator Rodrigo Santoro - o coronel Afrânio, da novela, não por acaso, chamada “Velho Chico”- que você confere a seguir na mensagem da campanha “A Natureza está Falando” (www.anaturezaestafalando.org.br). (*) Jornalista, diretor e editor da Revista Ecológico e coordenador do Prêmio Hugo Werneck.


Acolhida sustentável A escolha do local da prestigiada cerimônia de entrega do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade” não se deu por acaso. Inaugurada há pouco mais de um ano, a nova sede do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (SICEPOT-MG) é fruto da visão de futuro, do aprimoramento constante e, sobretudo, do compromisso da entidade de ser um modelo de sustentabilidade para o setor. Localizado no alto da Avenida Barão Homem de Melo, no Bairro Estoril, na Região Oeste de Belo Horizonte, o prédio de seis andares se destaca na paisagem. Ele foi erguido pela Construtora EPO em total sintonia com os conceitos de eficiência ecológica e qualidade da edificação, que permearam desde a concepção do projeto até a execução final da obra. Como era de se esperar de uma entidade do setor da construção, a sustentabilidade está presente em diferentes aspectos, com destaque para o reaproveitamento de água da chuva, que é usada na manutenção das áreas verdes, a irrigação automatizada com aspersores e temporizadores, e também para a climatização ambiental, com telhado verde e jardins. Coleta seletiva de materiais recicláveis e sistemas de economia de água nos dispositivos finais (lavatórios, vasos sanitários e torneiras) complementam o “acabamento” ecológico. O projeto é de autoria de Ana Machado, do escritório de arquitetura e interiores que leva seu nome. A arquiteta se inspirou na

FOTO: DANIEL MANSUR / STUDIO PIXEL

Sede do SICEPOT-MG foi construída em sintonia com conceitos e técnicas sustentáveis

O NOVO endereço da indústria da Construção Pesada, também aberto ao público

força institucional do SICEPOT-MG para conceber uma edificação voltada para a sociedade, com grande transparência em sua fachada. Por meio de um hall de vidro, o ambiente recebe iluminação e ventilação naturais, assegurando maior visibilidade e criando uma atmosfera ainda mais convidativa para visitantes e usuários. VERSATILIDADE O prédio do SICEPOT-MG foi dividido por usos: privados, semiprivados, públicos e de serviços. O térreo abriga foyer, recepção e o teatro, além de galeria e espaços para convenções e exposições. A versátil distribuição desses espaços permite a melhor circulação do público, sem interferir nas atividades diárias da entidade. Os escritórios e demais áreas de trabalho, por sua vez, foram projetados em vãos livres, com pisos flutuantes. No entrepiso, estão todas as instalações, dutos e cabea-

mentos necessários para a configuração de ambientes flexíveis e de fácil adaptação a novos usos. O estacionamento tem 331 vagas, o que assegura conforto e mais segurança para associados, funcionários e visitantes, principalmente, aqueles que participam de eventos noturnos no local. Graças à multiplicidade de suas funções e à capacidade de atender tanto as demandas de seus associados quanto eventos abertos ao público, a sede do SICEPOT-MG vem se tornando uma nova referência para os belo-horizontinos quando o assunto é a realização de eventos, shows e apresentações teatrais. Com isso, consolida-se como uma das mais bem estruturadas sedes de entidades de classe do Brasil e também como ponto de encontro sustentável da arte e da cultura mineiras. SAIBA MAIS www.sicepot-mg.com.br


Pelas Águas do Planeta!

"EU SOU O OCEANO" "Eu já cobri este planeta inteiro uma vez. Eu posso cobri-lo novamente."

FOTO: VERA KUTTELVASEROVA - FOTOLIA

FOTO: DAVID SHANKBONE

“E

u sou o oceano. Eu sou água. Eu sou a maior parte deste planeta. Eu moldei cada riacho, cada nuvem, cada gota de chuva. Tudo volta para mim. De uma forma ou de outra, todos os seres vivos dependem de mim. Eu sou a origem. Eu sou onde tudo começou. Os humanos não são melhores que as outras coisas. Eu não devo nada a eles. Eu dou, eles tiram. Mas eu sempre posso pegar de volta. Sempre foi assim. Esse planeta não é deles, nunca foi e nunca será. Os humanos tiram mais do que precisam. Eles me envenenam e esperam que eu os alimente bem. Não é assim que funciona. Se os humanos querem continuar existindo junto à natureza, comigo, a partir de mim, eu sugiro que ouçam atentamente. Eu só vou dizer uma única vez. Se a saúde da natureza não for conservada, os humanos não irão sobreviver. Simples assim. Para mim, não faz diferença. Com ou sem humanos, eu sou o oceano. Eu já cobri este planeta inteiro uma vez. Eu posso cobrilo novamente. É tudo que eu tenho a dizer.”

Rodrigo Santoro


Melhor Exemplo em Comércio de Bens e Serviços FOTO: GUALTER NAVES

PROJETO ALAMBIQUE ESCOLA

BRUNO Lourenço e Paulo César Rodrigues, diretores da Taverna de Minas, com Sérgio Frade (ADCE) e Afonso Maria Rocha (Sebrae)

O projeto vencedor desta categoria tem abrangência nacional. E, cada vez mais, vem contribuindo para melhorar a qualidade da cachaça artesanal brasileira e difundir sua produção autossustentável. Ao ensinar os cidadãos e o próprio setor como seguir os princípios básicos dessa produção, a empresa idealizadora deste projeto mantém a tradição de transmitir conhecimento sobre como se fazer cachaça artesanal. E ajuda a estimular o reflorestamento, por meio do plantio de mudas de árvores utilizadas na produção dos tonéis. Há também o uso zero de fungicidas na produção de cana, a queima do bagaço, que produz energia térmica e elétrica a partir de biomassa. E o baixíssimo

uso de água. As necessidades hídricas na fase agrícola são sanadas naturalmente pelo regime de chuvas. Desde 2004, este projeto, que está sediado na cidade mineira de Itaverava, já formou mais de dois mil mestres ecoalambiqueiros de vários estados do país. “O Prêmio Hugo Werneck é um incentivo e um fomento para as empresas como a nossa, que estão sempre batalhando pela preservação ambiental. Nós conscientizamos toda nossa equipe de colaboradores para aplicar a prática autossustentável na empresa. Esse prêmio veio coroar um trabalho que vem sendo desenvolvido há quatro anos”, pondera Paulo César Rodrigues, diretor-executivo da Taverna de Minas.


Pelas Águas do Planeta!

"EU SOU A ÁGUA" "Eles vão começar a fazer guerras por mim, como fazem por todo o resto?"

FOTO: ARTUSH / FOTOLIA

FOTO: DIVULGAÇÃO

“E

u sou a água. Para os humanos, estou simplesmente ali. Eu sou algo que eles consideram garantido. Mas só existe uma quantidade limitada de mim. E há mais e mais pessoas a cada dia que passa. Eu começo como chuva nas montanhas, escorro até os rios e termino no oceano. Aí, o ciclo começa de novo. E vou levar dez mil anos para voltar ao estado que estou agora. Mas para os humanos, sou apenas água, sempre ali. Onde os humanos vão me achar quando houver outros bilhões deles a me consumir? E se eu começar a faltar, como já vem acontecendo, eles vão começar a fazer guerras por mim como fazem por todo o resto? É sempre uma opção, mas não é a única.”

Maitê Proença


FOTO: GUALTER NAVES

Melhor Exemplo em Educação Ambiental PROJETO NAVEGANDO COM O THEO

PAULO e Pedro Vilela (TantoExpresso), Luisa Marilac, coordenadora do projeto na Semad, acompanhada de Rodrigo Deangelis (TantoExpresso), Elisa e Marina Werneck, bisnetas de dr. Hugo, e Eduardo Costa (Record)

A Lei Federal 9.795, de abril de 1999, instituiu a educação ambiental como parte integrante e necessária para a boa formação dos cidadãos brasileiros. E a iniciativa reconhecida nesta categoria deixou uma semente de esperança no coração e na mente das comunidades por onde passou. Trata-se do programa “Navegando com o Theo pelo Rio das Velhas”, uma expedição itinerante criada desde 2013 para conscientizar pessoas e entidades públicas pela revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. “Acredito que a iniciativa deu muito certo porque a empresa e o Estado não compraram um projeto, mas uma ideia. Ele começou muito pequeno e surgiu quando uma pessoa chegou até nós e disse: ‘Por que

vocês não levam essas informações para as populações ribeirinhas?’. Aí a semente foi plantada. Agora a gente vê o fruto e é muito bom!”, agradeceu Luisa Marilac, coordenadora do “Navegando com o Theo pelo Rio das Velhas” na Semad. Com atividades lúdico-pedagógicas junto a alunos do ensino público e comunidades, o programa, executado em conjunto com a TantoExpresso, contemplou 41 localidades da bacia hidrográfica. Desde a sua nascente, no Parque das Andorinhas, em Ouro Preto, até o seu encontro com o Velho Chico. Mais de 63 mil pessoas participaram das ações de educação ambiental. Em 120 dias de expedição, foram realizados 117 eventos e distribuídos mais de trinta mil kits educativos.


Pelas Águas do Planeta!

“EU SOU O RECIFE DE CORAL”

FOTO: SUTTIDO / FOTOLIA

“E

u sou o recife de coral. As pessoas acham que eu sou só uma pedra, quando na verdade sou uma das maiores estruturas vivas deste planeta. Sou tão grande que posso ser visto do espaço. Por quanto tempo mais? Venho crescendo por quase 250 milhões de anos. Daí vieram os humanos, e agora um quinto de mim já se foi. Claro, eu moro no fundo do mar e você não costuma me ver com tanta frequência. Mas você precisa de mim. Sabia que um quarto da vida marinha depende de mim? Sou um berçário para o mar. Peixes pequenos dependem de mim para se alimentar e para se esconderem dos peixes grandes. E adivinha quem come os peixes grandes? Acertou! Você! Eu sou uma fábrica de proteína para todo o Max Fercondini mundo. E ainda sim você aumenta a temperatura dos oceanos. E agora não posso mais viver aqui. E quando as grandes tempestades e tsunamis varrem o oceano, sou sua barreira de proteção. Mas você me destrói com bombas e me envenena com poluição. Bom, aqui vai uma ideia meio maluca: pare de me matar!”

FOTO: MAX F

"As pessoas acham que eu sou só uma pedra, quando na verdade sou uma das maiores estruturas vivas deste planeta."


FOTO: GUALTER NAVES

Melhor Exemplo em Fauna PROJETO PIRARUCU

MARCELO Campos (Ibama-MG e ES), Roberto Messias (Ecológico) e o jornalista Antônio Carlos Lago (MMA): esperança amazônica

Por uma questão de segurança alimentar e equilíbrio ecológico do bioma amazônico, o “Projeto Pirarucu” vem sendo desenvolvido de forma permanente há mais de 15 anos. O motivo? Garantir a conservação e a manutenção sustentável de uma espécie muito popular de peixe que povoa e reina nos rios amazônicos. Apenas na Reserva Mamirauá, na região do Médio Solimões, Amazonas, a população desta espécie aumentou 25% e a renda média anual dos pescadores cresceu 29%. Desde o início do seu manejo sustentável, o número de participantes do projeto também subiu: de 42, no ano 2000, para 1.351 em 2014. O êxito da iniciativa, idealizada e coordenada por Mário Lúcio Reis, superintendente do Ibama no Amazonas, também pôde ser conferido no aumento da produção: foram quase 485 mil kg no ano passado, 1.500% a mais em relação a 1999. O projeto, que nasceu na década de 1970, por meio de uma ação do

Movimento Eclesiástico de Base (MEB), da Igreja Católica, é dirigido a comunidades ribeirinhas da Amazônia onde ocorre manejo da espécie, a populações indígenas, transportadores e comerciantes. “Esse é um prêmio altamente inspirador, motivador, e o nosso objetivo é divulgá-lo o máximo possível, tanto dentro quanto fora do Ibama, para que outros bons exemplos de conservação ambiental se multipliquem Brasil afora. Saímos daqui motivados a trabalhar cada vez melhor e ainda mais conscientes de que é preciso valorizar o amor e o respeito em nossa relação com a natureza e, principalmente, entre nós, humanos. Com amor, respeito e união estaremos sempre fortalecidos e prontos para superar os desafios que surgirem”, afirmou Marcelo Campos, superintendente-regional do Ibama em Minas Gerais e no Espírito Santo, que recebeu o prêmio em nome de Mário Lúcio.


Pelas Águas do Planeta!

"EU SOU A FLORESTA" "Os humanos, e não eu, fabricando ar. Vai ser engraçado ver isso."

FOTO: LUCIANA MACÊDO

FOTO: TV GLOBO / DIVULGAÇÃO

“E

u sou a floresta. Eu os vi crescendo aqui. Eles partiram, mas sempre voltam. Sim, eles sempre voltam, pelas minhas árvores, sua madeira. Minhas plantas e seus remédios, minha beleza, seu refúgio. Eu sempre estive aqui pra eles. Eu fui mais que generosa. Em alguns momentos eu dei tudo para eles. Agora acabou pra sempre. Mas os humanos, eles são tão espertos, tão espertos, com suas mentes privilegiadas, polegares opositores... Eles sabem como fazer as coisas, coisas incríveis. Então, por que eles ainda precisariam de uma velha floresta como eu, matas, árvores? Eu, hein! Bom, eles respiram ar e eu fabrico ar. Será que eles já pensaram nisso? Humanos, tão espertos! Eles vão dar um jeito. Humanos fabricando ar. Vai ser engraçado ver isso.”

Pedro Bial


Melhor Exemplo em Mobilização Social FOTO: GUALTER NAVES

ANDRÉ D’ELIA

MARIA Dalce Ricas (Amda) e Roberto Fonseca (Oncomed): em nome da legalidade hídrica no país

Por meio do documentário “A Lei da Água”, que já foi assistido por mais de 100 mil pessoas nos cinemas brasileiros e explica a relação entre o novo Código Florestal e a crise hídrica que assolou o país, André D'Elia usou a sua arte para ressaltar a importância da conservação das florestas e a manutenção dos nossos recursos hídricos. O seu documentário dá voz a agricultores e especialistas, apresenta técnicas agrícolas sustentáveis bem-sucedidas e conta ainda com a colaboração de cientistas e parlamentares que apoiam a Ação Direta de Inconstitucionalidade do novo Código Florestal no Supremo Tribunal Federal. Ainda assume um compromisso com a sociedade brasileira ao mostrar como a legislação ambiental influencia a qualidade de vida de cada cidadão. Ele também é a mente por trás do filme ‘Belo Monte: Anúncio de Uma Guerra’, lançado em 2012, que mostra como a obra da hidrelétrica vem sendo imposta à sociedade sem dialogar com os

índios da região. “A Lei da Água” conta com produção executiva do cineasta, e agora ambientalista, Fernando Meirelles e também já foi visto na internet por mais de três milhões de pessoas. André D’Elia infelizmente não pôde estar presente na cerimônia. Mas enviou seu recado em vídeo: “A mobilização social é um tipo de atividade que depende de diversos outros coletivos. Ela pressupõe que as pessoas acreditem na ideia e a levem adiante. ‘A Lei da Água’ questiona uma legislação federal e aborda aspectos técnicos específicos da ocupação do solo, que são importantes para a nossa sociedade em âmbito local. Então, proteger aquele riozinho, aquela nascente, evitar a ocupação irregular de encostas, em lugares de alto risco, é essencial à nossa realidade. Eu sentia que havia um buraco, em termos de discussão desse assunto. E de, realmente, levá-lo a sério. Muito obrigado!”. SAIBA MAIS www.aleidaaguafilme.wordpress.com


Pelas Águas do Planeta! Melhor Exemplo em Água FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

PROJETO NASCENTES/KINROSS

ALESSANDRO Nepomuceno (Kinross), Antônio Vieira (MOVER), o agricultor local Walter Gomes e Delano Wagner Laine (Copasa): "Perto da água tudo é feliz"

O projeto sui generis da Kinross Mineração de identificação, cercamento e recuperação de 47 nascentes na região de Paracatu, Minas Gerais, integrante da bacia hidrográfica do São Francisco, chamou a atenção dos jurados do “Prêmio Hugo Werneck” também em 2015. Isso mesmo. Ao espalhar sementes de buritis no entorno das nascentes recuperadas, os agricultores assistidos pela empresa trouxeram de volta não apenas a beleza típica dessa vegetação característica do Cerrado brasileiro. Mas também a fixação natural da água no solo. Lembrando a famosa frase de Guimarães Rosa, de que “perto da água tudo é feliz”, integrantes da Comissão Julgadora e da Revista Ecológico foram à região conferir a iniciativa e não tiveram dúvida. Os resultados exitosos do projeto serão mostrados em uma reportagem especial na próxima edição da Ecológico. “Ganhar o Prêmio Hugo Werneck é motivo de orgulho para a Kinross, principalmente quan-

do consideramos aspectos essenciais do nosso projeto, como o envolvimento da comunidade e a mudança de cultura que ele está promovendo em toda a região. Desde 2009, estamos atuando junto aos produtores rurais que preservam e usam a água no campo. E, quando percebemos que eles e suas famílias estão cada dia mais conscientes de que ela é um recurso precioso – que deve ser preservado agora e sempre –, sentimos que o Projeto de Recuperação de Nascentes está atingindo o seu principal objetivo”, afirma Alessandro Nepomuceno, diretor de Sustentabilidade e Licenciamento da Kinross. E completa: “Iniciativas como a do Prêmio Hugo Werneck, de valorizar e divulgar bons exemplos de gestão, são indispensáveis para a evolução da consciência ambiental em todos os segmentos sociais”. O projeto tem a parceria da ONG Movimento Verde de Paracatu (MOVER) e o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF).


