Revista Ecológico

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ANO 7 - Nº 83 - 29 DE AGOSTO DE 2015 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


Pelas Ă guas

Homenagem Especial: Carlos Drummond de Andrade


as do Planeta Inscrições e Indicações prorrogadas até 21/09

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Inscrições abertas! www.premiohugowerneck.com.br


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EXPEDIENTE

FOTO: ALFEU TRANCOSO

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Foto: © NICK BRANDT, COURTESY OF EDWYNN HOUK GALLERY, NEW YORK

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com

DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com

DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com

Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

sou_ecologico revistaecologico

EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

souecologico ecologico

3,14 tCO2 e Julho de 2015


IMAGEM DO MÊS

FOTO: RICARDO BELIEL

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LAGOAS DE AGROTÓXICO Durante sobrevoo em uma extensa plantação de soja no Pará, o fotógrafo Ricardo Beliel registrou algo impressionante: duas lagoas brancas formadas com agrotóxicos que escoavam das lavouras. Segundo relatório divulgado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) no primeiro semestre, mais de um milhão de toneladas de pesticidas são utilizados nas lavouras por ano. Uma média de cinco quilos para cada brasileiro!

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ÍNDICE

CAPA

A MORTE DO LEÃO CECIL, SÍMBOLO DO ZIMBÁBUE, POR UM CAÇADOR NORTEAMERICANO, GANHA REPERCUSSÃO MUNDIAL E REACENDE DEBATE SOBRE A CAÇA ILEGAL E O TRÁFICO DE ANIMAIS

20 PÁGINAS VERDES CONFIRA A ENTREVISTA EXCLUSIVA COM SIDEMBERG RODRIGUES, GERENTE-GERAL DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E SUSTENTABILIDADE DA ARCELORMITTAL

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EM MEMÓRIA DE FRANCISCO PREFEITOS BRASILEIROS SE REÚNEM COM O PAPA PARA DEBATER A IMPORTÂNCIA DOS MUNICÍPIOS NO ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

102 MEMÓRIA ILUMINADA A ARTE E A MÚSICA DE ZECA PAGODINHO, O SAMBISTA QUE CANTA O AMOR E A NATUREZA HUMANA COMO NINGUÉM

E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 GENTE ECOLÓGICA 12 ECONECTADO 14 SOU ECOLÓGICO 16 ESTADO DE ALERTA 26 FLORA 42 CÉU DE BRASÍLIA 44 SAÚDE 46 SUSTENTABILIDADE 50 COMPORTAMENTO 58 CÉU DO MUNDO 60 GESTÃO & TI 62 MINERAÇÃO 64 AQUECIMENTO GLOBAL 66 POLÍTICA AMBIENTAL 70 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 72 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 76 ECOTURISMO 82 NATUREZA MEDICINAL 85 VOCÊ SABIA? 86 OLHAR POÉTICO 88 ENSAIO FOTOGRÁFICO 96 CONVERSAMENTOS 106

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UMA ÓTIMA OPÇÃO DE LAZER ESTÁ VOLTANDO PARA VOCÊ. ADIVINHE QUAL É?

Em breve, as famílias vão curtir um espaço renovado pela Assembleia Legislativa com a parceria da Prefeitura de BH.


CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

l ESTADO DE ALERTA - NA CONTRAMÃO DA TRAGÉDIA AMBIENTAL “Gostei muito de ver o Papa falando sobre meio ambiente!” Ana Batista, via Google+ l ENSAIO FOTOGRÁFICO “Lindas demais as fotos da Ilana Lanksy! Essas imagens acarinham a alma da gente! Obrigada pelo presente precioso!” Ethel Kacowicz, via Facebook “Que ensaio diferente! Legal a Ecológico também mostrar trabalhos como o da Ilana, que definitivamente são inspirados pela natureza. Que cores, que luz. Adorei as fotos!” Regina Vieira, via e-mail

l EDIÇÃO 82 “Parabéns pela revista e pela ousadia da capa que destaca o ‘subversivo Papa Francisco’. Muito legal a reportagem sobre a ‘Fraude dos Ipês’. Muito esclarecedora a reportagem ‘Salvem as nascentes!’. Adorei a crônica da Déa Januzzi, ‘Taça transbordante’. Primorosa a arte do Sanakan Firmino. Considerando a liderança do Hiram, baluarte da ecologia mineira, a revista só podia mesmo estar assim: incrível!” Rafael Freitas, via Facebook l CARTA DO EDITOR – “O PAPA É POP E SUBVERSIVO” “O Papa vê mais longe, pois é um homem de coração bondoso.” Maria dos Remédios Pereira, via Google+ l PROCURA-SE FAVEIRO-DE-WILSON “Agradeço pela matéria sobre o nosso trabalho! Pode ter certeza que, de alguma forma, esta divulgação vai ajudar-nos no desafio de proteger a espécie. Obrigado!” Fernando Moreira Fernandes, via e-mail l IMAGEM DO MÊS “Tem gente que, no fim das contas, me representa. Em 04 de julho, manifestantes se pintaram de vermelho para protestar pelos dois dias do Pamplona - evento da Espanha que faz touros percorrerem um trajeto, e, no fim, são mortos como parte do espetáculo - e acabar com essa palhaçada! Que absurdo! Quem é que vê graça e prestigia um evento que executa animais?” Brenda Ferreira, via Facebook

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l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS “Parabéns pela revista! Todas as reportagens foram lidas e comentadas pelos alunos da Fazenda Alegria. Os assuntos são interessantes e objetivos e todos os temas despertaram interesse. Os mais comentados foram: ‘Salvem as nascentes’, ‘Doutora do Tempo’ e ‘Procura-se faveiro-de-wilson’. Vocês contribuíram muito para o engrandecimento do nosso aprendizado. Muito obrigado! Estamos ansiosos pela próxima edição.” Naia Matos, professora, e alunos da Fazenda Alegria EU LEIO! “Eu adoro a Revista Ecológico! Comecei a colecionar os exemplares, leio todos e adoro cada um deles. Na escola, levo para mostrar às minhas amigas, que também gostam muito. Uma delas até queria pegar emprestado para ler, pois é muito legal. Também adoro ajudar e cuidar do nosso planeta! Se todos nós entendêssemos a natureza, nosso país seria lindo e respeitado por todos. Mas, infelizmente, muitos não fazem isso.” Bruna Soares de Oliveira, via e-mail DA REDAÇÃO: Entramos em contato com a Bruna por telefone. Ela tem 10 anos e nos contou que o que mais gosta de ler é a seção “Você sabia?”, por trazer curiosidades. Disse, também, que um dos seus assuntos preferidos na Ecológico são as matérias sobre a falta da água, pois “é um dos problemas mais graves”. Engajada, garante que já “economiza água, luz e sempre rega as plantas”, além de fazer os trabalhos da escola com materiais reciclados. Parabéns pelo bom exemplo, Bruna!

FOTO: CAIO OLIVEIRA

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br


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Ser uma potência do agronegócio é resultado de muito trabalho. É preciso estudo, tecnologia, modernas técnicas de plantio e criação, além de métodos de preservação ambiental. O SENAR MINAS (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) oferece tudo isso para 200 mil pessoas por ano, através de cursos gratuitos de formação profissional rural e promoção social. Com tecnologia e qualificação, tudo melhora: a produção, a

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renda das famílias e a qualidade dos alimentos que chegam até a sua mesa. sistemafaemg.org.br

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

FOTO: DAUGHTER#3

FOTO: FERNANDA MANN

FOTO: DIVULGAÇÃO

O POLÍTICO, O TEÓLOGO E O LEÃO

MARCIO LACERDA, Leonardo Boff e Cecil: escolha, missão ou destino frente à "Laudato Si" do Papa Francisco?

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ouvado seja o macro que está no micro! Essa é a mensagem do “pensar globalmente e agir localmente”, para não dizer municipalista, expressão trazida à tona novamente pelo Papa Francisco à humanidade e seus governantes prestes a arderem democraticamente no inferno das mudanças climáticas. O que ocorre de degradação ou solução no planeta acontece antes no município, no rio da nossa aldeia. E é na soma deles, valorizando-os de baixo para cima, e não o contrário, o que requer uma nova e estadista visão de mundo, assim como aponta a revolução e a esperança protagonizadas pela encíclica “Laudato Si”. Eu mesmo já sonhei isso um dia. Quando secretário municipal de Meio Ambiente de BH, no governo Hélio Garcia/Sérgio Ferrara, somei forças com outro sonhador inveterado, o ambientalista Mario Mantovani, atual diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica. E juntos com outra ativista, a Glorinha Abaurre, na época secretária municipal de Meio Ambiente de Vitória (ES), criamos a ainda atuante Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (Anamma). Tivemos até uma sala-sede na Secretaria Especial de Meio Ambiente, antiga Sema (governo José Sarney) e atual Ministério do Meio Ambiente, junto do também sonhador Ben-Hur Batalha, em Brasília (DF). Não durou muito. Foi no governo Newton Cardoso, à frente da Prefeitura de Contagem (MG), que, pela primeira vez, o município e sua legislação ambiental decretaram o fechamento das chaminés da antiga fábrica de

cimento Portland Itaú (que, durante anos, envenenou os pulmões de milhares de cidadãos à sua volta). O que aconteceu após esse ato exemplar na história político-ambiental do país? O governo militar do presidente Ernesto Geisel não pensou duas vezes. Baixou um ato institucional tirando toda a autoridade e decisão do município. A fábrica criminosa só foi fechada com a criação da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e de uma nova legislação empoderando o município. O que seria a maior vitória do poder local sobre a tirania do governo federal virou sua derrota momentânea. E a sua esperança agora mundial, recuperada com a habilidade do Papa Francisco. Segundo ele, os problemas ambientais têm de ser enfrentados pelos governos locais. É o que você vai ler nesta edição da sua Ecológico, com dois entrevistados especiais: o teólogo Leonardo Boff e o prefeito de BH, Marcio Lacerda, tendo como pano de fundo a morte do leão Cecil, símbolo do Zimbábue, assassinado covardemente pela nossa ignorância e desamor à natureza que nos sustenta. Para não levarmos a vida que nos resta sérios demais, ainda temos a mensagem de um ser humano chamado Zeca Pagodinho. É assim mesmo. Tudo junto e separado, tal como a esperança municipalista, global, papal e franciscana ao mesmo tempo. Boa leitura! Até a próxima lua cheia, quando setembro vier e as últimas flores dos ipês caírem no chão, anunciando a chegada das chuvas. 

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A inovação transforma ideias em iniciativas com o poder de mudar realidades. Em 2014, o 40 Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis destacou iniciativas de empresas que geraram impacto positivo dentro e fora delas: em seus processos, na comunidade e no meio ambiente. Agora, você vai conhecer uma dessas práticas que, com inovação e atitude, tornou-se uma importante ferramenta de transformação.

Fazenda Vista Alegre - Manga Sustentabilidade é a palavra-chave deste projeto. Criado pela Fazenda Vista Alegre, ele desenvolveu atividades integradas na produção rural, de laticínios e padarias. Assim, a bovinocultura abastece o laticínio, que abastece a padaria, que gera resíduos orgânicos posteriormente utilizados na compostagem da fazenda. A partir da disponibilidade de água para irrigação, a fazenda passou, também, a desenvolver a piscicultura.

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GENTE ECOLÓGICA FOTO: TULANE PUBLIC RELATIONS / WIKIPEDIA

FOTO: DIVULGAÇÃO

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“O ser humano pode começar a mudar em qualquer fase da vida, inclusive, na terceira idade. Nós somos uma nova página a cada dia.” IÇAMI TIBA, psiquiatra

“Só segredos insignificantes precisam de proteção. As grandes descobertas são protegidas pela incredulidade pública.”

“Estou convencido que nenhum outro desafio é ameaça maior para nosso futuro e das próximas gerações do que as mudanças climáticas. Nós somos a primeira geração a sentir seus efeitos e a última que pode fazer algo a respeito. ”

FOTO: ERNANDES FERREIRA

MARSHALL MCLUHAN, filósofo e educador canadense

“O motivo mais nobre da política é o de servir.”

“Aqueles que ainda insistem em antagonizar meio ambiente e desenvolvimento precisam conciliar seus interesses e impulsionar um Brasil de frente para o mar. Afinal, para promover uma efetiva governança costeira e marinha, é necessário romper o paradigma de que a preservação da natureza impede o crescimento econômico.”

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

BARACK OBAMA, presidente dos EUA

ROBERTO KLABIN, vice-presidente para o Mar da Fundação SOS Mata Atlântica, à ECO-21

CAIO CALDEIRA, recém-eleito secretário de Juventude do PSB-MG 12  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2015

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FOTO: DIVULGAÇÃO

JOSÉ MUJICA, ex-presidente e atual senador do Uruguai

“O Brasil é como uma mulher mal vestida, mal amada. Precisamos baixar, em vez de decretos econômicos, um decreto afetivo em relação ao Brasil.”

LUCIANO COUTINHO O presidente do BNDES assinou mês passado um contrato de apoio financeiro do Fundo Amazônia para o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), no valor de R$ 63,9 milhões. Os recursos serão destinados à implantação de um sistema de detecção de desmatamento na Amazônia com uso de imagens de radar orbital que ampliará a fiscalização e o controle do desmatamento ilegal.

CHRISTIANE TORLONI, atriz e ativista ambiental

“O nosso desafio é encontrarmos um modelo próprio de desenvolvimento que promova igualdade social e preservação do meio ambiente.”

“Prossigo acreditando que, dentro do capitalismo, a humanidade não tem salvação. ” FREI BETTO, frade dominicano

DEIVISON PEDROZA A Verde Ghaia, empresa de Gestão de Risco Legal em Sustentabilidade, recebeu o "Prêmio Estadão PME" na categoria “Minha História de Sucesso”, com o case “Do Lixo ao Sucesso”, que conta a trajetória vitoriosa de Pedroza durante a criação da empresa. A Verde Ghaia também foi vencedora do "Prêmio de Seguros Brasileiros 2015", na categoria "Serviços de Auditoria", como empresa "Altamente Elogiada".

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

DANIELA MERCURY, cantora

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FOTO: ANTÔNIO CRUZ / ABR

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

RUBENS MENIN Sob sua direção, a construtora MRV aderiu recentemente ao “Programa Brasileiro GHG Protocol”, um importante passo para o gerenciamento do impacto de suas operações para o meio ambiente e a implantação de uma cultura sustentável na companhia. Com a adesão, será a primeira vez que a MRV divulgará os números de emissão de gases do efeito estufa (GEE) decorrentes de suas atividades por meio da ferramenta.

FOTO: MARCELLO CASAL JR. / ABR

FOTO: FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM / ABR

FOTO: ROOSEWELT PINHEIRO / ABR

FOTO: TULANE PUBLIC RELATIONS / WIKIPEDIA

“Sem o coletivo, não somos nada. Temos que superar o individualismo para transformar a sociedade!”

CRESCENDO


ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

l “Literatura e

ditadura são dois termos antagônicos. Ditaduras sabem que a boa literatura gera um povo rebelde.” @VargasLlosaPeru - Mario Vargas Llosa, escritor

FOTO: ARILD VAGEN

TWITTANDO

l “Espero que o dentista americano

l “Prefeitura de

Belo Horizonte atinge meta e capital ganha árvore de número 54 mil pelo Programa BH Mais Verde.” @deliomalheiros - Délio Malheiros, vice-prefeito da capital mineira

FOTO: ADCE

que pagou US$ 55 mil para matar um leão tenha acabado com sua carreira para sempre. Merece!” @lolaescreva - Lola Aronovich, professora da Universidade Federal do Ceará

l “Sustentabilidade tem a ver com

l “Redução da

maioridade penal: um equívoco que avança na sociedade.” @silva_marina Marina Silva, ex-senadora

l “Células-tronco de crianças filhas

de obesas tem 30% mais gordura e já estão predispostas a virar célula de gordura ao nascimento! Interessante!” @alfredohalpern - Alfredo Halpern, médico

FOTO: UN PHOTO / PAULO FILGUEIRAS

poder andar na rua com segurança e tranquilidade.” @vilummertz - Vinícius Lummertz, da Embratur

LEITURA DIGITAL Além de acessar a internet, smartphones podem nos auxiliar num hábito saudável: o da leitura. Basta navegar pelo aplicativo Google Play na aba “Livros” - e descobrir uma biblioteca virtual com temas que vão de autoajuda a ficção científica. Você pode baixar obras gratuitas de autores históricos como Machado de Assis e José de Alencar, ou escritores contemporâneos, como a queridinha das adolescentes: Thalita Rebouças. Há também as opções de amostras grátis em que você lê algumas páginas e precisa pagar um valor para continuar a leitura. E ainda aqueles livros que só podem ser lidos com pagamento antecipado via cartão de crédito. Disponível para aparelhos Android, o aplicativo prova que opções não faltam! AINDA DÁ TEMPO! As inscrições e indicações para o “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” continuam abertas até 21 de setembro. E se você ainda não fez a sua, acesse o site www.premiohugowerneck. com.br. Já os interessados em acompanhar todas as notícias sobre a premiação, é só curtir a página no Facebook: www.facebook.com/premiohugo.

MAIS ACESSADA A preocupação com a qualidade da água no Rio de Janeiro parece não se resumir ao Comitê Olímpico de 2016, já que a notícia mais acessada do site da Revista Ecológico foi: “Descaso com saneamento continua a fazer vítimas em praias cariocas”. O artigo escrito pela diretora-executiva da ONG SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota, e o biólogo Diego Igawa Martinez, mostra dados chocantes sobre o nível de poluição de cartões-postais como a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Baía de Guanabara. Quer ler o texto na íntegra? Acesse o link: www.goo.gl/3vCOHj

l “Em tempos de Papa... Todos

querem ser abençoados, mas poucos são os que se oferecem como bênção na vida dos outros.” @delitas - Delis Ortiz, jornalista

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FOTO: UNSPLASH / PIXABAY

ECO LINKS

FOTO: TOMAZ SILVA / AGÊNCIA BRASIL

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BAÍA DE GUANABARA: regata retira lixo de um dos locais das provas olímpicas de 2016


1 INOVAÇÃO

PALCO BRASIL

Cidade do Rio de Janeiro é escolhida como modelo para implementar e discutir inovações dos “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável” da ONU

N

o próximo mês, os países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) chegarão a um acordo final sobre a nova agenda global de desenvolvimento, que inclui os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”. Eles foram construídos com base no sucesso dos “Objetivos do Milênio (ODMs)” e, agora, estão prontos para aprovação formal durante a cúpula de líderes mundiais, no fim de setembro. Neste contexto, a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN Brasil) se coloca como peça-chave na implementação do ODS número 11, que apresenta soluções para o desenvolvimento urbano sus-

tentável. Trata-se de uma das 20 redes nacionais e regionais que compõem a SDSN Global, e é formada por organizações da sociedade civil, instituições acadêmicas, públicas e parceiros do setor privado. “Ainda estamos em processo de estruturar nossa rede, mas já contamos com um grupo extremamente capacitado nos apoiando, a partir do Conselho de Liderança da SDSN e das organizações que participam em nosso Comitê Executivo. Um de nossos conselheiros, Marco Simões aceitou o desafio de liderar a execução do trabalho da rede, assumindo a função de diretor-executivo”, destaca Rodrigo Medeiros, vice-presidente da Conservação In-

ternacional (CI-Brasil), uma das instituições coordenadoras da SDNS Brasil. Inicialmente, o trabalho da Rede irá ocorrer no Rio de Janeiro e região metropolitana e, em médio prazo, será expandido para o âmbito nacional. A escolha da capital fluminense não foi por acaso. A decisão passa pelo fato de a cidade estar em pleno processo de transformação urbana, com ações de mobilidade, revitalização das áreas degradadas e economicamente estagnadas, além do momento de visibilidade internacional com as Olimpíadas e eventos mundiais. l SAIBA MAIS www.sdsnbrasil.org.br

Um recanto para quem ama a natureza A 17 km do BH Shopping, próximo ao distrito de São Sebastião das Águas Claras - Macacos, no município de Nova Lima, está à venda um recanto encantado: a Matinha. São 10.000 metros de mata preservada, com água, luz e telefone disponíveis, casa confortável com 4 suítes, escritório, sauna, piscina infantil, galpão com garagens e espaço gourmet, dois canis, galinheiro, horta, árvores frutíferas, casa de caseiro, paisagismo aconchegante e astral privilegiado. O sítio faz parte da AMAME - Associação de Meio Ambiente da Mata do Engenho, que reúne proprietários ambientalmente corretos, resguardados por portaria 24 horas e via exclusiva de acesso interno, sem saída, que termina em área de preservação verde e densa.

Mais informações pelos telefones (31) 3581-8883 e 8784-5775.


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SOU ECOLÓGICO

PARSONS ENCANTADO Inglês de nascimento, o empresário John Parsons era mineiro de coração. Casado com a historiadora Anna Maria, construiu a primeira e uma das mais elegantes e emblemáticas pousadas de Tiradentes: a Solar da Ponte. Erguido na década de 1960 e aberto ao público em 1974, o empreendimento é vizinho à travessa do córrego Santo Antônio, num largo arborizado no centro histórico da cidade. Parsons, que já foi tema de matéria na edição 73 da Ecológico (para lê-la, acesse www.revistaecologico.com. br), foi um dos fundadores da Sociedade Amigos de Tiradentes. Entusiasta da causa ambiental, criou campanhas de meio ambiente, plantou árvores, preservou nascentes e se empenhou para a conservação do belo casario local. E foi um dos ambientalistas mais atuantes na luta pela preservação da Serra São José. Acometido por um câncer, o “advogado do Planeta Azul” encantou-se no último dia de junho. Não à toa, exatamente no mês em que o mundo celebra o “Dia Mundial do Meio Ambiente”e a esperança da humanidade da qual ele era seu fiel depositário.

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: ROBERTO ROCHA

GERDAU PARCEIRA Bastante significativo, útil e informativo o livro “Serra da Moeda – Patrimônio e História”, patrocinado pela Gerdau, sobre a ecologia arqueológica, espeleológica e ambiental da região, localizada no Quadrilátero Ferrífero. Durante seu lançamento, no MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal, mantido pela empresa no circuito cultural da Praça da Liberdade, na capital mineira, a parceria se mostrou frutífera, da qual também participaram a Semad e o Ministério Público. Segundo Marcus Rocha (foto), diretor da Gerdau Minerações Américas, ela reitera o compromisso de toda a organização global com a sustentabilidade: “Minas é hoje uma das nossas principais plataformas de investimentos. Esta publicação é mais uma oportunidade de agradecermos a profícua parceria que temos com o desenvolvimento do Estado, bem como nossa relação ética e responsável com os diversos públicos à nossa volta".

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Acesse o blog do Hiram:

hiramfirmino.blogspot.com

FOTO: DIVULGAÇÃO

MACAÉ E DÉLIO: “Educar é ressignificar"

EMBALAGEM SUSTENTÁVEL A médica homeopata mineira Rita de Cássia Gomes criou uma solução sustentável para embalar a loção hidratante que desenvolveu em parceria com a farmacêutica Sheila Abreu. Leitora e colecionadora da Revista Ecológico, ela utiliza páginas da publicação, que são costuradas nas bordas, para formar uma espécie de sacolinha para acondicionar o produto e distribuir aos clientes. A mãe de Rita, dona Maria, de 84 anos, é quem faz a seleção das páginas com foto que irão compor a sacolinha. A parte de cima da embalagem é composta de dois furos, que recebem um palito de madeira reciclada para fechála. Uma ideia criativa que ainda proporciona ao cliente informação de qualidade, já que também é possível ler as matérias por fora. Nota 10! FOTO: SANAKAN

EMPRESÁRIO AMOROSO No último almoçopalestra realizado pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE/ MG), em parceria com o Sistema Fiemg/Sesi, o empresário Euler Fuad Nejm (foto) não deixou por menos. Presidente da Rede de Supermercados Super Nosso e vice da Associação Mineira de Supermercados (Amis), ele terminou sua exposição sobre os 75 anos de história e empreendedorismo no ramo alimentar iniciado por seu pai falando de amor: “Eu levanto e vou trabalhar todos os dias renovando esse sentimento para mim mesmo, em tudo que faço. Não há outra saída”. Ainda citou Madre Teresa para terminar: “O dia mais belo é hoje. A distração mais bela é o trabalho. E a mais bela de todas as coisas: o amor!” Detalhe: não por acaso, deu overbook no almoço, o que preocupou, mas deixou feliz o anfitrião Sérgio Frade.

FOTO: WAGNER COSTA

SECRETÁRIA MOBILIZADORA Empresa notoriamente compromissada na área de educação ambiental, a ERG Engenharia, sob direção de Délio Soares, realizou no início do mês, em BH, mais uma reunião do Comitê de Mobilização Municipal pela Educação, que ocorre mensalmente nas sedes das instituições dos seus membros. Desta vez, com a presença da secretária de Estado de Educação, a professora e militante Macaé Evaristo (na foto cumprimentando Délio Soares), sob o slogan: “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante”. Em tempo: o prefeito Marcio Lacerda aprovou a adoção escalonada do projeto “Ecológico nas Escolas” para todos os professores e pedagogos do ensino fundamental da capital. Uma parceria que, coincidentemente, começou a ser estudada por Macaé, durante sua gestão na secretaria municipal. Como diz a Bíblia, que não cai uma só folha seca no chão do planeta que não esteja nos planos de Deus, está nas mãos da secretária a volta do projeto às 3.800 escolas públicas do Estado, interrompido temporariamente por causa da mudança de governo.

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hiramfirmino.blogspot.com FOTO: ROSSANA MAGRI

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Acesse o blog do Hiram:

SOU ECOLÓGICO

CSUL RECONHECIDA No dia 18 de agosto, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas (Sede), Altamir Rôso, assinou um comunicado conjunto com a CSul em reconhecimento à importância do projeto de desenvolvimento urbano que será implantado na região da Lagoa dos Ingleses, nos municípios de Nova Lima e Itabirito. O documento, também assinado pelo presidente do Conselho da CSul, Roberto Mário, coloca a Sede como apoiadora institucional do empreendimento e visa gerar novos postos de trabalho e desenvolver e qualificar a mão-deobra local dentro de um ambiente sustentável. “Queremos atuar para que o ambiente de negócios em Minas Gerais seja saudável. Isso atrai novos investimentos, como o da CSul, e cria condições para a geração de renda em diferentes regiões mineiras”, afirmou o secretário.

