Revista Ecológico - Edição 85

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ANO 7 - Nº 85 - 27 DE OUTUBRO DE 2015 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


UM FILME DA CONSERV AÇ

“Eles vão começar a fa zer como fazem por tod

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RV AÇÃO INTERNACIONAL

a fa zer guerras por mim, por todo o resto?”

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AGUA

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EXPEDIENTE

FOTO: ALFEU TRANCOSO

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino COLUNISTAS Antonio Barreto, Déa Januzzi, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

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REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Foto: Studio 1One DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com

Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

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VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com

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MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

3,14 tCO2 e Julho de 2015

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Obras para a despoluição da lagoa da Pampulha. Um resgate à beleza original da mais famosa atração turística de BH.

Belo Horizonte me recebeu de braços abertos. E eu também abracei essa cidade. A receptividade das pessoas. A beleza dos lugares. O encanto da Pampulha. c e s a r c i e lo

A Belo Horizonte que recebeu Cesar Cielo de braços abertos reúne inúmeras atrações que encantam milhares de turistas todos os anos. Como a Pampulha, que está vivendo um momento de grande transformação. A Prefeitura de Belo Horizonte tem trabalhado muito pela despoluição da Lagoa. As obras de desassoreamento já foram concluídas e novas etapas para a despoluição completa estão em andamento. Assim, o Conjunto Moderno da Pampulha, que é candidato a Patrimônio Cultural da Humanidade, será um orgulho ainda maior para todos nós.

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IMAGEM DO MÊS

MORTE SIBERIANA

FOTO: NASA / GSFC / METI / ERSDAC / JAROS AND U.S. JAPAN ASTER SCIENCE TEAM

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A imagem capturada recentemente por um satélite da agência espacial norte-americana (Nasa) mostra uma série de incêndios devastando florestas na região do Baikal, o mais antigo e profundo lago do mundo, localizado no sul da Sibéria, Rússia. Segundo a Nasa, os 36 focos de queimada já transformaram em cinzas mais de 12.000 km2 de área verde, o equivalente a quase dez cidades do tamanho do Rio de Janeiro (RJ).

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ÍNDICE

CAPA

LIDERANÇAS ESPIRITUALIZADAS E INSPIRADORAS SÃO ESSENCIAIS PARA ENGAJAR AS PESSOAS NA CONSTRUÇÃO DO BEM COMUM. LEIA, NESTA EDIÇÃO, COMO ISSO PODE SER FEITO.

20 PÁGINAS VERDES O ATOR E AMBIENTALISTA VICTOR FASANO FALA À ECOLÓGICO SOBRE SEU TRABALHO DE CONSERVAÇÃO DE AVES EM RISCO DE EXTINÇÃO

Pág.

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E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 GENTE ECOLÓGICA 14 ECONECTADO 16 SOU ECOLÓGICO 18 ESTADO DE ALERTA 28

60 ENERGIA LIMPA CADA VEZ MAIS UTILIZADA NO BRASIL, A ENERGIA SOLAR VEM SE CONSOLIDANDO COMO UMA OPÇÃO SUSTENTÁVEL EM RELAÇÃO À ELÉTRICA

SAÚDE (2) 30 ECONOMIA 38 ALMA PLANETÁRIA 54 MERCADO EDITORIAL 56 GESTÃO & TI 58 CÉU DE BRASÍLIA 68 MANIFESTO 70 ESPECIAL URBANISMO 72

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS CONHEÇA OS IMPACTOS QUE OS INCÊNDIOS FLORESTAIS CAUSAM NA BIODIVERSIDADE E APRENDA DICAS DE PREVENÇÃO

CÉU DO MUNDO 86 EDUCAÇÃO 88 NATUREZA MEDICINAL 92 VOCÊ SABIA? 102 OLHAR POÉTICO 104 ENSAIO FOTOGRÁFICO 106 MEMÓRIA ILUMINADA 110 CORAÇÃO DA TERRA 114

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CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

Tenho certeza de que muita gente está fazendo boas escolhas agora.” Maria da Luz, via e-mail l CULTIVANDO A ESPERANÇA - PROJETO "CULTIVANDO ÁGUA BOA", DE ITAIPU BINACIONAL “Esse país tem muita coisa boa para ser mostrada, mesmo com essa roubalheira, corrupção e falta de respeito com a população. O Brasil tem coisa bonita e produtiva.” José Santos, via Facebook l ENSAIO FOTOGRÁFICO: ESCASSEZ/DESPERDÍCIO “Deus não fez o homem para ser mal, o meio em que ele vive é que o corrompe. Sua ambição, o seu ego, falam mais alto. Mas, a todo momento o nosso Criador nos observa, nos avalia. Por que somos capazes de deixar nosso próximo viver em situação tão miserável?” Solange Dantas Nogueira, via Google+ l VOCÊ SABIA? - O LOBO E A LOBEIRA “Tive a oportunidade de ver um lobo-guará. É um animal belíssimo. Só sua beleza já nos incita a preservar esse bicho.” Marcos Araújo, via e-mail l VIVER É A MELHOR OPÇÃO - MATÉRIA SOBRE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO “Foi ótimo a Ecológico ter abordado este assunto, que é muito pouco discutido. Parabéns pela ideia!” Neusa Costa Santos Saraiva, via Facebook “Que o Criador preserve os corações dos sentimentos ruins que levam as pessoas a cometer suicídio e também homicídio.” Cilene Queiroz, via Google+ “A Ecológico soube discutir a questão do suicídio com leveza, mostrando que é posssível ajudar e mostrar um novo caminho, mais feliz e possível, para aqueles que já pensaram em tirar a própria vida. Escolham a vida, escolham o amor!” Luciana Mara, via e-mail “Perdi um amigo para o suicídio. Gostaria muito que ele tivesse lido o livro do André Trigueiro e a matéria da Revista Ecológico... Ele teria, com certeza, encontrado um caminho, um conforto nas palavras e teria escolhido a vida. Parabéns por estarem ajudando as pessoas com informação de qualidade.

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l CUMPRIMENTOS “Que delícia ler a Revista Ecológico. As matérias estão lindas. Amei a reportagem sobre a prevenção do suicídio e a entrevista com Jorge Samek.” Mônica Santanna, via e-mail EU LEIO “Leio a Revista Ecológico porque tenho a esperança de que o mundo melhore! Acredito que a informação com credibilidade possa tocar as pessoas para mudanças de vida mais sustentáveis e ecologicamente corretas. Quando leio a revista percebo o quanto podemos fazer e lutar por um mundo melhor. Fico contando os dias para a lua cheia chegar, porque sempre me surpreendo com as reportagens e mensagens de esperança. Somos responsáveis pelo nosso mundo.” Ronaldo Santos de Oliveira, massoterapeuta

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br


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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

EMOÇÃO SUSTENTÁVEL

O

ser humano ainda chora. Que bom! Foi o que aconteceu com a equipe da Ecológico durante no “10º Seminário Internacional de Sustentabilidade e XXV Congresso Mundial da Uniapac”, cujos líderes convidados fizeram lotar e emocionar o público presente no Palácio das Artes, em BH, assunto de capa desta edição. Ao ouvir o depoimento da médica Vera Cordeiro, fundadora da Associação Saúde Criança, no Rio de Janeiro, que trabalha com uma metodologia pioneira para reestruturar famílias de crianças em risco social e promover seu autossustento, nosso grupo não resistiu. Como todo bom mineiro, tentamos disfarçar as lágrimas. E olhamos, mais mineiramente ainda, para a primeira pessoa que estava ao nosso lado. Era um homem grande, alto, de óculos, terno e gravata. Este também chorava. Só depois, com os olhos menos turvos, o identificamos: era o empresário Sérgio Cavalieri, presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE Uniapac Brasil), também sem conseguir esconder a emoção. A busca continuou. Olhamos para os palestrantes no palco estampado com a imagem de uma criança (foto) que se tornou símbolo do evento. À esquerda, depois para a plateia à nossa frente, e atrás: todos estavam emocionados por causa de uma palavra hoje mágica, real e capaz de salvar não apenas a natureza do inferno climático do planeta, como toda a humanidade que dela depende para continuar vivendo e ter esperança. Essa palavra é a tal “sustentabilidade”, o somatório genial do “economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente mais justo”. E com um ingrediente básico, estratégico e urgente ali proposto, que pode explicar tantas lágrimas derramadas: a inclusão do amor à natureza e a nós mesmos. É o que você, caro (a) leitor (a), vai conferir na reportagem que começa na página 42. “É o amor sustentável” que os ambientalistas ainda aguardam pulsar no coração do governador de Minas, Fernando Pimentel. Não sonham mais comover a presidente Dilma Rousseff, cujo orçamento para combate ao desmatamento na Amazônia caiu, de

6,7% durante a administração Lula para 1,8% no seu governo atual. Uma diminuição desamorosa e acumulada de 72% na proteção, que deveria ser prioridade número um, da maior floresta tropical e diversidade biológica do planeta. “É o amor” às aves em extinção, você também vai conferir, do ator Victor Fasano, em entrevista exclusiva nas Páginas Verdes. O amor à vida, e não ao suicídio, na segunda reportagem que trazemos sobre o livro “Viver é a Melhor Opção”, do jornalista André Trigueiro. O amor inteligente, econômico e sábio à energia solar, no lugar das caras e poluentes usinas térmicas movidas a diesel (ninguém merece esse atraso...). Tem mais. O amor inconfidente e mobilizador pela melhoria do ensino do engenheiro e professor Evando Neiva, presidente do Movimento Conspiração Mineira. E a “Catraca Livre” também pela educação, do jornalista Gilberto Dimenstein, em Memória Iluminada. São reflexões e notícias confirmatórias, enfim, de que há esperança. Enquanto permitirmos à natureza poder fabricar chuvas, e existir um só casal de humanos sobre o planeta com capacidade ainda de chorar, a esperança existe. Se nossas lágrimas forem do bem, de luz e amor, não tenhamos dúvidas, ela se multiplicará. Ou, no mínimo, iremos atrasar, nem que seja só um pouquinho, o que está determinado pelo que já fizemos de insustentável com a natureza desta terra maravilhosa, a única conhecida com vida do Sistema Solar. Esse presente cósmico de Deus, cuja falta de humildade e visão antropocêntrica nos impede de percebê-la maior do que nós, nem de a admitirmos doravante como prioridade máxima de governos na agenda política apartidária e cotidiana de nossas vidas. Basta vermos a surra hídrica, meteorológica e climática que a natureza vem nos dando, mesmo assim, sem abaixarmos o nosso facho. A tal natureza, seja mineira, brasileira ou planetária, como ela mais reage: nada esquece, tudo anota, não perdoa e cobra. Boa e lacrimosa leitura! Até a lua cheia de novembro. 

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QUANDO CADA UM ACREDITA NO QUE FAZ, O RECONHECIMENTO É DE TODOS.

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FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

GENTE ECOLÓGICA FOTO: SMITHSONIAN INSTITUTION

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“Você nunca deve esperar por governos ou instituições para resolver os problemas. Toda mudança social vem da paixão das pessoas.”

FOTO: TURÉLIO

MARGARET MEAD (1901-1978), antropóloga norte-americana

“O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor.” MADRE TERESA DE CALCUTÁ (1910-1997), religiosa católica

“Acredito que a porcentagem de brasileiros honestos e trabalhadores é muito maior, se comparada àqueles que assaltam os bens públicos. E, felizmente, parece que toda essa gente está de pé e infinitamente mais atenta. Tomara que eu esteja certa.”

“Não devemos ter medo de ser apenas uma gota d’água. É a reunião das gotas que põe em movimento os riachos, os rios, os oceanos.” DOM HÉLDER CÂMARA (1909-1999), sacerdote católico 14  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

“De que adianta termos populações pobres em cima de uma riqueza no subsolo se não podemos explorá-la sustentavelmente e melhorar a vida das pessoas?” MURILO FERREIRA, presidente da Vale

FOTO: LUCIANA TANCREDO / DIVULGAÇÃO VALE

FOTO: PETERS HANS / ANEFO

MARIA FERNANDA CÂNDIDO, atriz e fundadora da Casa do Saber


“Sem preservar nossas florestas, a promessa de um futuro melhor para nossas crianças está comprometida.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

DEBORAH SECCO, atriz

“O consumidor está dizendo que não quer que a empresa faça mal ao meio ambiente. Não maltratar os animais, ter boas relações com a comunidade e ter selos de proteção ambiental são os fatores que mais levam o consumidor a escolher uma marca no momento da compra.”

“A arte existe porque a vida não basta.” FERREIRA GULLAR, poeta e escritor

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

FOTO: LUCIANA TANCREDO / DIVULGAÇÃO VALE

HÉLIO MATTAR, diretor-presidente do Instituto Akatu

DOUGLAS CINTRA O senador (PTB-PE) registrou, na Câmara dos Deputados, a criação da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Energia Renovável. O grupo irá promover debates relativos e estratégias nacionais para o desenvolvimento das energias renováveis, contribuir para o aperfeiçoamento da legislação do setor, conhecer e divulgar métodos e técnicas de produção dessas energias. E apoiar, frente aos poderes constituídos, iniciativas dos setores público e privado voltadas para a disseminação dessas energias.

ANTÔNIO CARLOS LAGO O presidente da Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), que também é analista ambiental e comunicador social do Ibama, em Brasília (DF), foi homenageado durante o primeiro congresso internacional da entidade, realizado em Arequipa, no Peru. Ao falar do poder das relações públicas para o fortalecimento da imagem das instituições, Lago enfatizou o valor notório da marca do Ibama no Brasil junto às ações contra o tráfico de fauna e flora nacionais, e a ação determinante do órgão no combate ao desmatamento na Amazônia.

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FOTO: DIVULGAÇÃO FOTO: MOREIRA MARIZ / AG. SENADO

FOTO: MAGNUS MANSKE

FERNANDO MEIRELLES, cada vez mais envolvido com a causa

RODRIGO MEDEIROS Sob sua coordenação, a Conservação Internacional Brasil iniciou um movimento inédito para recuperar três mil hectares de terras degradadas na bacia do Rio Guandu até 2035. A ideia é plantar seis milhões de mudas de espécies da Mata Atlântica. As áreas prioritárias, incluindo nascentes e APPs, já foram mapeadas.

FOTO: REPRODUÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

“Deixo de ser cineasta para ser ambientalista.”

CRESCENDO


ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

ECO LINKS

TWITTANDO

l “O ex-presidente

Mujica recebe tratamento de popstar no Brasil. Que político brasileiro reuniria tantos estudantes?” @genetonmneto – Geneton Moraes Neto, jornalista

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

l “Natureza vem de natus, aquilo que nasce, de onde também vem nação e conhecimento. Co-naissance, nesse sentido, pode ser nascimento conjunto.” @noemijaffe – Noemi Jaffe, escritora

l “O governo que arrecada impostos

l “Notem o

comportamento dos políticos. Nossa economia está aos frangalhos, mas eles só pensam numa coisa: no dinheiro das empresas!” @joaquimboficial - Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)

FOTO: NELSON JR.

de mãos dadas com agrotóxicos destrói nossa saúde!” @MarciaPereiraRP, Márcia Pereira, educadora corporativa

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FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

querem mais pontos de encontro além de shoppings e parques.” @GDimenstein Gilberto Dimenstein, jornalista

AQUELA CANÇÃO Sabe quando toca aquela música bacana no rádio, mas você não consegue identificar o nome da canção nem o artista? Pensando em milhares de pessoas pelo mundo afora que enfrentam o mesmo dilema, foi criado um aplicativo que permite ao usuário descobrir a música que está tocando simplesmente pelo reconhecimento do som. Trata-se do Shazam, serviço que utiliza uma base enorme de dados e consegue identificar rapidamente as informações de uma composição em qualquer trecho dela. Excelente para as pessoas que não dominam um segundo idioma! Gratuito, ele está disponível para download na Google Play Store e na Apple Store.

MAIS ACESSADA

l “Em época de cheias no Rio Grande do Sul, roupa é para estar em movimento. Parada, termina adoecendo as nossas virtudes.” @carpinejar - Fabrício Carpinejar, escritor l “Paulistanos

FIQUE POR DENTRO A entrega do “Prêmio Hugo Werneck 2015” será realizada no dia 10 de novembro no Teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte. Quem estiver na cerimônia ou quiser acompanhar a distância tudo o que irá acontecer no evento basta publicar ou seguir a hashtag #PrêmioHugoWerneck. Os nomes dos vencedores, os principais momentos e as fotos poderão ser compartilhados por meio de qualquer mídia social. Fique atento!

FAUNA O texto que aponta oito curiosidades sobre a araraazul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) foi o mais acessado em setembro. Também chamado de arara-jacinto, araraúna, arara-preta, araruna, ou simplesmente arara-azul, o bicho é uma ave da família Psittacidae encontrada na Floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal. Vale a pena se informar sobre essa belíssima espécie, que está ameaçada de extinção. Confira: www.goo.gl/QXoAbZ

FOTO: RUSTY CLARK

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SOU ECOLÓGICO

CACHOEIRA DE SAUDADE

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eja como são as coisas. Enquanto em BH, durante o "10º Seminário Internacional de Sustentabilidade e XXV Congresso Mundial da Uniapac", o empresário Luiz Seabra, fundador da Natura, falava do amor à vida e às pessoas; nos bastidores da imprensa verde, reunida em São Paulo no “VI Congresso de Jornalismo Ambiental”, os profissionais de comunicação comentavam uma outra face da maior empresa de cosméticos do Brasil. A da indiferença da marca frente aos poucos veículos de comunicação ambiental que, desde a ECO/92, lutam para sobreviver em desigualdade de condições com a grande mídia no disputado mercado publicitário. A bronca que eles têm com relação à hoje quinta maior empresa em vendas diretas de cosméticos no planeta é que ela não reconhece a luta histórica que esses veículos e seus editores, a maioria deles ativistas ambientais, tiveram de travar solitariamente desde a Conferência de Estocolmo, em 1972. Ou seja, ao longo dos últimos 40 anos, quando, pela primeira vez, o ser humano, as empresas e os governos passaram a conhecer na prática a palavra “sustentabilidade”. Resumo da ópera: segundo queixa geral ouvida no congresso, essas empresas nasceram e hoje ganham dinheiro em nome da mesma natureza que poucos profissionais da imprensa verde lá atrás, mesmo chamados de “bichos grilo”, “loucos” e “contra o progresso”, tiveram a coragem de defender; vide quantos deles perderam a própria vida. Quando vão anunciar seus produtos advindos da mesma natureza, o que essas empresas e suas agências fazem? Ignoram os veículos especializados em meio ambiente, sustentabilidade e responsabilidade social. Mais fácil e com interesse apenas mercadológico, preferem anunciar seus produtos e mensagem somente nos grandes jornais, revistas e TVs, para quem é apenas mais um anúncio. E não, de maneira

“O apoio e a parceria que tínhamos de empresas que se tornaram verdes e prósperas nos ajudavam cumprir a nossa missão.”

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FOTO: MARCOS TAKAMATSU

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CACHOEIRA de Salto Morato, que deu nome à RPPN da Fundação O Boticário: inspiração e sensibilidade

compartilhada e parceira, com os veículos de comunicação que já foram e continuam sendo seus parceiros. Naturalmente. Que saudade do Miguel Krigsner, fundador de O Boticário, empresa atualmente com um patrimônio líquido de US$ 1,86 bilhão... Repórter e editor do JB Ecológico, do Jornal do Brasil, eu o surpreendi chorando, uma vez, sozinho e triste frente à cachoeira símbolo da atual Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Salto Morato, no município de Guaraqueçaba, no Paraná. Ele chorava por tanta dificuldade, incompreensão e falta de apoio do governo e de seus vizinhos, proprietários de terras já devastadas, em sua luta por defender tamanha e bela biodiversidade hoje preservada para sempre, na forma de uma Unidade de Conservação (UC). Na época, nenhum grande veículo de comunicação registrou isso. Nem perdeu anúncio. Miguel, que ainda está na ativa e foi incluído na lista 2015 de bilionários na Revista Forbes, não era só empresário. Era também um ambientalista e compreendia a nossa causa. Que saudade! 


A melhor maneira de mudar o futuro do planeta é contribuir para transformar a vida das novas gerações.

Acreditamos que a responsabilidade social e o respeito ao meio ambiente podem transformar o futuro do planeta. Por isso, somos os maiores recicladores de aço da América Latina e nossos índices de recirculação de água se tornaram referência mundial. Em Minas Gerais, conservamos importantes áreas de cerrado, mata atlântica e campos rupestres, como a RPPN Luis Carlos Jurovsky Tamassia e o Monumento Natural da Serra da Moeda. Colaborar com a construção de um mundo melhor é um dos nossos compromissos com o desenvolvimento sustentável.

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PÁGINAS VERDES

“TEMOS QUE TORNAR A VIDA SAGRADA” Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

G

alã em novelas e minisséries, o ator Victor Fasano há tempos também atrai holofotes por sua atuação como ecologista e criador de aves ameaçadas de extinção. Em julho, ele participou dos debates promovidos pela “Virada Sustentável de Manaus”, na capital amazonense, um movimento de mobilização para a sustentabilidade que envolve organizações da sociedade civil, órgãos públicos, empresas, movimentos sociais e culturais, escolas e universidades. Recém-chegado de uma visita ao Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia, Fasano conversou com a Ecológico. Destacou a importância de proteger espécies que são ícones nacionais, como a ararinha-azul, e cobrou incentivos para o turismo sustentável. “Nossos parques têm que se tornar orgulho de todo brasileiro. A pessoa precisa sentir o cheiro da terra depois de uma chuva, se deslumbrar com o pôr-do-sol e com a lua cheia brilhando no céu. Somos parte do meio ambiente e ele tem que nos afetar de forma positiva.” Confira: Você mantém um criadouro de aves ameaçadas de extinção em Guaratiba, no Rio de Janeiro. Como surgiu o seu interesse e desde quando você se dedica a esse trabalho? Tudo começou em 1985. O criadouro é uma associação que surgiu para proteger as espécies ameaçadas e promover a sua reintrodução no meio ambiente de origem. Desde criança, sempre tive grande interesse e uma atenção especial pela natureza. Por sorte, tive também uma avó que me “adoçou” para esse assunto. Sempre me encantei com os animais, as plantas e as curiosidades da natureza.

FASANO: “O Brasil é imenso e há muita terra abandonada. Não precisamos destruir nem desmatar mais nada para continuar crescendo”

Quais são as principais espécies criadas e o total de exemplares existentes? As principais são: jacutinga, urumutum, harpia, papagaios e arara-azul-do-pantanal, mas há muitas outras. Em média, temos 200 aves, número que praticamente dobra na época da procriação, com o nascimento de filhotes. O que despertou o meu interesse por essas espécies foi a consciência de que aves como a jacutinga, com as quais convivo desde a infância, poderiam não ser conhecidas ou não fazer parte da vida das futuras gerações. Isso me motivou a agir, a fazer algo por sua conservação.


V I CTO R FA S A N O

QUEM É

ELE

Paulistano, 56 anos, Victor Fasano iniciou sua carreira na TV. Estreou em "Barriga de Aluguel", em 1990. Dois anos depois, fez outra novela de Glória Perez, "De Corpo e Alma". Participou ainda de "Tropicaliente", "Salsa e Merengue", "Torre de Babel", "O Clone", "Caminho das Índias" e minisséries como "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes", todas na TV Globo. Em 2003, integrou o elenco de "Canavial de Paixões", do SBT. Em 2010, foi a vez de "Ribeirão do Tempo", na Rede Record.

Vocês promovem ações de educação ambiental? O criadouro recebe alunos de escolas do RJ. Eles conhecem as aves, árvores, palmeiras, orquídeas e todas as espécies que convivem no espaço. O mais importante de tudo é perceberem as relações entre animais, meio ambiente e humanos. Eles aprendem que essa área abrigou uma plantação de cana-de-açúcar e um alambique, e que boa parte do terreno foi reflorestada exatamente para atrair a fauna e resgatar espécies nativas dessa região de Mata Atlântica. É possível resgatar áreas deterioradas pelo Brasil afora. Como foi o trabalho de reflorestamento? Foram priorizadas espécies que produzem alimentos, sejam flores, folhas ou frutos, nativas ou exóticas. O reflorestamento foi um sucesso. Em menos de oito anos, muito da biodiversidade se renovou de forma impressionante. Além do verde, voltaram os anfíbios, os répteis, as borboletas e outros animais que há tempos não eram vistos na região. O fato de a área ser vizinha do Parque

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Ator, ativista ambiental, conselheiro da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e idealizador do Movimento “Amazônia Para Sempre”

“O que despertou o meu interesse por aves como a jacutinga, com as quais convivo desde a infância, foi a consciência de que elas poderiam não ser conhecidas ou não fazer parte da vida das futuras gerações. Isso me motivou a fazer algo por sua conservação.”

Estadual da Pedra Branca facilitou o trabalho. Foi gratificante ver as espécies retornando aos poucos e tomando conta do espaço. Nas visitas monitoradas das escolas também foi interessante notar, nas redações entregues depois aos professores, a incrível percepção e o encantamento dos alunos com tudo o que viam. Por outro lado, ficava claro que a maioria vivia distanciada da natureza. Por que diz isso? Porque apesar de viverem no Rio, onde cidade e floresta se misturam criando paisagens únicas, muitas crianças não tinham e ainda não têm o hábito de estar na natureza. Esse contato é essencial para formarmos cidadãos mais conscientes e seres humanos melhores. Falta envolver e sensibilizar as crianças, fazer com que percebam o valor do meio ambiente e de tudo o que as cerca, seja por meio de visitas à floresta, jogos, atividades lúdicas, etc. Só assim elas irão conhecer, amar e respeitar a natureza e todas as formas de vida. Você falou da jacutinga, ave típica da Mata Atlântica. Há pelo

menos três planteis importantes no Brasil: no seu criadouro; no Criadouro Marcos Wasilewski, em Guaratuba (PR), e na Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (Crax), do Roberto Azeredo, aqui em Minas. Quais os avanços obtidos na conservação dessa espécie? A jacutinga cruzou na minha vida de forma muito interessante. Estávamos em Maresias, eu tinha uns oito anos de idade e minha mãe pediu a um mateiro para buscar palmito. Eu pedi para ir junto e quando ele derrubou uma palmeira enorme, imaginei, na minha inocência infantil, que teríamos palmito para o ano inteiro. Quando vi que a palmeira tinha sido sacrificada por um pedaço de menos de um metro de palmito, fiquei chocado. Qual foi a sua reação? Quando o rapaz disse que iria derrubar outra para pegar mais palmito, respondi aflito que não precisava, porque lá em casa só a minha mãe é que gostava! Nunca me esqueci daquela cena. Foi quando vi pela primeira vez uma jacutinga. Uma ave linda, de voo ágil e especular, que se alimen-

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FOTO: KENNEDY SILVA

PÁGINAS VERDES

“No Parque Nacional da Chapada Diamantina, o Morro do Pai Inácio é um monumento espetacular, que rivaliza em beleza com o Grand Canyon, nos EUA.”

ta exatamente do palmito-juçara (Euterpe edulis).

cidade de adaptação e sucesso no futuro da população na natureza.

Você foi um dos primeiros a criar jacutingas em cativeiro? Acredito que sim. Com os filhotes nascidos de acasalamentos gerados no criadouro e alguns do plantel do sr. Marcos, formaram-se mais dois planteis. Um avanço importante para a conservação das espécies se deu com o apoio do Luís Fábio Silveira, curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da USP, e do Mercival Roberto Francisco, do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos, que faz um estudo criterioso da genética das aves, indicando os melhores pareamentos. Com isso, é possível manter um plantel com poucos casais, mas com grande diversidade genética ao invés de manter um plantel enorme, sem tanta diversidade assim. Certamente, indivíduos reintroduzidos com esses cuidados terão maior capa-

A parceria entre o Roberto Azeredo e a Cenibra, com o Projeto Mutum, é outra referência importante? Sem dúvida. O Roberto é um ícone. Um estudioso extremamente cauteloso e um observador atento do comportamento das aves. É um brasileiro que merece ser louvado, aplaudido e patrocinado por outras empresas pela importância do que faz. O mais legal desse projeto é que, à medida que a Cenibra aumenta as áreas de proteção, novos corredores ecológicos vão se formando, assegurando o reequilíbrio de toda a região. Um trabalho que comprova o quão fascinante e importante é a criação em cativeiro, ao permitir que as espécies repovoem a natureza. Atesta ainda o quanto as espécies são adaptáveis e capazes de sobreviver em meio às adversidades, desde que o meio em que vivem esteja preservado.