Melhor Exemplo do Terceiro Setor

FOTO: GUALTER NAVES

FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL (FAS)

GLÁUCIA Drummond (Fundação Biodiversitas), Virgílio Viana (FAS) e Tarcísio Caixeta (Câmara Municipal de BH): um prêmio pela preservação da maior floresta do planeta

Uma organização de utilidade pública estadual e federal, 100% brasileira e sem fins lucrativos, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) trabalha já há sete anos com as comunidades ribeirinhas do Amazonas. Age de maneira participativa e com apoio do Governo do Estado, via Bolsa Floresta, em soluções locais para o desenvolvimento sustentável do maior estado da Amazônia Legal brasileira, com o seu bioma exuberante e hídrico preservado, ainda não atingido mortalmente pela devastação e degradação ambiental à sua volta. Com 85 colaboradores compromissados e motivados, as ações somadas desta ONG já estão presentes em 16 Unidades de Conservação do Estado do Amazonas. Elas ocupam uma área superior a 10,8 milhões de hectares, preservando florestas, rios, igarapés e gente também: índios e caboclos, que moram nelas. Duas excelências de sustentabilidade e amor à natureza chamaram a atenção para a sua indicação à sexta edição do prêmio. Primeiro: o fato de as comunidades, através do “Programa Bolsa Floresta”, valorizarem e manterem todo o bioma de pé. Ou seja, através de pagamen-

to por serviços ambientais prestados, as comunidades se tornaram guardiãs das suas águas e florestas. E não mais a sua ameaça, comum e suicida. E, segundo, por meio do envolvimento e apoderamento dessas comunidades na causa ecológica, não por acaso, o desmatamento nas unidades de conservação estaduais em que essa ONG atua é hoje, comprovadamente, 50% menor que as demais unidades desassistidas no estado. “Este prêmio é muito simbólico para todos que atuam na FAS e para mim, que deixei as Minas Gerais e me radiquei no Amazonas depois de comer um jaraqui. Os amazonenses dizem que quem come esse peixe não sai mais de lá. Estou no estado desde 2012, cuidando, de uma certa forma, para fazer com que a bomba d’água, que são os rios voadores, que mandam chuva para Minas e outros lugares, continuem funcionando”, afirmou Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação. SAIBA MAIS www.fas.org.br


Pelas Águas do Planeta! Destaque Municipal (1) FOTO: DIVULGAÇÃO

PROJETO IPIRANGA SUSTENTÁVEL

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

MAIS de 1.600 crianças e familiares participaram do projeto

DANIELLE Oliveira e Cíntia Baldissera (Prefeitura de Ipiranga), acompanhadas da vereadora de BH, Elaine Matozinhos, e Eduardo Bandeira (Rede Catedral)

Com o objetivo de promover a educação ambiental entre crianças e jovens, o projeto começou a ser desenvolvido em uma pequena escola rural no sudeste do Paraná, em 2009. A partir de 2013, a iniciativa, que conta com o apoio da Associação dos Revendedores de Insumos Agropecuários dos Campos Gerais (Assocampos), passou a acontecer no âmbito do município de Ipiranga, abrangendo hoje todas as suas escolas. “Acreditamos que todas as pessoas podem, com pequenas atitudes, mudarem o lugar onde vivem. Somos um município pequeno, não temos uma grande estrutura nem muitos recursos financeiros. Sabemos que o país passa por uma crise, mas acreditamos que as crianças podem mudá-lo. Se precisamos investir em algo, tem de ser nelas, que farão alguma coisa no futuro. E é isso que estamos fazendo em nossa cidade”, garante Danielle Costa Oliveira, coordenadora de Projetos Ambientais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Entre os temas abordados nas palestras, visitas técnicas, atividades em classes e mutirões que o projeto promove, estão a coleta e o descarte correto de embalagens de agrotóxicos, reciclagem, economia de água e de energia. Mais de 1.600 crianças e familiares participam atualmente do projeto, mesmo depois de a cidade ter sido arrasada por tempestades de granizo que assolaram o sul do país.


FOTO: GUALTER NAVES

Destaque Municipal (2) DUARTE GONÇALVES JÚNIOR

DUARTE JÚNIOR, prefeito de Mariana, Délio Malheiros, vice-prefeito de BH, e Diogo Franco, presidente da Feam

Como na canção de Chico Buarque, o homenageado nesta categoria não chegou “como quem vem do florista”. Mas, sim, diferente na cena midiática. Trouxe um urso de pelúcia enlameado e o coração em choque diante do que viu acontecer de trágico em seu município. Ele teve um infarto de pequena escala, mas se recuperou tão determinado e veloz como as águas cheias de rejeitos que desceram distritos bucólicos rio abaixo, rumo ao Doce, virando sal. Ao mesmo tempo em que ajudou a socorrer as vítimas e chorar seus mortos, também deu as mãos à empresa mineradora que causara a maior tragédia socioambiental na história do país. Com a mão esquerda, sem ódio nem demagogia, preferiu afagar e orientar os seus munícipes, no tocante aos seus direitos e reconstrução do que perderam. Com a direita, firme e solidária, voltou-se igual para a empresa. Optou por apoiá-la a recuperar de maneira sustentável sua capacidade de operação e produção, visualizando os empregos, salários, impostos e qualidade de vida que escorreram juntos. E com as duas mãos postas, antes que 2015 chegasse ao fim, ele tomou Mariana no colo e foi até a Conferência Mundial do Clima, em Paris. Não para denunciar e chorar a tragédia. Mas, muito além do jardim da natureza degradada, pedir ajuda à comunidade internacional. Mostrar, enfim, que a esperança e a reconstrução existem. E não há nada mais sustentável e subversivo que acreditar e lutar por isso. Ao receber o Prêmio Hugo Werneck, Duarte Júnior arrancou suspiros da plateia ao agradecer a esposa, Regiane. “Hoje é uma data duplamente simbólica para mim. Primeiro, por estar recebendo o Prêmio Hugo Werneck. E, segundo, por estar comemorando 15 anos de casamento com a minha esposa. Queria dedicar este prêmio a ela. Casei com 21 anos e queria dizer que me arrependi. Deveria ter casado com 18, porque eu encontrei a pessoa certa para a minha vida.” Mas foi seu pedido igualmente amoroso de reconstrução dos distritos e do meio ambiente, devastados na tragédia de Mariana, que marcou a cerimônia:


FOTO: GUALTER NAVES

Pelas Águas do Planeta! PARACATU de Baixo após a tragédia: a esperança ainda brota

RESPEITO PELA VIDA

Duarte Júnior (*) “A gente precisava ter a sabedoria das decisões. 90% da arrecadação do município vem da mineração. E de outro lado, o que mais importa, é a preocupação com o ser humano, com a vida, e também com o meio ambiente. Não podíamos deixar de abrir mão de nenhum desses dois lados que coloquei. Temos deixado claro à Samarco que o que queremos agora é uma cidade recuperada, em relação ao meio ambiente; a reconstrução de Bento Rodrigues de forma resiliente, com placas solares, calçamento com blocos intertravados, e assim ser referência para todo o país como um distrito autossustentável. Queremos um memorial em Bento, em Paracatu de

Baixo, que também foi totalmente devastado, para que isso sirva de exemplo para todo o país. Queremos muito a recuperação do nosso Ribeirão do Carmo, do nosso Rio Doce, mas sempre com a consciência de que, antes da tragédia, não vínhamos fazendo a nossa parte. Principalmente em Mariana, onde todo o esgoto é depositado sem tratamento neste rio, que precisa ser recuperado. Recebendo este prêmio, aumenta muito a minha responsabilidade de trabalhar ainda mais pela recuperação da nossa cidade e principalmente do meio ambiente. Há espaço para a mineração, desde que ela saiba respeitar a vida humana e a natureza.” (*) Prefeito de Mariana.


Destaque Estadual

FOTO: GUALTER NAVES

PROJETO RECICLAR / EMATER

RICARDO Demicheli e Marcelo Franco (Emater-MG), Willer Pós (Erecicla), Antônio Dumont, extensionista agropecuário em Glaucilândia, e Evandro Alvarenga (Sete Soluções): reciclando o campo

Realizado com simplicidade em Glaucilândia, no norte de Minas, o grande vencedor desta categoria nasceu a partir de demandas dos agricultores familiares do município. Iniciado há um ano, o projeto tem números que já impressionam: são 128 agricultores atendidos, sendo que metade deles já reutiliza garrafas PET para armazenar feijão, evitando o uso de inseticidas para combater o caruncho. Mais de cinco toneladas de ferro velho, alumínio, papelão e plástico foram recolhidas na zona rural da cidade, contribuindo para diminuir os focos de dengue em 90% com relação ao ano anterior. Além disso, 120 kits de sementes de hortaliças já foram distribuídos aos agricultores para esverdear o meio ambiente lo-

cal e trazer a água e os bichos de volta. “Em nome da Emater do município de Glaucilândia, dos agricultores que acreditaram nesta proposta e aceitaram limpar seus quintais, agradecemos à Revista Ecológico pelo reconhecimento. O projeto agora é chamado de ‘Reciclar – Menos Lixo e Mais Segurança Alimentar’, porque conseguimos, através da limpeza dos quintais, distribuir mais de 1.500 mudas frutíferas aos agricultores, implantamos pequenas hortas, num total de 150, e distribuímos mais de 1.200 pintinhos. Com isso, também estamos conseguindo melhorar a alimentação dessas famílias”, completou Antônio Dumont Machado, extensionista agropecuário da Emater em Glaucilândia.


Pelas Águas do Planeta!

Destaque Nacional

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

CONSERVADOR DAS ÁGUAS / EXTREMA

JULIANO Toledo, João Batista e Paulo Henrique Pereira (Prefeitura de Extrema), recebem o Prêmio Hugo Werneck de Maria Elvira Salles (ACER)

Em 2014, o grande vencedor na categoria “Destaque Nacional” foi o Programa Fantástico, da TV Globo, que explicou por que o fantasma hídrico que assolou o Sudeste brasileiro, particularmente em São Paulo, tem a ver com cada árvore que ainda permitimos ser jogada ao chão na Floresta Amazônica. Foi uma verdadeira aula de educação ambiental, enfatizando uma velha receita da natureza: onde tem árvore, tem água. E onde tem água, tem árvore, tem a natureza e a vida de todos nós melhoradas e preservadas. Em 2015, a Globo abriu espaço em pleno Jornal Nacional para mostrar o vencedor dessa categoria: o projeto “Conservador das Águas”, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Ex-

trema (MG). Ele envolve 170 produtores rurais, já plantou um milhão de árvores e conseguiu, assim, restaurar 30% das áreas de mananciais do município, na divisa de Minas com São Paulo. “Em 2003, recebi das mãos do próprio dr. Hugo o ‘Prêmio Minas Ecologia’, realizado pelo ‘Estado Ecológico’, precursor da Revista Ecológico. E agora, ganhar um prêmio que leva o nome dele é duplamente gratificante”, ressaltou Paulo Henrique Pereira, secretário municipal de Meio Ambiente. SAIBA MAIS Assista ao vídeo de Extrema no link https://youtu.be/uFyXAiM9698. Saiba mais em reportagem especial na próxima Ecológico.


FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Melhor Empresa FIAT CHRYSLER AUTOMOBILES

ROBERTO Baraldi, Luciana Costa e Marco Antônio Lage (Fiat), Nestor Sant'Anna (Ecológico) e Henrique César de Renault Baeta, primeiro vice-presidente do SICEPOT-MG

Uma das primeiras empresas do país a conquistar a certificação ambiental ISO 14.001, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) foi também pioneira em deflagrar e compartilhar a causa da sustentabilidade. Ao tomar conhecimento, pela imprensa, de que uma de suas fornecedoras contratadas não dava a destinação ecologicamente correta do lixo que gerava na sua fábrica, jogando-o na natureza, o que esta empresa fez? Estendeu à toda sua cadeia de parceiros a obrigação de também se certificarem perante a legislação ambiental brasileira. Na época, isso foi uma revolução. Hoje, esta empresa do ramo automotivo também colhe os frutos de 10 anos de seu programa social exemplar que já atendeu mais de 21 mil moradores de um bairro vizinho à sua fábrica, até então famoso pelo baixo índice de desenvolvimento humano e altíssimo grau de violência e criminalidade. O programa, cuja logomarca é ilustrada por uma árvore, o símbolo da vida, fez a comunidade local apoderar-se de seu próprio destino, com diversos projetos de capacitação, geração de trabalho e renda, mais o seu fortalecimento com ações socioeducativas. Detalhe: a FCA já consegue recircular 99%

de toda a água que utiliza no seu processo industrial. Só não atinge os 100% porque o 1% restante a própria natureza faz evaporar. “Temos a responsabilidade, como cidadãos, de pensar nas próximas gerações. Como indústria montadora e automobilística, trabalhamos muito para fazer essa convergência entre produção, sustentabilidade econômica e a ambiental, tão importante para o planeta. Também estamos pensando na água, nos resíduos, nas pessoas, no ambiente urbano e em projetos para transformar os carros em algo cada vez mais amigável ao meio ambiente. Finalmente, levamos esse troféu, que tem o nome de amor à natureza. Que tem o nome de Hugo Werneck, uma referência e um orgulho para todos nós mineiros pelas práticas e valores que ele sempre pregou e praticou. No momento em que o país vive essa crise ética sem precedentes, a gente falar de amor é muito importante. Amor à natureza, à vida e ao nosso país”, disse Marco Antônio Lage, diretor de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da FCA. SAIBA MAIS www.fiat.com.br


Pelas Águas do Planeta!

