Revista Ecológico - Edição 77

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ANO 7 - Nº 77 - 05 DE JANEIRO DE 2015 - R$ 12,50

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EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


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EXPEDIENTE

FOTO: ALFEU TRANCOSO

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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho

REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Foto: Fernando Cavalcanti Arte: Sanakan DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com

Representante Comercial Brasília IBIS Comunicação ivone@ibiscomunicacao.com.br

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br

VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

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Selo Cerflor

sou_ecologico revistaecologico

EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

souecologico ecologico

4,35 tCO2e Dezembro 2014

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ÍNDICE

CAPA

RELEMBRE CONOSCO OS PRINCIPAIS FATOS QUE MARCARAM A QUESTÃO AMBIENTAL EM 2014 E CONHEÇA AS PERSPECTIVAS PARA O NOVO ANO QUE SE INICIA. INCLUINDO AS PROPOSTAS E OS DESAFIOS DO GOVERNO PIMENTEL NA ÁREA.

16 PÁGINAS VERDES O EXEMPLO SUSTENTÁVEL DE TATIANNA SILVA, VENCEDORA DO “GREEN TALENTS AWARD 2014”

Pág.

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E mais... IMAGEM DO MÊS 07 CARTA DO EDITOR 08 CARTAS DOS LEITORES 10 ESPAÇO LIVRE 12 ECONECTADO 14 SOU ECOLÓGICO 22 POLÍTICA AMBIENTAL 24

66 CULTURA GRUPO PONTO DE PARTIDA PROMOVE UMA REVOLUÇÃO ARTÍSTICA E ECOLÓGICA NO BRASIL

CÉU DO MUNDO 26 GENTE ECOLÓGICA 28 ESTADO DE ALERTA 58 SAÚDE 60 CIDADES 62 CORAÇÃO DA TERRA 72 PREFEITURAS & MEIO AMBIENTE 74 GESTÃO & TI 76 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 77

90 MEMÓRIA ILUMINADA A VIDA E A OBRA INTELECTUAL E HUMANA DO JURISTA MINEIRO GERSON BOSON

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NATUREZA MEDICINAL 83 VOCÊ SABIA? 84 OLHAR INTERIOR 86 OLHAR POÉTICO 88 ENSAIO FOTOGRÁFICO 94 CONVERSAMENTOS 98

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IMAGEM DO MÊS

FOTO: ANTÔNIO CRUZ / ABR

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LEMBRANÇA DOLOROSA

Nem sempre a presidente Dilma Rousseff consegue manter o seu jeito ríspido e durão. Nesses raros momentos, ela se humaniza, engrandece e revela seu interior sensível. Foi o que lhe aconteceu, no apagar das luzes de 2014, ao receber o relatório final da Comissão Nacional da Verdade. Ele descreve violações aos direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988, especialmente na época do Regime Militar (1964-1985), e lista 377 nomes de pessoas responsáveis direta e indiretamente pelas práticas de tortura e assassinato no período. Ao se referir aos brasileiros que perderam familiares e amigos no combate à ditadura, a presidente, que também foi presa e torturada à época, se emocionou e disse que “a verdade significa a oportunidade de fazer o encontro de nós mesmos com nossa história e do povo com a sua história. Mereciam a verdade aqueles que continuam sofrendo como se morressem de novo, e sempre, a cada dia".

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FOTO: RICARDO BARBOSA / ALMG

FOTO: ELZA FIÚZA / ABR

FOTO: ROBERTO STUCKERT FILHO / PR

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

DILMA, FERNANDO E SÁVIO: juntos, eles têm a chance que poucos tiveram para incluir, revolucionariamente, a questão ambiental e a defesa da natureza na agenda política brasileira

OS TRÊS VOTOS DE

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CONFIANÇA

ilma Rousseff tem uma segunda chance. Fernando Pimentel, a chance de ouro. E Sávio Souza Cruz, a chance das chances. Eles abraçarão a questão ambiental como os mineiros, os brasileiros, a humanidade e o planeta suplicam? Essa é a pergunta que não quer calar, a começar por Dilma. Embora o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc aponte uma série de realizações não divulgada pela própria presidente (confira na pág. 12), seu primeiro governo pouco ou nada fez de relevante na opinião generalizada dos ambientalistas. Com um dos piores orçamentos de sua história, o ministério do Meio Ambiente, mesmo conduzido pela eficiente Izabella Teixeira, continuou no final da fila em termos de importância e participação política. Não teve a mão forte de Brasília nem para enfrentar e por fim à escalada da devastação na Amazônia, muito menos para financiar uma simples campanha de educação ambiental, ensinando os brasileiros a não por fogo no próprio país, a preservar seus rios e a proteger a natureza que lhes resta.

Pior. O primeiro governo da presidente foi o que menos criou e, na contramão da história ambiental brasileira, mais diminuiu as Unidades de Conservação (UCs) existentes. Por outro lado: ela terá uma segunda chance para se tornar a primeira chefe de estado a abraçar a causa do desenvolvimento sustentável, colocar a defesa maior da Floresta Amazônica debaixo do braço e sair por aí. Não de pires nas mãos, mas exigindo de seus colegas e países mais poluidores e ricos uma ajuda nesta tarefa. Aí sim, como uma versão moderna de Chico Mendes, ela se tornaria a estadista verde que o mundo ainda não conheceu. A receita é simples, diria Hugo Werneck, se estivesse vivo: basta ela amar a natureza, como ainda não demonstrou. Ou chorar por ela, como já faz quando a degradação diz respeito aos direitos humanos e políticos. AUTOESTIMA Fernando e Sávio têm uma oportunidade semelhante nas mãos. Com um bom e afetivo trânsito entre os ambientalistas mineiros, enquanto prefeito de BH, des-

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de que sucedeu os governos Célio de Castro e Patrus te e Desenvolvimento Sustentável, após a traumática Ananias, Pimentel já sentiu o gosto do que significa administração de Adriano Magalhães e o pouco tempo trabalhar pela e com a natureza, o meio ambiente que que Alceu Torres Marques teve à frente da Semad, é uma rege a qualidade de nossas vidas urbanas. Sem alarde realidade de “terra arrasada”. Desprestígio, autoestima lá e reconhecimento, foi ele quem humanizou o antigo embaixo e o menor dos orçamentos. horror e abandono visual que se estendia por toda a Esta é a chance das chances de Sávio. Ferrenho opoAvenida do Contorno da capital mineira. Quebrou o sitor dos últimos governos, ele tem, em Pimentel, a mãe cimento, furou o asfalto, plantou árvores e elevou to- de todos os instrumentos, que é a sensibilidade (e vontados os seus quilométricos canteiros centrais, colocan- de política) diante do estado do mundo à nossa volta. E do hidrantes e ajardinando também, em definitivo, os nessa difícil batalha, mas não impossível de ser vencida, seus passeios públicos. ele tem a companhia de todos os funcionários e servidoCoube a Pimentel, também mineiramente, realizar res da Semad, mais a aliança apolítica dos ambientalisuma pesquisa inédita para ouvir dos belo-horizontinos os tas históricos, quem justamente lutou e tornou possível sentimentos, as expectativas e o tamanho da autoestima a criação dos órgãos e da legislação ambiental avançada que os moradores têm pela capital que os abriga. Ouvir que temos e tornou-se exemplo nacional de cogestão e pra governar - este seu método é recorrente e deu certo, participação democráticas. haja vista os resultados da última eleição. Mas que diferença existe entre os Esses exemplos pontuais podem paservidores da Semad e os das outras “Não se trata de recer pouco. Mas demonstram sensibilipastas de governo? Uma diferença dade, o que mais falta hoje aos homens fundamental. Além de funcionários querer colocar a públicos. Ter um coração pulsante antes eles são militantes! Este é questão ambiental públicos, ou junto de uma mente eficiente. Se ele o segredo werneckiano e natural da como primeira fizer o mesmo no degradado meio amluta ambiental. Quem mexe com a biente de Minas – e aí tem de ser muito natureza, seja administrando parprioridade, nem revolucionário – nem tudo estará perdiques, vigiando incêndios, plantando mantê-la como a do, como se anuncia. árvores, fiscalizando empresas, desVerdade seja dita. No primeiro governo última. Mas torná-la poluindo rios, cuidando de praças, Aécio Neves, esse sonho revolucionário e plantas, acaba sendo contatransversal a todas bichos quase aconteceu. Graças à luta dos ecogiado por ela. A paixão pela natureza as pastas.” logistas, alguns deles amigos e muito próé uma simples questão de tempo e ximos de Pimentel, a gestão ambiental convivência. É o que explica o tamasustentável galgou degraus e ficou em quarto lugar nas nho entusiasmo e o brilho diferente nos olhos dos serprioridades do Palácio da Liberdade. vidores da Semad. Eles sabem que estão trabalhando Isso nunca havia acontecido na nossa história política. em prol de uma obra maior, universal e muito além da Aécio, Anastasia e Marcio Lacerda chegaram a mergu- condição e pequenez humana. lhar, como Manuelzão, em um Rio das Velhas em proO quê a Semad, seus funcionários, o meio ambiente cesso de despoluição para comprovar a volta possível e a natureza que nos mantêm vivos esperam de Sávio, dos peixes e de uma melhor qualidade de vida às popu- de Pimentel e Dilma, agora coligada partidariamente lações ribeirinhas. a Minas? Apenas alguém que os valorize e conduza, Infelizmente, esse momento passou. Felizmente, ele como nunca antes na nossa história política. Esse é o agora pode ser reciclado para melhor. Só depende de governo ecológico. Não alguém que ache que possa vontade política. E o ex-ministro de Desenvolvimento, ensiná-los e dizer-lhes o que fazer. Eles já sabem isso Indústria e Comércio da presidente Dilma sabe disso, de sobra, só nunca tiveram o valor, reconhecimento e hoje com uma visão muito mais ampliada de gestão pú- apoio necessários. Alguém que apenas os convoque e blica. Não se trata de querer colocar a questão ambiental lidere na revolução em curso. Contra ou a favor da vida, como primeira prioridade, nem mantê-la como a úl- eis a coragem engajada que pedimos e esperamos dos tima. Mas torná-la transversal a todas as pastas, o que governos Dilma e Pimentel. diversos presidentes, ministros, governadores, prefeitos Bem-vindos à tribo! e secretários já prometeram e nunca realizaram. É o que abordamos nesta edição especial da Ecológico – “Retrospectiva ambiental 2014 e Perspectiva 2015”–, MILITÂNCIA NATURAL em que você, caro leitor, também poderá depositar a sua O que Sávio Souza Cruz, o escolhido de Pimentel, vai en- esperança num mundo melhor. frentar à frente da secretaria de Estado de Meio AmbienBoa leitura e até a próxima lua cheia! JANEIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  09

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CARTAS DOS LEITORES

como afirmei, todos têm sua função na natureza. E, por isso, são indispensáveis. A humanidade comete o erro para lá na frente cometer outro tentando consertar.” Ana Laura, via Facebook l MEMÓRIA ILUMINADA “Belíssimas palavras. Que forma maravilhosa de contar um pouco sobre Manoel de Barros!” Elizanda Batista dos Reis, via Google+ l CONFINAMENTO DE ANIMAIS EM SP “A aprovação da lei em um estado como São Paulo, nesta altura do campeonato, mostra o quanto estamos andando devagar quando o assunto é meio ambiente. Apesar de ser otimista, creio ser difícil que ela vingue por muito tempo (espero estar errado), uma vez que a indústria da carne sempre foi cruel no tratamento com os animais, que são cortados ainda vivos. Que esse exemplo de São Paulo se espalhe por outros estados do país.” Antônio Fróes, via e-mail “Que ótima notícia a aprovação da lei contra o confinamento de animais no estado! Mas isso significa que agora a criação de pássaros é proibida? Grande parte dos pássaros são criados engaiolados!” Cláudia Gois, via Google+ l PÁGINAS VERDES “Bruna Lombardi é a nossa Brigitte Bardot!” Daniele Barbosa, via Twitter

“Graças! Animais livres, finalmente! Ninguém gosta de ficar preso, ninguém quer viver em prisões!” Lucielene Neves, via Google+

“Os artistas devem copiar o exemplo de Bruna e usar sua fama e prestígio para apoiar causas como a do meio ambiente.” Manoel Antônio Pereira, via e-mail

“Essa lei contra o confinamento de animais deveria se estender ao país todo, e não somente a São Paulo!” Josy Machado, via Google+

l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – ABELHAS EM RISCO “Não há limites para o homem, nem mesmo negativamente. Somos responsáveis pelo desaparecimento de mais essa espécie, tão importante para nós.” Jervis Augustinho, via Google+ “O ser humano tem o péssimo hábito de achar que só ele é necessário, mal sabe que para a natureza, todos têm sua função de extrema importância, menos ele! Se as abelhas sumirem, e a previsão é curta, vamos ter que mudar da Terra. E para aqueles que adoraram a ideia do mosquito da dengue que não pode se reproduzir, questione tudo que a mídia disser ser bom, pois, 10

 ECOLÓGICO

“O que adianta tantas leis se não colocarem em prática?! Tantas leis e ninguém pra fiscalizar? E quando se tenta colocar em prática vem um político corrupto e coloca tudo a perder...” Daysemaria Anselmo, via Google+ l HOMENAGEM AOS BRIGADISTAS “Parabéns a todos os brigadistas, principalmente os voluntários, que arriscam suas vidas para proteger a natureza escassa que ainda temos. O trabalho de vocês é digníssimo e merece todo o nosso reconhecimento.” Martha Trindade, via e-mail “Valeu rapaziada! Parabéns pelo grande trabalho!” Paulo Sebastião, via Google+

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

l CÉU DO MUNDO – AUMENTO DO NÍVEL DOS MARES “Um novo dilúvio? Calotas polares derretendo? Fim dos tempos?” Márcio Borsoi, via Google+ “Essa questão do derretimento de geleiras chama pouca atenção porque elas estão muito distantes de onde vivemos. Mal sabem os leigos que a redução do gelo no Ártico impacta todas as regiões do planeta...” Natanael Maris, via e-mail l OLHAR INTERIOR - GRATIDÃO “Em dezembro, todo mundo comemora. Bebe, come, compra e se endivida para o resto do ano. Mas esquecem que é o nascimento de Cristo e é isso que estamos festejando.” Lenyr da Cruz, via Google+

EU ASSINO “A princípio, assinei a Revista Ecológico levado pela curiosidade e pelo interesse em me manter informado sobre notícias ligadas à área ambiental. Com o conhecimento da revista, minha admiração por ela vem se ampliando a cada edição. As informações, debates, discussões sobre os principais assuntos possibilitam uma ligação direta com o leitor por meio de uma linguagem popular e isso me chama a atenção. Levo sempre meus exemplares para a sede do parque e não é raro ver, em momentos de folga, os funcionários lendo e se interessando cada vez mais pelos assuntos. Isso me encanta! Só estou esperando o dia em que o Parque Estadual Mata do Limoeiro, com seus projetos e sua riqueza biológica, seja pauta. E eu acho que dá uma capa!”

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

l ECONECTADO – SITES DE DOAÇÕES “Já comecei desde agosto a fazer as minhas doações de roupas e objetos.” Mônica Mendes, via Google+

Alex L. Amaral Oliveira, gerente do Parque Estadual Mata do Limoeiro em Itabira (MG)

1 HUMOR QUE AMDA

FONTE: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA). JANEIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  11

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ESPAÇO LIVRE

CARLOS MINC (*) redacao@revistaecologico.com.br

DILMA SUSTENTÁVEL

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omo ministro do Meio Ambiente de Lula, travei e de reservas extrativistas. Este ponto foi e é uma dura dez disputas no governo e na sociedade. Dilma, disputa com os países ricos e desenvolvidos que resisentão ministra da Casa Civil, me apoiou em oito tem a esse pagamento, mas exigem sempre que paguedestas. Reduzimos o desmatamento da Amazônia à me- mos fortunas em royalties e patentes pelos produtos tade: de 13 mil km² em 2007/2008 para 6,5 mil km² em que sintetizam em seus laboratórios, originados de 2009/2010; e o Brasil foi o primeiro país em desenvolvi- nossas sementes e raízes. mento a adotar metas de redução das emissões de gaNa questão do Código Florestal, luta que travei duses-estufa por lei. Alguns consideram Dilma insensível ramente no meu período, inclusive consolidando uma às questões ambientais. Ela não é uma ecologista, mas aliança da ecologia com a agricultura familiar, lembro demonstrou, nesse período em que convivemos de per- que foi a grande maioria construída pela bancada ruto, firmeza na defesa do desenvolvimento sustentável. ralista que aprovou o projeto de lei que desmatava o Na luta contra o desmatamento na Amazônia, apoiou o Código Florestal, e que Dilma, assessorada por Izabella, Decreto de Crimes Ambientais, que incluiu o Perdimen- vetou alguns dos pontos mais danosos por duas vezes. to e possibilitou apreendermos serrarias, caminhões e Isso remete a uma questão de fundo: a da reforma pogado utilizados em crimes ambientais. Dilma apoiou a lítica e do desequilíbrio da representação parlamentar: Moratória da Soja, o Pacto da Madeira Legal e o Proto- enquanto quatro milhões de agricultores familiares elecolo Verde dos Bancos, que vedou operações de crédito geram 16 deputados federais, 80 mil grandes sojicultopara empresas desmatadoras e poluidoras. Na polêmi- res, cafeicultores e pecuaristas elegeram 160 deputados ca com o Ministério da Agricultura sobre federais! Cinquenta vezes menos pessoZoneamento Ecológico-Econômico da as elegendo dez vezes mais deputados! Cana-de-Açúcar, sustentou a posição do "O decisivo embate É o poder econômico distorcendo a reMMA, que vedou a expansão da cana no presentação e ameaçando o patrimônio de Dilma foi a Pantanal em áreas de mata nativa e de Poderíamos ter criado mais Lei de Mudanças ambiental. produção de alimentos. O decisivo emparques nesse período e tido uma posiClimáticas." bate foi a Lei de Mudanças Climáticas. ção de recuperação do etanol. EsperaO MMA obteve apoio de universidades, mos para este segundo mandato da preda Embrapa, de cientistas que mostraram que no Brasil, sidente Dilma uma posição mais central do ambiente com a matriz energética mais limpa, as emissões caíam e da sustentabilidade. E interferindo mais diretamente com a redução do desmatamento, sem prejudicar o de- nas políticas urbanas, como a mobilidade, hoje refém senvolvimento. Com apoio de Dilma, o Brasil se tornou dos transportes sobre rodas, que engarrafam, poluem o primeiro país em desenvolvimento a assumir metas e descaracterizam o espaço urbano. A indústria da rede redução de 39% das emissões de gases-estufa até ciclagem pode e deve ser impulsionada por diferentes 2020. Onde a posição do MMA não prevaleceu, destaco políticas públicas. A conservação e o reaproveitamento o subsídio aos automóveis e à gasolina, que afetaram a dos recursos hídricos, inclusive o reuso do esgoto trasustentabilidade urbana e o etanol. Nos casos em que tado, devem também ser diretrizes prioritárias. Assim houve fundamento técnico, viabilidade econômica e como o primado das tecnologias limpas, das energias social, a postura de Dilma foi decisiva para o avanço de renováveis, como a eólica, a solar e a biomassa, e a agriposições pró-desenvolvimento sustentável. cultura e construções de baixo carbono. O primeiro mandato da presidente Dilma, com IzaO meu testemunho vivido dos dois anos à frente do bella Teixeira no MMA, teve outras características. Des- MMA (abril de 2008 a abril de 2010), em que tinha contaco a boa vitória do Brasil na Conferência da Biodiver- tato semanal intenso com Dilma, revelam uma face sidade, em Nagoya, Japão: foi aprovada a tese do MMA, pouco conhecida, e que deve ter mais luz e projeção abraçada por Dilma, de pagamento pelo uso seguro e nesse novo mandato: o coração valente é, no fundo, sustentável dos recursos genéticos da biodiversidade, sustentável. Temos que ampliar as bases e viabilizar revertendo-o para populações nativas, seringueiros, alianças e alternativas que favoreçam essa vertente povos indígenas, caiçaras e para a proteção de parques florescer plenamente!  (*) Deputado estadual (PT-RJ) e ex-ministro de Meio Ambiente. 12  ECOLÓGICO | JANEIRO DE 2015

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l “É nos momentos

mais difíceis que a calma prova a sua necessária capacidade para que o restante funcione.” @vanessadamata – Vanessa da Mata, cantora

FOTO: JOSÉ GOULÃO

conversor de brigas da internet em energia. Seria mais benéfico à humanidade que paz mundial.” @msantoro1978 – Maurício Santoro, cientista político

l “Venda de bicicletas supera a de

l “Biodiversidade

passa por sexto evento de ‘extinção em massa’, mais grave do que o que exterminou os dinossauros.” @PauloAdario – Paulo Adario, ambientalista

FOTO: MARCELLO CASAL / ABR

carros na Espanha!” @georgepferreira - George Porto Ferreira, geógrafo

l “‘Somos Zumbi’, dizem quilombolas

l “Árvores amazônicas ‘gastam’ 50 mil Itaipus (ou 200 mil Belo Montes) para evaporar 20 trilhões de litros de água por dia.” @jprcapo - João P. R. Capobianco, biólogo

FOTO: REPRODUÇÃO

do Marajó contra o agronegócio.” @JoaoMeirelles – João Meirelles Filho, escritor

VAQUINHA ECOLÓGICA Gostaria de colaborar com projetos de turismo sustentável que potencializam comunidades e economias locais? Isso já é possível por meio do site Garupa. Como plataforma de crowdfunding – espécie de vaquinha virtual –, ela busca financiamento coletivo para valorizar iniciativas e empreendimentos de baixo impacto ambiental. No site, você encontra propostas como a de uma pousada domiciliar na Serra do Espinhaço (MG) que precisa de um aquecedor para oferecer água quente aos hóspedes ou financiamento de um forno de barro para que uma comunidade na Serra Fluminense possa resgatar receitas ancestrais. Quer colaborar? Acesse: www.garupa.org.br

MAIS ACESSADA MAIS VERDE Para quem quer começar o ano com boas energias, plantar uma árvore pode ser uma boa ideia! E a matéria mais acessada de dezembro no site da Ecológico pode lhe ajudar nisso. O texto “Cinco árvores ideais para plantar em calçadas” dá dicas sobre como escolher a espécie certa para plantio sem que o proprietário sofra com problemas futuros, tais como passeios públicos rachados ou contato com a fiação elétrica. Uma das espécies indicadas é o manacá-da-serra (foto). Saiba mais: www.goo.gl/R4qac3

FOTO: MAURÍCIO MERCADANTE

planeta. Se quisermos sobreviver como espécie, temos que fazer um retorno para o planeta.” @SSalgadoGenesis - Sebastião Salgado, fotógrafo

DICA PARA AS FÉRIAS Para quem gosta de viajar, o aplicativo Foursquare é uma ótima opção de localizador. Baseado em dados de geolocalização, ele mostra hotéis, restaurantes, livrarias, casas noturnas e lugares para curtir ao ar livre. O melhor dessa ferramenta é o fato de que usuários postam comentários sobre os lugares que visitam e compartilham experiências - boas ou negativas - que podem ajudar na escolha da programação. Disponível para celulares IOS e Android, ele pode ser baixado gratuitamente no Google Play. A Revista Ecológico também está no Foursquare com dicas de bancas onde a publicação é vendida. Confira: www.pt.foursquare.com/sou_ecologico FOTO: REPRODUÇÃO

l “Deixamos o nosso

FOTO: STEVE JURVETSON

TWITTANDO

FOTO: DIVULGAÇÃO GARUPA

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PÁGINAS VERDES

“NÃO TEM GRAÇA VIVERMOS

NUM MUNDO CINZA” Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: DIVULGAÇÃO

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la tem 27 anos e já concluiu o mestrado em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Graduada em Direito e mestre em Direito Internacional Comercial e Ambiental pela UFMG, a belo-horizontina Tatianna Silva acaba de entrar para o seleto grupo dos 25 cientistas vencedores da 6ª edição do “Green Talents Award”, um dos mais importantes prêmios mundiais de sustentabilidade, entregue em novembro passado pelo Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha. O projeto de pesquisa dela – sobre a gestão e o tratamento do lixo no Brasil – chamou a atenção do júri e aponta caminhos para um país mais limpo e inclusivo. Em entrevista exclusiva à Ecológico, diretamente de Berlim, Tatianna demonstra otimismo e firme determinação em contribuir para o avanço das nossas políticas públicas. “Acredito no poder transformador da cidadania ativa. Estou determinada a contribuir para traçar um futuro mais verde, inclusivo e sustentável para o nosso país. Não tem graça vivermos num mundo cinza.” Confira:

TATIANNA: “Nosso futuro precisa ter todas as cores”

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TAT I A N N A S I LVA

Vencedora do “Green Talents Award 2014”

“Sonho com um mundo sem lixo ou pobreza, onde todos tenham acesso à educação e sejamos reconhecidos pelo que somos, e não pelo que temos.”