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Durante os debates da "Virada Sustentável" de Manaus você falou sobre o Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação do Mutum-de-Alagoas... Para mim, esse é o PAN mais importante do Brasil. Um exemplo excepcional de conservação e uma história que tem o mérito de poder ser contada pelos próprios envolvidos. Essa espécie só não foi extinta definitivamente porque o criador de aves Pedro Nardelli, que ainda pode nos contar essa história, recolheu os três últimos exemplares na região de Barra de São Miguel, em 1979. Graças a eles, temos hoje uma população de 80 indivíduos puros e outros 80 com 95% de grau de pureza. As ações de educação ambiental também foram essenciais naquela região. Exatamente. Tanto que os filhos e netos de antigos usineiros – que no passado devastaram a região para plantar cana – se tornaram guardiões da espécie e agentes da


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FOTO: KENNEDY SILVA

Ator, ativista ambiental, conselheiro da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e idealizador do Movimento “Amazônia Para Sempre” conservação ambiental. Ou seja, esse plano mostra que quando criadores, comunidade científica, população e governo (nesse caso o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio) se unem, os ganhos são coletivos. Esse PAN deveria servir de exemplo para outros projetos Brasil afora. Uma iniciativa livre de vaidades e de politicagem, com o único propósito de que a espécie retorne ao seu hábitat. No caso da ararinhaazul, outro ícone nacional, você visitou a Al-Wabra Wildlife Preservation, do xeique Saoud Bin Mohammed Bin Ali Al-Thani, no Qatar, que abriga a maior população dessa espécie no mundo. O que pode nos contar? Acredito que o fato de as primeiras araras terem saído ilegalmente do Brasil, indo para um criadouro nas Filipinas e sendo compradas depois pelo xeique – que investiu e obteve grande sucesso na sua reprodução –, não tira em nada o mérito da iniciativa. Temos que buscar parcerias e trocar experiências, e não o contrário, criar entraves e dificuldades. O Brasil deveria se mostrar agradecido ao xeique por ele ter feito o que não conseguimos fazer por falta de vontade política, de participação da comunidade científica, da iniciativa privada e de verbas governamentais ou não. Mas o governo quer que o xeique declare que as aves são brasileiras. Isso é uma bobagem. O importan-

te é abrir as portas para o xeique Al-Thani, que quer trabalhar no país. Ele já comprou áreas na Bahia e planeja instalar um centro de pesquisa, com recursos próprios, para reprodução e reintrodução da ararinha na natureza. Infelizmente, a politicagem e a burocracia estão impedindo que o processo avance. Muitos criticam e são contra a criação de animais em cativeiro. O que diria a essas pessoas? Por todas essas experiências que

citamos aqui, fica claro que se não fosse a criação em cativeiro inúmeras espécies já estariam extintas. Na natureza, os desafios de sobrevivência e conservação são enormes, inclusive pelo aumento da pressão sobre os diferentes biomas. No Brasil, as lacunas na legislação e o fato de a maioria das reservas e áreas de proteção ambiental existir apenas no papel tornam a situação ainda mais séria. Na região amazônica, por exemplo, temos reservas gigantescas sem pesquisas, sem projetos

criativos de conservação, sem técnicos, sem biólogos, sem fiscais ou verbas suficientes para o trabalho. Em Manaus você esteve com o presidente do ICMBio, Cláudio Maretti. Sobre o que conversaram? Sobre vários assuntos. Ele se mostrou bastante acessível e me coloquei à disposição para colaborar no que puder. Lamentei pelos parques brasileiros serem poucos visitados, tanto por falta de infraestrutura quanto de incentivo ao turismo não predatório. Estive há poucos dias no Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia, e achei um absurdo cobrarem apenas R$ 5 pela entrada, por exemplo, na escalada do Morro do Pai Inácio, enquanto se paga R$ 30, R$ 40 para ir ao cinema. E olha que a Chapada tem uma das paisagens mais fascinantes do Brasil... Pois é! O Morro do Pai Inácio é um monumento espetacular, que rivaliza em beleza com o Grand Canyon, nos EUA. O incentivo ao turismo consciente e à conservação tem que ser prioridade. Nossos parques são lindos, ricos em biodiversidade e têm de se tornar orgulho de todo brasileiro. Toda família norte-americana tem como sonho conhecer o Parque Nacional de Yellowstone, o mais antigo do mundo. Deveríamos ter a mesma visão e incentivar a visitação de paisagens únicas, como as araucárias no Sul, as dunas no Nordeste, o Pantanal, a Floresta Amazônica. Já visitei parques no mundo todo e conheci estruturas sofisticadíssimas e totalmente

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FOTO: DIVULGAÇÃO

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integradas à natureza. Tudo feito como manda o figurino, com energia solar, captação e cuidados com a água, com o verde. Considera que o turismo pode ser uma porta para reconectar o ser humano à natureza? Sim. Quando as pessoas visitam uma paisagem, experimentam milhares de novas sensações e se sentem motivadas a cuidar de tantas belezas. O melhor caminho para a conservação é nos tornarmos íntimos da natureza. A pessoa precisa sentir o cheiro da terra depois de uma chuva, se deslumbrar com o pôr-do-sol e com a lua cheia brilhando no céu. Nesses tempos de mudanças climáticas, muitos veem a natureza como uma força que chega mais para destruir do que para apaziguar. Mas não é assim. Somos parte do meio ambiente e ele tem que nos afetar de forma positiva. Qual é a sua visão sobre o novo Código Florestal? O problema é que ele foi moldado pelo viés político, sem levar em conta o conhecimento e os alertas dos cientistas. Para termos 24  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

um país sustentável e competitivo, o primeiro olhar deveria ter sido voltado para a proteção dos mananciais, das florestas, das culturas primitivas, de toda a biodiversidade. O segundo a ser considerado deveria ter sido o olhar do agricultor, que usa a terra para produzir alimentos. A seguir, o do empreendedorismo, do agronegócio, da extração de minérios etc. Só então é que entrariam os políticos com a tarefa de equilibrar todas as demandas de forma orgânica. Isso é possível. O Brasil é imenso e há muita terra abandonada. Não precisamos destruir nem desmatar mais nada para continuar crescendo. Você foi um dos idealizadores do Movimento “Amazônia para Sempre”, ao lado de Christiane Torloni e Juca de Oliveira. Em 2009, vocês entregaram um manifesto ao presidente Lula. Como foi essa iniciativa? Acredito que o movimento cumpriu o seu papel. Pena foi o Lula não ter realizado nada do que se comprometeu ao assinar o manifesto. Durante a gravação de uma minissérie na Amazônia, ficamos

“O melhor caminho para a conservação é nos tornarmos íntimos da natureza. Precisamos sentir o cheiro da terra depois de uma chuva, se deslumbrar com o pôrdo-sol e com a lua cheia brilhando no céu.”

impressionados ao ver tanta destruição, queimadas e desperdício de recursos naturais. Em muitos dias, não conseguíamos gravar nada por causa do excesso de fumaça no ar. Foi quando decidimos fazer algo. Nos mobilizamos, viajamos o Brasil e nos reunimos com diferentes lideranças políticas e da sociedade. Foi um movimento bonito, fazendo com que os brasileiros percebessem o real valor da Amazônia. E hoje, qual é o seu sentimento em relação à conservação da floresta? Não fomos os primeiros nem seremos os últimos a nos indignar pela floresta. Mas, infelizmente, por causa das intempéries dos governos, do desrespeito às leis, de mudanças como as de agora no novo Código Florestal e do agronegócio faminto, muito da Amazônia foi e continua sendo perdido. No entanto, pelo que fizemos reflorestando a área do criadouro, acredito ser possível reflorestar o Brasil. Basta querer de verdade, ter vontade política. Em pouco mais de sete anos já veríamos a diferença, com a na-

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PÁGINAS VERDES

Ator, ativista ambiental, conselheiro da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e idealizador do Movimento “Amazônia Para Sempre”

tureza renascendo e mostrando a sua força. Você é conselheiro da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). Em que ações tem atuado? Estou muito animado com um projeto que vamos iniciar em breve. A ideia é trabalhar nas comunidades em que a FAS atua com educação ambiental e propostas alternativas de produção e subsistência, para preservação de espécies ameaçadas de extinção. A melhor forma de preservar a floresta é mantendo as populações dentro dela, como guardiãs de toda a sua riqueza. E como ator: tem algum projeto em vista? Este mês ainda começo a gravar a minissérie “Conselho Tutelar”, na Rede Record. Farei o papel do diretor de uma ONG respeitada que ajuda crianças vítimas de maus-tratos. Ano que vem, pretendo me dedicar a uma ideia de documentário sobre as grandes árvores do mundo, enfocando a

“A melhor forma de preservar a floresta é mantendo as populações dentro dela como guardiães de toda a sua riqueza.” cultura e os povos que nasceram e cresceram sob elas. Participo também da elaboração de um site sobre conservação de água, baseado em ações individuais, proteção ambiental, de espécies ameaçadas, ética humana e seus desdobramentos positivos (www. agenteambiental.org.br). Crê em Deus, segue alguma religião? Acredito que somos regidos por uma inteligência suprema, que criou todo tipo de vida em perfeita harmonia; mas ao mesmo tempo sou adepto da ciência exata, fas-

“VICTOR É UMA EXCEÇÃO” FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

“O Victor Fasano é um apaixonado pela natureza. Além de interesse diferenciado por todas as questões que envolvem o meio ambiente, ele tem um bom gosto impressionante. Quem visita o seu criadouro vê que ele gosta não só das aves, mas também das plantas, dos insetos, de todos os animais. Seu esforço de décadas pela conservação da jacutinga (Aburria jacutinga), uma das aves mais ameaçadas do Brasil, também merece destaque. Ela é importantíssima, pois dispersa sementes e ajuda a plantar inúmeras árvores da nossa Mata Atlântica, como o palmito-juçara. Nesse meio em que as pessoas geralmente falam muito, mas na prática fazem pouco pela proteção ambiental, o Victor é uma exceção. Precisamos de mais pessoas dedicadas e comprometidas como ele.” ROBERTO AZEREDO, fundador da Crax, instituição vencedora do “Prêmio Hugo Werneck” 2010 na categoria “Exemplo em Fauna”

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cinante e comprovada. Sempre gostei da religião budista por pregar que todos os seres vivos têm direitos iguais na Terra. Agora, me surpreendi quando o Papa Francisco afirmou algo nunca antes admitido pela Igreja Católica em sua encíclica “Laudato Si” que diz: perante o Criador, o homem é tão importante quanto as demais formas de vida. Esse foi um passo fantástico. Sempre acreditei que as religiões estavam atrasadas em relação a conscientizar seus fiéis sobre a necessidade de preservar nossa Casa Comum. Temos que tornar a vida sagrada. É otimista em relação ao futuro do planeta e da humanidade? Felizmente, o Universo é infinitamente potente. Já passou por inúmeras transformações e não será por nossa interferência que vai sucumbir. No entanto, dá pena saber que as próximas gerações correm o risco de não desfrutar de tantos bens e belezas naturais que temos hoje. O prazer de contemplar belas criaturas, um tigre, uma águia em seu lindo voo, uma manada de elefantes e seu comportamento, um simples vaga-lume piscando na noite escura ou a satisfação de ver a abundância de água jorrando numa bela cachoeira. Sua maior esperança é... Confio na capacidade de superação e no brilhantismo que nos levam a feitos espetaculares nas mais diversas áreas: ciência, esportes e artes. Muitos ainda confundem preservação com privação. Isso tem que mudar. Acredito que é possível usufruir de tudo com sabedoria, equilíbrio e respeito. O resgate da convivência familiar educa, gerando valores morais como ética e solidariedade que devem reger a nossa relação com o outro e com a natureza. Esse é o caminho. 


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? F

ernando Pimentel e eu militamos na luta con- ambiental, considerados prioritários, relevantes ao tra a ditadura militar. Fomos presos, passa- desenvolvimento social, econômico e de proteção ao mos pelas agruras da prisão e fomos “colegas” meio ambiente, para que a superintendência mende cadeia na Penitenciária de Linhares, em Juiz de cionada os conclua”. Fora (MG). Descrente de partidos políticos, assumi Resumindo: se o processo de licenciamento não a bandeira ambiental, tornando-me uma das funda- estiver tramitando de acordo com os desejos e exdoras da Amda em 1978. Um ano antes, o Conselho pectativas da Seplag, Sede, Fiemg e Faemg, basta Estadual de Política Ambiental (Copam) foi criado que levem o assunto a este órgão que a licença sai da como primeiro colegiado do país a admitir repre- competência do Copam. sentação da sociedade civil, com direito a voto. Hoje No plenário do Conselho, o secretário Sávio Souza pode parecer banal. Mas, à época, foi um bravo atre- Cruz alegou que, ao contrário dos governos do PSDB, vimento político. o atual não usa lei delegada para conseguir seus obComo militantes contra a ditadura militar, nossa jetivos, pois enviou o PL à ALMG onde será “demomaior bandeira era a liberdade, craticamente” discutido com o direito de a sociedade partia sociedade. Mas o PL remete “Meu antigo companheiro cipar da definição dos destinos a decretos, diversos aspectos de luta revolucionária, hoje do país. Mas, quem diria? Após que deveriam estar claros na governador do Estado, tomou Lei. E aí cabe a pergunta: na mais de três décadas, meu antigo companheiro de luta rea iniciativa de enviar à ALMG prática, qual é a diferença envolucionária e de cadeia, hoje tão da lei delegada? o PL 2.946, com propostas governador do Estado, tomou a Há mais uma “coincidência”: iniciativa de enviar à ALMG o PL Sávio Souza Cruz afirmou que frontalmente contrárias 2.946, com propostas frontala proposta seria primeiramenàs bandeiras que nos mente contrárias às bandeiras te apreciada pelo Copam. Em levaram à prisão.” que nos levaram à prisão, pois 2012, o então secretário Adriaelas enfraquecem o Copam e no Magalhães fez o mesmo em consequentemente a participação da sociedade. Con- relação à proposta de Lei Florestal. E da mesma forcentram ainda mais o poder nas mãos do Executivo e ma enviou-a diretamente à ALMG. abrem brecha “legal” para prevalência do poder ecoNenhuma lei é eterna ou imutável. Não há como nenômico sobre a proteção do meio ambiente. gar deficiências do Sistema Estadual de Meio AmbienDois artigos deixam isso claro: criação da Supe- te (Sisema) - leia-se Semad, Igam, IEF e Igam - que rintendência de Projetos Prioritários na Semad, que podem de alguma forma estar atreladas a aspectos poderá retirar quaisquer processos em licenciamen- normativos. Mas uma coisa é certa: o problema básito quando se esgotarem os prazos máximos para tra- co está no sucateamento orçamentário, técnico e humitação previstos no PL, e concluir o licenciamento mano da Semad e se isto não for resolvido, o máximo sem anuência do Copam. A mesma competência que o governo conseguirá com este PL é aprimorar a seria dada ao Conselho de Desenvolvimento Eco- legalidade da degradação ambiental no Estado.  nômico e Social, composto majoritariamente por secretarias de Estado e entidades que representam o setor privado, que poderá “identificar processos em (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). curso, em qualquer instância e fase de licenciamento

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1SAÚDE (2)

O SUICÍDIO À LUZ DA

DOUTRINA ESPÍRITA Na segunda parte da série sobre a prevenção do autoextermínio, entenda como o Espiritismo trata a questão e suas consequências em outras vidas Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

ESCOLHER a vida é optar pela luz do bem. É caminhar no túnel que nos leva à evolução da alma

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o livro “Viver é a Melhor Opção”, o am- mentos interferem na nossa saúde. “Praticantes bientalista e jornalista André Trigueiro de yoga ou meditação, bem como pessoas de fé dedicou o último capítulo para retratar que cultivam a prática da oração, pertenceriam como o Espiritismo vê o tema suicídio. Entretan- a grupos com sistemas imunológicos mais fortato, antes de aprofundarmos na questão, é preciso lecidos ou mais bem capacitados para responder destacar três pontos que nos ajudam metabolicamente a certas morbia entender como as escolhas que fazedades”, ressalta Trigueiro, que tammos influenciam nossa evolução. bém destaca: “Há um trabalho consistente, me“São preciosos os recursos da ticulosamente planejado por nuprece e da meditação, das leitumerosa equipe no plano espiritual, ras edificantes, da fluidoterapia que consome preciosos tempo e e, se for o caso, dos serviços que energia, antes de cada encarnação. disponibilizam gratuitamente A torcida por nós é grande, espeapoio emocional e prevenção do cialmente nos momentos difíceis, suicídio, bem como os serviços quando nos deparamos com o reterapêuticos adicionais. Ocuparsultado de nossas escolhas menos -se com atividades úteis, de prefelizes”, afirma Trigueiro. ferência auxiliando desinteresPor isso, ele completa, para que haja sadamente o próximo, constitui mérito é preciso haver responsabiliprecioso remédio para a alma, dade nas escolhas. “A vida é para ser elevando a vibração, melhorando O LIVRO já teve sua vivida, e por mais difícil que seja a ex- primeira edição esgotada a sintonia, como reflexos imporperiência, ela sempre será compatível tantes no humor e na autoestima”. com a nossa capacidade de lidar com o que apaE, levantando a máxima espírita de que “fora rece pela frente.” da caridade não há salvação”, o jornalista fez um É o que esses três pontos explicam. chamado à autodoação: “Quando nos candidaPrimeiro: para os espíritas, o livre-arbítrio tamos a alguma obra voluntária ou assistencial, é soberano. “Somos os construtores do nosso os minutos que dispensarmos na direção do destino e ele se desdobra à nossa frente a par- outro são valiosos momentos de trégua em relatir das escolhas que fazemos a cada instante”, ção a questões que nos perturbam e angustiam. aponta. O segundo ponto a se levar em consi- Nos distanciamos deração é a lei de causa e efeito. “Tudo de bom momentaneaou de mau que fazemos se volta pra nós, para mente de nossa que tenhamos plena consciência do alcance de realidade íntinossos atos e nos sintamos progressivamente ma – eventualresponsáveis por eles”, pondera o jornalista, res- mente hostil ao saltando que cada débito que geramos em uma nosso desejo de existência será pago em outras reencarnações, paz e serenidano tempo e em quantidades necessárias, visan- de – para nos do sempre a evolução espiritual. conectarmos E, terceiro, a questão do suicídio inconsciente com as necessiou indireto, provavelmente o que a maioria dos dades dos outros seres humanos não consegue perceber ou não e reconfiguraraceita, que acontece quando realizamos ações mos o nosso que minam as funções vitais do nosso corpo fí- equilíbrio”. sico. “Pode ser o cigarro, a bebida ou outra droga A seguir, qualquer, lícita ou ilícita. Podem ser os excessos a Ecológico da alimentação, comprovadamente nefastos ao resume alguns bom funcionamento do nosso metabolismo. dos fundamentos espíPode ser o sedentarismo exacerbado ou a busca ritas que André Trigueiro frenética pela boa forma com uma carga de exer- trouxe à luz no seu último cícios demasiadamente arriscada para a saúde.” livro “Viver é a Melhor OpNo contexto deste último prisma, por exemplo, ção”. E que nos proporciona a medicina da Terra avançou muito. E vem con- um melhor entendimento sobre tribuindo para melhor compreendermos como como podemos ajudar a nós mesmos e ao a qualidade dos nossos pensamentos e senti- próximo a evoluir espiritualmente. Boa leitura!

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1 SAÚDE (2) NOSSO LAR Na sua edição 25, de outubro de 2010, a Ecológico produziu uma reportagem sobre o filme "Nosso Lar", baseado no livro homônimo de autoria do espírito André Luiz e psicografado pelo médium Chico Xavier. A his­tó­ria do li­vro e do fil­me, dirigido por Daniel Filho, re­tra­ta a vi­da e a con­ver­são de An­dré, que na última encarnação foi mé­di­co. Seus ex­ces­sos na Ter­ ra - classificados como suicídio indireto - o le­va­ram pa­ra o Um­bral, um lu­gar som­brio e povoado por milha­res de al­mas ator­men­ta­das. Lá, ele so­freu e va­gou sem rumo por anos até se arrepender dos atos cometidos enquanto encarnado e ser levado por uma equipe de resgate para

REALIDADE DO SUICIDA “De todas as tradições religiosas ou filosofias espiritualistas, a doutrina espírita é aquela que reúne possivelmente o maior estoque de informações a respeito da realidade do suicida no mundo espiritual, as principais causas e consequências do autoextermínio, e a importância de agirmos preventivamente nos diversos setores da sociedade para que o número de casos se reduza drasticamente.” DIMENSÃO ESPIRITUAL “Tão importante quanto cuidar do corpo e da mente é entender a dimensão espiritual em que o problema do suicídio se resolve. Essa parte de nós que antecede a vida corporal e sobrevive ao colapso orgânico é, em síntese, a essência daquilo que somos, o espírito imortal. Não é possível falar de saúde integral sem considerarmos o transcendente, o princípio inteligente que anima o corpo físico e o usa como veículo nesta dimensão espaço-tempo.” “Entender o que estamos fazendo aqui, de onde viemos e para onde vamos, qual o significado

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a cidade espiritual de Nosso Lar. O pró­prio An­dré Luiz, co­mo bem des­ cre­ve o li­vro, aler­tou a hu­ma­ni­da­de so­bre a im­por­tân­cia da prá­ti­ca do amor e da ca­ri­da­de, an­te a vi­são do so­fri­men­to pós-de­sen­car­ne: "Oh! Ami­gos da Ter­ra! Quan­tos de vós po­de­reis evi­tar o ca­mi­nho da amar­gu­ra com o pre­pa­ro dos cam­ pos in­te­rio­res do co­ra­ção? Acen­ dei vos­sas lu­zes an­tes de atra­ ves­sar a gran­de som­bra. Bus­cai a ver­da­de, an­tes que a ver­da­de vos sur­preen­da. Suai ago­ra pa­ra não cho­rar­des de­pois". No filme, que levou quatro milhões de pessoas ao cinema e foi lançado em 2010, André Luiz foi interpretado pelo ator Renato Pietro (destaque na parte inferior da capa ao lado).

da dor e do sofrimento em nossas vidas e o que está em jogo quando, unilateralmente, abortamos o projeto existencial, precipitando nosso retorno à pátria espiritual, são algumas das questões elucidadas pela doutrina espírita. E quando o assunto é suicídio, há uma profusão de dados e informações que podem eventualmente ser bastante úteis a quem se interessa pelo tema.” LIVRE-ARBÍTRIO “Quando nossas decisões convergem na direção das leis que regem a vida e o universo, a existência flui como as águas de um rio que

“Aqui onde estamos, num planeta de expiações e provas, a dor e o sofrimento ainda cumprem uma função pedagógica importante. Não se trata de punição ou castigo, infortúnio ou azar.”

segue resoluto na direção do mar, enfrentando os eventuais obstáculos sem se deter neles, avançando sempre. Por mais difíceis que sejam as circunstâncias, nos sentimos integrados a um projeto maior que, bem entendido, nos acolhe e protege. Ainda que não tenhamos todas as respostas, confiamos no conjunto de forças que determinam o avanço do rio até seu encontro com o mar.” “Quando nossas escolhas se dão de outra forma, ignorando esse software inteligente da vida, sofremos. Não é um aprendizado fácil. O fato é que não é possível assimilar tudo o que nos interessa em uma única existência. Assim, em sucessivas encarnações, regressamos ao planeta desempenhando diferentes papéis, em diferentes famílias, lugares do mundo, culturas e épocas.” REENCARNAÇÕES “O objetivo das reencarnações é acumular conhecimento, sabedoria e discernimento daquilo que nos convém. A meta é evoluir. A evolução é entendida na doutrina espírita como uma lei do univer-


FOTO: PLATIUM

“Somos os construtores do nosso destino e ele se desdobra à nossa frente a partir das escolhas que fazemos a cada instante.” André Trigueiro

so, que alcança indistintamente a tudo e a todos. E nenhum de nós evolui sem esforço. Sem trabalho, sem superar adversidades e enfrentar as próprias imperfeições.” EVOLUÇÃO “Ainda que não tenhamos hoje plena consciência dos passos que já galgamos nessa jornada evolutiva, já transitamos pelos diferentes reinos da natureza até alcançarmos a condição humana e, por merecimento, conquistarmos o direito de escolher o que nos pareça mais convincente. Dotados de livre-arbítrio, passamos a ser responsáveis por nossas escolhas, e isso não é pouca coisa.” “Evolução é mérito, pessoal e intransferível. Cada escolha que fazemos determina maior celeridade ou vagar nesta fantástica caminhada. Se não é possível

retroceder, há o risco de estacionarmos no degrau evolutivo onde nos situamos. É uma opção, da qual depois certamente nos arrependeremos pelo desperdício de tempo e energia, mas quem está no comando decide o que lhe pareça o certo.” “Uma informação importante é que não podemos evoluir pelo outro. No máximo, podemos ajudá-lo a fazer ele mesmo as escolhas certas. E o que o Espiritismo considera uma escolha certa? Aquela que nos projeta na direção das mais importantes conquistas evolutivas: a paz, a felicidade e a alegria indefiníveis, que só os espíritos puros – após cumprirem essa mesma jornada evolutiva – conseguem experimentar.” FORÇA SUPERIOR “‘Vós sois deuses’, disse Jesus, assinalando a centelha divina que é parte de nós, justamente aquela onde reside a consciência, a voz interior, a inteligência suprema, e outras denominações que convergem na direção de uma força superior, a qual a maioria de nós ainda não compreende totalmente, mas já começa a ter alguma noção do que seja. Ela é a nossa bússola, o nosso senso moral, aquilo que nos indica o que é o certo, o caminho a seguir.” MORADAS DO PAI “Por ora, estagiamos em um planeta dentre bilhões de outros espalhados pelo universo com diferentes categorias de humanidades. Todos temos a forma humana e ocupamos corpos mais ou menos densos, segundo o nível evolutivo, ético e moral de cada humanidade. São as muitas ‘moradas do Pai’, assinaladas por Jesus no Evangelho. Aqui onde estamos, num planeta de expiações e provas, a dor

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1 SAÚDE (2) e o sofrimento ainda cumprem uma função pedagógica importante. Não se trata de punição ou castigo, infortúnio ou azar. Os dissabores da vida trazem lições importantes que nos ajudam a compreender melhor o que ainda nos falta para dar mais um passo importante à frente.” DOR E SOFRIMENTO “‘Fundamentalmente considerando, a dor é uma lei de equilíbrio e educação’, nos informa o escritor Léon Denis, assinalando o sofrimento como ‘necessidade de ordem geral, como agente de desenvolvimento, condição do progresso’.” “Fato é que todos nós, em todas as partes do mundo, independente do nível social ou de renda, da escolaridade, etnia ou posição profissional, seja qual for a nossa condição existencial, não estamos livres do aguilhão da dor e do sofrimento. ‘A felicidade não é deste mundo’, como ALLAN KARDEC, o decodificador da doutrina

aparece em Eclesiastes, no Velho Testamento, é entendida pela doutrina espírita no sentido relativo, ou seja, não é possível ainda realizar a utopia da felicidade absoluta – salvo raríssimas exceções – por conta da nossa atual condição espiritual.” “Estagiamos em uma faixa evolutiva onde ainda prevalece o egoísmo, o orgulho, a vaidade, o sensualismo, o apego à matéria e outras imperfeições que nos exaurem preciosas energias sem que o espírito imortal – após o desencarne – consiga realizar, na maioria absoluta dos casos, avanços consistentes na direção que importa. É a ‘porta estreita’, de que nos falou Jesus. ‘São muitos os chamados e poucos os escolhidos’, disse o Mestre, no entendimento de que a maioria de nós ainda se encontra vulnerável aos apelos da matéria e, por isso, acumula encarnações sem progressos significativos.” “Há diferentes gêneros de sofrimento e nem sempre conseguimos identificar com clareza a sua origem. Quando reconhecemos a causa em algum episódio ocorrido na atual existência corpórea, nos mobilizamos com mais presteza para resolvê-lo. Há também questões mal resolvidas na presente encarnação que se refugiam nos escaninhos do inconsciente, e poderão requerer assistência psicológica para que venham à tona e se revelem por inteiro. Há, entretanto, problemas que vêm de longe, de existências pregressas, que resistem ao tempo pela dificuldade dos envolvidos em reparar perdas e/ ou danos causados a outrem ou a si mesmos. Nesses casos, a origem do sofrimento pode estar relacionada a algum evento ocorrido em um passado mais ou menos distante.” CAUSA E EFEITO “A chamada lei do retorno (ou

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lei de causa e efeito) determina que tudo de bom ou de mau que façamos se volte para nós, para que tenhamos plena consciência do alcance de nossos atos e nos sintamos progressivamente responsáveis por eles. A misericórdia de Deus está justamente nas oportunidades que nos oferece através da própria lei por meio das reencarnações.” ATENÇÃO E RESPEITO “Ao analisarmos o problema do suicídio, importa diferenciar o ato em si de quem o pratica. O suicídio é condenável sob qualquer aspecto ou pretexto. Se temos conhecimento da realidade hostil que aguarda o suicida no plano espiritual, não devemos economizar esforços para apoiar toda e qualquer iniciativa em favor da prevenção do autoextermínio, dentro e fora do movimento espírita. Se a doutrina possui um vasto repertório de informações que nos ajudam a construir uma convicção a respeito do assunto, não há por que postergar a ação preventiva. Muitos de nós, entretanto, nos exaltamos nas críticas ao suicida, chamando-o de ‘criminoso’, ‘covarde’, e outros adjetivos desabonadores que não combinam, a nosso ver, com o que há de mais profundo e belo no Cristianismo. A imensa dor que leva uma pessoa a buscar no suicídio uma solução merece de nossa parte atenção e respeito.” APOIO HUMANO “Como o Espiritismo não admite penas eternas, todos temos chance abençoada de nos recuperarmos e anularmos totalmente os efeitos negativos do ato suicida. Qual de nós já não terá passado pelo mesmo infortúnio nesta ou em outras vidas? Se conseguimos nos reerguer e seguir em frente não foi por que alguém nos acu-


“Eis um teste para saber se você terminou sua missão na Terra: se você está vivo, não terminou.” Richard Bach, escritor norte-americano

sou, ofendeu ou julgou. Foi porque alguém nos estendeu a mão, de forma solidária e amorosa. Essa rede de apoio é fundamental para que o suicida recupere a autoestima e dê o primeiro passo na direção certa. Mais amor cristão e menos preconceito. Caridade em lugar da condenação sumária. É o que se espera dos seguidores do espiritismo.” “Em muitas situações, simplesmente ouvir o desabafo de uma pessoa aflita determina um bem maior do que interromper esse momento para ‘doutrinar’ quem está sofrendo. Reconheçamos o momento certo de agir e, com muito amor e respeito, sejamos nós o instrumento que eventualmente a espiritualidade maior utiliza para desanuviar uma crise, interromper a torrente de pensamento suicida, resgatar aos poucos a lucidez e a coragem de viver.” CHOQUE DE REALIDADE “O estudo do autoextermínio pela doutrina nos revela ainda que o primeiro grande choque se dá quando o suicida percebe-se vivo, ou seja, quando descobre que a morte não existe (o fim da existência física é determinado pelo colapso orgânico do corpo que lhe servia durante a jornada terrena) e que a dor que o afligia foi potencialmente agravada pelas consequências de seu ato. Para quem procurava uma solução, o desapontamento é evidente.”