FOTO: GUALTER NAVES

Melhor Empresário LUIZ OTÁVIO PÔSSAS GONÇALVES

ANTÔNIO Batista (Fundação Dom Cabral), Jacqueline Pereira (Vale Verde) e Nívea Freitas (Recóleo)

Visionário. Determinado. Bom de prosa. De bem com a vida e dono de uma impressionante trajetória pessoal e profissional. O vencedor desta categoria foi o idealizador da cerveja Kaiser, da água de coco Kero Coco e da cachaça Vale Verde, eleita uma das melhores e mais ecológicas aguardentes artesanais do Brasil. É o criador do Vale Verde Alambique e Parque Ecológico, um complexo ambiental e turístico construído em 2012 e localizado a 42 km de Belo Horizonte. Abriga e preserva mais de 1.200 espécies de animais, muitos deles ameaçados de extinção, e combina cenários marcados por muito verde e água, incentivando o encontro dos visitantes com a natureza. Lá também funciona a sua outra empresa, Jiboias Brasil, especializada na criação e manejo de serpentes. E a Megazoo, fábrica de ração animal, que introduz a proteína de insetos na composição das rações para peixes, aves, répteis e mamíferos. “A gente vem a esse mundo para deixá-lo um pouqui-

nho melhor. Para produzir algo de bom e gerar riquezas num sentido bem mais amplo do que aquelas que se guarda no bolso”, disse o empresário em entrevista exclusiva à Revista Ecológico, publicada na edição 70. Ele não pôde estar presente no evento. Mas foi representado por Jacqueline Pereira, gerente de Marketing da Vale Verde, que lembrou a sua filosofia ecológica: “Sabemos da importância que é cuidar da natureza e nosso presidente proporciona isso no nosso dia a dia. Ele transforma a vida das pessoas através desse cuidado que a gente tem com o nosso parque, seja a fauna seja a flora que preservamos e ali se multiplica. O que fazemos, perante a grandeza e o estado atual da natureza é uma gota no oceano do que precisamos cuidar. E tentamos fazer o melhor possível”. SAIBA MAIS www.valeverde.com.br


Melhor Projeto de Parceiro Sustentável FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

ESTAÇÃO CIÊNCIA / ANGLO AMERICAN

ELOAH Rodrigues, diretora da Ecológico, Aldo Souza, da Anglo American, e José Cláudio Junqueira, ex-presidente da FEAM: um projeto pela cordilheira brasileira

Enquanto aguardava seu licenciamento ambiental completo, a Anglo American Brasil não descuidou de outro compromisso proposto pela Constituição Brasileira: a implantação da transversalidade da educação ambiental onde atua. Ela inaugurou a Estação Ciência, na forma de um museu interativo, com o acompanhamento e a benção de entidades ambientalistas históricas. Um espaço aberto ao público, com o objetivo de ser parceiro das comunidades e escolas dos municípios na área de sua influência. “Antes de a Anglo American pensar em operar em Minas Gerais, já havia pessoas preocupadas em defender esse lindo Estado. De maneira alguma conseguiríamos fazer isso se não tivéssemos parceiros. Esperamos que ele continue por muitos anos”, disse Aldo Souza, diretor de Saúde, Segurança e Desenvolvimento Sustentável da Unidade de Negócios Minério de Ferro Brasil da Anglo American. Ele também agradeceu à Associação Mineira de Defesa de Ambiente (Amda) e à PUC Minas, parceiros do projeto. O resultado maior da Estação Ciência já acon-

tece, que é proporcionar a todo tipo de visitante, e a seus próprios funcionários e familiares, um local de vivência e aprendizagem práticas no que diz respeito à preservação da natureza, cultura, memória e modo de viver das populações locais. A Estação Ciência já foi visitada por mais de cinco mil crianças e jovens educandos de Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim e Alvorada de Minas, no coração ferrífero do Estado, onde se localiza a planta industrial da empresa vencedora. Ao fim de seu discurso, Aldo também dedicou o prêmio à equipe de biólogos, antropólogos, espeleólogos, arqueólogos e engenheiros que atuam no projeto. E deixou uma mensagem ecológica para o público presente: “Gostaria de fazer um pedido, como brasileiro. Vamos levar nossa atenção também para o Espinhaço, a nossa cordilheira brasileira. Desde o Morro do Pai Inácio até a Cachoeira do Tabuleiro, passando pela Terra de Chica da Silva e o Pico do Itambé”. SAIBA MAIS brasil.angloamerican.com


Pelas Águas do Planeta!

FOTO: GUALTER NAVES

Melhor Parceiro Sustentável SIAMIG

MÁRIO Campos Filho (Siamig) e Nalton Moreira (Semad): pela cana ecológica e a volta dos animais

Representante de um setor estratégico tanto para o desenvolvimento sustentável do país quanto para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) engloba 400 empresas que produzem energia limpa e renovável. E, num total de 121 cidades mineiras, ainda planta cana-de-açúcar, sua principal matéria-prima, de maneira ecologicamente correta, também chamada de cana verde. “Não produzimos só o etanol, que todos conhecem, mas também bioeletricidade, energia elétrica que auxilia no Brasil a iluminar as casas da nossa população e as indústrias. Representamos um setor que está em pauta hoje, após a COP-21, dentro das metas que o governo brasileiro corajosamente assumiu até 2030. Temos o desafio de sair de um consumo de 28 bilhões de litros de etanol no Brasil, número do ano passado, para 50 bilhões. Precisaremos de muito esforço e trabalho dos atuais empresários e de novos investidores, sejam nacionais ou estrangeiros, que virão para

o país”, ressaltou Mário Campos Filho, presidente da Siamig, durante seu discurso de agradecimento. Graças à tecnologia limpa, o setor já eliminou o antigo e antiecológico método de queimar os canaviais, escurecer os céus e apagar as estrelas. Ele já reusa quase toda a água utilizada em seu processo industrial. Reaproveita 100% de todos os resíduos que gera, a exemplo do vinhoto que já não polui os nossos rios e virou fertilizante natural. Eliminou os antigos plantios que, tradicionalmente, eram feitos próximos dos cursos d’água. Replantou e recuperou em seus lugares, com espécies nativas, todas as matas ciliares, trazendo de volta os buritizeiros e as veredas de Guimarães Rosa. E hoje assiste, com orgulho e esperança, a volta dos animais silvestres em suas propriedades consorciadas com as áreas naturais que preserva. SAIBA MAIS www.siamig.com.br


Midiático, globalizado e altamente formador de opinião, André Trigueiro é jornalista especializado, com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele é carioca, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ. Autor dos livros “Mundo Sustentável 1 – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” e “Mundo Sustentável 2 – Novos Rumos para um Planeta em Crise”. Não existe profissional de imprensa no Brasil mais conectado e premiado na área ambiental do que ele. Já são 23 reconhecimentos públicos acumulados até agora. Seu prêmio maior, que ele ainda não ganhou e já divide antecipadamente com seus leitores, reporta um outro ambiente, maior e espiritual. Retrata uma outra ecologia, interna e profunda, onde não existe poluição nem desamor ao próximo. Onde somos todos construtores e colhedores, algozes ou amorosos, degradadores ou ecológicos, do nosso destino comum sobre a Terra e a natureza que nos resta. Trigueiro é ainda autor do livro “Viver é a melhor Opção”, sobre a desecologia do suicídio no Brasil e no mundo. Também é o editor-chefe do programa “Cidades e Soluções”, da Globo News, comentarista da Rádio CBN e divulgador-voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV). “Todo jornalista interessado em meio ambiente é, por definição, ecochato e biodesagradável. Entretanto, para cumprir a nossa função social é preciso denunciar, com amor, os crimes de lesa-planeta. Precisamos sinalizar com uma perspectiva, muito rapidamente, no meio dessa avalanche de denúncias e de conflito inimaginável no Brasil”, afirmou ele, ao receber o prêmio. E destacou aos presentes três fatores que fizeram de 2015 um ano inspirador para todos que militam em favor da vida: “A encíclica Laudato Si, do primeiro Papa Francisco da história da Igreja, que definiu com muita clareza os rumos que a humanidade precisa seguir para ter alguma chance de existir. Quem duvida do poder deste homem não pode esquecer que Obama esteve em Cuba graças a Francisco. Ele é um líder político. Segundo movimento: a ONU chancelando os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em lugar das Oito Metas do Milênio, com prazo até 2030, com o cumprimento de

FOTOS: GUALTER NAVES

Personalidade do Ano ANDRÉ TRIGUEIRO

ANDRÉ TRIGUEIRO e Sidemberg Rodrigues, da ArcelorMittal: não ao ecocídio mundial

vários objetivos para o setor público e privado. Esta é a régua que vai medir quem está seguindo o caminho da ética e se preocupando com o coletivo. Terceiro movimento: a COP-21, em Paris, que decretou que no século XXI os combustíveis fósseis não terão o mesmo prestígio e importância que tiveram no século passado. Nós vimos no atacado um movimento fecundante de novas ideias e novas atitudes. Mas esta luta se resolve no varejo conosco, pessoas físicas e jurídicas. E aí temos uma questão importante: business as usual (o negócio como de costume), cumprir legislação ambiental e trabalhista é pouco. É sinônimo de ecocídio. O tamanho do desafio que temos pela frente exige atitude na direção da inovação, da coragem e da ousadia. Quem não for capaz de seguir este caminho não merece receber prêmio, pendurar diploma na parede e não merece ficar dizendo por aí que é amigo do meio ambiente. Precisamos fazer mais e melhor, já!”. SAIBA MAIS www.mundosustentavel.com.br


Pelas Águas do Planeta! Homenagem Especial

DRUMMOND / LÉO SANTANA

LÉO Santana e Evandro Xavier, chefe de gabinete da Secretaria de Estado da Cultura de Minas: atitude

FOTO: ISABELLEXDIAS

O nosso poeta maior nunca poupou versos de denúncia nem de preocupação e amor à natureza e trouxe um novo pensamento na atividade minerária. Seu sentimento de mundo acha-se imortalizado desde 2002 na forma de escultura, no calçadão de Copacabana. O autor da obra, Léo Santana, é mineiro, artista e ambientalista, que se inspirou em uma foto real (veja ao lado) de Drummond. O escultor que fez esta maravilha é a tradução mais ecológica do sentimento do poeta, razão pela qual foi homenageado nesta edição do prêmio. No início da luta ambiental pós-ECO/92, Léo Santana morava e tinha seu ateliê no distrito de São Sebastião das Águas Claras - Macacos, em Nova Lima. Mas foi no próprio leito do rio assoreado que passava próximo à sua casa que ele

montou uma das mais comoventes e denunciadoras exposições ao ar livre. Essa instalação artística se chamou "Alquimineria", que vem de alquimia + mineração. Não era apenas uma denúncia: ela também propunha, desde aquela época, o diálogo imprescindível entre economia, meio ambiente e sociedade, chamado mineração sustentável. Ou, no seu sentido mais amplo... desenvolvimento sustentável! “Receber este prêmio é um sinal de que temos dado passos certos. Gostaria de agradecer à Revista Ecológico e também a todas as pessoas que trazem no pensamento e na atitude o amor à natureza e à sustentabilidade”, disse Léo Santana, que recebeu a homenagem em nome de Drummond.


Homenagem do Ano

FOTO: GUALTER NAVES

PROJETO “CULTIVANDO ÁGUA BOA”

JOÃO BOSCO Senra, diretor de Operações Sudoeste da Copasa, Nelton Friedrich (Itaipu) e Luciano Lopes, editor-executivo da Revista Ecológico: conexão Minas-Paraná

Vencedor do Prêmio “Água para a Vida 2015”, da ONU, na categoria “Melhores Práticas em Gestão da Água do Planeta”, o programa “Cultivando Água Boa”, de Itaipu Binacional, é um conjunto de 20 subprogramas que acontece em 29 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná. Abrange um território de 800 mil hectares e um milhão de habitantes situados no entorno do reservatório de Itaipu. Ao todo, são 217 microbacias que contam com diversas ações e técnicas para a proteção e recuperação de suas nascentes e cursos d’água. Além disso, há outras iniciativas voltadas a novos meios de produção agrícola e animal, consumo, conservação da biodiversidade e educação ambiental. E também dá atenção especial a segmentos socialmente vulneráveis como indígenas, agricultores familiares, pescadores e ca-

tadores de materiais recicláveis. Em um discurso emocionado, o diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu Binacional, Nelton Friedrich, falou sobre o êxito e as conquistas do “Cultivando Água Boa”, que está sendo implantado em Minas e, brevemente, em toda a bacia do Rio Doce. Confira:

AFETIVIDADE E EFETIVIDADE

Nelton Friedrich* “Quero compartilhar este prêmio com todos os cuidadores do Planeta Terra. O programa nasceu de uma motivação especial da direção da empresa em 2003, durante a estruturação do seu planejamento estratégico. Percebemos que Itaipu era uma obra feita com muitos corações e mentes envolvidas. Construímos


Pelas Águas do Planeta! um olhar 20 ou 30 anos à frente, considerando o prin- erosivas. E para os municípios estamos agregando cipal ativo que Itaipu tem, que é a água. Ela gera qua- cada vez mais o conceito de cidades sustentáveis, rese 18% de toda a energia que o Brasil consome, com as vendo o uso da água e com amplo processo de combênçãos da Caixa D’água do Brasil, Minas Gerais, ao preender a importância do compromisso assumido possibilitar que as águas da Bacia do Rio Grande ge- por todos os prefeitos de zerar o problema de sanearem esta energia. O mais importante é que não ficás- mento onde estamos atuando. semos na água nesse sentido mais estrito, mas na sua Rasgamos o que havia de história de repassar reessencialidade, na sua sacralidade: a água como vida. cursos para outros fazerem. Uma empresa cidadã Foi pensando assim que criamos o ‘Cultivando tem de estar junto, ser atriz e ator. Como é que se Água Boa’. Ele tem uma abordagem sistêmica. Somos constrói um conceito de responsabilidade compartiapenas fios da teia da vida. E o que nós fizermos para lhada? Governança inovadora não é prato feito. Nina teia, estaremos fazendo para nós mesmos. Esta vi- guém mais aguenta isso. Não adianta a pessoa ser a são implica em romper com determinadas estruturas mais entendida de água no planeta, se não entender de gestão ultrapassadas. Era preciso trabalhar com de gente. Se a pessoa não entender de gente não serve valores como a ética do cuidado. Só cuida quem ama. para trabalhar no ‘Cultivando Água Boa’ e em proE, para amar, tem que reaprender a grama de recuperação da natureza. amar, reaprender a amar a nascente, A seiva que move o programa está “Nós trabalhamos o que se come, o que se bebe, o que se no envolvimento das comunidades. respira, a vizinhança, a comunida- com aquilo que Hugo São 2.380 parceiros. Não são pessoas Werneck defende: de, o sentido existencial, os conceitos, físicas, são organizações, entidades e crenças, saberes, sabores. Em outras 'não há instrumento associações. Estamos falando de mais palavras, são os valores que estão inde 270 mil pessoas que já foram ou esde mudança mais terconectados com a generosidade, tão envolvidas com a recuperação e a a amorosidade, com a cooperação preservação da natureza onde vivem. importante que num mundo que acha que só a comNós estamos falando de 15.400 proo amor'.” petitividade funciona. Essas razões tagonistas em educação ambiental, e nos levaram a criar uma metodologia, que foi de- não apenas dos cinco funcionários que temos nessa cisiva. Ao mesmo tempo em que fazíamos inclusão área. O fundamento da educomunicação é decisivo social e produtiva, pensávamos: onde poderíamos para que nós possamos avançar no processo transforatuar? Só no reservatório? Não. E sim na bacia hi- mador, compreender a democracia de alta densidade. drográfica, porque essa é a unidade de planejamento Tocar corações e mentes, reflexão para a ação. da natureza. No dia que os seres humanos entendeA cultura da água passa por dois componentes: rem isso, e que não há um ser humano, uma empresa afetividade e efetividade. Afetividade porque se traou um governo que não esteja em outro lugar senão balha a ética do cuidado. Nós trabalhamos com a microbacia, nós vamos revitalizar a esperança. E aquilo que o dr. Hugo defendeu: ‘Não há instrumento reconhecer que temos de recuperar os microespaços de mudança mais importante do que amor’. Ele tem para recuperar o Planeta Terra. razão. Há um novo jeito de ser. Um ser mais afetiNo ensinamento do nosso diretor-geral, Jorge Sa- vo. Menos logos e mais pathos. Mais sentimentos e mek, é preciso pensar grande e começar pequeno. Mas emoções. Menos lógica e razão. E, por essas razões, andar rápido. Começamos por duas microbacias no homenageando Hugo Werneck, esse novo jeito de ser estado do Paraná. Hoje já são 217 mil recuperadas, e sentir também passa por um novo jeito de ser e viincluindo todas as suas nascentes, e conservação de ver, que implica uma nova forma de produzir e solo. Também já conseguimos recuperar 1.400 quilô- consumir. Eu acredito nisso. Chegará um dia metros de mata ciliar, sem nenhuma briga, ação em em que não teremos mais premiação para a juízo e pagamento por serviços ambientais. Apenas sustentabilidade, porque ela será a própria pelo convencimento, porque a mata ciliar é apenas existência de todos nós.” o produto. O mais importante é o processo. Isso fez com que nós tivéssemos 2.800 quilômetros de estra(*) Diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu Binacional. das readequadas, porque grande parte delas eram


FOTO: GUALTER NAVES

Destaque Internacional PAPA FRANCISCO

HIRAM FIRMINO, Dom Joaquim Mol Guimarães, que recebeu o troféu em nome do Papa, e o Pe. Fernando Lopes, diretor-geral da Rede Catedral de Comunicação: pela ecologia espiritual e planetária

Houve um tempo em que ser de esquerda, lutar pela democracia, pela liberdade e os direitos humanos era ser subversivo. Significava ser preso, torturado e morrer nos porões da ignorância política e do desamor humano. Esse tempo, da forma histórica e heroica como se deu, já não se repete mais. Hoje em dia, não sabemos mais quem é de esquerda, centro ou direita. Em quem e no quê confiar, tamanha a falta de ética na política, na economia e no sistema financeiro mundial. Perdulária e escravizada, a humanidade insiste em adorar um bezerro de ouro, o do lucro pelo lucro, que não deu certo. Só destruiu o planeta, poluiu as nossas águas e aumentou a distância entre os ricos e os pobres. E não respeita e reverencia ao Deus natural, que criou o paraíso e todas as formas de vida que sustenta

a nossa travessia humana. Esse é o grande e mortal pecado da civilização atual. Por meio da encíclica “Laudato Si” (“Louvado Seja”), um chamado à ação e também uma crítica voraz ao desenvolvimento insustentável, nosso “Destaque Internacional” de 2015 – o Papa Francisco – entendeu isso e tornou-se o mais surpreendente estadista e esperançoso ambientalista formador de opinião que a humanidade já teve. E foi o bispo-auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Joaquim Mol Guimarães, também reitor da PUC Minas e membro do Conselho Cultural do Vaticano, que recebeu a estatueta do “VI Prêmio Hugo Werneck” em nome do Papa, fazendo reverberar novamente a mensagem ecológica de Francisco. Confira a seguir:


Pelas Águas do Planeta! A ECOLOGIA INTEGRAL Dom Joaquim Mol* “Senti-me verdadeiramente honrado de ser o portador desse prêmio ao Papa Francisco. Estive com ele recentemente em Roma, há uns 20 dias, mas não pude abordar esse assunto. No entanto, farei chegar às suas mãos esse troféu com todas as indicações necessárias para que ele compreenda bem o significado desta premiação tão importante para a nossa vida, para o planeta e a humanidade. O Papa Francisco se tornou muito reconhecido neste campo exatamente por causa do texto ‘Laudato Si, Signore mio’, então, ‘Louvado seja, meu Senhor!’, no qual ele faz toda uma reflexão ecológica muito bem assessorada por pessoas do mundo inteiro, inclusive aqui do Brasil. E se tornou uma grande referência não só nesse assunto. O Papa Francisco talvez seja hoje a principal voz, o principal líder mundial para encaminhar soluções pacíficas e justas em muitas situações da vida. É curioso que essa encíclica, diferentemente de tantas cartas que já foram escritas por outros papas, não mencione o destinatário, já que toda carta tem um. Esta, excepcionalmente, não tem, porque o Papa Francisco quis escrever a toda a humanidade como um alerta à grande comunhão com todos aqueles que têm trabalhado no cuidado da Casa Comum. Esta encíclica, que ganhou o apelido, carinho ou afago de

‘Encíclica Verde’, na realidade, é azul, amarela, branca, de todas as cores. Isso porque o Papa fala de uma ecologia integral, que só se compreende a partir do cuidado do verde, falando simbolicamente. E também da ecologia social, econômica, cultural, mental, que supõe mudanças muito profundas. Com isso, o Papa Francisco assume o seu papel, dá a sua contribuição para que o mundo de fato tenha futuro, para que a vida tenha futuro. Gostaria, portanto, de expressar esse agradecimento, com toda a liberdade e simplicidade, também pelas instituições às quais eu pertenço: a Arquidiocese de Belo Horizonte e a PUC Minas, que, aliás, tem vários trabalhos nessa linha, inclusive pesquisas. Quero terminar dizendo as últimas palavras que o Papa coloca na ‘Laudato Si’, uma prece que talvez expresse o compromisso que desejamos para todos. Diz assim: ‘Iluminai os donos do poder e do dinheiro, Senhor, para que não caiam no pecado da indiferença. Amem o bem comum, promovam os fracos e cuidem deste mundo que habitamos. Os pobres e a Terra estão bradando. Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor para que venha o vosso reino de justiça, paz, amor e beleza. Louvado sejas!’.” (*) Bispo-auxiliar da Arquidiocese de BH e Reitor da PUC-MG.


FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Presenças franciscanas

FOTO: GUALTER NAVES

Roda Lemos (Funbio), Felipe Starling e Aldo Souza (Anglo American) FOTO: GUALTER NAVES

Victor Fasano

Marcos Frederico

Roberto Coelho (Vale) e Kiko Lafetá (Gerdau) FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FOTO: GUALTER NAVES

Luiz Custódio (Intersucar), Afonso Rocha (Sebrae) e Olavo Machado (Fiemg)

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FOTO: GUALTER NAVES

Anthonio, que interpretou “Encontro das Águas”, de Tavinho Moura e Fernando Brant

A torcida pelo Projeto Estação Ciência, da Anglo American

João Bosco Senra (Copasa), José Cláudio Junqueira (Ecológico) e Nelton Friedrich (Itaipu)


FOTO: GUALTER NAVES

FOTO: GUALTER NAVES

Pelas Águas do Planeta!

FOTO: GUALTER NAVES

Dom Joaquim Mol (PUC-MG), Antônio Batista e Ricardo Siqueira (FDC)

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Marco Antônio Lage (Fiat), André Trigueiro (TV Globo) e Hiram Firmino (Ecológico)

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Os artistas Kátia Couto e Nil César FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Antonio De Simone, Sanakan Firmino, Janaína e Vanda Ribeiro

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Gustavo Werneck e Christiane Antuña

Somos todos Franciscos

"Não poderia deixar de enfatizar o que vi, ouvi e senti na solenidade de entrega do ‘VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza’, na última lua cheia de março. Um espetáculo de luz para exorcizar tempos sombrios. Parabéns! A Revista Ecológico conseguiu materializar o que chamo de espiritualidade na forma de evento: leveza, legitimidade, música, abrangência, profundidade, poesia, completude, justiça, ética, sensibilidade, holismo, amor, humanismo, ecologia e beleza. A sensação foi de plenitude! Começar com o Francisco rio e terminar com o Francisco papa, e com a bênção do São Francisco santo, inclusive citado nominalmente, em um texto memorável, também foi uma ideia iluminada. A Ecológico é Luz! Abraço espiritual.” Sidemberg Rodrigues, gerente-geral de Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal

Eloah Rodrigues (Ecológico) Roberto Baraldi (Fiat) e Sidemberg e Sandra Meirelles (Sicepot) Rodrigues (ArcelorMittal)


"EU SOU A MÃE NATUREZA" "Eu vou continuar. Eu estou preparada para evoluir. E vocês, estão?"

FOTO: DIVULGAÇÃO

“M

e chamem de natureza, me chamem de mãe. Eu estou aqui há mais de quatro bilhões e meio de anos. Na verdade, não preciso de vocês. As pessoas precisam de mim, seu futuro depende de mim. Quando eu prospero, vocês prosperam. Quando padeço, vocês padecem. Estou por aqui há muito tempo, alimentei espécies maiores do que vocês. Fiz passarem fome espécies maiores do que vocês. Os meus oceanos, meu solo, meus rios, minhas florestas, todos eles podem acolhê-los ou abandoná-los. Como vocês escolhem viver seu cotidiano, me levando em consideração ou não, realmente não importa. Suas ações vão determinar o seu destino e não o meu. Eu sou a natureza, eu vou continuar. Eu estou preparada para evoluir. E vocês, estão?”

Maria Bethânia


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MUDANÇAS

CLIMÁTICAS Qual a sua contribuição?

Homenagem Especial

Chico Xavier


1 INOVAÇÃO AMBIENTAL

O CAMINHO PARA A

SUSTENTABILIDADE Iaçanã Woyames

redacao@revistaecologico.com.br

A

inovação pode trazer soluções para os grandes problemas ambientais, como a crise hídrica e energética, o gerenciamento de resíduos sólidos e a poluição do ar? É possível estimular novos modelos de negócios visando um menor impacto, aliado ao retorno econômico? Estas e outras questões vão nortear, doravante, esta nova seção da Ecológico, intitulada “Inovação Ambiental”. Esta prestação de serviços aos nossos leitores, assinantes e anunciantes faz parte de uma parceria entre a Revista Ecológico e o FIP Inseed FIMA, primeiro fundo do Brasil destinado ao segmento de inovação aplicada ao meio ambiente, criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). A proposta é que essa coluna crie um espaço para o debate sobre os pilares do empreendedorismo e do meio ambiente, baseados em vetores de inovação. E apresentar temas e histórias de empresas que ampliam de forma significativa o impacto positivo de seus negócios no mundo, desenvolvem a economia com mais equilíbrio ambiental e alta rentabilidade, e ainda inspirem novos negócios e executivos. Nesta edição, Alexandre Alves, diretor de Inseed Investimentos e também conselheiro do Instituto de Pesquisa em Meio Ambiente (IPE), faz um panorama sobre a inovação ambiental. E como um “caçador” de exemplos inovadores pelo país,

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compartilha os aprendizados colhidos pela Inseed Investimentos - gestora do Fundo Inseed FIMA e especialista em empresas inovadoras “early stage” -, em seu trabalho de identificar e desenvolver negócios inovadores em meio ambiente pelo Brasil e o mundo afora. Confira sua entrevista inaugural: Como podemos definir inovação ambiental? Ela é o uso adequado de inovação tecnológica a favor do meio ambiente. E quem pode fazer isso? O empreendedor, pois implica em criatividade, capitalismo consciente, equilíbrio e, claro, inovação. O mundo não precisa ser salvo, ele precisa ser empreendido. E o novo empreendedor precisa utilizar o acesso que a evolução tecnológica nos proporciona. Grande parte dos problemas ambientais atuais, que foram gerados com a industrialização ou com a urbanização, podem ser acolhidos, equacionados e até minimizados com a aplicação de inovação tecnológica em diversas áreas. Ao trazermos a temática “inovação ambiental”, queremos convidar o empreendedor a ter um novo olhar sobre o meio ambiente. Por que inovação ambiental é a agenda do século 21? Diria que empreendedorismo, inovação e meio ambiente são os grandes temas. Tudo que a gente fizer do ponto de vista industrial, econômico, urbano ou agrícola tem que estar dentro de uma equação de menor impacto: como recuperar aquela matéria-prima? Como fazer uma melhor compostagem?


FOTO: PEDRO QUEIROZ

Como usar menos agrotóxico? Como fazer mais coisas orgânicas? Mas tudo isso também pensando em rentabilidade e economia. Pois o sustentável, a princípio, não pode ser mais caro, se não cria-se uma restrição. A nova agenda do século XXI implica inovações tecnológicas e a capacidade de empreendê-las, com o olhar sobre o meio ambiente sempre presente. Dentro dessa grande agenda, foi criado o FIP Inseed FIMA – Fundo de Inovação em Meio Ambiente. Como ele pode contribuir? Entre as iniciativas de inovação, existe um espaço para as pequenas e médias empresas inovadoras que buscam desenvolver soluções que impactam direta e positivamente o meio ambiente. A principal questão dessas empresas menores é ter acesso a recursos para conseguir fazer isso em escala maior e velocidade. Da mesma forma que as grandes empresas industriais têm muito recurso para explorar e para produzir, as pequenas e médias também deveriam ser capazes de acessar recursos para desenvolver suas soluções inovadoras. E, assim, gerarem grande impacto no meio ambiente. Aí se situa o Fundo FIP Inseed FIMA, criado pelo BNDES e gerido pela Inseed Investimentos. Empresas do setor de tecnologias limpas, com faturamento de até R$ 20 milhões ao ano, podem se candidatar a receber aporte de capital do Fundo. São R$ 165 milhões de capital comprometido para aporte em até 20 empresas até o fim de 2016. O Fundo contempla três eixos de investimento: Soluções Ambientais, Tecnologias Avançadas e Agropecuária Sustentável, e Novos Modelos. Para se informar melhor ou fazer a inscrição é só acessar www.inseedinvestimentos.com.br/fundos/fima/.

ALEXANDRE ALVES, nosso novo colunista: "O mundo não precisa ser salvo. Ele precisa ser empreendido de maneira sustentável"

Poderia citar alguns exemplos? A TBIT, empresa de Minas Gerais, que nasceu na Universidade Federal de Lavras (UFLA). Ela trouxe o olhar da inovação tecnológica para a análise de sementes. A investida conta com uma plataforma tecnológica que alia hardware e software, por meio do qual as análises manuais, sujeitas a interpretações humanas subjetivas, são substituídas por análises digitais, realizadas com base em parâmetros pré-estabelecidos. A tecnologia traz mais agilidade, confiabilidade, precisão e padronização ao processo. Gera sementes, grãos e plântulas de melhor qualidade e contribui para a solução do desafio da segurança alimentar, uma preocupação global. Outro exemplo, vindo do Rio de Janeiro, é a CHP, que trabalha com a tecnologia da geração distribuída a partir do gás e do biogás. Em vez de as empresas comprarem

um gerador, por exemplo, a óleo diesel, elas podem considerar a opção de fazer uma parceria com empresas fornecedoras de gás local. Ou implantar geradores de gás ou biogás em conjunto com empresas do mesmo setor ou região. Estes são apenas dois exemplos da carteira de investimento do Fundo Inseed FIMA, que demostram como pequenas e médias empresas podem, com recursos deste fundo, crescer, se tornar S/As. E potencializar o impacto de suas tecnologias. Por resolverem problemas globais de alta complexidade, tanto a TBIT como a CHP têm potencial para se tornar empresas de alcance mundial. Isso só é possível por meio do investimento e aceleração em negócios, cujo diferencial é a inovação e a tecnologia.  SAIBA MAIS www.inseed.com.br alexandre.alves@inseed.com.br

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - MODA

COM QUE ROUPA

(SUSTENTÁVEL)

EU VOU?

Indústria da moda avança na adoção de práticas mais ecológicas, conquistando consumidores e ajudando a conter a exploração desenfreada de recursos vitais, como a água. Estilistas estrangeiros e brasileiros já abraçaram essa causa, em prol do bem-estar humano e planetário Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

“S

ou contra a moda que não dure... Não consigo imaginar que se jogue uma roupa fora, só porque é primavera.” O ensinamento da icônica estilista francesa Coco Chanel (1883-1971) segue válido e atual, considerando que o desperdício e o consumo excessivo de diferentes produtos, inclusive de moda, devem ser evitados e estão cada vez mais fora de moda, literalmente. O caminho já trilhado por diversas marcas e consumidores do universo fashion é o da reinvenção, buscando tanto novos padrões de produção e de consumo quanto de reciclagem e de reuso das peças. Só assim, será possível manter o bem-estar de toda a sociedade e demandar o mínimo de recursos naturais possível, tais como água, energia e solos, para manter a fabricação de novas roupas. Nada mais justo e elegante, portanto. Em especial quando se lembra um alerta do Instituto Akatu, ONG brasileira dedicada à conscientização e mobilização da

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sociedade para o consumo consciente: atualmente, a população mundial já consumiu e descartou 50% mais recursos naturais renováveis do que o planeta Terra é capaz de regenerar e absorver, inclusive a água. Diante dessa realidade planetária, torna-se urgente e vital unir esforços para aliar à produção mais responsável e sustentável um novo jeito de comprar, reaproveitar e descartar as roupas, com cada cidadão refletindo sobre o real impacto de suas ações e estilo de vida, principalmente no que se refere à geração de lixo nas grandes cidades. Segundo especialistas, para se tornar um consumidor de moda mais consciente não é preciso fazer nada mirabolante. Basta adotar atitudes simples, que podem ser aplicadas no dia a dia, fomentando assim uma mudança de comportamento coletiva, em sintonia com iniciativas ‘eco-fashion’ já consolidadas mundo afora (leia dicas a seguir).

FORMA DE EXPRESSÃO Uma sugestão bacana é começar se perguntando qual o tipo de roupa é mais amigável ao meio ambiente. Um bom exemplo são aquelas confeccionadas em algodão orgânico e fibras naturais ou ainda feitas com tecidos produzidos a partir de materiais reciclados, tais como a malha de garrafas plásticas (PET). Tudo com parcimônia e bom senso. Afinal, é sempre bom lembrar que as roupas são uma das formas de expressão mais autênticas do ser humano. Re-


fletem muito de sua personalidade e, sendo assim, gostar de comprá-las e de usá-las é considerado pela maioria das pessoas um ato prazeroso – principalmente entre as mulheres. Para se manter satisfeito com o seu guarda-roupa, sem transbordar gavetas ou “estourar” o cartão de crédito, é preciso fazer escolhas mais assertivas na hora da compra. E, na frente do espelho, no momento de se vestir e escolher calçados e acessórios, usar uma boa dose de criatividade, combinando peças e criando novos looks. Comprar roupas de segunda mão também é um hábito que vem ganhando força entre uma parcela crescente de brasileiros. Brechós e bazares têm o seu charme e podem render ótimos “garimpos”.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

ESTILISTA É DESTAQUE No cenário global, a moda sustentável ganhou fôlego no século 21, deixando de ser uma simples tendência para tornar-se um comportamento real. Assim, ela atende nichos de mercado cada dia mais específicos, voltados para consu-

midores antenados e exigentes. Gente disposta a pagar um pouco mais por produtos diferenciados e, com isso, contribuir para reduzir a sua pegada ecológica no planeta. Os apelos da moda “verde” também encontraram eco entre estilistas de renome. Uma das mais engajadas é a britânica Stella McCartney – filha do eterno beatle Paul. Suas coleções, sempre sofisticadas, mostram que é possível combinar numa mesma roupa ingredientes como elegância, responsabilidade social e ambiental. E, claro, lucro. Arrojada, Stella – que também é vegetariana convicta – lançou coleções de luxo com peças confeccionadas sem o uso de couro ou peles de animais. Criou, ainda, uma linha exclusiva para a Adidas produzida com tecidos feitos de garrafas PET recicladas e algodão orgânico; e outra de lingeries totalmente confeccionadas com fibra natural. Como se não bastasse, todas as lojas e escritórios de sua grife no Reino Unido são alimentados por energia eólica, enquanto todas as embalagens/papel usados são certificados pelo FSC, selo verde mais reconhecido em todo o mundo. No Brasil, vale citar o exemplo da Osklen, que usa algodão orgânico e fibras de bambu (matéria-prima renovável e de rápido crescimento) na confecção de suas roupas. O di-

STELLA MCCARTNEY: moda com responsabilidade socioambiental

OSKAR METSAVAHT: uso de matéria-prima renovável na produção

FIQUE POR DENTRO

Algumas dicas para o momento da compra:  Procure a melhor combinação entre local da loja, o preço justo e veja se as roupas são de material orgânico ou reciclado. Na maioria das vezes não dá para encontrar peças que preencham todos esses quesitos. Assim, o importante é tentar encontrar o máximo deles em uma única peça.  Prefira o clássico do que a moda. Roupas básicas e estilosas podem ser combinadas de várias maneiras e até mesmo acompanhar as mais ousadas tendências. É difícil se arrepender de ter comprado uma camisa social. Mas não se pode dizer o mesmo sobre, por exemplo, calças coloridas ou com estampas muito marcantes.  Invista em roupas de qualidade. Elas podem ser mais caras em curto prazo, mas tendem a durar mais do que itens baratos e descartáveis.  Para cada novo item que comprar, doe pelo menos um mais antigo. Além de ajudar alguém, você abrirá espaço em seu guarda-roupa, evitando acumular mais peças além das que você realmente usa e precisa.

retor de criação e estilo da Osklen, Oskar Metsavaht, também é fundador do Instituto-E. Com sede no Rio, essa organização se dedica à promoção do desenvolvimento humano sustentável e tem, entre suas iniciativas, o projeto e-fabrics. Por meio dele e em parceria com empresas, instituições e centros de pesquisa, identifica matérias-primas sustentáveis que possam ser usadas pela indústria têxtil e pela cadeia produtiva da moda, estimulando, assim, a cultura do consumo consciente.