FOTO: GUALTER NAVES

O ADEUS DE NHÁ TERRA Foi na noite do último sábado de agosto. A lua crescente no céu também era uma atração à parte nas comemorações, ao ar livre, dos 35 anos de vida do Grupo Ponto de Partida em sua nova sede, em Barbacena (MG). Ao contar a história de luta e resistência da trupe mineira hoje reconhecida internacionalmente, a diretora Regina Bertola recorreu à poesia de Manoel de Barros, tão logo as luzes voltaram após um momentâneo curto-circuito que deixou o palco às escuras. Disse ela em sua alegria irradiante, fazendo referência ao público que “iluminou” a escuridão com seus celulares acesos: “Nós somos assim. Se nos tirarem as luzes, a gente convoca os vaga-lumes”. Mal imaginaria Regina e seus companheiros que minutos depois da apresentação do espetáculo “Ser Minas tão Gerais”, ao lado de Milton Nascimento, sua irmã, a atriz Lourdes Araújo, de 57 anos, se despediria do grupo que ajudou a fundar. Ela teve um mal súbito ainda durante a encenação brilhante e morreu vítima de aneurisma abdominal na madrugada adentro de uma Barbacena que também amanheceu chorosa, imersa numa neblina triste. Brincalhona e caricata, foi Lourdes quem interpretou a “Nhá Terra” à frente do Ponto de Partida, que

homenageou a poesia ecológica de Guimarães Rosa, durante a solenidade de entrega do “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, em novembro do ano passado, no Teatro Francisco Nunes, em BH. Na ocasião, coube à atriz e mãezona do grupo a leitura do “manifesto” pela sustentabilidade humana no planeta. É o que a Ecológico reproduz aqui, em sua memória: “Há de se cuidar das nascentes e das águas que alimentam a morada dos homens. Há de se pajear os peixes e os rios, os ninhos e as florestas, as sementes e os frutos, os voos e os nascimentos, os seres minúsculos e os oceanos. Há de se tomar posse da energia que se oferta do sol e dos ventos. Nada pode tornar-se lixo. Tudo tem de ser reciclado, recomposto, reinventado. Há de se plantar árvores longamente e proteger o ar para que seja apropriado para as borboletas e os meninos”. Em tempo: o Grupo Ponto de Partida irá abrilhantar também a sexta edição do “Prêmio Hugo Werneck”. A solenidade de premiação deste ano será no mesmo local, dia 10 de novembro, a partir das 17h. E terá como homenagem especial a memória poética ambiental de Carlos Drummond de Andrade. E a sua também, querida Lourdes, que já deve estar fazendo arte com ele, aí no céu da nossa esperança. É o que lhe deseja toda a equipe da Ecológico.

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Educação em BH

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PÁGINAS VERDES

“O QUE TODO MUNDO QUER É PAZ” Hiram Firmino e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: PAULO PEREIRA / GREENPEACE

le é daquele tipo raro de pessoas que renovam a nossa fé na humanidade e em dias melhores. Sereno e confiante, ao mesmo tempo em que tem os pés fincados na Terra – exerce inúmeros cargos, inclusive o de executivo de uma multinacional – também se permite viajar na dimensão maior da espiritualidade. Aos 53 anos, o capixaba Sidemberg Rodrigues mostra que é possível e imprescindível levar um pouco mais de ética, de compaixão e de Deus ao coração das empresas e instituições. Ao tratar da espiritualidade na gestão, por meio do modelo de Sustentabilidade em 6D, ele faz da sua visão otimista de mundo o grande chamariz das palestras que ministra há anos, no Brasil e no exterior. Em meio à crise financeira, política e de valores que nos assola, as ideias de Sidemberg são um verdadeiro bálsamo. E, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, o poeta maior do Brasil e homenageado principal da 6ª edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, nos dão a certeza de que estamos juntos e de “mãos dadas” na seara comum da nossa caminhada evolutiva. Confira:

Em 2003, a ArcelorMittal Tubarão adotou o modelo de Sustentabilidade 6D, baseado em seis dimensões. A ambiental, a social e a econômica são conhecidas. Quais são as outras três? A política, a cultura e a espiritual. Nossa atuação é inspirada no modelo nórdico, idealizado nos anos 1950 pelos dinamarqueses Ian Larson e Liv Schwarz. Diferentemente do convencional, baseado no tripé (triple bottom line) social (people, pessoas), ambiental (planet, planeta) e econômico (profit, lucro) – o conceito 6D avança

na visão da sustentabilidade não como um tripé destinado a garantir a perenidade e o lucro do negócio; é bem mais amplo e holístico. É um modelo de sustentação da vida, no qual essas seis dimensões interagem e se complementam. Poderia detalhar como vocês concebem e aplicam essas dimensões na esfera cultural? Ela está centrada no respeito e na valorização das tradições e das diferentes culturas, fortalecendo o senso de pertencimento das pessoas. Com a globalização, a perda de identidade se tornou perigosa.

SIDEMBERG: "O momento agora é o da dimensão espiritual"

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SIDEMBERG RODRIGUES

Gerente-geral de Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil, palestrante, poeta, músico e escultor

QUEM É

ELE

Mestre em Sociologia pela PUC-SP e com MBA em Gestão Organizacional pela Fundação Getulio Vargas (RJ), Sidemberg Rodrigues é graduado em Administração e Análise de Sistemas. Nascido em Muqui (ES), trabalha há 33 anos na ArcelorMittal. É membro honorário da Academia Brasileira de Direitos Humanos e preside o Conselho Superior de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do ES. Professor do MBA de Desenvolvimento Sustentável da Fucape Business School, em Vitória, é ainda autor de quatro livros: "Miséria Móvel"; "Espiritual e Sustentável"; "Mensagens do Vento" (poemas de abordagem socioambiental) e "Complementaridade", sobre a transição de paradigmas.

Temos de nos perguntar o tempo todo quem somos e o que queremos. Sentir que fazemos parte de determinada cultura ou sociedade amplifica o nosso propósito de vida e nutre as nossas relações. Fazemos parte de um todo relacional no qual – como bem nos lembra o teólogo Leonardo Boff – tudo merece existir. A dimensão política tem relação com a questão partidária? Não. O objetivo é interagir de forma colaborativa na relação com os diferentes órgãos públicos, atuando com base na ética, na igualdade e na justiça. É o que chamamos de intervenção sistêmica. Procuramos atuar de forma parceira, ionizando e articulando diferentes entidades e pessoas, visando à promoção do bem-estar coletivo. Hoje, observando a atuação dos nossos políticos e o jogo de interesses partidários, perceberemos que a política está ferindo a sustentabilidade... Em que aspectos?

“O melhor que o ambientalismo e a mídia podem fazer é incentivar a reconexão do homem consigo mesmo. Reconectados, voltaremos a valorizar a sensação de calma e bem-estar que sentimos toda vez que contemplamos uma montanha, o mar, o céu.”

A crise mundial é, sobretudo, uma crise política. Não temos um grande estadista que nos represente ou aponte uma direção. As pessoas estão perdidas, sem referência; em especial os jovens. Sou escultor. Passo horas entalhando madeira e já me peguei pensando, várias vezes, por que não vemos surgir novas figuras do quilate de um Michelangelo, Beethoven ou Nelson Mandela. Estamos nos perdendo no turbilhão da mídia e da tecnologia, cujo lema é: muito ritmo e pouco rumo. Resultado: estamos correndo muito, mas não sabemos para onde e nem para quê. Na última eleição presidencial, mesmo com o Brasil literalmente "pegando fogo" – no auge da crise hídrica, a nascente do Rio São Francisco secando... – nenhum dos candidatos empunhou a bandeira da causa ambiental. Acredita que nossos políticos estejam perdidos nesse mesmo turbilhão, sem rumo?

De modo geral, eles estão mais preocupados em se autoproteger, preservando suas alianças e partidos. A meu ver, o maior problema ambiental brasileiro não é o desmatamento nem a poluição atmosférica, tampouco o descaso com o lixo. O que está matando e adoecendo as pessoas é a falta de saneamento. Água de qualidade e esgotos tratados são essenciais à vida, mas continuam sendo ignorados pelos políticos... Continua prevalecendo a máxima de que "obra debaixo do chão" não dá votos... Infelizmente, sim. Países como o Canadá estão reduzindo os leitos em hospitais e as vagas em presídios. Isso só é possível com políticas públicas sérias e investimento maciço em saúde, infraestrutura e educação. Se os políticos brasileiros não atentam para a importância do saneamento, como terão um olhar altruísta para o outro? A política virou meio de enriqueci-

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PÁGINAS VERDES mento, e isso é triste. Deveria ser missão, não acumulação. A maioria só pensa em defender o seu. É o velho ditado popular: ‘Farinha pouca, meu pirão primeiro’. Das seis dimensões mencionadas, a espiritual é, sem dúvida, a mais ousada. Ela já estava prevista no modelo dos anos 1950? Não, havia a dimensão interacional. O termo espiritual eu adotei por minha conta. Preconiza o autoconhecimento e te leva a se posicionar em relação ao que você é e quer – assim como ao que você não é e não quer para a sua vida. Com isso, nos leva ao aprimoramento do senso moral, que rege a ética das relações, inspirando a compaixão e o cuidado com o outro. Sempre com a consciência de que todos – pessoas, empresas, governos e organizações – compartilhamos um único planeta e estamos no mesmo barco. Essa dimensão está associada à religiosidade? Não. As religiões são crenças. Integram, portanto, a dimensão cultural. Além de trabalhar na Arcelor, você escreve livros e faz palestras sobre espiritualidade na gestão. Como é a receptividade das plateias, em especial dos empresários? É muito positiva. Porque cada vez mais as pessoas compreendem que fazemos parte de um todo e que, quanto mais saudável for o tecido social em que estamos – empresas, comunidades, ONGs e poder público – melhor será para os negócios. Nenhuma empresa prospera num tecido social doente, marcado por carências, doenças, violência, desigualdade, onde faltam oportunidades de formação e qualificação de mão de obra etc.

Então é mais sábio e lucrativo ser sustentável? Sem dúvida. E vou além: o modelo ‘explorar para prosperar’ é paleolítico, não funciona mais. Temos de quebrar paradigmas. A dimensão espiritual nos move rumo ao autoconhecimento, à ética, à compaixão e à visão holística, com a noção de que tudo merece existir e que algo só é bom quando é bom para todos. Como vocês aplicam esses conceitos na prática? Pautamos nossa atuação pelo princípio da corresponsabilidade institucional. Como parte do tecido social, nos articulamos com as diferentes instituições e órgãos públicos, porque acreditamos que um mundo melhor, com mais justiça, paz e igualdade, é essencial para o sucesso de qualquer negócio. Não fazemos isso porque somos bonzinhos. É uma questão de sobrevivência. E porque sabemos que é possível diminuir o sofrimento das pessoas. Com que órgãos vocês interagem? Em Vitória, fomos a campo e procuramos entidades como o Tribunal de Justiça, o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Militar e perguntamos como poderíamos ajudá-los a superar dificuldades técnicas, metodológicas etc. nos programas sociais que eles já de-

“Ao contrário do que muitos acreditam, o pensamento não é imaterial. Temos sim a capacidade de influenciar positivamente o outro; isso é física quântica, está provado.”

FIQUE POR DENTRO DIRETOR ESPIRITUAL Para frear a ganância que afasta as corporações de seus valores e propósitos, várias empresas dos Estados Unidos estão criando o cargo de CSO (chief spiritual officer) ou diretorchefe espiritual. A ideia partiu do autor especializado em gestão Ken Blanchard. Ele defende a necessidade de designar um profissional capaz de zelar pela manutenção dos valores inegociáveis de uma organização, e assumiu essa função em sua própria empresa. “Enquanto as empresas não pararem de enxergar funcionários como despesas, passando a considerálos seus ativos, o papel do CSO não será universal”, alerta a CSO Susan Corso. (Com informações da Exame.com)

senvolvem. Diferentemente do que fazem outras empresas, não implantamos projetos sociais prontos, sem conhecer a realidade ou as demandas da comunidade. Isso é “enxugar gelo”, é agir na consequência. Procuramos ir além, atuando na causa das deficiências já existentes no sistema público. Pretendem fazer o mesmo aqui em Belo Horizonte? Já estamos fazendo. Apoiamos o programa “Trabalho, Justiça e Cidadania (TJC)”, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho 3ª Região (Amatra/MG), presidida pelo Dr. Bruno Alves Rodrigues. Implantamos um primeiro módulo em Vespasiano, na Escola Municipal José Paulo de Barros, levando noções básicas sobre direitos da criança e do adolescente e o funcionamento da Justiça. Com isso, contribuímos para a formação de cidadãos mais preparados e conscientes de seus deveres e direitos.

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SIDEMBERG RODRIGUES

Gerente-geral de Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil, palestrante, poeta, músico e escultor Há outras iniciativas em articulação? Atuamos também na ressocialização de jovens, com a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/MG), sob a coordenação da Dra. Ana Cristina Matta Machado, e apoiamos o programa “Ministério Itinerante”, uma parceria com o Ministério Público Estadual de MG. Com o Ministério Público do Trabalho (MPT/MG), cuja procuradora-chefe é a Dra. Márcia Campos Duarte, vamos iniciar um programa de ressocialização de egressos do sistema prisional, em articulação com o MP Estadual. Pretendemos chegar ao BH Cidadania, da Prefeitura; e ao Minas Pela Paz, da Fiemg. A ideia é fomentar uma verdadeira revolução social.

Como você define o clima organizacional nesta Unidade? Serenidade. A Arcelor é uma empresa zero tabaco; nenhum dos funcionários fuma. Criamos vários programas de aconselhamento e prevenção de doenças. Temos 5.800 empregados e o perfil interno de saúde aponta que 90% deles têm níveis de glicemia, colesterol e triglicerídeos, entre outros, sob controle. Na dimensão cultural, usamos arte e música para sensibilizar as equipes.

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no ambiente de trabalho e elevam a autoestima de todos. A interação entre essas dimensões também trouxe ganhos ambientais para a Arcelor? Sim. Nós nos valemos, por exemplo, da dimensão política para estreitar relações com as universidades e ampliar as pesquisas para o reaproveitamento de subprodutos industriais da fabricação do aço. Ano passado, reaproveitamos 3,1 milhões de toneladas de resíduos, entre eles escória. Estamos transformando pilhas e pilhas desse material – que era um sério passivo ambiental – em ativo social. A escória é misturada com argila e usada no revestimento primário de estradas.

anos

E desde quando essa iniciativa é realizada? Voltando ao modelo Desde 2003. Já pavide Sustentabilidade mentamos mais de 500 em 6D, quais foram quilômetros de estraos principais ganhos das rurais e vicinais, de gestão alcançados além de vias urbanas. Estudos Ambientais e Espeleologia na Unidade de Graças a essa iniciaativoambiental.com.br Tubarão, na Grande tiva, a produção hor31 34813335 Vitória? tifrutigranjeira chega Cachoeira do Tabuleiro, MG O percentual de aciaos centros de distridentes vem caindo buição e, nos períodos anualmente, apesar de sermos Como isso é feito? chuvosos, as crianças frequentam uma indústria pesada de grau 4 – Temos o projeto “Talentos da Com- a escola normalmente. Como o ou seja, o mais elevado em termos panhia”. Um ônibus que funciona modelo de Sustentabilidade em de periculosidade no ambiente como galeria de arte e circula em 6D prevê a evolução contínua, deoperacional. Percebemos que: todos os restaurantes, expondo mos mais um salto, fomentando o estará mais atento quem estiver esculturas, pinturas e artesanato uso da escória para a fabricação mais feliz. A pessoa feliz é menos feitos por funcionários e seus fa- de blocos. distraída, se acidenta menos, é miliares. Organizamos também o mais centrada, produtiva e cria- festival “Talentos Musicais”, com Blocos para uso na tiva. Essa é a lógica! Ao contrário a participação de funcionários, construção civil? do que muitos acreditam, o pen- terceirizados e aposentados. Ano Sim. Eles são produzidos em presamento não é imaterial. Temos passado, reunimos 50 candida- sídios e vendidos a preço de custo sim a capacidade de influenciar tos num grande show, no Theatro para as prefeituras, sendo usados positivamente o outro; isso é física Carlos Gomes, em Vitória. A músi- em obras de infraestrutura etc. ca e a arte incentivam a harmonia No quesito ecoeficiência, a nosquântica, está provado. Leandro Maciel

desenvolvendo soluções ambientais. Nosso muito obrigado aos clientes e parceiros.

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Considerando a crise atual – em especial o caso da Grécia – e a declaração do Papa Francisco de que ‘capitalismo sem Deus, sem amor ao próximo e à natureza é uma ditadura sutil’ sobre os povos, você acredita que o capitalismo também pode se espiritualizar? Sim. Para não desaparecer, ele terá, no mínimo, de se humanizar. A lógica excessivamente cumulativa e gananciosa de Wall Street não é sustentável, e só faz aumentar o abismo entre ricos e pobres. A poeta e escritora mineira Adélia Prado já nos ensinou que a espiritualidade é ‘um espaço dentro do corpo onde aquilo que não existe, existe’. Ela é o grande telescópio para o século 21... Por que usa essa metáfora? Porque a espiritualidade se sustenta na visão holística e leva o homem ao aprimoramento do senso moral. Ela nos lembra que, em momentos de crise como agora, acumular e lucrar mais do que o necessário não é moral nem ético e muito menos sustentável. Repito: nada prospera num tecido social doente, falido. Como, então, tirar o capitalismo da encruzilhada em que ele se encontra? Certamente não será por meio de nenhuma medida econômica. Mas da criatividade, da inovação e do combate à desigualdade. A equação é clara: satisfação

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

sa Unidade Tubarão também é autossuficiente na produção de energia elétrica. Os gases gerados no processo alimentam uma usina que produz 500 megawatts/ hora. Com isso, asseguramos o abastecimento integral da fábrica e ainda vendemos a energia excedente ao mercado.

“A poeta e escritora mineira Adélia Prado já nos ensinou que a espiritualidade é 'um espaço dentro do corpo, onde aquilo que não existe, existe.” individual = excelência coletiva. Nesses tempos de individualismo extremo, consumo compulsivo e ganância desenfreada, a maioria das pessoas ainda não se deu conta de que nenhuma produção capitalista será capaz de preencher o nosso vazio existencial. A sensação de solidão e impotência impera... Por isso, precisamos resgatar valores adormecidos, ter propósitos mais nobres para a nossa vida. Do ponto de vista metodológico, técnico e econômico tudo já foi testado. O momento agora é o da dimensão espiritual, com a globalização dando espaço às culturas locais e com as pessoas em busca da conexão consigo mesmas, com o outro e o planeta. Temos de sair do ‘eu’ e ir para o ‘nós’. Esse é o novo paradigma.

A ansiedade é uma das marcas do mundo moderno. A meditação é o antídoto? Eu medito o tempo inteiro, até mesmo enquanto caminhava vindo para esta entrevista. Procuro me centrar e ficar atento à minha respiração. Mas acredito que, para combater a ansiedade, a contemplação seja mais benéfica. Na correria diária, a maioria das pessoas olha, mas não vê o que está ao redor nem o outro. Fazem selfies e congestionam as redes sociais porque estão mais preocupadas em registrar do que em vivenciar, de fato, os bons momentos. Há pessoas que têm milhares de seguidores virtuais, mas essencialmente estão sozinhas. Já vivenciou alguma situação parecida? Sim, temos de nos policiar. Noite dessas, estávamos em meu sítio e notamos que uma ninfeia havia desabrochado. Estava linda, era noite de lua cheia e a primeira reação minha e de minha mulher, a Cláudia, foi correr e pegar o celular para fotografar. De repente, paramos e decidimos fazer diferente. Abrimos uma garrafa de vinho e ficamos um tempão contemplando a flor e conversando. Só depois tiramos a foto... Ou seja: estamos nos esquecendo do tempo presente, do agora. Vivemos ora lamentando o passado, ora preocupados com o futuro. Raramente estamos inteiros no que fazemos. Ao falar sobre a dimensão espiritual você frisou que ela não está ligada à religiosidade. E você: acredita em Deus? Piamente. E digo mais: tenho certeza de que somos regidos por uma grande inteligência, que é Ele. Tudo o que está se desenvolvendo e evoluindo agora, no que diz respeito à

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SIDEMBERG RODRIGUES

Gerente-geral de Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil, palestrante, poeta, músico e escultor

Em que lógica se baseia para afirmar isso? A necessidade da transcendência está cada vez mais clara para as pessoas e as evidências são muitas. Cientistas já descobriram o chamado de “ponto de Deus”. É uma área do nosso cérebro responsável pelas experiências espirituais. A filósofa e psicanalisa norte-americana Danah Zohar trata disso em livro (leia a seguir). Há muita bondade na visão desse Regente. É como se fôssemos uma orquestra executando um solo desafinado... Deus está nos dando a chance de rever nossos rumos e tocar uma sinfonia planetária e coletiva perfeita. Você também é compositor e toca piano. Se a sustentabilidade fosse uma música, qual seria? O Bolero de Ravel. Por quê? Embora seja uma composição simplória, se comparada a outros clássicos, ela é uma espiral, é “mandálica”, fica ecoando na mente. É usada em sessões de musicoterapia, para tratar pessoas com esquizofrenia, porque é uma música expansora, envolvente. Tem, portanto, a mesma dinâmica da Sustentabilidade em 6D, que começa nas pessoas e vai amplificando, ionizando e sensibilizando todos os segmentos da sociedade. Na visão ‘espiritualizada’ da sustentabilidade, qual é o papel do movimento e da mídia ambientalistas? A pior coisa que aconteceu ao

EXEMPLO DA CASA No contexto da liderança empresarial, Sidemberg Rodrigues tem como exemplo e referência o presidente da ArcelorMittal Brasil e do Segmento de Aços Planos América do Sul, Benjamin Mário Baptista Filho (foto). Formado em Engenharia Metalúrgica pela PUC-RJ em 1976, Baptista está no grupo desde 1983. Nascido em Teresina (PI), é também presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil e diretor do comitê-executivo da Associação Latino-americana do Aço (Alacero). Em março deste ano, Baptista e o CEO de Aços Longos Américas Central e do Sul, Jefferson De Paula – que é conselheiro do “Minas pela Paz” e tem demonstrado grande disposição em viabilizar as intervenções sociais em Minas – assinaram um termo de cooperação com o Instituto Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado, para a preservação de 4.750 nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, entre o ES e MG. A empresa vai doar R$ 6,8 milhões em insumos como grampos, arames e mourões, beneficiando 2,5 mil proprietários rurais.

FOTO: DIVULGAÇÃO / ARCELORMITTAL

interligação entre grandes blocos de projetos, iniciativas mundiais de ajuda humanitária e de pessoas diferenciadas assumindo determinadas posições – o Papa Francisco é uma delas – tem o dedo Dele.

homem foi o distanciamento da natureza. É ela que dá magia e alquimia à vida, tornando tudo mais suave e equilibrado. O melhor que o ambientalismo e a mídia podem fazer é incentivar a reconexão do homem consigo mesmo. Reconectados, voltaremos a valorizar a sensação de calma e bem-estar que sentimos toda vez que contemplamos uma montanha, o mar, o céu. No fundo, no fundo, o que todo mundo quer é paz. E na natureza nós a encontramos. Diante de tudo o que tratamos aqui, qual é – como cidadão – o seu nível de esperança na humanidade? Altíssimo. A falta de vontade política e a descontinuidade das ações a cada troca de governo me desgostam bastante. Mas tenho esperança. O sofrimento e a expiação chegaram a tal ponto no planeta que só podemos avançar. E mais: a Terra nunca precisou de nós. Pode até mesmo dar uma chacoalhada e nos expulsar, como fez com outras espécies há bilhões de anos. Com o ego sob

controle temos tudo para nos valer cada vez mais da nossa mente fantástica. Ela nos leva à transcendência, ao desejo de comunhão com todas as formas de vida e a buscar o que é bom para o coletivo, com sabedoria e luz para tudo. Se pudesse tocar a mente e o coração dos nossos leitores com um único um recado, qual seria? Ame!  SAIBA MAIS

O Grupo ArcelorMittal é o maior fabricante de aço do mundo e produtor global de minério de ferro. No Brasil, são 29 unidades de negócio, com capacidade de produção de 11,3 milhões de toneladas de aço bruto/ano e mais de 15 mil funcionários. brasil.arcelormittal.com www.sidemberg.com QUE TAL OUVIR O BOLERO DE RAVEL? Acesse: www.youtube.com/ watch?v=LwLABSm0yYc SUGESTÕES DE LEITURA: "Felicidade S/A" - Alexandre Silveira, Editora Arquipélago "QS – Inteligência Espiritual" – Danah Zohar e Ian Marshall – Editora Viva Livros

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

RETROCESSO AMBIENTAL

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governo mineiro e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) deram mais uma rasteira no processo democrático. Aprovaram, sem qualquer participação da sociedade e dos técnicos do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), o Projeto de Lei nº 1.915/2015, transformado na Lei nº 21.735, de 03 de agosto de 2015, que retira do Conselho Estadual de Política Ambiental competência para definir normas relativas à participação de municípios no licenciamento ambiental e a transfere ao governo através de decreto. Determina ainda que atividades consideradas de interesse público não serão municipalizadas. Entre elas não estão incluídos, no entanto, projetos agropecuários, causadores de impactos ambientais violentos. O secretário Sávio Souza Cruz defendeu o PL alegando que não fere o Copam e que impediu a aprovação de propostas piores. Mas o texto da lei é claro e revoga sim o inciso V, do artigo 4º, da Lei Delegada nº 178, de 29 de janeiro de 2007, que estabelecia esta competência. E quanto à segunda alegação, não é procedente. Assim como conseguiu aprovar o PL em tempo recorde, o governo poderia bloquear as tais “propostas piores”. O Copam até pode ser “ouvido” ainda. Mas o assunto não deve ser considerado irrelevante por se tratar de mais uma iniciativa do Executivo para isolar formalmente setores da sociedade, como organizações não governamentais de defesa do meio ambiente, representantes da academia, instituições sociais e outras das decisões na área ambiental. Não inclui o setor privado, pois seu poder econômico dispensa colegiados. Fala diretamente com os governos. Difícil entender o que move o Governo nesse pro-

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cesso de enfraquecimento dos colegiados. Autoritarismo? Comodismo? Miopia política? Subordinação a interesses políticos/econômicos? Os colegiados, além de pilares da democracia, são o melhor caminho para elaboração, melhorias e validação de políticas públicas e projetos privados. O Copam-MG ficou famoso por ter sido o primeiro colegiado no Brasil que, antecipando-se à abertura política do regime militar, nasceu com poder deliberativo e participação da sociedade. Os embates, conflitos e acordos que nele aconteceram resultaram em avanços impressionantes no diálogo entre os setores públicos e da sociedade que dele participam. O conhecimento das propostas da força-tarefa “chapa-branca” instituída pelo governo para propor modificações no Sisema fica por conta das fofocas. Entre elas a de que empreendimentos classes 3 e 4 seriam licenciados pelos superintendentes das Suprams e não mais pelo Copam. Diversos deles foram substituídos com base exclusiva no critério “QI” (Quem Indica). Assim como o anterior, o atual governo de Minas está na contramão da história e completamente equivocado no trato da questão ambiental. As dificuldades do licenciamento não serão resolvidas com restrições à democracia. Elas são de base: estão nos baixos salários, na falta de planejamento, na deficiência gerencial, na pouca integração entre setores da administração pública, nas nomeações políticas, no sucateamento do Sisema e no frágil compromisso que emana do Palácio Tiradentes.  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).