O SUICÍDIO INDIRETO “O Espiritismo nos alerta para o risco de podermos ser suicidas inconscientes ou indiretos. Isso acontece quando realizamos ações que minam as funções vitais do nosso corpo físico, antecipando precocemente o nosso retorno à pátria espiritual.” “No livro ‘O Céu e o Inferno’, Allan Kardec anota que o “suicídio não consiste somente no ato voluntário, que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais”. COMPLETISTAS “São muitas as situações em que podemos, de forma mais ou menos consciente, exaurir perigosamente as nossas energias nos precipitando em uma faixa de risco. Essas atitudes – que configuram um suicídio indireto, ainda que a pessoa não tenha a consciência disso – atrasam nosso projeto evolutivo e nos impede de retornarmos à pátria espiritual na condição de ‘completistas’.” “Em ‘Missionários da Luz’, o espírito André Luiz – já plenamente recuperado da condição de ‘suicida indireto’ e promovido à condição de autor espiritual, em parceria com o médium Francisco Cândido Xavier – define ‘completista’ como

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1 SAÚDE (2) O QUE DIZ O “LIVRO DOS ESPÍRITOS” A seguir, leia alguns trechos da obra central da doutrina decodificada por Allan Kardec e ditada pelo Espírito da Verdade sobre a questão do suicídio: DESGOSTO DA VIDA  “Nasce

do efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.”

“Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.”

Deus se opõe a todo sacrifício inútil e não o pode ver de bom grado, se tem o orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, não raro, quem o faz guarda oculto um pensamento, que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.”  “Todo

sacrifício que o homem faça à custa da sua própria felicidade é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque resulta da prática da lei de caridade. Ora, sendo a vida o bem terreno a que maior apreço dá o homem, não comete atentado o que a ela renuncia pelo bem de seus semelhantes: cumpre um sacrifício. Mas, antes de o cumprir, deve refletir sobre se sua vida não será mais útil do que sua morte.” SUICÍDIO POR DESESPERO

 “É

DISPOR DA VIDA  “Só

a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário importa numa transgressão dessa lei.” SUICÍDIO COMO FUGA

 “Pobres

espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados!”

“O

suicídio não apaga a falta.”

SACRIFÍCIO DA VIDA  “Isso

é sublime, conforme a intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Mas,

o ‘título que designa os espíritos que aproveitam todas as oportunidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferece’.” “Embora raros, os completistas conquistariam – segundo André Luiz – a permissão para ‘escolher, à vontade, o corpo futuro, quando lhe apraz o regresso à crosta em missões de amor e iluminação, ou recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de círculos mais elevados de trabalho.” “É uma espécie de prêmio conferido àquele que aproveitou

mais culpado (aquele que o comete), porque tem tempo de refletir sobre o seu suicídio. Naquele que o faz instantaneamente, há, muitas vezes, uma espécie de desvairamento, que alguma coisa tem da loucura. O outro será muito mais punido, por isso que as penas são proporcionadas sempre à consciência que o culpado tem das faltas que comete.” AS CONSEQUÊNCIAS

 “Muito

diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam.”

ao máximo as oportunidades que a vida lhe ofereceu. Quantos de nossos atos no dia a dia correspondem às expectativas que construímos antes da atual encarnação? Estaríamos consagrando o devido tempo e energia – por mínimos que sejam – à realização deste projeto evolutivo, razão primeira de nosso regresso a esse plano?” REFLEXÃO “Quantas vezes adiamos o nosso encontro com o trabalho edificante, com a caridade desinteressada, com o exercício das vir-

tudes, com as atividades voltadas para os mais necessitados?” CONVITE “‘Eis um teste para saber se você terminou a sua missão na Terra: se você está vivo, não terminou’, ensina o escritor norte-americano Richard Bach. Sempre podemos fazer algo diferente em favor de nossa evolução espiritual. Por que não já?”  SAIBA MAIS www.correiofraterno.com.br/loja www.mundosustentavel.com.br

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“Fugir, escamotear, anestesiar o sofrimento são métodos ineficazes, mecanismos de alienação que postergam a realidade, somando-se sempre com a sobrecarga das complicações decorrentes do tempo perdido. Pelo contrário, uma atitude corajosa de examiná-lo e enfrentá-lo representa valioso recurso de lucidez, com efeito terapêutico propiciador de paz.”

FOTO: ANDRÉ KOEHNE

REFLEXÕES ESPÍRITAS

Joanna de Ângelis, em mensagem psicografada pelo médium Divaldo Franco

“A dor é uma lei de equilíbrio e educação.” Léon Denis, filósofo, escritor e médium francês, em seu livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, lançado em 1922

“O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes constitui a prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que vivem na sua zona de influenciação.”

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

Emmanuel, em mensagem psicografada pelo médium Chico Xavier

“Não somos outros espíritos: somos os algozes do passado travestidos de vítimas do presente.” Divaldo Franco, médium

Na próxima edição, conheça a história e a atuação do Centro da Valorização da Vida (CVV) na prevenção do suicídio.

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ARTE: ECOLÓGICO

1 ECONOMIA

A ESCOLHA DE DILMA Confiscar 30% do Sistema S (Sebrae, Sesi, Sesc, Senac...) ou ter juízo e seguir o novo e sustentável caminho de investimentos apontado pelo empresariado nacional. Eis o novo dilema da presidente do Brasil Hiram Firmino

M

elhor sustentar a parceria proativa com as federações estaduais de indústrias que vem dando certo desde a sua criação, no governo Getúlio Vargas. E assim, entre outras conquistas sociais, não fechar uma só escola de ensino profissionalizante Brasil afora, dentro de uma visão econômica maior e não apenas financista e arrecadatória defendida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. É o que defende, na contramão da crise, o “Projeto Sudeste Competitivo”, da Confederação Nacio-

nal da Indústria (CNI), entregue à equipe econômica do governo federal. Somando quase 200 estudos e entrevistas com os principais “players” do mercado, o projeto identifica 86 obras urgentes para modernizar e integrar a malha de transportes dos estados de Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo com o resto do país. Uma vez concluídas, segundo Olavo Machado, que também preside o Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), essas obras propiciarão uma eco-

FOTO: SEBASTIÃO JACINTO JR.

redacao@revistaecologico.com.br

OLAVO MACHADO: "Queremos ajudar e não aprofundar a crise"

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O “Projeto Sudeste Competitivo” é a última publicação da Série “Estudos Regionais”, patrocinada pela CNI e suas respectivas federações regionais, como subsídios para os governos estaduais e federal planejarem o futuro do sistema logístico, otimizar os recursos e reduzir os custos de transporte no país.

Eixos existentes

Economia potencial

Novos eixos

Economia potencial

BR-153 Sul: Goiás via Ourinhos (SP)

R$ 245,3 milhões

Ferrovia EF 354: Anápolis (GO) Ipatinga (MG) Açu/Central (RJ)

R$ 423 milhões

Ferrovia ALL: Mato Grosso - Santos (SP)

R$ 371,6 milhões

Mineroduto Ferro: Morro do Pilar (MG) - Naque (MG) - Linhares (ES)

R$ 205,6 milhões

BR-050: Brasília (DF) - Santos (SP)

R$ 868,8 milhões

Ferrovia: Grão Mogol (MG) - São Mateus (ES)

R$ 2,8 bilhões

BR-116 SulNordeste: Via Dutra e Rio de Janeiro

R$ 716,4 milhões

Ferrovia MRS e Estrada de Ferro 118: Suzano (SP) Vitória (ES)

R$ 209,1 milhões

nomia anual de até R$ 8,9 bilhões Sudeste brasileiro. A região gascom o transporte de cargas para ta, atualmente, R$ 108,4 bilhões o setor produtivo, com base na anuais com custos de transporte, movimentação projetada para o incluindo frete, pedágios, custos final da década. de transbordo e terminais, tariPara se chegar aos projetos fas portuárias e frete marítimo, prioritários, foram analisadas o que corresponde a 4,55% do 337 obras de ampliação e moder- Produto Interno Bruto (PIB) da nização de portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, hidrovias e dutos. Executá-las por completo significaria investir R$ 219,1 bilhões até 2020, com redução anual de R$ 13,4 bilhões em desOLHAR PELA pesas de transporte. PRESERVAÇÃO, Para otimizar a aplicação de recursos, ATO DE CADA UM DE NÓS o “Sudeste Competitivo” selecionou o conjunto de projetos que, com o menor custo, se alcançará a maior economia. Assim, com 28,8% dos recursos (R$ 63,2 Estudos Ambientais e Espeleologia bilhões), chega-se ativoambiental.com.br :: 31 34813335 a 66% da economia potencial (R$ 8,9 bilhões) projetada até região: “Caso nada seja feito, esse os próximos cinco anos. valor chegará a R$ 162,8 bilhões em 2020. Por outro lado, à meLOGÍSTICA SUSTENTÁVEL dida que os projetos prioritários Segundo Machado, a consolida- forem concluídos, o custo pago ção dos eixos logísticos terá im- pelo setor produtivo do Sudespacto significativo para a compe- te poderá ser reduzido em até titividade do setor produtivo do 5,4%”, apontou.

Para o país, em sua opinião, significaria agilizar e baratear o fluxo de produtos na região que representa mais da metade do PIB nacional e abriga o mais denso parque industrial do país, além de importantes polos agropecuários e da indústria extrativa. Em 2012, a produção industrial nesta região somou R$ 1,08 trilhão, dos quais 60% estão concentrados em 14 cadeias produtivas. Pelo estudo, todas elas serão beneficiadas com a redução no custo de transporte para o recebimento de insumos e para o escoamento de sua produção interna ou para exportação. Os 86 projetos prioritários constituem oito grandes eixos logísticos (veja tabela acima), grandes rotas capazes de integrar o Sudeste com os estados vizinhos e assegurar movimentação ágil e eficiente de insumos e mercadorias. A realização das obras é urgente, defende a CNI, sob o risco de agravamento de trechos já congestionados e consequente elevação de custos para o setor produtivo. Metade dessas rotas Matheus Simões

FIQUE POR DENTRO

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FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

1 ECONOMIA

BR-262, a “Rodovia da Morte”, que liga Minas ao Espírito Santo: ela recebe 32% mais carga que comporta nos horários de pico

"O Sistema S sempre conta com dinheiro das empresas. Nunca foi com dinheiro do governo." Olavo Machado

estratégicas já existe e necessita de melhorias, como ampliação e modernização. As demais precisam ser planejadas e também executadas com rapidez. Segundo o estudo, apenas 16 das 86 obras prioritárias estão em fase de andamento. As restantes estão em fase de projeto, planejamento ou apenas nos planos do poder público, sem que tenham entrado na etapa inicial de elaboração do projeto básico. Na visão da CNI, esses

projetos precisam ser acelerados sob pena de agravar o quadro de saturação já enfrentado pelas empresas para escoar sua produção. Em São Paulo, por exemplo, a BR-116 (Via Dutra) opera com quase duas vezes sua capacidade em múltiplos trechos da rodovia. Em Minas, o trajeto da BR-262 entre Bela Vista e BH, também chamado de a “rodovia da morte”, recebe 32% mais carga que comporta em horários de pico. Olavo Machado, para quem o governo federal deveria ouvir mais o ministro do Planejamento, em vez do da Fazenda, indica a saída do entrave: “Tem muito dinheiro no mundo, no setor privado e no meio político. O caminho para sair da crise é este. Se a nossa presidente tiver juízo, nós estamos prontos para ajudá-la a conseguir, mas de maneira sustentável, os R$ 63,2 bilhões que o

Modal

Nº de projetos

% do total

Investimento

% do total

Ferroviário

32

37,2

R$ 30,7 bilhões

48,5

Rodoviário

31

36

R$ 14,7 bilhões

23,4

Portuário

22

25,6

R$ 16,6 bilhões

26,2

Dutoviário

1

1,2

R$ 1,2 bilhão

1,9

86

R$ 63,2 bilhões

NÚMEROS POSITIVOS

l 86 projetos prioritários,

formando oito grandes eixos logísticos

l R$ 63,2 bilhões em

investimentos até 2020

l Economia potencial de

R$ 8,9 bilhões em custos de transporte

l 14 cadeias produtivas com

ganhos de competitividade

Brasil precisa para investir no escoamento da sua produção”. REPERCUSSÃO EM MINAS Machado lembra, ainda, que se o governo federal mantiver a proposta de redução em 30% dos repasses ao Sistema S, 40 das 200 escolas profissionalizantes do Serviço Social da Indústria (Senai) serão fechadas em Minas. E o Estado perderia R$ 300 milhões em investimentos no seu orçamento para 2016.  SAIBA MAIS

www.portaldaindustria.com.br imprensa@cni.org.br

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TV Assembleia 20 anos

A gente não mede esforços para estar junto de você. A Assembleia de Minas está presente em todo o Estado. Só neste ano, as comissões de deputados já percorreram mais de 60 mil quilômetros, fiscalizando ações, promovendo debates e escutando a opinião dos mineiros. E, mesmo quando a Assembleia não vai até a sua cidade, você pode acompanhar tudo e participar do que acontece aqui, através do Portal e da TV Assembleia. A emissora, que está comemorando 20 anos, transmite as atividades parlamentares ao vivo e oferece uma programação exclusiva, com notícias, eventos, debates e conteúdo educativo, 24 horas por dia. As nossas portas estão sempre abertas para você.

Assista à TV Assembleia nos canais a cabo 11, analógico 35 e digital 61.2 ou pelo Portal almg.gov.br/tv

ALMG

Timóteo


1 MATÉRIA DE CAPA

ARTE: SANAKAN

A NOVA economia mundial: inclusão do respeito e amor à natureza

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Parceria, Fé, Integração, Cooperação, Resultados, Sustentabilidade, Fraternidade, Compreensão, Apoio, Liderança, Compartilhar, Exemplo, Subsidiariedade, Bem Comum, Espiritualidade

OS NOVOS LÍDERES

ESTÃO CHEGANDO O mundo está sedento de lideranças espiritualizadas e inspiradoras para engajar as pessoas na construção do bem comum e na preservação da natureza. Você é um deles? Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

L

ogo que me acomodei em uma das poltronas do auditório do Palácio das Artes, para acompanhar as palestras do “10º Seminário Internacional de Sustentabilidade e XXV Congresso Mundial da Uniapac”, comecei a refletir sobre por que o modelo capitalista de desenvolvimento e de trabalho vem passando por crises constantes, tanto financeiras quanto de valores. E cheguei a uma conclusão: é impossível um sistema econômico se sustentar se ele não tiver sua base legitimada nas pessoas. E, principalmente, se não cuidar da natureza que lhe fornece gratuitamente as matérias-primas de que tanto precisa. Para que isso aconteça, existe um grupo de pessoas com poder real para inspirar e engajar a humanidade na construção do bem comum. Trata-se dos novos líderes. O mundo está buscando uma sustentável era de relacionamento entre lideranças e seguidores, que deve ser pautada na cooperação mútua, em que a hierarquia conservadora e exclusiva dá lugar à parceria. Esperando uma das palestras começar, lembrei-me do livro “Think And Grow Rich” (“Pense e Enriqueça”), do autor norte-americano Napoleon Hill, que enumera alguns atributos deste novo líder. Três deles me chamaram a aten-

ção - agudo senso de justiça, o sentimento de solidariedade e compreensão, e a vontade de cooperar. São esses, exatamente, os que mais faltam às lideranças tradicionais que buscam o lucro pelo lucro. Elas precisam entender que, no mundo de hoje, não há outra saída - quem não inspira vira seguidor. E há jeito melhor de infundir inspiração se não for por meio da espiritualidade e da fraternidade? Uma realização parceira entre o Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a União Internacional de Dirigentes Cristãos de Empresa (Uniapac) e a Associação de

A IMAGEM SÍMBOLO do evento que emocionou a platéia

Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE Uniapac Brasil), o evento foi influenciado pela doutrina social da Igreja Católica. Ela, inclusive, elenca quatro princípios que podem ser diretamente aplicados na hora de se exercer a liderança. Perante Deus, de acordo com o princípio da dignidade humana, somos iguais e temos os mesmos direitos, inclusive o do usufruto universal e responsável dos bens da Terra. O do bem comum empenha as pessoas a alcançarem o próprio desenvolvimento: para isso, todos devem colaborar entre si, pois a perfeição é uma busca igual. Já o princípio da subsidiariedade (leia mais a seguir) leva abaixo todo o conceito de centralização. Sua principal característica é o da participação, em que cada ser humano é corresponsável pelo bem comum. Por último, vem o princípio da solidariedade, em que todos são responsáveis por... todos. É “‘perder-se’ em benefício do próximo ao invés de explorá-lo”, como afirmou o padre e escritor espanhol Jorge Brandán, em seu livro “Doutrina Social da Igreja”, do qual também me recordei. VALORES ÉTICOS “O bom líder faz com que as pessoas se sintam bem em seu ambiente para que possam trabalhar com as mãos, a cabeça e o OUTUBRO DE 2015 | ECOLÓGICO  43

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FOTOS: ALESSANDRO CARVALHO

1 MATÉRIA DE CAPA

O PALÁCIO DAS ARTES, em BH: três dias lotado de recados e esperança de um mundo e uma humanidade melhores

coração”, diz Maria das Dores Batista, deputada e vice-presidente da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe, uma das palestrantes do seminário. Suas palavras me fizeram lembrar daquele antigo provérbio indiano, “quem tem poder tem a responsabilidade”. Mas há quem diga que, antes de um líder exercer o poder, deve considerar o pertencimento e a integração ao Todo.“O indivíduo e o mundo são interdependentes. Se o mundo à nossa volta nos molda, nós também temos a condição de influenciar, construir e modificá-lo. Sozinho, ninguém muda o mundo. Mas, em conjunto, nossa esperança de futuro, nossas ações do presente e nossas lições do passado têm poder para influenciar multidões”, afirmou Marco Antônio Lage, diretor de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Fiat Chrysler Automobiles. Ele teve de substituir, às pressas, o presidente da empresa, Cledorvino Belini, impedido de participar do evento por estar em uma viagem internacional. Lage 44  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

disse que aceitou com tranquilidade a solicitação para ser seu porta-voz. “As ideias de Belini influenciaram e moldaram o conjunto de valores da Fiat Chrysler, de modo que falamos todos a mesma língua no grupo.” Ele ainda citou uma frase da primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, que define bem como a cooperação mútua entre líderes e seguidores pode transformar realidades: “Nunca

MARCO ANTÔNIO LAGE: "Sozinho, ninguém muda o mundo"

subestimem a importância que temos, pois a história nos tem mostrado que a coragem pode ser contagiosa e a esperança pode prosperar”. Para Lage, a elite empresarial tem um papel importante ao inspirar a sociedade. “Inspirar é engajar as pessoas a fazer junto. Mais importante que os resultados econômicos que as empresas geram, é a forma como são alcançados. É preciso que haja um forte pensamento em favor da sociedade, mas também ações concretas em prol dela. E quando me refiro à sociedade, não trato de um tema abstrato, mas às pessoas e seus anseios. Refiro-me às gerações que virão, para com as quais temos a ampla e total responsabilidade de entregar um mundo melhor e mais justo do que recebemos”, ele ponderou, apresentando um exemplo prático da subsidiariedade. Esse princípio, inclusive, se aplicado aos negócios, dá importância ao relacionamento entre os dirigentes de empresas e seus colaboradores, disseminando práticas de


Parceria, Fé, Integração, Cooperação, Resultados, Sustentabilidade, Fraternidade, Compreensão, Apoio, Liderança, Compartilhar, Exemplo, Subsidiariedade, Bem Comum, Espiritualidade gestão que criem condições para o aperfeiçoamento integral dos funcionários como pessoas. Mas a busca de um desenvolvimento econômico sustentável, como também apontaram os outros palestrantes do evento, requer caminhar de forma alinhada com valores éticos e sociais. Principalmente quando a economia e a política estão instáveis e hostilizam qualquer cultura ou ação empreendedora. “O progresso se confundiu com a velocidade e o capital se tornou impaciente, o que levou ao enfraquecimento dos valores da sociedade. Os novos líderes devem democratizar o conhecimento, propor ações para reduzir a desigualdade e considerar que lucro é meio, e não fim”, alertou José Almagro, presidente da Associação de Diretores de Responsabilidade Social. A complexidade de se encontrar novos caminhos para a liderança parceira também está engessada na diferença entre discurso e prática. É o que defendeu a ambientalista e ex-ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, no evento: “Os desafios da liberdade e da sustentabilidade trazem a pergunta que mais incomoda hoje: saber o que queremos em relação ao outro ser humano, do qual somos radicalmente dependentes, e com o meio ambiente. Não podemos sacrificar os recursos produzidos por nós em milhões de anos e os da natureza, em outros bilhões de anos, somente pelo lucro. Somos humanos porque somos éticos e cognitivos. E, assim, estabelecemos laços sociais, nos orgulhamos de preservar o passado, de estabelecer o presente e criar o futuro. É isso que nos diferencia”. Fabiana Galvão, da Schneider Electric do Brasil, também compartilha desse ponto de vista e acrescenta: “Líderes não podem dissociar desenvolvimento econômico de inclusão social e nem

“Líderes não podem dissociar desenvolvimento econômico de inclusão social e nem desconsiderar a relação do ser humano com o meio ambiente.” Fabiana Galvão, da Schneider Electric do Brasil

desconsiderar a relação do ser humano com o meio ambiente”. Mas, para que os líderes possam de fato serem inspiradores, as empresas precisam também agregar valor ao formá-los. O economista, mestre em Gestão do Capital Humano e CEO da Fesa Holding, Alfredo Assumpção, aborda isso no livro “Talento – A Verdadeira Riqueza das Nações”: “O bom líder, do bem, tem que servir na plenitude. Ele serve a seus subordinados e a seus pares ou superiores da mesma forma como esses deverão servir ao líder. Nesta hora, a empresa estará construindo um time de primeiro escalão, onde todos servem a todos, fazendo com que o capital humano instalado seja utilizado na sua capacidade máxima.” E mais: “O líder tem ainda que res-

peitar a diversidade, criando ambientes saudáveis de gestão onde existirá a ausência de medo, permitindo que as pessoas contribuam com ideias e se doem”. O escritor Rubem Alves dizia que “fina é a ostra, que quando incomodada pelo grão de areia reage produzindo pérolas”. Mas fica a reflexão: seria possível desenvolver tamanha preciosidade se o oceano estiver poluído? Verdade seja dita, todo líder deve se educar no bem para educar o próximo ainda melhor. MUDAR O SISTEMA, VALORIZAR AS PESSOAS “Eu vejo um novo começo de era, de gente fina elegante e sincera.” O verso da música “Tempos Modernos”, de Lulu Santos, me pareceu um apelo complementar ao pedido comum dos palestrantes do seminário de que é preciso mudar o sistema econômico atual. “Não podemos mais prosseguir com um modelo em que as pessoas e a natureza são usadas e descartadas quando não se precisa mais delas. As comunidades precisam se organizar para serem atores do próprio desenvolvimento”, recomendou Michel Roy, secretário-geral da Cáritas Internacional. Ou seja: a nova economia mundial deve ser a da inclu-

MARINA SILVA: "Não podemos sacrificar os recursos produzidos por nós em milhões de anos e os da natureza, em outros bilhões de anos, somente pelo lucro"

OUTUBRO DE 2015 | ECOLÓGICO  45

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são, do empreendedorismo, da cooperação e dos resultados para todos, incluindo o amor à natureza e a nós mesmos. Foi este o recado principal que se fez ecoar no Palácio das Artes. Michael Naughton, professor da Universidade de St. Thomas (EUA), foi além. Afirmou que o trabalho jamais poderá ser desumanizado. “O centro das organizações deve ser as pessoas. Empresas com e profissionais mais comprometidos têm melhor desempenho do que aquelas com funcionários sem empenho.” Ele citou, ainda, um estudo norte-americano divulgado recentemente que apontou que 70% dos funcionários são indiferentes ao seu trabalho. E que aqueles que têm um comprometimento limitado não atingem seu pleno potencial. É o que confirmou a palestrante Geraldina Gonzalez Marroquin, diretora da Organização Internacional do Trabalho para a América Latina (OIT). Segundo ela, 80% dos trabalhadores latino-americanos estão abaixo da média de produtividade pretendida. “Isso requer mudanças e compromisso na estrutura e processos de produção por meio de investimentos no capital humano, em educação, capacitação e inovação.” Para a transformação desse cenário, o papel do líder é essencial. Um problema que contribui para a maior parte da baixa motivação no ambiente de trabalho hoje é justamente a conduta desestimuladora e a cultura da tensão e do retrabalho, que impede o bom fluxo das atividades nas empresas. Isso impacta negativamente o relacionamento entre profissionais e os resultados. As lideranças devem induzir práticas harmônicas e sustentáveis. “Grandes líderes também são guerreiros, assim como os professores e os homens que trabalham no campo”, diz Christina

FOTOS: ALESSANDRO CARVALHO

1 MATÉRIA DE CAPA

MICHAEL NAUGHTON: “O centro das organizações devem ser as pessoas”

Carvalho Pinto, presidente do Grupo Full Jazz e Comunicação, e uma das participantes do painel técnico (leia mais na página 50) que debateu o papel dos líderes na construção de uma nova sociedade, com justiça e solidariedade. Ela completa: “Como todos os guerreiros, eles devem ter seu código de honra, integridade, equilíbrio e responsabilidade para mudar o cenário que vivemos”. E, influenciar, assim, o próximo na busca do bem comum. Permaneci sentado no auditório por alguns minutos pensando sobre o tamanho da responsabilidade que é ser um líder. E cheguei à conclusão que, ao contrário do chefe, o líder realmente é aquele que nos inspira pelo exemplo. LIDERANÇAS TRANSFORMADORAS O “10º Seminário Internacional de Sustentabilidade e XXV Congresso Mundial da Uniapac” foi um desfile de lideranças que vêm transformando o mundo para melhor. No entanto, ninguém inspirou e emocionou tanto a plateia quanto a médica Vera Cordeiro. Em 1991, ela fundou,

no Rio de Janeiro, a Associação Saúde Criança, uma organização social sem fins lucrativos e sem filiação política e religiosa que trabalha com uma metodologia pioneira para reestruturar famílias de crianças em risco social e promover seu autossustento. A instituição está presente em sete estados brasileiros e mantém uma representação em Nova York (EUA), chamada Brazil Child Health, para arrecadar recursos de doadores internacionais. “Trabalhei durante 20 anos no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro. Foram dez anos atendendo adultos e outros dez, na pediatria, no setor de Medicina Psicossomática, tratando crianças que viviam um círculo vicioso de miséria, doença, internação, reinternação e morte. Um dia, uma das mães que tinha um filho internado me perguntou: ‘Você pode criá-lo pra mim? O leite que ele precisa tomar custa R$ 40 a lata e eu não tenho dinheiro para comprar’. No dia seguinte, outra mãe veio conversar comigo. A mão do filho teria de ser amputada para que ele pudesse sobreviver, e eu tinha de dar a notícia. Depois de contá-la, a mãe olhou para mim e disse: ‘Dra. Vera, eu já entendi

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Parceria, Fé, Integração, Cooperação, Resultados, Sustentabilidade, Fraternidade, Compreensão, Apoio, Liderança, Compartilhar, Exemplo, Subsidiariedade, Bem Comum, Espiritualidade

VERA CORDEIRO: “O Saúde Criança é um Bolsa Família com porta de saída”

FOTO: ARQUIVO DO SAÚDE CRIANÇA

o que você falou. Mas a senhora tem um emprego para me arrumar? Porque eu vou sair daqui com ele direto para a rua’. Foi nesse momento que passei a entender que o ato médico tinha seus limites e que precisávamos criar uma organização fora dos muros do hospital que desse conta de todos os aspectos da miséria, que era a real causa da doença.” Nesse momento, Vera exibiu um slide com a foto de uma das casas em que a família de uma das crianças internadas morava.