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ABRIL DE 2016 | ECOLÓGICO  81


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - MODA Sete passos para conhecer seu guarda-roupa:

1 2

– Abra seu guarda-roupa e analise tudo o que você tem.

- Separe: peças que estão apertadas ou grandes demais; aquelas para as quais você não aguenta mais olhar e as que nunca usou.

3 4

- Reflita: você realmente precisa delas?

– Se a resposta for não, convide seus amigos a fazerem o mesmo e, juntos, organizem um bazar ou brechó itinerante. O meio ambiente agradecerá!

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- Se seus amigos não toparem o desafio, doe tudo. Muitas roupas e acessórios são jogados no lixo, de onde seguem para o aterro sanitário, onde são incinerados, prejudicando o meio ambiente e aumentando consideravelmente os custos de gestão dos resíduos sólidos.

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- Não tem para quem doar suas peças? Opte pela customização (corte mangas e pernas de calças, troque botões, incremente as peças com rendas e fitas ou desfie as barras/bainhas).

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- Não quer customizar? Ofereça as roupas e acessórios para brechós e bazares. O que não é útil para você pode ser de grande valia para outra pessoa.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

ATITUDE É TUDO!

VOCÊ SABIA? Que duas garrafas de dois litros de PET reciclado são suficientes para produzir uma camiseta, enquanto quatro delas dão para confeccionar uma calça? O PET reciclado pela indústria têxtil absorve 50% do total desse material produzido no Brasil.

ENTENDA MELHOR  A preocupação com a sustentabilidade não é uma questão somente do consumidor: estilistas, indústrias e o comércio têm investido tempo e recursos para discuti-la. O resultado disso é o aumento gradativo da variedade de produtos feitos de forma ecologicamente correta.

a umidade do corpo. Já o algodão orgânico é aquele cultivado sem o uso de agrotóxicos e pesticidas.

 O parque têxtil brasileiro é o quinto maior do mundo. O país é, ainda, o segundo maior produtor de denim (jeans) e o terceiro de malhas. Autossuficiente na produção de algodão, o Brasil fabrica quase 10 bilhões de peças ao ano, sendo mais da metade delas de vestuário.

 Desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Emprapa), os algodões coloridos – são mais de cinco tons, do verde-claro aos marrons claro, escuro e avermelhado – todos cultivados sem nenhum tipo de adubo ou inseticida sintético. Como já nasce colorida, a fibra dispensa o uso de produtos químicos para tingir o tecido e economiza até 83% de água no processo de acabamento da malha, em comparação com os tecidos artificialmente coloridos.

 As fibras naturais, de origem vegetal ou animal, são matériasprimas renováveis. Sua principal característica é serem mais agradáveis ao toque, como a seda e o algodão, e absorverem melhor

 As fibras sintéticas são derivadas do petróleo e causam maior impacto à natureza para a sua produção. Os tecidos feitos com garrafas PET, por sua vez, estão presentes em vestuários,

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sacolas e roupas de cama. Eles evitam que as garrafas sejam indevidamente descartadas e poluam, sobretudo, os cursos d’água e o meio urbano.  A modelagem das roupas também contribui para a sustentabilidade. O processo se dá por meio do uso de softwares inovadores que calculam o melhor aproveitamento no corte de moldes e tecidos, evitando o desperdício desses materiais e reduzindo o impacto ecológico da captação de novas matérias-primas na natureza.  A produção de artigos de moda sustentáveis, com o uso de materiais recicláveis e/ou fibras naturais, incentivando a geração de trabalho e de renda entre comunidades carentes e cooperativas de profissionais, também é uma tendência em ascensão no Brasil.


FOTO: ARQUIVO PESSOAL

TRÊS PERGUNTAS PARA...

DAISE MENEZES GUIMARÃES

Mestre em Sociologia e professora do curso de Design de Moda do Centro Universitário Estácio

MODA CONSCIENTE Em sua visão, que segmento da indústria da moda está mais avançado no Brasil em relação ao uso de matérias-primas sustentáveis e à oferta de produtos ecologicamente corretos ao mercado? Quais os principais desafios a serem superados? Há iniciativas nessa direção em vários segmentos. Porém, ainda há diversos entraves para que a sustentabilidade se torne uma prática real no mundo da moda. Como se trata de uma cadeia produtiva bastante complexa – que envolve desde a produção da fibra até o beneficiamento e venda final –, a sustentabilidade precisa permear todas as etapas do processo e não apenas ser aplicada na fase final da produção, como ocorre frequentemente. A oferta de matérias-primas sustentáveis também ainda é bastante incipiente, tem custo elevado e nem sempre está disponível no mercado. Portanto, a criação de políticas de incentivo à produção ecologicamente correta é um elemento imprescindível para que a sustentabilidade se efetive definitivamente no setor. Acredita que o consumidor mineiro – geralmente tido como conservador – está maduro e já faz escolhas mais ecológicas ao comprar roupas, calçados, acessórios e outros itens de moda? Hoje o consumidor apresenta um comportamento pautado no estilo de vida e diante do contexto em que o planeta emite sinais de alerta em relação à sua

condição de absorver o impacto da ação do homem. O consumo sustentável entra na pauta do dia e ganha espaço nas campanhas publicitárias que, por sua vez, contribuem para a formação de consumidores mais conscientes. Um ponto bastante positivo da tradição mineira é, sem dúvida, a valorização do trabalho artesanal. E sendo o artesanato uma prática que condiz com a sustentabilidade, o consumo de produtos mais ecológicos acha terreno fértil em Minas e se consolida ao longo do tempo. É possível ter um guarda-roupa minimamente sustentável sem gastar muito? Pode dar alguma dica? Sim. Primeiro, o consumo deve se pautar numa postura consciente. Então, nada de comprar por impulso: avalie bem toda e qualquer compra que for fazer. Outra questão essencial é considerar a durabilidade das peças, no que diz respeito não só à qualidade, mas principalmente quanto à possibilidade de uso fora da temporada da moda. Assim, ter peças clássicas – aquelas que sobrevivem à mudança da moda como o pretinho básico, calças de corte reto e camisas clássicas – torna-se vital para compor um guardaroupa sustentável. E para se manter em sintonia com os lançamentos basta compor looks usando elementos e acessórios que sejam tendência de moda. Dessa forma, certamente, é possível conciliar sustentabilidade e moda. 

Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação. Junte-se a nós!

Nós apoiamos essa ideia! ABRIL DE 2016 | ECOLÓGICO  82


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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

A INTERNET DA NATUREZA

E

stá todo mundo falando de IOT, a internet das coisas. Só que não! Quem está falando mesmo disso é um bando de malucos que, requisitando uma expansão da identificação IP de quatro para seis, resolveu conectar tudo, em todo lugar, todo o tempo. Uma vez eu conversei com uma geladeira. Daquela vez era Deus em pessoa, escrevi numa crônica. Só que agora não! Agora é a geladeira mesmo, ela me diz, que está faltando leite e que a carne já está descongelada à espera do meu jantar. Muito provavelmente uma aplicação cognitiva vai comandar o forno para ir esquentando enquanto eu chego. E sabem que vou chegar porque meu carro conversou com o interfone e contou pra ele que contou pro fogão. Coisa de maluco... Só que não! Se avança a internet das coisas, avança a lama Rio Doce abaixo e uma outra tal de internet da natureza, sua irmã gêmea, que pode nos ajudar a salvar imensos patrimônios da humanidade, florestas, mares, rios e ares. A ION (que nome mais bonitinho!) é “uma rede sem fio de sensores integrados projetada especificamente para aplicações de natureza. Ela pode, autonomamente, monitorar o ambiente para níveis de poluição, riscos de catástrofes e a saúde da fauna e flora”. Mas larga esse pronto-falei e vamos explicar de forma simples: a tecnologia pode nos ajudar a salvar a natureza. Ela pode monitorar animais, florestas, construções do homem, a qualidade da água e, conectada com sistemas que podem aprender, falar

TECH NOTES  O que é internet das coisas?

http://goo.gl/Q0s7wS

O que é internet da natureza? https://goo.gl/LinIwL

O que quer uma companhia de TI com o Weather Channel? http://goo.gl/VpAzXo

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com a internet das coisas e fazer correções de curso, como soar sozinha uma sirene porque um milímetro de terra saiu do lugar. Pode salvar vidas! Pode denunciar agressões, mover um avião para uma zona de desmatamento ilegal, monitorar a invasão de uma nascente. Tem muitos braços, muitos olhos e pensa em mil coisas de uma só vez. Essa tal de internet da natureza vai ser a diferença entre nossa vida e morte. Fico pensando naqueles filmes de máquinas vindas do futuro para destruir a humanidade e me dá uma vontade doida de reescrever o roteiro. Um belo e heroico personagem que volta lá da frente para impedir a gente de entupir o mar de lama e fazer calar o pulo de um peixe. Volta e é vingativo! Pouco se importa com o homem que destrói. Sua meta não é salvar a gente, é salvar o planeta. A ION caminha decidida entre gente engravatada em escritórios com ar-condicionado, atravessa estradas, campos, montanhas e vai direitinho colocar seu dedo gigante no buraco da barragem. De lá, ele comanda sensores que fecham comportas. Talvez mande uma mensagem automática para a Bolsa de Valores, informando que algo está errado no reino de Mariana e muitas ações despenquem fora de controle. Talvez! No caminho da salvação, ele terá pisado em dez mil pessoas, feito um King Kong cibernético. Pode ser que aconteça. Pode ser que mate gente inocente, enquanto aciona filtros em chaminés poluentes e desliga fábricas inteiras que envenenam o mundo. Um caos! Pode ser que aconteça tudo isso, mas ele ainda será meu herói. Ao fim de sua saga, teremos um planeta vazio controlado pelas máquinas, a grande internet da natureza, só ela restando para preservar o planeta. Dizem que a Terra, vazia, não serve pra muita coisa. Só que não! Pra quem crê em Deus, acho que Ele vai ficar tranquilo espiando seu globinho azul respirar aliviado. Ele e suas máquinas sensacionais, suas netas eletrônicas, cujos pais, seu único fracasso de criação, já terão morrido de tanto tentar se matar.  (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.



1 VOCÊ SABIA?

Cobras Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

C

omo não temer o olhar de uma cobra? Ou mesmo seu rastejar escorregadio? Este animal, que põe medo em muita gente, tem importância fundamental no equilíbrio da cadeia alimentar e guarda curiosidades interessantes sobre sua biologia e forma de vida. Confira:

QUEM SÃO

As cobras são répteis rastejantes que botam ovos e podem ser peçonhentas ou não. Podem medir até 10 metros, como a espécie pítonreal, a maior cobra já encontrada no mundo e registrada no Guinness Book, o livro de recordes. Estima-se que no Brasil existam mais de 370 espécies de serpentes, com tamanhos, formatos e cores diversas.

LÁ VEM A VENENOSA!

Existem cobras peçonhentas e nãopeçonhentas. E o método mais seguro para distinguir umas das outras é observar a presença de um pequeno orifício entre os olhos e as narinas, chamado de fosseta loreal. Todas as serpentes venenosas, com exceção da cobra-coral, possuem esse orifício. Um buraquinho, que diz respeito a um órgão extremamente sensível, capaz de detectar calor e variações de temperaturas da ordem de 0,003 grau centígrado.

BOAS DE LÍNGUA

As cobras e suas línguas de pontas duplas balançando fora da boca. Uma cena temível, mas com uma explicação biológica muito interessante. A língua é o “nariz” da cobra, já que funciona como um detector químico para rastrear o cheiro deixado pelas presas. E ainda captar feromônios - hormônios sexuais que permitem que seres da mesma espécie se reconheçam. Quando a cobra agita a língua, cada uma das partes consegue captar partículas em regiões diferentes. Ao colocá-la na boca novamente, o bicho passa as duas pontas no céu da boca, onde existe um órgão chamado jacobson, que identifica a estrutura sensorial dessas partículas e faz com que a cobra perceba o que havia no ar. Isso é o que podemos chamar de paladar apurado! 86  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016


AMEAÇADAS

VIRGENS E GRÁVIDAS

Algumas espécies de cobras conseguem se reproduzir de forma assexuada. Foi o que concluiu um estudo das universidades americanas de Tulsa e de Geórgia, divulgado em 2015. A pesquisa analisou 21 espécies, e em apenas um tipo de serpente a reprodução sexuada se demonstrou obrigatória para reprodução. Todas as outras cobras pesquisadas podiam se reproduzir sozinhas ou com um parceiro. O fenômeno é conhecido na biologia como partenogênese. FONTES: Agência Fapesp, Mundo Estranho e Superinteressante.

Algumas espécies de cobras também enfrentam ameaças de extinção devido à perda de hábitat e expansão desordenada da agricultura. Uma pesquisa realizada pelo biólogo Cristiano Nogueira, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), analisou 380 espécies encontradas no Brasil e apontou como uma das conclusões que o número de espécies encontradas na natureza estão diminuindo. Para se ter uma ideia, a Bothrops itapetiningae, a menor entre as jararacas, deve ocupar apenas 20% da área original de há 30 anos, que se estendia pelos campos e cerrados desde São Paulo até o centro de Goiás. Péssima notícia, considerando que esses animais têm fundamental importância no equilíbrio da cadeia biológica.