FOTO: JOSÉ LOPEZ / REUTERS

Sua pesquisa está relacionada à regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010, e se destacou entre projetos de estudantes de mais de 100 países. Qual a importância desse reconhecimento? A pesquisa se refere ao meu projeto de doutorado, que pretendo iniciar ano que vem. Atualmente, estou me candidatando ao doutorado em universidades do Reino Unido e ter ganhado esse prêmio, que reconhece pesquisadores do mundo inteiro com talento e potencial na área de sustentabilidade, é um tremendo incentivo. Indica que o meu projeto está no rumo certo e reafirma, ainda, a relevância do

tema “resíduos sólidos” em nível global, em especial nesta edição do prêmio, que contou com um número recorde de inscritos. Quais são as bases da sua pesquisa? Ela ainda está em fase de planejamento e deve se estender pelos próximos três anos. Em linhas gerais, pretendo avaliar se a inserção das cooperativas de catadores em sistemas formais de coleta e gerenciamento de lixo contribuiu, de fato, para a inclusão social e a emancipação econômica desses trabalhadores, colaborando também para elevar as taxas de reciclagem no país, conforme vislumbrado pela PNRS.

Há um ponto de partida? Parto da premissa de que para o Brasil avançar em duas áreas prioritárias – erradicação da pobreza e proteção do meio ambiente – é urgente repensarmos o lixo não mais como resíduo, mas como recurso. Pretendo focar o levantamento de informações sob a ótica dos catadores de materiais recicláveis, reconhecendo o papel crucial que eles desempenham. Apresentar recomendações para melhorar a interação entre os diversos atores da cadeia de produção e tratamento do lixo também é um dos objetivos centrais do meu projeto. Quais são as suas hipóteses sobre os motivos que emperram o

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PÁGINAS VERDES FOTO: DIVULGAÇÃO

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OS VENCEDORES da edição 2014 do Green Talents: a esperança de um futuro mais ecológico

cumprimento da PNRS? Por enquanto, posso adiantar que, embora reflita artigos contidos na “Diretiva Europeia de Gerenciamento de Lixo”, publicada em 2008 e considerada uma legislação bastante avançada, a PNRS contém apenas princípios e objetivos abstratos, que dependem de regulamentação para terem sentido concreto e efetivo. A lei brasileira menciona, por exemplo, a necessidade de redução da quantidade de lixo produzida no país, bem como a urgência da promoção da reciclagem. Mas não fixa qualquer meta específica. Essas metas deveriam ser estabelecidas pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos... Sim. Mas embora tenha sido finalizado em versão preliminar em 2011, esse plano ainda não foi aprovado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Falta vontade política? Como superar essa realidade?

Acredito que enquanto o governo federal não traçar metas concretas – como fez a União Europeia, onde atualmente se discute o aumento da taxa mínima de reciclagem de resíduos sólidos municipais para 70% até 2030 – a efetividade da PNRS estará comprometida no Brasil. O governo também precisa indicar de forma mais clara para prefeituras, governos estaduais, empresas e sociedade civil o papel que cada um deve desempenhar para alcançarmos todos os objetivos propostos no que se refere tanto à redução quanto ao reuso e à reciclagem do lixo. Nesse aspecto, você considera importante a adoção de mecanismos de incentivo e também de cobrança? Isso é fundamental para impulsionar os diferentes atores a assumirem e compartilharem a parcela de responsabilidade que lhes cabe. Países como In-

FIQUE POR DENTRO Desde 2009, o Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha promove o Green Talents – Fórum Internacional para Iniciativas de Alto Potencial em Desenvolvimento Sustentável, destinado a promover o intercâmbio internacional de ideias relativas a soluções ecológicas.

glaterra, por exemplo, só foram bem-sucedidos no esforço de aumentar as taxas de reciclagem, a partir do momento em que o governo introduziu a cobrança de taxas progressivas sobre a tonelada de material encaminhado para aterros sanitários. A reciclagem tornou-se então a opção número um, por viabilizar a recuperação de valor a partir da reinserção dos materiais recicláveis na cadeia produtiva.

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TAT I A N N A S I LVA

Vencedora do “Green Talents Award 2014”

Com sua pesquisa você demonstra o desejo de mudar a forma como as políticas públicas são definidas no Brasil. De onde surgiu a inspiração para esse projeto? Acredito no poder transformador da cidadania ativa. Infelizmente, em nosso país, ainda temos uma visão bastante passiva quanto aos direitos e deveres do cidadão. Por isso, vejo com bons olhos e esperança os movimentos surgidos desde junho de 2013. Independentemente de filiação partidária, percebo um número crescente de pessoas se conscientizando da importância de sermos atores da política nacional e não meros espectadores e consumidores de políticas públicas. Faço parte desse grupo e estou determinada a contribuir com o que estiver ao meu alcance para traçar um futuro mais verde, inclusivo e sustentável para o Brasil.

os benefícios gerados. Na União Europeia, como citei, a meta de reciclar 50% do lixo domiciliar até 2020 está sendo revisada, diante da proposta da Comissão Europeia de aumento para 70% até 2030. Isso comprova, então, que a implantação e a ampliação da coleta seletiva são essenciais para elevar as taxas de reciclagem... Sem dúvida. Pouquíssimas cidades oferecem o serviço, embora a separação dos materiais recicláveis nos

lizantes naturais a partir do lixo, considerando, principalmente, o expressivo volume da nossa produção agrícola. Qual é a sua visão sobre a chamada economia circular? Esse é um termo que vem ganhando popularidade tanto no meio empresarial quanto acadêmico e político, principalmente na Europa. Trata-se de um contraponto ao nosso modelo econômico linear atual, baseado na lógica do extrair-consumir-descartar e que encara os recursos como resíduos sem valor. Extraímos recursos da natureza, transformamos em produtos, consumimos e, posteriormente, descartamos. Além de ambientalmente insustentável, esse modelo é economicamente inviável, pois esbarra na escassez de matériasprimas que já assombra mercados ao redor de todo o mundo.

Sustentabilidade é a nossa pauta!

Segundo o MMA, o Brasil perde R$ 8 bilhões/ano por não reciclar os resíduos que são encaminhados diariamente aos aterros e lixões. A reciclagem só está presente Untitled-1 1 em 8% dos municípios. Há um percentual ideal de reciclagem? O ideal seria reciclar e compostar tudo o que descartamos, ou seja, viver em uma “sociedade lixo zero”. No entanto, limitações tecnológicas e econômicas impedem que esse cenário seja alcançado. Em alguns casos, ainda não há tecnologia disponível para processar certos tipos de materiais. Em outros, embora disponível, a tecnologia é economicamente inviável, pois tem custos mais elevados do que

Leia e assine! domicílios melhore a qualidade dos recursos coletados, pois diminui o grau de contaminação e, com isso, aumenta o valor que se recupera por meio da reciclagem. E em relação ao lixo orgânico? Essa é outra questão crucial e que não vem merecendo a atenção necessária. Hoje, mais de 50% do lixo brasileiro é composto por material orgânico, mas só 1% dele é destinado à compostagem. Há duplo desperdício, pois o país tem muito a lucrar com a produção de ferti-

Trata-se de um modelo inspirado na ótica da natureza... Sim. Nele, tudo é reaproveitado e reutilizado em ciclos. Perdas devem ser reduzidas ao mínimo, 06/03/2014 14:40:38 o que representa não só um avanço na preservação dos recursos naturais como também excelente oportunidade de redução dos custos produtivos. A ideia de uma economia regenerativa baseia-se numa série de princípios, entre eles, a prevenção do desperdício, o prolongamento do ciclo de vida dos produtos, a melhoria dos processos produtivos e a transição para novos modelos de negócios pautados na venda de serviços, em vez da venda de produtos.

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TAT I A N N A S I LVA

PÁGINAS VERDES

Vencedora do “Green Talents Award 2014”

"Acredito no poder transformador da educação. Percebo os frutos que a dedicação aos estudos está me rendendo agora."

O BRASIL EM NÚMEROS  De acordo com o “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013”, divulgado em agosto passado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), aproximadamente 41,7% do lixo coletado no país tem como destino final lixões irregulares.  Há lixões em todos os estados

Poderia citar um exemplo da aplicação desse conceito? A Xerox alterou o seu modelo de negócios e, em vez de simplesmente competir pela venda de equipamentos de impressão, passou a investir, em paralelo, no setor de prestação de serviços. Por meio do Managed Print Services, ela oferece impressoras a seus clientes em um sistema de comodato semelhante ao adotado pelas empresas de internet banda larga, que cedem o modem aos seus clientes.

Colégio Marista Dom Silvério. Fui criada pela minha mãe, mulher de fibra, – com a ajuda da minha querida avó. E cresci ouvindo que a educação era a melhor herança que ela poderia me deixar. Isso me marcou. Acredito no poder transformador da educação. Sempre fui uma aluna esforçada e, olhando para trás, percebo os frutos que a dedicação aos estudos está me rendendo agora.

E eles podem optar por contratar o serviço de gerenciamento dos sistemas de impressão? Isso mesmo. Com esse modelo, ganham os clientes, que não têm de arcar com os custos de aquisição, manutenção e atualização de seus aparelhos e ganha também a Xerox, com a redução dos custos com insumos e a fidelização dos clientes. Em 2012, a prestação desses serviços respondeu por mais de 50% dos US$ 22,4 bilhões da receita anual da empresa.

Pretende retornar ao Brasil após o doutorado? Que recado deixa aos estudantes mineiros? Sem chances de largar a minha pátria amada. Minha ausência é temporária, apenas para investir na minha educação e expandir meus horizontes. A educação me deu asas para alçar voos mais longos, confiança e determinação para me levantar diante das inevitáveis quedas. Ter acesso ao saber é um privilégio, desperdiçá-lo é bobeira. Sonhe alto, tente, caia, levante e persista. Vale a pena!

Em que colégios você estudou na capital mineira? Como foi a sua infância? Na Escola Lúcia Casasanta e no

Qual é o seu sonho de um Brasil e de um mundo mais sustentáveis? Não tem graça vivermos num mundo cinza. Nosso futuro preci-

e 60% dos municípios brasileiros encaminham seus resíduos para locais inadequados. Ainda de acordo com a pesquisa, feita em 404 municípios (o que representa 45% da população), foram geradas mais de 76 milhões de toneladas de lixo em 2013, um aumento de 4,1% em relação a 2012. Para saber mais: www.abrelpe.org.br

sa ter todas as cores. Sou otimista em relação às mudanças que estão ao nosso alcance promover, embora seja realista quanto ao tempo que levaremos para consolidá-las. A transição para um modelo de desenvolvimento sustentável vai prosperar, pois os benefícios econômicos dessa mudança são cada vez mais claros e indiscutíveis. Embora esteja certa de que a natureza cobrará com juros os danos causados no passado, vislumbro um futuro de progresso na seara ambiental. Meu sonho é o de um mundo mais solidário e menos competitivo; sem lixo ou pobreza e no qual todos tenham acesso à educação. E, acima de tudo, sejamos reconhecidos pelo que somos e não pelo que temos.  SAIBA MAIS www.greentalents.de twitter.com/GreenTalents twitter.com/tatiannampsilva

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SOU ECOLÓGICO

FOTO: ECOLÓGICO

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FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

DINIS APOTEÓTICO Foi emocionante a despedida prévia do expresidente da ALMG Dinis Pinheiro (foto), no último 16 de dezembro, em BH. Ele foi recebido por uma multidão em festa, com direito a chuva de papel picado, banda de música, cumprimentos, selfies, soltura de pombas e balões. Literalmente carregado até o plenário do Legislativo, o autor de projetos sociais como o “Bolsa Reciclagem”, em apoio aos catadores de resíduos, comprovou sua popularidade. Não à toa, com seu sábio jeito simples, afetivo e popularmente acessível, foi o

deputado mais votado nas duas últimas eleições em Minas. “Antes de torcer contra o êxito de qualquer novo governante, penso que, em primeiro lugar, nos cabe o dever cívico de torcer pelo sucesso do estado e do país. Oposição, sim. Mas, vigilante, séria, firme, patriótica e comprometida com o bem comum”, ressaltou Dinis em seu discurso, já semeando e sinalizando novas colheitas em seu futuro. “Essa não é uma despedida nossa. Haveremos (olha o verbo no plural!) de nos reencontrar muitas vezes, nesse vasto e desafiador campo da atividade política.”

ALÔ, LACERDA! Já se passou meio ano que a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) não responde à Ecológico sobre um projeto para humanizar e urbanizar o campinho de futebol que existe no alto da Vila Marçola, no aglomerado de favelas da Serra, que foi promessa do prefeito Marcio Lacerda (foto) e capa da nossa edição 70, por ocasião da Copa do Mundo.

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FOTO: HELENA LEÃO / ALMG

PHW 2015 “Paz & Amor”: esse é o tema que está sendo delineado para o sexto "Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza", promovido pela Ecológico. Inspirado na poesia de Carlos Drummond de Andrade, o poeta de Itabira (MG), ele se somará ao concorrido tema do ano passado, “Quanto vale a sombra de um buriti?”, sobre a obra de Guimarães Rosa, abrindo uma nova vertente para o setor minero-metalúrgico participar. Sucesso artístico e musical do último evento, o Grupo Ponto de Partida, de Barbacena, que já retratou Drummond, também está sendo reconvocado para abrilhantar a próxima edição do prêmio.

FOTO: PAULO AUGUSTO

FOTO: REPRODUÇÃO

RECEITA DA FIEMG Já o presidente do Sistema Fiemg, Olavo Machado Júnior (foto), apontou sem cerimônias o que falta para o país sair do atoleiro econômico, financeiro e político que se encontra. Foi durante o tradicional almoço e balanço de fim de ano que a Fiemg promove com os jornalistas. O problema, segundo ele, não está na indústria nem em qualquer outro setor estratégico da vida nacional: “O que nos falta é um estadista, um político com visão maior de mundo. Enquanto o Brasil não tiver um estadista para nos representar e estimular, continuaremos onde estamos. Sempre a reboque e não pelo fato de sermos protagonistas de nós mesmos”.

CARLOS ALBERTO REAL Dividindo a mesma mesa do almoço da Fiemg, o economista Carlos Alberto Oliveira (foto), editor-geral da Revista Mercado Comum, detalhou o cenário com uma visão negativa e inegável da relação homem-meio ambiente: “O ser humano é, sempre foi e continuará sendo o maior inimigo da natureza. A menos que a Igreja permita o controle da população e, os governos, a produção desmedida de carros em detrimento do transporte coletivo”. Mesmo pessimista, Carlos Alberto deu uma notícia alvissareira: até os tuiuiús, aves-símbolos do distante Pantanal, já estão sendo avistados na região de Confins e Lagoa Santa. Possivelmente em busca da água que os paulistanos já aprenderam a valorizar não por amor, mas pela dor.

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FOTO: DIVULGAÇÃO

1 POLÍTICA AMBIENTAL

MORADORES de Morro do Pilar lotaram a Câmara Municipal em junho último e se posicionaram a favor do empreendimento

A JUDICIALIZAÇÃO

JÁ COMEÇOU?

Ministério Público põe em risco projeto de mineração sustentável da Manabi, em pleno vale do esquecimento de Minas

C

ausou estranheza a ambientalistas a reportagem “Embate entre Manabi e MP persiste e vai parar na Justiça”, publicada em nove de dezembro passado no jornal “Hoje em Dia”. Nela, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) afirma querer anular a Licença Prévia (LP) recém-concedida pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). E, com isso, impedir a mineradora de tocar o seu projeto de R$ 6,5 bilhões no município de Morro do Pilar, na Serra do Cipó, uma das regiões mais pobres e esquecidas do

mapa político do estado. Questionando a competência da Semad, que concedeu a outorga com base em estudos apresentados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), o MP alega que o empreendimento, somado a outros na mesma região, tem potencial para causar “indisponibilidade hídrica” na Bacia do Rio Santo Antônio, onde a empresa pretende realizar a sua captação de água. No Rio do Peixe, seu afluente mais próximo, a Anglo American, recém-licenciada para operar seu mineroduto, já realiza

a captação de água e embarque de minério, após vários rounds em processos semelhantes. Tal estranheza se deve à antiga discussão da chamada “judicialização” da questão ambiental em Minas. Por uma brecha de poder existente na Constituição brasileira, o MP estaria agindo acima do bem e do mal, tendo a última palavra em toda e qualquer decisão do Estado, no caso, da Semad. Ou seja, mesmo que homologada democraticamente pelo Copam, que é formado paritariamente por representantes do governo,

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FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

do setor produtivo e da sociedade civil organizada. Eis a questão colocada: historicamente, o MP sempre negou promover a judicialização do processo de licenciamento ambiental. Pelo contrário, por meio de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), garante resolver até 85% dos impasses. Por que agora estaria remando em outra direção, ao querer anular a decisão do Copam sobre o projeto da Manabi, tão aceito e aguardado pela população local? Indagado sobre esse reposicionamento, o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto negou a forma como o “Hoje em Dia” publicou suas declarações: “Não é bem assim, como saiu publicado. Não é nossa intenção barrar a licença na Justiça, mas contextualizar melhor a disponibilidade hídrica, com estudos mais aprofundados para o conjunto de empreendimentos na mesma região”.

CARLOS EDUARDO Ferreira: "Não é nossa intenção barrar a licença na Justiça"

Na reportagem, a Manabi garante a não necessidade pontual disso, já que é a principal e maior interessada em ter e preservar água para tocar o seu empreendimento. Sem água, a exemplo da vizinha Anglo American, em Conceição do Mato Dentro, seu previsto mineroduto não funcionaria. É o que garantiu, em nota,

a empresa: “Os estudos técnicos realizados na Bacia do Santo Antônio apontaram disponibilidade hídrica tanto para o cenário atual quanto para o futuro. As outorgas preventivas concedidas pelo Igam, em 2014, confirmaram a disponibilidade”. A questão de fundo, tanto o MP quanto a Manabi sabem disso, é a ausência de uma política mineral por parte do estado. Nessa omissão também histórica, mesmo sendo considerado um modelo de mineração sustentável, onde todos ganham, o risco iminente é os investidores da Manabi desistirem do projeto. Quem ganhará com isso? É a discussão que o MP e o Governo Fernando Pimentel terão de promover e resolver com regras claras, sob a égide do “economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente mais justo”. A menos que o estado queira abolir o “Minas Gerais” de seu nome. 

Amda Há 34 anos trabalhando pela preservação do meio ambiente. Parabéns a todos que fazem parte desta história!

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FOTO: JOE MASTROIANNI / NSF

CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO

DERRETIMENTO ANTÁRTICO

A redução das geleiras na Antártida aumentou consideravelmene nas últimas décadas. Pelas estimativas de cientistas americanos, britânicos e holandeses, o derretimento alcançou uma média de 83 bilhões de toneladas por ano, de 1992 a 2013, e contribuiu com cinco milímetros de aumento no nível do mar apenas nesse período.

HASTA LA VICTORIA

FOTO: REPRODUÇÃO

Israel enfrenta o pior desastre ecológico de sua história após o vazamento de petróleo de um oleoduto no deserto do país. O incidente ocorreu perto da cidade costeira de Eilat (sul) e já foi controlado. Mas pelo menos um milhão de litros de petróleo foram lançados na região, que inclui uma reserva natural.

Sete países da América Latina se comprometeram a replantar 20 milhões de hectares de terras degradadas até 2020. Em um ato paralelo à Cúpula da ONU sobre a Mudança do Clima, em Lima (Peru), ministros da Agricultura e do Meio Ambiente de México, Peru, Guatemala, Colômbia, Equador, Chile e Costa Rica apresentaram o plano de recuperação de cada país. O México comprometeuse a recuperar 8,5 milhões de hectares; o Peru, 3,2 milhões; a Guatemala, 1,2 milhão; e a Colômbia, um milhão.

FOTO: BORIS ZERWANN

CATÁSTROFE AMBIENTAL

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Um dos principais emissores de gás carbônico do mundo, a Índia deve adotar um compromisso voluntário de redução de gases do efeito estufa. As metas devem ser divulgadas até o fim deste mês, durante visita do presidente Barack Obama a Nova Délhi.

EUROPA MAIS QUENTE

PREÇO ALTO

Os países em desenvolvimento poderão desembolsar até US$ 500 bilhões por ano a partir de 2050 para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, destaca estudo da ONU. Segundo o documento, os custos de adaptação serão muito superiores aos já contabilizados antes pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep).

O continente europeu tem dez vezes mais chances de ter verões com temperaturas extremas em comparação ao final do século passado, alerta estudo publicado na revista “Nature Climate Change”. A pesquisa, realizada pela Agência de Meteorologia Britânica (Met Office), afirma que a mudança climática aumenta as probabilidades de se repetirem verões como o da Europa em 2003, quando as temperaturas superaram a média em 2,3 graus.

FOTO: VLADISCHERN

FOTO: JOE MASTROIANNI / NSF

ÍNDIA MAIS LIMPA

CALOR HISTÓRICO

O ano de 2014 foi um dos mais quentes já registrados no planeta. Na prévia do relatório “Status Global do Clima 2014”, a ONU destaca que, de janeiro a outubro do ano passado, a temperatura média da superfície da Terra e dos oceanos foi de 14,57 graus centígrados, 0,57ºC acima da média entre 1961 e 1990. O recorde até então era de 0,55ºC, registrado em 2005 e 2010.

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GENTE ECOLÓGICA FOTO: JB ECOLÓGICO

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“Eu sou aquela pessoa que acredita no bem, que vive no bem e que anseia o bem. É assim que eu enxergo a vida e é assim que eu acredito que vale a pena viver.”

FOTO: CARLO ALLEGRI / REUTERS

CLARICE LISPECTOR, escritora

“Meus pais – Paul e Linda McCartney – sempre foram cidadãos do planeta. Cresci numa fazenda com muita consciência sobre a natureza e as estações do ano. E quis ser responsável também na moda e propor uma nova visão do luxo, sem usar couro, pele ou PVC.”

“A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.” EÇA DE QUEIRÓS, escritor português

“Quando alguém teme a verdade, passa a controlar e reprimir.”

FOTO: REPRODUÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

STELLA MCCARTNEY, estilista britânica

“Ao revitalizar e cuidar de praças públicas, reafirmamos nosso compromisso e contribuição para que BH tenha espaços bonitos, bem preservados e adequados para a convivência saudável de todos os seus cidadãos.” SAMUEL FLAM, presidente da Unimed BH, cooperativa que adota as praças Floriano Peixoto e da Saúde, durante cerimônia de entrega do “Prêmio Cidade Jardim 2014”

LEONARDO BOFF, professor e teólogo 28  ECOLÓGICO | JANEIRO DE 2015

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JOÃO CURY O prefeito de Botucatu (SP) recebeu, mês passado, certificado do governo estadual que atesta que a cidade teve o melhor desempenho ambiental entre os municípios paulistas em 2014. A iniciativa faz parte do “Programa Município VerdeAzul” (leia mais na página 74), que descentraliza a agenda ambiental do estado buscando maior eficiência na gestão do tema.

ELIZABETH DE CARVALHAES, presidente-executiva da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ)

“O beijo é uma amável travessura criada pela natureza para nos calar quando as palavras se tornam supérfluas.” INGRID BERGMAN, atriz norteamericana, morta em 1982

FOTOS: DIVULGAÇÃO

FOTO: CARLO ALLEGRI / REUTERS

CRESCENDO

“Nossa prioridade é mostrar ao novo governo o potencial das árvores plantadas no contexto da nossa economia e promover o Brasil como referência mundial de desenvolvimento sustentável.”

GERALDO ALCKMIN O governador do estado de São Paulo anunciou a fixação de multas para quem aumentar o consumo de água nas cidades atendidas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a partir deste mês. A "tarifa de contingência" será de 20% para quem consumir até 20% a mais (em relação à média de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014) e de 50% para quem ampliar o consumo além desse índice.

“Dentro da minha visão de mundo, já no meu primeiro filme ‘Em Nome da Razão’, eu questionava esse poder do Estado em aprisionar uma pessoa, por achar que ela tem um problema psiquiátrico, e nunca mais tirá-la de lá. Esse tema está presente até em meus filmes infantis.” HELVÉCIO RATTON, cineasta, autor de “O Segredo dos Diamantes”, ao jornal "Hoje em Dia"

“O brasileiro acaba sendo meio estrangeiro. Vai para Miami, mas não conhece a Amazônia.” CARLOS SALDANHA, cineasta

FOTO: REPRODUÇÃO

MINGUANDO

COP-20 A vigésima Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, realizada em Lima, capital peruana, elaborou um “rascunho” para o acordo a ser concluído em novembro de 2015. A iniciativa pode parecer um avanço, não fosse a quantidade de tópicos divergentes que integra o documento e tem impedido um consenso ecológico: os países estão divergindo quanto ao volume de emissões de gases de efeito estufa a serem reduzidos até o fim do século e a cota que cada nação deverá atingir.