Um ambiente triste, totalmente insalubre, que levou a plateia às lágrimas, incluindo Sérgio Cavalieri, presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE Uniapac Brasil), que estava sentado ao meu lado. “É essa realidade social que nós estamos mudando”, bradou a médica. Segundo Vera, a intenção da Associação Saúde Criança não é substituir o papel do Estado. “Trabalhamos a família sob o ponto de vista biopsicossocial. Para quebrar o círculo vicioso, a

MAIS DE 60 mil pessoas já foram atendidas pela Associação Saúde Criança, que também estimula a permanência das crianças na escola

instituição mudou na prática o paradigma da saúde, executando junto às famílias intervenções mais abrangentes e integradas em cinco áreas: saúde, educação, renda, cidadania e moradia, promovendo o desenvolvimento humano”, diz ela, ressaltando que Belo Horizonte é a única cidade brasileira que transformou a metodologia do Saúde Criança em política pública. Nesses 24 anos de atuação, o instituto já atendeu mais de 60 mil pessoas. E os bons resultados não param de se multiplicar. Em uma pesquisa realizada pela Universidade de Georgetown (EUA) na instituição, a média de internação das crianças caiu 90% três anos após participarem do Programa de Saúde Familiar desenvolvido pela Saúde Criança. A renda familiar per capita da família dessas crianças quase dobrou. E a porcentagem de doentes que frequentavam a escola passou de 10 para 92%. Como se pode ver, não é à toa que a associação brasileira foi eleita pela entidade suíça Global Geneva, de um total de 500, a 21ª ONG mais influente do mundo. “Fundamos a Saúde Criança rifando objetos pessoais de nossa própria casa e sem metodologia nenhuma. Não fui eu que criei essa metodologia que prevalece hoje. E sim os mais de 1.000 voluntários que nutriram, ao longo desses 24 anos, uma paixão enorme em transformar a vida das pessoas. Nesse fórum, ouvi falar muito sobre miséria e pobreza. Mas vale lembrar também que existe a miséria daqueles que não têm dinheiro e das várias classes sociais que têm dinheiro e estão enfraquecidas do ponto de vista espiritual”, disse Vera. E finalizou, antes de ser ovacionada por palmas durante dez minutos seguidos: “O Saúde Criança é um Bolsa Família com porta de saída”. OUTUBRO DE 2015 | ECOLÓGICO  47

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O AMOR COMO INSPIRAÇÃO “O Uno está no todo e o todo está no Uno.” Quando Luiz Seabra fundou a Natura, a maior empresa de cosméticos do Brasil e a quinta em vendas diretas do planeta, o fez influenciado por essa frase do filósofo egípcio Plotino. “Ela mudou a minha forma de ver o mundo. Entendi que o homem não é uma ilha, que tudo na vida está conectado. Ela nos chamou para testemunhá-la e sermos agentes transformadores.” Exemplo de liderança inspiradora, Seabra mostrou que tomar decisões com base nos valores em que se acredita é essencial nos negócios. “Tenho amor à vida e às pessoas. Quando fundei a Natura, compreendi que isso era algo que transcendia a finalidade da empresa. Somos produto da natureza. A fome do mundo é a nossa fome. E não há fome maior, nem mais devastadora, do que a fome de amor daqueles que acham que não têm amor para dar.” O empresário falou, ainda, sobre a nova fase de desenvolvimento humano, que vem buscando um sistema financeiro mundial sustentável. “Temos de sonhar juntos com o nascimento de uma nova civilização. Somos produtos de 300 anos de uma divisão de espírito, alma e corpo que nos trouxe avanços tecnológicos. Mas

LUIZ SEABRA, fundador da Natura: "Somos produto da natureza. A fome do mundo é a nossa fome. E não há fome maior, nem mais devastadora, do que a fome de amor daqueles que acham que não têm amor para dar"

implicou em uma civilização fragmentada. E o que aconteceu é que, na maior parte das vezes, a nossa alma fica exilada.” E citou uma frase do religioso francês Pierre de Chardin (1881-1955) que retrata bem essa busca: “Um dia, depois de dominados os ventos, marés e a gravidade, dominaremos a energia do amor, e pela segunda vez, na história do mundo, a humanidade terá descoberto o fogo”. Para a plateia inspirada do Palácio das Artes, Luiz Seabra, o filósofo do mundo dos negócios, ainda presenteou todos com uma receita de felicidade, em três passos, que é uma verdadei-

“Um dia, depois de dominados os ventos, marés e a gravidade, dominaremos a energia do amor, e pela segunda vez, na história do mundo, a humanidade terá descoberto o fogo.” Pierre de Chardin, padre jesuíta e flilósofo francês 48  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

ra lição para as novas lideranças. “O primeiro é que, a cada dia de nossas vidas, temos de buscar o nosso interior, a nossa alma. O segundo é o encontro com o outro. A descoberta do próximo em nossa vida. Às vezes, o que a gente pensa que é não representa realmente o que somos. E o outro é quem pode nos mostrar isso.” “O terceiro e definitivo passo”, mostra ele, “é que com os produtos dessa visita diária à alma e o encantamento que nos vem da descoberta do outro, encontramos uma razão para que a nossa vida que seja maior do que a nossa presença no mundo”. O empresário encerrou sua mensagem convidando todos a serem felizes e incendiarem o mundo de amor. “Esta, para alguns de vocês, provavelmente será a única vez na vida que nos encontraremos. Agradeço a todos a energia que investiram neste encontro. Deixo-os com uma mensagem de origem irlandesa que estimo muito: ‘Que o caminho seja brando a teus pés. Que o vento sopre leve nos seus ombros. Que o sol brilhe cálido sobre a sua face. E as chuvas caiam serenas nos teus campos. E até que eu volte a te ver, que Deus te guarde na palma de Tua mão’.”

FOTO: ALESSANDRO CARVALHO

1 MATÉRIA DE CAPA


Parceria, Fé, Integração, Cooperação, Resultados, Sustentabilidade, Fraternidade, Compreensão, Apoio, Liderança, Compartilhar, Exemplo, Subsidiariedade, Bem Comum, Espiritualidade

Unidos pelo bem comum Cristiane Mendonça

FOTO: JEFFREY BRUNO

Enquanto uma manhã quente de primavera imperava lá fora, dentro do Palácio das Artes o clima era de aconchego e fraternidade. Um ótimo cenário para ouvir as mensagens do presidente da Uniapac, José María Simone, do presidente da ADCE Uniapac Brasil, Sérgio Cavalieri, e do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda. Ambos tinham a mesma missão: falar da importância do princípio cristão transmutado em responsabilidade social. Cavalieri foi o primeiro a instigar empresas, governo e sociedade para trabalharem juntos em prol do bem comum. E, para isso, apontou os avanços feitos pela humanidade nos últimos tempos. “O progresso tecnológico e econômico dos últimos séculos na história mundial foi fantástico: aumentamos a expectativa de vida, a renda per capita, o grau de escolaridade, reduzimos a pobreza e fizemos a revolução da tecnologia na comunicação. Esses avanços só foram possíveis graças ao trabalho humano, que na maioria das vezes, se realiza no âmbito das empresas - organizado por empreendedores ousados e que decidem correr riscos para gerar novos conhecimentos, produtos, serviços e riquezas. E, por esse motivo, o Papa Francisco qualifica o trabalho

FOTO: SEBASTIÃO JACINTO JR.

redacao@revistaecologico.com.br

José María Simone, Lacerda e Cavalieri: promovendo a sustentabilidade

do empreendedor como uma nobre tarefa”. O presidente da ADCE Uniapac Brasil também chamou atenção para a necessidade de buscar soluções para os problemas enfrentados pela sociedade. “A fragmentação social, a concentração de riqueza e o caos urbano das grandes metrópoles, a idolatria do dinheiro, o consumismo, a cultura do descarte, o uso descontrolado dos recursos naturais, a mudança climática e as suas consequências, os conflitos éticos e religiosos e o drama dos imigrantes mostram que o progresso científico, tecnológico e econômico sem precedentes, nos últimos dois séculos, PAPA Francisco: lembrança contra a "globalização da indiferença"

foram incapazes de garantir a paz. E uma qualidade de vida razoável para todos os seres humanos sobre o planeta, além de colocar em risco sua própria sobrevivência pela degradação ambiental da Terra, a nossa Casa Comum.” Cavalieri também reforçou o seu discurso citando uma frase do Papa Francisco, quando o pontífice foi ver de perto o drama dos imigrantes mortos no Mediterrâneo que tentavam chegar à Europa. “A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, nos torna insensíveis ao grito dos outros, nos leva à globalização da indiferença”. Em consonância à fala de Cavalieri, o presidente da Uniapac Internacional, José María Simone deu prosseguimento ao diálogo afirmando que “é preciso entender que o homem é um agente de melhoria da vida, mas que hoje vivemos um modelo de crescimento incapaz de preservar os reOUTUBRO DE 2015 | ECOLÓGICO  49

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1 MATÉRIA DE CAPA cursos”. E, como solução para esse problema, acredita que “é necessário implementar a ética na mente e nos corações das pessoas, mas também na mente e nas estruturas das organizações. Os homens de negócio precisam adotar uma postura de servos, e não mestres, já que é necessário oferecer todas as condições necessárias para que os indivíduos desenvolvam seus talentos ao máximo”. GESTÃO PÚBLICA O prefeito de BH, Marcio Lacerda, também trouxe ao evento uma experiência diferenciada ao citar como exemplo o fato de ter sido um empresário por muito tempo e, nos últimos 13 anos, ter atuado como servidor público. Para ele, graças “a essas ati-

e Mudanças Climáticas: o Compromisso das Cidades” e o simpósio “Cidades e o Desenvolvimento Sustentável”. “As cidades têm que estar no centro da agenda global, já que hoje esses lugares estão à mercê de um modelo de desenvolvimento desequilibrado e injusto, que não considera a interdependência da vida humana com a estrutura física desses locais”, analisou Lacerda. Para fechar a palestra com chave de ouro, e também inspirados pela iniciativa do papa, os três palestrantes assinaram um termo de doação de 200 mudas de espécies nativas, que já foram plantadas na capital mineira como forma de compensação do carbono gerado pelo evento.

vidades, foi possível experenciar as divergências entre essas duas funções”. Lacerda relembrou que nos últimos meses “os empresários cristãos receberam um documento maravilhoso, vindo de um líder carismático e pragmático, que viveu a experiência concreta da desigualdade entre as pessoas nas periferias de Buenos Aires, Argentina”, em referência à encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco. Lacerda também rememorou o fato de o papa ter sido o primeiro pontífice a convidar prefeitos para uma convergência de esforços, ao reunir 64 dirigentes de cidades e o governador do estado americano da Califórnia, Jerry Brown, em dois eventos: o workshop “Escravidão Moderna

CHRISTINA CARVALHO: “Grandes líderes também são guerreiros, assim como os professores e os homens que trabalham no campo"

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FOTO: ALESSANDRO CARVALHO

A ética na liderança Quando você pensa na palavra líder, quais nomes inspiram você? Certamente boa parte de suas lembranças buscam por personalidades que te moveram pelo exemplo, cujo discurso e prática estavam sempre alinhados. Assim foi Martin Luther King, pastor evangélico e ativista político norte-americano que lutou em defesa dos direitos dos negros nas décadas de 1950 e 1960. Outro bom exemplo foi Mahatma Gandhi, indiano que lutou de forma pacífica para que seu país se tornasse independente da Inglaterra, na década de 1940. Essas pessoas, mesmo pertencendo a países distintos, se tornaram referências históricas de liderança no mundo. Mas o que eles tinham e foi capaz de permitir mudanças em prol do bem comum? Para a publicitária, presidente e sócia do Grupo Full Jazz de


Parceria, Fé, Integração, Cooperação, Resultados, Sustentabilidade, Fraternidade, Compreensão, Apoio, Liderança, Compartilhar, Exemplo, Subsidiariedade, Bem Comum, Espiritualidade ORGULHO ECOLÓGICO “A gente pode sim, de posse da nossa inteireza, mudar a mídia. E peço aos líderes dela, do mundo e do Brasil, que repensem os seus conteúdos. Em Minas, temos a Revista Ecológico, da qual tenho a maior admiração. Parabéns ao Hiram Firmino e toda a sua equipe. A Ecológico é mídia que vale a pena!” Christina Carvalho, publicitária e presidente do Grupo Full Jazz de Comunicação

guerreiro implica em destemor”. Para Christina, essa é uma palavra necessária para se exercer uma boa liderança. “Líder é aquele guerreiro que desperta, que inspira, que te muda de lugar, que tira o melhor de cada um de nós. Nós temos líderes de verdade hoje? Somos líderes de verdade? Somos o que dizemos ou nos transformamos sob a pressão do próprio modelo, que junto desenhamos e nos enclausuramos? Pensamos de um jeito, oramos de outro e fazemos de outro.” A PRÁTICA DO DISCURSO Em consonância com o discurso de Christina, a ex-ministra do Meio Ambiente e atual professora associada da Fundação Dom Cabral Marina Silva também chamou a atenção para a importância de que líderes pensem e pratiquem a ética, não só nos seus discursos, mas na prática diária das empresas. Para ela, é necessário falarmos sobre uma sociedade mais justa. E isso significa que, mesmo inconscientemente, estamos admitindo que o atual modelo precisa ser aperfeiçoado. “Quando nós nos colocamos o desafio de pensar a importância dos líderes, sejam eles políticos, empresariais, acadêmicos, do mundo artístico ou

espiritual, de todos os setores, nós já estamos fazendo uma profunda denúncia em relação ao modelo de sociedade que temos. Porque se nós estamos dizendo que é preciso ir na direção de uma sociedade mais justa e solidária, o que nós estamos dizendo é que essa sociedade que nós temos não é justa e não é solidária”, ponderou. Marina pontuou, ainda, que o maior desafio das lideranças atualmente é traduzir “o ideal identificatório em projetos identificatórios”. Ou seja, colocar em prática aquilo que almejamos. Essa reflexão ilustrou bem uma frase do psicanalista alemão Erich Fromm, que segundo Marina, a iluminou num momento de tristeza pessoal. “O amor por uma pessoa que não é acompanhado de um profundo amor pela humanidade pode ser chamado de tudo, menos de amor”. Ela completou: “O desafio de pensar uma sociedade solidária, uma sociedade justa, sustentável, do ponto de vista da justiça social, é um desafio que se coloca para todos. Porque nós temos algo que nos aproxima profundamente. Independentemente de sermos ricos ou pobres, de crermos ou não crermos. O que nos coloca muito próximos uns dos outros é algo que nos é comum: somos humanos.” OUTUBRO DE 2015 | ECOLÓGICO  51

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Comunicação, Christina Carvalho Pinto, a palavra que faz diferença entre aquilo que se deve fazer e aquilo que se faz é “integridade”. Termo aplicável não somente aos grandes nomes da história mundial, mas aos cidadãos comuns, que como Christina mesmo diz, “são guerreiros chacoalhando dentro de transportes públicos, no caso de São Paulo, tomando de quatro a seis conduções por dia para ganhar salários miseráveis, educar seus filhos e tentar ter uma vida digna”. Christina, que já foi sócia da maior agência de publicidade do planeta, e atualmente coordena um grupo de comunicação que atende marcas nacionais e internacionais sob o tema da consciência criativa, pontuou questões fundamentais no exercício da ética. “Todos nós trazemos dentro de nós, homens e mulheres, o amor, a compaixão, a capacidade de metas, a capacidade sistêmica. Mas, precisamos colocar isso de maneira íntegra. E como sermos íntegros, num sistema que nos pressiona e nos constrange no fechamento do mês, a ponto de perdermos o emprego? E se eu sou o acionista? O mercado, essa abstração feroz, voraz, sem limites, exige mais e mais sempre”, alerta, dando ao mesmo tempo a resposta: “O código do


FOTO: PAULO AUGUSTO

“Estamos diante de um novo cenário na economia mundial, com o aumento das desigualdades sociais e dos impactos ambientais que afetam o planeta. Isso que torna absolutamente necessário e urgente enfrentarmos os problemas econômicos e socioambientais por meio de uma forte sinergia entre as ações do Estado, das empresas e de todos os segmentos da sociedade.” Olavo Machado Jr., presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg)

“A sustentabilidade só é possível se estiver garantida a promoção da pessoa, e o desenvolvimento da cultura da responsabilidade empresarial com foco no ser humano, o que leva a um compromisso do setor produtivo ainda mais amplo do que se pratica hoje em dia.”

FOTOS: ALESSANDRO CARVALHO

José María Simone, presidente da Uniapac

“Ética e respeito aos valores humanos parecem ser condições básicas para a reconquista da confiança e a criação de um ambiente de maior harmonia e cooperação. Somente o compromisso de todos os atores com o bem comum promoverá o resgate da dignidade do ser humano, a valorização da vida, em favor da justiça e da paz verdadeira.” Sérgio Cavalieri, presidente da ADCE Uniapac Brasil

“Uma empresa deve ser lucrativa e eficiente, mas deve ter como meta o bem comum dos que trabalham nela e daqueles cujas vidas serão afetadas pela atividade da indústria. O empresário deve perseguir o bem comum e, a partir daí, estabelecer metas inclusivas para o seu negócio. Dessa forma, vai gerar valor econômico e humano para todos os grupos de interesse.” Milanés Garcia Moreno, ex-presidente da Usem (México)

“Devemos promover um modelo econômico mais justo para que pessoas que vivem na miséria tenham um futuro mais promissor. Se eu tive sucesso, é porque algumas pessoas me abriram as portas. Por isso, creio fervorosamente que é nossa obrigação moral dar oportunidade aos outros. Precisamos retribuir o que recebemos.” Etienne Diene, arquiteto e empreendedor senegalês

“Nossa ideia de sistema econômico mais justo é muito mais viável do que os críticos dizem. O problema é que temos poucos políticos e muitos burocratas. Precisamos de líderes iluminados pelos valores.” Manlio D’Agostino, economista e consultor da Business & Financial Intelligence (Itália) 52  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

FOTOS: SEBASTIÃO JACINTO JR.

Reflexões

1 MATÉRIA DE CAPA



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ALMA PLANETÁRIA LEONARDO BOFF (*) www.leonardoboff.com

A TÁBUA DA SALVAÇÃO Hospitalidade: direito de todos e dever para todos

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REFUGIADOS SÍRIOS recém-chegados ao Rio de Janeiro: pátria acolhedora

FOTO: FERNANDO FRAZÃO / AGÊNCIA BRASIL

questão mundial dos refugiados nos recoloca sempre de novo o imperativo ético da hospitalidade, no nível internacional e também no nacional. Há migração de povos como nos tempos da decadência do império romano. São milhões que buscam novas pátrias para sobreviver ou simplesmente para fugir das guerras e encontrar um mínimo de paz. A hospitalidade é um direito de todos e um dever para todos. Immanuel Kant (1724-1804) viu claramente a imbricação entre direitos e deveres humanos e a hospitalidade para a construção daquilo que ele chama de “paz perpétua”. Antecipando-se ao seu tempo, Kant propõe a república mundial ou o Estado dos povos fundada no direito da cidadania mundial. Esta, diz Kant, tem como primeira característica a “hospitalidade geral”. Por que exatamente a hospitalidade? O próprio filósofo responde: “Porque todos os seres humanos estão sobre o planeta Terra e todos, sem exceção, têm o direito de estar nele e visitar seus lugares e os povos que o habitam. A Terra pertence comunitariamente a todos”.

Esta cidadania materializada pela hospitalidade geral se rege pelo direito e jamais pela violência. Kant postula a desmontagem de todos os aparatos bélicos e a supressão de todos os exércitos, assim como o faz modernamente a “Carta da Terra”. Pois, enquanto existirem tais meios de violência, continuam as ameaças dos fortes sobre os fracos e as tensões entre os Estados, minando as bases de uma paz duradoura. O império do direito e a difusão da hospitalidade generalizada devem criar uma cultura dos direitos que penetra as mentes e os corações de todos os cidadãos mundializados, gerando de fato a “comunidade dos povos”. Esta comunidade dos povos, assevera Kant, pode crescer tanto em sua consciência que a violação de um direito num lugar é sentida em todos os lugares, coisa que mais tarde repetirá por sua conta Ernesto Che Guevara. Tantos são a solidariedade e o espírito de hospitalidade que o sofrimento de um é o sofrimento de todos e o avanço de um é o avanço de todos. Parece o Papa Francisco falando dos seres humanos como seres de relação e que participam das dores dos outros. Se queremos uma paz perene e não apenas uma trégua ou uma pacificação momentânea, devemos viver a hospitalidade universal e respeitar os direitos universais. A paz, segundo Kant, resulta da vigência do direito, da cooperação juridicamente ordenada e institucionalizada entre todos os estados e povos. Os direitos são, para ele, “a menina dos olhos de Deus” ou ainda “o mais sagrado que Deus colocou na Terra”. O respeito aos direitos faz nascer uma comunidade de paz que põe um fim definitivo “ao infame beligerar”. Nos tempos atuais, foi o filósofo argeliano-franco J. Derrida que retomou a questão da hospitalidade conferindo-lhe o caráter incondicional para todos. Mas foi ainda Kant que lhe deu a melhor fundamentação. Sua base é a boa vontade que, para ele, é a única virtude que não tem defeito nenhum. Na sua “Fundamentação para uma Metafísica dos Costumes” (1785), ele faz uma afirmação de grandes consequências: “Não é possível se pensar algo que, em qualquer lugar no mundo e mesmo fora dele, possa ser tido irrestritamente como bom se-

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“Todos têm o dever de hospedar e o direito de ser hospedado porque vivemos na mesma Casa Comum.”

não a boa vontade”. Traduzindo seu difícil linguajar: a boa vontade é o único bem que é somente bom e ao qual não cabe nenhuma restrição. A boa vontade ou é só boa ou então não é boa vontade. Se ela carrega suspeitas, logo não é boa. Ela supõe total abertura do outro ao outro e à confiança incondicional. Isso é factível para os seres humanos. Se não nos revestirmos dessa boa vontade, não vamos encontrar uma saída para a desesperadora crise social que dilacera as sociedades periféricas e os milhões de refugiados que se dirigem à Europa. A boa vontade é a última tábua de salvação que nos resta. A situação mundial é uma calamidade. Vivemos em permanente estado de sítio ou de guerra civil mundial. Não há ninguém, nem as duas Santidades, o Papa Francisco e o Dalai Lama, nem as elites intelectuais e morais, nem a tecnociência que forneçam uma chave de encaminhamento global. Na verdade, dependemos unicamente da nossa boa vontade. Vale recordar o que escreveu o escritor russo Dostoievski em sua narrativa fantástica “O Sonho de um Homem Ridículo”, de 1877: “Se todos quisessem de fato, tudo

mudaria sobre a Terra num momento”. O Brasil reproduz em miniatura a dramaticidade mundial. A chaga social produzida em 500 anos de descaso com a coisa do povo significa uma sangria desatada. Grande parte de nossas elites nunca pensou uma solução para o Brasil como um todo, mas somente para si. Estão mais empenhadas em defender seus privilégios que garantir direitos para todos. Por mil manobras políticas, conseguem manipular os governos democraticamente eleitos para que assumam a agenda que lhes interessa e impossibilitar ou protelar as transformações sociais necessárias. Contrariamente à maior parte do povo brasileiro que mostrou imensa boa vontade, boa parte das elites se nega saldar a hipoteca de boa vontade que deve ao país. Se a boa vontade é assim tão decisiva, então urge suscitá-la em todos. Todos têm o dever de hospedar e o direito de ser hospedado porque vivemos na mesma Casa Comum.  (*) Professor e teólogo.

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FOTO: ECOLÓGICO

1 MERCADO EDITORIAL

ECOLÓGICO na recepção do hotel Mercure Lagoa dos Ingleses: informação de qualidade aos hóspedes

ABRANGÊNCIA AMPLIADA Mais querida publicação sobre sustentabilidade e educação ambiental no país, a Revista Ecológico começa a estar presente nas maiores redes hoteleiras da Grande BH J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

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Para levar informação de qualidade sobre meio ambiente, responsabilidade social e educação ambiental a esse público, a Ecológico firmou uma FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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Região Metropolitana de Belo Horizonte sempre foi destino turístico de milhares de pessoas. Segundo dados de 2014 do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte (Sindhorb MG), apenas a capital mineira dispõe de 232 hotéis, que oferecem mais de 26 mil leitos. Boa parte deles é ocupada por executivos, empresários e outros profissionais que vêm à cidade participar de eventos, o que comprova a sua forte vocação como polo estratégico de negócios. Segundo a Prefeitura de BH, mais de quatro mil eventos são realizados na capital por ano, totalizando quatro milhões de participantes.