1 EMPRESA & AMBIENTE

O NOVO centro de distribuição da Loja Elétrica: 20.000 m2 de área construída, com aproveitamento de luz, ventilação natural, reciclagem e redução de consumo de água e energia

A SUSTENTABILIDADE

COMO NORTE U

m enorme empreendimento de 20 mil metros quadrados e muito cuidado com o meio ambiente. Essa foi a principal diretriz adotada pelo Grupo Loja Elétrica, gigante do comércio de materiais elétricos para casas, prédios comerciais e industriais, na construção do seu Centro de Distribuição, localizado no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. “Quando começamos a planejá-lo, pensamos logo em fazer um empreendimento que tivesse baixo custo de manutenção e fosse

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o mais sustentável possível”, diz Wagner Mattos, diretor administrativo do Grupo Loja Elétrica. E o resultado não poderia ser melhor. Em todo o Centro, o aproveitamento de luz e a ventilação natural chamam a atenção. E, nos escritórios, foram utilizados climatizadores evaporativos, que umidificam o ar e consomem aproximadamente 40% menos energia do que um ar-condicionado tradicional. “Cem por cento dos resíduos sólidos gerados pelo Centro de Distribuição e seus escritórios

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Grupo Loja Elétrica inaugura centro de distribuição em Belo Horizonte e torna-se referência no setor ao aliar conceitos sustentáveis na sua construção

WAGNER MATTOS: “Pensamos em um empreendimento o mais sustentável possível”


Nos escritórios foram utilizados climatizadores evaporativos, que umidificam o ar e consomem aproximadamente 40% menos energia do que um ar-condicionado tradicional são reciclados. Reciclamos papel, papelão, plástico, madeira, restos alimentares, óleo de cozinha, ferro, cobre, pneus e baterias automotivas. E a água da chuva também é coletada em caixas subterrâneas e utilizada para a irrigação dos jardins, lavagem de veículos, entre outras aplicações”, aponta Wagner. Nos banheiros, foram utilizadas torneiras com areadores e descargas com duplo comando, para líquidos e sólidos, proporcionando uma maior economia de água. Na iluminação do prédio foram utilizadas lâmpadas de LED de alta eficiência. “As luminárias externas são alimentadas exclusivamente por placas solares fotovoltaicas e suporte eólico, ou seja, fontes renováveis e sustentáveis. Já o pavimento das vias externas foi feito utilizando blocos intertravados, que permitem uma boa permeabilidade da água no solo”, completa o diretor. RECONHECIMENTO Inicialmente utilizando um projeto convencional, estava prevista a instalação de um gerador suplementar para suprir a demanda de 750 KVA (capacidade de produção de energia do gerador) para manter o Centro e os escritórios em funcionamento. Com as soluções implementadas, hoje o empreendimento tem um consumo de, no máximo, 400 KVA. Sem contar que vem utilizando menos da metade do volu-

me de água tratada inicialmente estimada. “O custo inicial das soluções sustentáveis adotadas é bem mais alto que o convencional. Porém, com o tempo, a economia obtida é bem representativa, o que torna o custo de utilização deste prédio altamente compensador. O payback dos investimentos feitos ocorrerá em, no máximo, seis anos. A partir daí, teremos 100% de economia”, comemora Wagner. As conquistas, entretanto, não param por aí. Em agosto passado, o Centro de Distribuição recebeu o “Selo Ouro de Construção Sustentável”, concedido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Belo Horizonte. A certificação destaca empreendimentos públicos e privados que contribuem para a redução do consumo de água, energia e emissões atmosféricas, além de utilizar alternativas de reciclagem e reaproveitamento de recursos. “Sentimo-nos muito honrados com a certificação. Vimos que o esforço e os investimentos foram reconhecidos pelos agentes públicos de nossa capital. Também desenvolvemos um plano de comunicação interna para disseminar as tecnologias utili-

FIQUE POR DENTRO A Loja Elétrica Ltda. é a empresa líder de mercado na distribuição de materiais elétricos de baixa e média tensão, equipamento para telecomunicação, cabeamento estruturado, tecnologia e automoção em Minas Gerais. Iniciou suas atividades em 1947, em Belo Horizonte, como um pequeno armazém de secos e molhados. Comercializa atualmente uma ampla linha de produtos que inclui mais de 30.000 itens e mantém um Centro de Capacitação em Tecnologia. Em 2012, o Grupo faturou R$ 576 milhões.

zadas na construção. A intenção é informar e conscientizar todos os nossos colaboradores sobre a importância de sermos uma empresa sustentável. E isso depende de todos nós.” A Loja Elétrica investiu R$ 60 milhões na construção do Centro, que foi iniciada em 2012. Além dele, a empresa tem mais sete lojas em BH, uma em Ipatinga, uma em Uberlândia e mais sete “in company” (dentro de grandes empresas).  SAIBA MAIS

www.lojaeletrica.com.br


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AS PEGADAS DE LUND (2)

A ÚLTIMA REVOLUÇÃO Nas lapas de Lagoa Santa, Peter Lund encontrou evidências incontestes de catástrofes sucessivas, como o dilúvio universal na Terra. E morreu falando do seu amor à ciência Cástor Cartelle

redacao@revistaecologico.com.br

H

. Lund escreveu uma biografia do seu tio Peter Lund. Narra que ele, no caminho para chegar a uma gruta na qual iria realizar trabalho de pesquisa, ao escutar o barulho do chocalho de uma cascavel, conseguiu evitar o bote, mas foi picado por uma aranha. Sentiu uma terrível dor e, tremendo compulsivamente, perdeu a consciência por cinco horas. Em algumas grutas por ele exploradas, ainda hoje se percebem as marcas deixadas na rocha pelas talhadeiras e alavancas usadas no trabalho de escavação. Ano após ano, a coleção incrementava-se com essas coletas sistemáticas. No período de chuvas, quando caminhos tornavam-se intransitáveis e muitas grutas eram inundadas, Lund dedicava-se à preparação e estudo do material coletado. Em 1839 adquirira uma casa ampla e simples de planta baixa, tendo habilitado no fundo do quintal um local de trabalho e estudo. Minucioso catálogo foi confeccionado por ele, no qual constam informações a respeito de cada peça, como o local de coleta, a identificação do espécime e a determinação da espécie à qual pertencia. De 1835 a 1845, enviou à Europa numerosos trabalhos científicos com suas descobertas, que foram publicados na Dinamarca e na França. Tanto quanto as físicas, tampouco foram poucas as dificuldades intelectuais enfrentadas por Lund no seu trabalho, tais como literatura insuficiente, comunicação muito lenta com centros culturais, 90  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

INTERIOR de uma gruta. Desenho de P.A. Brandt

achados incompletos de espécies desconhecidas... Não sem razão, Lund foi modificando ao longo dos anos algumas de suas percepções iniciais. As últimas publicações encerram seus pontos de vista mais elaborados. Essas dificuldades foram um martírio para uma pessoa de formação intelectual muito acurada, que mal podia compartilhá-la na solidão de Lagoa Santa. Doutor, dominava, além do dinamarquês e do português, o francês, inglês, alemão e italiano, assim como o latim e o grego, línguas que usou na correspondência que mantinha com grandes intelectuais da Europa. Excelente pianista, fundou uma banda de música que patrocinava, a Santa Cecília. Realizava também coleções de animais recentes (peles e esqueletos), tendo determinado várias espécies viventes até então desconhecidas.

RADICAL MUDANÇA Nos fósseis que resgatou, Lund identificou espécies atuais e não poucas extintas. Várias dessas descobertas foram espetaculares, como será descrito adiante. Com o material coletado, identificou como espécies novas oito viventes e 22 extintas. George Cuvier, certamente, teve um grande influxo sobre Lund, em relação à visão científico-filosófica da zoologia, levando-o a assumir uma radical mudança na sua vida e, em consequência, a penetrar no mundo diferente dos fósseis, abandonando as pesquisas de botânica. Na Europa vivia-se o embate de uma nova biologia. Com seu sistema binomial de identificação de espécies, Linneo introduzira uma ordem aceita por todos. Era possível uma linguagem universal. Novos conhecimentos zoológicos prove-


nientes da África e, especialmente, da América do Sul inundavam publicações e museus. Como explicar a enorme variedade de espécies que a cada coleta era ampliada? O paradigma bíblico de um Deus fazedor de cada espécie não respondia os questionamentos que surgiam. Por outra parte, a filosofia aristotélica, para a qual cada espécie era fixa porque tinha determinada constituição invariável (a essência), parecia ultrapassada: grandes variações morfológicas eram constatadas em animais e plantas dos distantes e diversos continentes. Se Deus criara o homem tão igual, apenas com mínimas variações como constava na Bíblia, por que tantas diferenças no mundo animal? Ocorreram diversas criações? Diferentes explicações e teorias foram surgindo. Lamarck explicou a variedade percebida entre espécies afins com a teoria do uso-desuso. Um órgão modificava-se ao ser exigido. Foi dessa maneira que a girafa teria alongado o pescoço, captando folhas em árvores cada vez mais altas, garantindo assim sua sobrevivência diante das secas que dizimavam a vegetação e os arbustos mais rasteiros. E a quem deles dependia. Cuvier, opositor de Lamarck, tinha teoria diferente para explicar as variações observadas entre espécies afins extintas e as mais modernas: o catastrofismo. Catástrofes naturais eliminavam formas de vida, substituídas por novas espécies que Deus, sucessivamente, criava. Por tal razão, em camadas mais antigas encontravam-se fósseis diferentes dos encontrados nas mais modernas. Catástrofes destruíam a vida, que era recriada com novas formas. Lund, luterano convicto, aderiu à teoria de Cuvier tanto pela autoridade de que desfrutava o cientista francês quanto pela explicação que se ajustava à sua crença. Nas cavernas que explorava no

entorno de Lagoa Santa enxergava, nos primeiros anos de pesquisa, a confirmação da teoria catastrofista de Cuvier. O dilúvio universal fora a última revolução do globo. Deus, pouco antes, realizara a última criação: o homem e os animais que foram salvos na Arca de Noé. Os outros, os da anterior criação, já foram eliminados: a evidência estava nos esqueletos de animais extintos que apareciam nas grutas sob a camada ou crosta estalagmítica que Lund perfurava para resgatá-los. PIEDADE DE DEUS Nas lapas de Lagoa Santa, os sedimentos, estalactites e outros espeleotemas, como observara em Maquiné, eram evidências incontestes das catástrofes sucessivas. Da última, o dilúvio, estavam à mostra os sedimentos térreos introduzidos pelas enchentes. Já os fósseis de animais extintos eram mais antigos que os restos do homem e dos animais ainda sobreviventes, que foram criados por último. A piedade de Deus, premiando a fidelidade de Noé, não permitiu que desaparecessem na hecatombe diluviana todos os seres da última criação; o castigo só atingiu os homens que não foram fiéis e os animais que Noé não salvara introduzindo-os na sua arca. Lund denominava as espécies extintas como pertencentes ao “...mundo animal preexistente, à última revolução do globo”, isto é, existiram e desapareceram antes do dilúvio. Das grutas, aos poucos, Lund trazia à luz numerosas espécies que desenhavam a realidade de um passado longínquo. Sucessivas pesquisas forneciam-lhe cada vez mais informações que municiavam sua mente privilegiada. Até que uma seca intensa permitiu que explorasse a Lagoa do Sumidouro, localizada no município de Pedro Leopoldo (MG). A água da lagoa escoa por galeria que mergulha na base de um

UM ÓRGÃO modifica-se ao ser exigido. Foi dessa maneira que a girafa teria alongado o pescoço, captando folhas em árvores mais altas

paredão calcário, o qual ultrapassa cinquenta metros de altura e que represa o lago. Lund trabalhou intensa e cuidadosamente. Os resultados obtidos foram extraordinários e provocaram um terremoto nas suas convicções. Na minuciosa narrativa do achado, descreveu as diversas camadas que retirara com todo cuidado. A sua descoberta era extremamente importante e precisava de elementos que lhe fornecessem toda certeza. Na mesma camada resgatou peças fósseis da fauna que ainda sobrevivia, da extinta e de humanos. Segundo o paradigma cuvieriano, a fauna extinta não poderia coexistir com a atual e o homem. Num dos seus primeiros escritos Lund escrevera em relação aos seus achados: “...os naturalistas que seguem a lei da invariabilidade das espécies... concluirão... ter-se dado destruição geral dos animais primitivos e verão na criação viva (isto é, nas espécies atuais) uma criação nova e absolutamente independente da extinta”. Fragmento de rocha do estrato onde Lund fez sua descoberta, ainda guardado no Museu de Zoologia de Copenhague e recuperado

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AS PEGADAS DE LUND (2)

pelo arqueólogo Walter Neves há poucos anos, permitiu conhecer a idade dos fósseis. Essa rocha, uma brecha, localizava-se sobre os sedimentos onde foram encontrados os restos humanos e dos animais extintos e preservou uma camada de calcita. Havia ainda mais: conchas de moluscos que viveram na Lagoa do Sumidouro e fragmentos de carvão. Esses três elementos permitiam datações independentes, que indicaram uma antiguidade para a camada de oito a mais de dez mil anos. Logo, o material subjacente era ainda mais antigo. Nesse tempo distante, animais extintos, atuais e o homem conviveram. Sua minuciosa escavação lhe dava essa certeza. Cuvier estava errado. A evidência desfaz teorias.

grutas das redondezas de Lagoa Santa em refúgio de perseguidos pelas tropas comandadas pelo Duque de Caxias, tornaram as pesquisas muito perigosas na área explorada por Lund. Além do que foi enunciado, ocorrera um sério percalço na vida financeira de Lund. Mesmo tendo financiado, até então, a maior parte de seu trabalho de pesquisa com recursos próprios, o prejuízo econômico teria servido para desestimular a continuidade do seu trabalho. Em correspondências entre 1840 e 1846 Lund narrou um processo movido por ele contra o engenheiro húngaro Franz Morgenstern, que viveu em Minas Gerais entre 1839 e 1841. Lund decidiu investir numa lavra de ouro que seria iniciada em Sabará (MG), emprestando uma

RIO DAS VELHAS Essa descoberta fez com que as convicções científicas de Lund fossem abaladas, o que contribuiu para o aumento da sua insegurança, causada pela marginalização e isolamento no planalto brasileiro, num tempo em que grandes mudanças científicas estavam ocorrendo na Europa. Em 1842 chegou a Lagoa Santa um jovem, Reinhardt (1816-1882), filho de um professor de Lund. Sob sua orientação realizou excepcional trabalho: o levantamento dos peixes da Bacia do Rio das Velhas. Esse material, que registra mais de cem espécies, ainda se preserva na Dinamarca. No futuro, quando o Rio das Velhas for recuperado do estado lastimoso em que se encontra hoje, devido à altíssima poluição, poderá ter restaurada sua primitiva condição e ser recolonizado com as espécies originais. O cansaço de anos de trabalho sofrido, os achados que começavam a se repetir e que não traziam novidades, o fim do financiamento proveniente da Dinamarca, assim como a revolução constitucionalista, que transformara numerosas

Das grutas, aos poucos, Lund trazia à luz numerosas espécies que desenhavam a realidade de um passado longínquo

balho científico e resolveu enviar para a Dinamarca a coleção que reunira, composta de espécimes atuais e fósseis. Cada peça foi preparada para a viagem com embrulhos cuidadosos condicionados em arcas. O material empregado na confecção dos pacotes, assim como algumas arcas, ainda estão conservados no Universitets Zoologische Museum de Copenhague. A coleção foi remetida para o Rei Cristiano VIII, ao qual Lund escreveu em carta de 1845: “...esta coleção deve ser utilizada pela ciência, tão logo e de modo tão completo quanto possível em virtude do seu interesse e de seu valor científico”. As últimas arcas chegaram a Copenhague em 1849, quando Cristiano VIII já falecera. O país estava em guerra e avolumavam-se as dificuldades. A coleção permaneceu encaixotada por falta de espaço até que, devido à pressão feita por um sobrinho de Lund em campanha popular, foi, finalmente, colocada num local digno. Reinhard que, como antes indicamos, estivera em Lagoa Santa ainda como estudante, tornou-se o primeiro curador da coleção.

grande soma de dinheiro ao húngaro de quem se tornou, também, fiador. Falido o empreendimento, o sócio desapareceu. Lund, além de não conseguir recuperar o dinheiro investido, foi condenado, como avalista, a pagar as dívidas da empresa falida. As perdas de Lund atualizadas hoje seriam em volta de um milhão de reais. O processo de revisão não andava. Pensou, inclusive, em mudar de cidade e estabelecer-se em Sabará, para tentar acelerar o processo. Mas seu advogado abandonou o caso ao ser escolhido presidente da então Província de Minas Gerais. Tudo isso fez com que Lund tomasse mais uma atitude radical. Em 1845, escreveu seu último tra-

UM VELHO PEQUIZEIRO Lund continuou vivendo em Lagoa Santa, dedicando-se ao “doce ócio do campo”, como escreveu à família, e a conviver com a população. Ao que parece, rapidamente recuperou-se do prejuízo econômico, proveniente do falido investimento na lavra de ouro. Anos antes, recebera respeitável herança. Acolheu diversas visitas que o procuravam, como os naturalistas suíços Claraz e Agassiz, o francês Liais, o paleontólogo alemão Burmeinster ou o fotógrafo Augusto Riedel, filho do botânico Louis Riedel, que anos passados viajara com Lund sertão afora. Em 1862, faleceu seu secretário e amigo, Brandt, que se associara a Lund em 1835 em Curvelo.