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1 POLÍTICA & RELIGIÃO

EM MEMÓRIA DE

FRANCISCO

Marcio Lacerda e o teólogo Leonardo Boff confirmam o legado da encíclica “Louvado Seja”, assinada pelo papa mais ambientalista da história do Vaticano Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: AFP PHOTO / OSSERVATORE ROMANO

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ode a política, a teologia e a filosofia se irmanarem em busca de um novo modelo civilizatório para a raça humana, capaz não somente de torná-la sustentável, mas de salvar também o planeta e sua natureza à véspera do anunciado inferno climático que vem por aí? Pois é o que o Papa Francisco, em sua revolucionária encíclica “Laudato Si” (“Louvado Seja”), tem conseguido fazer acontecer mundo afora. No Brasil, particularmente em BH, entre as montanhas de Minas, o prefeito Marcio Lacerda apostou na implantação da sustentabilidade no plano de governo desde o seu primeiro mandato, iniciado em 2009. Mal sabia ele que, hoje, 45 anos depois da histórica Conferência de Estocolmo, quando, pela primeira vez, a humanidade e os seus governantes conjugaram as palavras “desenvolvimento” e “meio ambiente”, a sustentabilidade se tornaria o outro e simplificado nome de “desenvolvimento sustentável”. Ou seja, somente todo e qualquer progresso que seja “economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente mais justo”. Sustentabilidade. Que palavra-chave tão mágica é essa? O que ela significa para estar sendo adotada universalmente, inclusive por outros modelos políticos e crenças religiosas? Eis a questão ecológica, trazida à tona de forma universal pelo Papa Francisco. Ao contrário do glamour que à primeira vista inspira, sustentabilidade significa, franciscanamente, “sobrevivência”. Sobrevivência do planeta e de todos nós, sejamos católicos ou não, capitalistas ou socialistas. Nada do que nos diferencia ideologicamente importa mais sob o ponto de vista da natureza, em processo de morte e extinção induzida. Voltando ao prefeito Marcio Lacerda, afinal, por que estamos falando dele? Porque o destino (ou

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O ditado popular, enfim, que define a sustentabilidade, em todas as línguas e religiões, é “estarmos todos no mesmo barco”

missão) fez ele se candidatar e ser eleito presidente da recém-criada Frente Nacional de Prefeitos (FNP). Uma entidade que representa as maiores cidades brasileiras igualmente ungidas no conceito de sustentabilidade em suas políticas públicas. E, junto de seus colegas prefeitos de São Paulo, Salvador, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre, entre 60 governantes locais de 29 países convidados pelo Papa Francisco, coube a Lacerda promover a posição brasileira durante o workshop “Escravidão Moderna e Mudanças Climáticas: O Compromisso das Cidades”, organizado pelo Vaticano. Lacerda em Roma, na Itália, e Leonardo Boff passando recentemente por BH para discursar em um evento do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra. O que um engenheiro, político e administrador público, filiado a uma legenda partidária, tem a ver com um filósofo, teólogo, professor de ética, religião e ecologia, escritor e ex-frade perseguido pela própria Igreja por defender a Teologia da Libertação, cujo maior diferencial é fazer da fé cristã um fator de mobilização social? Tudo! Responderia o Papa Francisco, sob a ótica da ecologia integral que ele prega e vem convidando religiões e governos diferentes do mundo inteiro a abraçarem. Para quem não sabe, muito mineiramente, e lá de Petrópolis (RJ), onde mora, o próprio Boff ajudou muito o pontífice na criação do conteúdo da sua encíclica emblemática. É só prestarmos atenção

em termos descritos pelo Papa, como “grito dos pobres” e “nossa casa comum”, para confirmar a autenticidade e a participação desse teólogo neto de imigrantes italianos, cujo pai também tinha formação jesuíta. O ditado popular, enfim, que define a sustentabilidade, em todas as línguas e religiões, é “estarmos todos no mesmo barco”. É o que a Ecológico mostra nesta edição, com exclusividade, a menos de cinco meses da 21ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-21). A anunciada última convocação global do mundo político-científico e da humanidade, a se realizar em Paris, a “Cidade Luz”, quando dezembro chegar. Confira!

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1 POLÍTICA & RELIGIÃO

FOTO: SOLANGE SOUZA / FNP

“O Papa é municipalista!” MARCIO LACERDA: "Estamos negociando com a ministra Izabella uma representação forte de prefeitos comprometidos na COP-21"

Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

O senhor é um dos primeiros administradores públicos na história político-ambiental brasileira a abraçar, como plano de governo, a questão da sustentabilidade. E agora, como presidente da FNP, ficou frente a frente com o Papa Francisco e sua encíclica revolucionária. Destino ou missão? Ao lado de outros cinco prefeitos companheiros, fui apenas uma testemunha privilegiada da convocação mundial que o Papa nos fez, levando a nossa contribuição para, juntos, enfrentarmos os desafios em curso das mudanças climáticas. Destino, missão ou revolução é a nova ética religiosa que a “Laudato Si” nos propõe: “O exame de consciência e o instrumento que a Igreja sempre recomendou para orientar a própria vida à luz da relação com o Senhor deverá incluir uma nova dimensão, considerando não apenas a comunhão com Deus, os outros e consigo mesmo, mas também com todas

as criaturas e a natureza”. Isso é revolucionário e inclusivo na ética católica. E diz respeito a todos nós, católicos ou não, mas enquanto seres vivos e semelhantes a tudo que nos sustenta. Se meio ambiente ainda não dá votos no Brasil, o que acha que pavimentou esse seu encontro com o Papa, levando a mensagem dos prefeitos brasileiros convidados? Eu já declarei à Revista Ecológico, tempos atrás, a forte ligação que sempre tive com a natureza: a minha relação, desde garoto, com a biodiversidade da Mata Atlântica, bem como da minha tristeza, já adulto, sempre que eu lia matérias sobre degradação ambiental. Na prefeitura de Belo Horizonte, essa oportunidade de agir e atuar na questão ambiental me apareceu naturalmente. Se você rever nosso plano de governo, desde a minha primeira gestão, a questão da sustentabilidade está muito presente.

Como assim? Em sua próxima assembleia geral, dia 25 de setembro, em Nova York (EUA), a ONU vai anunciar os novos “17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, que deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos 15 anos. Eles irão substituir os atuais “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs)” acrescentando esta visão mais completa, inclusive espiritual, da sustentabilidade evocada pelo Papa. Além do econômico, social e ambiental, hoje já se fala também da cultura como preservação da vida e expressão da nossa identidade e responsabilidade com o planeta. Isso tem a ver com a sustentabilidade humana e a questão política, focadas num modelo de democracia também naturalmente mais participativa. Políticos tradicionais ainda não costumam frequentar fóruns de discussão ambiental. Preferem

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mandar representantes. Tomou gosto pela causa? Há como não tomar, diante da sua universalidade e necessidade planetária, uma vez que, lato sensu, como a Ecológico sempre nos faz lembrar, “sustentabilidade” significa “sobrevivência” de todos nós? É por isso, acredito, e pelo que vimos fazendo e tentando implantar na prefeitura, desde quando sediamos o “Congresso Mundial do ICLEI (Rede de Governos Locais pela Sustentabilidade)”, que a capital mineira entrou definitivamente no mapa e na agenda global da sustentabilidade. São muitos os convites que recebemos para participar e mostrar o que estamos fazendo de políticas públicas nesta direção. Esta sua militância agora nacional junto à FNP não fica mais difícil diante da situação de penúria financeira que vive a maioria quase absoluta das nossas cidades e municípios? Pelo contrário, nos abriu mais espaço. Exatamente porque está tudo difícil, os governos federal e estaduais aceitam conversar com a gente. Na época da bonança, da questão imperial, não. Hoje temos expressão política porque somos capazes de ajudar. A oportunidade trazida pela crise é atuarmos e conseguirmos mais mudanças. Até o Papa Francisco se diz municipalista. Afinal, ele também reconhece que é na cidade onde primeiro acontece a degradação ambiental e social. E as suas soluções também.

problemas globais”. Diante da ineficiência dos governos centrais em oferecer respostas efetivas e urgentes para essas questões, o convite do Vaticano reafirmou que é nas cidades que o enfrentamento pode ser feito de forma mais concreta. É flagrante o momento de empoderamento dos governos locais. Esse movimento, promovido pela liderança mundial que o Papa Francisco representa, marca ainda mais essa mudança. Doravante, atuando em redes, os prefeitos brasileiros têm de assumir esse seu novo papel, que é construirmos cidades melhores e mais sustentáveis, o que também representa uma mudança na concepção da forma de viver em sociedade. Temos, enfim, um Papa municipalista e o reconhecimento internacional de que é nas cidades, onde 95% da humanidade estará vivendo até a me-

Isso foi encaminhado ao Papa? Sim, e está no nosso editorial da FNP, quando afirmamos: “Trazer às discussões das questões climáticas, da escravidão moderna e do desenvolvimento sustentável, a opinião de 60 prefeitos de 29 países demostra o alinhamento do Papa com a mudança de paradigmas para as soluções dos

tade do século, que as políticas públicas acontecem. Há quantas anda esse processo de urbanização e municipalização global? No mundo, hoje, 50% das pessoas já vivem nas cidades. Em 2050, será 70%. Até a Índia hoje, por exemplo, tem 25% vivendo nas cidades. O Brasil já é 83% urbano, sendo que na Região Sudeste é 93%. E o Norte e Nordeste estão com 73%. Esse crescimento acelerado, que em BH aconteceu na década passada, gera muitos desequilíbrios socioambientais. Temos a destruição continuada das áreas verdes, pessoas morando em regiões geologicamente instáveis, falta de saneamento básico. Isso reforça a tese que a maioria dos nossos problemas está mesmo nas cidades e é nelas que os impactos maiores de mudanças climáticas e dos efeitos sociais

REPRODUÇÃO da Ecológico número 34, publicada em julho de 2011, quando Marcio Lacerda anunciou seu plano para uma BH sustentável

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FOTO: FERNANDA MANN

1 POLÍTICA & RELIGIÃO

OCUPAÇÃO ilegal da Granja Werneck, no bairro Isidoro: ausência do Estado e políticas públicas sustentáveis

irão acontecer. Mas também é nas grandes aglomerações humanas que se reúne uma sinergia de talentos, conhecimentos e diferenças que, quando se juntam, promove inovação, criatividade e expressões de conhecimento novas. É o que nos conta cidades como Atenas, Roma e Nova York em suas fases de crise e bonanças. As favelas do Rio, por exemplo, são vistas por alguns estudiosos como uma solução para as pessoas morarem mais próximas do emprego, da cultura, do lazer. No caso de Nova York, a sua qualidade de vida atrai muito o rico e o pobre. Não tem como se evitar essa desigualdade nas cidades, nem a busca de soluções. O convite do Papa foi depois que o senhor tomou posse na FNP? Foi. Mas, mesmo que não estivesse na Frente de Prefeitos eu teria participado, porque eles convidaram somente as cidades brasileiras que têm protagonis-

mo nas questões ambientais: Goiânia, São Paulo, Curitiba, BH, Salvador e Porto Alegre. Foi um convite da ONU. Qual foi o seu sentimento frente ao pontífice? O de estar participando de um momento histórico, de ver que as cidades têm espaço. O economista nova-iorquino Edward Glaeser, em seu livro “Os Centros Urbanos: a maior invenção da humanidade”, defende a tese da cidade compacta. Ele fala que um município ambientalmente mais sustentável é aquele que não se “espalha” geograficamente. Quanto mais você “espalha” uma cidade, mais gasto você tem com energia, estrutura, mobilidade, que é o modelo das aglomerações urbanas americanas. O autor fala que os ambientalistas são contra pegar uma área verde no centro da cidade e urbanizá-la, preservando o verde. Isso porque se gera mais pegada de carbono.

E aquelas pessoas que querem viver perto do verde vão procurar isso onde? Eles não têm essa oportunidade dentro da cidade e vão gerar mais pegadas de carbono. Então, uma cidade compacta é ambientalmente a mais sustentável. Isso é o que sempre defendemos em nosso plano diretor sobre a ocupação do solo no nosso município. Vamos fazer um evento em BH, no início de outubro (“68ª Reunião Geral da FNP”), em que o primeiro dia será focado nessa discussão do novo arranjo urbano para os municípios brasileiros. A experiência de BH comprova este caminho? Não só comprova como valida a necessidade vital tanto do planejamento integrado quanto do longo prazo nas políticas públicas das prefeituras brasileiras. Se pegarmos o nosso plano de governo do segundo mandato, são 40 projetos com mais de 500

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ações continuadas. Fiz um balanço outro dia para ver como estamos e como pretendemos entregar a Prefeitura de BH em termos de percentual de realização do que nos propusemos. Estamos bem. Mesmo com todas as dificuldades que vivemos, cerca de 80% das nossas ações já foram realizadas e concluídas. E quanto à 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-21), que será realizada em dezembro, em Paris, quando se espera a maior participação de estadistas mundiais? Estamos negociando com a ministra Izabella Teixeira termos uma representação forte de prefeitos de capitais brasileiras comprometidas com a temática da sustentabilidade trazida agora à luz universalista da “Laudato Si” do Papa Francisco. Esse posicionamento do Vaticano veio em um momento prévio a essas movimentações rumo à COP-21, o que nos dá mais autoridade para estarmos presentes. Isso nos empoderou muito enquanto gestores públicos de uma nova visão de mundo e do papel revolucionariamente protagonista que cabe aos municípios.

bairro Isidoro, divisa com o município também impactado de Santa Luzia. O local invadido era a última área verde que restava em toda a nossa região leste e tinha um projeto de ocupação sustentável, em consonância com o “Programa Minha Casa, Minha Vida”. Eu estava em Brasília, nessa ocasião, e resolvi passar e pedir uma benção do nosso Núncio Apostólico e reitor da PUC-MG, Dom Joaquim Giovani Mol. Ele me disse que também havia muita gente contra o próprio Papa e sua encíclica. Como assim? Que não é certo uma ala da Igreja, por motivo algum, apoiar invasões clandestinas e politizadas que primeiro destroem todo o meio ambiente natural e preservado que existia ali, cortando e pondo fogo em todas as árvores. E, depois da degradação ambiental consumada, vir falar em ecologia social. Quem faz isso, e é muito triste que a situação não seja enfrentada à luz do que o próprio Papa vem pregando, não é do bem. No caso do Isidoro, todas as tentativas de negociação que fizemos falharam. Os invasores pedem coisas impossíveis. Agora querem ficar lá até porque estão

Quando o Papa estava falando com vocês, passou-lhe pela cabeça uma esperança real de mudança no modo de pensar e ser dos nossos prefeitos e demais políticos, bem como dos eleitores? Teve uma turma que fez e enviou também para o Papa um documento me acusando do contrário, que eu era inimigo do meio ambiente em BH. Como exemplo, este documento cita a invasão antiecológica não resolvida até hoje, pelo governo estadual, na ex-Granja Werneck, no

"Não é certo uma ala da Igreja apoiar invasões insustentáveis que primeiro destroem todo o meio ambiente natural e preservado que existia ali, cortando e pondo fogo em todas as árvores. E, depois da degradação ambiental consumada, vir falar em ecologia social." sendo ameaçados de morte pelos bandidos que tomaram conta da área, se fizerem acordo conosco. Voltando ao Papa... Um ex-padre comentou comigo que ele é um jesuíta com cabeça de franciscano. E é verdade. O jesuíta é um intelectual, um evangelizador-soldado, cuja ordem foi fundada por Dom Ignácio de Loyola para combater a Reforma Protestante. Para o franciscano, a herança de São Francisco de Assis é a questão do despojamento e da iluminação no sentido da visão de amor à natureza, aos pássaros. A todos os seres vivos cuja matriz fazemos e somos partes integrantes, contra ou a favor da sustentabilidade, o que a humanidade começa a enxergar agora, com esse impulso exponencial do Papa Francisco. Ele trouxe para a nobreza cardinalícia do Vaticano a sua vivência de pobre, de cidadão comum. Antes de ser papa, Francisco era um evangelizador despojado na periferia de Buenos Aires. Mesmo hoje ele não mora nos aposentos papais. Há um

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SÃO FRANCISCO DE ASSIS: herança espiritual e ecológica

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1 POLÍTICA & RELIGIÃO alojamento comum no Vaticano que se chama Casa de Sant’Anna. É onde toma café, almoça e janta com os cardeais e os padres. Até ganhei um livrinho no Vaticano com a homilia que o Papa faz durante essas refeições. Dizem que o pontífice também foi politicamente sábio, ao envolver e ouvir antes os representantes de outras religiões, para que a sua mensagem de salvar a natureza do planeta e a humanidade junto não fosse somente uma iniciativa da Igreja Católica. Confere? Sim. Em 02 de dezembro de 2014 houve um encontro preliminar com líderes de outras religiões para assinar uma declaração conjunta contra a escravidão moderna e o tráfico de seres humanos. Depois, em abril de 2015, o Papa fez outro encontro na Academia de Ciências da ONU, também com esses líderes, em que ele falou de tratar o assunto ambiental com uma abordagem moral que atenda a todas as religiões. Ele disse que era necessário que a abordagem da questão ambiental se baseasse em valores morais que respeitassem os valores de todas as grandes religiões. O Papa também comprou uma briga histórica com a direita evangélica norte-americana ao sugerir que a noção de que o homem deve se sujeitar à natureza é uma interpretação errada da Bíblia? Comprou sim. A Bíblia fala sobre a “dominância” do homem sobre a natureza. Ele interpreta como “cuidado”, tal como descreveu na encíclica: “Os americanos justificam a degradação ambiental citando as Escrituras. Critica a falência das cúpulas ambientais causada pela submissão da política à tecnologia e às finanças. Desse modo, poder-se-á esperar apenas algumas proclamações su-

“Pensemos em um bilhão de pessoas migrando de seus lugares de origem degradados para não morrerem de falta de recursos básicos, de natureza, de fome ou inundados, vide a invasão desumana na Europa pelos povos do norte da África.” perficiais a ações filantrópicas isoladas e ainda esforços por mostrar sensibilidade ao meio ambiente. Enquanto, na realidade, qualquer tentativa de alterar as coisas será vista como um distúrbio provocado por sonhadores românticos ou como um obstáculo a superar”. Como o senhor vê a questão da “sutil” ditadura do capitalismo denunciada pelo Papa, que somente vê o lucro pelo lucro e não as pessoas? É realmente possível mudar isso com um sistema econômico mais ecológico, sustentável? A própria necessidade de sobrevivência da humanidade, diante do fenômeno global das mudanças climáticas, vai gerar e indicar a forma dessa mudança. Até a Califórnia (EUA), por exemplo, também está vivendo um problema hídrico nunca antes enfrentado. Eles usam agricultura irrigada, que gasta muita água. E há outras regiões nos EUA que não precisam usar irrigação para produzir. Esta é a contradição do nosso modelo urbanístico. A Califórnia usa um apelo ecológico para tentar impedir o aumento do número de habitantes, argumentando que tem pouca água. Justamente lá, que tem um clima agradável e poderia viver muito mais gente. Isso significa que as cidades ainda procuram limitar ao máximo o crescimento populacional. Como contraponto, temos Houston, que é quente, e as pessoas vão para lá assim mesmo, porque têm mais oportunidades, espa-

ços horizontais para construir, um consumo de ar-condicionado violento. Ou seja, num planeta onde as cidades só crescem, a despeito de suas qualidades de vida, é fácil imaginarmos o que irá acontecer com elas diante de um desastre climático de quatro graus a mais de temperatura global. Isso vai gerar tanto problema de ameaça à sobrevivência de populações inteiras. Pensemos em um bilhão de pessoas migrando de seus lugares de origem degradados para não morrerem de falta de recursos básicos, de natureza, de fome ou inundados, vide a invasão na Europa pelos povos do norte da África. Acha que o papa sofre ameaça em potencial por denunciar tudo isso? Não acredito. A abordagem dele é sempre leve. Qual é o seu sentimento, enfim? A gestão municipal vai ser a salvadora da pátria? Em parceria com o Sebrae, a Frente Nacional de Prefeitos realiza, a cada dois anos, o maior evento político-administrativo sobre sustentabilidade no Brasil, que é o “Encontro dos Municípios com Desenvolvimento Sustentável”. Em abril passado, foram quase 10 mil pessoas inscritas, incluindo prefeitos, secretários, funcionários de empresas. Dezenas de painelistas, eventos paralelos. Nós já convidamos o Papa Francisco para estar conosco no “IV Encontro”, que ocorrerá em abril de 2017, em Brasília.

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FOTO: REUTERS / UMIT BEKTA

DRAMA GLOBAL: refugiados sírios tentam entrar na Europa em busca de paz, comida, emprego e qualidade de vida

Falamos com ele sobre o ICLEI, a RIO+20, do protagonismo, enfim, das cidades brasileiras em busca da sustentabilidade. Terminamos nossa apresentação no Vaticano com a exibição de uma foto da Praça do Papa, em BH, no sopé da Serra do Curral hoje em recuperação ambiental. Ainda deixamos dois presentes para ele: uma réplica da Igreja da Pampulha, também em processo de recuperação da sua degradação histórica, e um estandarte da nossa mineiridade religiosa, com os retratos artísticos de Nossa Senhora do Rosário, protetora dos escravos.

quatro pessoas simples se aproximaram dizendo que vão frequentemente à capital e que ela está cada vez melhor, há coisas novas. Já o pessoal de alto nível que vem de fora, do exterior, fala que a cidade é organizada, tem muito verde. Temos até um historiador americano, casado com uma brasileira, que desde o início de 2000 acompanha 20 pessoas que tiveram militância política nos anos de chumbo e está escrevendo um livro. Na quarta entrevista que fez agora comigo, andando por BH, ele me disse que estamos parecendo cidade europeia.

O eleitor ou o cidadão comum de nossas cidades está percebendo tudo isso? Na realidade, é aquela história de peixe que não sabe que está nadando. Tivemos um exemplo muito forte. Fomos recentemente a Montes Claros, no norte de Minas, que tem uma relação cultural muito forte com BH. Ao visitarmos o seu mercado central,

Qual a sua reação frente a uma declaração assim? Continuo na minha toada, insistindo muito com as pessoas e os nossos funcionários para não deixarem buraco nas calçadas, plantarem mais árvores e nos ajudarem a cuidar delas. Se você andar por aí, verá muita árvore plantada recentemente. Como tem muita depredação e muita

árvore que morre, a gente tem de ficar em cima. Andei na Avenida Amazonas outro dia e dei uma bronca no pessoal porque vi muitas falhas nos canteiros centrais e sombra alguma para os motoristas e transeuntes. Também continua me doendo muito ver a depredação de bens públicos causada pela própria população que deveria agradecer, cuidar e usufruir deles. Como o Papa Francisco nos incita, ela também deveria plantar e fazer crescer o seu sentimento de resiliência, pertencimento e apoderamento da cidade onde vive. É esse “louvado seja” de cidadania participativa, sustentabilidade e amor à natureza que pode nos salvar do futuro incerto e perigoso. Pode evitar o inferno climático que temos pela frente se não mudarmos já o nosso comportamento político, capitalista e consumista, sejamos religiosos, partidários ou cidadãos do mundo. O que importa é agirmos juntos nessa direção.