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1 RETROSPECTIVA 2014

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2014: UM ANO PARA

ESQUECER? Crise hídrica, desmatamento, obras inacabadas, eleições insustentáveis, corrupção. Que em 2015 Minas e o Brasil não repitam os erros de 2014 e multipliquem os poucos e bons exemplos deixados para todos

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o ano que passou, a Ecológico somou vários recordes à sua história. Nosso site teve mais de 540 mil acessos. No Google+, conquistamos 12 milhões de visualizações. Na versão impressa, mais de 312 mil exemplares distribuídos. E levamos aos leitores 1,1 mil novas páginas de informação ambiental, totalizando quase 100 matérias, sendo boa parte delas sobre denúncias de degradação ambiental e humana. Nesse mesmo período, o Brasil, infelizmente, também bateu seu recorde de apatia democrática. E não respondeu ativamente à crise econômica, às obras superfaturadas da Copa, à corrupção que afetou a imagem do país mundo afora. Perdeu com o enfraque-

cimento dos órgãos ambientais, com desmatamento ainda contínuo da Amazônia, ao ignorar a natureza nos planos de governo. Desperdiçou com a má gestão do dinheiro público e dos recursos hídricos, o que acarretou na maior crise de água do país. Ou seja: mais um ano foi embora e a questão ambiental não foi tratada como prioridade. No balanço de 2014, que apresentamos a seguir, sentimentos de tristeza e indignação se sobressaem em razão de tudo isso. Mas alguns poucos exemplos ainda nos reacendem a esperança de que, em 2015, não mais repetiremos os erros que se foram. Vamos dar provas de que floresta em pé também gera lucro e água vale mais que ouro. Confira:

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1 RETROSPECTIVA 2014 DESMATAMENTO ZERO Na primeira edição de 2014, a Ecológico aderiu a um movimento nacional encabeçado por ambientalistas e ONGs, como o Greenpeace, em prol da adoção do desmatamento zero pelo governo federal nos biomas brasileiros, principalmente na Amazônia. Conclusão? Terminamos o ano com menos árvores para contar a história. E Dilma Rousseff concluiu seu primeiro mandato sem abraçar o movimento que faria toda a diferença contra absurdos como a extração ilegal de madeira.

VIAGEM À CHAPADA No mês do carnaval, a quietude da Chapada Diamantina, no agreste da Bahia, nos revelou uma grande curiosidade: a região é composta por rochas sedimentares com idades entre 1,7 e 9,7 bilhões de anos e, pasme, até já foi fundo de mar. Nessa edição, também denunciamos o descaso das estradas de acesso aos parques pelo governo estadual, os discursos demagógicos dos nossos políticos e a carência de ações do setor público na área de sustentabilidade.

SEM ÁGUA Em março, bem antes da crise hídrica paulista, a Ecológico já alertava sobre os problemas que a falta d’água traria para o país e o mundo. Segundo a ONU, em 2050, a demanda pelo recurso excederá em 44% a sua disponibilidade no planeta. Em tempos de mudanças climáticas, com rios que estão cada vez mais minguados e desaparecendo durante parte do ano, gestão responsável de água vale mais que construção de hidrelétrica. E consciência ambiental também.

UMA VERDADE NUA E CRUA A polêmica parceria entre o cantor Roberto Carlos e a Friboi reacendeu a discussão sobre o consumo de proteína animal e a devastação amazônica pela pecuária insustentável. E ajudou a fortalecer as denúncias contra outra crueldade além-floresta: o abate insustentável de bovinos e suínos nos matadouros do país. Os animais recebem choques elétricos e marretadas na cabeça, além de serem cortados ainda vivos.

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ESPERANÇA POLÍTICA A Ecológico colheu sugestões de especialistas em Meio Ambiente sobre o que o então novo titular da Semad, Alceu Torres Marques, deveria priorizar para recolocar Minas como referência na agenda ambiental brasileira. Aumentar o orçamento da pasta, criar novas unidades de conservação, fortalecer os órgãos de meio ambiente e as condições de trabalho dos funcionários do Sisema foram algumas das reivindicações.

PÁTRIA DEVASTADA O “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica 2014”, que mostramos na edição especial do Dia Mundial do Meio Ambiente, revelou uma verdade que todos sabiam, mas ninguém queria escutar: entre 2012 e 2013, quase 24 mil quilômetros quadrados do bioma foram destruídos no Brasil. A “medalha de ouro” da devastação ficou com Minas Gerais, que pelo quinto ano consecutivo registrou as maiores taxas de desmatamento no ecossistema atlântico.

BRASIL ASSASSINO O país foi o que mais registrou assassinatos de ativistas no planeta nos últimos doze anos. Pior: segundo relatório da ONG Global Witness, apenas 10% dos casos chegaram a um tribunal e 1% deles resultou em condenação para os culpados. Também contamos a história do ambientalista Luiz Fernando Ferreira Leite e do ex-secretário de Meio Ambiente de Serro (MG), que sofreram atentados por denunciar a degradação ambiental na região e criar unidades de conservação em áreas tomadas por posseiros.

LÉLIA SALGADO A companheira de vida e luta do fotógrafo Sebastião Salgado contou, em entrevista exclusiva à Ecológico, a trajetória ao lado do marido e o processo de recuperação da Fazenda Bulcão, sede do Instituto Terra, ONG criada pelo casal: lá, eles recuperaram mais de 7.000 km2 de Mata Atlântica. Nesta edição, também iniciamos a exitosa série “Nos Porões do Retrocesso”, que denunciou a situação de abandono do Museu da Loucura, em Barbacena (MG).

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1 RETROSPECTIVA 2014 A HORA DO VOTO Um mês antes das eleições, a Ecológico ouviu as propostas dos dois candidatos ao governo de Minas – Fernando Pimentel (PT) e Pimenta da Veiga (PSDB) – na área ambiental, abrangendo temas como licenciamento, resíduos sólidos e fortalecimento do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). Tema da quinta edição do Prêmio Hugo Werneck, o Cerrado ganhou uma reportagem especial apontando os vilões da destruição do bioma e mostrando como ela afeta diretamente a população brasileira.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS O recado ecológico de Leonardo DiCaprio, novo mensageiro de paz da ONU, chamando a atenção da humanidade para os efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas, foi a matéria de capa da nossa edição de outubro. Na companhia dele, os exemplos de empresas e cidadãos, como o aposentado Oswaldo Bissoli, de 85 anos, que percorre as ruas de um bairro de BH cuidando dos jardins e das árvores sem esperar nada em troca.

AGONIA SEVERINA A matéria de capa sobre a degradação do Rio São Francisco foi a mais comentada de todos os tempos nas redes sociais da Ecológico. O drama vivido pelos 77 municípios ribeirinhos que decretaram situação de emergência devido à falta d’água e a seca da nascente do Velho Chico não só conscientizou a população sobre a importância de se preservar o recurso natural. Mas serviu de alerta para os governantes sobre a necessidade de uma gestão hídrica mais sustentável.

A NOITE DO CERRADO Do pioneirismo de Paulo Nogueira Neto às veredas de Guimarães Rosa, em defesa do Cerrado brasileiro, a quinta edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” homenageou 16 empresas, pessoas e projetos que contribuem para a preservação do meio ambiente. A entrevista com a atriz Bruna Lombardi e o novo Projeto de Lei aprovado em São Paulo que proíbe a criação de animais em confinamento foram outros destaques da edição.

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Exemplos sustentáveis Em um ano marcado por baixos investimentos privados na área ambiental, algumas empresas continuaram apostando na adequação de suas fábricas a conceitos sustentáveis, na gestão consciente, no patrocínio de projetos e na responsabilidade socioambiental como fator

essencial para transformar a sociedade. ONGs receberam apoio para estender seus projetos. Juntas, todas essas organizações trabalharam para garantir um futuro melhor a todos, com qualidade de vida e preservação ambiental. Confira, a seguir, alguns desses exemplos:

FOTO: DIVULGAÇÃO

Entre os destaques de “impleBOAS PRÁTICAS FLORESTAIS mentação”, o relatório ressalta o A Klabin, maior produtora e exapoio da Klabin na iniciativa de portadora de papéis do Brasil, foi certificação de pequenos produeleita a empresa que mais incentores no Paraná. Esse grupo retivou as boas práticas de manejo cebeu uma das mais renomadas florestal, abordando o controle certificações florestais do munde seus impactos e a implemendo, o FSC (Forest Stewardship tação de ações a partir do engaCouncil). O selo reconhece o jamento de seus fornecedores, manejo florestal responsável e sua cadeia de fornecimento, cerpermite que os fomentados certificação e rastreabilidade de sua tificados comercializem a mamadeira como forma de garantir deira com maior valor agregado, uma cadeia de valor livre de deso que traz benefícios para toda a matamento. O reconhecimento KLABIN: incentivo ao manejo cadeia produtiva. foi feito em relatório produziflorestal sustentável “Para a Klabin esse reconhedo pela CDP (Carbon Disclosure Project), organização internacional sem fins lucrativos cimento é muito importante, ele reafirma que todo que impulsiona as economias sustentáveis. Realizada o trabalho realizado pela companhia contribui para com 152 empresas do mundo inteiro, de variados se- o desenvolvimento de um mercado de melhor valor tores, a pesquisa elegeu as 11 companhias que mais agregado em toda sua cadeia”, afirma Ivone Namikawa, coordenadora de Sustentabilidade Florestal da Klabin. evoluíram em 2013.

FOTO: DIVULGAÇÃO

conhecido pela ONU Água como PROTEGENDO NASCENTES uma das 70 melhores práticas do Com o programa de recuperação mundo para proteção dos recurde nascentes “Olhos D’Água”, sos hídricos. A experiência de o Instituto Terra conquistou o sucesso também será apresenta“Prêmio ANA 2014” na categoda em evento do Fórum Mundial ria ONG. A honraria reconhece da Água este ano, que ocorrerá iniciativas que se destacam pela na Coreia do Sul. excelência de sua contribuição O “Programa Olhos D’Água” para a gestão e o uso sustentável tem como objetivo proteger todos recursos hídricos, promodas as nascentes do Rio Doce, vendo o combate à poluição e em municípios do Espírito Sanao desperdício. Os trabalhos insto e de Minas Gerais, nos prócritos também apontam camiximos 30 anos. São mais de 370 nhos para assegurar água de boa INSTITUTO Terra: a meta é recuperar mil olhos d’água. O trabalho já qualidade e em quantidade sufitodas as nascentes do Rio Doce foi iniciado, mas exige a colaciente para o desenvolvimento e boração de muitos para ser concluído. Empresas, a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. Fundado por Lélia Wanick Salgado e Sebastião Sal- governos e doadores individuais podem se somar gado, o Instituto Terra já teve o mesmo programa re- ao projeto.

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1 RETROSPECTIVA 2014 o oceanógrafo Guy MarcovalTARTARUGAS PROTEGIDAS di, também há muito o que Em dezembro, o projeto celebrou comemorar nesta última temseu aniversário de 35 anos, 33 deporada 2013-2014, quando o les em parceria com a Petrobras. Tamar conseguiu ultrapassar No seu primeiro ano de atividade, a marca de dois milhões de fiem 1980, o Tamar acompanhou lhotes de tartarugas marinhas 55 desovas em 50 quilômetros de protegidos por ano. “Alcanpraias e ajudou a salvar duas mil çamos uma marca histórica tartarugas. Hoje, mais de três dépara a conservação ao protecadas depois, o projeto conta com germos tantos filhotes nessa 25 bases em nove estados brasileitemporada que passou. Mas ros e monitora anualmente cerca isso é apenas uma geração de mil quilômetros do litoral bradesses animais contemporâsileiro. As iniciativas colaboraram PROJETO TAMAR: 35 anos em defesa neos dos dinossauros, que lepara a comprovação científica do do ecossistema marinho vam cerca de 30 anos para se início da recuperação das populações de três espécies – tartaruga-oliva (Lepidochelys reproduzirem. Estamos muito felizes com os resultaolivacea), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbrica- dos e sempre em alerta para o que ainda temos que ta) e tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta); o cresci- fazer”, ressalta. mento do número de ninhos de tartaruga-de-couro Nos centros de visitação são apresentadas as principais (Dermochelys coriacea); e a estabilidade da tartaruga- informações sobre a biologia desses animais, ameaças -verde (Chelonia mydas) em Fernando de Noronha. à sua sobrevivência e a importância de protegê-los. Para o fundador e coordenador nacional do projeto, Mais de 15 milhões de pessoas já visitaram o Tamar.

FOTO: DIVULGAÇÃO / CCFEMSA

aquisição de materiais num raio FÁBRICA VERDE de até 800 km da obra, madeira A unidade da Coca-Cola FEcom selo FSC de manejo responMSA Brasil em Maringá (PR) sável. O projeto agrega caractese tornou a primeira planta de rísticas como a captação de água refrigerantes do país a obter a da chuva, telhado verde, 39% de certificação de sustentabilidade área verde, bicicletário, vaga para LEED (Leadership in Energy and carro de baixa emissão, vaga para Environmental Design, ou “Lidecarona solidária e proteção da rarança em Energia e Design Amdiação solar nas janelas. biental”). Emitido em mais de Com a economia de energia elé130 países de todo o mundo, o trica que a fábrica gera, por exemselo é considerado, hoje, a prinplo, é possível fornecer eletricidacipal certificação de construção de para cerca de 2.700 casas com sustentável para os empreendiCOCA-COLA Femsa, em Maringá (PR): quatro pessoas, por um ano, o mentos do Brasil, representado exemplo nacional equivalente a 5.400.000 kWh, reoficialmente pelo Conselho de Construção Sustentável do Brasil (GBC-Brasil) , que presentando uma redução total de 21%. Já a economia de água chega a 26,8 milhões de litros/ano. Quando foi foi criado no país em 2007. A certificação da fábrica foi conquistada graças aos concebida, a fábrica já havia adotado algumas medidas seus altos índices de economia de água e de energia, sustentáveis que a tornaram referência dentro do Sisalém da eficiência produtiva, que reduz o impacto no tema Coca-Cola Brasil: a unidade foi pioneira do grupo meio ambiente e no aumento na qualidade do ambien- no país no uso do forno Ecoven. Foi a primeira a utilizar te interno. Também foram considerados elementos da tecnologia de redução da pressão de sopro e a adotar o construção como utilização de materiais recicláveis, sistema de recuperação de calor do gás carbônico.

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FOTO: CRPMG

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Que força tem Basaglia? Se estivesse vivo, o maior defensor do fim dos manicômios veria Minas como o estado brasileiro mais revolucionário na assistência pública aos doentes mentais. Mas a luta continua Hiram Firmino

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BASAGLIA: mais vivo do que nunca

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oi emocionante, de se chegar às lágrimas. E politicamente esperançoso, confirmando a pegada petista quando se trata de assistir as minorias, a realização do “Seminário 35 anos de Basaglia no Brasil – A Marca de uma Prática Revolucionária”, promovido pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental e a Associação dos Usuários dos Serviços Mentais de Minas Gerais (Asussam), com apoio da Revista Ecológico. Foi durante os dias 3, 4

e 5 de dezembro último, no auditório da Escola Superior Dom Helder Câmara, na capital mineira. A emoção teve início com o posicionamento firme e engajado do ministro da Saúde, o médico sanitarista e doutor em Saúde Coletiva, Arthur Chioro. Filiado do PT e adepto do espiritismo, ele conclamou a plateia de médicos, pacientes e estudantes a manterem a luta pela liberdade e o tratamento humanizado aos


NA PRÓPRIA PELE “Eu também vivi na pele essa realidade. Até hoje eu sinto e trago em mim o cheiro característico dos hospícios e de seus doentes ali abandonados” – disse o ministro, que fez sua residência médica em hospital psiquiátrico público. “E é por isso que a revolução inspirada em Basaglia tem de continuar e vocês devem se manter vigilantes na luta. Infelizmente, ainda temos muitos manicômios em funcionamento no país e uma direita médica retrógrada que deseja tanto a volta da ditadura quanto desse sistema asilar. Isso é triste! Eles ainda não aceitam ser possível cuidar do doente mental de uma forma diferente, mais humana e inclusiva no sistema hospitalar geral de saúde.” Chioro lembrou que, comparativamente, os chamados loucos, cujo único pecado foi a vida ter lhes colocado um transtorno mental, ou serem pobres e negros, ainda vivem em condições mais sub-humanas que os conde-

ESCUTA, PIMENTEL! Por fim, o ministro da Saúde elencou, aplaudiu e propôs uma série de novas conquistas e apoios em curso na luta antimanicomial brasileira iniciada com Basaglia. Ele enfatizou a oportunidade política que o movimento de resistência pela saúde mental em Minas terá agora com o governo Fernando Pimentel, do mesmo partido. O que foi corroborado pelo ex-secretário nacional de Atenção à Saúde e ex-secretário municipal de Saúde de BH, Helvécio Magalhães, atual secretário de Estado de Planejamento do Governo Pimentel. Segundo Helvécio, um governo que na sua propaganda político-eleitoral utilizou o slogan “Ouvir pra governar” tem tudo para, de fato, escutar melhor a sociedade, saber o que acontece e avançar na área de saúde pública, notadamente na causa dos portadores de transtorno mental. “O desafio de um cuidar diferente deles é o que nos estimula e confere um dever social”, afirmou.

O “Seminário 35 anos de Basaglia no Brasil” teve apoio da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila), do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais e do Ministério da Saúde.

FOTO: WILSON DIAS / ABR

nados por crimes nos presídios: “A América Latina e o Brasil ainda têm uma dívida enorme com esses excluídos sociais para pagar. Somente, então, poderemos sonhar com uma sociedade definitivamente sem manicômios”.

"Tenho um profundo respeito, apoio e comprometimento com a luta e a reforma psiquiátrica no Brasil." Arthur Chioro, ministro da Saúde

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: CRPMG

doentes mentais. Direitos esses conquistados pela chamada “revolução psiquiátrica mineira” desde o final dos anos 1990, quando o psiquiatra italiano Franco Basaglia veio ao Brasil e comparou os hospícios do Galba Veloso, Raul Soares e Barbacena a “verdadeiros campos de concentração nazistas”. E equiparou seus médicos e atendentes a “carcereiros, carrascos e torturadores”, convidando-os também a abandonarem suas práticas medievais.

"O desafio de um cuidar diferente deles é o que nos estimula e confere um dever social." Helvécio Magalhães, secretário estadual de Planejamento

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FOTOS: CRPMG

1 RETROSPECTIVA 2014

ARTHUR Chioro presidindo a mesa: “Ainda sinto o cheiro dos hospícios”

“Dos porões da loucura a uma vida cidadã” J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

Vários envolvidos na reforma psiquiátrica brasileira relembraram o legado do médico italiano que, com a ajuda dos seus pacientes, literalmente destruiu o hospício que administrava em seu país natal, inaugurando o movimento mundial pelo fim dos manicômios. Miriam Abou-Yd, que representou a comissão organizadora, ressaltou a importância de transcender o ensino do mestre italiano “inventando e reinventando a experiência brasileira como ele desejava e propunha”. Martha Elizabeth, coordenadora do fórum, ressaltou que “o país precisa avançar na política de álcool e drogas e assumir efetivamente uma política radical de vida para essas pessoas. Assim como encarar os presídios brasileiros e superar os hospitais psiquiátricos, colocando o Brasil em uma posição de maior civilidade e democracia”. Elisa Zaneratto, presidente do Conselho Regional de Psicologia de

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São Paulo, pautou a necessidade de haver uma profissão comprometida com a reforma psiquiátrica no Brasil. Mesma observação feita por Sílvia Soares, primeira secretária da Assussam, que reforçou a construção de uma sociedade democrática e livre de manicômios. HISTÓRIA DE SOBREVIVÊNCIA O seminário também contou com vídeos-conferências e exposição artística com produções dos próprios pacientes e ex-pacientes hoje assistidos nos espaços de convivência da capital mineira, chamados de Cen-

tros de Atenção Psicossocial (CAPS), em substituição ao antigo e desumano modelo asilar. Nos vídeos, Franco Rotelli, presidente da Comissão Permanente de Defesa da Saúde e Serviço Social da região de Friuli-Veneza Giulia; e Benedetto Saraceno, psiquiatra e codiretor do Mestrado Internacional em Política de Saúde Mental e Serviços da Universidade Nova de Lisboa, Portugal, também deram seus depoimentos sobre Basaglia e sua importância para a luta antimanicomial em todo o mundo. Os mais de 400 participantes, militantes, também chamados de “seguidores de Basaglia”, assistiram a palestras, depoimentos e resenhas de seus pensamentos. Dois dos momentos mais impactantes do evento foram a homenagem da organização prestada aos “sobreviventes” do ex-Hospital Colônia de Barbacena, denominada “Dos porões da loucura a uma vida cidadã”; bem como ao psiquiatra Antonio Soares Simone, ex-presidente da Associação Mineira de Saúde Mental. BASAGLIA VIVE Perseguido e ameaçado de ter sua carteira de médico cassada na época, Simone foi quem, em 1979, convidou e trouxe Franco Basaglia a Minas, para participar do emblemático “III Congresso Mineiro de Psiquiatria”, em BH. Foi onde tudo começou, logo após a publicação da série de reportagens feitas pelo jornal “Estado de Minas”, denunciando o horror que se escondia dentro dos hospícios, principalmente em Barbacena, onde morreram 60 mil pessoas. Simone também lembrou como, apesar de produtiva e definitiva, foi efêmera e atribulada a história de vida de Franco Basaglia, que morreu de câncer no cérebro dois anos depois da sua vinda ao Brasil. E explica seu carisma e espírito hoje mais vivos que há 35 anos, quando esteve conosco: “Ele tinha dores de cabeça

SIMONE ao lado de Gregorio Baremblitt (à dir.): conexão libertária

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OS ORGANIZADORES do evento fazendo a mesma posição japonesa de “gasshô” do doente mental destacado no painel, com as mãos juntas, o que significa oração, respeito e reverência ao próximo FOTOS: ECOLÓGICO

LOUCA PARA VIVER Ex-técnica em Nutrição, Evani Cristina Teixeira nasceu em São João Evangelista e mora, desde os 23 anos, em Ouro Branco, Minas Gerais, onde vive com um filho e faz tratamento ambulatorial no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS regional). Hoje com 36 anos, ela encantou o público do seminário por tamanha lucidez sobre o seu próprio diagnóstico mental, com várias intercorrências ao longo da vida. Em seu depoimento, antes de autografar seu quinto livro de poesias, ela se disse bipolar e ex-paciente, durante três anos, do ex-Hospital Colônia de Barbacena, de onde conseguiu sair a tempo, graças à ação desencadeada por Basaglia. Ela também sobreviveu a uma tentativa de suicídio quando, ainda grávida, pulou do terceiro andar do Hospital André Luiz, em BH. Não teve vergonha de falar que ainda toma 12 comprimidos e uma injeção diariamente para se controlar e levar uma vida normal. Enalteceu a acolhida gratuita que rece-

FOTOS: NAPOLEÃO JAVIER

terríveis, o que me obrigava a medicá-lo cada vez mais. E atribuía isso à pressão psicológica que passou a sofrer de vários segmentos sociais, políticos e médicos da Itália, que não aceitavam a lei que ele conseguiu aprovar, proibindo a construção de novos manicômios naquele país, dando origem ao movimento hoje mundial da luta antimanicomial. Ou seja, ele não morreu. Basaglia vive!”. A programação se completou com o relançamento dos livros “Nos Porões da Loucura”, de Hiram Firmino; “Franco Basaglia: Escritos Selecionados em Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica”, organizado por Paulo Amarante; e “Portas Abertas: do Manicômio ao Território – Entrevistas Triestinas”, copiladas por Rossana Seabra Sade; além de “Louco é Quem me Diz”, de Evani Cristina Teixeira.

EVANI e seu último livro: “Internação machuca muito a alma da gente”

be hoje das entidades de apoio aos usuários dos serviços de saúde mental no estado: “Vocês não imaginam o que é ser livre, mesmo na minha condição. Muito menos como ser internada contra a sua vontade. Contenção, que é o outro nome de internação compulsória, machuca muito a alma da gente”. Disse mais, em seu agradecimento: “Ser especial é ser alguém diferente,

ver a vida de outro jeito. Eu faço parte de uma nação onde o ser humano é campeão na luta para sobreviver. Por isso nunca deixei de lutar e de sonhar. Ainda tenho esperança de entender que a vida faz sentido pra mim e poder amar todos vocês. Muito obrigado por esta oportunidade, por me aceitarem assim. Sou louca, sim. Mas louca para viver” - completou a usuária-escritora.