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LAGOA SANTA: cruz de 1862 e pequizeiro plantado por P. W. Lund. Museu de História Natural da Dinamarca. Fotografia de Riise. 1922

Além de ser responsável pelas escavações, ilustrara os trabalhos de Lund desde a primeira escavação em Maquiné e fez, num pequeno caderno, excelentes desenhos do quotidiano a bico de pena. Lund comprara um terreno onde pretendia ser enterrado. À época, os cemitérios eram confessionais e protestantes não eram enterrados em cemitérios católicos, praticamente os únicos então existentes. Brandt foi o primeiro a ser sepultado onde mais tarde também o seria Lund. Uma cruz foi fincada no local, tendo na base gravada a data do falecimento do amigo. Hoje, ainda se preservam um velho pequizeiro que Lund plantara e a cruz, doada pela família Lund ao Museu de Ciências Naturais da PUC Minas. Em 1863, um outro estudante dinamarquês foi recebido e orientado por Lund em Lagoa Santa, Eugene Warming, que lá permaneceu até 1866. Reuniu grande coleção de plantas do Cerrado, hoje depositadas no Jardim Botânico de Copenhague. O estudo das inter-relações dessa flora fez desse pesquisador o iniciador de uma nova ciência, a Ecologia Vegetal. Lund, mesmo afastado da pesquisa científica direta, na sombra foi corresponsável por esse fato, de grande relevância científica.

Devem-se a Warming numerosas fotografias que retrataram paisagens e moradores da cidade, assim como escritos com comentários a respeito de pessoas e do seu orientador. Passados trinta anos da chegada de Lund a freguesia crescera e, segundo Warming, já teria em volta de cinco mil moradores. Cita, por exemplo, o professor das primeiras letras, que também era encanador e relojoeiro. O relógio da igreja era acertado pelo dele. Outra figura importante era o sineiro, muito habilidoso, com repiques diferentes para mortes de “anjos” ou de adultos, casamentos, missas e extrema-unção a doentes. Narrou, também, que Lund levava uma vida sistemática. Quando batia o sino da Ave-Maria na matriz, às seis da tarde, na casa era aceso o pavio da lâmpada de latão com óleo de mamona e servido chá feito com plantas do Cerrado. Em seguida, iniciava-se a leitura de revistas vindas da Dinamarca e do “Jornal do Commercio”, do Rio de Janeiro, que Lund recebia duas vezes por semana. O jornal incluía correspondências de Paris, Londres, Gênova e Berlim, o que permitia conhecer os acontecimentos principais da Europa com pelo menos dois meses de atraso.

AMOR, AMOR, AMOR Peter Lund faleceu em 5 de maio de 1880 na mesma casa que comprara em 1839. Estava quase cego. Seu filho adotivo, Nereo Cecílio dos Santos, narrou em carta à família distante que, após dois meses de sofrida enfermidade, somente no fim começara a delirar, falando então do que mais amava: ciência e música. Segundo esse relato, suas últimas palavras foram: “...amor, amor, amor... e com isto morreu”. Falecia quem resgatara, da escuridão das cavernas para a luz, vidas passadas. Amor à ética, amor à ciência e à pátria adotiva na qual escolheu morrer. Ao longo dos anos não aceitou as propostas de retorno à Europa que repetidamente sua família lhe fazia. Permaneceu sob a proteção da cruz, que fincara quando da morte de Brandt, e à sombra do pequizeiro que plantara, até 1936, quando a família decidiu repatriar seus restos. Recebeu, ainda em vida, como reconhecimento dos serviços prestados, uma das principais comendas da Dinamarca, a medalha “Ingenio et Arti”. Do tempo de Lund preservaram-se o cemitério e um instrumento da banda de música Santa Cecília, que ele fundara. Pouco depois da sua morte a casa foi transformada em venda e, posteriormente, em escola, como determinara em testamento. Na década de 1950, foi demolida para ser construído no local um grupo escolar. Mobília e biblioteca perderam-se, mas não a sua amorosa contribuição à ciência.  CONFIRA na próxima edição: "Uma picada de aranha e o embate de uma nova biologia na Europa".

Apoio cultural:

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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

HIBISCO Q

FOTO: MARCOS GUIÃO

uando vim de mudança pra roça, trouxe na bagagem um bocado de expectativa, uma tanteira de bobagens na cabeça pra ficar caraminholando e um tiquim de semente de hibisco (Hibiscus sabdariffa). De tudo que trouxe, acho que só o hibisco até hoje está frutificando. Aqui é uma região onde existem doceiras afamadas, como Dona Elizabeth, ali do Milho Verde, que faz uma marmelada inigualável. Já em São Gonçalo, temos a Cida de Ademil, que produz geleias maravilhosas usando frutas de época. Sabendo disso, plantei minhas sementes de hibisco, colhi seus frutos carnosos e preparei com cuidado uma geleia, que levei até ela esperando sua aprovação. Depois de provar desconfiada, ficou buscando algum sabor de seu conhecimento, pro azedinho vermelho-rosado do doce. Ainda lhe dei um pouco de

sementes e lhe disse que no ano seguinte seria ela a me dar um pote de geleia. Pois num é que deu certo? De lá pra cá se vão muitos anos. E essa é uma das geleias com maior aceitação e procura. Carece de explicar pra todo mundo que não estamos falando daquele hibisco ornamental, muito usado como cerca viva nos sítios e chácaras, chamado muitas vezes de lampião ou rosa-sinensis. O referido aqui num apresenta flor lá muito vistosa. Mas o cálice que abraça seu fruto tem uma cor vermelho-rosada que encanta o vivente e por aqui atende pelos nomes de azedinha, quiabo-azedo, rosela e vinagreira. De uns tempos pra cá, dei reparo que vez por outra surge uma “planta milagrosa”, levando todos ao olimpo da beleza. Geralmente é uma dessas que, até semana passada, estava esquecida num canto de quintal e, de repente, se dá o milagre: “Use para se transformar num modelo de capa de revista”. Bom, nem preciso dizer que isso não existe e o máximo que dá pra fazer é ser feliz com o que se tem e se é. Pois com o Hibiscus sabdariffa se deu esse troço de virar a “úrtima moda” das dietas. Coitado, saiu da cozinha e foi-se para a farmácia sem nem mesmo ter tempo de dar um tchau! Montado em muita pesquisa, hoje ele comprovadamente tem ação antiespasmódica, anti-inflamatória, reduz a hipertensão. E por ser um excelente diurético, age como um laxante suave e auxilia nas dietas de emagrecimento. O cálice da flor é rico em flavonóides - reconhecidos como protetores contra os radicais livres, além de cálcio, magnésio e ferro, e vitaminas A e C. Seu chá tem fama de emagrecedor, imagine você! Isso é derivado de seu poder de estimular o metabolismo, ajudando a reduzir o colesterol ruim. Pela boa atividade diurética, a mulherada o adora por diminuir os líquidos corporais e, com isso, diminuir a formação ou agravamento da celulite. Quer mais? Só preparando uma geleia. Anote aí: colha um bocado de seus frutos, separe os cálices, lave-os com cuidado e ponha no liquidificador com um tiquim de água. Despeje tudo num tacho, acrescentando o mesmo tanto de açúcar ou um pouco menos. Leve em fogo brando até dar o ponto, que é passar a colher de pau e ver o fundo do tacho. Acrescente pétalas de rosas de seu jardim e encante seus convidados! (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

HIBISCO (Hibiscus sabdariffa)fa)


Não recomendado para menores de 16 anos

O Ministério da Cultura e a Fundação Municipal de Cultura apresentam:

NOS PORÕES DA LOUCURA Baseado no livro homônimo de Hiram Firmino Dramaturgia e direção de Luiz Paixão

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Alvará de Funcionamento e Localização do Sesc Palladium - 2011/25091, válido até 28/07/2016. Órgão expedidor: PBH. ART Obra e Serviço do Sesc Palladium - 142013000000015052285, válido até 28/11/2018. Órgão expedidor: CREA-MG


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M E M Ó R I A I LU M I N A D A - A D É L I A P R A D O

“A poesia é o rastro de

Deus nas coisas” A escritora Adélia Prado comemora 40 anos de carreira com livro que reúne toda a sua obra Cristiane Mendonça

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abelos brancos, um vestido preto com um discreto casaco claro estampado de flores. Um par de óculos de grau com delicados aros de metal e sapatos vermelhos como quem chega para dar um recado de amor. Assim entrou no palco principal do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no dia 16 de março, a escritora mineira Adélia Prado, aplaudida de pé por uma plateia que ocupou todos os 1.705 lugares do teatro apenas para ouvi-la. Foram palmas de boas-vindas e gratidão por todos os versos que Adélia escreveu. Palavras que dizem respeito à nossa mineiridade, ao nosso sentimento universal e à força dos símbolos e crenças que habitam em nós. A ocasião era especial: naquela noite se comemorava os 45 anos do Grande Teatro do Palácio das Artes, os 30 anos do projeto “Sempre Um Papo”, responsável pela presença da escritora, além dos 40 anos de carreira de Adélia, que lançava o livro “Poesia Reunida”. A obra agrega todos os seus poemas contidos nos livros “Bagagem”, “O Coração Disparado”, “Terra de Santa Cruz”, “O Pelicano”, “A Faca no Peito”, “Oráculos de Maio”, “A Duração do Dia” e “Miserere”. São versos que dizem respeito

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ao universo de uma escritora de 80 anos, que nasceu em Divinópolis, no centro-oeste de Minas, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. E que, desde a infância, mostrou talento com as palavras. Histórias de vida e carreira suficientes para fazer com que toda a plateia fizesse um silêncio respeitoso para ouvi-la. Levados pelo sotaque mineiro da autora, que nos remete a alguém querido, que lê para nós uma poesia na varanda de casa, foi possível ouvir palavras de amor, fé e cuidado a respeito de nós mesmos e do nosso modesto cotidiano. Mais do que isso, ter a oportunidade de encerrar a noite, com um pedido delicado de Adélia para que trocássemos os autógrafos e selfies por uma oração do Pai-Nosso, como pedido de proteção para o Brasil nesse momento de crise, e que deixou a escritora com a voz embargada. Em uníssono, a oração universal encerrou o evento, em que foi possível ouvir Adélia Prado recitando... Adélia Prado. Confira, a seguir, algumas frases marcantes na carreira da escritora. Entre elas, algumas destacadas durante sua apresentação no Palácio das Artes:

FOTO: JACKSON ROMANELLI

redacao@revistaecologico.com.br


QUEM É ELA Formada em Magistério e Filosofia, somente aos 40 anos, e cinco filhos depois, ela conseguiu lançar seu primeiro livro “Bagagem”. A história desta obra começa quando Adélia envia, ainda na década de 1970, carta e originais de seus novos poemas ao poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, que os submete à apreciação de Carlos Drummond de Andrade. Em 1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago, que publique o livro de Adélia, cujos poemas lhe pareciam "fenomenais". O ano era 1976 e começava aí, publicamente, a carreira de uma das mais importantes escritoras vivas do Brasil, que teve seus textos também adaptados para o teatro. Entre eles, destaque-se o espetáculo “Dona Doida”, baseado no poema de mesmo nome e que foi protagonizado pela atriz Fernanda Montenegro, entre as décadas de 1980 e 1990.

ADÉLIA: "É no encardido da vida que a gente prova as coisas"

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M E M Ó R I A I LU M I N A D A - A D É L I A P R A D O

“Não tem jeito de fazer ecologia sem olhar para dentro, sem cuidar primeiro da ecologia interior. Se o coração não está educado para essa compaixão de uma pessoa para com a outra, como é que alguém vai cuidar de planta e de água?”

 COTIDIANO “Tudo isso que nós cremos e nos faz felizes, se trata de mistério.” “Fazer um pão, ou qualquer outra tarefa simples, nos devolve simbolicamente o prazer de existir.” “As coisas mais corriqueiras nos dominam. Isso não pode!”  SER MULHER “Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.”

 CHUVA “Só melhoro quando chove.”

“Como vou querer paz no mundo com uma guerra no coração?”

 SOCIEDADE “Nossa civilização padece de símbolos. Está tudo igual. Os ritos religiosos estão banalizados.”

 BELEZA “Ainda assim, a vida é maior, o direito de nascer e morar num caixote à beira da estrada. Porque um dia, e pode ser um único dia em sua vida, um deserdado daqueles sai de seu buraco à noite e se maravilha. Chama seu compadre de infortúnio: vem cá, homem, repara se já viu o céu mais estrelado e mais bonito que este! Para isso vale nascer.”

“Estamos padecendo de deficiência de atenção. Nós não olhamos para o outro.” “Eu preciso me modificar para que eu veja o outro.”

 VIDA “Viver a vida com sentido, com significado, é que nos torna cada vez mais humanos.”

“A beleza é um dos valores mais consoladores que existem.”  CONVIVÊNCIA “Se você não pode tocar uma pessoa, mude seu olhar por essa pessoa.” FOTO: REPRODUÇÃO

“A vida cotidiana já é heroica e nós temos que aceitar. Eu vou dar birra com Deus? Seja pobre, seja rico.”  DEPRESSÃO “A ausência de significados é a depressão.” 98  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

POESIA reunida: obra mais recente da autora abrange todos os seus poemas

“Às vezes vou pregar lá na África e deixo meu pessoal aqui faminto de amor.”


 POESIA “A poesia ajuda porque ela repercute dentro de mim, fala a nossa alma.” “A poesia é o rastro de Deus nas coisas.”

 MAR “Quem carrega o mar nos seus limites tem carinho com o mar.” “Para o desejo do meu coração, o mar é uma gota.”  FÉ “Tanto o poema, quanto a oração, exigem algo maior que precisa da minha aceitação.” “Carl Jung dizia que devolvia seus pacientes para sua religião de origem: a semente da nossa vida simbólica.” “A Bíblia é um livro de experiências profundas e humanas.” “Eu não dou conta de aguentar minha velhice se eu não tiver uma fé.”  DEUS “Deus não é um fato teológico. Ele é para as pessoas uma experiência.” “Quanto mais você descobre, mais o universo se alarga. Isso é Deus.” “Perdoar Deus significa dizer: ‘Eu aceito, eu digo sim para a vida, para o meu corpo’.”  VELHICE “Hoje, temos a ideologia da juventude perpétua, que passa por remédios, ginásticas, plásticas e pelo desespero final, porque nada responde à nossa profunda fome humana, que é de ordem espiritual.”  CIDADE NATAL “Alguns personagens de poemas

FOTO: JACKSON ROMANELLI

“Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra mesmo.”

são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong Kong, só que vivido em português.”  LARANJAS DOMINICAIS “Na minha cidade, nos domingos de tarde, as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas. Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta, a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas: ‘Eh bobagem!’ . Daqui a muito progresso tecno-ilógico, quando for impossível detectar o domingo pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas, em meu país de memória e sentimento, basta fechar os olhos: é domingo, é domingo, é domingo.”  CARREIRA “Quando eu tenho uma carreira, posso estar triste ou alegre que tenho de trabalhar. Com a arte não é assim. O estatuto é dela.”  COMPAIXÃO “Não tem ética nem salvação maiores do que estender a mão e doar o seu tempo. Quando estou

TEATRO do Palácio das Artes lotado para ouvir Adélia Prado

escutando uma pessoa, tenho que escutar mesmo. Você não precisa dar esmola ao pedinte. Nem sempre a gente dá. Mas, olhe para ele, olhe-o nos olhos. Faça com que se sinta gente. Essa compaixão é a compaixão de Cristo, que chegou ao ponto de dizer: ‘Eu morro por vocês, eu me entrego’.”  AMOR “Amor pra mim é ser capaz de permitir que aquele que eu amo exista como tal, como ele mesmo.” “O Cântico dos Cânticos, que faz parte da Bíblia, era proibido. As freiras não podiam ler. O erótico é aquilo que tem vitalidade.” “A gente prega sobre o amor, mas o amor é coisa que se vive na poeira. É no encardido da vida que a gente prova as coisas. Quem não quer enfrentar está perdendo o tesouro da vida, porque é ali que sou provado. E a minha vidinha não tem diferença alguma da vida da Rainha da Inglaterra, porque ela é feita de cotidianos. Isso tira a pose de qualquer pessoa. Como é que eu posso ficar ‘posuda’ diante do outro, se somos todos farinha do mesmo saco? Somos humanos e temos que nos reconhecer nessa humanidade, no sentimento primeiro.”  SAIBA MAIS

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A ECOLOGIA UNIVERSAL Confira, a seguir, a segunda parte do especial “O Segredo”, que mostra como o conceito da ecologia da atração mudou a forma de a humanidade se relacionar com o universo ao seu redor