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1 POLÍTICA & RELIGIÃO

FOTOS: DIVULGAÇÃO

“O Papa é ecossocialista”

LEONARDO BOFF: "A encíclica papal descreve o drama em que vivemos, mas com esperança no ser humano"

Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

Como um dos artífices convocados pelo Papa Francico para ajudar na construção do conteúdo da encíclica “Laudato Si”, qual o maior e mais revolucionário desafio que ele trouxe à luz? Em termos de ecologia e da cultura humana, é o resgate da razão cordial ou da inteligência emocional. Toda a cultura moderna se construiu sobre a inteligência intelectual, analítica. Somente a razão como instrumento de conhecermos a natureza e a nós mesmos. Sob isso, criou-se todo o mundo moderno, recalcando de outro lado toda a parte de sentimento, de paixão, do amor, da sensibilidade. E a falta desses valores fez com que nós, sem contenção, agredíssemos a natureza e os ecossistemas. Não temos compaixão com a Terra e com os seres vivos. Junto com a razão instrumental analítica que precisamos para fazer funcionar a sociedade, uma das grandes coisas que o Papa Francisco faz em sua encíclica é resgatar e incorporar

a razão sensível que aproxima os seres humanos. E que desenvolve a compaixão, que é se colocar no lugar do outro para não só senti-lo como humano, mas como no lugar da natureza, dos animais, de todos que estão sofrendo e são vítimas iguais da voracidade industrialista. É esse equilíbrio que nos falta e sem o qual não vamos nos mobilizar para amar a Terra nem defender a vida. Caso contrário, nós corremos o risco de um caminho sem retorno. O senhor tem falado, recentemente, que o cérebro humano tem três dimensões. O que vem a ser isso? Temos, sim, três dimensões diferentes do cérebro. O reptiliano, que responde por nossas coisas mais imediatas e refletidas, como as batidas do coração e as freadas rápidas que damos nos nossos carros. O cérebro límbico, que surgiu há 220 milhões de anos, quando irromperam os animais mamíferos, como também somos, e com eles, o cuida-

do, o amor, a proteção da vida. E há 108 milhões de anos, o surgimento do neocórtex, que é a razão, a palavra. Mas a nossa base mais fundamental, e todo psicólogo sabe disso, é o sentimento humano profundo. É ele a dimensão que mais temos de revitalizar hoje. Não é negar a razão, mas não podemos ter apenas a ditadura dela. O grande equívoco da modernidade foi racionalizar tudo. Foi a razão humana, e não o nosso sentimento como espécie, que construiu a bomba atômica, essa máquina de morte que destrói milhares de vidas ao mesmo tempo. Chegamos em um ponto, admitamos, em que a razão não dá mais conta dos problemas da humanidade. O que fazer então diante disso? Incorporar a sensibilidade, a compaixão, a capacidade de respeitar e ver o valor de cada ser e por um limite à nossa voracidade, à nossa vontade do poder. É possível, sim, criarmos um paradigma novo em que o ser humano

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fique mais solidário com o próximo, mais amante da vida, mais protetor daquilo que existe e vive na natureza. E não continuarmos sendo o verdadeiro satã da Terra. O homem moderno inaugurou uma nova e insustentável era geológica: a do antropoceno, em que o grande ameaçador da vida é o ser humano. Isso significa que o capitalismo atingiu o seu fim, tal como a sua sutil ditadura denunciada pelo Papa Francisco? Sim. O capitalismo já realizou todos os seus objetivos de acumular o máximo possível, explorar todos os bens e recursos da natureza, a ponto de já estarmos nos limites que o planeta suporta. Digo “fim” no sentido de autorreprodução ambiental. Nós não temos mais uma Terra rica de recursos e serviços ambientais para serem explorados somente na ótica do capital. A Terra, o planeta, a biosfera que ainda temos precisa de um ano e meio para repor o que tiramos dela em um ano. A nossa “casa comum” não aguenta mais. É por isso que o capitalismo entrou em crise nos países centrais, atingindo todo o planeta. E agora o sistema não encontra outra alternativa a não ser fazer mais do mesmo, e ainda utiliza a violência para se impor. Isso significa que o capitalismo que conhecemos tem mais razões intrínsecas de convencimento. Ao mesmo tempo, ele também se torna cada vez mais consciente de que realmente não consegue ocupar espaços exploráveis como fazia antigamente. Esse tempo já não foi preenchido? Praticamente sim. A Terra e sua natureza primordial já estão ocupadas em 83%, segundo estudos mais recentes. Os 17% que sobraram, e o trabalho documental de Sebastião Salgado compro-

“É possível, sim, criarmos um paradigma novo em que o ser humano fique mais solidário com o próximo, mais amante da vida, mais protetor daquilo que existe e vive na natureza.” va isso, são lugares inacessíveis para a espécie humana, como os Andes, o Himalaia, o interior das grandes florestas. O ser humano se confronta agora diante de uma importante decisão: ou ele troca a maneira de produzir, consumir e de distribuir; ou ele irá de encontro ao pior. Como ficam as nossas velhas ideologias diante deste estado de mundo? Dentro de pouco tempo, seremos todos socialistas. Não por ideologia, mas por estatística. Temos somente esse montante de bens e

serviços – água, solo, nutrientes, alimentos – e devemos atender a humanidade e a comunidade de vida. Deus não criou só a nossa raça, mas também os animais, as plantas, todos os seres vivos que precisam igualmente da biosfera para se alimentarem e sobreviver. Temos de distribuir esses bens de forma qualitativa e essa é a proposta do socialismo: para cada um segundo a sua necessidade, e de cada um segundo a sua capacidade. Esse é um ideal humanitário e possível. Ou fazemos isso ou percorreremos o mesmo caminho dos dinossauros. Mudamos ou morremos, cabe unicamente a nós sermos expulsos novamente do paraíso. A que tipo de socialismo o senhor se refere? O que conhecemos também não deu certo? Há socialismo e socialismo. Se você pegar as Missões aqui na América Latina, foi o apogeu do comunismo e das ideias socialistas. E aqueles jesuítas expulsos foram os “pais” do socialismo europeu. Levaram a ideia para a Europa e depois ela ganhou uma

REPRODUÇÃO da entrevista que Boff concedeu à segunda edição da JB Ecológico em abril de 2002, antevendo o discurso atual do Papa Francisco

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1 POLÍTICA & RELIGIÃO formulação com Karl Marx. E uma forma perversa que foi o socialismo estatal na Rússia. Na verdade, hoje sabemos, ele nada mais era que um capitalismo de estado. Qual é, então, a sua nova e sustentável versão? Acredito que a nova vertente hoje seja o ecossocialismo. No Brasil, temos Michael Löwy, que lançou o manifesto mundial do ecossocialismo com a adesão de muitos grupos e pessoas como um modelo alternativo. Esse modelo diz que se pode produzir dentro dos limites da própria natureza, respeitando aquilo que ela pode dar, permitindo que a Terra também possa se refazer, descansar. Isso só é possível mediante a autocontenção, a limitação de nosso desejo e vivendo uma vida com simplicidade e sobriedade compatíveis. Ter mais com menos. Aí o planeta poderá alimentar até 10 bilhões de pessoas, desde que haja esse sentido de justiça societária e sociocósmica, envolvendo e respeitando a sabedoria e a inteligência próprias da natureza. A humanidade, os políticos e a economia capitalista como conhecemos hoje, mesmo suicidas, permitirão isso? Talvez sejamos obrigados a aceitar este modelo diante do tamanho da crise em curso, que ameaça não somente a natureza, mas a continuidade da existência humana. E nesse momento, os seres humanos poderão despertar e refletir: “Faremos uma governança global, pluralista, que dá uma solução global aos problemas globais”. E aí nascerá uma república mundial. Já temos a globalização como a unificação do espaço econômico, só nos falta a do espaço político. O senhor quer dizer que... O tempo das nações passou, agora é o tempo da humanidade.

"A Terra, que é um organismo vivo, pode não nos querer mais sobre sua face e nos eliminar. Crie uma superbactéria ou um tsunami qualquer, por exemplo, onde grande parte da raça humana, ou toda ela, possa desaparecer também.” E quando isso nasce a partir de uma crise coletiva, como a que estamos vivendo e não há mais como negar nem enfiar a cabeça num buraco, nós iremos criar esta instituição coletiva como forma de nos autossalvar, salvar o planeta e a nossa civilização. Não há outra saída. É o que, de fundo, o Papa defende em sua encíclica? O Papa Francisco vem desse caldo cultural-religioso que nada mais é que a teologia da libertação que, na sua Argentina, ganhou uma versão própria: teologia da libertação da cultura silenciada do povo oprimido. Não é filantropia, como o Papa também sempre diz, mas a justiça social. Ele vem desse transfundo, que só é possível no terceiro mundo, e o colocou no coração da igreja. Essa é a teologia mais adequada a essa nova fase e consciência da humanidade. E se tornou, através dele, a teologia atual da Igreja Católica em todo o mundo. Tanto que o chefe do Santo Ofício, que antes condenava o nosso modelo de teologia da libertação, agora escreve sobre ela como a teologia católica. É um discurso oportunista, mas ele reconhece que responde aos desafios que a rea-

lidade nos coloca hoje. Podemos ter uma esperança real de que a humanidade pode mudar sua relação com o planeta e seu próprio futuro? A esperança aumentou, mas, ao mesmo tempo, a nossa responsabilidade. Temos de despertar na humanidade não apenas o conhecimento científico, mas a consciência de que vivemos tempos perigosos. O ser humano tem de decidir politicamente se quer permanecer sobre o planeta ou desaparecer. Estamos dentro da sexta extinção em massa do planeta. A cada ano, segundo Edward Wilson, grande biólogo norte-americano que popularizou a expressão “biodiversidade”, o nível de agressão industrialista faz com que entre 70 e 100 mil organismos vivos desaparecessem para sempre da Terra. Estamos agredindo as bases físico-químicas e ecológicas de um sistema natural que sempre sustentou a vida. E, ao se agravar isso, a Terra, que é um organismo vivo, pode não nos querer mais sobre sua face e nos eliminar. Crie uma superbactéria ou um tsunami qualquer, por exemplo, onde grande parte da raça humana, ou toda ela, possa desaparecer também. Como vê um pontífice falando de ecologia integral e social, uma vez que o tema já levou vários religiosos, filósofos e pensadores como o senhor à deserção pela Igreja? O Papa atual sempre associa a questão da ecologia com a dos pobres. Segundo ele, não podemos salvar só a Terra e a vida se não salvarmos as vítimas, os filhos condenados dela, que são os pobres. A partir daí, ele faz uma crítica à cultura moderna, insensível e cínica, a uma Europa que não acolhe os emigrados da África, que perdeu a capacidade de sentir, chorar e que sacrifica o mais

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FOTO: VATICANO / FNP

A DELEGAÇÃO BRASILEIRA foi a terceira em números de convidados pelo Papa para discutir a escravidão moderna do capitalismo, as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentado local

precioso do ser humano, que é o relacionamento, o respeito do valor de cada ser. O Papa captou o essencial desse novo paradigma e inaugura, de forma oficial, a ponta mais avançada da ecologia. A ecologia profunda que engloba toda a sociedade, para que ela tenha qualidade de vida, a dimensão mental, com projetos e sonhos que nascem na nossa cabeça. Porque é aí que surgem as ações que tanto agridem a natureza, como também aquelas que podem nos salvar. E, finalmente, o Papa dá uma aura de espiritualidade, porque o ser humano coloca isso no último lugar. E não se pergunta qual é o seu lugar no mundo, no conjunto dos seres, seu lugar ético de quem protege e cuida do planeta e de seus semelhantes. Em sua viagem pela América Latina, o Papa falou muito em consumismo insustentável. Como mudar nossos hábitos, se a própria natureza não dá saltos? O texto do Papa Francisco é um pequeno manual que inicia as pessoas naquilo que hoje é mais urgente: mudar os hábi-

tos. Enquanto isso não for feito, continuaremos com a cultura irresponsável e predadora do capital pelo capital. Já fizemos a desconstrução teórica do capitalismo, mas ainda vivemos dentro dessa cultura. A todo o momento trocamos de celular, tênis, roupa, de coisas que nem precisamos, mas que o sistema nos obriga a comprar e gerar mais lixo sobre o planeta. Precisamos mudar para uma cultura ecológica, de respeito à natureza, mais sóbria, que tira apenas o que é necessário, levando em conta a preservação da vida, da generalização do bem-estar social. Se isso não acontecer, corremos risco de reproduzirmos o capitalismo e as consequências dramáticas que ele pode trazer, agora de maneira fatal, para a humanidade. O que é, enfim, a mensagem de Francisco para o senhor que sempre falou em grito da Terra, dos oprimidos e da ecologia social? Aumentou sua esperança de, mesmo pela dor, não sermos o satã do planeta?

A encíclica do Papa Francisco é um grito de alerta para a humanidade de que podemos nos destruir. Ele cita dois trechos da Bíblia, do “Livro da Sabedoria”, que uso muito: que Deus criou todas as coisas com amor, não criou nenhuma delas como objetos de ódio, porque Ele é o soberano amante da vida. E que não vai deixar que a nossa vida pereça miseravelmente como as ameaças anunciam. O texto do Papa descreve o drama em que vivemos mas com esperança no ser humano, sendo criativo, utilizando a inteligência, a técnica, a ciência e os meios do coração e da sensibilidade, junto com a presença de Deus, que perpassa essa realidade e conduz para um fim bom. “Laudato Si” é um livro de grande esperança, cheio de alegria, poesia e que pode entusiasmar as pessoas. Não é um manual chato de conceitos. É uma conclamação amorosa para o ser humano se engajar, cuidar da nossa casa comum. Enquanto é tempo e segundo o nosso merecimento.

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1 POLÍTICA & RELIGIÃO FOTO: VALTER CAMPANATO / ABR

Marcio Lacerda não está só “Sem o enfrentamento dos problemas da fome, da miséria e da escravidão moderna, não há como tratar da preservação do planeta. Antes de tratar dos efeitos do aquecimento global, é preciso tratar do aquecimento local.”

FOTO: JOSÉ CRUZ / ABR

FERNANDO HADDAD, prefeito de São Paulo (SP)

“O que o Papa Francisco propõe na encíclica é, na verdade, algo em pequena monta, que na nossa gestão local, em Goiânia, nós propusemos. O nosso plano de governo com desenvolvimento sustentável significa também a promoção da qualidade de vida das nossas comunidades locais, das nossas comunidades urbanas.”

FOTO: GILSON SANTOS

PAULO GARCIA, prefeito de Goiânia (GO)

“É um fato inédito o Vaticano estar realizando um evento com prefeitos. Para nós do Brasil foi muito importante, já que a cada dia se dá um protagonismo aos municípios, destacando que as soluções locais têm demonstrado uma resposta muito mais rápida e eficiente para a população.”

FOTO: VALTER CAMPANATO / ABR

GUSTAVO FRUET, prefeito de Curitiba (PR)

“O Papa Francisco deixou muito claro que os gestores públicos municipais têm uma tarefa fundamental para realmente tentar mudar a chamada ecologia humana, na sustentabilidade ambiental e nas questões sociais.”

FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

JOSÉ FORTUNATI, prefeito de Porto Alegre (RS)

“Foi fundamental o compromisso que os prefeitos assumiram com a sustentabilidade, mas, acima de tudo, com práticas de inclusão social e de respeito aos direitos humanos. Se por um lado o Papa Francisco tem esse apelo global, por outro, as práticas públicas acontecem nas cidades. É ali que a gente pode transformar a vida da sociedade." ACM NETO, prefeito de Salvador (BA)

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V Prêmio de Sustentabilidade & Amor à Natureza

ANA, o primeiro ipê e uma das 36 mil árvores plantadas por Fábio Santos em sua fazenda: valor afetivo

O FAZENDEIRO DA

NATUREZA Conheça o agropecuarista goiano Fábio de Paula Santos, que se tornou uma referência no país ao mostrar que proprietários rurais podem dar bons exemplos de recuperação ambiental Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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O que ele fez? Isolou 20% de pastagem, plantou árvores no local e cercou e recuperou ambientalmente três APPs: dos córregos Cafungadinha, Paciência e Soca. Agora, além delas, a propriedade possui uma reserva legal original e uma reserva legal implantada e em formação. Atendida a legislação, ele, no entanto, foi envolvido por um sentimento ecológico: o de que preservar a natureza era algo muito bom, tanto para os negócios quanto para o meio ambiente e as pessoas – algo raro entre a maioria dos pecuaristas, que desmatam sem qualquer preocupação ambiental. A partir daí, Fábio não parou mais. Plantou 36 mil árvores em sua propriedade de 174 hectares, sendo a metade delas apenas de ipês. “Comecei plantando seis mil árvores nativas no ano 2000, que me foram doadas. DeFOTOS: ARQUIVO PESSOAL

A

área rural da pequena cidade de Santa Rosa de Goiás (GO), a 70 km da capital do estado, está se transformando em um paraíso reflorestado e colorido. E o “culpado” disso tem nome: Fábio de Paula Santos, agropecuarista, 44 anos, vencedor do “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza 2014”, na categoria “Melhor Exemplo em Água”. Tudo começou com o atendimento a uma determinação legal, por conta de uma herança. Ao registrar individualmente em cartório cada quinhão de terra referente à divisão dos bens entre ele e a mãe, Eusa, foi solicitado o registro da Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente (APPs), como obrigatoriamente acontece em situações assim. No caso de Fábio, a sua fração não tinha reserva legal e nem a original atendia aos 20% exigidos por lei.

FÁBIO SANTOS: “Queria deixar uma coisa bonita para minhas filhas”


O ANTES E O DEPOIS: a recuperação do verde fez nascer o Córrego Cafungadinha...

pois comprei mil outras mudas em viveiros da região, até que comecei a catar sementes e a produzir minhas próprias mudas. Em um ano, fiz três mil de ipê-roxo. Em outro, nove mil de ipê-amarelo. No seguinte, mais seis mil de ipê-branco. E assim ocorreu com buriti, jatobá, jacarandá, macaúba, tamboril, tento, angico e tantas outras. Também continuo comprando anualmente 200 espécies diferentes de mudas, para diversificar a mata”, diz, orgulhoso. O plantio do primeiro ipê-amarelo tem valor afetivo: foi feito quando ele e a esposa, Ana, ainda eram namorados. Hoje uma frondosa árvore, o ipê ganhou o nome da amada. E, segundo ele, também homenageia, indiretamente, como sigla, a Agência Nacional das Águas. O exemplo de Fábio já está rendendo “frutos”, principalmente entre outros produtores rurais locais. “Um deles me chamou para conversar e disse que agora também estava com essa ‘bobeira’ de plantar árvores, assim como eu!”

... agora afluente limpo e permanente do Rio Tocantins

PRODUTOR DE ÁGUA Atualmente, já são quase 13 hectares de pastagens totalmente recuperados, mas o fazendeiro garante que o plantio de árvores continuará. “Agora, as minhas terras não sofrem mais com erosão e não tenho de desembolsar anualmente valores consideráveis para combatê-la e recuperar a fertilidade do solo.” Como seu foco é a agropecuária, Fábio também buscou alternativas para preservar e armazenar água em sua propriedade. “Por conta das precipitações irregulares de chuva, fiz curvas de nível com alta capacidade de contenção de água. Com isso, a lotação de gado por hectare aumentou, pois as áreas de pastagem permanecem úmidas por mais tempo. Ou seja, no auge da seca, terei água e capim.” Essa atitude acabou impactando positivamente o ecossistema da região. Tanto é que nasceu um córrego na fazenda, que Fábio batizou de Cafungadinha, e uma grota úmida foi recuperada. Agora também sou produtor de água”, brinca ele, que é casado há doze anos e tem duas filhas, Elena e Ester. Esse trabalho de recuperação ambiental feito na região de Santa Rosa, inclusive, foi feito pensando nelas. “O sonho de todo fazendeiro é ver os filhos darem continuidade ao que ele faz. Após nascerem, eu e minha esposa esperamos o umbigo de minhas filhas ‘cair’ e os ‘plantamos’ sob duas mudas, colocadas bem próximas. Quando estiverem adultas, as copas das duas árvores irão se unir, assim como quero que a convivência delas seja sempre.” E completa: “Cada árvore ou córrego que passa em uma fazenda traz ao seu proprietário lembranças da infância e da adolescência, enfim, da vida, que talvez nossos filhos não podem desfrutar mais, como tomar banho de córrego, andar entre as matas e ver árvores centenárias. E eu queria deixar essa coisa bonita para minhas filhas”. 

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FOTO: D’ARCY NORMAN

CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO

RESÍDUOS SÓLIDOS (1)

O Ministério da Defesa anunciou investimentos de R$ 80,5 milhões na compra e utilização de um radar orbital para o controle do desmatamento na Amazônia. O radar deve entrar em funcionamento em 2018 e vai monitorar 950 mil km² de floresta, o equivalente aos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina juntos.

ENERGIA EÓLICA

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera elevar em 15% as aprovações de financiamentos para projetos de energia eólica este ano. Com isso, as aprovações iriam para R$ 7,6 bilhões, ante os R$ 6,6 bilhões em 2014, quando foram viabilizadas usinas que somam 2.586 megawatts.

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Ainda segundo a Abrelpe, nos últimos 11 anos o aumento da geração de lixo no país foi muito maior do que o crescimento populacional. De 2003 a 2014, ela cresceu 29%, enquanto a taxa de crescimento populacional foi de 6%. Em 2014, 41,6% dos resíduos brasileiros ainda eram depositados em locais considerados inadequados.

FOTO: FRIEDBERG

MONITORAMENTO DA AMAZÔNIA

RESÍDUOS SÓLIDOS (2)

FOTO: TÂNIA RÊGO - AGÊNCIA BRASIL

Mesmo com o fim do prazo para a aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em 2014, o destino do lixo no Brasil continua preocupante. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a redução de lixo depositado no Brasil em locais considerados inadequados, como lixões e aterros controlados, foi de apenas 0,1% entre 2013 e 2014.

OLIMPÍADA SUJA

Os atletas que participarão dos Jogos Olímpicos de 2016 terão que nadar e velejar em águas contaminadas por fezes humanas que trazem riscos de doenças, indica uma investigação da Associated Press (AP). Uma análise da qualidade da água encomendada pela agência de notícias encontrou níveis perigosamente altos de vírus e bactérias de esgoto humano em locais de competições olímpicas e paralímpicas.


PEIXES AMEAÇADOS

FOTO: PORNSAKAMP

Uma proposta em análise na Câmara dos Deputados anula a portaria do Ministério do Meio Ambiente que reconhece como ameaçadas de extinção as espécies de peixes e invertebrados que integram a “Lista Nacional de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção”. A portaria proíbe a pesca de 475 espécies de peixes em todo o território nacional, mas deputados contrários à medida alegam que a decisão teria de ser do Ministério da Pesca.

GUARDA-PARQUES

A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou, finalmente, projeto de lei que regulamenta a profissão de guarda-parque (PL 7276/14) e define direitos trabalhistas específicos da categoria, como jornada de trabalho de 40 horas semanais.

GÁS DE XISTO

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou projeto que suspende a exploração do gás de xisto pelo período de cinco anos. Proibida em diversos países, a atividade caracteriza-se pela utilização de muita água, além de areia e um poderoso coquetel de produtos químicos.

PATRIMÔNIO EM RISCO

Localizado no Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara reúne 172 sítios arqueológicos com pinturas rupestres de até 12 mil anos. Mas eles estão especialmente ameaçados, alerta a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdhan). Segundo a mantenedora do parque, cerca de 2/3 dos funcionários foram demitidos, o que pode levar ao fechamento da unidade até dezembro deste ano.


1 SAÚDE

OS BICHOS QUE MORAM

NA GENTE

Exemplo de vida saudável, a jornalista Sônia Hirsch mostra como uma boa alimentação pode manter o corpo humano longe de parasitas Déa Januzzi

redacao@revistaecologico.com.br

J

ornalista, autora de livros sobre promoção da saúde que tratam da alimentação e da higiene do corpo inteiro, Sônia Hirsch, de 67 anos, viaja dando cursos e palestras. Em visita recente a Belo Horizonte, ela se hospedou em um dos hotéis da Avenida Prudente de Morais, na Região Centro-Sul da capital mineira. Ninguém a viu tomando café no saguão do hotel. Ela traz de casa um fogãozinho de boca, uma panela de ágata e uma sanduicheira para torrar as duas fatias de pão integral, com óleo extravirgem de coco, algumas folhas verdes orgânicas, um ovo caipira cozido “com 2,5 minutos no fogo” e uma fatia de queijo Minas Canastra curado. Só, então, está preparada para mais um dia de palestras. Carioca, ela mora na região de Petrópolis, perto de Itaipava, num terreno de cinco mil metros quadrados, com tatus, quatis, gambás, muitos passarinhos. De manhã, quando abre a janela, além de um horizonte divino, ela vê os pica-paus. Tem uma casa no vale, no meio das montanhas. Na horta, de 10 metros quadrados, dá para plantar e colher de tudo: pepino, gergelim, pimentas variadas, salsa, cebolinha, sálvia, manjericão, tomilho, rúcula, coen-

tro, almeirão, aipo, alho-poró, nabo, cenoura, rabanete e abóbora. Essa última ela usa para tudo, porque sabe dos seus benefícios. Faz sopa, purê no vapor, cozida, no forno, temperada com gengibre ralado e sal marinho. Ingredientes que fazem parte de sua alimentação diária. Os cabelos brancos, sem tinta, mostram que Sônia Hirsch é coerente com a própria natureza. “Sou natureba há muito tempo, portanto, permaneço fiel à minha verdade. A tinta química não só pinta o cabelo, mas fica no couro cabeludo”, diz ela, que aos 67 anos se sente inteiraça, com a libido em dia. Foi vegetariana por mais de 10 anos, mas teve “que deixar esse tipo de comida, porque estava completamente sem energia”. Com muita resistência, voltou a comer carne, porque precisa estar ativa no mundo de hoje. “A carne tem uma forma nutricional densa, e empresta uma energia importante. Um vegetariano tem uma espiritualidade mara-

SÔNIA HIRSCH: “A saúde é subversiva, pois não dá lucro para ninguém”

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AS AMEBAS Sônia considera que cada pessoa é um ecossistema, que vive e interage com outros ecossistemas. Se há uma parasitose instalada, é porque aquele ecossistema se desequilibrou. Como poderia, nesse caso, não produzir mal-estar? A presença do parasita não é inócua. Todas as células do organismo têm representação cerebral. O mecanismo que capta estímulos produzidos pelo próprio corpo está registrando o incômodo. Se você tem toxinas, os seus sentimentos gentis se alteram – e isso pode ser um aviso. A ameba, por exemplo, pode levar à depressão. “A pessoa chega reclamando da vida e de si mesmo, negativo, vendo sempre o lado ruim: isso é típico do portador de amebas. Umas mais, outras menos, todas produzem esse efeito. Dificuldade em executar tarefas que antes fazia bem, dificuldade até de aproveitar as coisas boas da vida, uma conduta típica da depressão. Mas é só tratar que a depressão desaparece. As amebas produzem algum tipo de toxina que age diretamente sobre o psiquismo.”

vilhosa, mas pira quando sai para enfrentar o mundo.” (Veja uma receita de carne de músculo ao forno na próxima página.) Cigarro? Ela parou de fumar dos 14 aos 29 anos. Aos 32 voltou por alguns meses e parou definitivamente quando mudou a alimentação, deixando de consumir café, amidos, açúcares, molhos pesados com manteiga, creme de leite e gorduras. Ensina que comer vegetais espanta a vontade de fumar, pois eles são muito alcalinizados e acabam com a famosa “boca de pito”. Em sintonia completa com a natureza externa e interna, ela vive rodeada de flores e árvores como a sibipiruna – da mesma família do pau-brasil –, todos os tipos de ipê, inclusive o branco, várias sapucaias. Flores? Tem até uma cerca viva de amoras, hibisco, crista de galo, agapanto, resedá e orquídeas, muitas orquídeas. Ela confessa que tem a maior dificuldade de sair de casa. “Quando as pessoas não me encontram, acho ótimo”, assegura ela, que vive com dois cachorros vira-latas, um poodle e um cocker.