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FOTO: REPRODUÇÃO

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O PSIQUIATRA italiano em seus poucos momentos de descontração, face ao que sua atitude revolucionária provocou

Franco por Basaglia RECEITA “É no interior de vocês que se encontra a força capaz de romper com essa cadeia infernal.” ATITUDE “Ou se é cúmplice ou se age e destrói o hospício.” ESCRAVIDÃO “Nosso encontro com o doente mental também nos mostrou que, nesta sociedade, somos todos escravos da serpente. E que se não tentarmos destruí-la ou vomitála, nunca veremos o tempo da reconquista do conteúdo humano de nossa vida.” DENÚNCIA “O problema é que, no momento em que denunciamos fatos, devemos também mudar a realidade da nossa vida profissional. A denúncia deve ser prática, real e de mudança.” VALORES “Não se pode transformar uma realidade dramática e opressora sem violência polêmica, nos confrontos com aquilo que se quer negar, incluindo na crítica os valores que possibilitam e perpetuam a existência de uma tal realidade.” INSTITUIÇÕES “O que caracteriza as instituições é a nítida divisão entre os que têm o poder e os que não o têm.”

SOCIEDADE “A subdivisão das funções (os que têm e os que não têm) traduz uma relação de opressão e de violência entre poder e não poder, que se transforma em exclusão do segundo pelo primeiro. A violência e a exclusão estão na base de todas as relações que se estabelecem em nossa sociedade.” MÉDICO “Se o médico não tiver um conhecimento de seu doente e uma supervisão política de sua ação, ele exercerá o arbítrio mais do que ele pensa, porque tem uma grande desculpa: os limites da ciência.” LOUCO “Se o fundamento partidário da psiquiatria era de que louco é perigoso, assim como 1+1 = 2, nós demonstramos que o louco é tão perigoso quanto qualquer outra pessoa que atua na sociedade. Existem as mesmas porcentagens de periculosidade. A prática mudou a relação 1+1. Então, no lugar do pessimismo da razão, propusemos o otimismo da prática.” SOLUÇÃO “Nós não queremos modelos de psiquiatria italiana ou americana: queremos que não haja uma situação de imperialismo; mas, ao contrário, que se possa resolver brasileiramente.”

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FOTO: ANTICHESERE

NÁPOLES, Itália: referência basagliana sobre o “acreditar na importância do viver”

“Ver Nápoles e depois morrer” Ronaldo Simões Coelho (*)

“Franco Basaglia era para todos nós o Messias esperado e desconhecido. Incapazes de conhecer sua obra, tivemos a sorte de conhecê-lo primeiro. Com toda sua saúde, sua energia, sua pujança. Chegou e falou aquilo de que precisávamos, tudo aquilo com que sonhamos; a situação do louco era resultado da miséria, da necessidade; a existência do hospício era uma excrescência; as ideias são combatidas com ideias, mas os fatos devem ser combatidos com fatos. Incapazes de prever sua morte tão próxima, dizia: ‘A vida é longa e há tempo para tudo’. Sua vida foi longa, Basaglia teve tempo para tudo depois. Os homens são mais importantes, muitas vezes, pelo que deixam por fazer, pelos seus seguidores. Quando foi impedido de entrar nas enfermarias do Instituto Raul Soares, ele conversou, através das grades, com os internados. Ele, em italiano. Os pacientes, em português da roça. E, no entanto, se entenderam perfeitamente. Tanto ele quanto os outros

sabiam, acima das diferenças das línguas, a semelhança das verdades. E era comovente e impressionante presenciar o diálogo. Um invejável e verdadeiro diálogo, talvez o único que possa existir entre seres humanos. Basaglia sabia uma coisa elementar: que a miséria é a mesma em toda parte e que a sua linguagem não pode diferir. Os oprimidos falam, em qualquer língua, a mesma linguagem. Assim como usam a mesma nudez e passam a mesma fome de alimentos. É difícil aceitar a morte de Basaglia. A gente a sente como uma espécie de traição. No entanto, é com sua morte que ele nos dá maior prova de sua existência. Como diz Guimarães Rosa, ‘a gente morre para provar que viveu’. E Basaglia, ao morrer, se fez universal, provou que viveu, deixou em toda parte a impressão de sua grandeza. Os italianos dizem que se deve “ver Nápoles e depois morrer”. Aprendemos que foi preciso conhecer Basaglia para começarmos a acreditar na importância de viver. Pelo menos

como profissionais na área de saúde mental, em que vivíamos impregnados por uma psicopatologia importada, por uma psicofarmacologia da moda, por uma psicoterapia seletiva, aprendemos que existe um submundo de que não queríamos ouvir falar, onde estão enterrados vivos os doentes mentais pobres, incapazes de se fazerem ouvir, vítimas de seu pior pecado: a miséria. Formados que somos em escolas de sucesso, tínhamos que ignorar a realidade do hospício, na busca de uma clientela mais próxima de nossa formação. Basaglia nos acordou. E quem nos acorda é, muitas vezes, incômodo. No entanto, ao que nos parece, Basaglia nos acordou como quem acorda os mortos, para uma ressurreição.” (*) Psiquiatra que primeiro denunciou o horror do comércio de cadáveres em Barbacena (MG). Ainda atual, o artigo foi escrito em 1980, quando a reforma psiquiátrica mineira teve início, pondo fim aos hospícios.

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1 PERSPECTIVA 2015

Que ouvidos tem

Pimentel?

Eles trarão a marca de um governo revolucionário na área ambiental, tal como a prática política que o psiquiatra italiano Franco Basaglia adotou na área da saúde mental, pondo fim à desecologia dos manicômios mineiros? Hiram Firmino

FOTO: DIVULGAÇÃO

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is a questão central posta, desde o alvorecer do primeiro dia do ano, para o economista Fernando Pimentel. Em sua nova e surpreendente missão à frente do governo de Minas, o ex-prefeito de BH e ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio da presidente Dilma deve esta resposta ao meio ambiente que nos resta: será ele como a maioria nada revolucionária dos políticos que já tivemos, insensível à causa que hoje mais deveria preocupar a humanidade? Uma causa que, mesmo com dimensão e prioridade planetárias, vide o estado de degradação de Minas, do Brasil e do mundo, em pleno inferno climático, não foi sequer mencionada como se esperava pelos candidatos à presidência da República e aos governos estaduais? Como a Ecológico mostrou em sua edição 75 (acesse goo.gl/ D8tjJY),uma causa, enfim, que mesmo

com o país inteiro cada vez mais sem água e pegando fogo, não conseguiu sensibilizar a agenda político-partidária brasileira? Essa é a realidade. Triste, mas verdadeira. Não apenas os ambientalistas e as ONGs, por meio das redes sociais, mas todos os eleitores que apoiaram, votaram e fizeram Fernando Pimentel vencer as eleições em Minas, ainda se lembram de seu lema vitorioso na campanha – “Ouvir pra governar” – e de sua promessa em restituir a autoestima da população: “Comprometo-me a construir uma nova Minas com a ajuda de cada mineiro. Nosso programa de governo será feito com a ajuda de milhares de mineiros que ouvimos e conversamos durante vários meses percorrendo cada canto do estado. Isso é só o começo de um novo tempo para Minas Gerais”. O QUE FAZER? São dois caminhos, pontuais e pragmáticos. O primeiro deles, apoiado pela maioria dos ambientalistas históricos que ouvimos, incluindo aqueles que já tiveram experiência à frente de órgãos públicos, é a criação de uma agência ambiental, a partir de um novo e revolucionário papel a ser dado à Fundação Es-

PIMENTEL já ouviu as propostas dos ambientalistas. O protagonismo agora está nas mãos dele

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FOTO: FABIO RODRIGUES POZZEBOM / ABR

TERÃO os novos governador e secretário estadual de Meio Ambiente ouvidos para escutar o clamor das florestas em chamas e dos nossos rios poluídos e em vias de secar?

tadual do Meio Ambiente (Feam), a exemplo de várias instituições exitosas, principalmente dos EUA e de alguns países europeus. Trata-se de uma proposta governamental inovadora, muito além do já exaurido e questionável modelo de fiscalização e controle atual, incapaz de fazer frente ao processo de degradação em curso. Simples, ousado e revolucionário assim. É o que mostramos a seguir, em forma de um artigo assinado por José Cláudio Junqueira, que já foi secretário de Meio Ambiente de BH e presidente, três vezes, da Feam, além de integrar o Conselho Editorial da Revista Ecológico. OUVIR NATURAL Pimentel deve ouvir não apenas os companheiros que o apoiaram na campanha; mas todos os ambientalistas, sem distinção, até porque a

questão ecológica é apartidária e o próprio governador Pimentel os conhece pessoalmente. Este é o segundo caminho, pra não dizer “atalho de tempo”, que sua administração, via Semad, pode lançar mão imediatamente e sem medo de errar, em vez de querer reinventar a roda. Foi o que a Ecológico publicou na edição 69 (acesse goo.gl/Fjr1hP), quando da saída do ex-titular da Semad, Adriano Magalhães. Antes da posse de seu substituto, o procurador do Estado e então secretário Alceu Torres Marques, a revista fez um levantamento dos principais desafios e soluções da pasta ambiental em Minas, ouvindo, um a um, os 20 integrantes dos seus conselhos editorial e consultivo, formados por ex-secretários de Estado, presidentes de órgãos ambientais e um ministro. A intenção era municiar o futu-

ro secretário, vindo de uma área diferente, a entender mais rapidamente o tamanho do desafio que ele tinha pela frente e o que fazer diante de uma pasta historicamente incompreendida e menosprezada pelos governantes, sem recursos justamente por causa dessa visão preconceituosa. Infelizmente, não deu tempo. Alceu Torres até chegou a conhecer de perto toda a desarticulação do Sistema Estadual de Meio Ambiente, envolveu-se e se emocionou com a lida militante dos 2.700 funcionários mal remunerados que compõem a equipe de trabalho da Semad na capital e no interior, onde a situação é ainda pior. Resumo da ópera: até o final do seu secretariado, ele pouco conseguiu fazer. A nova ópera que se inicia agora no Governo Pimentel: os principais

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1 PERSPECTIVA 2015 problemas e soluções possíveis continuam atuais, conhecidos e mapeados. Basta enfrentá-los, como já sugerido por quem entende, é suprapartidário e tem história na causa. É o que resumimos na página 50. SURDEZ ANTIGA O único receio dos ambientalistas, e foram eles que originariamente exigiram e ajudaram a criar os órgãos ambientais que temos hoje, incluindo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), inspirado no modelo do Conselho Estadual de Política Ambiental, o Copam mineiro, é que Fernando Pimentel e seu secretário Sávio Souza Cruz não os ouça. E, com isso, se repetir novamente, ao longo de mais quatro anos de governo, o principal erro da maioria dos nossos políticos e administradores públicos: achar que a história, também no caso ambiental, começa e termina com eles, a cada nova eleição. Ou seja: passam metade dos seus mandatos tentando “limpar” a lembrança e os feitos de seus antecessores no cargo. E a outra metade, sem tempo de concluir, “levantando” o óbvio que já se conhecia. Essa necessidade insustentável de “imprimir” marcas pessoais foi denunciada há muitos anos, no então Governo Hélio Garcia, pelo seu assessor de imprensa à época, o memorável jornalista político Geraldo Bandeira de Melo. Esperamos, no entanto, que ele esteja errado em relação ao governo que se inicia. E que Fernando Pimentel não apenas nos surpreenda. Que ele seja o administrador público revolucionário que político algum ainda conseguiu ser na história ambiental brasileira: ouvir a natureza para governar com ela. Ele terá essa sabedoria? E coragem para lutar por ela? É o que a Ecológico irá acompanhar e torcer.

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AS PROMESSAS DE PIMENTEL Em entrevista à Revista Ecológico antes das eleições, o novo governador falou sobre suas propostas na área ambiental, que rememoramos a seguir. E que iremos noticiar e cobrar, com sua companhia, caro leitor, nos anos que virão: Resíduos Sólidos “Minas precisa avançar na elaboração do Plano Estadual de Resíduos Sólidos e ajudar os municípios a elaborar seus projetos técnicos próprios ou reunidos em consórcios, e a viabilizar o aporte de recursos do governo federal. Ainda vamos criar um fundo específico e desonerar tributos para o setor de saneamento.” Licenciamento ambiental “Uma das nossas propostas é articular a desburocratização do processo de licenciamento ambiental. Atualmente, 853 municípios mineiros estão habilitados a realizar o licenciamento. Com conselhos municipais de Meio Ambiente estruturados e devidamente qualificados, podemos ampliar esse número e fazer com que a documentação exigida não seja um entrave.” Recursos hídricos “As políticas públicas adotadas em Minas pelo governo anterior não se mostraram eficazes para tratar a questão da água. A prova dessa ineficiência é que, em muitos casos, por falta de fiscalização mais constante, o índice da qualidade das nossas bacias hidrográficas tem piorado. Por isso, é extremamente importante e necessária a participação direta e atuante do poder público. Órgãos como o Igam devem ter condições adequadas de trabalho e autonomia para agir. E isso está previsto no nosso programa de governo.” Unidades de conservação “É extremamente importante a criação de novas áreas protegidas e também a devida manutenção das unidades de conservação já existentes. Atualmente, apenas 14% das unidades têm infraestrutura adequada e planos de manejo. No nosso governo, esse índice será ampliado, assim como a regularização fundiária das áreas já que 70% delas ainda não foram adquiridas pelo Estado. Também é importante que sejam implantadas políticas de educação ambiental que ajudem a preservar nossos parques e sítios arqueológicos.” Contingenciamento de recursos “Estou ciente de que estou herdando um estado com a maior dívida do país: R$ 79 bilhões. Por enquanto, a única garantia que posso dar é a de que todos os esforços serão feitos para revisar as ações da atual administração, revendo-as sempre que necessário.” Orçamento “Segundo o IBGE, em 2013 Minas foi o estado com maior percentual de recursos do orçamento destinados para o meio ambiente: 7%. Seria leviano dizer, sem ter acesso aos reais números das finanças, que vou aumentar esse percentual. Mas me comprometo a aplicar as verbas da melhor forma para assegurar a melhor política ambiental para nosso estado.” Desmatamento “Os dados do desmatamento em Minas demonstram a urgência em se programar e implementar ações efetivas que reduzam essa devastação. É preciso priorizar os mecanismos de fiscalização, monitoramento, controle e recuperação das áreas de ocorrência. Buscar também mecanismos eficientes de cobrança e impedimento aos infratores em relação às multas e penalidades aplicadas. E devemos incluir entre nossos projetos a revitalização de áreas degradadas.”

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1 PERSPECTIVA 2015

Uma nova e nada estranha

esperança no ninho O novo secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável terá como principal desafio reestruturar o Sisema e retirar Minas do topo da lista dos estados mais devastadores da Mata Atlântica, pelo quinto ano consecutivo firmado para assumir a pasta a partir de 2015, em substituição a Alceu Torres Marques. Natural de Belo Horizonte, ele é casado com Juliana Boaventura Figueiredo e tem um filho, Marcelo. Exerce na Assembleia Legislativa de Minas seu quinto mandato consecutivo como deputado. Foi eleito FOTO: LIA PRISCILA / ALMG

Em meio aos inúmeros nomes de candidatos ao cargo de novo secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável aventados pela imprensa nas últimas semanas, o de Sávio Souza Cruz possivelmente foi o mais citado. E esse fato se concretizou no apagar das luzes de 2014, quando ele foi con-

SOUZA CRUZ: o desafio de uma Minas real também na área ambiental

presidente da Comissão de Minas e Energia para o biênio 2011/2012. Sua presença no cargo reeditou o papel que ele teve no biênio anterior, 2009/2010, quando lhe coube presidir a mesma comissão, então recém-criada. Sávio é também membro efetivo da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e membro suplente da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte e da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social. INDEPENDÊNCIA Posicionando-se com clareza e independência no cenário político, Sávio integra na atual legislatura o bloco “Minas sem Censura”, que reúne a voz da oposição responsável. Individualmente e por meio do bloco, Sávio tem reiterado sua análise de que o estado, desde 2003, serve-se das verbas publicitárias e de expedientes antidemocráticos para criar uma Minas ideal distante da real, para exercer controle disfarçado sobre a imprensa, obter a unanimidade de aprovação e fazer progredir um verdadeiro processo de adormecimento da consciência crítica mineira. Formado em Engenharia Metalúrgica pela UFMG e especialista em Engenharia Ambiental pela mesma universidade, Sávio enriquece seu trabalho parlamentar

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LIDERANÇA Eleito vereador em 1992, Sávio Souza Cruz integrou a Comissão de Administração Pública e a Comissão de Meio Ambiente, Política Urbana e Rural e Habitação. Foi eleito presidente dessa última no biênio 1995/1996 e representou a Câmara Municipal como membro efetivo no Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam). No mesmo período, apresentou projetos de que se originaram leis tão relevantes quanto a que criou no município a necessidade de licenciamento ambiental. E relatou, entre outras, a Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo, a primeira grande legislação municipal que cuidou efetivamente de disciplinar o crescimento desordenado de Belo Horizonte. Reeleito vereador em 1996, foi eleito presidente da Câmara para o biênio 1997/1998. Dedicou sua gestão à promoção de uma ampla reforma administrativa, que enxugou o número de cargos de recrutamento amplo, suprimiu a oferta de veículos oficiais aos vereadores e estabeleceu limites para as despesas nos gabinetes.

FOTO: MARIZILDA CRUPPE / GREENPEACE

com rigorosa visão técnica e ampla experiência como engenheiro e professor. Sempre na área da Engenharia Ambiental, Sávio foi pesquisador da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec) e foi diretor da Metais de Minas Gerais (Metamig). Fundou a Ambio Geologia e Engenharia Ambiental, empresa de consultoria respeitada que atuou nas décadas de 1980 e 1990. Paralelamente, Sávio exerceu o gosto pelo magistério. Foi professor de Química e de Física no Colégio Santo Antônio, em BH, e de Engenharia Ambiental nos cursos de Engenharia da PUC Minas. Encontra-se atualmente licenciado em ambos os estabelecimentos.

SEGUNDO estudo publicado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), Minas foi o estado que mais desmatou a Mata Atlântica entre 2012 e 2013: mais de 84,3 km2 foram destruídos

ATUAÇÃO Eleito deputado estadual em 1998, Sávio licenciou-se da Assembleia logo após ter tomado posse para assumir, a convite do Governador Itamar Franco, o cargo de secretário de Estado de Recursos Humanos e Administração. No exercício desse cargo, sucedido pelo de secretário de Estado de Planejamento, Sávio pôs em curso uma reforma administrativa que recadastrou e revitalizou o uso dos imóveis do Estado, leiloou veículos oficiais e deu os primeiros passos para a recuperação da qualidade dos serviços públicos e para a valorização dos servidores, com a oferta de oportunidades de reciclagem, aperfeiçoamento e progressão. Mantendo franca interlocução com os servidores, suas associações e sindicatos, obteve clima de cooperação tal que nenhuma greve ocorreu durante todo o período. PRESENÇA De retorno à Assembleia, Sávio ocupou o cargo de líder do governo, cumprindo missão específica de que fora incumbido por Itamar

Franco. Paralelamente, deu início a um vigoroso trabalho na Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, apresentando vários projetos de lei, entre eles o que deu origem à Lei n° 13.766/2000, que prevê incentivos para os municípios que investirem em coleta seletiva de lixo. Servindo-se de sua experiência como professor e gestor de recursos humanos e de planejamento, incluiu também entre seus temas preferenciais os procedimentos de administração pública, os servidores e o serviço público, o magistério e, ainda, os aposentados, os idosos, a geração de emprego e renda. Com a cisão da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, da qual foi presidente, Sávio elegeu-se vice-presidente da então recém-criada Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e presidente da Comissão de Minas e Energia.

SAIBA MAIS

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1 PERSPECTIVA 2015

Os desafios de M A Ecológico ouviu todos os ambientalistas históricos do estado e resume

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FAZER a regularização fundiária das Unidades de Conservação (UCs) existentes e criar novas áreas visando proteger espaços prioritários para a proteção da biodiversidade.

ANALISAR e votar na Supram central todos os projetos com investimentos superiores a R$ 100 milhões nas áreas de energia e mineração, com geração de empregos maior que 100 postos; mais os que envolvam construção de barragens e minerodutos; e os projetos agrícolas com plantios superiores a 500 hectares.

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AUMENTAR o orçamento da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

MORALIZAR e reorganizar o licenciamento ambiental, tanto em termos de política e de gestão quanto de quadros técnicos. FORTALECER o plenário do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam).

CONSOLIDAR um projeto participativo com os ambientalistas de reestruturação do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema).

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RESGATAR a autoestima dos servidores, melhorando os salários e as condições de trabalho.

RETOMAR os investimentos nas Unidades de Conservação (UCs).

ELABORAR um Plano Regional Ambiental e Estratégico, reunindo todos os diversos empreendimentos públicos e privados que são estratégicos para o Estado, com equivalência a uma Licença Prévia Regional. ESTIMULAR a criação de planos diretores municipais e estadual de proteção à Mata Atlântica.

CAPTAR outros recursos junto às diversas fontes internacionais de financiamento a fundo perdido.

LIBERAR imediatamente os recursos do Bolsa Verde, do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais (Fhidro) e das compensações ambientais, tão necessários à estruturação das UCs.

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e Minas para 2015 aqui o que eles esperam de Pimentel e do novo titular da Semad, Sávio Souza Cruz

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VALORIZAR a educação ambiental em todos os órgãos da Semad que compõem o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). INTENSIFICAR a fiscalização e a rigorosa aplicação da lei no que tange à exigência dessa disciplina como medida compensatória e/ou condicionante nos processos de licenciamento ambiental. IMPLANTAR e implementar, em definitivo, a gestão pública da fauna silvestre em Minas.

Monitorar e controlar a efetiva aplicação da Lei 12.305 de agosto de 2010, referente ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos.

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OTIMIZAR ações que levem à aquisição de novas áreas naturais cuja preservação seja prioritária, em especial as veredas e nascentes d’água, bem como à saúde de nossos rios.

CRIAR efetiva e eficientemente as análises acuradas de EIAs/RIMAs e outros estudos para licenciamentos e, especialmente, de uma seção na secretaria que cubra, efetivamente e no devido tempo, as condicionantes exigidas para os empreendimentos.

PUBLICAR o “Livro Vermelho da Fauna Ameaçada do Estado de Minas Gerais” e homologar a “Lista das Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção em Minas”. POTENCIALIZAR e otimizar os recursos de compensação sobre os impactos ambientais de empreendimentos produtivos, cujo pagamento é regulamentado pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

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ORGANIZAR um processo de consulta a especialistas para debater uma plataforma mínima de compromissos, incluindo temas como gestão de água e transparência na aplicação de compensações.

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INSTITUIR o desmatamento zero em todo o estado.

FOTO: ROBERTO MURTA

COBRAR pelo uso da água no setor de mineração.

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FOTO: ALFEU TRANCOSO

1 PERSPECTIVA 2015

ERMO DAS GERAIS, no Parque Nacional da Serra do Cipó: testemunha ocular e ainda preservada de uma Minas que luta para retornar à vanguarda da política ambiental brasileira

Uma chance para

Minas avançar José Cláudio Junqueira (*)

Há um certo consenso de que o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Sisema) vem se degradando ao longo dos anos e está “desmantelado”. Sávio Souza Cruz, novo titular da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), enfrentará grandes desafios, em razão da fragmentação do sistema e, em especial, diante das dificuldades que emperram o licenciamento ambiental – situação que tem motivado inúmeras reclamações.