FELIPE ARAÚJO: “Ter a Ecológico em nossa rede de hotéis é um exemplo de como conscientizar as pessoas”

parceria institucional com as quatro maiores redes hoteleiras presentes em BH: Bristol, San Diego, Mercure e Quality. Desde agosto, mil exemplares da revista estão sendo distribuídos mensalmente a 19 hotéis (veja box na próxima página) que integram esses grupos. Segundo a gerente de Marketing da Ecológico, Janaína De Simone, o objetivo da iniciativa é disseminar a sustentabilidade para cada vez mais pessoas. “Essa parceria vem permitindo isso. O que queremos é que o turista que se hospeda nesses hotéis também repense a sustentabilidade em suas práticas de vida, de gestão e relacionamen-


As edições da Ecológico estão sendo distribuídas toda lua cheia em 19 hotéis da Região Metropolitana de BH to. Não apenas que tenha acesso a informação de qualidade sobre meio ambiente, mas que desperte também o interesse em conhecer as paisagens e roteiros ecoturísticos de Minas. E estimular, por meio desse contato com a natureza, a necessidade de preservá-la”. É o que também defende Felipe Araújo, da equipe de Marketing dos hotéis Arco/San Diego: “A palavra do momento é sustentabilidade. Em todos os setores, seja no meio ambiente, na

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ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

A GUERRA DAS BICICLETAS

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stamos “em guerra” com as bicicletas nas grandes capitais do Brasil. De uma hora para outra, o debate da qualidade de vida virou debate político e trata a mobilidade urbana como questão de facção partidária. São apaixonados se digladiando. Vivemos no Brasil do me-diz-de-que-anda-que-eu-te-digo-quem-você-é: Pobres andam a pé, de moto-pé-de-boi, de metro-quando-tem e de buzu. Classe média anda de carro. Rico, de motorista. Muito rico, de helicóptero. Todos assim, bem separadinhos, engarrafamos céus e terras e já não vendemos só as horas de trabalho, mas as de longa espera. Aí entra a tecnologia. Milhares trabalham em casa, usando vias bem menos congestionadas de dados e voz. Pessoas pegam caronas por aplicativos e os táxis já não vagam vazios pela cidade... Muito mais existe no reino da Dinamarca da tecnologia. Ela já não é só isso. É urbanismo também e explico o porquê. Metrópoles já podem ser pensadas a partir do fluxo dos smartphones. Podemos saber onde vão se juntar os carros e controlar sinais de trânsito em tempo real. Já educamos a distância e tiramos da rua pobres al-

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mas que vagam em vans, mortos-vivos, cedo-do-dia e tarde-da-noite. Ah! As férias! Como fica bom andar de carro! No futuro, eu desejo, escolas serão os parques onde as pessoas se encontram, perto de casa, e trocam conhecimento, tudo podendo ser mais simples, tudo continuando a ser humano. Comprar? Os shoppings sabem que precisam ser divertidos, pontos de encontro, não de venda; de diversão, não de comércio. Precisam se reinventar, porque já não saímos de casa só para gastar. Compramos melhor em casa mesmo. E se preciso sair, saio de metrô, de ônibus. Na Europa é chique. Aqui é brega. Com os bits sigo meus horários e chego no ponto bem na horinha em que ele passar, tudo pelo celular. E se preciso ir ao médico, nem vou ter que estar de corpo presente no consultório: faço “smartexames” e envio em tempo real, tudo pela web. Ah! É claro que tem a velha relação médico-paciente que precisa ser de carne e osso. Afinal, somos atendidos todos os dias nos hospitais sempre no horário, sempre com cortesia e interesse, sempre com calor humano... Faça-me o favor! É por tudo isso que estamos “em guerra” com as bicicletas, porque não sabemos mais o que fazer com as cidades que mais parecem um episódio dos Transformers. Precisamos fazer delas lugar para as pessoas viverem, que trabalhem em casa, sempre que for possível. 

TECH NOTES l Você sabe o que é uma cidade inteligente?

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l O trânsito da cidade e a Tecnologia da

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como as aulas impactam o trânsito goo.gl/pynKV5

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.


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1 ENERGIA LIMPA

FORÇA

EMERGENTE Entenda por que a energia solar, que vem sendo cada vez mais utilizada no Brasil, é uma opção sustentável em relação à elétrica

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ocê já deve ter ouvido falar por aí que a luz solar é responsável pela manutenção da vida na Terra. É verdade! Ela tem papel crucial para o meio ambiente e a sobrevivência de animais - e, principalmente, das plantas, que utilizam essa fonte de energia para o crescimento e para capturar gás carbônico, transformando-o em oxigênio, gás que forma o ar que respiramos. A energia solar impacta indiretamente quase todas as fontes de energia – hidráulica, biomassa, eólica, combustíveis fósseis e energia dos oceanos. Para se ter ideia, uma hora de sol na superfície terrestre contém mais energia do que o planeta utiliza em um ano! E a possibilidade de transformar essa fonte renovável em energia elétrica, especialmente em tempos de crise hídrica e de produção em larga escala, para atender a uma população cada vez mais crescente, faz dela uma solução ambientalmente correta e tangível a curto e médio prazos. Confira por que:

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FOTO: ANTONIO CRUZ / AGÊNCIA BRASIL

FONTE NATURAL

A energia solar é uma fonte limpa. Seu impacto no meio ambiente é menor do que o de uma usina hidrelétrica, nuclear ou termelétrica, responsáveis por grande parte de emissões de gás carbônico na atmosfera. A eletricidade que vem do sol é chamada de fotovoltaica (foto, que em grego significa “luz”, e voltaica, que vem de “volt”, a unidade para medir o potencial elétrico).

PROCESSOS DE APROVEITAMENTO

Os sistemas mais usados são o aquecimento de água e a geração fotovoltaica de energia elétrica. No Brasil, o primeiro é mais encontrado nas regiões Sul e Sudeste, devido às características climáticas. E o segundo, nas regiões Norte e Nordeste, em comunidades isoladas da rede de energia elétrica. O valor médio para instalação desses sistemas varia de acordo com a qualidade dos componentes utilizados e o tamanho da edificação.

MANIFESTAÇÃO recente do Greenpeace exigiu a implantação de painéis solares no Palácio do Planalto, em Brasília (DF)

SISTEMA FOTOVOLTAICO

Leva à redução de perdas por transmissão e distribuição de energia, já que a eletricidade é consumida onde é produzida. Para o suprimento de água quente de uma residência típica (três ou quatro moradores), são necessários cerca de 4 m2 de coletor. O gasto médio de energia de uma família brasileira varia entre 150 e 170 kWh/mês. No caso de um sistema fotovoltaico que produza 100 kWh, o uso de placas solares pode reduzir o gasto energético na residência em até 60%!

AQUECIMENTO DE ÁGUA

A tecnologia do aquecedor solar começou a ser utilizada na década de 1960 e funciona assim: sobre o telhado, a placa coletora, com serpentina de cobre, recebe a água e a aquece com a exposição aos raios de sol. Segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), existem hoje mais de 500 mil coletores solares residenciais instalados no Brasil. Cada aquecedor solar instalado pode evitar a emissão de até uma tonelada de gás carbônico por ano.

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FOTO: SANAKAN

1 ENERGIA LIMPA

BELO HORIZONTE, a “capital solar” do Brasil: um milhão de metros quadrados de painéis solares

ONDE INSTALAR

Os sistemas solares podem ser instalados em edificações conectadas à rede elétrica (casas, prédios, galpões, indústrias, estádios etc), áreas isoladas (comunidades ribeirinhas), sistemas híbridos (em conjunto com outras fontes de energia, como eólica e de geradores a diesel), centrais fotovoltaicas (geralmente em fábricas que exigem alto consumo de energia) e bens de consumo (sistemas de irrigação, sinalização em rodovias, postes, calculadoras etc).

ENERGIA PRÓPRIA

Para montar um microgerador fotovoltaico, é preciso que o projetista/instalador verifique o quanto de eletricidade sua casa, escritório ou indústria consome em determinado período para calcular a capacidade do sistema (como é composto por módulos fotovoltaicos, ele pode ser expandido). Depois, deve conhecer o local, avaliar as condições físicas e definir como será o microgerador e especificar os equipamentos mais adequados. E, na sequência, preparar um projeto das instalações de conexão à rede.

CRESCIMENTO 62  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Brasil registra 534 sistemas de geração distribuída conectados à rede elétrica, oriundos de diferentes fontes, dos quais 93% deles são projetos de energia solar fotovoltaica. A estimativa é que o setor irá receber R$ 7 bilhões em investimentos nos próximos 20 anos.

LEGISLAÇÃO

Minas Gerais foi o primeiro estado brasileiro a aprovar uma lei (21.713/15) que incentiva as empresas a investirem em energia solar. A nova lei dobra o prazo para concessão de crédito do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços (ICMS) de dez para 20 anos, limitando seu valor a R$ 25 milhões anuais.

EXEMPLO NACIONAL

Belo Horizonte é considerada hoje a "capital solar" do Brasil. Conta com um milhão de metros quadrados de em placas de energia solar, distribuídos em três mil edificações. O Mineirão também é referência: 6.000 módulos fotovoltaicos foram instalados nos 88 segmentos de concreto que compõem a cobertura do estádio,

fornecendo cerca de 1.600 kWh/ ano para abastecimento próprio e ao sistema de distribuição da rede elétrica.

NOVOS EMPREGOS

Quanto mais a indústria de energia solar crescer, mais empregos serão gerados. Estimase que, no Brasil, ela atinja 40 mil em 2030. Em 2010, eram 1,5 mil pessoas empregadas. Para cada R$ 1 milhão investidos em energia renovável, 680 empregos verdes são criados.

BENEFÍCIOS

Entre as vantagens de se utilizar a energia solar está a redução de investimentos em linhas de transmissão e distribuição; o baixo impacto ambiental, a não exigência de área física dedicada, a rápida instalação e o fornecimento de maior quantidade de eletricidade nos momentos de maior demanda energética. Um sistema fotovoltaico gera energia por até 25 anos, sem contar que contribui ainda para a valorização do imóvel. FONTES: “Cartilha Solar”, Greenpeace; “Cartilha Energia Solar”; Aneel; “Cartilha Eletricidade Solar” e “Guia de Microgeradores Fotovoltaicos”, www.americadosol.org


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Redução da conta de energia elétrica a valores mínimos

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Retorno do investimento a médio prazo

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Valorização do imóvel

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Autogeração e sustentabilidade

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Valorização da marca

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Instalação rápida e baixa manutenção

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Longa durabilidade dos componentes

FOTO: RENATO COBUCCI / IMPRENSA MG

FOTO: SANAKAN

OUTRAS VANTAGENS

A USINA fotovoltaica do Mineirão: produção de 1.600 KWh/ano

Como funciona o sistema fotovoltaico Consumo

Geração

Energia fornecida a distribuidora

Energia produzida

Rede de distribuição Energia consumida da distribuidora

Inversor Medidor bidirecional

Placa fotovoltaica

Energia consumida

A LUZ SOLAR é convertida pelos painéis fotovoltaicos em corrente elétrica e lançada no estabelecimento e na rede pública através dos inversores. O relógio bidirecional registra a geração dos painéis injetada na rede pública assim como o consumo utilizado da mesma, estabelecendo um sistema de compensação de uso válido por 36 meses. Os créditos excedentes ao consumo próprio poderão ser utilizados em outros estabelecimentos que possuam o mesmo CPF ou CNPJ do usuário.

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1 ENERGIA LIMPA

UMA HISTÓRIA SOLAR FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Conheça o fã da banda Pink Floyd que foi pioneiro ao acreditar e investir em energia solar e se tornou uma referência no setor

RICARDO LIMA: “A energia solar veio para ficar, é mais econômica e pode ajudar a salvar o planeta”

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m 1994, o jovem engenheiro Ricardo Lima, diretor da SER, empresa de energia solar, viajou aos Estados Unidos para ver o primeiro show da turnê “Pulse”, do Pink Floyd. Além da viagem musical e visual, ele encontrou uma novidade que mudaria para sempre sua vida: um sistema de bombeamento de água com energia solar fotovoltaica que adquiriu para instalar em sua casa de praia em Caraíva, no Sul da Bahia, onde não havia luz elétrica normal, só através de gerador. O sistema era tão inovador e eficaz, nessa época, que seus vizinhos começaram a solicitar que ele também disponibilizasse esses kits então importados para instalação em suas

residências. Foi assim que nasceu a sua empresa. Desde então, muitas instalações começaram a ser feitas nas casas, pousadas, bares, restaurantes, escolas e postos de saúde do vilarejo hoje famoso. Para evitar o transporte e uso de água de baixa qualidade da beira do rio Caraíva para a parte alta da comunidade, o distrito instalou gratuitamente um grande sistema de bombeamento de água submersa, de boa qualidade, que proporcionou um enorme alívio para mulheres e crianças que carregaram latas e baldes às suas casas diariamente. Em 1995, já com sua empresa ali estabelecida, Ricardo viu surgir novas oportunidades e

demandas. Paralelamente aos trabalhos na Bahia, e não somente em Caraíva, a SER sagrou-se vencedora da primeira grande licitação de bombeamento hídrico como energia solar fotovoltaica da América Latina, feita pela Copasa, em Minas. Esta licitação, ele diz orgulhar-se até hoje, marcou o início de um grande trabalho de natureza social e humanitária, sem falar na ambiental. O projeto também visava atender comunidades carentes desprovidas de água e luz em regiões de extrema pobreza do Estado. Resultado: somente em três anos foram atendidas mais de 180 localidades, contando também com o apoio parceiro da Cemig.

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FOTO: REPRODUÇÃO

Segundo o empresário, a primeira unidade funcionou no município de São João da Ponte (MG): “Após a descida da bomba que equiparia o poço, momento em que a equipe estava em fase de montagem das estruturas, notamos a presença de um morador idoso. Ele estava com um burro de carga transportando dois grandes vasilhames de metal contendo água, indo em direção a uma casinha de sapé próxima. Em seguida, uma senhora de idade também avançada veio em nossa direção, carregando uma bandeja forrada de renda, e alguns copos com um líquido branco. Ficamos na dúvida se era leite raleado. Mas, na verdade, era a água que eles usavam para todo o seu consumo próprio. Apesar do gosto péssimo, não recusamos, em retribuição a um ato de tanta cordialidade. O que fizemos na sequência? Logo após o início da operação, retribuímos todas essas gentilezas com um potente jato de água cristalina extraída de poço profundo, limpa e em abundância. A comunidade toda se dirigiu ao local com olhares de espanto, indagação e extrema felicidade. Esse episódio me marcou para sempre. Foi um grande estímulo na grande jornada de outras inúmeras instalações que teríamos pela frente” – recorda Ricardo. A história prosseguiu. Além de Minas, sua empresa instalou poços profundos movidos com energia solar fotovoltaica em aldeias indígenas no Amazonas, na Bahia e Goiás. Em 2002, na Amazônia, outro fato interessante ocorreu. Quando analisaram quem seria a pessoa mais indicada da equipe de instaladores a desenvolver este trabalho, foi decidido que seria o próprio diretor da SER, tamanho seu conhecimento e experiência. Ele relembra: “Chegando na cidade de Tabatinga, divisa com a Colômbia, junto de outra equipe da Funasa, na-

ÍNDIOS beneficiados com energia fotovoltaica na fronteira do Brasil com o Peru: tecnologia amiga

vegamos até Atalaia do Norte, de onde partimos para as aldeias 500 quilômetros rio acima, já na fronteira com o Peru. A cada instalação conseguida, a gente ganhava o sorriso das pessoas beneficiadas, estampados em seus rostos”. De volta ao sudeste, um dos grandes projetos capitaneados por sua empresa foi a instalação desta tecnologia limpa em 1.800 escolas rurais contratada pelo Ministério de Minas e Energia. A SER executou um total de 140 novos sistemas em Minas e na Bahia. Nos últimos anos, ela também atuou no mercado de saneamento básico, mas sempre de olhos atentos à evolução do setor solar fotovoltaico. Hoje, ainda mantendo o gosto musical de ouvir Pink Floyd, Ricardo e sua empresa vêm se dedicando a soluções para geração distribuída nos mercados residenciais, comerciais e de usinas. Ou seja, a partir de BH, onde seus pais ainda moram, considerada – tal como o estado – a capital solar do Brasil, tamanha e constante a sua insolação natural. “O que no passado parecia um sonho distante, hoje é uma realidade inquestionável e irreversível. A energia solar veio para ficar e

fazer bem à humanidade e ao planeta”, aponta Ricardo, lembrando a disparada atual do mercado brasileiro e mundial. Segundo ele, um painel fotovoltaico hoje tem 25 anos de garantia, além de poder ser comprado com financiamento a juros subsidiados. O retorno do investimento em energia solar que, até dois anos atrás, demorava sete, oito anos, hoje caiu para quatro anos. O consumidor que, pelo sistema elétrico convencional, pagava uma conta mensal de R$ 1.000, com a energia solar, ela cai para inacreditáveis R$ 50 após esse tempo. Ou seja, passa e lhe sobrar R$ 950 todo mês, seja para pagar o financiamento: “Não existe investimento mais ecológico, econômico e confiável do que este, o que explica a sua explosão no mercado, independente da crise. A energia solar virou solução. O presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek, está certo em antever que a maior hidrelétrica em fornecimento de energia elétrica do mundo já tem prazo de validade, com a chegada da energia solar”.  SAIBA MAIS

www.ser1.com.br

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CÉU DE BRASÍLIA

CAR AVANÇA

Em apenas dois anos, 60,16% da área total das áreas cadastráveis no Cadastro Ambiental Rural (CAR) foram registradas. Segundo o Serviço Florestal Brasileiro (SBF), 240 milhões de hectares de terra já estão na base de dados da instituição. A Região Norte, liderada pelo Acre, Amazonas, Roraima e Amapá, é a que possui maior adesão ao CAR (77%), seguida pelas regiões Centro-Oeste (59%) e Sudeste (56%). O Sul, que possui o menor índice, registra, até agora, cadastros de 25% de sua área. FOTO: DODGERTON SKILLHAUSE

FOTO: MARCOS BERGAMASCO / SECOM-MT

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) divulgou o resultado da análise de 17 marcas de tintas imobiliárias, sendo 12 do tipo esmalte sintético e cinco do tipo verniz. Realizado em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o estudo avaliou a concentração de chumbo nos produtos, pelo perigo que a substância em níveis acima do permitido representa à saúde humana e ao meio ambiente. Duas marcas de esmalte sintético apresentaram nível de chumbo 200 vezes maior que o permitido na Lei Federal 11.762/2008.

FOTO: MARCOS VERGUEIRO / SECOM-MT

CHUMBO EM TINTAS

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

Segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), cebola (183,6%), pimenta do reino (64,1%) e soja (4,9%) foram as culturas agrícolas que atingiram os maiores índices de Valor Bruto de Produção Agropecuária (VBP) este ano. Com base em dados de safras de setembro do ano passado, o Mapa estima que o VBP pode atingir quase R$ 500 bilhões até o fim do ano, 1,3% a mais do que o obtido em 2014.

“T” DE TRANSGÊNICO

A Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) rejeitou o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 34/2015, que retira a obrigação de estampar o símbolo indicando a presença de ingrediente transgênico nos rótulos de produtos alimentares. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), relator do projeto, afirmou que “a retirada da informação fere o direito constitucional à informação”. 68  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

PREVENÇÃO AO BULLYING

A Câmara dos Deputados aprovou, dia 15, a obrigatoriedade de escolas e clubes de recreação adotarem medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate ao bullying ou intimidação sistemática. A redação final aprovada na câmara é de autoria do deputado Efraim Filho (DEM-PB) e define a prática como atos de violência física ou psíquica exercidos intencional e repetidamente por um indivíduo ou grupo.


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FOTO: DIVULGAÇÃO HSI

1 MANIFESTO

POR UMA ALIMENTAÇÃO

MAIS COMPASSIVA Cleo Pires se une à ONG Humane Society International (HSI) contra o uso de gaiolas na avicultura

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o Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro), a atriz Cleo Pires se uniu à Humane Society International (HSI), uma das maiores organizações globais de proteção animal, para con-

vidar os consumidores a fazer escolhas mais compassivas e rejeitar os ovos produzidos por galinhas confinadas em gaiolas em bateria. No Brasil, cerca de 95% das aves usadas na produção de ovos em escala comer-

cial passam suas vidas inteiras - é isso mesmo que você leu: inteiras - confinadas em gaiolas de metal tão pequenas que elas não podem sequer andar ou esticar suas asas. “Fiquei chocada quando a

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HSI me mostrou como os animais são tratados na produção de ovos no Brasil. Estou feliz por ter narrado o filme da organização, ‘Ovos: Gaiolas versus Livres-de-Gaiolas’, e espero que ele informe muitas pessoas sobre a origem dos nossos alimentos. Tenho certeza de que muitos brasileiros também serão contra o tratamento extremamente desumano ao qual as galinhas são submetidas. Depois de assistir ao vídeo, farão escolhas mais éticas na hora de comprar alimentos”, disse a atriz. “É realmente muito gratificante trabalhar com a Cleo Pires na conscientização sobre a realidade da produção de ovos no Brasil. O confinamento por toda a vida de galinhas poedeiras em gaiolas em bateria é uma das práticas mais cruéis da avicultura. Por isso, nós convidamos os consumidores a fazer a diferença ao deixar os ovos produzidos por galinhas engaioladas fora de seus pratos”, afirmou Carolina Galvani, gerente sênior de Campanhas de Animais de Produção da HSI no Brasil. O filme “Ovos: Gaiolas versus Livres-de-Gaiolas” pode ser visto no site da HSI, onde os internautas também poderão assinar o manifesto. O vídeo contém imagens de granjas de

FOTO: VLADIMIR GERASIMOV

PRÁTICA CRUEL: as galinhas poedeiras ficam confinadas por toda a vida

A HSI promove princípios de uma alimentação mais compassiva por meio da redução do consumo de produtos de origem animal, como carnes, ovos e laticínios

FIQUE POR DENTRO O

uso de gaiolas em bateria convencionais já foi proibido em toda a União Europeia, na Nova Zelândia e no Butão. Na Índia, terceiro maior produtor mundial, a maioria dos estados já declarou que o confinamento em gaiolas em bateria viola a legislação federal contra a crueldade animal e uma proibição nacional está sendo considerada.

 Galinhas

confinadas em gaiolas em bateria têm um espaço menor do que uma folha de papel A4 para passar toda a vida. A ciência já provou que animais confinados de forma tão extrema são submetidos a sofrimento constante.

 Um relatório da HSI (www.hsi.org/assets/pdfs/salmonellaportugues.pdf) demonstra que uma grande quantidade de estudos científicos concluiu que granjas que confinam galinhas em gaiolas têm maiores índices de contaminação por salmonela do que as que não usam. De acordo com informações do Ministério da Saúde, a salmonela é a principal causa de intoxicações alimentares no país e também a que mais mata.

ovos da cidade de Bastos, maior polo da produção nacional, e também de granjas brasileiras que não usam gaiolas e vendem seus ovos com certificação de bem-estar animal - ou com os rótulos “caipira” ou “orgânico”. Apresenta, ainda, fatos e argumentos sobre o bem-estar dos animais e problemas de saúde pública, como o maior nível de contaminação por salmonela em sistemas de confinamento intensivo em gaiolas.

A HSI promove princípios de uma alimentação mais compassiva por meio da redução do consumo de produtos de origem animal (como carnes, ovos e laticínios), substituição por mais produtos de origem vegetal e a exclusão de produtos oriundos de sistemas de confinamento intensivo. 

SAIBA MAIS

www.hsi.org/ovos

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ESPECIAL URBANISMO

DESENVOLVIMENTO NA LAGOA DOS INGLESES Projeto da CSul Desenvolvimento Urbano inaugura um novo modelo sustentável de empreender, de morar e de viver em uma das mais belas e promissoras regiões do Vetor Sul da Grande BH Bia Fonte Nova e J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

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vitalidade e a evolução das cidades dependem de um diálogo constante entre pessoas, cultura e meio ambiente. É com essa convicção que a CSul Desenvolvimento Urbano deu os primeiros passos para a implantação de um arrojado projeto urbanístico na Lagoa do Ingleses, na confluência das BRs 040 e 356, entre Nova Lima e Itabirito, no Vetor Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O empreendimento, que promete elevar o patamar de qualidade e de respeito ambiental existentes

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no mercado – promovendo uma verdadeira revolução no modo de empreender, de morar e de viver em Minas Gerais – idealizado por um dos mais respeitados arquitetos e planejadores urbanos do Brasil. O ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner, eleito pela revista “Time” um dos 25 pensadores mais influentes do mundo. Capitaneada por executivos que conhecem bem a região e têm larga experiência no setor imobiliário, a CSul foi criada em 2013, tendo investido R$ 315 milhões na

aquisição dos terrenos. Fruto da união de cinco fortes grupos empresariais: Asamar, Alicerce, BVEP (braço imobiliário do Banco Votorantim), MINDT – Grupo Barbosa Mello/JD Participações e AGHC Participações. A aquisição foi da totalidade das áreas remanescentes no entorno da Lagoa dos Ingleses, com cerca de 27 milhões de m², e planeja construir ali uma centralidade metropolitana. Um lugar capaz não só de alavancar a economia regional, mas sobretudo de diminuir a dependência que as cidades do entor-


FOTOS: ROSSANA MAGRI

“Reputação, imagem positiva e abertura ao diálogo. É o que estamos buscando construir a todo momento. Com esse empreendimento, mais do que lembrados, nós queremos ser avaliados e também reconhecidos. Afinal, temos um projeto para 45 anos e não para 45 dias.” E o melhor: depois de totalmente implantado, o novo conjunto de bairros, que deverá atrair de 120 a 170 mil moradores no final de ocupação, terá um índice de área verde por habitante até sete vezes maior que o de Belo Horizonte, e mais que o dobro do registrado em Curitiba, considerada uma das cidades mais bem planejadas e arborizadas do Brasil.

no têm hoje da capital. Não será um projeto de ocupação urbana convencional, centrado apenas na urbanização e na comercialização dos lotes. Será um projeto de desenvolvimento urbano para os próximos 45 anos. Com ele, a CSul pretente influenciar positivamente não apenas o Vetor Sul da RMBH, Nova Lima e Itabirito, mas toda a região que se estende dos Inconfidentes ao Alto Paraopeba, ecoando em cidades como Brumadinho, Moeda, Belo Vale, Ouro Preto, Mariana, Congonhas e Conselheiro Lafaiete.