O ALMANAQUE: mergulho no mundo dos parasitas

PARASITAS DO CORPO Além de cozinhar muito bem, Sônia estuda os parasitas do corpo. Lançou o “Almanaque de Bichos que dão em Gente”, pela própria editora – a Corre Cotia. Adepta da cozinha vibracional, parte da medicina chinesa, que presta atenção nas estações do ano e em cada alimento da época, Sônia garante que “somos um condomínio, com os limites da pessoa e a influência dos hóspedes que minam a saúde”. Segundo ela, a cozinha medicinal privilegia a diges-

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1 SAÚDE FOTO: ECOLÓGICO

RECEITA SIMPLES DE MÚSCULO BOVINO AO FORNO

Ingredientes l Uma paleta (a peça dianteira do músculo). l Uma cebola grande. l Temperos e ervas a gosto. l Vinho branco. Modo de fazer Tempere a carne, regue-a com o vinho branco e coloque-a numa panela de pedra tampada. Deixe cozinhar por três horas, no mínimo, no forno. Depois, é só degustar essa delícia!

tão e a limpeza dos parasitas. Para Sônia há uma diferença entre comida de mentira e de verdade: “As pessoas vão para o supermercado e levam para casa alimentos embalados cheios de química e de conservantes”. Ela prefere uma comida simples, principalmente depois dos 60 anos. Come, no máximo, 300 gramas e zero de açúcar. Aboliu as batatas de sua vida. Bacalhau? Sim, com batata baroa. Nem põe defumados, embutidos e frios no prato. “Comer pouco é sempre um bom conselho”, dita ela. No prato de Sônia vão muitos vegetais, uma pequena porção de carboidratos, outra de carne, de preferência a parte dianteira do músculo, que possui colágeno. No curso “Deixa Sair” ela diz que o corpo é cheio de vermes, fungos, bactérias, vírus e outros bichos. Que a maior parte dos cânceres de intestino hoje se dá por infecção de amebas. Como não há um diagnóstico, vira câncer. E cita um exemplo: “A pessoa vai ao médico, que hoje não tem muitas aulas de parasitose na universidade. Eles não conhecem

mais a sintomatologia”. E os laboratórios trataram de contribuir para esse desconhecimento, pois a norma técnica para exames de fezes foi mediocrizada. Se antes um bom exame de fezes investigava de 40 a 50 lâminas com quatro ou cinco reagentes, hoje não. É por isso que os exames de fezes sempre dão negativo. À medida que se regrediu a eficácia dos exames de fezes, aumentou os índices de câncer de intestino”, garante ela. Coisa da roça, de gente que anda descalço, de matuto? Não, responde Sônia. “Quando a gente mexe na terra não tem minhoca? Nós também somos assim.” E conta a visita que fez à Faculdade de Parasitologia da Universidade de Tóquio, no Japão. “Uma mulher de 45 anos estava sendo operada como se tivesse câncer no seio. Mas, quando o cirurgião foi abrir para operar, pulou uma larva enorme, uma ameba. Só naquele hospital são 20 casos como esse por ano. “Se a medicina não se dedica a encontrar os parasitas, vai ter que tratar do câncer. A saúde é subversiva, pois não dá lucro para ninguém.”  SAIBA MAIS www.soniahirsch.com

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FOTO: GUENTEMANAUS

1 SUSTENTABILIDADE

REALIDADE comum nos igarapés e portos da capital do Amazonas: lixo sem recolhimento nem tratamento

VIRA MANAUS, VIRA! Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e Coca-Cola Brasil inauguram virada de discussão e esperança onde o planeta pulsa mais vida em meio à sua incoerente degradação urbana Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

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zonas, o maior curso d’água do planeta, a cidade que qualquer turista imaginaria um cartão-postal biodiversificado é a sua FOTO: DIVULGAÇÃO FAS

P

ensou que Manaus é a capital naturalmente mais arborizada, hídrica e ambientalmente preservada do país e do mundo, tipo um avatar urbano? Então você errou. Infelizmente, em seus 11.401 km2 de área visivelmente impactada, onde mais de dois milhões de cidadãos repetem o drama da urbanização caótica, desenfreada e sem sustentabilidade, o que se vê ali é de doer o coração. Mesmo banhada pelo lindíssimo Rio Negro, que à frente se encontra com o amarelo do Solimões e, juntos, formam o Ama-

VIRGÍLIO VIANA: "Nossa cidade pode ser saudável e feliz"

própria antítese: um horror de calor, asfalto, cimento e ocupações antiecológicas. Não há árvores gigantes da exuberante flora local, nem flores na maioria de suas ruas e avenidas. No centro urbano, os passeios são estreitos e emaranhados por profusão de marquises, postes e fiação elétrica ainda não subterrânea, o que impede a prefeitura, lojas e empresas de plantarem árvores, arbustos ou mesmo uma simples grama para amenizar o clima. E onde há passeios largos, canteiros centrais e algumas áreas verdes isoladas, o


paisagismo é triste e repetitivo, tipo Miami: só palmeiras decorativas, de custo altíssimo e plantadas em série, que não dão frutos, não atraem passarinhos nem dão sombras para amenizar o aquecimento local. Isso, se já não bastasse testemunhar os seus lendários igarapés repletos de garrafas PET, sacos plásticos e outros lixos insolúveis, tal como o avanço continuado dos loteamentos clandestinos sobre a grande floresta tropical que seca e tomba ao seu redor. Uma degradação imobiliária autorizada historicamente por seus próprios governantes e políticos, sem visão e valoração simbólica do que Manaus e o estado amazônico ainda mais preservado do país representam de esperança para o mundo. Ou deveria representar para os seus próprios habitantes, manauenses (caboclos e índios, em primeiro lugar).

É possível pensar Manaus diferente disso tudo? Pensou certo, caro leitor. É possível sim. Foi o que a “Virada Sustentável Manaus 2015”, promovida pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) com o apoio da Coca-Cola Brasil, e inspirada no que São Paulo realiza com sucesso e participação popular já há cinco anos, foi discutido pioneiramente ali, entre os dias 23, 24 e 25 de julho último, na lua crescente. Nada menos que 100 atividades socioculturais realizadas simultaneamente por toda a cidade com os mesmos objetivos: ampliar e democratizar a informação ambiental para a sua população por meio de uma abordagem positiva e inspiradora. A abertura solene do evento aconteceu na maravilha de cenário artisticamente preservado que continua sendo o Teatro

Amazonas, fundado em 1896, ao som da Amazonas Jazz Banda e da voz da cantora Márcia Novo. E reuniu, nessa esperança festiva, mais de mil cocriadores e participantes voluntários, entre órgãos de governo, ONGs, instituições públicas, entidades civis e cidadãos engajados. Como convocou e destacou Virgílio Viana, superintendente-geral da FAS: “Esta virada é uma plataforma para diferentes grupos da sociedade civil e instituições parceiras se envolverem, doravante, com o tema do desenvolvimento sustentável. E se refletirem sobre o que cada cidadão pode fazer para contribuir para uma cidade mais saudável e feliz”. Foi o que aconteceu no dia seguinte, na sede da Fundação, com o “Debate sobre Cidades Sustentáveis – Desafios & Soluções”, que a Revista Ecológico reporta, a seguir, com exclusividade. Confira! FOTO: JP MACHADO

ESTÁTUA EDUCATIVA do pescador típico amazonense na entrada do Parque Mindu: pescando esperança em vez de peixes

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1 SUSTENTABILIDADE

Nem tudo está perdido sa ambiental e crescimento da consciência ecológica no país. “A experiência com a Virada em São Paulo nos indica isso. Temos de acreditar, primeiro, na força sedutora da juventude e do seu protagonismo hoje em rede, muito mais multiplicativo. Afinal, serão sempre as novas gerações em formação que irão mudar os comportamentos em curso da sociedade e as políticas públicas de governo. Em segundo lugar, em vez de irmos para as ruas de cara feia e sofrimento, o que tivermos de fazer tem de ser com festa, celebração. Seja para protestar, plantar árvores, recolher lixo, reformar praças, ajudar a recuperar e proteger, de fato, o meio ambiente onde vivemos. É o ‘vamos lá’ da alegria e da esperança, que contagia”, apontou.

cursos naturais advindos dela, incluindo a melhoria da qualidade de vida dos seus povos, urbanos ou rurais, implica em ressignificá-la novamente. É fazê-la grata e com dignidade aos olhos atentos do mundo”. Ao contrário da sua história e cultura conhecidas, de crescimento insustentável, Fasano exortou que agora é a vez de Manaus e do estado do Amazonas se doarem ao meio ambiente e à natureza que sempre explorou e os sustenta. “Não fossem a floresta, suas águas e a maioria de seus povos ainda em comunhão com a natureza, tudo o que se discute, nos apaixona e preocupa hoje o planeta, Manaus não existiria, tal como a biodiversidade que já se foi com o desmatamento”, concluiu o preservacionista.

PEPITA DE OURO Segundo o ator e ambientalista Victor Fasano, “Manaus é uma pepita de ouro que agora tem de ser lapidada sob a ótica da sustentabilidade. Ela já foi, não à toa, mas pelos seus seringueiros, no ciclo da borracha, o motor do Brasil. Não fosse a borracha, talvez a capital amazonense nem teria a necessidade de ser criada. E fazê-la respeitar agora a floresta e os re-

MEDO ATÁVICO Mas por que a capital do estado mais preservado da Amazônia Legal tem tão poucas áreas verdes, belezas e recursos naturais? A resposta foi dada pelo artista e poeta local Celdo Braga: “É porque, no fundo do nosso imaginário, nós não gostamos de mato, de água. Na cultura do povo amazonense, transmitida pelos nossos antepassados, nossos medos vêm daí. Floresta é lugar de curupira, cobra, onça. E rio, lugar de piranha, boto, cobra d’água. Como podemos ter afeto por algo que ainda tanto tememos? Daí nossa preferência pelo asfalto, cimento, morar em apartamentos, apartados da Criação”. Já em Manaus, segundo ele, a questão urbana é que a cidade reflete o mesmo medo da natureza, não dialoga com ela. “O nosso paisagismo e modelos construtivos são artificiais, trazidos por quem vem de fora e não da

FOTOS: DIVULGAÇÃO FAS

Foi o que mostrou André Palhano, jornalista graduado pela PUC-SP, idealizador e coordenador da “Virada Sustentável São Paulo” desde 2010. Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie na área de Responsabilidade Social e Sustentabilidade, e vencedor do “Prêmio Cidadão Sustentável 2012”, o ambientalista deu o seu recado. Lembrou que meio ambiente e sustentabilidade não são só preservação de florestas e biodiversidade: “Nosso olhar, enquanto ainda temos pessoas se matando em nossas cidades, tem de se voltar também para a busca e construção de uma sociedade ecoeficiente. Os rios do ambientalismo e do empreendedorismo social têm de se encontrar com o rio da economia criativa, formado por pessoas que pensam diferente e querem transformar as suas vidas para melhor onde vivem. De que adianta nos preocuparmos somente em salvar o mico-leão e a natureza distante, se a gente aqui, em nossas realidades urbanas insustentáveis, continua vivendo num perrengue?”, indagou Palhano. Ele também propôs um novo tipo de ação por parte da população mais jovem e engajada, em vez do ativismo clássico de enfrentamento em prol da defe-

ANDRÉ PALHANO: "Vamos lá!"

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VICTOR FASANO: "Cidade grata!"


FOTO: ANASTASIA PYRYEVA

A PRESENÇA dos tucanos na paisagem urbana de Manaus: imperceptíveis pela população

floresta. Perguntem para a sua população se ela conhece e sabe os nomes das árvores, animais e passarinhos à nossa volta? Muito menos se interessa por isso.” Celdo Braga foi além. Ele improvisou um canto e provocou a plateia: “Que ave, pássaro, canta assim?”. Ninguém soube responder. “Esse é o canto dos tucanos. Todo fim de tarde e início de manhã, eles se reúnem em bandos e cantam nas matas próximas que nos restam. É uma melodia constante que não conseguimos ouvir mais nem identificar, tamanha a separação e a não percepção da nossa própria essência” – concluiu, recitando uma poesia de amor e agradecimento à natureza. EDIFICAÇÕES SUSTENTÁVEIS E já que 95% dos seres humanos estarão morando em centros urbanos até o ano 2030, em busca de mais serviços, educação, saúde, realização profissional e qualidade de vida, por que não transformarmos as edificações onde iremos morar em mais sustentáveis? Foi o que perguntou (e res-

pondeu) Felipe Faria, advogado e diretor-geral da Green Building Council Brasil, ONG que atua pelo fomento da indústria nacional de construção sustentável. Segundo ele, citando dados oficiais da Eletrobrás, 50% de toda a eletricidade produzida hoje pelos brasileiros são consumidos nas edificações comerciais, residenciais e públicas, onde o gasto com fornecimento de água potável corresponde a 21%. Ou seja, o impacto do nosso crescente e irreversível morar urbano é consideravelmente alto em termos de contribuição para as mudanças

climáticas, uma vez que passamos 80 a 90% de nossas vidas dentro dessas edificações. Isso, em se tratando do modelo construtivo tradicional nada ecológico. Já o modelo das edificações sustentáveis que vem sendo implantado em várias partes do mundo traz este diferencial em termos de ecologia humana, explicou o especialista: “Ele economiza, em média, 30% de energia e até 40% de água. Essa redução ambientalmente possível, pra termos uma real ideia da sua dimensão, equivale à operação de uma Itaipu por ano. Ou seja, pode gerar uma

CELDO BRAGA: "Medo da floresta"

FELIPE FARIA: "Economia natural"

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1 SUSTENTABILIDADE

NOVOS POLÍTICOS Do ponto de vista de políticas públicas, o também advogado e deputado Luiz Castro, já no seu quarto mandato pelo Estado do Amazonas, lembrou que “o passivo ambiental do poder público brasileiro é mais que o dobro do passivo produtivo privado, vide o horror que não existe mais da poluição industrial de Cubatão, 30 anos atrás. Já, infelizmente, a maioria dos nossos governantes ainda está nos tempos dos nossos pais antigos. Ainda guardam o ditado ‘faça o que eu digo, não o que faço’, vide o caos ambiental e de saúde pública aqui em Manaus. Os nossos próprios hospitais públicos e privados, sem falar em várias escolas, que deveriam dar exemplo, continuam jogando seus esgotos in natura e sem tratamento nos nossos igarapés.

"Os nossos próprios hospitais públicos e privados, sem falar em várias escolas, que deveriam dar exemplo, continuam jogando seus esgotos in natura e sem tratamento nos nossos igarapés. Isto é insustentável!" LUIZ CASTRO, advogado e deputado Isto é insustentável!”. Também presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, Castro contextualizou que, depois de 1988, o sistema político-partidário brasileiro foi tomado pela lógica do poder pelo poder: “É como ainda agem e se comportam a maioria dos políticos atuais: ‘Eu assumo o poder e tenho de mantê-lo a todo custo’, em vez de usá-lo como um poder de transformação da sociedade e da própria política na visão maior da sustentabilidade. Com uma visão ainda de curto prazo, eles não pensam nem tentam melhorar a relação do homem consigo mesmo e com a natureza que os provém. Falta-lhes a visão de estadistas, de terem uma responsabilidade ética para com os seus eleitores e a sobrevivência em jogo do planeta, e não apenas de Manaus e a da Amazônia”. Esse é o paradoxo local, expliFOTOS: DIVULGAÇÃO FAS

economia de R$ 35 bilhões, no mesmo período, que poderiam voltar aos bolsos de todos nós, consumidores, que sempre pagamos a conta no final”. Outro dado chocante que Faria mostrou é quanto ao custo construtivo e administrativo percentual de uma edificação hoje no país, o que justifica todo e qualquer investimento em termos de iluminação e ventilação naturais, por exemplo: “O custo da construção convencional corresponde a 15% somente do total do empreendimento. Já os outros 85% são de sua operação posterior. É com a sustentabilidade de uma gestão, portanto, mais ecoeficiente em termos de administração e gastos com energia, água, geração e tratamento de lixo e utilização inteligente de outros recursos ambientais, como reúso de água e energia solar, que mais deveríamos nos preocupar. E, por consequência, preferirmos e investirmos, já que existem soluções tecnológicas no mercado igualmente crescente da sustentabilidade”, apontou.

LUIZ CASTRO: "A virada é política"

cou o deputado: “Nossa capital ainda tem florestas à sua volta, mas não dentro do município, do seu espaço urbano, para a conservação da qualidade de vida de sua população. Por incrível que pareça, e isso realmente choca os visitantes, mexe com a autoestima dos manauenses. Mesmo cidade-símbolo da maior floresta tropical do mundo, nossas áreas verdes municipais são menores do que existe hoje e é cultuado como valor político em outras cidades metropolitanas como São Paulo, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte, na forma de parques públicos e reservas ambientais”. Concluiu Luiz Castro: “O que temos de diferenciar aqui é que a política brasileira ainda não conseguiu sair do interesse individual para o coletivo, condição primeira do desenvolvimento sustentável. Ela está podre, continua podre. Mas não o país, a sua gente, essa geração jovem aqui representada e cheia de esperança de se engajar em algo nobre e necessário, apesar de todas as dificuldades e percalços. Enquanto a questão ambiental for vista como um nicho, como preocupação de uma única secretaria ou um ministério, específica de um grupo ou setor pequeno no governo, a sustentabilidade que buscamos não vai avançar. Esse tipo de política e de políticos só vai mudar quando a gente quiser mudá-los!”

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E se você pudesse transformar Manaus? Esse foi o desafio que a Coca-Cola Brasil fez aos empreendedores sociais do Amazonas, segundo relato do seu gerente-sênior de Sustentabilidade, o cientista social Luiz André Soares. Um mês antes do evento, a bordo de um navio e tendo o Rio Amazonas como cenário, jovens engajados foram convocados para criar projetos que pudessem impactar positivamente a capital e maior cidade do Estado. Trata-se do “The Boat Challenge”, o “Desafio do Barco”, realizado por meio da plataforma de inovação aberta “Coca-Cola Open Up”, de modo a fazê-los pensar menos nos problemas e mais nas soluções, dentro de uma visão otimista. Com o poder de convocação que a marca da empresa tem, 35 participantes selecionados embarcaram nessa viagem diretamente do Festival Folclórico de Parintins. Subiram um dos maiores rios do mundo rumo à capital debatendo e criando livremente projetos com potencial para transformá-la sob o prisma da sustentabilidade. A ação teve apoio da Comunidade Global Shapers, uma rede de jovens promovida pelo Fórum Econômico Mundial, que visa reunir pessoas de várias áreas de atuação das principais cidades do planeta em uma grande rede de contatos com o objetivo de “pensar globalmente e agir localmente”. Os temas colocados para o desafio foram “Educação”, “Meio Ambiente”, “Geração de Emprego e Renda”, “Saúde” e “Segurança”. Já esses jovens participantes foram pré-selecionados por meio de vídeos postados na página do evento no Facebook, criada especialmente para as inscrições. Em apenas dois dias de divulgação, observou Soares, a página já tinha mais de duas mil

OS JOVENS empreendedores no "Desafio do Barco": soluções a bordo

pessoas e 121 ideias postadas. No navio, os empreendedores contaram com o apoio de um time de mentores formados por especialistas nas mais diferentes áreas. Os projetos foram avaliados por uma banca de jurados com representantes do mundo oficial, acadêmico, setor privado e ONGs. A iniciativa vencedora foi a “Amazon Share”, cuja missão é conectar os turistas com as comunidades da Amazônia, proporcionando experiências reais de vivência com a população tra-

dicional ribeirinha. O projeto vai ser incubado pelo Impact Hub, rede global de pessoas empreendedoras que se conectam para gerar impacto social. Outros quatro projetos selecionados também receberão a mesma incubação por seis meses. Foram eles: l Banheiro seco

Fornecimento de vasos para banheiros secos, com coleta de material para compostagem e posterior venda de adubo. l EduMoney

Programas de educação financeira com metodologia inovadora voltada para o público feminino. l Empodera

Plataforma de descoberta vocacional e empoderamento jovem.

LUIZ ANDRÉ: "Convocação ecológica"

l Saúde nas mãos Governança e agendamento de consulta médica por plataforma digital.

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1 SUSTENTABILIDADE

TEATRO AMAZONAS, onde a Virada foi lançada: testemunho de quem já foi o "motor" do Brasil e hoje ainda abriga preservada a maior porção de floresta tropical do planeta

FUTURO SUSTENTÁVEL Como mostrou Soares, além de ideias, projetos e modelos de negócios concretos, os jovens participantes da experiência ao longo do Rio Amazonas também deixaram os seus recados para mudar Manaus. Alguns deles mostrados em vídeo foram: l “A Manaus que eu quero para

os meus filhos é uma cidade que tenha relação com o lugar onde ela se encontra.” l “Como uma cidade da

Amazônia, Manaus deveria refletir a sua verdadeira identidade. E não a cidade cinza que conhecemos.” l “Vamos

criar uma rede de agentes de transformação, a partir da educação.”

l “Temos que nos tornar

pessoas que consigam viver e aprender com os povos ribeirinhos e caboclos.” l “Manauenses que no passado

brincavam nos igarapés, hoje os evitam por causa da poluição. Temos que achar uma solução inovadora e sustentável para processar e reciclar o lixo da capital.” l “O meu maior sonho é poder

ouvir, um dia, os meus filhos ou os meus netos crescidos responder assim, quando lhe perguntarem se eles se lembram dos igarapés onde nossos antepassados brincaram: ‘Eles continuam limpos e lindos’.”  SAIBA MAIS www.cocacolaopenup.com.br

POR QUE MANAUS? Para Pedro Massa (foto), diretor de Valor Compartilhado da Coca-Cola Brasil, é hora de aproximar a iniciativa privada dos empreendedores sociais: “Não é possível atuarmos sozinhos. Por isso trabalhamos com parceiros como Global Shapers de Manaus, Up Global, Google, Sustaintable Brands, Fundação Amazonas Sustentável e Impact Hub, buscando desenvolver ações concretas e colocar o nosso negócio de forma cada vez mais estratégica a serviço do desenvolvimento local e da geração de valor compartilhado. Nada melhor que começar em Manaus, uma região com grande potencial”. POR QUE NA FAS? A Fundação Amazonas Sustentável é uma organização brasileira não governamental, de utilidade pública e federal. Foi criada em 20 de dezembro de 2007, por meio de uma parceria entre o Governo do Estado do Amazonas e o Banco Bradesco e, posteriormente, passou a contar com o apoio da Coca-Cola Brasil (2009), do Fundo Amazônia/BNDES (2010), da Samsung (2010), além de outras parcerias em programas e projetos desenvolvidos. Os dois principais programas são o "Bolsa Floresta" e "Educação e Saúde". A FAS atua em 574 comunidades ribeirinhas. Em todas elas, graças a um trabalho de educação ambiental, o desmatamento é menor que a média geral do Estado. Saiba mais em www.fas-amazonas.org FOTO: ROGERIO CARDOSO

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

SAIBA MAIS



1 COMPORTAMENTO

FELICIDADE: sete em cada 10 brasileiros preferem passar mais tempo com a família a ter um salário maior

MELHOR QUE DINHEIRO Pesquisa do SPC Brasil sobre a relação entre felicidade e consumo mostra que 86% dos motivos que deixariam as pessoas mais felizes não estão diretamente ligados a dinheiro

Q

uando o assunto é felicidade, ninguém discorda que lazer e dinheiro são importantes. Porém, uma pesquisa inédita realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira “Meu Bolso Feliz” mostra que sete em cada dez entrevistados (69%) preferem um estilo de vida com mais tempo para a família, mesmo que isso implique em ter um salário menor - preferência que se destaca entre os brasileiros de todas as classes sociais. Por outro lado, 20,6% dos brasileiros afirmam preferir ter mais dinheiro, mesmo que tenham que trabalhar bastante para isso e não tenham tempo para a família, seus amigos e lazer. Percentual que chega a 28,4% entre os mais jovens. BRASILEIROS PREFEREM VIAJAR A COMPRAR ROUPAS E CALÇADOS De acordo a pesquisa, mais da metade dos entrevistados (51,3%) prefere deixar de comprar rou-

pas, calçados e outros itens para viajar, principalmente pessoas das classes A e B e que possuem alta escolaridade. Outros 26% indicam o contrário: a preferência por poder comprar tudo o que desejam no lugar de viajar - alternativa mais escolhida por jovens, pessoas de baixa escolaridade e pertencentes às classes C, D e E. Segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, é perceptível que a valorização da experiência como meio para alcançar a felicidade, em detrimento do consumo, é mais comum entre os mais velhos. “São eles os que mais dizem ser felizes e também os que mais acreditam que a felicidade está ligada, principalmente, a ter mais tempo junto aos familiares”, diz. “Ao mesmo tempo, os jovens são mais conectados à ideia de posse e de consumismo. Nas classes sociais mais baixas também ocorre algo semelhante, talvez porque essas pessoas ainda não tenham alcançado o patamar de consumo ao qual desejam chegar”, explica a economista.

MAIOR PARTE DOS ENTREVISTADOS SE CONSIDERA FELIZ De acordo com os próprios entrevistados, 63% atribuem uma nota acima de 8 - entre 1 e 10 para a própria felicidade, principalmente as mulheres, pessoas das classes A e B e que têm 56 anos ou mais. A nota média dos brasileiros é 7,9. Quando perguntados sobre os requisitos necessários para ter felicidade, 33,5% dos brasileiros afirmam que ter mais tempo para a família é o principal. Logo após, 15,6% dizem que é ser saudável, e 14,5% que viajar seria a principal fonte para ser feliz. Outros 14,3% afirmam que os aspectos relacionados ao consumo são os mais importantes. A pesquisa comprova que, no geral, 85,7% dos motivos que deixariam as pessoas mais felizes não estão relacionados diretamente com dinheiro.  SAIBA MAIS www.spcbrasil.org.br

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Somos cobras em ecologia E ficamos uma arara com a falta de informação. As páginas da revista ECO•21 são escritas por cobras em ciências ambientais, tubarões em desenvolvimento sustentável e águias em biodiversidade. As feras que fazem a ECO•21 têm memória de elefante, olhos de lince e a sabedoria de uma coruja. Seja esperto como uma raposa e leia.

/revista.eco21

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CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO

CRESCIMENTO GLOBAL (1) A atual população mundial de 7,3 bilhões de pessoas vai alcançar a marca de 8,5 bilhões até 2030 e 9,7 bilhões em 2050. Nesse ritmo, o planeta deve chegar a 2100 com 11,2 bilhões de seres humanos, um crescimento de 53% em relação aos dias de hoje. As previsões estão no relatório "Perspectivas da População Mundial: A Revisão de 2015", publicado recentemente pela ONU.

CRESCIMENTO GLOBAL (2)

FOTO: CLIMATONE.ORG

China e Índia continuarão como os países mais populosos. Atualmente, cada um tem cerca de um bilhão de pessoas, mas o estudo diz que a Índia deve ultrapassar a China até 2022. A África do Sul deve responder por mais da metade do avanço demográfico de 2015 a 2050.

A cinco meses da Conferência sobre o Clima em Paris, a Casa Branca divulgou nova versão de seu plano de energia limpa. As regulamentações ambientais limitam, pela primeira vez, as emissões de carbono nas centrais elétricas dos EUA (responsáveis por cerca de 40% das emissões de dióxido de carbono do país). A proposta fixa em 32% a meta de redução de emissão de gás carbônico nas usinas termelétricas até 2030, com base nos níveis de 2005.

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FOTO: ANDRÉ KÜNZELMANN / UFZ

CONVENÇÃO DO CLIMA

EMERGÊNCIA EM SANTIAGO

As autoridades chilenas decretaram, pela 16ª vez este ano, o estado de pré-emergência ambiental em Santiago devido aos altos índices de contaminação do ar. A iniciativa proíbe a circulação de 20% dos veículos motorizados que possuem conversores catalíticos cujas placas terminem nos dígitos 5 e 6. E de 60% dos não catalíticos, cujas placas terminem em 3, 4, 5, 6, 7 e 8.