Com base na consultoria que prestei em projeto financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre gestão ambiental no Brasil, e na minha experiência acadêmica, cheguei à conclusão de que o modelo ideal para o funcionamento eficaz do órgão regulador de meio ambiente é o de agência. Em seu conceito, agência é um órgão destinado a regular mercado ou um bem público. Portanto, traz consigo a oportunidade de avançarmos na visão do meio ambien-

te como um bem público – sendo água, ar, solo, fauna, flora e toda a biodiversidade patrimônio da coletividade – e indispensável ao crescimento econômico e social. No modelo federal, no qual temos o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ibama, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Agência Nacional de Águas (ANA), o órgão que vem apresentando o melhor desempenho, na minha avaliação, é a ANA, exatamente por ser uma agência responsável por

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FOTO: ALFEU TRANCOSO

regular e apoiar o desenvolvimento de políticas, programas e de projetos destinados à adequada gestão e uso racional dos recursos hídricos. MAIOR AUTONOMIA Como autarquias de regime especial, as agências têm maior autonomia financeira e administrativa, além de seus diretores serem nomeados por mandato. Esse modelo é o que há de mais moderno na administração pública mundial, a exemplo do que se vê na Alemanha, Austrália, Canadá, França e Japão. São as chamadas agências de segunda geração, como a Agência Federal do Meio Ambiente alemã (Uba) e a Agência do Meio Ambiente e Gestão da Energia francesa (Ademe), que se destacam por atuar para além dos mecanismos de comando e controle. Nesses países, a obrigação de definir metas e de controlar as emissões atmosféricas, o lançamento de efluentes líquidos e a gestão de resíduos sólidos do setor industrial, por exemplo, é do próprio Ministério da Indústria. São definidas as metas a serem cumpridas e cada setor (mineração, construção civil, comércio, serviços, saúde etc.) assume e cumpre as suas responsabilidades. Com as agências, é possível praticar a transversalidade, numa importante mudança de paradigma. Algumas empresas brasileiras já estão aplicando esse conceito da transversalidade por meio da implantação de sistemas de gestão ambiental integrada. Comprovei isso em recente visita à fábrica da Fiat, em Betim. A visão da existência de uma gerência de meio ambiente, ou de um órgão ambiental que deve se responsabilizar isoladamente pelo controle de tudo, é coisa do passado, do século XX. Precisamos

JOSÉ CLÁUDIO: “Minas precisa de um modelo mais inovador de gestão pública adequado à sua realidade”

nos atentar que já estamos na segunda década do século XXI. Nos novos sistemas, as metas e os parâmetros de controle são definidos e acompanhados por um comitê gestor, mas a responsabilidade da gestão é compartilhada. Todos os setores operacionais estão envolvidos e trabalham para cumprir metas em termos da redução do consumo de água, de energia elétrica, da geração de resíduos, do controle de efluentes etc. É sempre bom lembrar que sistema de gestão não é sinônimo de sistema de controle. Enquanto o segundo se baseia na autoridade, o primeiro se consolida pela liderança. PAPEL DO COPAM Na administração pública de Minas já temos há anos um órgão equivalente a esse comitê gestor que vem sendo implantado pelas empresas. Trata-se do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) instituído de forma pioneira em 1977, antes mesmo da criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em 1981. O Copam é um colegiado com representação paritária entre poder

público e sociedade civil, por meio da participação de representantes dos setores produtivos, técnicocientíficos e das ONGs ambientalistas. Essa ideia de se criar uma agência reguladora ambiental foi apresentada em Minas em 2007, mas não vingou. Agora, com um novo governo, essa discussão volta à tona e cria uma nova chance para que Minas reassuma o protagonismo ambiental que sempre foi a sua marca registrada. É óbvio que a migração para o modelo de agência não se dará da noite para o dia. Deverá exigir inclusive mudanças na legislação estadual. Mas, como não deve ser um projeto a ser aprovado por imposição, mas por construção de forma compartilhada, acredito que esta é a hora de Minas dialogar, demonstrar a sua força e avançar. Tendo, acima tudo, a clara visão de que o órgão responsável pela gestão de um bem de valor inestimável como o meio ambiente é um órgão político, não de politicagem. Não deve, portanto, ficar ao sabor deste ou daquele partido, deste ou daquele aliado. Não se trata de defender o continuísmo, mas sim a continuidade de políticas, programas e projetos, o que é bem diferente. Infelizmente, nos últimos anos, Minas perdeu voz em nível nacional. E uma das causas desse “apagão ambiental” foi a centralização cada vez maior das atribuições da Semad, que se transformou em um órgão executivo extremamente centralizador. A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) foram completamente esvaziados em suas funções de agentes reguladores. PONTO NEVRÁLGICO Assim, até que se construa algo

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1 PERSPECTIVA 2015 "O novo secretário tem a possibilidade de instituir em Minas um órgão regulador do meio ambiente com real transversalidade, participação e responsabilização de todos os setores envolvidos."

SOMBRA OU ESCURIDÃO, os ambientalistas esperam que o Governo Pimentel dê o necessário e urgente status político que a questão ambiental nunca teve em Minas

novo na administração pública mineira, um passo importante a ser dado seria vincular as Superintendências Regionais de Regularização Ambiental (Suprams) à Feam, que deveria ser o órgão para oferecer suporte, referência técnica e treinamento, principalmente aos responsáveis pelos processos de licenciamento ambiental – hoje o ponto nevrálgico do sistema. Atualmente, atingem níveis alarmantes as reclamações sobre morosidade, falta de capacidade instalada pela alta rotatividade, processos de licenciamento ambiental parados ou sendo discutidos judicialmente. A descentralização das atividades foi excelente, mas não está sendo acompanhada do aparelhamento previsto, em especial no que se refere à capacitação dos agentes ambientais. A renovação do quadro de pessoal é bem-vinda, mas o treinamento dos que chegam é crucial para garantir qualidade e celeridade aos serviços prestados. A exemplo das agências europeias, a Feam deveria assumir o

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papel de coach (treinador/orientador) dos agentes de licenciamento ambiental que estão lá na ponta do sistema. Hoje, conforme o dito popular, “puxaram a escada e eles estão no ar, com a brocha na mão”. O caso contado outro dia, por um aluno meu, reflete essa fragilidade das Suprams. Contratado como garçom pela rede internacional de restaurantes Outback, em um shopping de Belo Horizonte, ele passou quase dois meses em treinamento antes de assumir suas funções. Parte da capacitação incluiu uma semana inteira dedicada somente à leitura de manuais sobre os valores, a filosofia e a forma de trabalho da empresa. Na sequência, até atingir o total de mesas que deveria servir, ele passou vários dias apenas observando o movimento de clientes no restaurante e ajudando um garçom já experiente. Tempos depois, esse mesmo aluno meu foi admitido como estagiário da Supram Central Metropolitana, em BH. Logo no primeiro dia de trabalho, ele

recebeu uma pilha de processos para despachar, sem passar por nenhum treinamento introdutório. Em suma: não se trata de dar aqui uma receita de bolo. O foco dessa reflexão é incentivar o diálogo sobre a possibilidade de Minas instituir um órgão regulador do meio ambiente com real transversalidade, participação e responsabilização de todos os setores envolvidos. Vários países já fazem isso e parte das indústrias brasileiras também. Tanto nos governos quanto nas empresas, quem lidera o processo tem de estar convencido de que é preciso e possível amadurecer e avançar. Minas Gerais merece que se construa um modelo de gestão pública adequado à nossa realidade e, sobretudo, que se faça jus ao nosso reconhecido vanguardismo na seara ambiental brasileira. (*) Ex-secretário de Meio Ambiente de BH, foi presidente da Feam e é professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec e do Mestrado em Direito Ambiental da Escola Superior Dom Helder Câmara.

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BH NA ROTA DA LUZ Físico mineiro coloca a cidade no calendário mundial de eventos do “Ano Internacional da Luz” e aponta as novas perspectivas da divulgação científica

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or decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas e em consonância com a Unesco, em sua 68ª reunião realizada em dezembro de 2013, a luz e as tecnologias nela baseadas (LEDs, fibras óticas, lasers, lâmpadas e outros dispositivos) serão celebradas ao longo de 2015, que passará a ser referido como “Ano Internacional da Luz”. Inúmeras atividades estão sendo planejadas e serão realizadas para públicos de diferentes graus de instrução e idades em todo o mundo. A Über - Laboratório de Tendências colocou Belo Horizonte na rota da programação com três atividades registradas no calendário mundial do evento: os cursos “Relatividade Geral para não-espe-

cialistas”, “Introdução à Astrofísica” e “Einstein no Terceiro Milênio”. Em entrevista à Ecológico, o professor Aba Cohen Persiano, coordenador dos cursos, pesquisador e físico da UFMG e PhD pela Universidade de Londres, falou mais sobre as atividades, que serão conduzidas por renomados especialistas e que acontecerão na sede da Über (Rua Germano Torres, 6, loja Savassi, BH) a partir de março. Confira: Na sua avaliação, qual a importância do "Ano Internacional da Luz"? O AIL coloca a luz no devido lugar: ela desempenha um dos principais papéis na ciência e tecnologia de nosso tempo, desde a fotossíntese, de grande in-

teresse para a crescente demanda de alimentos e regulação da quantidade de carbono despejada na atmosfera, passando pelos lasers utilizados em cirurgias às telecomunicações e o próprio conhecimento de nosso Universo. Além da luz visível, outras manifestações de mesma natureza (eletromagnética) permitem o fluxo de informações digitais/internet como também, por exemplo, a transmissão ou recepção de dados e imagens obtidas por telescópios espaciais, nas faixas de raios-X ao infravermelho. Foi com uso e domínio dessa tecnologia que se descobriu a existência de um buraco negro no centro da Via Láctea. O uso de aplica-

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Quais são as expectativas para 2015? Em todo o planeta estão programados encontros científicos, exposições, workshops, cursos e outros eventos com o objetivo de divulgar fatos relacionados à luz e também de conscientizar a população para a sua importância em nossas vidas. Em 2015, celebramos os 200 anos da proposta de Fresnel sobre a propriedade ondulatória da luz, 150 da proposta de Maxwell, da luz como fenômeno eletromagnético e o centenário da “Teoria da Relatividade Geral”, que colocou a luz como objeto de revelação das deformações espaço-temporais do Universo. Teremos grande honra em poder celebrar e divulgar essas e outras descobertas e aplicações do uso da luz para o público de BH. Serão realizados cursos na capital mineira? Ao longo de 2015 ofereceremos à população de Belo Horizonte três cursos comemorativos, dirigidos ao público interessado em temas científicos: o primeiro é o já consagrado curso “Einstein no Terceiro Milênio”, voltado para pessoas de formação superior, provenientes de qualquer área do conhecimento; o segundo curso é dedicado a pessoas das áreas das Ciências Exatas e busca divulgar a “Teoria da Relatividade Geral”; o terceiro curso será dedicado aos interessados na Astrofísica e será ministrado pelo professor-pesquisador Rodrigo Dias Tarsia. A luz desempenhará papel relevante nas apresentações dos três cursos. O que significa colocar Belo Horizonte na rota desta agenda da Unesco?

BH sedia centros de excelência que pesquisam temas relacionados à luz: no Departamento de Física da UFMG há importantes grupos trabalhando com óptica quântica, assim como na interação da luz com a matéria para estudo de materiais nanoestruturados e também sistemas opto-eletrônicos. O Cetec é outro centro que estuda sistemas fotovoltaicos visando à conversão de luz em eletricidade. Nossa iniciativa de propor atividades de divulgação científica de qualidade visa trazer conhecimentos dessa natureza e outros, relacionados à luz, de modo que o AIL possa levar esses conhecimentos para fora da academia fazendo-os chegar ao grande público. Quais são os desafios que giram em torno da luz e de suas tecnologias? São crescentes os estudos relacionados às tecnologias associadas à luz. A microeletrônica está com os dias contados e é cada vez maior o número de dispositivos opto-eletrônicos. Além disso, em 2014 assistimos a descobertas fantásticas relacionadas à possibilidade de a

FOTO: SUSANA COHEN

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ções gerais advindas desse grande espectro eletromagnético será celebrado ao longo de 2015.

ABA COHEN: “A luz desempenha um dos principais papéis na ciência e na tecnologia hoje”

luz proveniente dos primeiros instantes do Big Bang transportarem informações nunca antes previstas ou imaginadas. Nesse caso, a observação de padrões bem determinados da polarização da luz poderá revelar muitos dados sobre os primeiros instantes do nosso Universo; esse assunto está em aberto e precisa ser investigado em minúcias. Foi também em 2014 que a Academia Sueca de Ciências reconheceu o valor dos LEDs azuis (tema do Prêmio Nobel de Física passado), que deram abertura a outros estudos, como também viabilizou a produção de painéis (TVs etc.) multicoloridos. Estudos das distorções da luz ao atravessar a vastidão do Universo poderão revelar muitos dos mistérios ainda a serem descobertos. Como os cidadãos podem lidar de maneira sustentável com a luz? Vou citar um exemplo: as manchas solares, que se intensificam a cada 11 a 12 anos (e 2014 foi um período de grande atividade) liberam uma enormidade de radiações nocivas à humanidade, telecomunicações etc. Entre elas, os raios ultravioleta. Nossa atmosfera, quando íntegra, nos protege dessas radiações que, entre outros males, podem causar câncer de pele. Saber como manter a integridade da atmosfera, preservando a camada de ozônio, ou aprender como nos proteger dessa radiação é um exercício que só se resolve por meio da conscientização dos cidadãos. Um dos papeis do AIL e dos nossos cursos é trazer ao grande público conhecimentos que o tornem mais consciente do que é a luz, sua beleza, utilidade e também o seu risco, quando má administrada.  SAIBA MAIS

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

SERÁ CINZENTO O

NOVO GOVERNO? T

riste governo foi o de Antonio Augusto Anastasia na área ambiental. Não ele próprio, sempre solícito e aberto a nos ouvir. Mas a maioria da sua equipe de primeiro escalão, de mãos dadas a um legislativo igualmente míope para a questão ambiental que ameaça o planeta, o país, e não somente as nossas montanhas, vales e rios, mais degradados a cada novo governo que passa. Embalados por sua atuação quando era vice-governador, acreditávamos que Minas fosse avançar muito durante a sua administração. A nomeação de Adriano Magalhães para a Semad trouxe promessas de mudanças ousadas. Seu discurso era trabalhar com planejamento, definição de prioridades e modernização administrativa da pasta. Mas o planejamento transformou-se em centralização absurda e ditatorial de poder em seu gabinete e no da subsecretária de Regularização Maria Cláudia Pinto. A modernização sucumbiu a outros interesses. Ele entregou à Auditoria Geral do Estado (AGE) o poder de palpitar em tudo, burocratizando ainda mais processos que deveriam ser simples. Isso, somado à decisão do governo de centralizar tudo na Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), que tem apreço e respeito pela área ambiental, transformou simples compras em processos morosos e muitas vezes inúteis. A definição de prioridades nunca saiu da conversa. O poder de fiscalização do Instituto Estadual de Florestas (IEF) foi retirado sob promessa temporária de sanar irregularidades e corrupção por meio da criação de uma subsecretaria específica. Mas a situação piorou, pois a fiscalização continuou a ser feita como era, através de “operações” periódicas, e a parcela dos bons técnicos que atuava no dia a dia

da instituição nada mais pôde fazer contra a pesca predatória e o desmatamento. Minas, pelo quinto ano consecutivo, foi o estado que mais derrubou Mata Atlântica no país. Já criticávamos os governos Aécio Neves pelo baixo percentual de regularização fundiária das unidades de conservação. Na gestão de Adriano Magalhães, chegou próximo a zero. Os parques foram praticamente abandonados à sua sorte e ao heroísmo de seus gerentes, em meio a todo tipo de dificuldades. Até os recursos da compensação ambiental por vinculação destinados a eles foram sequestrados e desviados para outras áreas da administração pública. Satisfação alguma foi dada à sociedade. Nem mesmo ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Os sintomas de autoritarismo governamental e exclusão da sociedade nas políticas ambientais que já se esboçavam no governo anterior tornaram-se mais agudos. A descentralização do Copam, que já mostrava sinais de ineficiência e negatividade devido à forma como foi feita no governo Aécio Neves, piorou ainda mais. Pareceres incorretos, tendenciosos, alinhamento das secretarias de governo na concessão de licenças com propostas inaceitáveis ambientalmente tornaram-se ainda mais comuns. Na discussão e votação da Lei Florestal Mineira, Adriano Magalhães não perdia oportunidade de nos dizer que o governo estava preparando uma proposta de Projeto de Lei (PL) para ser discutido com a sociedade. Enviaram-no fechado à Assembleia e ele ainda teve coragem de dizer que não deu tempo de discuti-lo com a sociedade, e mesmo com o Copam, que por lei tem competência de definir diretrizes da política ambiental no Estado, uma vez que os ruralistas estavam pressionando

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"A natureza não tem partido político e a cor da esperança é o verde das florestas que ainda restaram em Minas Gerais."

muito. E tudo correu como os ruralistas queriam, sob as bênçãos do Palácio Tiradentes. O último governo foi o que provavelmente menos criou UCs de proteção integral e o que menos investiu na estruturação dos parques estaduais, reservas ecológicas existentes. Na RIO+20, Adriano Magalhães pintou um quadro otimista do estado, anunciando a criação de mais de meio milhão de hectares de áreas protegidas na região Norte, onde ainda se abriga uma expressiva biodiversidade. Ficou no anúncio! Enquanto o governo estimulava o avanço da ocupação do Vetor Norte, o Sistema de Áreas Protegidas, condicionante da licença da Cidade Administrativa, criada com apoio do então vice-governador Anastasia, foi tratado como irrelevante. Os parques atravessaram a violenta seca de 2014 sem veículos para transportar brigadistas e equipamentos de combate a incêndios. No dia 17 de novembro passado, o governo suspendeu a compra de combustível para abastecer os poucos veículos que ainda restavam nas unidades de conservação e até a publicação deste artigo o impasse ainda não tinha sido resolvido. Ao longo dos dois últimos anos, após o sequestro de recursos da Semad, por diversas vezes, cobrando apuração de denúncias, ouvimos da PMMA e de técnicos do Sisema que não podiam fazer vistoria por falta de veículo e diária. Dentro da Semad, dezenas de vezes ouvimos o desabafo de funcionários indignados e desanimados com a desastrosa situação do Sisema. E, assim, chegou ao fim o governo iniciado por Anastasia e terminado por Alberto Pinto Coelho, com a Semad sob gestão de Alceu Torres Marques, que deixou pelo menos algumas propostas positivas de modificações normativas, administrativas e de ações para o futuro governo como legado. Mas a natureza não tem partido político e a cor da esperança é o verde das florestas que ainda restaram em Minas Gerais. Feliz 2015 para as florestas, serras, rios, onças, araras, cotias, pássaros, etc. mineiros com o próximo governo!  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

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1 SAÚDE

O MAPA DE UM

BRASIL DOENTE Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) aponta que quase 40% dos brasileiros têm pelo menos uma doença crônica. Alimentação inadequada é uma das causas Alana Grana, da Agência Brasil redacao@revistaecologico.com.br

A

primeira edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada no final do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), identificou que 39,3% dos brasileiros adultos, com 18 anos ou mais, foram diagnosticados com pelo menos uma das 11 doenças crônicas não transmissíveis citadas no levantamento - câncer, depressão, colesterol alto, diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares, Acidente Vascular Cerebral (AVC), asma, insuficiência renal, problemas de coluna e problemas osteomoleculares. Juntas, essas doenças respondem por mais de 70% das mortes no país. Os pesquisadores visitaram 80

mil casas em 1,6 mil municípios de todas as regiões durante o segundo semestre de 2013 e expandiram os resultados obtidos para um universo de 146,3 milhões de pessoas. A pesquisa mostrou que a situação é preocupante, a começar pela alimentação inadequada e o sedentarismo, responsáveis por grande parte dessas enfermidades. A PNS estimou que o Brasil tem 31,3 milhões de hipertensos (21,4% do total), 27 milhões de pessoas com problemas na coluna (18,5%) e 2,2 milhões que já sofreram um AVC. Parte da população (12,5%) foi diagnosticada com colesterol alto, enquanto 6,2% têm diabetes e 4,2% apresentam algu-

ma doença cardiovascular. A Região Sudeste liderou os diagnósticos de hipertensão, com 23,3%. Entre as mulheres adultas, a prevalência da doença foi maior (24,2%) que entre os homens (18,3%). Em todo o Brasil, 69,7% dos hipertensos disseram receber assistência médica nos 12 meses anteriores à pesquisa. As unidades básicas de saúde foram responsáveis por 45,9% dos atendimentos aos hipertensos. COLESTEROL, DEPRESSÃO E ALCOOLISMO No que se refere ao colesterol elevado, a proporção maior foi encontrada também nas mulheres adultas (15,1%). Entre os homens, o percen-

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tual foi 9,7%, sendo que, para ambos os sexos, a principal recomendação médica para baixar a taxa de colesterol é uma alimentação saudável (93,7% dos casos). Outra vilã da saúde no Brasil é a depressão, doença que acomete 11,2 milhões de adultos. Desse total, somente 46,6% tiveram assistência médica nos 12 meses anteriores à pesquisa. A PNS identificou que 24% da população adulta costumava ingerir bebida alcoólica pelo menos uma vez por semana, sendo que esse hábito é mais frequente entre os homens (36,3%) do que entre as mulheres (13%). “Quando se associa a bebida à direção, verifica-se que a proporção de homens (27,4%) supera a de mulheres (11,9%)”, afirma Maria Lúcia Vieira, gerente da pesquisa. Entre os brasileiros acima de 18 anos que dirigem veículos no trânsito, 24,3% admitiram ter dirigido automóvel ou motocicleta após ingerir bebida alcoólica. TABAGISMO Do total de adultos pesquisados no Brasil, 12,7% eram fumantes diários e 17,5%, ex-fumantes, em 2013. Entre os fumantes diários, os homens foram a maior parcela: 16,2%, contra 9,7% de mulheres. O cigarro industrializado foi o produto do tabaco mais consumido por 14,5% dos fumantes. A PNS mostrou ainda que 46% dos adultos consultados não costumavam praticar atividades físicas em nível satisfatório tanto no lazer quanto no trabalho, em casa ou no deslocamento para o trabalho. No lazer, considerado mais importante pelos técnicos do IBGE, 27,1% dos homens acima de 18 anos praticavam o nível recomendado de ativi-

OS HÁBITOS DOS BRASILEIROS PARA O MAL

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,4% consomem refrigerantes regularmente

24

,3% afirmaram ter dirigido após consumir bebida alcóolica

77

,5% não praticam exercícios físicos regularmente

37 28

,2% consomem carne com excesso de gordura ,9% passam mais de três horas diárias vendo TV

dades físicas em 2013. Entre as mulheres, o índice foi de 18,4%. Entre os adultos, 28,9% admitiram assistir à televisão por um período acima de três horas por dia. Conjugado ao fato de não praticarem atividades físicas suficientes no tempo livre, principalmente, isso amplia a possibilidade de se tornarem obesas e, em consequência, sujeitas a outras doenças, alerta a pesquisa. Em 2013, 37,3% da população relataram seguir a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) no que se refere ao consumo de frutas e hortaliças, que envolve a ingestão diária de, pelo menos, 400 gramas desses alimentos. São destaques as regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde o consumo de frutas e hortaliças atingiu 43,9% e 42,8%, respectivamente. Maria Lúcia chamou a atenção, em contrapartida, para o fato de 37,2% dos brasileiros adultos terem admitido consumir carne vermelha ou frango com ex-

PARA O BEM

37

,3% seguem recomendações de nutricionistas e consomem mais hortaliças e frutas

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,6% consomem peixe pelo menos uma vez por semana ,1% tentaram parar de fumar no último ano ,9% consomem feijão com regularidade

,4% não substituem as refeições por sanduíches, salgados ou pizzas Fonte: ibge.gov.br

cesso de gordura, principalmente na Região Centro-Oeste (45,7%). O consumo desses alimentos foi maior entre os homens (47,2%) do que entre as mulheres (28,3%). Maria Lúcia avaliou que, embora as mulheres fumem menos e bebam menos do que os homens, elas ficam mais doentes, de forma geral. A diferença, segundo esclareceu a gerente da PNS, é que a pesquisa abordou as doenças crônicas e não o fato de as pessoas terem ou não a doença. “A gente sabe que as mulheres frequentam mais os consultórios médicos, elas procuram mais que os homens, por isso têm mais diagnóstico. Além disso, elas atingem idades mais avançadas e essas doenças crônicas ocorrem em maior proporção conforme a idade aumenta. Essas seriam as justificativas para as mulheres terem uma prevalência maior dessas doenças.”  JANEIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  61

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1 CIDADES

MEDELLÍN, capital da Colômbia, exemplo de revitalização urbana sustentável dentro do conceito de cidade empreendedora: para transfomar é preciso conhecer

POR UM FUTURO MELHOR Seminário internacional realizado pelo Sebrae incentiva reflexão sobre os rumos do desenvolvimento econômico, social e ambiental das cidades. União de ideias é o motor da transformação urbana

P

lanejamento urbano, desenvolvimento econômico e conservação ambiental são a chave para que tenhamos cidades mais humanizadas, sustentáveis e competitivas. Essa combinação esteve no foco dos debates ocorridos entre 1º e três de dezembro, no Hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte, durante o “Seminário Internacional Cidade Empreendedora”. Atualmente, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 54% da população mundial

vive em áreas urbanas e a estimativa é de que esse percentual chegue a 66% em 2050. O encontro, promovido pelo Sebrae Minas e pela Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (ARMBH), reuniu especialistas em urbanismo do Brasil e de outros países, representantes de escritórios de design, lideranças políticas e empresariais, bem como estudantes universitários, que participaram de palestras e debates sobre os rumos do crescimento das

cidades, consideradas as grandes responsáveis por liderar iniciativas e endireitar o desenvolvimento sustentável em âmbito global. Exemplos do Brasil e de diferentes partes do mundo foram apresentados, comprovando que é possível transformar para melhor as condições de vida da população e os espaços públicos urbanos, por meio de projetos com foco no crescimento ordenado, aliando preservação ambiental, melhoria da mobilidade, conservação do patrimônio históri-