DESENHO URBANO O masterplan da CSul é inspirado nas premissas do novo urbanismo. Tem, portanto, um desenho urbano totalmente inovador, voltado para as pessoas e respeitando ao máximo os elementos naturais presentes nos terrenos e no entorno. Sua principal tônica é a concepção de um mix de espaços sustentáveis e dinâmicos, com casas e prédios residenciais articulados com o comércio e serviços, agregando também espaços de trabalho, lazer e acesso à educação e à cultura. Tudo isso sem a necessidade de enfrentar o desconforto dos longos deslocamentos e o trânsito caó-

WALDIR SALVADOR, diretor-superintendente

tico de BH. A ideia é exatamente desadensar a capital, e reduzir ao máximo o movimento pendular que tanto impacta o Vetor Sul, com uma população flutuante que, diariamente, se desloca em busca dos mais diferentes serviços. “O nosso projeto foi concebido em plena sintonia com o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PDDI). Lançado em 2011 pelo governo estadual, ele prevê a criação de novas centralidades urbanas, diversificando a economia dos municípios, melhorando a qualidade de vida das pessoas e contribuindo para desafogar a capital mineira”, explica Waldir Salvador, diretor-superintendente da CSul. DNA SUSTENTÁVEL A qualidade ambiental é a grande âncora do projeto da CSul. A adoção de práticas ecológicas e de ecoeficiência está presente no DNA do empreendimento e vai permear todos as suas etapas de implantação e de ocupação. Atuando com base nos mais avan-

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ESPECIAL URBANISMO

MASTERPLAN prevê espaços de uso misto, com áreas residenciais amplamente servidas pelo comércio e serviços locais

çados conceitos de sustentabilidade conhecidos no mercado, as ações da CSul priorizam, entre outras diretrizes, a redução do consumo de água e de energia elétrica, o incentivo à reciclagem do lixo e a criação de um plano de arborização capaz de oferecer mais conforto térmico aos pedestres. Com isso, estimulará, por exemplo, as caminhadas, a convivência em parques e praças, bem como o uso de bicicletas em substituição ao carro. De forma pioneira, a CSul decidiu avançar ainda mais. E reuniu dezenas dessas diretrizes ambientais em um Protocolo de Sustentabilidade (leia a seguir). A ideia é fazer com que essas diretrizes sejam adotadas desde a implantação das obras de infraestrutura até a construção e a ocupação de todas as edificações e moradias pelos futuros incorporadores, moradores e usuários. Alguns empreendimentos previstos na região da CSul já estão

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Como o projeto será desenvolvido nos próximos 45 anos, a CSul optou por licenciar integralmente a área do empreendimento em implantação. Entre eles, as fábricas da Biomm Technology, quarta maior fabricante mundial de insulina, da Suplimed, uma das principais fornecedoras de equipamentos oftalmológicos do Brasil e Grupo RKM, com a implantação de um condomínio multifamiliar. Também já confirmaram presença o Grupo EPO, com a Drogaria Araújo e o Supermercado Super Nosso; o Outlet Premium, do Grupo Iguatemi; o Grupo Rezek, de incorporação imobiliária, de São Paulo; e o Hospital Mario Penna, que será um centro de trata-

mento e pesquisa em oncologia, com centro educacional. LICENÇA INTEGRAL O processo de licenciamento ambiental também traz avanços. O pedido de concessão da Licença Prévia foi protocolado na Superintendência Regional de Regularização Ambiental (Supram Central Metropolitana), vinculada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), em fevereiro deste ano. Como será um projeto para ser desenvolvido nos próximos 45 anos, e implantado em várias fases, a CSul optou por licenciar integralmente seu masterplan. “O objetivo é evitar o fracionamento do terreno e surpresas desagradáveis nos futuros desdobramentos de parcelamento do solo, como já vimos acontecer na Capital e em outros municípios da RMBH. Não queremos repetir erros vistos em outras urbanizações,

FOTO: DIVULGAÇÃO CSUL

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FOTO: ROSSANA MAGRI

pois sabemos que, se fizermos isso, seremos apenas mais um na multidão. A CSul está empenhada em criar aqui o melhor projeto de parcelamento urbano do Brasil. Não se trata de algo menor que isso; nem nas nossas cabeças, nem nas dos acionistas”, assegura Salvador. NÃO ELITISTA Atenta à importância hídrica e ambiental da região, a CSul se preparou para empreender sustentavelmente numa região reconhecida por suas inúmeras belezas naturais. Mas que também – segundo o Zoneamento Ecológico Econômico da APA Sul, o Plano Diretor de Nova Lima e mais recentemente o PDDI idealizado pelo governo de Minas– tem vocação para se transformar num dos polos mais desenvolvidos do Estado e servir os municípios do entorno em relação às atividades do uso quotidiano, reduzindo a dependência do núcleo central de Belo Horizonte. Categórico, Waldir Salvador afirma: “Não somos especuladores imobiliários, somos desenvolvedores urbanos. Estamos atraindo o que há de melhor para o empreendimento. Temos plena consciência do quanto a Lagoa dos Ingleses e as unidades de conservação existentes no entorno são importantes para o equilíbrio ambiental de toda a Grande BH. Nada mais natural, portanto, que ela seja uma região muito policiada não apenas pelas ONGs ambientalistas, mas pela opinião pública em geral.” Outro conceito diferenciado do projeto da CSul, frisa Salvador, é o fato de primar pela sustentabilidade e elegância, mas sem resvalar no elitismo. “Vamos criar um conjunto de bairros com heterogeneidade social e acessível às diferentes classes sociais. Só no Vila Parque, do Grupo Rezek, teremos 1.700 unidades residenciais com,

“Formalizamos essa atuação conjunta visando à geração de novos postos de trabalho e de mais negócios para Minas, dentro de um conceito urbanístico que incorpora a criação de novos territórios e centralidades de desenvolvimento sustentável e ordenado. Queremos atuar para que o ambiente de negócios no estado seja saudável, atraindo novos investimentos e criando condições para a geração de renda em diferentes regiões.” ALTAMIR RÔSO, secretário de Desenvolvimento Econômico de MG (foto acima, à direita), acompanhado do presidente do Conselho da CSul, Roberto Mário, durante assinatura do comunicado conjunto (leia mais a seguir)

por exemplo, casas e apartamentos prontos para morar de 58 a 92 m2, além de um centro comercial, um clube de lazer e um espaço para creche. A intenção é proporcionar comodidade no desempenho das atividades quotidianas, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida. ” ÁREA PERMEÁVEL O projeto assinado por Jaime Lerner prevê a criação de três grandes centralidades, totalmente integradas e com diferentes tipologias de ocupação. Reunirá desde bairros só com casas, constituídos por lotes unifamiliares de várias dimen-

sões, áreas com prédios residenciais, centros e torres comerciais e de serviços, até espaços para indústrias limpas e logística. O elemento comum nessas três centralidades é a qualidade ambiental latente, com soluções urbanísticas e ambientais integradas, raramente vistas em empreendimentos desse porte, principalmente em Minas Gerais. Uma prova disso é que, depois de 100% implantado e ocupado, o projeto terá 64% de área permeável em terreno natural e só 36% de área impermeável. “Parece óbvio, mas ninguém faz isso. Na maioria dos casos a tenta-

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FOTOS: ROSSANA MAGRI

ESPECIAL URBANISMO

FABÍOLA CARVALHIDO: “64% da área é permeável”

tiva é sempre a de adensar ao máximo a área construída, para que se tenha o maior aproveitamento possível dos terrenos”, explica a arquiteta e urbanista da CSul, Fabíola Carvalhido. Esse percentual de 64% de área permeável, pontua Fabíola, é muito superior ao observado no zoneamento urbano da RMBH. “A taxa de permeabilidade dos terrenos é determinada em função do zoneamento previsto na Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo. Em Nova Lima, considerando a ocupação de um lote, por exemplo, é exigida a conservação de, no mínimo, 20% do terreno em estado natural. ” MAIS VERDE Mais que uma exigência legal, lembra o diretor de Engenharia

FOTOS: ZIG KOCH

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JAIME LERNER: arquiteto, urbanista e inspirador do empreendimento

da CSul, José Eduardo Dantes Lodi, a manutenção da área permeável dos terrenos é essencial para o equilíbrio climático e o embelezamento das cidades. “A existência de áreas vegetadas e livres de edificações permite o escoamento e a infiltração da água da chuva, favorecendo tanto o dimensionamento do sistema de drenagem, quanto auxiliando no combate às enchentes.” No caso da CSul, esse elevado percentual de área permeável do empreendimento trará um benefício ambiental extra. “Ele vai se refletir diretamente no índice de área verde/por habitante que será, de longe, um dos maiores do Brasil. Ao final de todo o processo de implantação e ocupação, o novo conjunto de bairros terá entre 92 m² e 129 m2 de área verde preservada por habitante”, detalha Fabíola. Esse percentual é até sete vezes maior que o de BH onde, conforme o último censo do IBGE, há 18 m2/habitante. E mais que o dobro do de Curitiba, que tem 51 m2/ habitante. “Queremos reaproximar as pessoas da convivência com o verde e com a paisagem. Nas grandes cidades, a aridez do concreto, do asfalto e o traçado urbano convencional tornam essa interação cada dia mais difícil”, pondera a arquiteta.

“A cidade é o espaço que agrega e integra; quanto maior a mistura, mais humana ela será. É isso que ajuda a garantir a coesão social, a segurança urbana, a possibilidade das trocas, o desejo de se congregar nos espaços comuns. Tudo deve estar integrado o máximo possível no cotidiano dos cidadãos.”

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FIQUE POR DENTRO

O PROJETO DA CSUL EM NÚMEROS: Área parcelável: 20.153. 831 m2 Áreas públicas (verdes, institucional e sistema viário): 8.427.080 m2 Áreas vendáveis (lotes/quadras): 8.297.240 m2 COMPARATIVO DE ÁREA VERDE/ POR HABITANTE: Projeto da CSul – De 92 m2 a 129 m2 Belo Horizonte – 18 m² São Paulo – 4 m² Curitiba – 51 m² Goiânia – 94 m² (melhor índice em cidades brasileiras)

CORREDOR ECOLÓGICO Por iniciativa da CSul também será criada uma Reserva Particular do Patrimônio Natural na região. Trata-se de uma RPPN na Serra da Moeda, que terá 317 hectares e trará inúmeros ganhos ambientais. O principal deles será a formação de um corredor ecológico, interligando o Monumento Natural (Mona) da Serra da Moeda ao complexo formado pelo Mona Serra da Calçada e o Parque Estadual da Serra do Rola Moça (leia a seguir). Os serviços de água e esgoto ficarão a cargo da concessionária que já atua no local, a Samotrácia Meio Ambiente. “Vamos entregar todo o sistema prontinho para a concessionária operar. Teremos 100% dos esgotos tratados por Estações de Tratamento de Esgoto. Nos condomínios da região, o sistema mais comum é o de fossas sépticas, que traz riscos de contaminação do lençol freático e dos poços de captação de água por esgotos domésticos”, esclarece Salvador.


Entenda melhor l O objetivo da CSul é fomentar o desenvolvimento econômico, ambiental, social, cultural e urbanístico de todo o Vetor Sul da RMBH, servindo como âncora para implantação da Centralidade Sul, prevista no PDDI. Propõe, assim, a criação de uma nova centralidade, com crescimento planejado e inteligente, abrangendo todas as funções indispensáveis à consolidação de um ambiente urbano sustentável. l Sua principal característica é a promoção de espaços de uso misto, com áreas residenciais amplamente servidas pelo comércio e serviços. A ideia é diminuir os deslocamentos e eliminar a dependência de veículos motorizados, privilegiando o uso de bicicletas, concentrando a oferta de empregos, de lazer e de estudo perto das moradias. l Em agosto de 2015 foi assinado um Comunicado Conjunto com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) dará esforços para prestar apoio e assistência à CSul durante as fases de implantação do projeto, tendo como objetivo a interlocução com os diversos órgãos e entidades do Estado, de maneira a viabilizar o empreendimento. Sendo assim, a partir desse apoio a expectativa da CSul é obter a Licença Prévia (LP) de todo o empreendimento no ano de 2016. E, em 2017, a Licença de Instalação (LI) da primeira fase do projeto. l A CSul planeja, ainda, aplicar os conceitos da chamada acupuntura urbana, potencializando a criação de equipamentos e de espaços voltados para uso público, como jardim botânico, parques, píer e arena verde para a prática de esportes. A proposta da acupuntura urbana é estimular o planejamento das cidades por meio de “agulhadas”, ou seja, de pequenas intervenções capazes de torná-las mais sustentáveis e acolhedoras.

BICICLETAS à disposição dos visitantes no estande da CSul na Lagoa dos Ingleses

l Primazia dos espaços públicos em detrimento do interesse individual: o traçado urbano privilegia a criação do maior número possível de áreas verdes e de espaços de uso coletivo, estimulando a convivência e a qualidade de vida em parques, jardim botânico, praças e arenas. l Compromisso de promover o desenvolvimento da Centralidade Sul da Grande BH, buscando sempre inovações que transformem a região em referência em sustentabilidade ambiental, econômica e social. l Foco na preservação das paisagens locais e na implantação de equipamentos públicos de alto padrão.

QUALIDADE AMBIENTAL É DESTAQUE

l Protocolo de Sustentabilidade: planejamento, implantação, estímulo e operação de diretrizes de ecoeficiência.

l Proposta de ocupação urbana adequada às características naturais do terreno: as edificações serão distribuídas de forma dinâmica e sustentável, prevendo lotes e construções de tamanhos variados, respeitando a capacidade de suporte dos terrenos.

l Técnicas compensatórias: soluções de drenagem que minimizem o caminho a ser percorrido pelas águas da chuva, entre elas valas de infiltração, passeios com faixas permeáveis, bacias de retenção, sarjetas gramadas etc.

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FOTOS: ROSSANA MAGRI

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O PROJETO promove apresentações artísticas gratuitas e ao ar livre

SAÍDA PARA TRÂNSITO É RETENÇÃO Uma das maiores queixas dos moradores das grandes cidades está relacionada ao tempo gasto no trânsito para se chegar ao trabalho. Segundo levantamentos feitos em 2013 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 18,6% dos trabalhadores das regiões metropolitanas brasileiras gastavam mais de uma hora por dia apenas no trajeto de ida. Belo Horizonte apareceu em quarto lugar no ranking de tempo médio FUGA DOS congestionamentos: outra proposta sustentável

“O CSul Cultural é um programa de relacionamento com a comunidade que busca levar cultura e arte, transformando a Lagoa dos Ingleses em destino cultural. Pretendemos PAULA GOMIDES DE promover a CASTRO, Comunicação e ocupação artística Relações Sociais da CSul da região, inclusive Desenvolvimento Urbano envolvendo pessoas que habitualmente não frequentam eventos ou ambientes com essas características. As duas primeiras edições contaram com a apresentação de grandes concertos de orquestras como a Orquestra de Ouro Preto e Violoncelos de São Paulo em homenagem ao maestro e compositor mineiro Vilani Cortes.”

de deslocamento casa-trabalho, com 36,6 minutos, atrás somente do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Nada mais natural, portanto, que as pessoas busquem mais qualidade de vida, optando por morar em bairros que articulem espaços públicos adequados, proximidade entre emprego e moradia, conforto, segurança e infraestrutura completa. No quesito mobilidade urbana, o projeto da CSul vem mais uma vez corroborar com o PDDI em relação à sua proposta de melhoria do trânsito, através da criação e fortalecimento de uma nova centralidade metropolitana. Isso porque a proposição de usos diversos contemplados no Projeto da CSul (residência, trabalho, educação, lazer, comércio, serviços) contribuirá muito para a retenção de pessoas neste território, pois seus moradores e usuários conseguirão executar as atividades quotidianas sem grandes deslocamentos. Além disso, a CSul também contribuirá consideravelmente para a retenção dos fluxos pendulares dos municípios do entorno, na medida em que se tornará referência local e regional por oferecer serviços e atividades em todos os setores da vida urbana. Ou seja, a principal contribuição das novas centralidades para a vida metropolitana é a sua capacidade de retenção e redução dos fluxos pendulares, promovendo dessa forma a tão almejada melhoria da qualidade de vida.


Atitudes cidadãs e inovadoras FIQUE POR DENTRO OS 10 PILARES DO PROTOCOLO DE SUSTENTABILIDADE DA CSUL: 1 – Ocupação e Desenho Urbano 2 – Qualidade Ambiental 3 – Ecossistema e Biodiversidade 4 – Mobilidade e Acessibilidade 5 – Gestão de Energia 6 – Gestão de Água 7 – Materiais e Recursos 8 – Gestão de Resíduos 9 – Informação, Comunicação e Tecnologia 10 – Governança e Desenvolvimento Local

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oncebido com base nos mais avançados conceitos de sustentabilidade existentes, o projeto da CSul Desenvolvimento Urbano tem entre seus destaques a criação de um Protocolo de Sustentabilidade que contemplou 10 eixos temáticos. A partir desse protocolo foi desenvolvido um caderno especificamente destinado aos incorporadores e usuários. Esse protocolo contém mais de 100 diretrizes e ações destinadas, por exemplo, a incentivar o reúso de água, a reciclagem de resíduos e a construção de edificações inteligentes. Para a elaboração do documento, foi contratada uma empresa especializada, o Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), de São Paulo, que desde 1990, trabalha desenvolvendo metodologias e tecnologias para a melhoria da gestão das

empresas, dos empreendimentos e das obras, estimulando e promovendo a produtividade, a competitividade, a cultura diferenciada e o crescimento sustentável da cadeia produtiva da construção. O CTE avaliou os principais critérios previstos pelas grandes certificações ambientais mundiais. Entre eles, os sistemas AQUA (Alta Qualidade Ambiental), LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, de certificação e de orientação ambiental para edificações) e o Procel, que promove o uso racional da energia elétrica em edificações, desde a sua fundação. Depois de listados, esses critérios foram “tropicalizados” e adaptados de forma a atender as demandas reais da região e do masterplan da CSul, não se atendo apenas aos aspectos conceituais.

EXEMPLO SUSTENTÁVEL Em outra atitude inovadora, a CSul criou o “Prêmio CSul de Gentileza Urbana”. A premiação será desenvolvida pela União Brasileira de Qualidade (UBQ) e se destina a distinguir e valorizar atitudes de pessoas físicas e jurídicas que contribuam para tornar a vida nas cidades cada dia melhor. Por meio desse prêmio, serão reconhecidos projetos e ações que propiciem um novo olhar sobre os bairros que serão construídos, promovendo a preservação do patrimônio cultural e natural, além de ampliar os conceitos de cidadania e de bem-estar. O objetivo é assegurar que as estratégias ecológicas e de sustentabilidade adotadas pela CSul na implantação do empreendimento sejam mantidas ao longo de toda a sua vida útil.

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PROPOSTA INOVADORA “O Protocolo de Sustentabilidade proposto pela CSul é uma iniciativa inovadora. Visa à criação de uma atmosfera positiva em torno dos temas ambientais em toda a região, nas pessoas e nas empresas que estarão envolvidas no desenvolvimento do projeto. Sua idealização surgiu da necessidade de elevarmos o patamar das discussões e criar uma referência para o Vetor Sul, para que projetos futuros passem a contar com uma espécie de ‘Guia de Boas Práticas’ para se apoiar. O intuito é que os conceitos mais modernos, reais e verdadeiramente aplicáveis no âmbito da sustentabilidade ambiental e urbana possam ser vistos de forma prática e objetiva pelos empreendedores. Os exemplos e aplicações das proposições e tecnologias estão todos lá, prontos para serem usados e aprimorados. No protocolo, as 10 categorias propostas se expandem em mais de 100 diretrizes específicas, todas elas desenvolvidas com exemplos práticos para aplicação no planejamento, na construção, no nível do bairro e nas edificações. No quesito “Governança e Desenvolvimento”, por exemplo, a própria CSul formalizou junto aos estudos ambientais a sua proposta, por meio de um Programa de Monitoramento dos Indicadores

de Sustentabilidade. Com isso, contribuirá para que as ações contidas no protocolo possam ser devidamente registradas e reportadas aos interessados. Quando o protocolo estiver interiorizado pelas pessoas e pelas empresas, as discussões começarão a se dar em torno dessas opções e não mais da falta delas. Algo semelhante ao que ocorreu no combate ao cigarro e na exigência de uso do cinto de segurança. Tempos atrás, era normal fumar em restaurantes e em outros locais fechados e também dirigir nas cidades e viajar sem o cinto de segurança. Hoje, todos nós consideramos absurda qualquer uma dessas situações. O objetivo do Protocolo de Sustentabilidade é exatamente o mesmo. Criar uma nova cultura onde a falta de critérios e de parâmetros ambientais bem estabelecidos passe a ser um fator de perda de atratividade e também de competitividade de um determinado empreendimento.”

THIAGO METZKER, consultor da CSul, biólogo pela Ufop, mestre e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela UFMG e sócio da Myr Projetos Sustentáveis.

Vetor Sul ganhará área verde A proposta de criar uma unidade de conservação (UC) na Serra da Moeda surgiu antes mesmo de se definir um projeto urbanístico para a área do empreendimento da CSul Desenvolvimento Urbano. “Tivemos a oportunidade de desenvolver um estudo denominado ‘Macroavaliação Ambiental e Urbana’, por meio do qual mapeamos previamente todo o terreno”, explica o biólogo Thiago Metzker, consultor da CSul e sócio da Myr Projetos Sustentáveis.

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Esse mapeamento considerou os principais ativos ambientais existentes, tais como os fragmentos de Mata Atlântica, as áreas de proteção de cavidades naturais, as áreas de preservação permanente (APPs), entre outros. Também foram feitas análises relacionadas aos aspectos legais. Após todos esses estudos e sobreposições foram gerados dois grandes layers (estratos, camadas) para o processo. O layer destinado ao projeto de urbanização

propriamente dito, com os locais mais apropriados a receber a infraestrura urbanística, e o de áreas destinadas à conservação, com os principais ativos ambientais do terreno, somados às áreas destinadas à conectividade da paisagem. “Foi nesse momento que nasceu a proposta de criação de uma RPPN na Serra da Moeda, com 317 hectares. Com a definição dessas vocações, foi dado início ao projeto urbanístico desenvolvido pelo escritório do Jaime Lerner, que imediata-


mente abraçou a proposta da RPPN, inserindo-a no contexto da integração urbana da paisagem”, frisa Metzker, que também é mestre e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela UFMG. MEDIDA ANTECIPATÓRIA Segundo o consultor, a CSul está propondo a criação da RPPN como uma “partida”, e não ao contrário: como uma “contrapartida” ao empreendimento, como geralmente costuma ocorrer nos processos em geral. “Trata-se na verdade de uma medida antecipatória, e não compensatória. A RPPN está proposta nos estudos ambientais feitos pela Myr e já protocolados na Superintendência Regional de Regularização Ambiental (Supram Central Metropolitana). Uma iniciativa voluntária e inovadora destinada a assegurar a conservação e fomentar o turismo de alta eficiência nessa área, por meio da elaboração e execução de um bom plano de manejo.” Um dos objetivos primordiais da nova RPPN é o fortalecimento do Sistema de Áreas Protegidas do

A criação da RPPN se justifica pela vocação que toda a região tem para o desenvolvimento de atividades ligadas aos diferentes eixos do turismo Vetor Sul, o SAP Vetor Sul. Seu objetivo é consolidar a conectividade da paisagem nas áreas de relevância ambiental de todo o conjunto cultural, paisagístico e ambiental da Serra da Moeda. Nesse conjunto, a conexão da paisagem se fará pela ligação que faltava nesse mosaico de UCs, interligando o Monumento Natural (Mona) da Serra da Moeda ao complexo formado pelo Mona Serra da Calçada, Parque Estadual da Serra do Rola Moça e Mona Mãe d’Água, na vertente de Brumadinho. Além do alto potencial de conectividade da paisagem, a criação da RPPN também se justifica pela vocação que toda a região tem para o desenvolvimento de atividades ligadas aos diferentes

FOTOS: DIVULGAÇÃO CSUL

MAPA do empreendimento destaca o local em que será criada a RPPN da Serra da Moeda: 317 hectares preservados

eixos do turismo (ecoturismo, turismo histórico, de aventura, cultural e o de observação da fauna e flora), além, é claro, de atividades também ligadas à área de pesquisa científica. “O potencial de alcance será enorme, pois essa RPPN fica numa esquina privilegiada. Próxima tanto da região dos Inconfidentes (Ouro Preto, Mariana e Itabirito), quanto do Instituto Inhotim, em Brumadinho; e ainda com acesso direto, pela BR-040 no sentido Rio de Janeiro, aos municípios de Moeda, Congonhas e Conselheiro Lafaiete.” NOVA IDENTIDADE Outras atividades, tais como o passeio em trilhas (esportivas e interpretativas), a valorização da gastronomia da região, os aspectos históricos e culturais, bem como de patrimônio material e imaterial, também são de extremo valor para a potencialização do turismo e o envolvimento das comunidades locais. No formato em que está sendo planejada, a RPPN permitirá a criação, consolidação e o fortalecimento da identidade ambiental/ cultural dessa região.

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Segundo Thiago Metzker, as pessoas devem se apropriar ao máximo desses espaços. Afinal, ao conhecer suas belezas naturais, a expressividade de suas paisagens e a sua importância para a conservação, elas mesmas farão questão de tomar conta deles. “Vão querer se tornar as suas guardiãs, ajudando a preservá-los e, principalmente, participarão coletivamente das decisões relativas ao seu manejo e uso futuro.” Para o biólogo, essa é uma das melhores formas de promover a conservação de áreas periurbanas. “O formato de parques e de UCs é comum no mundo todo. Sempre que viajamos, qual é a primeira coisa que costumamos fazer ao chegar numa determinada cidade? Procurar informações sobre áreas com belas vistas, natureza exuberante, histórias e relíquias para visitar... Essa é a proposta da RPPN. Ser uma referência para a região metropolitana. E por que não para o Brasil?”  SAIBA MAIS csullagoadosingleses.com.br

INTEGRAÇÃO SUSTENTÁVEL “O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PDDI) prevê a reorganização territorial para a redução das desigualdades socioespaciais. Um de seus objetivos é fortalecer uma rede de centralidades ampliada, passando de uma estrutura monocêntrica – com BH exercendo o papel principal de polarizador metropolitano – para uma estrutura policêntrica, com várias centralidades e polos de vizinhança distribuídos pelo território. Nesse contexto de planejamento integrado, a Centralidade Sul se destaca como um território capaz de reunir oportunidades de trabalho, comércio, moradia, lazer, cultura, serviços públicos e privados, bem como de preservação ambiental, de forma inclusiva e para todos os segmentos da sociedade. Isso marca uma mudança no modelo de ocupação do Vetor Sul. Notadamente em relação aos condomínios unifamiliares, que atualmente são desconectados das oportunidades de trabalho, fazendo com que seus moradores percam parte significativa da jornada de trabalho no chamado movimento pendular casa-trabalho-casa. Com a consolidação das novas centralidades, as distâncias devem ser reduzidas, com moradia, trabalho, acesso aos serviços etc., tudo junto. Dessa forma, o projeto da CSul, pioneiro no planejamento de longo prazo, incorpora o compromisso com a sustentabilidade e a diversidade, aderindo ao planejamento integrado metropolitano e ao mesmo tempo catalisando o processo de consolidação da Centralidade Sul.”

FOTO: ECOLOGICO

Sérgio Myssior, arquiteto e urbanista, sócio da Myr Projetos Sustentáveis, conselheiro da Revista Ecológico e comentarista do programa “Mais BH”, da Rádio CBN.

ALÉM de propor um novo modelo sustentável de desenvolvimento para a região da Lagoa dos Ingleses, a CSul criará uma Unidade de Conservação na Serra da Moeda, em conectividade com a Serra da Calçada e o Parque Estadual do Rola Moça

FOTO: DIVULGAÇÃO CSUL

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CÉU DO MUNDO EXEMPLO DINAMARQUÊS

FOTO: BRUNO LEIVAS

MULTAS POR POLUIÇÃO

Pequim, capital da China, arrecadou 100 milhões de yuan (mais de R$ 60 milhões) nos últimos nove meses em multas aplicadas por violação de normas ambientais. O valor é o dobro do recolhido no mesmo período em 2014. As autoridades investigaram 2.492 casos envolvendo poluição da água e do ar, além de projetos de construção que não cumpriram as regras.

PASSAPORTE VERDE PREFERÊNCIA SUSTENTÁVEL

O Brasil aparece no topo do ranking de uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria PwC sobre serviços e produtos oferecidos por empresas que trabalham alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Cerca de 95% dos entrevistados, incluindo executivos e empresários, afirmaram que preferem empresas que defendem os ODS e têm ações para melhorar a vida de todos no planeta. Índia (87%), Argentina (86%), China (85%) e África do Sul (85%) completam o top 5 do ranking. 86  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

FOTO: JELTOVSKI)

Atualmente, a Dinamarca já é considerado o país com maior amplitude em comércio de produtos orgânicos. E pretende avançar ainda mais: a meta do governo é duplicar a quantidade atual de terra cultivada organicamente nos próximos cinco anos, estimulando a demanda para esse tipo de produto. O país pretende abastecer instituições de ensino, cantinas e hospitais com 60% de alimentos orgânicos. E cursos de nutrição, alimentação saudável e agricultura natural serão incluídos no currículo escolar.

O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançaram este mês, na Cidade Maravilhosa, a campanha “Passaporte Verde”. O objetivo é incentivar o turismo responsável por meio de ideias simples, propostas de experiências autênticas e valorização das boas práticas. Para isso, está à disposição dos interessados uma plataforma online que propõe aos turistas dicas sobre como causar menos impacto ambiental durante sua visita e escolher roteiros sustentáveis no Rio de Janeiro.


FOTO: BRUNO LEIVAS

FOTO: JELTOVSKI)

FOTO: EDSON RODRIGUES / AGECOPA

O ESTADO DO FUTURO

Foi lançada a mais nova edição do relatório global “O Estado do Futuro 2015/2016”. Elaborado pelo Projeto Millenium e o Núcleo de Estudos do Futuro (NEF) da PUC-SP, o documento faz uma análise de 15 desafios globais e traz as tendências mundiais com base em 28 indicadores de progresso e de retrocesso. Entre as descobertas-chave do estudo, estão a segurança ambiental como foco de metas conjuntas para construir confiança estratégica entre os EUA e a China; e a que, em 2050, serão necessários novos sistemas de alimentação, água, energia, educação, saúde, economia e governança global para evitar desastres ambientais e humanos de grande dimensão.