FOTO: SHUTTERSTOCK

CARVÃO NA CHINA (1)

Estabelecer um pico para o consumo de carvão na China até 2020 poderia gerar uma economia de bilhões de dólares em custos ambientais, reduzir o consumo de água em cerca de 30% e impedir dezenas de milhares de mortes por doenças relacionadas, alerta um estudo do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais da China.

CARVÃO NA CHINA (2)

FOTO: ANDRÉ KÜNZELMANN / UFZ

O carvão corresponde a mais de 75% da produção total de energia da China. No fim de junho, o país anunciou seu compromisso de reduzir suas emissões de CO2 por unidade do Produto Interno Bruto (PIB) entre 60% e 65% em relação aos níveis de 2005. Pequim também prometeu “elevar a porcentagem de energia não fóssil no consumo energético primário a 20%”.

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO  73


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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

NOIVAS DA TECNOLOGIA O ito da manhã. Saio de Belo Horizonte cansado da semana e curioso. Vou para a Comunidade de Noiva do Cordeiro, plantada no interior de Minas entre montanhas e sonhos. Não vou falar muito deles, mas da comunidade que é composta, em sua maioria, de mulheres que venceram o preconceito e ensinam ao mundo um jeito de viver que dá exemplo, com folga, a governos e organizações. Quero falar também de tecnologia. Anos atrás incluímos a comunidade em um programa do Comitê para a Democratização da Internet (CDI), que levou até lá um link. Não era comida. Não era educação. Não era saúde. Era só um link de internet! Mas o que a comunidade fez com aquele link dá história e da boa. Virou comida, virou educação, virou saúde e, de quebra, virou arte. Gente que labuta na lavoura de dia e encena, dança e recita de noite no palco da comunidade. Com qualidade! Como diz a Rosalle, coordenadora de Projetos da Noiva, não foi só a internet que mudou a vida delas. Foi também isso! E, quando ela falou assim, me deu um orgulho danado porque eu senti que a nossa missão havia sido cumprida. Nós não temos o poder de transformar vidas. Quem transforma vidas são as pessoas e o que elas fazem com os projetos que levamos. Uns conseguem, outros não, e é o que faz a Noiva ser tão especial. Agora em meu Arbórea Instituto, que continua parceiro do CDI em Minas mas resolveu alçar outros voos, cá estou eu, chegando em Noiva do Cordeiro para, com humildade, pedir uma nova parceria. É tudo sonho que se pode pegar. Como bom mineiro, como não falar da comida, meu Deus, a comida! Quase que me acabo. Simples demais, saborosa demais, como devem ser as coisas celestiais... As mulheres de Noiva do Cordeiro são determinadas. Sabem o que querem. E o que não querem é gente só pra fazer graça com o nome da comunidade, até porque não precisam. O que fazem já encantou o mundo. Só que eu não fui passear em Noiva do Cordeiro.

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Fui ver de perto o que a internet fez por elas e vi. Foi transformador! Só que tiraram o link! Fiquei triste vendo os computadores isolados, sem poder mais levar conhecimento a uma turminha de crianças da comunidade, todas rindo, pode acreditar, com a felicidade dos que encontraram um pedaço do paraíso. Quando voltei para casa, no aconchego de um link de boa velocidade em Belo Horizonte, tive a exata noção do que estamos fazendo com nosso país, das diferenças que estamos criando em nossa população. Não posso ficar quieto. Comecei logo uma luta para voltar o link para a Comunidade. Não é que elas precisem de tanta ajuda assim. É que eu quero aprender mais com elas, quero saber o que vão fazer de novo com o conhecimento da web e dizer ao mundo que viver em harmonia, produzir e compartilhar não é utopia. Está ali, logo por detrás das serras de Minas. Não quero ver só gente dizendo que Noiva do Cordeiro é um projeto legal. Quero ver a Noiva levar seu projeto para o mundo e declarar que a felicidade coletiva é possível e que a internet pode fazer parte disso. É só isso que eu quero ver! 

TECH NOTES l Siga Noiva do Cordeiro no Facebook

www.facebook.com/ noivadocordeirocomunidaderural

l Conheça a história da comunidade

www.youtube.com/watch?v=cVmj1hORxso

l Pergunte ao Gesac por que a comunidade de Noiva

do Cordeiro perdeu seu acesso a internet www.mc.gov.br/gesac

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.



FOTO: MARKO

1 MINERAÇÃO

AQUECIMENTO MINERAL Minas sediará a 16ª edição da Exposibram, maior exposição e congresso internacional sobre mineração sustentável da América Latina, apostando em inovação e no longo prazo para vencer a crise J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

importante registrarmos que, entre tantos percalços e pessimismo, a mineração brasileira emprega mais de 2,5 milhões de pessoas em praticamente todos os rincões e municípios do país. Desde executivos que trabalham em empresas de ponta como a Vale, em Carajás (PA), até quem puxa areia lá na minha pequena Dom Silvério (MG), e também sofre com a crise econômica. Somos um setor com visão e planejamento de longo prazo que, cada vez mais, vem abraçando a responsabilidade ambiental e cumprindo sua função social, que é acreditar e fazer o país crescer de maneira sustentável, apesar do cenário adverso da economia. Nada dura para sempre. Já enfrentamos uma inflação de 87% ao mês e vencemos até a dita-

dura militar. Melhor que nos fazermos de vítimas e desistirmos é nos reinventar, inovar. Tornarmos sujeitos de nós mesmos. O momento é agora. Quem não pensar e agir assim estará fora do mercado, não irá sobreviver.” Foi com esse apelo emotivo que o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), José

Fernando Coura (ao lado do presidente da Fiemg, Olavo Machado, também otimista) convocou a imprensa em 18 de agosto último para anunciar a alta expectativa do setor pela “Exposibram 2015 – 16º Congresso Brasileiro de Mineração e Exposição Internacional de Mineração”. Ela será realizada no Expominas, em BH, FOTOS: SEBASTIÃO JACINTO JUNIOR

É

CONVOCAÇÃO DO IBRAM reuniu os principais veículos de comunicação e jornalistas do estado mineral por excelência 64  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2015

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"Nos últimos anos, o Brasil construiu shopping centers, mas não construiu indústrias. E a conta chegou agora." FERNANDO COURA, presidente do Ibram

ARY PEDROZA, COURA E MARCELO TUNES: positivismo ante o negativismo do mercado

FOTO: REPRODUÇÃO

mentaneamente as expectativas empresariais, o setor planeja os negócios com antecedência de dezenas de anos e há sinais de que o ciclo mineral retomará, em breve, bons momentos de crescimento, de modo a atender à necessidade de minérios para o desenvolvimento dos países mundo afora. “Segundo a ONU, em 2050 já seremos mais de 9,2 bilhões de pessoas demandando um volume 70% maior de alimentos, cujas lavouras dependem fortemente dos fertilizantes advindos da mineração, incluindo outras necessidades básicas de bens minerais” – ressaltou Fernando Coura. Exibindo seu aparelho de celular, ele completou: “Eis aqui uma pro-

FOTO: ANTÔNIO CRUZ / ABR

entre os dias 14 e 17 de setembro, com a participação já confirmada de delegações de 25 países. Daí o tema abrangente deste ano, “A mineração no Mundo em Inovação”, incluindo novidades em segurança ambiental, jurídica, de gestão ou tecnológica, conforme explicou Marcelo Tunes, diretor de assuntos minerários do Ibram, ao salientar a presença de 400 expositores de várias partes do mundo. O evento sediado a cada dois anos na capital mineira, com uma visitação média de 60 mil pessoas, é considerado o maior em todo o Hemisfério Sul, a um custo-investimento de R$ 25 milhões e com a estimativa de gerar R$ 500 milhões em negócios. Apostando na retomada do mercado, o segmento prevê aportes da ordem de US$ 53,6 bilhões apenas no Brasil. A “Exposibram 2015” é aguardada com ansiedade por toda a cadeia produtiva mineral. Embora a crise internacional arrefeça mo-

va para ambientalista radical algum defender o fim da mineração responsável, a menos que ele não precise nem consuma qualquer produto oriundo do nosso setor. Para quem não sabe, um simples celular tem 43 tipos diferentes de minerais na sua composição, alguns até além da tabela periódica que aprendemos na escola”. O presidente da Fiemg, Olavo Machado, também não deixou por menos, dirigindo-se ao diretor-executivo do jornal Estado de Minas, Álvaro Teixeira da Costa, presente no lançamento da “Exposibram 2015”, ressaltou: “Apesar da crise, ainda tem muito espaço, muita coisa boa para inovarmos e retomarmos nosso crescimento. Afinal, mesmo na atual conjuntura política e econômica, o Brasil ainda é a sétima maior economia do mundo. Ou seja, vocês ainda terão muito lugar para vender jornais”. Em tempo: dois auditórios do Expominas serão batizados em homenagem à memória de Rinaldo Campos Soares e Francisco Moacyr de Vasconcelos.  SAIBA MAIS

A programação completa da EXPOSIBRAM 2015, informações e inscrições podem ser acessadas em www.exposibram.org.br.

RINALDO CAMPOS e FRANCISCO MOACYR: homenagens merecidas AGOSTO DE 2015 | ECOLÓGICO  65

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FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE

1 AQUECIMENTO GLOBAL

UM BRASIL QUE

ESQUENTA Análise inédita das emissões brasileiras entre 1970 e 2013 mostra que o país corre sério risco de não cumprir metas de redução de lançamento de gases poluentes


FOTO: RODRIGO BALÉIA / GREENPEACE

A AGROPECUÁRIA aparece no estudo como a terceira causa responsável pelas emissões, incluindo o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nas plantações

O

Observatório do Clima (OC) acaba de divulgar uma análise ampliada sobre as emissões brasileiras de gases do efeito estufa (GEE) entre 1970 e 2013. Nesse período, o setor de energia — que inclui produção e consumo de combustíveis e energia elétrica — quadruplicou seus níveis de GEE, chegando a 2013 com 29% das emissões brasileiras. Nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão. A análise permite traçar uma curva de emissões brasileiras em toda a economia e projetá-las para os próximos anos. O resultado é preocupante: embora o Brasil ainda tenha chance de cumprir a meta proposta em 2009 (de reduzir suas emissões em 2020 em relação à tendência), tudo indica que daqui a cinco anos essa trajetória será ascendente. Isto é: o país estará na contramão da recomendação da ciência de declínio das emissões para evitar os piores efeitos do aquecimento global. Caso o desmatamento na Amazônia saia do controle, nem a meta de 2009 será cumprida. Os dados foram levantados

pelo Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), plataforma de acesso aberto criada pelo OC. Além de relatórios analíticos com informações atualizadas sobre as emissões de cinco setores da economia (agropecuária, energia, processos industriais, mudança de uso da terra e tratamento de resíduos), o SEEG também lançou um documento-síntese que identifica alguns dos principais desafios do Brasil para reduzir os gases que provocam o aquecimento global. Dessa forma, procura auxiliar na contribuição do país para um novo acordo climático internacional, a ser firmado na COP-21, que acontecerá em Paris, em dezembro. “É muito importante que o Brasil volte ao seu papel de protagonista nas discussões climáticas mundiais. Com essa análise em mãos, a sociedade terá melhor condição de cobrar das lideranças brasileiras a proposição de metas adequadas à realidade do país”, afirma André Ferretti, gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e

coordenador-geral do OC. Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. “A expansão se deve à queda da participação do etanol, ao aumento do consumo de gasolina e diesel, além do incremento de geração termelétrica no Brasil”, informa Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. Para ele, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras - o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013). MONTANHA-RUSSA DE NÚMEROS O relatório do SEEG traz conclusões positivas, pelo menos, à primeira vista. Por exemplo, o setor de mudança no uso do solo (desmatamento) apresentou uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013. Essa queda, somada a um cálculo inflado de aumento do Produto Interno Bruto (PIB), foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta

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1 AQUECIMENTO GLOBAL de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020. No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que não dá para “deitar nos louros”. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%). Mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo. Como medida elementar para auxiliar na desaceleração do aquecimento global, ele frisa que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”. Já na área energética, André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), explica que se registrou no período pesquisado uma evolução das emissões por fonte primária, com amplo predomínio do petróleo (72% em 2013), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%). “Ao mesmo tempo, a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, que nos 1990 chegou a superar 50%, caiu para 41% em 2013”, afirma Azevedo. PANORAMA TOTAL A agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%. Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados. A grande oportunidade está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas. “Quando bem manejados, mesmo os pastos podem ajudar a neutralizar carbono, sem dizer que as técnicas acabam por proporcionar um crescimento considerável da produção”, explica Marina Piatto, do Imaflora, que analisou essas estimativas. Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões

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Pará e Mato Grosso figuram como os maiores emissores do país, devido ao desmatamento e à atividade pecuária. Logo em seguida vêm São Paulo e Minas Gerais nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no último ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas. Com base nisso, André Ferreira, do Iema, assegura que “a queda dessas emissões depende de aumentos da eficiência energética, inovações em processos, a exemplo do uso de carvão vegetal na siderurgia”. O setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país. O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo). “Para uma maior eficiência, é necessário universalizar o tratamento biológico de resíduos sólidos e esgoto no Brasil com o aproveitamento do biogás e dos materiais recicláveis”, assinala Igor de Albuquerque, do Iclei, que coordenou o relatório analítico do setor. PARÁ, O CAMPEÃO DE EMISSÕES Na versão mais recente do SEEG foi possível alocar mais de 90%

das emissões de gases de efeito estufa nos estados brasileiros ao longo de todo o período estudado. Focando em 2013, Pará e Mato Grosso figuram como os maiores emissores do país, devido ao desmatamento e à atividade pecuária. Logo em seguida vêm São Paulo e Minas Gerais, onde predominam emissões do setor de energia (especialmente o transporte) e, no caso mineiro, o gado leiteiro. Embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises do SEEG indicam que o país ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa. “As iniciativas do governo federal, derivadas da “Política Nacional sobre Mudança Climática”, de 2009, têm escala muito tímida e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, pondera Carlos Rittl. “É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.” O resultado é que o país não aproveita as oportunidades e as vantagens únicas que uma economia de baixo carbono pode oferecer. “A governança que sustenta as políticas públicas brasileiras relacionadas às mudanças climáticas não é claramente estabelecida. O país ainda não possui um sistema claro de monitoramento e avaliação para todas as políticas públicas ou para o conjunto de iniciativas sobre mudanças do clima e de cada um dos planos setoriais”, finaliza Rittl.  SAIBA MAIS www.observatoriodoclima.eco.br www.seeg.eco.br


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1 POLÍTICA AMBIENTAL

AGONIA DO RIO DOCE Presidente do Legislativo mineiro também se diz testemunha e preocupado com a degradação ambiental do curso d’água Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

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suas margens. A bacia toda era composta por Mata Atlântica que, com exceção do parque estadual, não existe mais. Soma-se o volume histórico de efluentes industriais e domésticos lançados ao longo dos cursos d’água, e pelo manejo inadequado dos solos na agropecuária, antes da consciência ecológica e da legislação ambiental.” O mau uso dos recursos hídricos, aliado à diminuição das chuvas, é outro fator determinante para a crise atual, acrescentou o presidente da ALMG. Ele lembra que no último período chuvoso, de outubro de 2014 a março de FOTO: POLLYANNA MALINIAK - ALMG

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m mês antes da série de reportagens publicadas pelo jornal Estado de Minas que estarreceu a opinião pública sobre o fato de o Rio Doce não chegar mais ao mar, tamanha sua degradação ambiental pelo caminho, o deputado Adalclever Lopes lamentou a situação à Ecológico. Nada justifica, segundo ele, os desmatamentos que continuam acontecendo no entorno e até dentro do Parque Estadual do Rio Doce, a maior reserva de Mata Atlântica e água, na forma de 42 lagoas, do Vale do Aço. Como também explica a questão do uso e da preservação dos recursos hídricos ter se tornado pauta constante e prioritária na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), desde a criação, em 1999, da Comissão Interestadual Parlamentar de Estudos (Cipe) que tem, entre outros objetivos, acompanhar a elaboração e execução de planos, projetos e investimentos que incidam na Bacia do Rio Doce: “O principal problema continua sendo a ocupação desordenada da região, notadamente às

ADALCLEVER LOPES: "95% da cobertura vegetal nativa nas margens do rio já foram devastadas"

2015, choveu menos que a média nacional na região do Rio Doce. “Os dados nos mostram ainda que a pior qualidade da água na sua bacia hidrográfica foi registrada em Conceição do Mato Dentro e Nova Era, ambos municípios da região central do Estado, com alta contaminação tóxica. No primeiro, contaminação por zinco no Rio Santo Antônio; e, no segundo, chumbo no Rio Piracicaba.” Este ano, desde o primeiro semestre, está em curso o “Seminário das Águas III – Os desafios da Crise Hídrica e a Construção da Sustentabilidade”. Já ocorreram nove encontros regionais, inclusive no Vale do Rio Doce, para discutir a situação e a necessidade de cada localidade em relação à água. Depois, todas as sugestões colhidas nas nove regiões serão debatidas na plenária final, que será realizada entre 29 de setembro e dois de outubro, em Belo Horizonte: “Essas informações serão muito importantes para subsidiar as nossas ações legislativas frente à crise hídrica nos próximos anos”, concluiu Adalclever. 

FOTO: GUSTAVO STURZENECKER MOREIRA

TRECHO seco do Rio Doce em Conselheiro Pena (MG): cenário cada vez mais comum


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1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

DAS MONTANHAS AO MAR

Samarco adota projeto educacional da Revista Ecológico para 700 professores e pedagogos do ensino fundamental em Minas Gerais e Espírito Santo J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

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urante os próximos dois anos, e em todas as luas cheias, nada menos que 700 professores e pedagogos de 36 escolas mineiras e capixabas de ensino fundamental, próximas às unidades operacionais da Samarco em Minas Gerais e no Espírito Santo, passarão a receber a Revista Ecológico. Os educadores terão acesso, tanto à edição impressa quanto digital, ao encarte “Ecológico nas Escolas” como novo material didático e informativo sobre meio ambiente e sustentabilidade. A cada 28 dias, portanto, se-

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guindo o calendário da natureza, vide o movimento das marés, as escolas receberão de forma personalizada um novo exemplar da publicação. E, na sequência, conscientizar os alunos a fim de engajá-los na mudança de hábitos e atitudes proativas frente às mudanças climáticas e à crise hídrica, que já está chegando às nossas torneiras. Esta novidade é fruto de uma parceria entre a Revista Ecológico, a mais especializada publicação ambiental hoje na grande mídia impressa brasileira, e a Samarco,

empresa símbolo de mineração responsável e sustentável em ambos os estados onde atua. O objetivo maior da publicação, do ponto de vista global, é atender a Lei Federal 9.795/99, que propõe a transversalidade da Educação Ambiental em todas as disciplinas do currículo de ensino fundamental no país. Já localmente, é reforçar de forma didática o Programa de Educação Ambiental (PEA) que é realizado em escolas das regiões onde a Samarco atua, das montanhas de Minas ao Porto de Ubu, em Anchieta, no litoral do Espírito Santo.


FOTOS: NENO VIANNA

SAIBA MAIS FERRAMENTA EDUCADORA “Agradeço à Samarco, que sempre se destaca pela sua atuação e investimentos em educação, por mais essa parceria. A Revista Ecológico será fundamental para informar e apoiar os professores da nossa rede pública de ensino. É mais uma ferramenta que temos para trabalhar em prol de uma necessária educação transformadora.” Elizabeth Cota, secretária municipal de Educação de Mariana (MG) APOIO PARCEIRO “O que mais incentiva os professores é poder utilizar novos materiais e métodos educativos na área ambiental. Já os nossos alunos precisam ser orientados de forma transversal e essa orientação parte, principalmente, do ambiente escolar. É fundamental, e agradecemos, que empresas parceiras como a Samarco, por meio da Funcesi e Revista Ecológico, nos proporcionarem possibilidades como essas." Alda Aparecida Batista, secretária municipal de Educação de Catas Altas (MG)

Esta iniciativa busca prioritariamente dar apoio aos professores sobre temáticas ambientais durante todo o ano letivo. E não apenas durante o período em que as unidades escolares recebem as atividades do “Baú Econhecimento”, biblioteca itinerante que percorre as escolas, e do “Cidadão Ambiental”, outra iniciativa do programa, cuja proposta é de-

EM MINAS, o lançamento foi no dia 20 de agosto e teve a participação das professoras das escolas municipais “Passagem de Mariana" (foto), em Mariana; e “João XXIII”, em Catas Altas

senvolver projetos sustentáveis juntos aos alunos do nono ano. Outra iniciativa que reforça o cuidado com a natureza é o programa “Positivo em Água” da empresa, que visa unir ideias e ações que promovam ganhos para o meio ambiente e parcerias com o poder público e instituições dos dois estados vizinhos. ESPERANÇA NATURAL O lançamento simbólico capixaba do projeto “Ecológico nas Escolas” aconteceu no dia 13 deste mês, nas escolas municipais Adalgiza Fernandes Marvilla, de Condados-Meaípe, em Guarapari, e Maria Luiza Flores, de Mãe-Ba, em Anchieta. A cerimônia contou com a presença do prefeito Marcus Vinicius Doelinger Assad e do secretário de Educação, Daziomar Nogueira. E foi emocionante. Agradecida pelo apoio da empresa junto aos seus alunos, no município vizinho de Nova Guarapari, a professora Maria Mercedes Stein, da Escola Municipal Lúcio Rocha de Almeida, chegou a declarar com os olhos cheios

Eloah Rodrigues e Hiram Firmino, diretores da Ecológico, apresentam o projeto

d’agua: “Eu, como educadora, dificilmente consigo convencer e mudar a mentalidade de um adulto, diante do estado do mundo. Mas uma criança somos capazes de mudar. Essa é a esperança maior deste projeto”. O aluno Pablo Henrique, de 13 anos, completou: “Muita gente ainda não cuida da natureza nem pensa no planeta. Mas agora, com toda essa informação, eu vou cuidar!”. SAIBA MAIS www.samarco.com.br www.revistaecologico.com.br

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1 EDUCAÇÃO

Como participar instituições de ensino, tal como propõe a Constituição Brasileira. MINAS PIONEIRA O Governo de Minas foi o primeiro a adotar e apoiar experimentalmente o projeto: entre 2010 e 2012, 3.800 escolas estaduais receberam dois exemplares da Ecológico a cada lua cheia. Em uma enquete realizada com 300 educadores ao fim desse período, 100% dos entrevistados afirmaram que tinham interesse em continuar recebendo a revista e o “Ecológico Nas Escolas” encartado nela. A maioria (90%) disse que o conteúdo é útil como material didático no planejamento das aulas. Entre professores, alunos e demais funcionários das escolas, quase 60% afirmaram utilizar o conteúdo com frequência – 43% deles o faziam em sala de aula. Mais: 96% das instituições consultadas já tinham exemplares da Ecológico nas bibliotecas para serem usados como fonte de pesquisa. E o melhor de tudo: 100% das professoras responderam que não utilizam somente o encarte voltado

para educação ambiental da revista, mas “ela toda” durante as aulas. A Prefeitura de BH também aprovou, recentemente, a distribuição da Ecológico para as professoras de suas escolas municipais. A adoção do projeto “Ecológico nas Escolas”, entretanto, não se restringe apenas à esfera da educação pública. Qualquer empresa pode assinar corporativamente a revista e enviá-la também, com a sua logomarca institucional, para os seus colaboradores e stakeholders, empoderando-os na temática que mais preocupa hoje a humanidade, vide o exemplo da encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco.  SAIBA MAIS

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Em novembro de 2008, a edição número um da Ecológico chegou ao mercado. Na mesma semana em que foi distribuída, nossa Redação recebeu o telefonema de Luciana Castanho, professora de uma escola pública da capital mineira, cumprimentando pela iniciativa. Ela informou que havia utilizado todo o conteúdo da revista para enriquecer as aulas sobre meio ambiente e ecologia para os seus alunos. Mas indagou: “Como eu e minhas colegas professoras podemos receber esse conteúdo regularmente, se não temos condições financeiras para assiná-la?”. Germinava aí a semente que fez surgir o projeto “Ecológico nas Escolas” que, graças ao patrocínio de governos e empresas cidadãs, como a Samarco, vem se fortalecendo cada vez mais como um instrumento pedagógico gratuito para a formação e a conscientização ambiental dos alunos do ensino fundamental. E, preliminarmente, como material educativo complementar a ser utilizado pelos professores, suprindo, assim, a carência de informação sobre sustentabilidade para as

O PREFEITO Marcus Assad e, embaixo, Sandra Martins (Samarco), Eloah Rodrigues e Hiram Firmino (Ecológico), Fernando Kunsch e Rafaela de Castro (Samarco), com as professoras de Anchieta (ES): parceria transformadora 74  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2015


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Nº 32

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA

PERIGO INVISÍVEL Saneamento precário, descuido com a higiene pessoal e o descarte incorreto do lixo favorecem a proliferação de doenças transmitidas por meio da água contaminada Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

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onte da vida e indispensável em nossa higiene diária, a água também é responsável pela transmissão de doenças que, anualmente, afetam – e matam – milhares de pessoas mundo afora. São as chamadas doenças de veiculação hídrica, contraídas não apenas quando se bebe ou se banha em água contaminada, mas também por meio da ingestão de alimentos mal lavados ou mal cozidos e pela ação de vetores – como os insetos – que nascem ou dependem desse líquido vital para sobreviver. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma criança morre a cada 20 segundos 78  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2015

no mundo vítima de doenças causadas pela água contaminada. No Brasil, dados do Ministério da Saúde revelam que, no caso da dengue, transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus – que se reproduzem na água doce–, a incidência aumentou 30 vezes nos últimos 50 anos. Já se sabe que o Aedes transmite quatro sorotipos do vírus da dengue, além do vírus da zika e da chikungunya. E ainda, o da febre amarela. O maior surto de dengue ocorreu em 2013, quando foram diagnosticados dois milhões de casos, em diferentes partes do país. A maioria deles foi registrada nas re-

giões Sudeste e Centro-Oeste, principalmente em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. Mas há também enfermidades que acometem populações de estados específicos, como a oncocercose, que é transmitida pela picada do borrachudo ou pium. Conhecida como “cegueira dos rios”, no Brasil ela é endêmica da região Norte (Amazonas e Roraima). Em algumas aldeias, aproximadamente 80% dos índios têm a doença e apresentam problemas na visão. Eles perdem a visão por causa da invasão e da morte das microfilárias. Esses vermes minúsculos, em forma de larva, podem atingir


a região ocular, comprometendo o cristalino e a córnea. Em 37 países, o número de casos chega a 18 milhões. Os migrantes podem levar a doença para outros estados, pois quase todos têm as espécies vetoras: o borrachudo. DIAGNÓSTICO COMPLEXO Outra doença negligenciada no Brasil é a leishmaniose, veiculada pela picada do flebotomíneo, conhecido como mosquito-palha. Também chamada de leishmaníase, calazar, úlcera de Bauru e febre dundun, ela pode ser transmitida pelo mosquito-palha vetor tanto para os animais quanto para o homem. Acomete cachorros, raposas, preguiças, gambás, tamanduás, porcos e gatos, além de ratos, capivaras e esquilos. “Ela só perde em número de mortes provocadas por doenças parasitárias para a malária, sendo considerada uma das mais sérias do mundo. No Brasil, há mais de 500 mil casos notificados. O mais grave é que para cada doente identificado, há quatro ou cinco não diagnosticados”, explica a jornalista e ambientalista Dorinha Aguiar. Ela é autora de mais de 40 livros, incluindo uma coleção com 25 títulos sobre doenças de veiculação hídrica, destinada ao ensino fundamental. Há três formas de leishmaniose no Brasil: cutânea ou tegumentar, que ataca a pele; a mucocutânea, que atinge as mucosas e a pele; e a visceral, considerada a forma mais severa da doença. Ela afeta o fígado, o baço e a medula óssea. Todas são de difícil diagnóstico e, se não tratadas a tempo, podem levar à morte em 100% dos casos. ZONAS DE EPIDEMIA Belo Horizonte, as cidades da Grande São Paulo – além de Araraquara, Sorocaba, Vale do Ribeira, Araçatuba e Presidente Venceslau –, o Nordeste do Brasil, a região Amazônica e o Mato Grosso do Sul também são consideradas zonas

de epidemia da leishmaniose. O aumento da ocorrência de casos pode ser explicado, em parte, pelas mudanças ambientais, como o desmatamento crescente e o aumento da temperatura global. E também pelas migrações intensas, que são agravadas pela ocupação desordenada e pelas condições precárias de vida da população, em especial nos aglomerados e favelas. A falta de informação também condena as pessoas a serem vítimas dessas doenças, muitas vezes sem “remédio”. SANEAMENTO É GARGALO Em todos os casos, o cuidado com a higiene pessoal e doméstica e a melhoria das condições de saneamento são os caminhos mais seguros para evitar a ocorrência das doenças de veiculação hídrica. No entanto, quando se analisa os índices “vergonhosos” que ainda marcam a realidade do saneamento no Brasil, percebemos o quanto ainda é preciso avançar. Conforme o Instituto Trata Brasil, 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável, mais de 100 milhões de pessoas vivem sem coleta de esgoto e só 39% dos esgotos gerados são tratados. Em 2011, quase 400 mil pessoas foram internadas para tratar diarreias em todo o país, totalizando R$ 140 milhões em gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No mundo, mais de 80% das mortes por diarreias são causadas pela falta de saneamento. As crianças menores de cinco anos de idade são as principais vítimas. Confira, a seguir, alguns cuidados e dicas de prevenção!