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FOTO: DOLLARPHOTOCLUB FOTO: ADÃO DE SOUZA / PBH

NO SEMINÁRIO, que contou com a participação do vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente de BH, Délio Malheiros, a lembrança de Jaime Lerner: “O carro de hoje é o cigarro de ontem”

é destacar a importância da formação de líderes para o desenvolvimento local e o empoderamento do cidadão como o principal ator do processo de mudança.” CINTURÕES DE CRISE O diretor de Operações do Sebrae Minas, Fabio Veras, enumerou problemas comuns à maioria das cidades brasileiras, como a invasão de terras, a proliferação de condomínios irregulares e a precariedade FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

co e arqueológico das cidades. Na cerimônia de abertura, o diretor-superintendente do Sebrae Minas, Afonso Maria Rocha, lembrou que os empreendedores individuais e as micro e pequenas empresas representam 99% dos empreendimentos existentes no estado, sendo responsáveis por 52% dos empregos formais e 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Para Rocha, quando se analisa a cidade como um território, percebe-se que é fundamental o envolvimento de toda a sociedade – empresas, entidades empresariais, governos etc. – para que o desenvolvimento desejado realmente ocorra. “Não é apenas o número de empreendimentos existentes no município que importa, mas sim o espírito competitivo, a visão de futuro e uma agenda que busque o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida. A proposta aqui

AFONSO ROCHA: mais lideranças e empoderamento do cidadão

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das condições de vida. “Esses elementos estão criando cinturões de crise na franja de expansão de todas as cidades, condenando a qualidade de vida das pessoas e a competitividade do ambiente de negócios.” Segundo Veras, o desafio da mobilidade urbana é outro gargalo a ser superado, não apenas pelas grandes metrópoles, mas também por cidades de médio porte, tanto em Minas Gerais quanto em outros estados. “Um estudo da Fundação Getulio Vargas revela que, em São Paulo, as perdas referentes às horas gastas no trânsito – em razão dos quilométricos engarrafamentos – são estimadas em R$ 26 bilhões/ano.” Uma cidade empreendedora, frisou Veras, é aquela que tem atitude diante de si e do seu futuro. “Cidades são administradas com técnicas, mas vividas com sonho. O desenvolvimento econômico é o elo que permite a elas avançarem

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FOTO: BONEYSP

1 CIDADES

O DESAFIO da mobilidade urbana: menos carros e mais meios de transporte ecológicos

nessa direção. Queremos compartilhar boas práticas e exemplos para que a juventude de cada uma das nossas cidades acredite que vale a pena viver nelas e para que possamos reter talentos e atrair investimentos.” GRANDES EXPERIÊNCIAS Representante do então governador Alberto Pinto Coelho na cerimônia de abertura do seminário, o diretor-geral da ARMBH, Saulo Carvalho, lembrou que cidade empreendedora é também aquela que concentra no seu traçado urbanístico características que levam à maior centralidade de suas funções e oferta de serviços básicos. “Projetos de sucesso e experiências têm feito com que as cidades se tornem mais humanizadas e sustentáveis. O objetivo é permitir que as pessoas trabalhem, estudem, se divirtam e criem suas famílias em microcentros próximos, sem a necessidade de grandes deslocamentos.” Ao retomar o tema “mobilidade urbana”, o vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente de BH, Délio Malheiros, foi categórico: “Estamos vivendo um momento complicado na vida das cidades, diante do excesso de veículos. Em Belo Horizonte, temos 1,6 milhão de veículos para uma população de 2,45 milhões de

habitantes, quase um carro por pessoa. Onde vamos parar?”. Para Malheiros, sem mudanças na legislação tributária, principalmente em relação à não cobrança do Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para veículos velhos – os que mais poluem, estragam e causam acidentes – e priorizando o financiamento de carros em 80 meses, em detrimento da expansão do transporte público, não chegaremos a lugar algum. “O carro de hoje é o cigarro de ontem”, sentenciou ele, parafraseando o urbanista e ex-prefeito de Curitiba (PR), Jaime Lerner, que há anos profetizou a frase numa comparação entre os males provocados pelas emissões de poluentes veiculares e o tabaco. TRANSFORMAÇÃO REAL Pela segunda vez na capital mineira, o PhD em Planejamento Urbano pela University of Southern California, Aseem Inam, encerrou o encontro com a palestra “Cidade Empreendedora – para transformar é preciso conhecer”. Ao discutir conceitos e perspectivas do urbanismo em âmbito mundial, ele frisou que não há receita ou resposta única quando o desafio é projetar cidades do futuro. Entre os bem-sucedidos projetos de revitalização urbana apresentados

FIQUE POR DENTRO l Medellín, na Colômbia, mereceu

destaque especial no seminário “Cidade Empreendedora”. A capital do Departamento de Antioquia foi apresentada em grandes painéis, com textos, imagens e mapas, comprovando a sua transformação de uma cidade assolada pelo narcotráfico, nos anos 1980 e 1990, em uma metrópole que se reinventa a cada dia, valorizando a convivência entre os moradores e a preservação do meio ambiente, por meio da criação de trilhas para pedestres e ciclistas, teleféricos e bibliotecas-parques.

l A edição 2014 do relatório “Pers-

pectivas da Urbanização Mundial”, produzido pela ONU, concluiu que o maior crescimento da população urbana mundial ocorrerá na Índia, China e Nigéria. Esses três países responderão por 37% do crescimento urbano estimado até 2050.

por Inam, chamou atenção o do Parque Al-Azhar, aberto ao público em 2005, no Cairo, capital egípcia. A área, ocupada durante anos por um lixão, foi totalmente revitalizada. O projeto, integrado à paisagem e em sintonia com a realidade local, incluiu a reforma de moradias, a construção de reservatórios de água e de jardins inspirados na tradição islâmica, bem como a capacitação de moradores, treinados para reconhecer e ajudar a conservar o rico patrimônio arqueológico de Cairo. Transformações realmente essenciais à humanidade, afirmou ele, sempre foram e continuarão sendo impulsionadas por ideias. “A nossa mente é a mais poderosa ferramenta de transformação das nossas cidades. Temos de desafiar ideias antigas, adaptá-las à realidade do século 21 e superar aquela antiga noção de que um herói ou um especialista chegará trazendo solução para tudo.” SAIBA MAIS www.sebrae.com.br www.agenciarmbh.mg.gov.br

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Cidades e prosperidade Fabio Veras (*)

ali há oportunidades de crescimento. Assim, se estimula o tentar empreender e também se qualificar para conseguir empregos. Este projeto também caminha nessa direção. Expandir significa compartilhar uma agenda que colabore com as empresas, em suas necessidades específicas de crescimento, e as torne mais fortes, valorizando marcas e empreendedores da cidade. Ao desenvolvermos uma metodologia que emancipa e dá autonomia – para que entidades, comunidade e agentes públicos compartilhem uma forma de criar mais negócios, expandindo seu conhecimento sobre a base de mercado existente na cidade –, estamos cumprindo a missão do Sebrae Minas, de promover o ambiente de negócios e valorizar a cultura empreendedora. Acreditamos que as cidades são espaços para crianças, jovens e adultos terem acesso à cultura, conhecimento e vivência cidadã, dentro e fora do ambiente das escolas e de suas casas. Cidades são administradas com técnica, mas vividas com sonho! O desenvolvimento econômico é o elo que permite a elas avançarem nessa direção. Empreender é criar valor, num processo de busca de oportunidades. É não ter medo de errar, aprender com o erro e fazer acontecer. Enfim, encontrar o seu sonho, aquilo que o realiza. É para nós uma honra sermos parceiros da construção da prosperidade em sua cidade! 

FOTO: SANAKAN

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Uma cidade empreendedora é aquela que se conhece bem e consegue desenvolver, entre uma boa parcela de seus moradores, uma visão do futuro autêntica e descomplicada, que faz com que esse futuro aconteça a cada dia. Não existe cidade competitiva e atraente se não houver um conjunto de pessoas e instituições engajadas neste propósito. Construir a prosperidade não é tarefa exclusiva das prefeituras, mas um dever de todos. Conhecer bem a distribuição territorial das empresas e suas possibilidades de impacto no crescimento econômico da cidade é uma das bases desse desenvolvimento. A geração de empregos – termômetro do desenvolvimento – passa pela valorização das empresas que perseveram e lutam por sua sobrevivência nas cidades. As empresas já instaladas, ou as iniciativas empreendedoras dos que vivem na região, são responsáveis pela maioria dos novos empregos gerados no perímetro urbano e na área rural. Reter empresas exige trabalhar diariamente para que pequenas questões não atrapalhem sua continuidade e sobrevivência. Nada é mais produtivo nessa tarefa do que ampliar sua capacidade de venda, buscando novos compradores na cidade ou região, seja através das compras governamentais ou de compras privadas. Para reter os talentos é importante garantir uma atmosfera de crença no crescimento da cidade, que contagie a juventude e a faça perceber que

(*) Diretor de Operações do Sebrae Minas.

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1 CULTURA

AO PÉ DA SERRA da Mantiqueira, essa trupe de artistas está provando que os sonhos movem o mundo 66  ECOLÓGICO | JANEIRO DE 2015

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ENTRE ROSAS E

LOUCOS Grupo Ponto de Partida faz nova revolução em Barbacena, com todas as transgressões exigidas pela arte. Inclusive, a de recuperar casarões abandonados, plantar flores, cultivar parceiros e semear solidariedade Déa Januzzi

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: JORGE BISPO

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tração maior do “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, quando o Grupo Ponto de Partida entra no palco, a plateia se arrepia e se encanta com todos os detalhes da apresentação. Mas o que pouca gente sabe é que, nos bastidores, mais exatamente em Barbacena, na Serra da Mantiqueira, a 169 quilômetros de BH, essa trupe está construindo um novo tempo. Fora do palco, os integrantes e todos os agregados estão abraçando a causa da sustentabilidade e da preservação do patrimônio histórico da cidade em que vivem e escolheram ficar desde o início, muito antes do sucesso e do reconhecimento público em todas as partes do mundo. Comandados pela diretora do grupo, a “maga” Regina Bertola, de 58 anos, eles estão fazendo uma segunda revolução em Barbacena. A primeira foi o movimento cultural que deu origem ao Ponto de Partida, em 1980, quando foi decidido que ele jamais sairia da cidade para fazer sucesso. Localizada à beira da BR-040, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, Barbacena ficava sempre à margem das atividades culturais. “Decidimos, então, ser um ‘ponto de partida’ para mudar essa realidade. E também fazer teatro com a linguagem da nossa gente, através da cultura brasileira”, conta Júlia Medeiros, de 27 anos, uma

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das integrantes do grupo e casada com Pablo, filho de Regina e do falecido Ivanée Bertola. Ela é uma espécie de assessora de imprensa do grupo – e será a nossa guia nesse solo sagrado do Ponto de Partida. Convidada para conhecer essa nova revolução, que está devolvendo à cidade um de seus bens patrimoniais mais importantes e um dos poucos que ainda restavam de pé, a equipe da Revista Ecológico foi recebida em um dos casarões já restaurados, para um almoço com um cardápio mineiro que incluiu salada, arroz, tutu e lombo, além de sucos naturais de uva, caju e doces diversos. Hospitalidade mineira? Muito mais do que isso: sem deixar Minas Gerais, o grupo está descortinando horizontes. Sair da mesmice é a tônica do Ponto de Partida, que está provando que Raul Seixas tinha razão: “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Conspiração mineira? Sem dúvida, com todas as transgressões possíveis. “Não há conspiração sem ajuntação”, vai revelando Regina, uma guerreira que transpira energia e que não depõe as armas nem tropeça em qualquer pedra do caminho. Com um vestido preto básico, um decote ousado, cabelos brancos libertários, Regina é uma mulher diferente, que diz coisas assim: “Nasci para ser feliz em meio a uma cidade de loucos e rosas. Mas a nossa loucura é muito lúcida”. Para Regina, “não há um caminho. A gente tem que inventar uma trilha, tem que abrir picada, porque nos atalhos é que estão os frutos mais saborosos”. Ela usa a metáfora do corpo humano para dizer como as coisas acontecem com o Ponto de Partida. “Na hora em que uma das mãos não pode agir, a outra toma o lugar. É uma estrutura orgânica, com gestão coletiva. Mas tenho uma cabeça que dá conta de tudo”, confessa. Nada acontece dentro do grupo ou nos projetos paralelos sem que ela saiba. Seja na

“Nasci para ser feliz em meio a uma cidade de loucos e rosas. Mas a nossa loucura é muito lúcida.”

FOTO: RODRIGO DAI

1 CULTURA

DIRETORA do Grupo Ponto de Partida, Regina Bertola comanda uma nova revolução em Barbacena: a da sustentabilidade e da preservação do patrimônio histórico

área administrativa ou na artística. Quem entra na Estação Ponto de Partida, na Avenida Barbacenense, se surpreende. A antiga fábrica de seda – ou sericícola, como era conhecida – está totalmente restaurada. O Ponto de Partida ocupou três das quatro casas que estavam caindo aos pedaços, irreconhecíveis, relegadas ao abandono. Hoje, os três casarões reformados se destacam na paisagem. De acordo com Regina, a Estação Sericícola de Barbacena “é testemunha da imigração italiana em Minas Gerais, em 1888, e do desenvolvimento industrial do início do século XX, com o trabalho feminino no Brasil”. Após a desativação, algumas construções do conjunto arquitetônico sofreram depredação e deterioração gradativa. Há 16 anos, o grupo revitaliza o espaço para transformá-lo no centro cultural “Estação Ponto de Partida”.

CASA BITUCA A primeira casa ocupada hoje abriga a Bituca – Universidade de Música Popular, que funciona desde 2004. Esse prédio do século passado, abandonado há alguns anos, corria risco de desabamento iminente e foi restaurado pelo grupo, com a parceria do Fundo Estadual de Cultura, da Gerdau Aço Minas e do Clube de Amigos do Ponto de Partida (CAPP). O belíssimo casarão é totalmente equipado para atender às necessidades técnicas da escola, inclusive com um piano de cauda e um estúdio, oferecido para a prática dos alunos, que é um dos mais modernos de Minas Gerais. Na Bituca, que recebeu esse nome em homenagem a Milton Nascimento (“Bituca” é seu apelido), funciona a “Pedagogia do Espelho”: os alunos aprendem observando e trabalhando com

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

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O ANTES E O DEPOIS da Casa Bituca, a primeira a ser ocupada e que se norteia pela “Pedagogia do Espelho”, em que alunos aprendem com seus mestres

CASA DO PONTO Depois de visitar a primeira casa restaurada da Estação Ponto de

Partida, Júlia Medeiros, que é parte fundamental do elenco do grupo, se dirige para a segunda edificação restaurada, que é a Casa do Ponto, o coração de tudo. É lá que são feitas as pesquisas, os ensaios, as apresentações de espetáculos. Lugar de receber pequenos grupos, os mestres da Bituca. Espaço aprazível para as refeições do dia e para receber as visitas, com janelas abertas para árvores centenárias.

No grupo há 11 anos, Júlia entrou para o elenco com apenas 16 de idade. Atriz, cantora, mãe de Téo, de dois anos, ela se movimenta com intimidade pelos casarões, faz gestos cênicos para explicar cada detalhe da reforma, mostra até o quadro de azulejos na parede, para dar uma ideia de como eram antes. Ela ri, canta e é uma profissional que gosta do que faz. Está na cara. Como uma maquinista que co-

FOTO: ERICA ELKE

os mestres. Em vez de professores acadêmicos, a escola tem músicos em plena atividade profissional, compartilhando experiência com os jovens artistas. Um deles é o músico Gilvan de Oliveira, uma referência como violonista, que diz assim: “Música para mim é orgânica, a cesta básica da vida”. A Bituca trabalha com um repertório em comum, voltado para a música brasileira: seus ritmos e seus compositores. É ensinada individualmente a prática de 11 instrumentos, canto, engenharia de som e produção, afinação e restauração de piano. As aulas de história da música, percepção musical, musicalização pelo método Kodály, improvisação, criação e prática de conjunto são comuns a todos os alunos. Todos os aprendizes também têm formação com o Ponto de Partida em preparação para o palco, produção, ética e formação de grupos. As aulas são semanais. Numa semana, prática do instrumento. Na outra, a formação complementar. A frequência é obrigatória. Durante o curso são oferecidas aulas e atividades opcionais como arranjo, harmonia, piano complementar, leitura à primeira vista e prática de estúdio.

COM UMA estrutura orgânica e gestão coletiva, o grupo se baseia na filosofia de que “não há conspiração sem ajuntação”

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FOTO: ERICA ELKE

1 CULTURA

À CONVOCAÇÃO “Faça Parte dessa Trama”, mais de 200 voluntários compareceram para plantar o primeiro jardim

nhece cada dormente de uma paisagem bucólica, por onde o trem serpenteia, Júlia vai dizendo: “O Ponto de Partida é a minha família. Sou da segunda geração do grupo, herdei muita coisa já feita, mas considero uma honra, um privilégio e muita sorte estar aqui”. Nas tábuas de madeira do assoalho que range aos pés dos visitantes, ela anda com passos de bailarina para mostrar a exposição dos cenários e figurinos do Giramundo, de Álvaro Apocalypse. Com os olhos brilhando, Júlia nos conduz à sala onde estão canecas de louça penduradas numa parede. Para estudar no Jardim Escola, as crianças pagam de matrícula... uma caneca! “Aqui não usamos plástico”, diz orgulhosa. Na hora do lanche, a cantina funciona assim: “Os alunos pegam o que querem, pagam, sem o controle de nenhum adulto. Ninguém toma conta, pois a gente entende educação dessa forma, com respeito e confiança”.

CASA PALAVRA O terceiro casarão será inaugurado este ano, sede da Casa Palavra, espaço dedicado à literatura e aos encontros com uma biblioteca de trocas e um café bistrô para os visitantes da Estação. Júlia canta uma música para explicar como estava antes da restauração. “‘Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha chão’... nem recursos iniciais para as reformas. Mas, quando não conseguimos parceiros, a gente se vira de cabeça para baixo.” Num trabalho comunitário nunca visto antes, que uniu a força dos artistas e moradores, das lideranças locais, autoridades civis e militares, das crianças, jovens e velhos, o Ponto de Partida está escrevendo a história de um novo tempo. Um dos trabalhos voluntários mais bonitos – “Faça Parte dessa Trama” – foi quando a população foi convocada para retirar o asfalto da entrada e plantar

o primeiro jardim. “Numa quarta-feira, compareceram mais de 200 pessoas. Trabalharam sem parar em troca de capacitação para jardineiro. Eram 30 vagas, que foram preenchidas rapidamente. “Foi emocionante”, declarou Júlia. Agora é a vez da parceria com o Museu de Arte Contemporânea de Inhotim, que está fazendo o paisagismo da Estação, que inclui iluminação subterrânea, sem fiação elétrica aparente. Em troca, o grupo fará shows no museu. O JARDINEIRO DE INHOTIM No dia da visita da equipe da Ecológico, o jardineiro de Inhotim, Valdeir Moura Oliveira, de 34 anos, estava em Barbacena pensando nas flores e plantas que iriam compor os jardins dos casarões. Há mais de quatro anos, ele chegou a Inhotim, vindo de Sete Lagoas, para fazer serviços terceirizados – mas não sabia que iria dar início a uma nova vida. Logo, logo,

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FOTO: JORGE BISPO

“O Grupo Ponto de Partida é um bando de gente comprometida com a vida, a arte e a humanidade. Está construindo uma trajetória que comove Fernanda Montenegro, Sergio Britto, Milton Nascimento e todos aqueles que tiveram e têm o privilégio de com eles conviver. Fazem, ao pé da Serra da Mantiqueira, no frio cortante da cidade das rosas, uma demonstração eloquente de que os sonhos movem o mundo. Quem poderia imaginar que uns rapazes e moças, habitantes dos confins das Minas Gerais, pudessem se reunir para escrever e encenar histórias que deslumbrariam plateias de todos os lugares do mundo? E que, mesmo diante do sucesso, não abrissem mão do privilégio de continuar morando em sua terra natal? Tudo é arquitetado naquelas ruas centenárias, sob a visão das montanhas majestosas. Do rascunho de ideias até a elaboração final, a rapaziada trabalha e canta, se diverte e canta, ajuda e canta. A música, a poesia, o trabalho, a amizade, o talento fazem com que, unidos, eles sonhem e realizem seus sonhos.”

FOTO: JOSÉ PAULO LACERDA

DEPOIMENTOS

“Tive uma experiência mágica com o Ponto de Partida, esse que é um grupo tão especial no cenário brasileiro. ‘Viva o povo brasileiro’, espetáculo deles que assisti, era tocante, maravilhoso! Mas o que mais me tocou no trabalho deles foi o sentimento de grupo. O elenco tem a mesma diretriz, o mesmo propósito.” FERNANDA MONTENEGRO, atriz

Bernardo Paz, presidente do Conselho Administrativo do museu, descobriu o dom de Valdeir para a jardinagem e hoje ele é quem cuida dos 120 hectares de plantas e flores de Inhotim. Para ele, “estar em contato com a natureza, mexer com as plantas, é vida”. O segredo, segundo o jardineiro, é “saber cuidar, não deixar faltar água e adubação na hora certa”. Ele já voltou a Barbacena e transformou o lado de fora dos casarões numa profusão de flores e plantas. A moeda solidária da troca já é realidade na Estação Ponto de Partida, que também quer ser o ponto de chegada para um mundo onde a arte se desdobra, semeia, floresce e se reinventa a cada dia. Afinal,

FOTO: FERNANDO FRAZÃO - AGÊNCIA BRASIL

FERNANDO BRANT, compositor

são 34 anos de história de um grupo que cria a própria dramaturgia, escreve, compõe, toca, canta, dança, interpreta, pesquisa, produz, ilumina, divulga, mobiliza, vende ingressos, ensina, elabora projetos, faz captação, administra e gerencia as suas inúmeras frentes de trabalho. “Não há um caminho estático para a arte. Temos efervescência por movimento. Somos atores por vocação e, como criadores, necessitamos dessa condição para realizar a nossa humanidade, falar sobre o que estamos sentindo”, diz a mestra Regina Bertola.  SAIBA MAIS grupopontodepartida.com.br

JÚLIA MEDEIROS, 27 anos, entrou para o grupo aos 16 e faz parte da segunda geração de artistas

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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*) redacao@revistaecologico.com.br

ASSIM NA TERRA

COMO NO CÉU É com a ajuda de uma estrela que eu quero saudar o novo ano, pois só ela pode mostrar o caminho. Assim como fez com os reis magos Belchior, Baltazar e Gaspar que estavam perdidos, sem saberem onde encontrar Jesus, Maria e José. Então, uma estrela nasceu no céu para orientá-los até Belém. Tendo a Estrela de Belém como guia neste início de 2015, deixaremos de lado o computador, o Facebook ou qualquer outra forma de tecnologia. Toda a violência e frustração que se abateu sobre nós. Toda a desesperança, angústia e depressão. Deixaremos de lado, mesmo que por instantes, as dúvidas, o medo, a mediocridade, os remédios da felicidade instantânea. Como a ritalina que transforma crianças inquietas e inteligentes em zumbis. Como os antidepressivos e outros fármacos pesados, como o lítio, que colocam os jovens em fôrmas da normalidade. Por instantes, expulsaremos deste mundo contemporâneo os gritos de dor, os urros da incompreensão e da intolerância, os gemidos do preconceito. Deixaremos para trás os estereótipos e padrões, o anteontem das coisas, a amargura da existência, os grilhões, a hipocrisia, as mentiras, a ilusão do poder. Por instantes, vamos olhar firmemente para o céu, onde quer que estivermos. Na Região da Savassi ou da Pampulha, no Aglomerado da Serra, na Praça Sete ou na Avenida Afonso Pena. Em Londres ou Paris. No Paquistão ou na África. Vejam o brilho que emana dessa estrela, que veste cada um de nós com um manto transparente. Veja o som universal que ecoa dessa estrela. Sinta-se protegido, abraçado por essa luz sagrada. É hora de encontrar o caminho, a partir desse sinal que vem do Céu. Todos vão parar e contemplar a estrela-guia. Com a ajuda dos astros celestes, vamos refazer a trajetória. Além do ouro, do incenso e da mirra, que levam à prosperidade, à limpeza interna e ao perfume dos anjos, vamos enviar sinais que estão guardados no coração. Hipnotizados pela luz da estrela-guia, vamos fazer a faxina da alma e colocar intenções novas

que serão envolvidas pela bondade, justiça, verdade, transparência, solidariedade, partilha, escuta, neutralidade, cuidado, aconchego, paciência, sorrisos, humor e simplicidade. Saúde, silêncio, respeito, verdade, bênção, fé, honra e caráter. E tantos outros valores que foram relegados à quinta categoria. Protegei, estrela-guia, os órfãos adultos e os velhos trôpegos. Que eles encontrem abrigo nos braços de seus filhos, que não sejam depositados em asilos como bois num matadouro, que haja um lugar para o crepúsculo da existência. E raios de sol para esquentar os ossos que começam a congelar no inverno da vida. E se não for pedir muito, que a estrela-guia ilumine as mães que criam filhos sozinhas. Que dê luz aos filhos sem pais que são obrigados a encontrar limites em hospitais psiquiátricos, camisas de força e medicamentos de última geração, para aplacar o que não pode ser medicado. Que a estrela-guia mande raios de luz para o coração de certos homens que só sabem ser pais por telefone. Ou mandar bater e prender quando o filho tem algum problema. Enquadrar é mais fácil do que dar afeto. É mais fácil punir do que dar o ombro. É mais fácil criticar do que conversar. Estrela-guia, ilumine o coração dos políticos para que deem a este país o que seus moradores merecem. Que vejam o planeta como a redenção dos homens e não como apocalipse. Ah, estrela-guia, gostaria que a sua luz se esparramasse por todos os lados, pelos cantos das florestas, pelas margens dos rios, pelo fundo dos oceanos, pelos fluidos das cachoeiras, pela copa e raiz das árvores centenárias, pelo vento e pela sombra, pelo sol e pela lua, pelo movimento das estrelas, pelas nuvens que passam, mas deixam o céu inteiramente azul. Ah, estrela-guia, que seus raios iluminem os loucos, os marginalizados, os excluídos, os renegados, os deserdados, os sem-pais, os sem-filhos, as mães sozinhas e os casais que sabem o que é a comunhão de desejos e de projetos, que sabem como educar e construir uma família saudável. Se não for pedir demais, estrela-guia, protegei-nos, assim na Terra como no Céu. Amém!  (*) Jornalista e escritora.