COALIZÃO VERDE

Dezenove investidores com mais de 625 bilhões de euros em ativos sob sua gestão escreveram para 11 grandes empresas de veículos para exigir melhorias nos relatórios sobre suas intervenções em políticas públicas de normas de emissões. A iniciativa surge no momento do escândalo em que a Volkswagen foi acusada de utilizar um software para fraudar testes de emissões e qualidade do ar. Entre os signatários das cartas estão AXA Investment Managers, os fundos de pensão Suecos AP2, AP3, AP4, AP7 e Agência do Ambiente e o WHEB Group.

Vida para as populações locais e para a biodiversidade. As áreas preservadas pela CENIBRA abrigam mais de 4.500 nascentes que fornecem água limpa para a fauna, flora e para uso das comunidades situadas próximas às propriedades da Empresa. MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO  73


FOTO: DIVULGAÇÃO

1 EDUCAÇÃO

MOBILIZAÇÃO PELA

MELHORIA DO ENSINO Movimento Conspiração Mineira pela Educação comemora nove anos de existência e se mantém firme no compromisso de contribuir para que a sociedade possa se orgulhar das suas escolas públicas Bia Fonte Nova

redacao@revistaecologico.com.br

Q

uase um milhão de alunos beneficiados e a certeza de que – com a união de todos – é possível contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e resgatar a autoestima das escolas públicas de Minas Gerais. É amparado nesse alcance e com essa convicção que o movimento Conspiração Mineira pela Educação, iniciado em 2006, segue ampliando as suas articulações e parcerias no estado. Ao longo dos seus nove anos de existência, a Conspiração

vem ajudando a construir um futuro melhor e mais promissor para os estudantes, além de capacitar e apoiar diretores e professores, incentivando tanto o aperfeiçoamento do ensino quanto a boa convivência no ambiente escolar. O idealizador e presidente do movimento é o professor Evando Neiva, cofundador do Grupo Pitágoras, hoje Kroton, maior empresa educacional do mundo no mercado de ações. Ele destaca a importância de fortalecer essa aliança intersetorial que – de for-

ma voluntária e apartidária – une parceiros do poder público, das empresas e de instituições sem fins lucrativos. Presente em diferentes regiões de Minas, a Conspiração estende as mãos às escolas, compartilha conhecimento e aponta os melhores caminhos para o aperfeiçoamento da gestão escolar. E o melhor, faz tudo isso sem cobrar um único centavo pelo trabalho. Confira, a seguir, o relato de Neiva sobre algumas conquistas desse vitorioso movimento:

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FOTO: RAFAEL L. G. MOTTA

FOTO: DIVULGAÇÃO

QUEM É

ELE

Evando Neiva é graduado em Engenharia Elétrica pela UFMG, onde também trabalhou como professor de Física. Mestre em Liderança em Educação pela Universidade de San Francisco, na Califórnia, é presidente do Conselho Empresarial de Educação da ACMinas e integra a Diretoria de Educação da Federação Mineira de Fundações e Associações de Direito Privado (Fundamig). É autor/organizador do livro “Lições da Conspiração – Caminhos para a Qualidade das Escolas Públicas”.

ORIGEM  “A Conspiração Mineira pela Educação teve início em agosto de 2006, quando fomos convidados pelo então presidente da Associação Comercial de Minas (ACMinas), dr. Charles Lofti, para criar uma diretoria de educação na entidade, com o propósito de encontrar formas de colaboração dos empresários na melhoria da educação pública. Simultaneamente, dr. Cássio Resende, na época presidente da Federação das Fundações de Minas Gerais (Fundamig), nos faz o mesmo convite com o propósito semelhante: buscar estratégias de contribuição das entidades do 3º setor para a qualidade da educação pública.” “O grande diferencial do movimento é que, ao longo desses nove anos, conseguimos unir as três vertentes: poder público (1º setor), empresas (2º setor) e instituições sem fins lucrativos (3º setor), formando uma aliança intersetorial em prol do ensino de qualidade para todos.” 

“Atuamos em parceria com as secretarias estadual e municipais de Educação, totalizando 1.185 escolas atendidas, em diferentes regiões mineiras. Todo o trabalho

“A escola só é boa quando o aluno aprende. E a liderança do diretor é fator decisivo para termos escolas de qualidade. Esses são alguns valores que constam na nossa 'Carta do Caminho'.” EVANDO NEIVA, presidente do Movimento

é feito sem qualquer custo, sem cobrar um único centavo do estado ou municípios.” DIRETOR É PROTAGONISTA  “Acreditamos que a escola só é boa quando o aluno aprende; e que a liderança do diretor é fator decisivo para termos escolas de qualidade. Esses são alguns dos valores que constam da nossa ‘Carta do Caminho’, um documento que criamos junto com a Conspiração.” “Tenho 50 anos de experiência como educador, e se tem algo que aprendi ao longo da vida é que fortalecer a liderança dos diretores é absolutamente essencial. Por isso, organizamos fóruns mensais para orientá-los e capacitá-los. Se o diretor for bola murcha, a escola dele também será. Mas ao contrário, se ele tiver energia e capacidade de interação, pode fazer verdadeiros milagres. O ambiente escolar tem a

TRECHOS DA CARTA DO CAMINHO A

escola só é boa quando o aluno aprende.

 Boas

escolas têm metas e prioridades claras, realistas e compartilhadas por todos.

A

boa gestão e a criação de um clima escolar positivo e estimulante são indispensáveis para a aprendizagem.

A

liderança do diretor é fator crítico para a escola de qualidade.

A

aferição sistemática do aprendizado, por meio de avaliação externa, nos permite entender as falhas, atuar para melhorar, cobrar resultados e premiar os êxitos.

O

centro de gravidade da Conspiração é o aluno. Se não chegar à sala de aula, o Movimento não chegou a lugar algum, perdendo a razão de existir.

A

educação de qualidade é a ponte para a travessia do país que temos para o país com que sonhamos.

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1 EDUCAÇÃO cara do seu diretor: pulsa e acompanha a sua força de liderança.” “Nesses fóruns, promovemos palestras, reflexões e treinamentos. Também incentivamos a troca de experiências pedagógicas e de exemplos bem-sucedidos de relacionamento com as comunidades vizinhas às escolas. Mesmo com as dificuldades crescentes que enfrentam – diante do aumento da violência, dos problemas causados pelas drogas – muitas escolas estão se superando e apresentando ótimos resultados (leia depoimentos a seguir).”

EDUCAÇÃO FINANCEIRA “Em parceria com o Bradesco, levamos orientações sobre educação financeira a milhares de estudantes, sobretudo do ensino médio. Essa é uma iniciativa de grande valor, pois permite que o jovem aprenda, de forma prática – por meio de conceitos, textos etc. – a fazer contas e a planejar a sua vida financeira. Eles adquirem um conhecimento que pode ser, inclusive, estendido às suas famílias.” 

 “Nas comunidades mais carentes, a maioria dos jovens conse-

gue o seu primeiro emprego em funções simples. E mesmo ganhando pouco, a primeira coisa que costumam fazer é contrair dívidas, comprar à prestação e arranjar um cartão de crédito. Portanto, levar noções sobre controle e planejamento é essencial para que eles tenham uma convivência mais equilibrada com o dinheiro e alcancem a sua independência financeira mais cedo.” TECNOLOGIA COMO ALIADA  “Também acreditamos no uso das novas tecnologias como aliadas do processo de aprendizagem. Em vez de permitir que os alunos se distraiam com celulares e tablets, a ideia é usar essas novas plataformas para ampliar e diversificar as formas de estudo e de fixação dos conteúdos.”  “Um exemplo é o uso do aplicativo AppProva, desenvolvido por uma startup de jovens empreendedores aqui de Minas. Por meio dele, usando um smartphone ou tablet, o aluno acessa um programa e resolve questões simuladas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Enem avalia o desempenho do estudante ao fim

FÓRUNS REALIZADOS 145 (455 h de capacitação) Metropolitana A (Regionais/ BH Centro Sul e Nordeste); Metropolitana B (14 municípios); Metropolitana C (Regionais/BH Norte, Pampulha e Venda Nova); Pedro Leopoldo; Santa Luzia; Vespasiano, Lagoa Santa, São José da Lapa e Confins; Nova Era (15 municípios); Montes Claros; Ribeirão das Neves

ESCOLAS ATENDIDAS 1.185 621 estaduais 564 municipais

ALUNOS

1 milhão

da escolaridade básica e é usado como critério de seleção para aqueles que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (Prouni).” “Esse aplicativo é aprendizagem na veia: o aluno resolve a questão e, dependendo da resposta que dá, recebe orientações sobre os conteúdos nos quais precisa se aprofundar. O estudante pode se preparar sozinho, aumentando as suas chances de ingressar numa universidade pública ou de obter financiamentos, como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).”

 “Trabalhamos ainda com a Khan Academy (disponibilizada pela Fundação Lemann) – uma plataforma virtual usada no mundo inteiro, que traz mais de 300 mil exercícios interativos e videoaulas gratuitos de matemática. Ela permite que o aluno aprenda no seu próprio ritmo e compense as suas deficiências, quaisquer que sejam elas, nos mais diferentes níveis.”

PROPÓSITO COMUM  “Apesar de gigantesco e desafiador, o propósito de contribuir para a melhoria da escola pública tem grande convergência. Graças a isso, a Conspiração tem se tornado cada dia mais forte e abrangente. Em agosto de 2015, por exemplo, criamos o Conselho Empresarial de Educação da ACMinas, a convite de seu atual presidente, Lindolfo Paoliello.” “O objetivo é promover fóruns de empresários para identificar ações já desenvolvidas ou que poderão ser adotadas para apoiar as escolas vizinhas às empresas associadas. Queremos incentivar que a parceria empresa-escola se dê na maior escala possível.”

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MAIS AUTOESTIMA “Poucos se dão conta, mas não se trata de oferecer ajuda financeira. Mas sim apoio moral, incentivo para que as escolas resgatem a sua autoestima. O empresário é que deve tomar a iniciativa de procurar o diretor da instituição que fica ao seu lado, seja ela estadual ou municipal. E se oferecer como apoiador de projetos que fortaleçam toda a comunidade escolar, melhorando tanto o processo de aprendizagem quanto o clima de convivência. É disso que as escolas precisam e esse será o foco do nosso trabalho na ACMinas.”

BONS EXEMPLOS “Também é importante noticiar e divulgar as inúmeras iniciativas positivas que vêm sendo feitas pelas escolas mineiras. Nós, da Conspiração, conhecemos experiências notáveis de instituições que se uniram à comunidade e, graças à liderança de seu diretor, conseguiram resolver problemas seríssimos ligados ao uso de droga e à violência no ambiente escolar, por exemplo. A proposta é exatamente virar esse jogo, mostrando os exemplos que estão dando certo, para que toda a sociedade possa se orgulhar das nossas escolas públicas.”

DEPOIMENTOS “A nossa avaliação da parceria com a Conspiração Mineira, iniciada em 2010, é muito positiva. Temos 1.334 alunos, distribuídos em três turnos, e a nossa escola é reconhecida em toda a rede estadual pelos bons resultados apresentados. Felizmente, hoje nós já alcançamos a meta do IDEB (*) prevista para 2021: temos a média de 7.0 nas séries iniciais e de 5.7 nas séries finais. No ensino médio, também temos destaque no Enem, além de diversos trabalhos com foco no empreendedorismo, na arte e na cultura.”

FOTOS: DIVULGAÇÃO

“A ideia de que a educação é obrigação só dos governos é ultrapassada. Se o empresário seguir pensando que essa não é a sua praia, passará o resto da vida lamuriando por não conseguir recrutar bons profissionais. Funcionários que saibam ler, escrever, fazer contas e, portanto, capacitados a entender manuais e usar as novas tecnologias.”

Eliani França, diretora da E.E. Padre João Botelho, Bairro Novo das Indústrias – BH

“Os fóruns de diretores são momentos muito enriquecedores para todos os educadores e parceiros da Conspiração. Durante os encontros, há uma grande troca de experiências, por meio de palestras, apresentações e reflexões sobre os diferentes temas educacionais propostos. É muito gratificante. Sinto que estamos construindo juntos uma rede colaborativa para que as escolas aprimorem a sua gestão e os alunos sejam os maiores beneficiados.” Ellen Grace Santos Félix, coordenadora do Fórum de Diretores de Santa Luzia – MG

DIGNA VIDA “Somos, ainda, parceiros da Ação Conjunta Digna Vida. Articulada pela Ouvidoria Geral do Estado (OGE), juntamente com a

(*) IDEB: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – varia de zero a dez e avalia a qualidade do ensino de cada escola e de cada cidade. É calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do MEC (Prova Brasil), taxas de aprovação e fluxo escolar.

Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds); a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes); a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede); a Secretaria de Estado de Educação (SEE); a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O objetivo é promover a capacitação no ambiente prisional para que, após cumprirem sua pena, os detentos tenham mais chances de se reintegrarem à so-

ciedade, reduzindo o risco de reincidência no crime.” “O Digna Vida pode ser uma semente de mudança para o nosso país na medida em que para muitos detentos (inúmeros jovens/adultos) é de fato a primeira oportunidade (educacional) de suas vidas. Haverá ação mais digna do que essa?”  

SAIBA MAIS www.facebook.com/ cmpeducacao www.pitagoras.com.br OUTUBRO DE 2015 | ECOLÓGICO  91

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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

ANGICO BÃO O

FOTO: MARCOS GUIÃO

barulho das chinelas se arrastando pelo casarão de piso de tábuas sinalizava que dona Lindaura estava na lida com alguma demanda. Provavelmente, isso advinda da visita discreta chegada há pouco, que apesar de sinalizada pela cachorrada, se estancou no reconhecimento de alguém conhecido na casa. Num dilatou minutos e dona Linda deu de revirar o armário de remédios guardado zelosamente por seu companheiro Chico da Mata. Esticado na rede, eu já tava fadigado de esperar pelo amigo e resolvi buscar informação dos ocorridos recentes, pois aquela espera já tava me aperreando. Dei a volta na varanda e entrei com passo manso pra acompanhar o encaminhamento da demanda. Da entrada da porta fiquei observando o rosto sereno de dona Linda, apesar de castigado pelo sol de

ANGICO (Anadenanthera falcata)

muitas lavouras plantadas, colhidas e levadas até as panelas pra matar a fome de muitos. Seus olhos negros e vivos nada perdem ao observar o outro e suas pequenas orelhas ornadas por pequenos brincos de ouro incrustrados em coco, a tudo escutam sem julgamento. “Podemo criticar ninguém não, todo mundo tá tentando fazê o mió que dá conta, meu fio.” Com essa percepção, dona Linda tem um jeito todo diferençado pra cuidar da saúde alheia, ouvindo muito e falando no coração do vivente. De pronto, já me deu a ficha de Marinalva, moça que desde menina trabalhara com ela na fazenda, agora casada e com filhos miúdos, tava procurando recurso pra cessar uma gripe acompanhada de tosse rebelde do filho mais novo. “Num sei onde Chico guardou as cascas de angico (Anadenanthera falcata). Tava por aqui inda agorinha...” De repente, seu rosto se iluminou e depois de levar a mão dentro de uma caixa de papelão, trouxe de lá um amarradinho de cascas avermelhadas juntamente com um saco repleto de resinas. Imediatamente ela se encaminhou pra cozinha, chamou pela amiga pra se sentar ao seu lado e com amabilidade deu de discorrer sobre como usar o angico: “Pois oia minha fia, faça lá na sua casa um xarope igualim aqueles muitos que já fizemos juntas aqui nessa conzinha. Ajunte um bocado de folhas de guaco que você tem plantado em sua casa com essas cascas de angico num meladinho. Deus e esse remédio vão derrubá a gripe de seu menino.” “Aqui vai tamém um bocadinho de resina de angico pra oce fazê ‘biscoito fofo’ pros menino, tá bão?” Minha cara de desentendido foi tamanha que dona Linda correu os olhos em mim e com paciência me esperou buscar uma folha de papel pra anotar a seguinte receita, que agora passo pra frente: das resinas separam-se os pedacinhos menores, que são colocados sobre a chapa quente do fogão a lenha. Elas crescem “bastantinho e você deve de revirar esse biscoito que vai se formando, até ele triplicar de tamanho”. Ela ainda me disse que pode só colocar as resinas dentro de uma bandeja no forno quente, que ele cresce do mesmo jeito “só que num carece de revirar o biscoito não... Tendeu?”  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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VIVA A INFORMAÇÃO


FOTO: NOAH BERGER / REUTERS

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS

NÃO AO FOGO! Todos nós temos papel fundamental na preservação dos recursos naturais. Não promover incêndios nas matas garante florestas em pé e é essencial para a manutenção da água nos nossos rios Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

D

mais silvestres; e problemas de saúde na população, como doenças respiratórias e intoxicação. Em períodos de tempo seco, baixa umidade do ar e altas temperaturas, grande parte delas uma consequência das mudanças climáticas provocadas pelo homem, é cada vez mais comum ver o verde que cobre nossas montanhas e vales ser substituído pelas chamas. E isso vem contribuindo bastante para a permanência do Brasil na lista dos países que mais emitem gases de efeito estufa no planeta. Para se ter ideia, apenas de janeiro a julho deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de incêndio cresceu em cinco dos oitos estados que integram o bioma amazônico. No Acre e no Amazonas, especificamente, em comparação ao mesmo período de 2014, o núme-

FOTO: CARTILHA FOGO / DNIT

esde a sua descoberta pelo homem na pré-história, o fogo foi essencial para o progresso da humanidade. Com ele, foi possível fabricar ferramentas, veículos, equipamentos, produzir utensílios como latas, panelas e vidros, e, ainda, utilizá-lo para o preparo de alimentos. Apesar de sua importância para a evolução e o cotidiano do ser humano, vale lembrar que nem sempre o fogo representa ou pode ser aplicado para o bem. É o caso dos incêndios florestais, que provocam vários prejuízos socioambientais, culturais e econômicos, incluindo danos irreversíveis à fauna e à flora. Entre as consequências, estão a destruição de pastagens e plantações, que podem atingir galpões, instalações rurais e até cidades; empobrecimento do solo, provocando erosão e aterramento de cursos d’água; morte de ani-

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FOTO: JMANJEOT

DE JANEIRO a outubro deste ano, foram registrados mais de 171 mil focos de incêndio no Brasil

FIQUE POR DENTRO FATORES DE RISCO 1) Jogar qualquer material feito de vidro em áreas de florestas e beiras de estradas. Ele funciona como lente de aumento para os raios solares, gerando calor. 2) Realizar queima controlada nas práticas agrícolas sem seguir as orientações dos órgãos ambientais (leia mais a seguir).

FOTO: CARTILHA FOGO / DNIT

3) Fogo criminoso, colocado intencionalmente para destruir a vegetação.

ro de focos aumentou em até 70%. Recentemente, no Maranhão, a terra indígena Arariboia, que abriga mais de 5,3 mil índios das etnias Tentehar/Guajajara, viveu situação semelhante. No último monitoramento feito pelo Inpe, foram registrados 445 focos na região, que devastaram 100 mil hectares de florestas. Outro dado impressionante também aconteceu este mês. Até o dia 18, os dez municípios brasileiros com maior número de focos de incêndio (São Félix do Xingu/PA; Parnágua/PI; Amarante do Maranhão/MA; Barra/BA; Formoso do Araguaia/TO; Cocalinho/MT; Morro Cabeça no Tempo/PI; Lagoa da Confusão/TO; Barra da Corda/MA; e Formosa do Rio Preto/BA) registraram mais de 2.800 pontos de fogo. A maior parte deles foram no Cerrado (46,9%) e na Amazônia (36,1%). Nos Estados Unidos, a situação também não é boa. Desde o começo do ano, quase três milhões de hectares já foram devastados pelo fogo. Foram mais de 41 mil focos de incêndio em apenas dez estados, o maior registro das últimas duas décadas. Mas quais são as principais causas dos incêndios que assolam as nossas florestas? De acordo com a cartilha “Fogo. Melhor Prevenir que apagar incêndios”, elaborada pela Fundação BioRio e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a lista

de situações é imensa (veja box) e inclui, principalmente, atear fogo de forma criminosa, uma das mais frequentes formas de destruição da flora e da fauna hoje. No Brasil, a legislação é severa ao punir quem pratica tal crime. A Lei dos Crimes Ambientais (9.605/98), prevê a prisão de dois a quatro anos, mais multa, para os responsáveis em provocar incêndios em matas ou florestas. Os valores a serem pagos podem atingir até R$ 6.000 por hectare e, em alguns casos, por exemplo, quando afetarem Unidades de Conservação (UCs), podem ter o valor dobrado. PREVENÇÃO É A CHAVE O papel dos brigadistas florestais no controle dos incêndios é necessária e louvável. Eles também são importantes para promover a educação ambiental, disseminando campanhas de prevenção em escolas, rodovias e outros pontos estratégicos. Nas Unidades de Conservação (UCs), eles desenvolvem ações para minimizar as ocorrências de incêndios, desde a construção e manutenção de aceiros, até operação de sistemas de vigilância e detecção, monitoramento terrestre e um trabalho permanente de conscientização ambiental da população do entorno dessas áreas. Em sua maioria, grande parte dos brigadistas são bombeiros ou voluntários. Todos são especificamente treinados para atuar nessas

4) Acender fogueiras próximas ou nas matas. As faíscas podem ser levadas pelo vento. 5) Soltar balões, que já é crime ambiental. 6) Queimar lixo sem precaução. 7) Fagulhas de churrasqueiras ou braseiros acesos. 8) Velas utilizadas em rituais religiosos realizados em área verde. 9) Permitir que crianças brinquem com fogo perto de vegetação rasteira. 10) Jogar bitucas de cigarro na beira de estradas.

situações de emergência. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por exemplo, mantém cursos para aqueles que querem atuar na prevenção do fogo em nossas matas. Neles, são aprendidas, entre outras coisas, noções de ecologia, comportamento do fogo, tipos de incêndio (subterrâneo, em raízes ou turfas; superficial, que propaga na vegetação sobre o solo; e o aéreo, na copa das árvores) e normas de segurança. Infelizmente, o contingente hoje ainda é pequeno para combater a quantidade de focos, mas várias empresas e ONGs vêm criando, por meio de parceria, brigadas voluntárias para ação localizada. Mas o ideal é que todos nós estejamos conscientes de que fogo, principalmente nas florestas, não é brincadeira!

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FOTO: JMANJEOT

DE JANEIRO a outubro deste ano, foram registrados mais de 171 mil focos de incêndio no Brasil

FIQUE POR DENTRO FATORES DE RISCO

1) Jogar qualquer material feito de vidro em áreas de florestas e beiras de estradas. Ele funciona como lente de aumento para os raios solares, gerando calor.

FOTO: CARTILHA FOGO / DNIT

2) Realizar queima controlada nas práticas agrícolas sem seguir as orientações dos órgãos ambientais (leia mais a seguir).

ro de focos aumentou em até 70%. Recentemente, no Maranhão, a terra indígena Arariboia, que abriga mais de 5,3 mil índios das etnias Tentehar/Guajajara, viveu situação semelhante. No último monitoramento feito pelo Inpe, foram registrados 445 focos na região, que devastaram 100 mil hectares de florestas. Outro dado impressionante também aconteceu este mês. Até o dia 18, os dez municípios brasileiros com maior número de focos de incêndio (São Félix do Xingu/PA; Parnágua/PI; Amarante do Maranhão/MA; Barra/BA; Formoso do Araguaia/TO; Cocalinho/MT; Morro Cabeça no Tempo/PI; Lagoa da Confusão/TO; Barra da Corda/MA; e Formosa do Rio Preto/BA) registraram mais de 2.800 pontos de fogo. A maior parte deles foram no Cerrado (46,9%) e na Amazônia (36,1%). Nos Estados Unidos, a situação também não é boa. Desde o começo do ano, quase três milhões de hectares já foram devastados pelo fogo. Foram mais de 41 mil focos de incêndio em apenas dez estados, o maior registro das últimas duas décadas. Mas quais são as principais causas dos incêndios que assolam as nossas florestas? De acordo com a cartilha “Fogo. Melhor Prevenir que apagar incêndios”, elaborada pela Fundação BioRio e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a lista

de situações é imensa (veja box) e inclui, principalmente, atear fogo de forma criminosa, uma das mais frequentes formas de destruição da flora e da fauna hoje. No Brasil, a legislação é severa ao punir quem pratica tal crime. A Lei dos Crimes Ambientais (9.605/98), prevê a prisão de dois a quatro anos, mais multa, para os responsáveis em provocar incêndios em matas ou florestas. Os valores a serem pagos podem atingir até R$ 6.000 por hectare e, em alguns casos, por exemplo, quando afetarem Unidades de Conservação (UCs), podem ter o valor dobrado. PREVENÇÃO É A CHAVE O papel dos brigadistas florestais no controle dos incêndios é necessária e louvável. Eles também são importantes para promover a educação ambiental, disseminando campanhas de prevenção em escolas, rodovias e outros pontos estratégicos. Nas Unidades de Conservação (UCs), eles desenvolvem ações para minimizar as ocorrências de incêndios, desde a construção e manutenção de aceiros, até operação de sistemas de vigilância e detecção, monitoramento terrestre e um trabalho permanente de conscientização ambiental da população do entorno dessas áreas. Em sua maioria, grande parte dos brigadistas são bombeiros ou voluntários. Todos são especificamente treinados para atuar nessas

3) Fogo criminoso, colocado intencionalmente para destruir a vegetação. 4) Acender fogueiras próximas ou nas matas. As faíscas podem ser levadas pelo vento. 5) Soltar balões, que já é crime ambiental. 6) Queimar lixo sem precaução. 7) Fagulhas de churrasqueiras ou braseiros acesos. 8) Velas utilizadas em rituais religiosos realizados em área verde. 9) Permitir que crianças brinquem com fogo perto de vegetação rasteira. 10) Jogar bitucas de cigarro na beira de estradas.

situações de emergência. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por exemplo, mantém cursos para aqueles que querem atuar na prevenção do fogo em nossas matas. Neles, são aprendidas, entre outras coisas, noções de ecologia, comportamento do fogo, tipos de incêndio (subterrâneo, em raízes ou turfas; superficial, que propaga na vegetação sobre o solo; e o aéreo, na copa das árvores) e normas de segurança. Infelizmente, o contingente hoje ainda é pequeno para combater a quantidade de focos, mas várias empresas e ONGs vêm criando, por meio de parceria, brigadas voluntárias para ação localizada. Mas o ideal é que todos nós estejamos conscientes de que fogo, principalmente nas florestas, não é brincadeira!

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Parabéns, você chegou ao final da trilha. Você venceu e a natureza agradece!

PENALIDADES

PARADA

5 Fogo não "limpa" terreno, só 22 A fumaça reduz a visibilidade 25 Incêndios florestais e as queimadas poluem o ar. do transporte aéreo e terrestre, empobrece o solo, polui o ar, Fique 1 rodada sem jogar. podendo provocar acidentes. prejudica a saúde e muda o Volte 2 casas. clima. Volte 1 casa. CRÉDITO 12 Soltar balões pode causar 30 Plantas e animais morrem por causa dos incêndios florestais. incêndios e é crime ambiental. Volte 3 casas. (Lei 9.605/98). Volte 3 casas. 17 A fumaça resultante das 35 Os incêndios florestais contribuem para as mudanças queimadas e incêndios climáticas (tempestades, secas, florestais prejudica a saúde inundacões etc). Volte 3 casas. humana. Volte 1 casa.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS

Queima controlada Segundo o Código Florestal, a queima controlada pode ser utilizada como fator de produção e de manejo em atividades agropastoris ou florestais e para fins de pesquisa científica e tecnológica. No entanto, a área onde a queima será realizada deve ter li-

mites físicos previamente estabelecidos. Também é preciso ter autorização do órgão ambiental competente para realizá-la. Vale ressaltar, porém, que a queima repetida no mesmo terreno pode deixar o solo improdutivo!