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Os e-books da "Coleção – Doenças de Veiculação Hídrica", de Dorinha Aguiar, estão disponíveis na internet. Os professores podem usá-los para trabalhos em sala de aula e também oferecê-los a seus alunos, pagando uma única vez pelo exemplar escolhido.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA SAIBA MAIS

Como evitar

REPELENTES NATURAIS l A citronela é uma planta aromática e funciona como repelente natural contra mosquitos. Pode ser plantada em vasos e jardins. O mais eficiente é plantá-la no "caminho" do vento, assegurando que o seu aroma se espalhe e tenha maior alcance nos ambientes.

l Entre as principais doenças de

veiculação hídrica podemos citar: dengue, cólera, malária, paralisia infantil, leptospirose, amebíase, giardíase, hepatites A e E, tricuríase, febre amarela, oncocercose, leishmaniose, elefantíase, ancilostomíase, teníase (solitária), oxiuríase, ascaridíase (lombrigas) e esquistossomose (xistose), febre tifóide, paratifóide e salmoneloses.

Created by Stephanie Wauters from the Noun Project

l Também fazem parte dessa classificação as doenças provocadas pelas águas contaminadas por metais pesados, agrotóxicos e fertilizantes. l Sem banheiros, fossas ou redes coletoras, o esgoto corre a céu

aberto. Com fezes e restos de comida no quintal, em volta das casas e nas ruas, os vermes e bactérias presentes no esgoto contaminam a água e o chão. As pessoas andam descalças e bebem da água contaminada, ficando doentes. l Os insetos que pousam ou andam nas fezes vão para as casas,

levando as doenças em suas patas e asas. As fezes dos animais que andam no quintal e nas ruas também ficam contaminadas. As fezes recontaminam o chão e a água, e o ciclo das doenças recomeça.

l Vírus e bactérias presentes na água também podem ser trazidos pelas enxurradas e enchentes. A leptospirose é uma das principais doenças relacionadas às chuvas. Ela é causada pela bactéria Leptospira, presente na urina de ratos.

l Outra forma de uso, além ainda do tradicional óleo de citronela vendido no mercado, é fazer um chá com as folhas e usá-lo para limpar o chão da casa e os parapeitos das janelas. l O cravo-da-índia também pode ser usado com a mesma finalidade. Basta misturar um punhado de cravos ao álcool e agitá-lo periodicamente, ao longo de uma semana. Depois, misture esse líquido ao creme para uso corporal, e espalhe na pele. l O álcool com cravo também pode ser espalhado pela casa, debaixo dos móveis, nas janelas e portas, porque os insetos não gostam de seu cheiro e fogem do local. l Os cravos podem ainda ser colocados na terra de vasos de plantas, espalhados nos jardins, nos cantos escuros e úmidos do quintal.

Cuidados coletivos

Cuidados pessoais

l Preservar a natureza: recuperar nascentes e reflorestar terrenos.

l Higienização e cozimento correto dos alimentos.

l Não poluir, não desmatar e não

l Tomar banho todos os dias, mantendo cabelos, unhas e roupas limpos.

l Evitar o acúmulo de lixo e de quinquilharias, facilitando assim o controle de vetores, como moscas e ratos.

l Manter os ambientes

fazer queimadas.

l Saneamento adequado: usar água tratada ou

filtrada para beber e cozinhar; tratar os esgotos domésticos e industriais.

limpos e organizados.

l Informar-se e tomar as vacinas disponíveis. l Usar repelente

l Recolher e destinar o lixo e os

regularmente, como hábito.

l Participar de campanhas para o controle de vetores.

l Usar roupas adequadas para cada atividade e local, de acordo com os riscos a que estiver exposto.

resíduos recicláveis de forma adequada.

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TRÊS PERGUNTAS PARA...

ÉRIKA SILVA DO NASCIMENTO CARVALHO

Pesquisadora e ecoepidemiologista do Laboratório de Simulídeos e Oncocercose, do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz)

PANORAMA BRASILEIRO Há um número exato ou estimado das doenças de veiculação hídrica que ocorrem no Brasil? Estima-se a existência de 25 doenças, de diferentes fontes. Umas se dão através de contaminação direta – via contato com a água contaminada pelo parasito –, enquanto outras são transmitidas passivamente por insetos vetores mecânicos ou ativamente por insetos vetores biológicos. Acredita que há esforços suficientes no país para que informações sobre a prevenção e os riscos dessas doenças cheguem até a população? Infelizmente, os esforços para a prevenção ainda são insuficientes. Faltam também informação e divulgação apropriadas, em especial no que se refere aos vetores ligados à água, como o simulídeo conhecido como borrachudo. Uma forma de avançarmos seria melhorar a integração entre os diferentes órgãos existentes para que todo o conhecimento científico produzido – nos diferentes níveis acadêmicos – seja difundido de forma eficaz e com linguagem adequada, beneficiando toda a população. Nesse sentido, as cartilhas e coleções destinadas às escolas também representam um importante passo. Em relação às pesquisas para o desenvolvimento de vacinas, poderia citar algum exemplo de destaque no Brasil? Um deles é a vacina contra a esquistossomose desenvolvida pelo Laboratório de Esquistossomose

Experimental do Instituto Oswaldo Cruz (IOCFiocruz), doença crônica causada pelo parasita Schistosoma, encontrado em áreas sem saneamento básico. A pesquisa está em fase final experimental e representa um importante feito dos cientistas brasileiros, pois a esquistossomose tem potencial de atingir 800 milhões de pessoas expostas aos riscos de contágio, principalmente no Nordeste e em MG. Há ainda a vacina contra a leishmaniose desenvolvida pela equipe médica da UFMG. No entanto, o laboratório que comprou os direitos ainda não prevê a sua industrialização. 

Nós apoiamos esta iniciativa!

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1 ECOTURISMO CAMINHANTES em ação: 160 pessoas percorreram a trilha ecológica do Jambreiro

NAS TRILHAS VERDES DO

JAMBREIRO

Com apoio da Vale e do Sindiextra, ONG Zeladoria do Planeta realiza a “Expedição ECO 2015” com uma caminhada ecológica na maior RPPN da Região Metropolitana de Belo Horizonte Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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m céu azul e límpido coloria a manhã de domingo. A temperatura amena, própria dos últimos dias de julho, compunha o cenário perfeito para uma caminhada ao ar livre. O local escolhido: a Mata do Jambreiro, em Nova Lima (MG), uma das 17 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) protegidas pela Vale no estado. A convite da ONG Zeladoria do Planeta - que está completando 15 anos de atuação em Minas com foco em educação ambiental-, com o apoio da Vale e do Sindiextra, a Ecológico se juntou a 160 caminhantes para

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percorrer quatro quilômetros e meio de trilha e conhecer de perto o Centro de Proteção e Educação Ambiental (CPEA) inaugurado em junho e aberto ao público.

FERNANDO BENÍCIO: “Desejo que os participantes de nossas ações sejam multiplicadores da educação ambiental”

Partimos de ônibus da Praça da Liberdade, região Centro-Sul de BH, para a Mata do Jambreiro. Em menos de meia hora, chegamos. Na entrada da reserva de 912 hectares, ao sul da Serra do Curral, famílias, estudantes, profissionais da área ambiental e caminhantes veteranos receberam as boas-vindas do diretor da Zeladoria do Planeta, Fernando Benício, que de antemão nos avisou que o intuito do passeio “é formar grupos que aprendam com a educação ambiental vivenciada a importância da preservação e conservação de áreas verdes, principalmente no


FLORA E FAUNA Pelo caminho de ar úmido e fresco, a floresta abundante nos premia com variadas árvores e plantas. Estima-se que são 400 espécies botânicas, tais como a braúna-preta, pau-jacaré, imbaúba-branca, ipê-amarelo, angico-rosa, óleo-de-copaíba, tamangueiro e o

O CENTRO de Proteção Ambiental da Mata do Jambreiro é abastecido com 100% de energia solar e tem duas salas FOTOS: WHISTEFANNO SOUZA (ZP)

que se refere à prevenção de incêndios florestais, e fomentar o convívio harmônico das comunidades com essas áreas”. Aviso dado, fizemos um breve alongamento e partimos. A estrada de terra avermelhada e cercada por uma floresta que transita entre a Mata Atlântica e o Cerrado começava a nos receber. Na parte mais alta, é possível ter uma noção do tamanho da reserva e entender como a proteção dessa área é importante, principalmente porque, em seu entorno, a expansão imobiliária vem avançando. A história de proteção da reserva teve início em 1978, quando a então MBR, hoje Vale, cedeu a área em comodato ao Governo de Minas. Pelo acordo, ficaria responsável pela preservação da área durante 20 anos. Ao final do comodato, em 1998, a mineradora criou a RPPN do Jambreiro, uma das dez primeiras a serem oficializadas em Minas Gerais. A medida permitiu a proteção de animais, árvores e a manutenção das nascentes que ali se formam e abastecem os corpos d’água da região. Um bom exemplo é o Córrego das Águas Claras, que tal como o próprio nome diz, assim permanece dentro da mata. Vendo suas águas transparentes, que contribuem para avistar as pedrinhas submersas ao fundo, é impossível não lembrar dos tantos córregos poluídos que cruzam nossas cidades. Sua nascente está localizada dentro do Jambreiro, cercada por abundante mata ciliar e se estende por 4,5 quilômetros reserva afora até desaguar no Córrego dos Carrapatos.

CÓRREGO das Águas Claras: em seus 4,5 quilômetros de extensão na reserva, ele é cercado por mata ciliar abundante e protegida

samambaiaçu (Dicksonia selowiana) – espécie contemporânea dos dinossauros, mas que está ameaçada de extinção devido aos anos de larga exploração para produção de vasos xaxim. Outra árvore da flora brasileira também em declínio populacional que encontramos pelo caminho é a pindaíba-vermelha, que, segun-

do nos informam as guias do CPEA Jéssica Augusto e Rayane Bruno, inspirou a expressão popular: “Fulano está na pindaíba”. Tudo porque a espécie - que pode atingir até 20 metros de altura - possui uma copa pequena e de poucas folhas, chegando a ficar em algumas épocas do ano totalmente desfolhada. Daí a expressão para definir quem

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FIQUE POR DENTRO Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma categoria de Unidade de Conservação particular criada em área privada, por ato voluntário do proprietário, em caráter perpétuo, instituída pelo poder público. Como depende da vontade do proprietário, é ele quem define o tamanho da área a ser instituída como RPPN. Minas Gerais é o estado com maior número de RPPNs criadas. Até janeiro de 2015 foram criadas 207 reservas particulares por meio de portarias do Instituto Estadual de Florestas (IEF).

está com poucos recursos. Todas essas plantas permitem à Mata do Jambreiro ser um importante corredor ecológico para espécies que habitam a região. Estima-se que existam 100 tipos de aves na reserva, entre elas, pica-pau-rei (Camphephilus robustus), choquinha-de-dorso-vermelho (Drymophila ochropyga), vira-folhas (Sclerurus sp.) e olho-falso (Hemitriccus diops), que caso o visitante não tenha a sorte de ver, terá, porém, o privilégio de ouvir seus cantos enquanto caminha. Além dos pássaros, tamanduás, quatis, pacas e macacos vivem pelas matas da área. Há funcionários da Vale que já avistaram, inclusive, um casal de jaguatiricas e uma onça-parda.

GERALDA FAGUNDES: “A trilha do Jambreiro é uma das melhores para se fazer!” 84  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2015

FOTOS: WHISTEFANNO SOUZA (ZP)

1 ECOTURISMO

INSETÁRIO na Sala Pau Brasil: educação ambiental in loco

CPEA Finda a trilha oficial, que tem um quilômetro e meio de extensão, chegamos a mais uma boa surpresa: o Centro de Proteção e Educação Ambiental (CPEA). Inaugurado em junho pela mineradora, ele é 100% abastecido por energia solar e dividido em duas salas. A primeira, chamada “Pau-Brasil”, apresenta um insetário com amostras de borboletas, mariposas, besouros e outros insetos mais exóticos. Também há mostras de folhas e sementes de árvores como coração-de-negro, ipê-verde e louro-pardo, além de pequenas estações onde as crianças se amontoam para poder interagir com tablets cuja capa é feita de madeira reaproveitada. Ao sair do espaço, o visitante passa por uma estrutura ao ar livre com fotografias e informações sobre outros animais. E, ainda, pode contemplar o mirante que proporciona uma bela vista da mata selvagem. O próximo passo é chegar à sala “Onça-Parda” que traz informações sobre a história da Vale desde a sua fundação, além de exibir cinco amostras de diferentes minérios com informações sobre quais tipos de objetos eles produzem. Entre eles, o minério Pelota - utilizado na fabricação de

aço e em componentes de produtos que vão de agulhas a foguetes espaciais - que resume bem a importância da mineração sustentável em nossas vidas. Estrutura que faz com que o visitante saia não só da trilha admirado com a beleza nativa, mas surpreendido pelas informações distribuídas pelo CPEA. É o caso da empresária rural, Geralda Flor de Maio Fagundes que diz ter achado “o passeio fantástico”! Acompanhada da irmã e sobrinhos e acostumada a fazer trilhas com a ONG Zeladoria do Planeta nas Serras do Rola Moça e do Curral, Geralda conta que “a trilha do Jambreiro é uma das melhores para se fazer, principalmente para crianças e idosos, pois o caminho é leve”.  SAIBA MAIS

Para participar das caminhadas e ações da ONG Zeladoria do Planeta ligue (31) 3041-8557 ou encaminhe mensagem para zeladoriadoplaneta@gmail.com. Já as visitas ao Centro de Proteção e Educação Ambiental da Mata do Jambreiro devem ser agendadas pelo e-mail luana.paes@vale.com ou pelo telefone (31) 9663-5264.

www.zeladoriadoplaneta.com.br www.vale.com


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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

MANDAÇAIA-DE-CHÃO Com a febre desmatadeira que vem assolando o sertão e com o uso insano de veneno na terra, ela tá correndo sério risco de extinção. Pra piorar o trem, tem ainda os meleiros, esse povo que só coleta o mel e deixa o enxame pra lá, não se importando pelo paradeiro da rainha, deixando na maioria das vezes o ninho todo revirado que acaba por se extinguir pelo ataque das formigas. Delas se aproveita o cerume, o geoprópolis, uma mistura do própolis com terra, além do pólen, da geleia real e também de seu finíssimo mel, que tem sabor delicado. O pólen é coletado nas flores e processado por elas com algumas enzimas para ajudar na conservação. Depois ele é depositado nuns potinhos que vão sendo levantados do ladinho da colmeia. É um alimento rico em proteínas e pode ser comido puro ou misturado com um tiquim de mel, com gosto levemente fermentado. Essa pasta de pólen por aqui é chamada de “borá”, mas tem lugar que recebe o nome de “samburá” ou “saburá”. Mas a maior tarefa das abelhas nativas é, sem dúvida, na polinização. Pra se ter uma ideia, perto de um terço da alimentação humana é dependente direta ou indiretamente da polinização realizada por esses minúsculos seres. Trabalhar com elas é uma aventura que nos remete a um labirinto de perguntas ainda sem muitas respostas, mas o fascínio é imenso. Inté a próxima lua! 

(*) Jornalista e consultor MANDAÇAIA-DE-CHÃO em)plantas medicinais. (Melipona quinquefasciata

FOTO: MARCOS GUIÃO

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a subida morrada do “Mata Cavalo”, enquanto eu me esfolegava procurando forças pra dar conta de vencer aquele monstruoso “S” antes de chegar à vila do Milho Verde, dei de olhar de soslaio nos barrancos da estrada pra disfarçar o esforço que a subida exigia. De repente, percebi um movimento discreto de abelhas entrando e saindo num pequeno canudo plantado na barroca. Foi desse jeito que topei pela primeira vez com um enxame de mandaçaia-de-chão (Melipona quinquefasciata). Ao chegar mais próximo, dei reparo que as abelhas eram grandes, quase do mesmo tamanho das europeias africanizadas. Só que as listras amarelas e pretas são bem mais destacadas, dando enfeito formoso no abdômen das bichinhas - o nome “quinquefasciata” é derivado justamente da presença dessas listras. As abelhas não têm ferrão, são mansas, muito delicadas e tranquilas, e mesmo quando se mexe na casa delas sua defesa é de leve, quase imperceptível. Forma um enxame pequeno e por isso a produção de mel também é menor que a abelha europa, mas a qualidade é incomparável. Fiquei eufórico com o achado, pois essa é uma abelha considerada raríssima. A dificuldade de se dar com elas é o tipo de moradia que a danada desenvolve: só faz o ninho no chão, quase sempre no aproveito dum formigueiro abandonado ou no oco de alguma raiz podre.

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1 VOCÊ SABIA?

Joaninha! Prazer, meu nome é

Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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iz a cultura popular que quando uma joaninha pousa em você é sinal de boa sorte! Como se não bastasse ter a imagem ligada a algo positivo, as joaninhas - tão pequeninas e de cores vibrantes – não têm somente uma aparência simpática, mas funções ecológicas muito nobres na natureza. Quer saber mais sobre o mundo delas? Voe conosco!

VESTIDA DE POÁ

Há cerca de 4.500 espécies na família, distribuídas por 350 gêneros, que se diferenciam por padrões de cores e pintas na carapaça. A mais comum delas é a Coccinella septempunctata, originária da Europa e popularmente conhecida como joaninha-dossete-pontos, por possuir pequenas esferas pretas na parte superior.

ASPECTO

FOTO: ALEX STAROSELTSEV

As joaninhas pertencem à ordem dos coleópteros, que também abrange os besouros, escaravelhos e gorgulhos. Mas a prima joaninha é bem mais bonita que os demais “parentes”! Isso porque ela pertence à família Coccinellidae, que apresenta características como corpo semiesférico, cabeça pequena, seis patas muito curtas e asas protegidas por uma carapaça que, geralmente, apresenta cores vistosas. Podem medir de um a 10 milímetros e vivem até 180 dias.

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NS SO PA R DA N

FOTO: RUP.DE

FO TO :

ASSIM COMO AS BORBOLETAS

FOTO: DIVULGAÇÃO

VARIADAS

Nem só de pintas se fazem as joaninhas: existem também a Cycloneda sanguinea (à esq.), de coloração avermelhada e de carapaça lisa, e a Rodolia cardinalis (à dir.), também vermelha, mas com manchas pretas irregulares. Todas elas com a mesma particularidade: sentem o cheiro e o gosto por meio de suas duas antenas.

As joaninhas também passam por metamorfoses. Elas põem uma média de 20 ovos, depositados embaixo de folhas, e depois se transformam em larvas que grudam em galhos, folhas ou paredes, formando um casulo. Quando o corpo está formado, elas rompem o alvéolo e voam por jardins e plantações.

TAREFAS NOBRES

FOTO: MATES

Nem só da beleza vivem as joaninhas. Predadoras de insetos como moscas-da-fruta, pulgões e piolhos-da-folha - que sugam a seiva de plantas, elas costumam ser utilizadas em plantações orgânicas, no lugar do uso nocivo de agrotóxicos, para controle biológico. Outra função importante é que, por pousarem nas flores, resguardam pólen em suas patinhas contribuindo para a fertilização do solo e surgimento de novas plantas.

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OLHAR POÉTICO

ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

LAMBIZAME (Pequena ária transurbana para noites de lua cheia)

Na sacada do apartado sem espaço um vira-lata abstraído late loucos uivolíricos para a Lua ensimesmada com tão longas horas frias.

A Lua vira lá no céu seu último pote de melado e sobre o próprio rabo d’alho agora gira. Lá fora, na calçada (a Via Láctea distraída): o lobisomem se aproxima. E uma estrela amedrontada finalmente dá no pira.

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FOTO: SERGEY NIVENS

(O halo dela exala sangue pelos poros da agonia)


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1 FAUNA

CECIL, SUA MORTE NÃO

SERÁ EM VÃO!

Extermínio de felino considerado símbolo do Zimbábue reacende a discussão sobre a morte indiscriminada de leões por esporte e o hábito ancestral das caçadas em todo o mundo Cristiane Mendonça e Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br

C

om um arco, uma flecha e após ter feito um pagamento prévio estimado em 50 mil dólares, o dentista norte-americano Walter James Palmer matou, no final de julho, o leão Cecil. Ele, que vivia na reserva do Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue, era considerado o animal-símbolo do país africano e sua morte causou indignação mundial. Com a beleza natural dos grandes felinos, Cecil se diferenciava dos demais por exibir uma juba que mesclava tons dourados e negros mais fortes. Com 13 anos de idade, era líder de um bando com dezenas de filhotes e passou quase toda a vida sendo monitorado por cientistas da Universidade de Oxford, do Reino Unido. Segundo informações publicadas pelo jornal El País, na noite do extermínio, Cecil foi atraído para fora dos limites do parque, onde a caça é proibida, utilizando a carcaça de um animal na

traseira de uma caminhonete. Quando já estavam há um quilômetro de distância da zona limítrofe da reserva, o dentista disparou uma flecha contra o animal. Mesmo ferido, Cecil cambaleou mata adentro até ser encontrado por Palmer e outro caçador mais de 40 horas depois. E selaram a barbárie com um tiro no felino. Com Cecil morto, arrancaram-lhe a cabeça e a pele e tentaram, em vão, destruir o GPS que os pesquisadores haviam colocado para monitorá-lo. A crueza do ato e o insulto à natureza e a um país que venerava Cecil foram o estopim para que ativistas ambientais, personalidades internacionais e usuários de redes sociais tornassem o nome do leão um dos assuntos mais comentados na internet. E Walter Palmer, no vilão da vez. O caçador manifestou-se afirmando “que não sabia que Cecil era símbolo do país e que confiou nos guias locais para reali-

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FOTO: DAUGHTER#3

CECIL, meses antes de ser morto, em seu hábitat natural: de símbolo de um país a mártir ecológico, ele era a principal atração do parque

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1 FAUNA FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

O dentista Walter Palmer (à esquerda), matou 43 animais (entre leões, ursos, rinocerontes e lobos) por esporte nos últimos anos. Na foto ao lado, em companhia de outro caçador, ele exibe como "troféu" outro leão abatido: agora, a "presa" é ele leopardos, perto da reserva ambiental Hwange. A partir de agora, a caça só será permitida com autorização especial por escrito e com a presença de funcionários do parque. morte polêmica de Cecil. A ministra do Meio Ambiente do Zimbábue, Oppah Muchinguri, solicitou aos EUA a extradição do dentista para que ele seja julgado no país africano. No consultório do profissional, em Bloomington, Minnesota, assim que a notícia se tornou pública, as portas foram fechadas e cartazes e animais de pelúcia foram colocados na entrada como forma de protesto. O país africano, por sua vez, também anunciou restrições imediatas à caça de grandes animais, como leões, elefantes e

NA ENTRADA do consultório de Palmer, pessoas colocaram bichos de pelúcia como forma de protesto

FOTO: ADAM BETTCHER / GETTY IMAGES / AFP

zar uma caçada legal”. Não é um caso isolado. No histórico das presas de Palmer - 43, apenas nos últimos anos -, também consta a morte de um urso negro em zona proibida. É possível facilmente encontrar fotos na internet do dentista, sorrindo, com os animais que ele caçou. Para se ter ideia da repercussão do assassinato, até as principais companhias aéreas dos Estados Unidos – a United Airlines, a American Airlines e a Delta – decidiram proibir o transporte de grandes troféus de caça, após a

ESPORTE INSUSTENTÁVEL O assassinato de Cecil no Zimbábue levantou uma outra questão há tempos esquecida: a morte indiscriminada de leões por esporte. Enquanto a população humana cresce aos milhares, o que se vê, nas últimas décadas, é a dos felinos diminuindo consideravelmente. Um estudo realizado por pesquisadores da Duke University, na Carolina do Norte (USA), e publicado em 2012 pela revista científica Biodiversity and Conservation mostra que nos últimos 50 anos a população de leões no continente africano caiu 75%, de 100 mil para 32 mil. As causas? Ocupação humana dos hábitats naturais e a caça indiscriminada. O estudo aponta ainda que, desde 2012, cinco países africanos perderam totalmente a sua população de leões. Se 68 mil leões a menos parece ser um número assustador, há pesquisadores que estimam que a situação é bem pior: só restariam 20 mil. “Fiquei chocada e indignada ao ouvir a história

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de Cecil, o leão mais amado do Zimbábue. Para mim, é incompreensível que alguém tenha vontade de matar um animal ameaçado de extinção. Atrair Cecil para fora da área de segurança de um parque nacional e, em seguida, matá-lo com uma flechada? E esse comportamento é descrito como esporte... Não tenho palavras para expressar minha repugnância”, afirmou a primatóloga e etóloga inglesa Jane Goodall, em nota publicada em seu site oficial.