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uba no primeiro degrau com fé. Você não precisa ver a escadaria inteira, apenas dê o primeiro passo”. Outra coisa sobre a qual as pessoas pensam é em quanto tempo levará para se realizarem os objetivos que elas estão atraindo. Quanto tempo até que se manifeste o veículo novo, o relacionamento, o saneamento das doenças, a paz de espírito etc.? Não há uma regra que diga que irá levar três minutos, três semanas ou 30 dias. Tamanhos e distâncias nada significam para o Universo. Não há dificuldade em atrair algo que nós achemos que seja grande para Ele. O Universo faz tudo o que faz com zero de esforço. A grama, por exemplo, não faz o mínimo de esforço para crescer. E isso se deve ao seu incrível design. É tudo uma questão do que se passa em sua mente, do que nós definimos como grande ou pequeno. “Isso é grande, vai levar algum tempo. Isso é pequeno, vou conseguir em uma hora”. As regras são definidas por nós mesmos. Não há regras de acordo com o Universo. Você provém os sentimentos de ter o que você quer agora e o Universo (Deus) irá responder. Algumas pessoas têm facilidade com coisas pequenas. Alguns dizem “vou começar com algo pequeno”, uma xícara de café, por exemplo. Se imagine falando com um velho amigo que você não vê há muito tempo. Mais cedo ou mais tarde alguém irá falar a respeito dessa pessoa com você, essa pessoa irá lhe telefonar, você receberá uma carta dela ou algo do tipo. Muitas pessoas se sentem estacionadas ou aprisionadas pelas circunstâncias atuais na vida delas. Quaisquer que sejam as suas circunstâncias nesse momento, isso tudo é apenas a sua realidade atual. E a sua realida-

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FOTO: JB ECOLÓGICO

"As emoções são um dom incrível que possuímos para nos informar sobre o que estamos pensando." Bob Doyle, escritor de começará a mudar como consequência de acessar e passar a usar o segredo. Às vezes parece que você está estacionado e pensa nas mesmas coisas repetidas vezes. Assim você tende a obter sempre os mesmos resultados também repetidas vezes. A razão disso é que muitas pessoas oferecem a maior parte dos pensamentos delas como resposta ao que estão observando. Se você está olhando para “a situação”, então você está pensando sobre “a situação” e, quando se pensa sobre ela, a lei da atração lhe dá mais sobre isso. Você deve encontrar uma forma de olhar para “a situação” de um ponto de vista vantajoso. Muitas pessoas olham para a vida delas e dizem: “Isto é o que eu sou”. Isso não é o que você é! Isso é o que você era! Vamos dizer, por exemplo, que você não tenha muitos recursos financeiros ou que não tenha o relacionamento que você queria. Ou que você não vá obter a cura de sua enfermidade, ou que imagina não possuir fé suficiente. Isso não é o que você é, isso é o resíduo dos seus pensamentos e ações. Nós vivemos constantemente nesse resíduo como consequências das ações e pensamentos do passado. Quando você olha para a sua vida e se taxa dessa forma, você se condena a não ter nada mais do que isso no futuro. “Tudo o que nós somos é o resultado daquilo que nós pensamos no passado”. O que você pode fazer nesse exato momento para começar a mudar a sua vida? Comece fazendo uma lista das coisas pelas quais você deve ser grato. Isso muda a sua energia e começa a mudar o seu modo de pensar. Antes desse exercício você estaria se focando no que não tem, nas suas reclamações, ou em qualquer que sejam os seus problemas. Quando você faz esse exercício, começa a se mover em uma direção diferente. Passa a se sentir grato por todas as coisas com relação às quais você se sente bem. SENTIMENTOS Este é definitivamente o caminho para trazer mais para a sua vida. Todo homem sabe que, quando a sua mulher o admira pelas pequenas coisas que faz, ele quer fazer mais! É tudo por conta de gratidão. Grati-

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(2) "É a combinação de pensamento e amor que forma a irresistível força da lei da atração." Charles Haanel, empresário e escritor

dão atrai as coisas, atrai apoio. Gratidão é o sentimento que precisamos ter. É levantar da cama todos os dias e dizer obrigado. Assim que você passar a se sentir bem com o que você já tem, passará a atrair mais coisas boas, mais coisas pelas quais se sentir grato. Você pode olhar ao redor e dizer “eu não tenho o carro que quero”, “eu não tenho a casa...”, “eu não tenho a saúde...”, “eu não tenho o cônjuge que quero”. Opa! Para tudo! Essas são coisas que você não quer! Se foque nas coisas que você já tem e pelas quais é grato. Por exemplo, que você tem olhos para ler este relato ou as roupas que tem. Você pode até querer alguma outra coisa. E terá outras coisas muito em breve, desde que passe a ser grato pelo que já tem. MÁGICA DA VIDA A única diferença entre as pessoas que vivem e as que vivem a mágica da vida é que as últimas se habituaram a essa vida, a esse processo. A mágica acontece para elas onde quer que vão. Elas se lembram do segredo e o usam o tempo todo, não apenas como um evento único. Algumas pessoas se agarram por um tempo a tudo o que foi dito e falam: “Sabe de uma coisa? Estou muito empolgado com tudo isso! Agora eu vou mudar minha situação”. Elas seguem os passos, mas os resultados não aparecem. O resultado está prestes a aparecer, mas elas olham e não veem nada e dizem: “Esse negócio não funciona!”. Então, o Universo responde: “O seu desejo é uma ordem” e... adeus, resultados! Decida o que você quer, acredite que você pode ter. Acredite que você merece. Acredite que seja possível para você. E então feche os olhos, todos os dias, por vários minutos e visualize o que você quer, e sinta as 102  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016


FOTO: JB ECOLÓGICO

"Tudo que você deseja - alegria, amor, abundância, prosperidade, bem-aventurança - está ali, pronto para você pegar. E você precisa ter fome disso. Precisa ter intenção. E quando você agir intencionalmente e deseja com ardor, o Universo lhe entregará cada coisa que você desejou." Lisa Nichols, escritora e diretora de programas de capacitação emoções de já ter tal coisa. Depois se foque nas coisas pelas quais você já é grato e realmente desfrute desse momento. Então siga o seu dia, disperse isso para o Universo e confie nele. Acredite que ele saberá como manifestar essa coisa na sua vida. É possível imaginar que muitas pessoas que estão lendo este texto estão pensando: “Como posso atrair mais dinheiro?” ou “Como posso ter mais riqueza e prosperidade?”. “Como eu posso, amando o meu trabalho, lidar com a dívida do cartão de crédito, devido ao limite que tem o meu salário?”. “Como eu posso atrair mais?”. Pretensão! Voltamos a um ponto pelo qual já passamos: o seu trabalho é decidir o que você gostaria de ter do catálogo do Universo! Se dinheiro é uma das coisas que você gostaria de ter, diga quanto você gostaria de ter! “Eu gostaria de ter 25 mil dólares, vindos de forma inesperada nos próximos trinta dias”. Não importa o valor e nem o prazo. Eles devem apenas ser críveis para você. Muitas pessoas estabelecem como meta sair das dívidas. Isso o manterá endividado para sempre. O que quer que você esteja pensando a respeito você irá atrair. Você está pensando em sair das dívidas, mas não importa se está pensando em sair ou entrar em dívidas. Se você pensa em dívida é dívida que vai atrair. Estabeleça um cronograma de pagamento de dívidas e passe a se focar apenas em prosperidade. Muitas pessoas dizem que gostariam de duplicar a renda no próximo ano. Mas quando você olha para as ações dessas pessoas, elas não fazem as coisas que podem levá-las a tal objetivo. Elas vivem pensando: “Puxa, não tenho condições de comprar isso ou aquilo”. Tudo bem. “O seu desejo é uma ordem!”. Enquanto você está irritado por não ter dinheiro

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(2) suficiente, por falar a um amigo sobre o fato de não tê-lo ou se sentir triste por isso, está ativando o sentimento proveniente do seu pensamento, que é muito diferente do desejo que você tem. Tudo se resume a isso: você não pode desejar ter mais dinheiro ao mesmo tempo em que se foca em não ter o suficiente. Nós crescemos em uma mentalidade de que se precisa trabalhar duro para conseguir dinheiro. Então mudei isso para uma mentalidade de que o dinheiro vem frequentemente e facilmente. No começo, você sente que está mentindo para si mesmo. Parte do seu cérebro o chamará de mentiroso. Haverá uma disputa na sua mente por um tempo. No que diz respeito a criar riqueza, saiba que riqueza é parte de um jogo mental. É sobretudo como você pensa a respeito. Todas as pessoas têm a capacidade de mudar o relacionamento delas com o dinheiro. Muitas pessoas possuem uma renda enorme, mas não se dão bem nos relacionamentos. Isso não é riqueza, de maneira alguma. Se você buscar o dinheiro, pode ficar rico. Mas o dinheiro não garante que você terá riqueza. Dinheiro faz parte da riqueza, mas somente uma parte. Muitas pessoas se dizem espiritualizadas, mas passam a maior parte do tempo doentes e sem dinheiro. Isso também não é riqueza. A vida deve ser abundante em todas as áreas. Muitas pessoas na cultura ocidental buscam o sucesso. Elas querem que o negócio delas prospere. Mas ter sucesso não garante, com certeza, o que elas e nós realmente queremos, que é a felicidade. E é daí que todas as outras coisas vêm. Você não deve buscar a riqueza e o sucesso para conseguir a felicidade, muito pelo contrário. Você deve buscar o senso de alegria interior, paz interior, de visão interior primeiro e, então, todas as coisas exteriores irão aparecer. O segredo significa que nós somos criadores do Universo e que todo desejo do que você quer criar irá se

"Que um homem pode mudar a si mesmo e comandar seu próprio destino é a conclusão de toda mente que está desperta para o poder do pensamento certo." Charles Haanel, empresário e escritor

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manifestar na sua vida. O que é muito importante é o que você deseja, quais são os seus pensamentos e quais os seus sentimentos porque eles irão se manifestar. Em um relacionamento é preciso entender primeiro quem está entrando nele. Não falo do seu parceiro ou sua parceira. Falo de você. Como você pode esperar que outros gostem da sua companhia se você mesmo não gosta dela? Aqui está uma questão muito importante para entender a lei da atração e como você atrai as coisas. Você trata a si mesmo como você gostaria que os outros lhe tratassem? Você se torna a solução para si mesmo. Não pense que os outros lhe devem e precisam lhe dar mais. Ao invés disso, dê mais a si mesmo. Separe mais tempo para se dedicar a si próprio e levantar o seu ânimo. Só então você pode passar a se doar aos outros. Nós entramos em muitos relacionamentos esperando que a outra pessoa nos mostre a nossa beleza. Isso não funciona, a menos que nós nos achemos bonitos. Em outras palavras: você é que tem de se apaixonar por si mesmo. Somente a partir daí que as outras pessoas passarão a se apaixonar por você. Há algo de magnífico a seu respeito. Você passará a se amar. Não estou falando de arrogância, mas de um respeito saudável por você mesmo. E quando você ama a si mesmo você ama a outros. Algumas vezes certas pessoas irão dizer: “Aquelas pessoas no trabalho são tão negativas!” ou “Meu marido é tão nervoso!” ou “Meus filhos me dão tanta preocupação!”. Você deve se focar na melhor parte de cada pessoa que lhe cerca. Faça até mesmo uma lista dos pontos positivos das pessoas com as quais você passa muito tempo. Pode até ser uma pessoa com a qual você já teve uma experiência ruim, um relacionamento ruim. Na privacidade da sua própria mente e com certo esforço você irá se focar nas coisas que mais gosta nessas pessoas e elas irão apresentar esses pontos positivos mais fortemente. Mesmo que você não possa criar algo na realidade delas, quando elas estão num humor que não se encaixa com o seu, ou quando têm atitudes com você que não se encaixam com as atitudes que você tem com elas, haverá um desencontro. A lei da atração passará a não colocar vocês no mesmo lugar ao mesmo tempo. Se você conhecesse o seu potencial para se sentir bem, não pediria a ninguém para ser diferente para que você se sinta bem. Você se libertaria de toda essa necessidade de controlar o mundo, o seu parceiro (a) ou os seus filhos. Você é o único que cria a sua realidade, pois ninguém mais pode pensar por você. Ninguém pode. Apenas você. É importante re-


"Tudo que somos é o resultado do que pensamos." Buda, líder espiritual indiano conhecer que o nosso corpo é o produto dos nossos pensamentos. Nós chegamos ao entendimento de que os pensamentos e emoções realmente determinam o funcionamento do nosso corpo. Nós sabemos dos efeitos do placebo. Um placebo é algo que teoricamente não teria efeito algum no organismo, pois não possui medicamento verdadeiro na sua composição. Por exemplo, uma pílula feita apenas de açúcar. Você diz ao paciente para tomar e o que acontece é que o placebo tem os mesmos efeitos esperados do medicamento verdadeiro, às vezes até melhores. Descobriu-se, então, que a mente humana é o fator mais poderoso na arte da cura. Se alguém está doente e tem a possibilidade de explorar o potencial que tem na mente, deixando de tomar os medicamentos normais, provavelmente irá piorar ou até morrer. Eles estão acostumados a pensar que seguir a medicina convencional é a coisa mais sábia a fazer. Então não ousariam explorar o potencial da mente. Não estamos negando a medicina. Todas as formas de cura têm seu espaço. Existe apenas um riacho de bem-estar que corre. É o riacho da energia positiva pura. E o Universo, tudo que nós conhecemos, está provido abundantemente com essa energia. Esse é um mundo que se baseia no bem-estar. E quando você permite que esse riacho corra em sua totalidade, você se sente muito bem. E quando não permite que ele corra, se sente mal. É o seu riacho de bem-estar ou bondade que você está permitindo ou negando. Nossas emoções magníficas nos informam como está o balanço entre “permissão” e “negação”. Você sabe de pessoas que têm doenças terminais. Um corpo doente é um corpo que não está tranquilo. Existem milhares de diagnósticos e doenças diferentes, mas elas são apenas uma coisa: conexão fraca com essa energia. Todas resultam de uma só coisa: estresse. Quando há estresse suficiente na corrente, uma das conexões se rompe. 

Não perca, na nossa próxima edição, a terceira parte de "O Segredo". Para adquirir o livro, acesse www.ediouro.com.br. ABRIL DE 2016 | ECOLÓGICO  105


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OLHAR POÉTICO

ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

AMORES DIGITAIS (Sala de bate-papo na internet) Pit: Alô, galera! Tem alguém aí? Socorro! Help! Beto: Uai? Que trem te deu, sô! Por onde cê andava? Pit: Me deu um treco, Beto! Me apaixonei por um carinha aí. Saí do ar... Ai! Tá doendo até agora! Xis: Puxa! Não acredito! É você mesmo, Pit? Fala sério... Babi: Uau! Ela voltou! Turma, cuidado! Muita calma! Gente, a Pit voltou pra nossa sala... E agora? Pit: Claro que voltei! Pepê: Orra, meu! Você deu um perdido danado, meu! Surfa: Pô! Tu voltou mermo, cara? E aí, gatinha? Que tu tá mandando? Pit: Voltei, poxa! Credo! Que surpresa é essa, galera? Eu nunca saí não, entendeu? Só dei um taime... Viajei na maionese, sacou? Gringo: Barbaridade! Tu viajou, guria? Tá trilegal agora? Bené: Oxente! Que frege arretado! Chispe! Me conte, minha linda! Pit: Ainda bem que encontrei vocês! Uau! Tava com saudades! Desliga: Ué! Que foi que houve? Qual é o papo? Rê: A Pit, que voltou pra turma. Psiu! Gente, deixa a Pit falar... Babi: Não acredito! Vai começar tudo de novo... Depois ela desaparece novamente! Minnie: Opa! Deixa eu entrar nessa! Tica: Silêncio! Gente, deixa a Pit falar... Pit: Fiquei com um carinha aí, sabe? O maior barato! Virtual mesmo! Passamos três dias e noites nos teclando... Depois, dei um clique errado na parada dele. Ele quis me conhecer de verdade, sabe? 106  ECOLÓGICO | ABRIL DE 2016

Lu: Nó! Que coragem! E aí, deu certo? Ou deu fogo cruzado? Pit: Fogo cruzado! Bala pra todo lado! Entrei no site dele, viajei nos links que ele me deu, sacou? Nana: E aí? Puxa! Desembucha! Pit: Não deu nada. O carinha queria ficar comigo, de verdade! Tica: Que horror! Pit: Queria ficar colado comigo, sacou? E isso não dá certo, vocês sabem... Beto: Que trem mais maluco! Bené: Arre égua! Desgruda dessa, minha flor! Pit: Já desgrudei. Tou na boa agora! Então? Vamos namorar? Gringo: Aí, guria, primeiro comigo... Quero te falar uma coisa: eu adoro esse seu piercing no nariz! Pepê: Alto lá! Quem é que te deu essa preferência, Gringo? Qualé, mano? Eu sou o primeiro da fila, lembra? Gringo: Bah! Namora com a Danny, guri. Tu tá a fim dela, tchê! Surfa: Aí, mermão! Sai fora! Essa gata é minha, morou? Pit: Vamos parar com isso, gente! Só queria falar isso... Eu amo vocês! Uau! Beijos pra todos! Babi: Ué, você vai sair de novo? Eu sabia! Não se pode confiar em você... Eu avisei! Pit: Só por uns segundos, gatinha... deu vontade de fazer um peps... Fui!  (*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ). antonioba@uol.com.br | facebook.com/antonio.barreto.12139


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