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DICAS IMPORTANTES l Evite queimar grandes áreas de uma só vez. l Inicie o fogo dentro do aceiro (faixa de terra ao redor de onde a queima será realizada, em que a vegetação é removida para evitar a passagem das chamas) no sentido contrário ao vento. l Corte as árvores altas localizadas no meio da área a ser queimada, pois elas permitem a propagação do fogo a distância. l Tenha à disposição enxada, abafador, foice, bomba costal e baldes com água para serem usados em caso de ser necessário o controle do fogo. l Só faça queimadas quando o vento estiver fraco, o que evita que ele propague grandes incêndios. l Durante a queima, o responsável deve estar de posse da autorização do órgão ambiental competente. 100  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

l Fazer a queima após o período de primeiras chuvas, pois o risco de perder o controle do fogo é maior. l O horário mais seguro é das 6h às 9h e das 16h às 18h. l Avise os vizinhos o dia e horário da queima. l Se ela for realizada próximo a rodovias e redes de energia, avise também os órgãos públicos responsáveis com antecedência de cinco dias. l É proibido realizar queima a menos de: 15 m de linhas de transmissão; 100 m de subestação de energia; 25 m de estações de telecomunicação; 6 km do centro da pista de pouso e a menos de 2 km do perímetro patronal do aeródromo; 15 m de margens de rodovias e ferrovias; 1 km do centro de aglomerados urbanos de qualquer porte, o menos de 500 m a partir do perímetro urbano, se superior. l Permaneça por pelo menos duas horas, a distância, para verificar se não haverá pequenos focos de incêndio ao fim do processo.


TRÊS PERGUNTAS PARA...

CAPITÃO DANIEL ALVES ZANDONADI

Subchefe do Departamento de Recursos Humanos do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES) e integrante do Comitê de Desenvolvimento de Atividades Operacionais (CDA) de Incêndios Florestais

PREVENIR E CONSCIENTIZAR Como é feita a preparação dos brigadistas para o combate aos incêndios florestais? O CBMES possui um treinamento para brigadistas, ou seja, funcionários de empresas ou estabelecimentos, voltado para o combate a incêndio estrutural, e desenvolve um curso de “Prevenção e Combate a Incêndio Florestal” destinado aos bombeiros militares. Também é oportunizado um número pequeno de vagas para alguma empresa que apresente uma necessidade, uma demanda nesse campo de atuação. Quais são as principais dificuldades enfrentadas no combate às chamas? A grande dificuldade é o tipo de vegetação. Vegetação alta e densa dificulta que o combate seja realizado com as ferramentas manuais e de sapa que o bombeiro possui. Esse tipo de vegetação exige equipamentos de grande porte como, por exemplo, aeronaves e tratores. O estado do ES

possui grandes regiões montanhosas, que é justamente onde estão localizadas as maiores florestas. Nessas situações, além da vegetação alta e densa temos os terrenos íngremes que dificultam o acesso. Poderia citar algumas ações de conscientização ambiental, em relação à prevenção de incêndios florestais, que o Corpo de Bombeiros do Espírito Santo vem realizando junto à população? O CBMES tem participado junto à imprensa em entrevistas, solicitações e recomendações a fim de evitar que esse tipo de ocorrência surja. Junto às prefeituras e defesa civil municipal para debater, disseminar e desenvolver os meios de prevenção e atuação. E através da internet, em redes sociais e no site dos Bombeiros, divulgando recomendações e informações de como prevenir e conscientizar a população sobre os incêndios florestais. 

Nós apoiamos esta iniciativa!

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1 VOCÊ SABIA?

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tartarugas Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

Não se engane com a aparência tímida e vagarosa das tartarugas. Contemporâneas dos dinossauros, 200 milhões de anos atrás, esses bichos nos ensinam que adaptação ao meio e uma boa carapaça podem levar a uma existência longeva. Confira, a seguir, seis curiosidades sobre esses animais:

QUEM SÃO?

Tartarugas são répteis e pertencem à ordem dos quelônios. Existem mais de 300 espécies em todo o mundo, sendo chamadas de tartarugas as que vivem no mar; de jabuti, as que vivem na terra; e cágados, as que vivem em água doce. Elas são o único animal que vive mais que os seres humanos. FO TO :

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RESPIRAÇÃO - O desenvolvimento da carapaça permitiu, ao

longo da evolução, a fixação das costelas desses bichos. Por isso, diferentemente de outros répteis que respiram pela pele, tal como as cobras e os sapos, os quelônios respiram por meio de um movimento que compreende a distensão e compressão da cabeça e membros, para dentro e para fora da carapaça. Já as espécies marinhas resguardam outra particularidade no momento da respiração: elas têm na boca uma enorme quantidade de vasos sanguíneos, que absorvem o oxigênio dissolvido na água. Característica que, aliada a bons pulmões, permite que elas fiquem imersas por várias horas.

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MENINO OU MENINA?

É a temperatura da areia durante o período de incubação dos ovos que determina o sexo dos filhotes. Isso significa que temperaturas abaixo de 27 graus, em média, são mais favoráveis ao nascimento de machos, como ocorre no município de Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro, enquanto temperaturas mais elevadas, acima de 33 graus tendem a gerar fêmeas, como por exemplo, na Bahia e Sergipe.

ACASALAMENTO

O cenário da paquera entre as tartarugas marinhas não poderia ser outro: o fundo do mar! O namoro começa com mordidas no pescoço e no ombro e a cópula pode durar várias horas. Os machos, menores que as fêmeas, se agarram no casco das parceiras, que podem ser fecundadas por vários outros da espécie no período de acasalamento.

FOTO: Y. L. PHOTOGRAPHIES

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Quando chega a época de pôr os ovinhos, as fêmeas marinhas procuram um lugar na praia longe das marés. Com as nadadeiras posteriores, constroem buracos para o ninho com cerca de meio metro de profundidade. Podem realizar de três a 13 desovas em uma mesma temporada de reprodução, com intervalos que variam entre nove e 21 dias, dependendo de cada espécie. Os ovos são esféricos e do tamanho de uma bolinha de tênis de mesa! Jabutis e cágados procedem da mesma forma, porém, colocando seus ovinhos na beira de rios, pântanos ou folhagens.

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AYA

A VIDA NÃO É FÁCIL!

Fonte: Projeto Tamar (www.tamar.org.br)

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FOTO: BLUEORANGE STUDIO

Sabe aquele momento em que centenas de filhotes de tartarugas partem para o mar, logo após saírem dos ovos? A imagem, além de poética, diz muito sobre a valentia dessas pequeninas, que já nascem independentes. Medindo apenas entre 3,5 a 4 centímetros, elas rumam ao mar sem saber os perigos que a esperam. Estima-se que de cada mil filhotes, apenas um ou dois atinjam a vida adulta, já que servem de alimentos para siris, aves marinhas, polvos e principalmente peixes. Além dos perigos naturais, os quelônios enfrentam desafios como a caça humana, perda de hábitat e poluição marinha, que têm colocado muitas de suas espécies na lista de animais ameaçados de extinção. OUTUBRO 2015 | ECOLÓGICO  103

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OLHAR POÉTICO

ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

A GOTA D’ÁGUA N

o primeiro dia o pai chegou do trabalho meio nervoso. Tirou a gravata, os sapatos, sentou-se na poltrona e já foi logo detonando: – Não tem mais jeito não. Vamos ter que economizar água... – A mãe, rapidamente, e como sempre, serviu-lhe um copo de bebida. E emendou: – Como assim, bem? – Tá escrito no elevador... – Putz! Devem ter resolvido isso ontem. Perdi a reunião. – Um aviso na tabuleta de avisos. A partir de hoje já começa o rodízio. – Rodízio, pai? – o filhote perguntou. – Isso mesmo, filho. É que nem rodízio de pítissa, sacou? Só que de água. Um dia tem água, outro dia não... – Água também tem gosto de muitas pítissas, pai? Tipo assim: aliche, primavera? A mãe riu e remendou: – Tem sim, mascotinho! Água à bolonhesa, água à Califórnia, água a quatro queijos, água à moda da casa... kkkkkkkkkk! E passou o dedo indicador pelo nariz do menino. Fez cosquinhas. Ele riu também. O pai também riu, meio a contragosto, mas bateu com carinho no cocuruto dele. Disse: – Você já tá com um redemoinho na cabeça, Marquinho. Que nem eu tinha, na sua idade, sabia? – Quatro anos? – Sim, quatro. Já reparou que até hoje... – E por que vamos ter que fazer rodízio de água, pai? – Por causa da crise hídrica, uai! O menino tentou repetir. “Cri...zi...dri”. A mãe: – Deixa pra lá, Marco. É falta d’água mesmo, sabe? Essas coisas que só o seu pai e eu sabemos, nós dois e mais ninguém, sabe? O menino tentou cortar. Mas a mãe continuou falando pelos cotovelos:

– No fundo, no fundo é mais uma bela expressão que inventaram pra dizer que ninguém mais vai poder lavar louças, talheres, roupas, chão, calçada, área de serviço. E nem tomar banho, fazer comida, escovar os dentes... Aí o menino apartou: – Ainda bem que o meu mascote não precisa tomar banho, né, mãe? A mãe riu. – Claro, filhote! Só você, nosso mascotinho, é que precisa... Ó, vem cá, meu sujinho lindo, vem! Deixa eu te dar uma gugada nas orelhas! O menino riu de novo com aquele “gugada nas orelhas”. Mas quis seguir em frente na conversa. – E o meu mascote nem precisa escovar os dentes, né, mãe? – É. – Nem dentes ele tem, eu acho... É tão pititinho ainda, que nem eu, né não? – É sim. – Ele vai ter que entrar no rodízio também, mãe? – Depende. – Depende do quê? – De como vão ficar as coisas daqui pra frente, entre mim e o seu pai. Vamos ver... Aí o pai se levantou do sofá. E disse, meio ríspido: – Todos vocês vão ter que colaborar! Caso encerrado! – e engoliu mais uma dose de uísque, antes de tomar o último banho da noite, na qual dormiu pesado, muito pesado. No dia seguinte, no mesmo horário, o pai e a mãe brigaram por causa de alguma coisa que não estava no programa. E ele, Marquinho, não conseguia entender. Calado, recolhido no quarto, ouviu tudo sem perguntar. Percebeu que, por um descuido (ou por causa da febre e da dor que a mãe sentira durante a tarde), algo saíra errado. Ela se esquecera de guardar água nos bal-

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“No fundo, é mais uma bela expressão que inventaram pra dizer que ninguém mais vai poder lavar louças, talheres, roupas, chão, calçada, área de serviço.”

Tremendo, o menino rezou baixinho para que o pai voltasse logo. E que a mãe não ficasse mais doente, como da outra vez. Mas seu anjo da guarda, que morava num livro bem alto, na estante, dessa vez não atendeu. Passara a noite acordado, olhando pela fresta da porta a mãe chorando e rasgando velhas fotografias. Pela manhã, o menino percebeu: a mãe gemia e se contorcia na cama. Sem ar, descabelada, ela suava. Ora frio, ora quente. Desesperado, o menino abraçou-a. Depois, foi até a sala, pegou um copo e disse alguma coisa a alguém – algo como “adeus”. E trouxe o copo d’água cheinho, com o remédio que ela sempre tomava quando não conseguia mais dormir de dor. – Onde você arranjou água, Marquinho? – ela perguntou com a voz embargada. – Do aquário do Mascote, mãe. – Ainda tem água lá? – Tem. Bebi um pouco e coloquei o resto nos quatro copos que sobraram. – E o mascote? Enquanto a mãe tomava, um a um, os comprimidos da cartela platinada, o menino mostrou-lhe o copo onde se debatia, com dificuldade, o seu peixinho de estimação. – Ele ainda tá vivo, né mãe? Mas acho que não vai durar muito... Deve ser a gota d’água... (*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ). antonioba@uol.com.br | facebook.com/antonio.barreto.12139

FOTO: DIGIEYE

des da área de serviço, na máquina de lavar, no filtro de barro da cozinha, nas garrafas de plástico e nas jarras de vidro que ficavam na geladeira. Na verdade, ela se esquecera dela mesma. E do pai. E dele. E isso bastou para o desfecho. O pai novamente gritou: – É o fim da picada, Sandra! Você transformou esse apartamento num Saara, caramba! Não há mais uma gota d’água nessa m..., não notou? – e bateu a mão na mesa, perguntando: – Você se esqueceu do rodízio, sua barata tonta? Isso foi a gota d’água... A mãe, dobrada, segurando alguma coisa dolorida na altura do estômago, tentou responder. Mas conseguiu apenas, naquele instante, se lembrar do que o analista lhe falara na semana anterior: “Cuidado, pode ser a gota d’água...”. E de repente explodiu: – Por que você não vai fazer esse rodízio lá com as suas p...? Foi então que outra palavra – além daquele “p” enigmático – ficou martelando e zunindo na cabeça do menino, já repleta de redemoinhos: “rodízio-rodízio-rodízio”. Ele correu, assustado. Se escondeu no guarda-roupa pra ver se a palavra passava. Não passou. Aguardou pelo desenlace. – Isso não vai ficar assim! – a mãe gritou, antes do pai bater a porta e ir embora.

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

PERERECA (Hypsiboas crepitans)

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FOTOS: ROBERTO MURTA

BESOURO (Família Chrysomelidae)


PICA-PAU-DO-CAMPO (Colaptes campestris)

CUÍCA-LANOSA (Caluromys philander)

MARAVILHAS DO ESPINHAÇO Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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s olhos da coruja-buraqueira parecem nos espiar bem de perto, enquanto a mãe gambá-de-orelha-branca caminha com seis filhotes nas costas. A jaguatirica, uma espécie que nossos avós conhecem, mas que nossos olhos urbanos já não veem mais, nos observa com olhar profundo, típico dos felinos. Enquanto isso, a borboleta conhecida como capitão-do-mato colore as matas com suas asas azuis. Personagens de um mundo (ainda) real que parecem voar, caminhar e rastejar num passar de páginas, eles embelezam o livro “Fauna – Leste Atlântico do Espinhaço Meridional”, produzido pela Bicho do Mato Editora. A obra foi elaborada para atender uma das condicionantes da fase de implantação do projeto Minas Rio, da Anglo American, na região de Conceição do Mato Dentro (MG). E é fruto de quase cinco anos de pesquisa de 12 biólogos, entre eles Tudy Câmara e Bruno Pimenta, responsáveis pela organização do volume. O livro é ilustrado com imagens feitas tanto pelos biólogos quanto pelo fotógrafo Roberto Murta. O trabalho em equipe resultou num belíssimo livro de 300 pági-

nas, no formato 35x25cm, com fotografias minuciosas, além de mapas, nomes científicos e populares, comportamentos e funções ecológicas de insetos, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Todos encontrados na Serra do Espinhaço, mais especificamente no entorno das cidades de Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro e Dom Joaquim. “O livro tem três finalidades – é didático, poderá ser usado pelas escolas de ensino fundamental e médio dos municípios; é um guia de espécies faunísticas; e é um belo livro de mesa, para quem gosta simplesmente de contemplar a beleza da nossa fauna”, afirma Tudy. Cerca de mil exemplares da obra serão entregues às escolas dos municípios da área de pesquisa. Em BH, o livro também será enviado para todas as instituições de ensino superior que possuem o curso de Ciências Biológicas. “A ideia era registrar todo e qualquer animal que surgisse no caminho da pesquisa e isso nos proporcionou boas surpresas. Entre elas, o registro de espécies que até então não haviam sido identificadas em trabalhos científicos anteriores na região”, completa Murta. As imagens dessas maravilhas naturais também

FIQUE POR DENTRO A Serra do Espinhaço, cujo nome foi criado pelo naturalista e engenheiro Willhelm Ludwig von Eschwege em 1822, representa a única cordilheira localizada em território brasileiro. É uma longa cadeia montanhosa de cerca de 1.200 km, constituída por blocos de surpreendentes dimensões, que afloram em meio a um mosaico natural, cortada por vales, rios, lagos e picos, desde a Serra de Ouro Branco, na Região Central do estado de Minas Gerais, perto de Belo Horizonte, até a Serra de Jacobina, no norte da Bahia, próximo à divisa com os estados de Pernambuco e Piauí.

estampam o calendário 2016 da Revista Ecológico. Confira: SAIBA MAIS www.bichodomato.net.br www.brasil.angloamerican.com

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

ROLINHA-PICUI (Columbina picui)

MUTUCA (Família Tabanidae)

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CORUJA-BURAQUEIRA (Athene cunicularia)

FOTOS: ROBERTO MURTA

JAGUATIRICA (Fleopardus pardalis)

SOCOZINHO (Butorides striata)

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MEMÓRIA ILUMINADA - GILBERTO DIMENSTEIN

EDUCAÇÃO LIVRE É o que propõe o jornalista Gilberto Dimenstein por meio do site “Catraca Livre – Comunicar para empoderar”: transformar o ser humano pela informação Eloah Rodrigues

redacao@revistaecologico.com.br

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atraca Livre” é uma expressão que diretamente nos remete a acesso liberado. Essa foi a intenção do jornalista Gilberto Dimenstein ao idealizar o site “Catraca Livre – Comunicar para empoderar”: tornar as pessoas mais preparadas e conscientes de suas escolhas. O site disponibiliza, gratuita e indistintamente, informações e serviços relevantes em diversas áreas, como cultura, saúde, acessibilidade, educação, esporte e consumo, de modo a contribuir para cidades mais harmônicas e agradáveis de se viver. A experiência vem se mostrando positiva: mensalmente, o site registra cerca de 13 milhões de acessos. Sua essência educadora é uma característica que vem de Dimenstein. Ele também é criador e coordenador pedagógico do programa “Cidade Escola Aprendiz”, uma associação que promove a educação integral a partir do conceito “Bairro-Escola”, tendo sido indicada pela Unesco como referência mundial de inclusão social pela educação. Comentarista da Rádio CBN com a coluna “Capital Humano” e membro do Conse-

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lho Editorial da Folha de São Paulo, ele nasceu na cidade de São Paulo, em 28 de agosto de 1955, e é um dos jornalistas mais premiados do país. Merecedor de várias homenagens, conquistou, entre elas, os prêmios “Nacional de Direitos Humanos”, “Criança e Paz”, do Unicef, e “Menção Honrosa” da Faculdade de Columbia, em Nova York (EUA). Seu livro “O Cidadão de Papel” recebeu, em 1994, o “Prêmio Jabuti”, na categoria de “Melhor Obra de Não-ficção”. Dimenstein é, na verdade, um grande fiscal da cidade, realizando trabalhos e apontando várias ações, boas e ruins, que acontecem por aí e que jamais deveríamos ignorar. É defensor e estimulador da participação criativa e ativa da sociedade, principalmente no cuidado com a coisa pública, um espaço que é de todos nós, propondo continuamente a perseverança, a fim de que ideias e ações construtivas se sobreponham às destrutivas. Sensível à arte e à beleza, sua alma agradece e fica feliz quando se depara com manifestações que contribuem para a alegria do ser humano. A Ecológico selecionou, a seguir, frases que retratam a personalidade marcante deste defensor da liberdade de expressão, da disciplina e da civilidade como prática de aprimoramento da democracia. Confira:


l SÃO PAULO “Felicidade é... passear na Avenida Paulista num domingo de sol sem carro. É o passeio pela cidade do futuro.” “Se tivéssemos de criar um manual sobre como não cuidar de uma cidade, São Paulo seria um caso perfeito. O resultado está aí: as pessoas trancadas em seus carros, nas suas casas, nos condomínios, nos shoppings. Todos estão cercados por catracas. É a modernidade dentro da barbárie urbana.” l ESPAÇO PÚBLICO “Lugar de criança é na rua. E sem carro. No meu Dia dos Pais, estou numa rua abandonada que tirou os carros nos finais de semana. Fico muito feliz em participar dessa

experiência em que o espaço público não é de medo, mas de alegria e convivência.” “O professor Diego Lahoz (foto à dir.) passou a manhã de hoje colorindo uma rua (Medeiros de Albuquerque) na Vila Madalena, em São Paulo. Para mim, o dia que era cinzento e chuvoso ficou solar e colorido.”

FOTOS: REPRODUÇÃO YOUTUBE

FOTO: REPRODUÇÃO

“Lugar de criança brincar é na rua. Sem carro.”

l CALÇADAS “As calçadas são, porém, um símbolo de convivência. O desaparecimento das calçadas paulistanas, devoradas pelos automóveis, é reflexo da forma de perceber o cidadão em seu território. Está aí, em essência, a cidadania. Há toda uma carga ideológica, muito mais do que uma simples questão de trânsito, a prioridade ao automóvel – é o sinal de que o individual suplanta o coletivo. A cidade deixa de gerar o senso de pertencimento. Não provoca identidade. Tudo está em permanente destruição

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MEMÓRIA ILUMINADA - GILBERTO DIMENSTEIN

da memória. Isso se traduz em ressentimento e o ressentimento em falta de cuidado.” “Minha visão de cidade é mesmo a das calçadas largas. Mas não são apenas as de concreto. Civilidade é permitir o máximo possível o encontro e a aprendizagem. Grandes cidades são aquelas que se transformam em comunidades de aprendizagem, onde aprendemos, em todos os lugares, a começar da rua.” l POLÍTICA “Há dias que acordo com vontade de vomitar. Imaginava muita coisa na minha vida jornalística. E vi muita mediocridade política. Mas nunca que tanta gente medíocre, sem espírito público, teria tanto poder.” “Há pessoas que fazem muito com pouco. E aquelas - os governos - que fazem pouco com muito.” “Posso discordar de muitas de suas ideias, mas raros políticos (raríssimos) merecem admiração pela simplicidade e coragem.” l PODER “O poder está a um passo da delinquência.” 112  ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2015

l DIVERSIDADE “Para mim, estimular a crítica é um jeito de ver vários pontos de vista e pensar melhor.” l FELICIDADE “Felicidade é poder ter escolhas.” “Depois que se descobre quem você é, escolhe-se ser o melhor de você. A busca do essencial é essencial.” l EMPREENDEDORISMO “É uma experiência em que você acredita na sua capacidade de inovar e mudar a sua realidade.” l INFORMAÇÃO “Diante de tanta informação, estamos hoje na era da curadoria, onde devemos selecionar o que é relevante em nossas vidas.” “Não apenas ler, mas viajar é fundamental para ampliar horizontes. Melhor ainda é viver e estudar fora por algum tempo, mas nunca perder o olhar e o amor de onde somos.” “Quanto custa a ignorância para você e para os outros? Curadoria é transformar a informação em conhecimento, através do contexto.”


FOTOS: GILBERTO DIMENSTEIN

EXPERIÊNCIA de mobilização comunitária na Vila Madalena, na capital paulista: espaço urbano mais harmônico, alegre e bonito

“Toda palavra bem usada é uma fonte de mutação.” “Educação: a penicilina da alma!” “A educação é o tema chave para melhorar um país!”

l VIDA “O contrário da vida é a repetição. Engana-se quem acha que é a morte.” “Quando se gosta de viver, gosta-se de aprender.” “Gosto de ver coisas mortas ganharem vida pela mão humana.” (A frase foi utilizada como legenda de uma foto bem linda de bicicletas que viraram jardineiras) l GRANDEZA “Toda pessoa que é realmente grande, nunca para de aprender.” l EDUCAÇÃO “Eu sempre dizia (e vou dizer de novo) que, quando crescer, quero ser Rubem Alves. Ele ajudava a quebrar paradigmas da educação, mostrando sempre que aprender deveria ser mais uma manifestação do prazer.” “Educação e cultura são a mesma coisa. Não há uma sem a outra.” “A sala de aula não está na escola e sim no mundo.” “A educação tem um único papel: ensinar o encanto da possibilidade.”

“Fiz da minha vida um trabalho dentro da comunicação a favor da educação e agora atuo desenvolvendo soluções e as disseminando. Interessei-me pela educação porque é uma questão essencial para o desenvolvimento da sociedade, para sua melhoria, e é também o que eu gosto de fazer. O jornalista, o comunicador, também é um educador, mas eu acabei por radicalizar a profissão e entrando em um processo que pudesse interferir na sala de aula.” l TECNOLOGIA “É a forma mais potente que o homem descobriu para conseguir informação. Temos que usá-la de forma inteligente.” “O mundo virtual é enlouquecedor. Precisamos saber o que é relevante, de jornalistas que nos ajudem a entender o essencial.” l PAÍS “O Brasil somente será uma nação civilizada e importante quando a elite brasileira, os políticos e a sociedade colocarem a ideia do conhecimento e da educação como uma questão de vida e de morte.”  SAIBA MAIS www.catracalivre.com.br twitter.com/GDimenstein Jornal Cruzeiro

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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*) redacao@revistaecologico.com.br

A SOLIDÃO DA

LUA VERMELHA FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

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omingo, 27 de setembro, com superlua, infecção no dente, família desaparecida, amigos ocupados com festas e almoços e com seus pequenos problemas de não encontrar no jornal a sessão de cinema. A superlua ilumina os barracos no alto do bairro Serra, em Belo Horizonte. Escolheu aquela espécie de presépio vivo para aparecer, enquanto o fogo devora as árvores do lote à frente do prédio. O fogo engole vorazmente os galhos secos e a fumaça sobe, sobe. A luz da lua, por incrível que pareça, está mais forte hoje do que a iluminação elétrica da cidade. Hoje, as duas não vão competir. A lua é mais poderosa que a mesmice do ser humano. Ela não está nem aí para os atentados, soberana como uma rainha do céu nesse trono universal. Acendo uma vela para o espírito da lua, que dança ao leste do meu ser, que turbina o meu céu interior, sem nuvens e sem estrelas, como hoje. A minha amiga da montanha liga para saber se consegui debelar a infecção, digo que não, mas alguém ao meu lado fala em mundo caótico e se esquece de que eu sou apenas um cisco, uma poeira de estrela a pedir socorro para uma das únicas pessoas que entende o meu grito de dor. Apesar de estar a 60 quilômetros de mim, ela lança a nave da salvação, dá um jeito de chegar mais perto, de encostar no meu coração agitado com essa superlua. Ela é desse jeito. Não tem falsidade, nem falsas preocupações, não dá lição de moral, não perturba. Só chega o mais perto possível, mesmo sem estar presente, para acalmar meu coração com o que ela chama de mimo. Alguém toca o interfone e pede comida. Aprendo nesta noite de superlua que dar pão para quem tem fome é caridade, mas se você passar geleia no pão é ternura, segundo me segreda a amiga da montanha, que continua junto de mim. Ela é a minha companhia nessa noite e eu imagino que agora ela está lá em sua montanha com o marido a cumprir a sua missão, que é a de ouvir a natureza e chorar com ela. Só quem enxuga as lágrimas da natu-

reza pode entender o choro de uma mulher que sofre. Frida, minha cachorrinha, cheira a vasilha vazia de comida pedindo a ração que acabou. Eu falo para que ela faça jejum até amanhã de manhã, que sobreviva com água neste calor. Com olhos de pedinte, ela se aquieta e deita aos meus pés. Perdido, o meu filho vê estrelas e planetas num céu sem estrelas e sem planetas, onde apenas a superlua dá as caras. Com os olhos grudados no universo da janela, ele diz que a Via Láctea mandou um beijo para mim. Eu mando outro e ele conversa sério com o céu e diz que agora pode chover. “Chove, chove, chove”, ele pede, para acalmar o fogo que pulsa dentro dele. Aí, ele detona a solidão da superlua e dos domingos com a música “Beatriz”, de Milton Nascimento, que diz assim: “Será que é loucura? Será que é cenário?”. E a voz do cantor penetra nas minhas profundezas, nos côncavos da minha alma. E vem depois com Elis cantando “Se eu quiser falar com Deus”, de Gil. “Se eu quiser falar com Deus tenho que comer o pão que o diabo amassou com os pés.” Nesta noite de superlua, meu filho conclui para mim o texto: “Você, mãe. Milton, Elis, Gil nasceram na época certa, em que sofrimento se transmuta em criatividade”. Eu vou para a janela participar desse espetáculo no céu.  (*) Jornalista e escritora.

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O verdadeiro valor da mineração é a sua capacidade de criar oportunidades. Na Anglo American nós vamos além do que é esperado, trabalhando junto com as comunidades e regiões nas quais atuamos, proporcionando assim um benefício real. Através dos nossos programas e nossas parcerias, estamos contribuindo para dar a jovens e adultos a oportunidade de mudarem suas vidas, por meio do ensino técnico e do desenvolvimento empresarial. Como resultado, são gerados mais emprego e renda.

DAYANE BARROZO Anglo American, Conceição do Mato Dentro

Trata-se de despertar o talento e a paixão dos brasileiros, para que eles possam construir um futuro melhor para eles mesmos, seus filhos e os filhos de seus filhos. www.angloamerican.com.br

UM GRANDE FUTURO SE CONSTRÓI HOJE.


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