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FOTO: DIVULGAÇÃO / GOVERNO DE SP

1 PREFEITURAS & MEIO AMBIENTE

REPRESENTANDO Botucatu (SP), o prefeito João Cury, ao centro, recebe o certificado concedido à cidade que mais preservou a natureza no estado: bicampeã ambiental

SÃO PAULO AVANÇA “Programa Município VerdeAzul” revela que cidades paulistas evoluíram na implementação de uma agenda ambiental estratégica

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estado mais rico do país está dando bons exemplos sustentáveis. E um dos incentivos vem do “Programa Município VerdeAzul (PMVA)”, criado em 2007 e desenvolvido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SMA). A iniciativa visa proporcionar às cidades mais eficiência na gestão ambiental por meio da descentralização de procedimentos. Funciona assim: ao final de cada ciclo anual é avaliada a eficácia dos municípios na condução das ações propostas na agenda ambiental. A

partir dessa avaliação, é disponibilizado à SMA, ao Governo de Estado, às prefeituras e à população o “Indicador de Avaliação Ambiental (IAA)”. A participação do município no PMVA é pré-requisito para a liberação de recursos do Fundo Estadual de Controle da Poluição (Fecop), controlado pela SMA. A adesão de todos os 645 municípios do estado ao programa se deu a partir da assinatura de um Protocolo de Intenções, em 2008, em que foram propostas dez diretivas ambientais prioritárias a

serem desenvolvidas: “Esgoto Tratado”, “Resíduos Sólidos”, “Biodiversidade”, “Arborização Urbana”, “Educação Ambiental”, “Cidade Sustentável”, “Gestão das Águas”, “Qualidade do Ar”, “Estrutura Ambiental” e “Conselho Ambiental”. A SMA, por sua vez, oferece capacitação técnica às equipes locais e lança anualmente o “Ranking Ambiental dos Municípios Paulistas”. A primeira versão foi divulgada em 2008 e 44 municipalidades foram certificadas. Em 2012, este número alcançou 133 municípios,

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FOTO: MATHIEU LEBRETON

RESULTADOS O programa apresenta expressivos resultados na evolução da gestão ambiental do estado de São Paulo. Veja alguns números que comprovam as ações nas cidades paulistas: l

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NA CONTRAMÃO das cidades que mais se destacaram na gestão ambiental responsável, a capital do estado ficou na 193a posição, com 67,39 pontos

demonstrando que o estado está cada vez mais “VerdeAzul”. RANKING 2014 No início de dezembro passado, o governo do estado divulgou a sétima edição do ranking: 118 cidades foram certificadas pelas boas práticas, atividades e projetos desenvolvidos na área ambiental. O secretário do Meio Ambiente, Rubens Rizek, ao lado do coordenador do “Programa Município VerdeAzul”, Ricardo Montoro, do deputado estadual Bruno Covas e

do secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional, Júlio Semeghini, que representou o governador Geraldo Alckmin, anunciou o ranking em cerimônia realizada no Palácio dos Bandeirantes. Na ocasião, foi entregue também o “Prêmio Franco Montoro” para municípios que se destacaram em sua bacia hidrográfica. A nota média para a estruturação do ranking também teve um acréscimo de mais de um ponto, de 85,5 para 86,9. Outro número que aumentou foi o de municípios

334 municípios apresentaram Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos; 258 municípios apresentaram Programas Municipais de Educação Ambiental; 344 municípios com viveiros de mudas; 290 municípios apresentaram articulações intermunicipais voltadas às questões ambientais; 361 municípios participaram do treinamento do Corpo de Bombeiros para prevenção e controle de incêndios e de desastres naturais.

que elaboraram seus “Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos”: de 219, em 2013, para 334, em 2014. Houve ainda aumento na quantidade de cidades com programas de educação ambiental (de 203 para 258 no ano passado). O destaque desta última edição foi para Botucatu, que conquistou 98,02 pontos. Localizada na região centro-sul do estado, a cidade tem 137 mil habitantes e é uma das poucas a liderar o ranking por duas vezes: a primeira delas foi em 2012, quando alcançou 97,26 pontos. Completando a lista dos dez municípios mais bem colocados estão Votuporanga (com 97,21 pontos), Santa Adélia (96,81), Cerquilho (95,44), Fernandópolis (95,39), Lençóis Paulista (95,23), Araraquara (95,18), Cajobi (94,90), Macedônia (94,69) e Americana (94,49).  SAIBA MAIS

www.ambiente.sp.gov.br/ municipioverdeazul JANEIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  75

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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

A EMPRESA

QUE SERVE PRA VOCÊ

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omo já confessei, de um tempo para cá comecei a ter pavor de conceitos. No entanto, há um deles, do dramaturgo e escritor tcheco Vaclav Havel, que acabou se tornando o meu preferido: “Fuja dos que encontraram a verdade e fique junto dos que a procuram”. Foi a partir dele que comecei a ler sobre as empresas B. Sejamos então, nesse caso, conceituais para explicar: segundo o site E-cycle, “empresas B são aquelas que usam seus negócios para o desenvolvimento de comunidades e para a redução da pobreza. E, além disso, buscam soluções para os problemas climáticos”.

A mesma fonte nos diz que as obrigações da empresa B são: l resolver problemas sociais e ambientais a partir dos produtos e serviços oferecidos pelas próprias empresas; e, nas práticas laborais e socioambientais, atender a comunidades, fornecedores e públicos de interesse; l um rigoroso processo de certificação, que examina todos os aspectos da empresa e que deve atender aos padrões de desempenho mínimos, além de ter um forte compromisso com a transparência no relatar publicamente seu impacto socioambiental; l fazer as mudanças legais para proteger sua missão ou finalidade comercial e, portanto, combinar o interesse público com o privado. Isso também irá construir uma confiança com os cidadãos, clientes, colaboradores e novos investidores. De cá, de lá, caiu em minhas mãos o excelente “Um país sem excelências e mordomias”, de Claudia Wallin, livro que fala das práticas públicas e sua relação com o privado na Suécia. Conclusão? Embolou tudo! Não sou contra as empresas B. Acredito que podem ajudar, principalmente do ponto de vista da catequese do óbvio: ninguém aplaude um corredor que ganha derrubando o adversário, já nos dizia o polêmico (pelo menos nessa questão) filósofo e economista escocês Adam Smith. Mas se ninguém aplaude, porque é que existem empresas B? Por que as empresas A não prestam ou porque elas se prestam a outra coisa? A Suécia ensina, todo dia, que não existe país A e país

B. Todo mundo iria escolher um governo que fosse igual ao governado, que não o derrubasse na milha final, se pudesse fazer isso. A Suécia fez! Nós podemos fazer! Dividir as empresas entre A e B é legitimar uma e outra, é dizer que a sustentabilidade do mundo pode ser obtida de um jeito e de outro. E não pode! Não dá para ganhar roubando, destruindo e explorando. Então, se eu decido divulgar o conceito da empresa B é para fazer pensar que as outras, independentemente da letra que tenham, só deviam existir para o bem-estar das populações a quem atendem. Toda empresa é uma concessão, na medida em que decidimos que ela continua a existir, quando consumimos seus produtos que suprem nossas necessidades com dignidade. Termino com uma conclusão óbvia: somos nós, cidadãos, que fazemos a mudança. Da próxima vez que disser que um produto ou serviço é ruim, que seu fornecedor explora o mercado e destrói a natureza, pense que não é ele que precisa de consciência de consumo: é você! 

TECH NOTES l O que é empresa B?

www.sistemab.org

l Um pouco mais da Suécia

http://goo.gl/d9LGUa

l Erradicando a pobreza com Educação

a Distância http://goo.gl/3TcjAn

l Será que estas companhias estão ajudando

a salvar o mundo? http://goo.gl/aJ65Sf

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.

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VIDA

1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - CORAIS

SANTUÁRIOS DE

Os recifes de coral servem de criadouro e abrigo para diferentes espécies de interesse humano, seja como fonte de alimento seja de substâncias para pesquisas farmacológicas ou como atrativo turístico Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

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aneiro é mês de férias escolares, mas o Ecológico nas Escolas segue firme em sua missão de levar informação e conhecimento aos leitores. Inspirados nessa merecida temporada de descanso, escolhemos um tema que remete a um dos locais preferidos de quem gosta de descansar e renovar as energias para o novo ano em meio à natureza: as praias brasileiras. E decidimos “mergulhar” bem fundo para desvendar mistérios e curiosidades da nossa rica biodiversidade marinha. Mais precisamente sobre a importância e a necessidade de conservação dos recifes de coral, bem como o impacto de sua degradação em diferentes partes do mundo.

O passaporte para a nossa viagem é o “Projeto Coral Vivo” que, desde 2003, trabalha com pesquisa e educação para a conservação e o uso sustentável dos ambientes recifais e das comunidades coralíneas brasileiras. As ações são desenvolvidas no sul da Bahia (leia mais a seguir) e se baseiam em três pilares: geração de conhecimento (pesquisa), ensino e educação ambiental e sensibilização e mobilização da sociedade. Considerados um dos mais antigos e ricos ecossistemas da Terra, os recifes de coral têm grande importância ecológica, social e econômica – podendo ser comparados às nossas florestas tropicais. Sua enor-

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Ambiente coralíneo:

me diversidade de vida se comprova quando constatamos que uma em cada quatro espécies marinhas vive nos recifes de coral, incluindo 65% das espécies de peixes. PROTEÇÃO E ALIMENTO Mas o que são corais? São animais marinhos do grupo dos cnidários, que inclui também anêmonas e águas-vivas ou medusas. Há quatro grupos animais incluídos no termo “corais”: os corais verdadeiros ou pétreos, os octocorais (gorgônias), os corais-de-fogo e os corais negros. Eles são invertebrados capazes de formar um esqueleto calcário (assim como nossos ossos) ou córneo (como nossas unhas). Esse esqueleto é responsável pela fixação do coral no fundo do mar e serve também como proteção. No interior do tecido dos corais recifais podem viver várias algas microscópicas chamadas zooxantelas. Elas têm uma relação de simbiose com esse coral, na qual a alga fornece o alimento – por meio do processo de fotossíntese – e, em troca, recebe nutrientes. Os recifes de coral são um dos ambientes mais frágeis e ameaçados do mundo. Servem de criadouro e abrigo para diferentes espécies de interesse para o homem: seja como fonte de alimento seja de substâncias para pesquisas farmacológicas ou como atrativo turístico.

ocorre quando há grande concentração de corais, independentemente da formação de um recife. Não tem origem biogênica como os recifes de coral, ou seja, os corais se fixam sobre um substrato duro, como um costão rochoso, por exemplo. A diferença entre os recifes de coral e os ambientes coralíneos está apenas no acúmulo de esqueletos uns sobre os outros, que ocorre nos recifes.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS Apesar de sua importância, os ambientes recifais em todo o mundo vêm sofrendo um rápido processo de degradação, intimamente ligado à expansão das atividades humanas e econômicas. Os oceanos em aquecimento, provavelmente como resultado das mudanças climáticas, estressam os corais a ponto de expelirem as algas que os habitam (as zooxantelas), deixando-os “branqueados”. O branqueamento de 1998, ocorrido num dos anos mais quentes da história mundial, danificou imensas áreas de coral em todo o planeta, aumentando seriamente a quantidade

Branqueamento de corais:

ocorre quando os corais sofrem estresse por aquecimento da água, acidez, poluição ou doenças. Tal fenômeno está associado à perda de algas simbiontes (zooxantelas) que vivem no interior dos tecidos dos corais recifais. Quanto mais intenso e duradouro o evento, maior a chance de o coral morrer.

de recifes danificados. Poluição de nutrientes e sedimentos, mineração de areia e rocha e o uso de explosivos e cianeto (ou outras substâncias tóxicas) na pesca também estressam os recifes mundiais. DE NORTE A SUL Os recifes de coral formam um anel na região equatorial/tropical do globo terrestre. Ocorrem principalmente do lado ocidental dos oceanos Atlântico e Pacífico e, em geral, em águas rasas e quentes. Há diversos

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FOTOS: DOLLARPHOTOCLUB

1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - CORAIS

SEGUNDO estudo da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), mais de 230 espécies de corais estão em risco de extinção

fatores ambientais que influenciam a distribuição dos recifes pelo mundo, como temperatura (geralmente vivem em águas entre 26º e 28º C, podendo estar presentes em águas de 18º a 36º C), sedimentação (excesso de sedimentos é prejudicial), profundidade (necessitam de luz), entre outros. No Brasil, os corais e comunidades coralíneas se estendem por 2.400 quilômetros de costa, do norte do Maranhão a Cabo Frio (RJ), com espécies de corais recifais podendo chegar até Santa Catarina. Essa distância corresponde à extensão da Grande Barreira de Corais, na Austrália, considerada a

maior formação recifal do mundo, com dimensões astronômicas – é possível observá-la até do espaço! Enquanto os recifes do Brasil se distribuem de forma descontínua, na Austrália eles ocupam uma área contínua de 350 mil km². O desenvolvimento de recifes de coral na costa brasileira é restrito aos litorais nordeste e leste. Sua distribuição é limitada ao norte pelo Rio Amazonas e ao sul pelas baixas temperaturas da água, com diversas interrupções na ocorrência de corais próximo à desembocadura de rios como o São Francisco e o Doce, onde as altas taxas de sedimentação e a baixa salinidade inibem o crescimento desses animais. Conheça, a seguir, os diferentes tipos de corais e suas características.

ENTENDA MELHOR

l Um recife de coral, sob o ponto de vista da formação do relevo terrestre, é uma estrutura rochosa, rígida, resistente à ação mecânica das ondas e correntes marítimas. É formada por corais e outros organismos marinhos (animais e vegetais) portadores de esqueleto calcário. Sob o ponto de vista biológico, recifes coralíneos são formações criadas pela ação de corais, que incluem os coraispétreos ou verdadeiros e os coraisde-fogo. Juntam-se a eles algas calcárias e outros organismos também dotados de esqueleto (carbonato de cálcio). l Os recifes de coral são os únicos entre as comunidades marinhas construídos inteiramente pela atividade biológica, ou seja, pelo agrupamento de inúmeros esqueletos que juntos formam essa grande estrutura. l Os corais se reproduzem de forma sexuada (com um parceiro) e também assexuada (sozinhos). Usam essas duas formas de reprodução para se desenvolver como colônia, formar recifes e gerar novos filhotes.

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FOTOS: REPRODUÇÃO

Tipos de corais

VERDADEIROS OU CORAIS-PÉTREOS: têm grande importância na construção dos recifes. Seus pólipos absorvem cálcio da água do mar e o utilizam para construir um esqueleto calcário (como nossos ossos), que crescem pela base do pólipo. Caracterizam-se por apresentar tentáculos em número de seis ou múltiplos de seis e podem ser solitários ou coloniais (vários pólipos).

NEGROS OU SEMIPRECIOSOS: assim como os pétreos, também secretam um esqueleto pela base do pólipo, mas, neste caso, feito de material córneo (como nossas unhas). Esse esqueleto forma um eixo central que pode atingir comprimentos consideráveis e apresentar ou não ramificações. Esse eixo é revestido por espinhos e os pólipos têm seis tentáculos.

CORAIS-DE-FOGO: também produzem esqueleto calcário. No entanto, estes são cobertos por poros de tamanho diferenciado, onde se localizam dois tipos de pólipos: um especializado na alimentação e outro na defesa. Apresentam poderosos cnidócitos que podem causar ardor na pele ou queimaduras leves com um simples toque ou arranhão.

OCTOCORAIS: incluem as gorgônias, os corais tubo e os corais moles. São assim chamados por apresentarem exclusivamente oito tentáculos em seus pólipos. Podem produzir um eixo córneo, que lhe dá grande flexibilidade. Praticamente todos os octocorais formam colônias.

RICA DIVERSIDADE BRASILEIRA

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– No Brasil estão localizadas as únicas formações coralíneas relevantes do Atlântico Sul. Se comparado a outras regiões do mundo, como o Indo-Pacífico e o Caribe, o país tem pequena variedade de corais recifais de águas rasas. Na costa brasileira, há registros da ocorrência de 16 espécies de corais-pétreos ou verdadeiros e corais-de-fogo, distribuídas em dez gêneros e oito famílias.

2

– Considerando todos os tipos de corais, praticamente metade das espécies registradas no Brasil só ocorre em nossas águas: de 41 espécies, 20 são exclusivas. Apesar do pequeno número de espécies, nossos corais-pétreos têm grande importância biológica. Cinco espécies são endêmicas do Brasil, ou seja, só ocorrem em nossas águas, enquanto

uma tem distribuição ainda mais restrita, sendo encontrada somente na Bahia.

3

– O litoral sul baiano abriga os maiores e mais ricos recifes de coral de toda a costa brasileira. Sua presença é favorecida pelas ótimas condições de temperatura, salinidade e profundidade das águas. Além disso, ocorre ali uma formação coralínea única no mundo: os chapeirões, colunas recifais isoladas que crescem com formato de cogumelo.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - TRÊS PERGUNTAS PARA... DÉBORA PIRES

Coordenadora de Comunicação do Projeto Coral Vivo, doutora em Zoologia e professora do Museu Nacional (UFRJ)

PROTEÇÃO URGENTE Qual é o atual nível de conservação dos corais e das comunidades coralíneas existentes na costa brasileira? Os recifes de coral vêm sofrendo ameaças como o turismo desordenado, a sobrepesca, a má ocupação da costa, poluição etc. em vários lugares no mundo e no Brasil. Quanto mais costeiro e mais perto de grandes centros se encontram os recifes, maiores são os impactos sobre eles. Os recifes mais extensos e mais diversos da costa brasileira encontram-se no sul da Bahia. Essa região ainda abriga recifes com graus de conservação razoáveis, sobretudo os incluídos em áreas marinhas protegidas. Há registro recente do desaparecimento ou perda de recifes, no Brasil ou exterior, em razão da poluição ou atividades humanas? Sim, há registros de desaparecimento ou drástica diminuição de recifes de coral em alguns locais do mundo. O El Niño de 1997-1998 foi o mais forte de todos já registrados e causou um branqueamento sem precedentes, levando à morte de corais e de recifes em várias partes do globo, como no IndoPacífico. Naquela época, alguns recifes brasileiros

também sofreram branqueamento, mas os corais se recuperaram e não houve registro de mortalidade em massa. O preocupante é: estima-se que a temperatura da superfície do mar continue a subir e que os eventos de El Niño aumentem em frequência, intensidade e duração, ameaçando o futuro dos recifes de coral. O Coral Vivo promove cursos para professores, agentes de turismo e capacita universitários. Quais são as atividades desenvolvidas? Há algum material didático online? Sim. As atividades são variadas e incluem desde palestras sobre educação ambiental, recifes de coral, conservação marinha, mudanças climáticas e outras até discussões ou dinâmicas em grupo sobre temas variados, como a teia alimentar no mar etc. Disponibilizamos no nosso site materiais usados nessas atividades, como vídeos educativos (“Vida nos Recifes” e “O Homem e os Recifes”), apostila (“Turismo Sustentável em Ambientes Recifais”), manuais (“Manual de Capacitação do Professor em Educação Ambiental”) e o Jornal “Coral Vivo Notícias”, que já conta com 28 edições. 

SAIBA MAIS

A base de pesquisa e visitação do Projeto Coral Vivo, no Arraial d’Ajuda Eco Parque, fica próxima ao Parque Marinho do Recife de Fora, ao Parque Marinho da Coroa Alta e a outras unidades de conservação que reúnem uma das maiores biodiversidades de ambientes coralíneos do Brasil. O Espaço Coral Vivo Mucugê, situado à Rua do Mucugê, 402, também recebe visitantes. Acesse: www.coralvivo.org.br

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MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

SEMENTES

DA RENOVAÇÃO A

comunidade de Tabocal fica encravada num ermo nas cabeceiras mineiras do Vale do Jequitinhonha. Arrodeada pelo Espinhaço, suas belezas naturais são desfrutadas por seus moradores, dotados de uma sabedoria adquirida na lida com a terra que os sustenta. Quando passei por lá, bastou uma volta na beira do rio pra dar conhecimento com dona Maria Santinha, lavradora e moradora antiga da região. Assim que ela percebeu minha disposição de ouvir, logo passou um cafezinho enquanto dava de se abrir como mala sem fecho, numa prosa de caminhos torcidos na leveza da conversa descompromissada de arremate. Sentado na beira de um tronco de Monjolo esparramado na porta de sua casa, dei de puxar assunto, passando pela lida com a roça, a chuva tardia e o uso de sementes crioulas. Daí ela quase se saiu do sério de tão empolgada. - Como é que pode esse povo todinho se achar sadio com a comilança dessa porcariada toda que fica por riba das prateleiras da venda? Será que eles num tão vendo a peçonha que vai pra mesa deles? E isso vem desde as sementes, que já vem tudo coloridinha de veneno dentro dos pacotinho... Como é que aquilo vai dar alimento sadio? Tem jeito? Claro que não! Matutando cá comigo, uma verdade verdadeira é a de que “somos produtos daquilo que comemos”. Bo-

FOTO: MARCOS GUIÃO

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NATUREZA MEDICINAL

tando reparo na mesa, cada vez mais estamos afunilando a variedade dos alimentos, diminuindo assim nossa resistência física e mental. Isso só alarga o espaço para surgimento de doenças e desequilíbrios mais descabidos que hoje se esparramam por todo lado. - Muita gente perdeu o costume de guardar sementes - continuou dona Santinha. Fica dependendo de comprar. Mas essa história de cuidar delas é ciência das mais antigas. Todos os anos muitas famílias de agricultores cultivam e selecionam as sementes crioulas pra plantar no ano seguinte sem uso de veneno e nem de adubo químico. Mas, seu moço, o melhor lugar de guardar semente é na terra, né mermo? Assim elas vão se acomodando em cada região e ao jeitão de plantio usado ali. No atual, por exemplo, o tempo tá cada vez mais insano, com geada entrando pela primavera, frio de rebuçar com cobertor em pleno verão e calor brabo no inverno... E as secas então? Vixe! - Semente crioula é que nem a gente: de ano em ano vai aprendendo a viver no seu lugar... Lindo isso, num é? Pois é assim, na simplicidade de fazer a vida se renovar nas sementes, que garantimos nossa saúde e a dos nossos. Inté a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais. JANEIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  83

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1 VOCÊ SABIA?