No fim da década de 1990 e início dos anos 2000, uma pesquisa da Wildflife Conservation Research Unit, da Universidade de Oxford (EUA) já apontava para as consequências drásticas da caça insustentável de leões. Na ocasião, 62 exemplares do Parque Nacional Hwange foram monitorados por GPS durante cinco anos. Trinta e quatro deles morreram no período, sendo 24 deles baleados por caçadores esportivos nos arredores do parque.

Alguns tratados internacionais permitem a caça de leões, desde que recursos sejam destinados a iniciativas de preservação das espécies na natureza. Mas, o que se vê, é o crescimento do tráfico ilegal de animais e a extinção apontando no horizonte. A morte de Cecil não será em vão. A natureza é sábia. Quando não houver mais leões para serem caçados, rios com água corrente e árvores para nos dar sombra, seremos nós, os seres humanos, as presas da vingança da Terra.

Indignação CUIDADO INERENTE FOTO: DIVULGAÇÃO

“A morte do leão Cecil chamou a atenção do mundo para a caça ilegal de animais selvagens. A principal preocupação das autoridades africanas é criar leis mais rígidas para proibir, de vez, a prática. Hoje, na África, há leões criados em cativeiros especialmente para serem mortos por caçadores, geralmente, turistas da Europa e dos EUA. É preciso uma campanha mundial de conscientização sobre o sofrimento e o mal que a caça provoca para os animais e para todo o meio ambiente. O amor e o cuidado com a fauna deveriam ser inerentes ao ser humano. Mas acontece exatamente o contrário. Achei muito importante a reação nas redes sociais contra a morte do leão Cecil. O mundo tem que reagir a essa crueldade. No Brasil, existe uma lei federal, de proteção à fauna, que proíbe a caça de animais silvestres. A Semad atua, juntamente com a Polícia Ambiental, na fiscalização para que a lei seja cumprida. Os infratores podem ser condenados à detenção ou ao pagamento de multas.” SÁVIO SOUZA CRUZ, secretário estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais

FOTO: RONALDOGUIMARÃES

ATO TORPE “A morte do leão do Zimbábue foi um ato de caça esportiva ilegal. Se alguns tipos de caça como, por exemplo, a de subsistência, realizada pelas populações ribeirinhas da Amazônia pode ser aceita, a caça esportiva, assim como a comercial, é absurda do ponto de vista ético, ecológico e totalmente inaceitável. Ela é hoje a principal responsável pela diminuição das populações dos grandes animais da África. E, no caso do Brasil, principalmente das duas espécies de onça. A maioria desses animais está ameaçada de extinção. No caso do leão do Zimbábue, ela se caracterizou pela covardia do caçador que atraiu o animal para fora de seu ambiente e de seu grupo de leões. Além do mais, era um leão quase domesticado, por ter mais contato com o homem, uma vez que estava sendo objeto de estudo científico. Do animal levou apenas o couro e a cabeça, que passou a ser o mais importante troféu de seu museu particular. Parece-me tratar-se de alguém com problemas de baixa autoestima que quis se recuperar matando um leão e assim melhorar seu ego. Talvez, ao colocar a cabeça do rei dos animais na parede, ele se sentiu também um rei. Mas nada justifica a torpeza do ato!” ÂNGELO MACHADO, professor e ambientalista AGOSTO DE 2015 | ECOLÓGICO  93

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ALÉM DE CECIL “Na caça e morte ao leão Cecil, existiram dois erros: matar um animal que é símbolo de uma comunidade e atraí-lo para fora de uma reserva onde ele não estava protegido. Mas o homem sempre foi um caçador e continuará sendo. Claro, há pessoas como os vegetarianos, que não concordam com essa prática de forma alguma, além do quê, no Brasil a caça é proibida, com exceção para casos de espécies invasoras. Concordo com a caça dependendo da forma como é feita, pois não posso ser contra uma coisa que sempre existiu no mundo. Um bom exemplo é o turismo nos parques. Se ele for bem feito, traz benefícios para a reserva. Se for feito de forma descontrolada, destrói o ambiente. Outro bom exemplo: se a caça fosse totalmente proibida, também não poderíamos pescar peixes. Sendo assim, estou muito mais preocupado com a conservação da biodiversidade como um todo! Relembrando uma frase de Guimarães Rosa, eu, com os meus 81 anos, estou “como uma anta empoçada”: fico só parado olhando o mundo! Vendo as pessoas indo às ruas se manifestarem contra Dilma, contra Lula. Eu não estou preocupado com isso! Estou preocupado com o fato de que ninguém vai às ruas para protestar contra a destruição do meio ambiente. A Amazônia saiu do nosso radar e o movimento ambientalista perdeu a força porque nossa juventude é muito urbana. A mídia fala mais da Favela da Rocinha do que da Amazônia. Matar uma pessoa é coisa grave, mas destruir a natureza é muito mais grave, pois estamos matando muito mais gente! Estamos sofrendo com a falta de água para todo lado, e enquanto isso, o Brasil institui uma lei florestal que anistia os destruidores, que diz que é preciso deixar apenas cinco metros de mata ciliar. Cinco metros é uma árvore! Onde os animais vão viver? O que eles vão comer? Por isso, não vai ser um leão no Zimbábue que vai criar um grande problema no mundo. Nós, seres humanos, é que ficaremos como únicos predadores. ”

FOTO: GLÁUCIA ROBRIGUES

1 FAUNA

EM DEFESA DA VIDA “Até outro dia, Cecil era o nome de um leão, ícone do Parque Nacional do Zimbábue. Agora é o nome de uma causa! Chegará o dia do caçador! Este cidadão [Walter Palmer] é um degenerado que encontra no prazer de matar a sua nefasta alegria. Este leão morto é um troféu à mediocridade, à torpeza, à ignominia do seu matador. Quem não respeita a vida silvestre não tem sensibilidade para prezar a própria vida. Que esse desatino sirva de alerta em defesa dos leões e da vida selvagem em todos os quadrantes do planeta. Que a vida silvestre, especialmente na África, seja respeitada e protegida! Viva a vida!” JOSÉ CARLOS CARVALHO, consultor e ex-ministro do Meio Ambiente

FOTO: GERALDO MAGELA / AGÊNCIA SENADO

CÉLIO VALLE, professor e ambientalista

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PROTEGER É PRECISO “Parem de matar os grandes felinos! Matar um leão não é corajoso! Proteger leões, isso sim, é uma atitude corajosa! Tentem isso antes de matar um animal.”

MARK DAYTON, governador do estado de Minesotta, onde o dentista Walter Palmer vive

FOTOS: DIVULGAÇÃO

SEM ENTENDER “Eu não entendo como alguém acha que caçar um leão dessa forma é um esporte!”

CAÇA ILEGAL

MERECE PUNIÇÃO

“As palavras não podem descrever a tristeza que sinto. As circunstâncias ilegais em torno da morte de Cecil mostram o túmulo de realidade exarcebada caça ilegal e do tráfico de animais. A resposta a essa tragédia está apoiando as pessoas a encontrar soluções para a crise da vida selvagem global.”

“[Walter Palmer], esse indivíduo imundo, que escandalosamente paga pela morte de animais selvagens protegidos, em perigo de extinção, atenta contra o patrimônio natural da humanidade e merece uma punição mais do que exemplar.” BRIGITTE BARDOT, ex-atriz e ativista ambiental

FOTO: REPRODUÇÃO

ARNOLD SCHWARZENEGGER, ator e ex-governador da Califórnia

OUSADIA INSUSTENTÁVEL “Como você ousa, Walter Palmer? Como uma sulafricana e um ser humano, não posso expressar como estou triste por isso. Você deve ser um doente por querer matar uma criatura de Deus tão maravilhosa! Você vem para a África com seus dólares e euros pensando que pode comprar e se aproveitar da pobreza, pagando as pessoas para te ajudar a matar uma criatura inocente.” CANDICE SWANEPOEL, modelo sul-africana

FOTO: ADAM VIELAWSKI

JACK HANNA, diretor do zoológico e aquário Columbus em Ohio (EUA)

REPROVAÇÃO MUNDIAL “Enquanto a consciência ecológica se mundializa cada vez mais, ainda vemos essa excrescência bizarra que foi o assassinato do leão Cecil. Infelizmente, existem pessoas que ainda nem saíram da caverna, continuam pré-históricos. Felizmente, Walter Palmer recebeu a reprovação mundial pela sua nefasta atitude.” ALFEU TRANCOSO, professor e filósofo

MATAR NÃO É ESPORTE “Meu coração está doendo de verdade. Já tinha lido sobre o leão morto pelo dentista que considera caçar um esporte, mas não falei nada porque não sou vegana. Somos criados comendo animal desde sempre. Por que uma história como essa toca tanto a gente se comemos animal diariamente? Sinto-me culpada de falar, porque ainda não consegui (parar de comer carne). Matar, tirar a vida de um animal não pode ser visto como um esporte, lazer.” BRUNA MARQUEZINE, atriz

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - NICK BRANDT

TROFÉU LEÃO, CHYULUS HILLS, QUÊNIA, 2012

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NATUREZA

SELVAGEM

Fotógrafo inglês Nick Brandt traduz em imagens o sentimento e a realidade surrealista da fauna e da flora africanas Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: © NICK BRANDT, COURTESY OF EDWYNN HOUK GALLERY, NEW YORK

A

preciar uma imagem feita pelo fotógrafo inglês Nick Brandt é como vivenciar um turbilhão de sensações. Principalmente se ela tiver como cenário a biodiversidade ímpar da África. Na arte de Brandt, leões, elefantes e chimpanzés mostram a realidade que vai além do instinto: os animais, assim como o ser humano, têm o direito à alegria, à melancolia, a contemplar o próprio mundo e, mais importante, tê-lo preservado. A paixão de Nick por fotografar o mundo da natureza em desaparecimento da África surgiu quando ele filmou e dirigiu o videoclipe “Earth Song”, de Michael Jackson, em 1995, na Tanzânia. A canção, que atingiu o primeiro lugar da parada musical inglesa, é um chamado à consciência ambiental e ao respeito com a biodiversidade. E o clipe dirigido por Nick também captou essa essência. Inspirado pela natureza, Brandt, que nasceu na capital inglesa em 1964, vem se dedicando à fotografia desde 2000, quando viajou várias vezes ao continente africano para fazer os cliques. Essas viagens geraram centenas de imagens belíssimas e que mereciam registro em livro – mais precisamente, uma trilogia. Em 2005, veio “On This Earth: Photographs from East Africa”. Nele, as imagens em sépia e tons azulados trouxeram uma aura de intimidade, nostalgia, evocando a arte clássica e capturando os animais em seu estado natural, seja brincando com os filhotes ou caçando. Em 2009, “A Shadow Falls” foi lançado. Um dos mais importantes trabalhos fotográficos sobre a vida selvagem, parece captar a alma dos animais. “Across The Ravage Land”, de 2013, fecha com primor a trilogia. Fruto de uma década de trabalho, o último livro de Brandt explora outros temas, incluindo o trabalho de guardas ambientais para proteger a fauna, e cabeças de animais, exibidas como troféus de caçadores, olhando as terras onde antes viviam harmoniosamente. Brandt, que mora nos Estados Unidos desde 1992, é formado em Cinema e Pintura pela Saint Martins School of Art. Realizou várias exposições fotógraficas mundo afora. A mais recente – “On This Earth A Shadow Falls Across The Ravaged Land” – é uma coletânea de imagens dos seus três livros e será realizada até 13 de setembro no Fotografiska Museum, em Estocolmo, Suécia. Outras três exposições, que trarão novas séries de fotografias, já estão programadas para 2016 em Los Angeles e Nova York (EUA) e, novamente, Estocolmo. Nick Brandt é um visionário que, por meio de sua arte, nos convida a um olhar mais respeitoso e responsável com o meio ambiente. É o que as imagens nos mostram a seguir: SAIBA MAIS www.nickbrandt.com

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - NICK BRANDT

ELEFANTE BEBENDO ÁGUA, AMBOSELI, 2007. ELE FOI MORTO POR CAÇADORES EM 2009

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FOTOS: © NICK BRANDT. COURTESY OF FAHEY/KLEIN GALLERY

ELEFANTES CAMINHAM ATRAVÉS DA PASTAGEM. AMBOSELI, 2008

GUARDAS EM LINHA COM PRESAS DE ELEFANTES MORTOS. AMBOSELI, 2011 SAIBA MAIS Big Life Foundation O contato e a preocupação com a natureza fizeram de Nick Brandt um ativista na causa da preservação dos animais. Paralelo a seu trabalho fotográfico, ele fundou a Big Life Foundation, instituição que atua em parceria com comunidades, ONGs, parques nacionais e agências governamentais para proteger a vida selvagem e as paisagens do leste africano. Big Life é a organização mais ativa nesta região a atuar contra a caça ilegal de animais e vive de doações. Atualmente, a fundação tem 30 postos, 15 veículos e 280 guardas que monitoram 800 mil hectares na região de Amboseli-Tsavo, entre o Quênia e a Tanzânia. Até 2013, os guardas da Big Life prenderam 1.150 caçadores ilegais e confiscaram mais de 3.000 armas. Para fazer doações e conhecer mais sobre o trabalho da fundação, acesse: www.biglife.org

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FOTOS: © NICK BRANDT. COURTESY OF FAHEY/KLEIN GALLERY

1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - NICK BRANDT

TROFÉU BÚFALO, CHYULU HILLS. QUÊNIA, 2012 LEÃO ANTES DA TEMPESTADE. MASAI MARA, 2006

GUARDA COM PRESAS DE ELEFANTES MORTOS PELAS MÃOS DO HOMEM. AMBOSELI, 2011 100  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2015

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MEMÓRIA ILUMINADA - ZECA PAGODINHO

FOTO: ROBERTO FILHO

ZECA PAGODINHO:“Eu tenho esperança e fé no ser humano. Dinheiro é bom quando todo mundo ganha”

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A ESSÊNCIA DE

SER HUMANO Eloah Rodrigues

redacao@revistaecologico.com.br

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alve Jessé Gomes da Silva Filho, um dos sambistas mais carismáticos e benquistos do Brasil! Filho de Seu Jessé e Dona Irinéa, o quarto de uma família simples, de cinco irmãos, o nosso Zeca Pagodinho nasceu em quatro de fevereiro de 1959, em Irajá, vivendo e crescendo entre seu bairro natal e Del Castilho, na periferia do Rio de Janeiro. Desde muito cedo, mostrou gosto pelo samba e pela vida noturna. Muito próximo de seu tio-avô, o mestre Thybau, foi com ele que aprendeu lições extras sobre filosofia de vida e expertise boêmia. Nunca chegado aos estudos, Jessé cursou apenas até a quarta série. Sua verdadeira e nata aptidão era mesmo a roda de samba. Para conseguir viver e se sustentar, fez de tudo um pouco. Foi feirante, camelô, office-boy, contínuo e até anotador de jogo do bicho: “corretor zoológico”, como ele gostava de dizer. Assim cresceu Zeca, sempre rodeado de amigos e fiéis parceiros. Era o início dos anos 1980 quando o pagode começava a se consolidar no cenário musical brasileiro, sob o comando da sambista e da madrinha Beth Carvalho. O futuro cantor-compositor já arriscava, nessa época, versos e melodias. “Amargura” foi sua primeira música, depois gravada pelo grupo “Fundo de Quintal”, originário do Bloco Cacique de Ramos. A partir daí, sua estrela despontou. Até a marca de um milhão de cópias

vendidas com o disco “Zeca Pagodinho”, de 1986, suas novas parcerias e novos shows já tinham conquistado de vez o coração das pessoas e as rodas de samba. Zeca passou a colecionar grandes sucessos, como as canções “Verdade”, “Deixa a Vida Me Levar”, “Camarão que Dorme a Onda Leva”, “Vai Vadiar”, “Judia de Mim”. Cantava em casas de shows requisitadas, como o Canecão, e sofisticadas, como o Teatro Municipal, ambos na Cidade Maravilhosa. Ganhou o Grammy, o maior prêmio internacional de música, e o mundo. Mesmo com o sucesso, Zeca não abriu mão da sua marca registrada: a naturalidade e a simplicidade. Nunca se afastou de sua origem, do carinho e da companhia de seu povo. Seu mais recente show em turnê pelo país, registrado pela Ecológico, faz jus a quem este grande mestre do samba é: “Ser Humano”. Assim que Zeca conheceu a letra da canção, de autoria de Claudemir, Marquinho Índio e Mario Cleide, logo pensou que a música era para ele, cuja missão, somada à sua alegria e filosofia de vida, é proclamar o bem. A letra fala de uma questão que, em sua opinião, todos os seres humanos deveriam revalorizar, inclusive para acabar com tanta violência à solta: a nossa humana e verdadeira essência. Confira, a seguir, esta e outras letras e mensagens selecionadas sobre o seu jeito próprio de viver, alegre e aparentemente descompromissado: SAIBA MAIS www.zecapagodinho.com.br

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MEMÓRIA ILUMINADA - ZECA PAGODINHO l APRENDIZADO “Hoje, eu estou errando menos e perdoando mais.”

“Eu sou calmo, caseiro. Mas teve uma época em que, quando eu calçava um sapato branco, era sinal para todos ao meu lado de que eu ia para a rua aprontar.”

l INFÂNCIA “Fui criado em terreiro. Médico de pobre é pai de santo. Em último caso, você ia a um médico.”

l SAUDADE “Sinto saudade quando fico muito tempo sem gravar porque minha cabeça fica sem espaço para a tristeza.”

“Psicólogo era um cinto, um chinelo e uma boa macumba.” “Tenho medo de fantasma, mesmo tendo sido criado no Espiritismo. Nunca vi nenhum, até porque se tivesse visto, não estaria aqui para lhe contar. Eu seria um deles agora.”

l PRESENTE “Deus me presenteou com todos os amigos que tenho, com o repertório que eu tenho, com os músicos que eu tenho, enfim, com todo mundo que trabalha comigo.”

l RELIGIÃO “Quando se tem mais poder de grana, a religião fica um pouco de lado. Quanto mais rico, mais descrente.”

l DINHEIRO “Dinheiro é bom quando todo mundo ganha. Melhor assim para você não ficar pagando a conta do bar sozinho.”

“Todo mundo tem que ter uma religião, uma fé. Uma direção boa. Algo que te diga coisas boas. Que te faça acreditar que a vida não é só isso que se vê.”

l TRABALHO “Eu não deixo a vida me levar assim como todo mundo acha não. Deixo a vida me levar quando eu estou na praia, tomando minha cervejinha ou no samba com meus amigos. Mas quando estou trabalhando, sou trabalhador.”

l MORTE “Não queria acreditar na morte. Mas eu acho que Deus é bom. Por que me tirar de um mundão desse, cheio de mulher bonita e cerveja gelada... e me levar pra onde? Para ficar no céu com duas asinhas e uma harpinha na mão? Não vai ficar bem em mim. Nesse caso, eu prefiro até descer.”

“Carrego na minha bagagem gente que trabalha comigo, que depende do meu trabalho e fazemos isso com responsabilidade. Agradeço tudo isso ao meu velho pai, que se foi, ‘seu’ Jessé, que me ensinou a ser um cara decente, competente e responsável no que eu tivesse que fazer.”

“Peco pra valer. Mas peco contra mim, não peco contra os outros não. Para os outros eu sou uma beleza. Sou ruim só para mim.” “O que eu mais faço na vida é rezar e beber uma cervejinha. Quando eu não estou bebendo, estou rezando. E às vezes faço as duas coisas ao mesmo tempo.” l O ARTISTA “Eu não consigo me encontrar como artista. Para mim isso é muito complicado.”

FOTO: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

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“Essas coisas escolhem a gente. A vida que tem de lhe dizer: você vai ser artista. Queira ou não queira.” “Eu queria ouvir minha música tocar no rádio. Esse era o meu prazer.” l ALEGRIA “Quem conhece meu barraco tá ligado na democracia. As portas abertas têm sempre um motivo para comemorar.” O FILHO sambista de Seu Jessé e dona Irinéa: decência e competência que vem do berço


l ESSÊNCIA “Eu sou sambista. Pagode, para mim, é uma festa que tanto pode ter samba como seresta.”

“SER HUMANO”

FOTO: BARNA TANKO

Quero ver sempre no teu rosto essa felicidade O teu sorriso iluminado que me faz tão bem O teu astral pra cima já é marca registrada Esse teu jeito que não guarda mágoa de ninguém. Essa vontade de quem vai vencer na vida Eu tô com Deus e sei que Deus está contigo Teu coração não cabe dentro do teu peito Que está lotado transbordando de amigos. Você tem sempre uma palavra de consolo Fica sem jeito se deixar alguém na mão Tá sempre junto e misturado com seu povo Fecha com quem está sem lenço e documento. Na correria você sempre encontra tempo De demonstrar o que é ser gente de verdade Sempre buscando o bem da humanidade.

“Quando me mudei de Xerém pra uma casa no Recreio, quase fiquei louco. Era uma solidão só. No Recreio, os cachorros não latem.” l SUCESSO “É muito bom, mas para mim que sou criado assim no mundão, andando pra lá e pra cá, e com gosto pela liberdade, ficar sendo vigiado é muito chato.” “Música para estourar tem que ser sucesso em São Paulo. A primeira vez que fui lá me recomendaram levar casaco de frio. Parecia até que eu ia para o exterior.” “Viajo pouco. O artista brasileiro que canta no exterior, canta, geralmente, para brasileiros que moram lá.” “O pior na hora de escolher as músicas para gravar é decidir quem vai ficar de fora. Dói muito. Nos meus discos tem sempre que ter uma música da Velha Guarda da Portela.” l VIDA “Meu lazer é ficar em casa com meus filhos e netos vendo, muitas das vezes, o ‘Chaves’ na TV.”

É ser humano, é ser humano, é ser humano, ser humano é É ser humano, que sabe chegar pra somar É ser humano, não deixa a canoa virar É ser humano, na hora que o tempo fechar, ser humano é É ser humano, que tá pro que der e vier É ser humano, é tema da minha canção Eu tenho esperança e fé no ser humano.

“Quando estou com meus filhos, sou pai. Com meus netos, sou avô. Com minha mulher, sou marido. Tem aquele chefe de família, mas daqui a pouco tem aquele boêmio. Eis o ser humano!” “Eu gosto de viver. Para isso, tomo 12 remédios por dia. Tenho um amigo que não toma. Mas ele tá morto.” l TRISTEZA “Única coisa que me deixa triste: é saber que tem que ficar velho e morrer. Mas se ficar velho, tem que morrer mesmo. Porque senão, ficar velho pra quê? Não pode isso, não pode aquilo! Então me deixa ir embora. Mas isso vai demorar muito. Ainda quero ver meu neto cantando samba!” l BRASIL “O Brasil tem que ser campeão em tudo: no futebol, na educação, na saúde. Feliz Brasil para todo mundo!” 

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ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: OKALINICHENKO

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CONVERSAMENTOS

QUANDO SETEMBRO VIER

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ma boa nova, pessoal! Favor espalharem esta notícia, em pétalas, pelos quatro cantos do Brasil: setembro está chegando. E, com ele, a primavera. Essa estação é o mais belo dos rituais da natureza. É o momento do equilíbrio dinâmico entre luz e sombras - o equinócio - em nosso hemisfério. É o recomeço de tudo que brota, floresce e brilha. Não deixe de participar dessa festa da natureza. Busquem um lugar aprazível onde vocês possam sentir o corpo e o espírito interagirem com a natureza. Eles precisam urgentemente desses florescimentos periódicos para que possamos continuar nosso trajeto pelos caminhos da existência. Quando setembro vier, ele será saudado por muitos e muitos amantes da natureza. Como todos nós passamos pelos desfolhamentos necessários do inverno, nada melhor do que celebrar o anúncio dessa estação tão renovante. A dualidade harmoniosa desse período nos lembra alguma coisa de maternal, que é a Mãe-Natureza. E é esse aconchego térmico que foi, sem dúvida, nossa primeira grande alegria. A alegria de nascer para ser. Ser o broto e o brilho. Ser o abrir dos olhos e ver, espantados, o acontecimento do mundo. Ver nós mesmos, os outros e as coisas da natureza sendo elas mesmas. Apreciar com o prazer da alma a felicidade de amar as pessoas e o mundo. Curtir a beleza da natureza e a incrível felicidade de contemplá-la. Se sentir privilegiado por existir em meio às quase infinitas possibilidades de isso não ter ocorrido.

A primavera chega e a cada dia que passa sentimos que aumenta sempre mais o número de pessoas que participam desses rituais de renovação junto à natureza. E o mais interessante é que todos eles sabem que esses rituais fazem com que a nossa autoestima e a nossa autoimagem cheguem às alturas. E todos ficam agradecidos pela oportunidade que esse renovar cíclico nos proporciona. Não percam, caros leitores, essa oportunidade quando setembro vier. Busquem essa integração com o mundo natural, sintam as brisas trazendo o cheiro da felicidade em ondas. Nenhuma câmera fotográfica é capaz de fazer esses registros, pois nesses momentos as melhores lentes são os olhos da alma. E essas imagens oculares só se tornam inesquecíveis porque são capazes de sentir e de sonhar em nós. E, então, teremos uma grande surpresa: a fotografia das belas coisas registrada pelas lentes da nossa alma nos convence de que a vida é a respiração de um mesmo ser universal, infinito e eterno. E que a beleza da natureza é uma imagem que também desenhamos com a nossa alma. Setembro virá e com ele a primavera. Boa sorte para aqueles que participam com entusiasmo desse belíssimo acontecimento cíclico. Todas essas pessoas, com certeza, se sentirão cada vez mais fazendo parte, conscientes e felizes, desse grande mistério que é nascer, ser vida, gente, natureza, amor, espírito e felicidade.  (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.

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