O TEMPO É RELATIVO. E OS

CALENDÁRIOS, TAMBÉM! Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

J

aneiro, o primeiro mês do ano? Não para todos! A forma como se calcula o passar dos dias, meses e anos já sofreu muitas alterações no decorrer da história. E, mesmo na atualidade,

ela guarda diferenças alicerçadas na diversidade cultural. Confira como o calendário foi criado e modificado, ao longo do tempo, de acordo com fenômenos da natureza e até interesses religiosos:

CALENDÁRIO LUNAR

Diversas evidências científicas datadas entre 10 e 30 mil anos a.C. mostram que os homens préhistóricos já tinham a necessidade de marcar a passagem do tempo. Uma delas é o Osso de Ishango (detalhe à esquerda), uma ferramenta marcada com uma série de traços talhados, divididos em três colunas, ao longo de todo o comprimento do utensílio. Alguns cientistas sugerem que as agrupações dos traços indicam uma compreensão matemática que vai além da contagem, por exemplo, um calendário lunar de seis meses. 84  ECOLÓGICO | JANEIRO DE 2015

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REGISTRO INICIAL

O primeiro calendário egípcio também foi baseado em ciclos lunares. A marcação de datas ajudava os povos a estabelecer os melhores períodos para plantio de acordo com as cheias do Rio Nilo. Contudo, os espertos egípcios perceberam que a subida das águas coincidia com o nascimento da estrela Sirius, que fica na constelação do Cão Maior. À medida que o sol surgia no horizonte, o brilho da estrela era abrandado. Dessa forma, alteraram o calendário ajustando-o a esse evento, tornando-se, então, o primeiro calendário solar. Nascia assim o primeiro registro de 365 dias que se tem notícia.

OS MAIAS

O famoso calendário Maia vai muito além da compreensão de presságios sobre o fim do mundo. Esses povos viveram na região da América Central e tinham um sistema intrínseco de contagem do tempo baseado nos astros e na religião politeísta, da qual eram seguidores. Por isso, possuíam diversos calendários criados para propósitos diferentes e estruturados de maneira distinta. Para se ter uma ideia, um deles foi criado associando-se um número de um a 13 a cada um dos seus “20 dias da semana”, formando assim o chamado “Ano Santo” com 260 dias, já que 13 x 20 = 260.

FOTOS: DOLLARPHOTOCLUB

O NOSSO CALENDÁRIO

Atualmente, o Brasil e a maioria das nações ocidentais utilizam o chamado “Calendário Gregoriano”, baseado no movimento do Sol e cujo marco inicial é o nascimento de Jesus Cristo. Promulgado pelo Papa Gregório XIII (foto ao lado), que seguiu recomendação de astrônomos da época, essa nova marcação surgiu para corrigir as diferenças acumuladas ao longo de séculos pelo “Calendário Juliano”. Por isso, em 1582, o decreto papal ditava que o dia imediato à quinta-feira, quatro de outubro, fosse sexta-feira, 15 de outubro. Modificação que levou aproximadamente três séculos para ser utilizada em quase todo mundo. E, ainda hoje, não é adotada por todos os países.

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OLHAR INTERIOR

ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE BELO HORIZONTE (MG)

Plantando INTENÇÕES U

FOTO: LILY / FOTOLIA

ma das tarefas do curso “Ciência da Felicida- mento se dará já no presente, enquanto estamos atuande”, promovido pelo centro de pesquisa “Bem do, como também no futuro, sob a forma de hábitos Maior – A Ciência de Uma Vida Significativa” reforçados, tensões e lembranças dolorosas. Por outro (Greater Good – The Science of a Meaningful Life), da lado, se você nutre intenções de amor ou generosidade, Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), con- a alegria e o “espaço” inerentes a esses estados se torsiste em que você imagine a melhor versão de você nam uma parte frequente em sua vida. mesmo. Para isso, é preciso escrever um texto, usanAs intenções são às vezes chamadas de sementes, pordo o tempo presente, para descrever a visão que lhe que o jardim que você cultiva é composto essencialmenvem do coração. te das sementes que você planta e agua. Aqui, no presenO desafio é sentar, aquietar a mente e o coração e te. E que irão florescer, crescer, amadurecer e solidificar. imaginar: qual é a melhor versão de mim? Não conIsso quer dizer que, além de cultivar as sementes que fundir com metas e objetivos, que têm as suas ma- irão culminar na melhor versão de você mesmo, é prenifestações expressadas no mundo ciso também – e com muita atenção – exterior. A melhor versão da minha escolher, plantar e cultivar as sementes “Para me pessoa implica em movimentos que para a melhor versão idosa de você. transformar na se registram internamente – na alma, Escutando as histórias de meus amigos no jeito de ser, de relacionar, nas mimelhor versão de sobre como seus pais estão agindo, ou nhas escolhas. a minha história pessoal, como mim mesma, o que mesmo Para me transformar na melhor meus pais vivem hoje, como se comporversão de mim mesma, o que é pre- é preciso cultivar?” tam na vida, constato que nos tornamos ciso cultivar? Primeiro, é preciso saaquilo que reforçamos durante períodos ber o que eu quero que cresça no jardim da minha de tempo, alguns anos, décadas e até outros hábitos de vida. Somente sabendo responder a essa questão, “o uma vida inteira. que eu quero que germine” é que posso saber quais Encante-se pela melhor versão de você mesmo. E a sementes escolher, plantar e aguar. E nutrir sempre reforce, todos os dias, com muito carinho. Ao acordar, para que floresçam, e o meu jardim se torne a me- antes de abrir os olhos, tinja seu dia com uma gota de lhor expressão de mim! intenção. Dessa maneira, inclina-se a mente a seguir Nós somos hoje a soma de todos naquela direção. Fica lançada ali uma semente... que os pensamentos, experiências e germina já a partir do ato da intenção. afetos que foram sendo acumuDaí o tema “Intenção” para a primeira lados ao longo dos anos. O futuro edição da Ecológico em 2015. Inícios não é diferente; só que ao inverso. de mais um novo ciclo são momenLá na frente, em 10 anos, seremos tos muito especiais. É como se nos tudo aquilo, mais o que a partir de hoje fosse dada mais uma oportunidade, plantarmos e regarmos diariamente em dentro do processo, de nos tornarmos nossas vidas. a melhor versão de nós mesmos. É aí que se encontra a possibilidaEm 2015, semeie seu coração! de de escolha: em qual direção você Plante suas intenções.  deseja conduzir sua vida. É como plantar sementes. SAIBA MAIS Se cultivarmos intenções de Greater Good – The Science of a Meaningful Life ganância ou ódio, o sofrimenhttp://greatergood.berkeley.edu to inerente a esses estados vai (*) Life coach, psicanalista e consultora brotar. E a expressão desse sofri-

internacional de comunicação.

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Pelo terceiro ano consecutivo a Ekofootprint é reconhecida por seu modelo sustentável de negócios. Em 2012 recebeu o Prêmio SEBRAE de Práticas Sustentáveis. Em 2013 recebeu o Prêmio Benchmarking Brasil, em São Paulo. Importante ressaltar que em doze anos deste Prêmio a única outra gráfica a recebe-lo foi a Casa da Moeda do Brasil. Agora, em agosto de 2014, recebemos no Rio de Janeiro a certificação do Prêmio IBEF - Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, na categoria "Marca Sustentável" . Nestas premiações figuramos consistentemente entre grandes empresas e gigantes multinacionais, mostrando que estamos alinhados com as melhores práticas do mercado, no que toca à sustentabilidade e "fair trade". Se sua empresa deseja transformar os gastos com impressão em investimento em sustentabilidade, basta nos procurar.


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OLHAR POÉTICO

ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

ENTRE SEM F

im de ano. Depois de uma semana incessante de chuvas, Elvis Alberto Vanderley, eletricista desempregado (e às vezes camelô), começou a espirrar. Num só dia, fez as contas: espirrou 10 vezes. No dia seguinte, inflacionou: 100. No terceiro, com o nariz roxo e empolado, radicalizou. Recolheu a banca de lampadinhas chinesas (paraguaias) que vendia nas imediações da Guaicurus, molhou a mão de um fiscal da prefeitura, parou numa drogaria da Santos Dumont e comprou remédio pra dormir (com uma receita falsa). Debaixo do mesmo toró, virou sardinha no buzum. E foi embora pra casa, lá no Jatobá, encerrando o expediente com um chá pingado de suadouro: 51 + mel e limão capeta – e uma bruta vontade de morrer. Mas, de tanto se coçar debaixo das cobertas que pinicavam, já com febre, bateu ponto no delírio. Sonhou que um diabo ruim, à beira do precipício, o atormentava: – “Vem pra cá, Elvis. As chuvas vão aumentar, as enxurradas vão invadir seu barraco. Você não vai ter grana pra pagar aluguel, nem consórcio, nem prestação. Vai ter que devolver a geladeira frost-free da patroa, a TV de plasma do Mayconssuel e o notebook da Maryssuélen. Por Nossa Senhora do Facebook! Como é que você vai pagar a banda larga deles, Elvis? Me diga: e os celulares? Por São Twitter, Santo Instagram e Santa Maria do YouTube... Como é que você vai pagar a conta dos celulares, Elvis? E você ainda nem sabe o que é um Google, um WhatsApp, meu filho?” – o diabo pausava... E

continuava o tormento – “Veja bem, caro Elvis, os governos estão desviados, os trabalhadores endividados, os barnabés estão quebrados. E até esse ano-novo que vem aí vai morrer de quebradeira, de inflação. Vai ser um ano manco, capenga, de muleta. E vai ser infinito, uma eternidade!” – trovejava o diabo ruim, com aquela voz cavernosa de sempre, mostrando acima dos chifres um cartaz com o símbolo de infinito (∞), garrafal. Elvis suava, derretia, invadido por curtos-circuitos que travavam seu agadê primal. Mas o Torto reaturdia: “Veja bem, Elvis, você acaba de sair de um ano que nem existiu de verdade, sacou? Um ano perdido! Veio a Copa: você perdeu. Veio a eleição: você perdeu. E agora? Agora vai ter recesso parlamentar. Os juízes, os deputados, os governantes vão passear. E depois vem a ressaca do Carnaval, a ressaca da Quaresma, a ressaca da Semana Santa, cruz credo! E quando você se der conta, já é 2016, o ano das Olimpíadas, tá ligado? Isso, se você aguentar a ‘represidenta’ tentando explicar novas tramoias da Petrobras, das empreiteiras e outros escândalos que virão na esteira do propinoduto-brasilial-federal-estadual-e-municipal. Sai daí, mermão! Isso aí tá mais acabado do que aquela conversa do Pressal... Vem pra cá, vem?” – o diabo fazia um sinal com o dedo, piscando um olho, que nem o cãozinho-propaganda do banco – “Te arranjo um cargo de motorista-chefe na Infernobrás. Salário de oito mil por mês, como no Congresso, topas?” Então o diabo ruim desapareceu. Mas Elvis Alberto

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FOTO: WAVEBREAKMEDIAMICRO

EM BATER continuou febril. E espirrou, espirrou até a alma inchada e melecosa sair pelos orifícios do nariz, olhos, boca e esfíncter, respectivamente. Sua mulher, Cidalena, resolveu chamar os préstimos de uma vizinha raizeira-bruxa, antes que o caldo entornasse de vez, como a chuva lá fora. “Me traz um chá de orelha de cobra, Cidalena. Vai lá na Dona Zefa e pede pra ela preparar um daqueles... Hoje eu tomo até sopa de aranha com óleo de rícino! Na falta, serve guisado de morcego com piolho de jacaré!” E enquanto Cidalena tomava as providências, Elvis dormiu de novo, com aquela mesma bruta e imponderável vontade de morrer. Mas no sonho foi visitado pelo diabo bom, um diabinho iluminado de lampadinhas chinesas, que gargalhava e gargalhava: – Fica por aí mesmo, Elvis. Olha, 2015 vai ser outro ano infinito de bom! Vai haver emprego de marajá pra todo mundo. E até os assaltantes, a polícia, os traficantes, os estupradores, os pivetes e os fiscais da prefeitura vão sumir do mapa! Fica por aí, cara, que o inferno aqui tá um sufoco! Já tão querendo molhar a mão do Satanás, do Asmodeu, do Satanel, do Azazeu, do Luciféu e até do meu incorruptível amigo Lucifuge Rofocale, o Cramunhão, sabia?” – Elvis se assustou com tanto nome de diabo. Não sabia que havia tantos lá pelas Pirambeiras do Cujo. Só em Brasília. Mas o diabinho bom propôs: “Olha, a Mulher-Mamão-Papaia, aquela boazuda gostosa e peituda acaba de ficar peladinha da silva lá no Pelourinho. É só você entrar

no Túnel 2015, e ligar a TV pra ver os ‘pelourinhos’ dela. Os babaianos estão babando! Você não vai babar também, seu mineirinho besta?” Diante de tão convincentes argumentações, Elvis resolveu aceitar a proposta do diabinho bom, e ficar por aqui, vivendo e varrendo, do jeito que o diabo gosta. Só que, quando se preparava para entrar no Túnel 2015 (toda entrada de ano é um túnel iluminado por milhões de lampadinhas chinesas, dessas que ele mesmo vendia), viu uma placa no portão: ENTRE SEM BATER. Intrigado, entrou assim mesmo. Mas, à medida que caminhava, só encontrava escuridão. Escuridão atrás de escuridão. Nem uma frestinha de claridade, nem uma lampadinha chinesa sequer para iluminar o Túnel Anual por onde entrara: 2015. E a TV? Onde estava a TV, pra ele ver a Mulher-Mamão-Papaia peladinha da silva? Então chamou pelo diabinho bom: “E aí, camarada, quando é que vocês vão acender a luz aqui dentro, hein?” Ao que uma voz cavernosa (a do diabo ruim), respondeu: “Te enganei mais uma vez, seu trouxa! Esse lugar aqui já tá privatizado. E luz no fim do túnel só vai ter quando o governo resolver pagar a conta!”. Lá fora, um bando de trouxas substituía uma placa por outra: “SAIA SEM BATER”. E mais outra: “2015, O ANO QUE ERA MELHOR NEM TER COMEÇADO!”.  (*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ). antonioba@uol.com.br | facebook.com/antonio.barreto.12139

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MEMÓRIA ILUMINADA

O PENSAMENTO VIVO DE

GERSON BOSON 90  ECOLÓGICO | JANEIRO DE 2015

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Déa Januzzi

redacao@revistaecologico.com.br

A

rtista, poeta, filósofo e professor. Antes de tudo, um humanista, de valores universais. Gerson Boson será sempre lembrado por sua vocação democrática. Mesmo em plena ditadura militar, como reitor da UFMG (de 22/02/1967 a 13/10/1969), ele entrou para a história ao ser convocado por um comandante militar a deixar a reitoria e se dirigir ao prédio da Faculdade de Direito, no Centro de BH, para autorizar a invasão da escola pelos soldados. É que os estudantes entrincheirados no prédio gritavam palavras de ordem contra a ditadura e jogavam objetos lá de cima sobre a tropa. O comandante exigia dele autorização para invadir a escola e prender os manifestantes. Tranquilamente, como era do seu feitio, Gerson Boson não se abalou com as ameaças dos militares e respondeu: “Senhores, lamento, mas para entrarem aqui vocês têm de fazer vestibular”. Cassado pelo Ato Institucional número 5 (AI-5), em outubro de 1969, ele teve de deixar a universidade, mas jamais permitiu que aprisionassem os seus pensamentos. Pioneiro nos estudos de internacionalização do Direito Constitucional, soube enfrentar os momentos mais duros do regime autoritário, como invasões no campus, perseguições e o expurgo de professores. Em novembro do ano passado, quando se comemorou o centenário de nascimento de Boson, ele foi

homenageado pela Assembleia Legislativa de Minas e pela Academia Mineira de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 34, que tem como patrono o inconfidente Tomás Gonzaga, sucedido por personalidades como Juscelino Kubistchek e Affonso Arinos. O legado como intelectual e jurista fez dele professor catedrático de Direito Internacional Público e professor titular de Filosofia do Direito, até chegar a reitor da UFMG. Na cena pública, foi inspetor federal de ensino do Ministério da Educação, juiz do Tribunal Regional Eleitoral, conselheiro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, além de advogado-geral do Estado de Minas Gerais (1966), secretário estadual de Educação (1966/1967) e secretário estadual da Casa Civil (1989/1991). É preciso dizer que a passagem de Gerson Boson pela UFMG, embora por apenas 2,5 anos, deixou marcas: criou o Museu de História Natural e o Jardim Botânico, os institutos de Ciências Exatas, de Ciências Biológicas e Geociências. Em sua curta, mas produtiva gestão como reitor, criou também as escolas de Enfermagem, de Belas Artes, e incorporou a Escola de Educação Física, além de ter sido responsável por montar o Observatório Astronômico da Serra da Piedade. E, ainda, criou o Festival de Inverno, campo livre para as manifestações artísticas, mesmo em plena ditadura. Confira algumas de suas frases marcantes:

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MEMÓRIA ILUMINADA

l LIBERDADE E IGUALDADE “Entre liberdade e igualdade, sempre poderá haver a dialética das razões, mas nunca conflitos essenciais, pois são valores que não se excluem, mas se complementam. Assim como não pode ser livre o homem na miséria, não pode ser livre o homem no fausto ante a miséria dos seus concidadãos.”

FOTOS: MARCOS TAKAMATSU

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“As tentativas de realização da igualdade com o sacrifício da liberdade, na ascensão cultural, nos tem exemplificado a história. Mas elas sempre fracassaram e sempre fracassarão, em todas as culturas, porque a violência nunca foi e nunca será a matriz da paz e da justiça.” “O homem não pode ser visto em nenhuma interpretação que dele se possa fazer, só como natureza ou espírito. Daí advém toda a grande importância da liberdade para a nossa vida. E, dentro desta, a sua maior importância para o direito de expressão, o direito de comunicar-se.” “Sem liberdade seria impossível a civilização. Somente pela liberdade o homem deixa de ser simples indivíduo para ser pessoa.” l INFORMÁTICA “A informática constitui mais uma flor da tecnologia, que se coloca como expressão de civilização da nossa cultura amadurecida.” l UNIVERSIDADE “Uma universidade que tivesse por objetivo a formação de homens portadores do ‘saber pelo saber’ ou da ‘arte pela arte’ seria tão falha quanto a que tivesse a missão de formar técnicos e práticos. É inútil ‘o saber pelo saber’ quanto perigoso fazerse da ciência positiva ou da tecnologia o único saber possível.” l HOMEM ATUAL “Na verdade, o mundo hoje parece acenar para um movimento de transação ideológica, em que se procura apresentar o homem sem direita e sem esquerda, o homem de dois braços, um

só coração, uma só cabeça, buscando agir na sua harmonia de felicidade terrena.” “Chegará o dia, já não tão longe, em que o homem irá rir das suas tolices de hoje, assim como ri de suas tolices no mundo medieval.” lÉTICA “A vida deixa de ser um fato e passa a ser um valor e a ter uma orientação ética. Ética enquanto reflexão sobre os princípios que regem a conduta do homem perante si mesmo e perante toda a comunidade. Ética enquanto princípio de conduta que atribui, a cada um, um papel em suas relações com a natureza e seus semelhantes.” l SER ERRANTE “Lançado no mundo, o homem quando disso toma consciência, maravilha-se. Estranha o mundo e estranha por estar no mundo. Fantástico que é o mundo em que somos lançados. Nele, somos o único ser que erra.” l POESIA “É pela poética que o espírito melhor projeta a sua liberdade criadora.” 

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DEPOIMENTOS

t FOTO: POLLYANNA MALINIAK / ALMG

“ESSE ERA MEU PAI”

“No dia 27 de novembro passado, Gerson Boson, meu pai, faria 100 anos se estivesse vivo. Ele foi um grande servidor público. Secretário de estado, reitor da UFMG, reitor pro tempore da UEMG, deixou ativos substanciais por onde passou. Fez a diferença. Teria feito mais, se não fosse cassado pela ditadura, interrompendo seu gosto em servir bem ao público por mais de 20 anos, especialmente nas áreas da Educação, Letras, Artes, Ciência e Tecnologia. Em seu campo de atuação foi ainda um dos pioneiros no Brasil nos estudos e pesquisas de Constitucionalização do Direito Internacional e um jusfilósofo. De todos os títulos que teve, gostava mesmo era do de professor. Tarefa exercida com maestria até seus últimos dias. Plantou muitas árvores, escreveu livros, deixou aos sete filhos valores que tornam as nossas vidas algo digno de ser vivido. Não é à toa que a artista plástica Yara Tupynambá corajosamente o imortalizou em obra magnífica, ‘Inconfidência Mineira’, em um painel na reitoria da UFMG [foto na página anterior], com uma citação de meu pai já cassado: ‘Condição primeira para cultura é a liberdade’. A obra foi observada o tempo todo por militares armados.” PATRÍCIA BOSON, engenheira, secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg e conselheira da Revista Ecológico.

O DEPUTADO Sávio Souza Cruz (PMDB/MG), Patrícia e Maria Otília, filha e viúva de Gerson Boson, durante homenagem ao jurista na ALMG: memória viva

“O nome de Gerson Boson está intimamente ligado à liberdade e à autonomia universitária. Sua luta intransigente pelo direito de manifestação e de expressão livre e democrática acabou custando-lhe o cargo de reitor da UFMG no período mais negro da malfadada ditadura militar. Mas a sua luta, mesmo com todos os percalços, não foi em vão. A universidade resistiu e abrigou a última chama de independência e de espírito libertário que ainda restava naqueles duros anos do final das décadas de 1960 e 1970. O Grupo Galpão, que nasceria em 1982 dentro dos festivais de inverno da UFMG e na

esteira da reorganização da sociedade civil, deve muito de sua história a homens como Gerson Boson. Isso porque sua luta intransigente pela liberdade como instrumento para o desenvolvimento do espírito crítico foi, é e sempre será o elemento fundamental para o florescimento das artes.”

FOTO: NETUN LIMA / DIVULGAÇÃO

AMIGO DAS ARTES

EDUARDO MOREIRA, ator do Grupo Galpão

COMO POUCOS “Me emociona rever páginas do então ‘Suplemento Literário de Minas Gerais’ com fotos e declarações em destaque de Gerson Boson, com quem me identifiquei desde os encontros com ele para a entrevista. Minha passagem pelo Suplemento me enriqueceu intelectual e emocionalmente, com inúmeros representantes da literatura. De maneira especial, os contatos com

o professor Boson para elaboração de matérias jornalísticas. A simplicidade dele mal disfarçava a pessoa culta. Cordial no trato e na linguagem quando conversávamos sobre criação literária, natureza e a vida no campo.” PASCHOAL MOTTA, poeta e jornalista, ex-editor do “Suplemento Literário de Minas Gerais”

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

RAÍZES E TRONCOS

DO BRASIL O olhar sensível da fotógrafa Vera Godoy confirma a beleza cenográfica das árvores brasileiras Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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A CASTANHEIRA parece querer tocar o céu

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FOTOS: VERA GODOY

s árvores são fáceis de achar. Ficam plan- sitário UNA. “Fotografo porque gosto. Fotografias tadas no chão, mamam do sol pelas folhas. são como filhos, são todas amadas. Antes, queria E, pela terra, também bebem água. Cantam ser pintora. Mas foi como fotojornalista que realino vento e recebem a chuva de galhos abertos. Cres- zei vários sonhos”, afirma. O principal deles, diz ela, cem pra cima, como as pessoas, mas nunca se dei- foi viajar pelo mundo e conhecer pessoas e lugares. tam. O céu, aceitam.” Entre os roteiros já visitados estão paA simplicidade da letra da música “As íses da América do Sul e da Europa, Árvores”, do cantor e compositor Aralém da Antártida, onde permaneceu naldo Antunes, retrata, na verdade, o por um mês. amor e a contemplação que devemos Na carreira, Vera, que é mãe de dois ter diante dessas maravilhas da natufilhos, soma a marca invejável de 11 exreza. No entanto, há quem consegue posições fotográficas e vários projetos registrá-las e, ainda, despertar esses em desenvolvimento, como o “Raízes sentimentos no próximo. do Brasil”, em que retrata raízes, tronÉ o caso da mineira Vera Godoy. Decos, folhas, flores e outras peculiaridapois de atuar como repórter fotográdes das árvores de nosso país. Confira: fica no jornal “Estado de Minas” por quase 25 anos, hoje ensina a sua arte SAIBA MAIS VERA GODOY: "Fotografias veragodoybr@yahoo.com.br como professora no Centro Universão como filhos"

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

FUNGOS enfeitam tronco na mata: coexistência poética

SIMBIOSE: água e tronco de árvore em abraço fraterno

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FOTOS: VERA GODOY

À BEIRA da paisagem, a contemplar seu próprio mundo

NO FIM DE TARDE, a grandeza do ipê-rosa em meio à luz do sol

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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

JANEIRO,

O TEMPO DOS COMEÇOS

FOTO: ALFEU TRANCOSO

P

ara os antigos romanos, janeiro (januaris) é o mês consagrado a Jano, o deus tutelar por excelência daquele povo. Tutelar porque é uma divindade que indica a melhor direção a seguir ou a mais sábia das alternativas a tomar. Esses começos simbolizam o tempo que flui na direção de uma meta ou da seta do tempo que cada um dos humanos terá de percorrer. Desse modo, a pessoa se torna aquilo que escolhe ser. Daí, janeiro ser a porta de entrada do novo ano, pela qual iniciaremos uma nova marcha até chegar à outra porta (dezembro) ao final dos doze meses. Felizes ou não, vitoriosos ou derrotados, passaremos obrigatoriamente por essas portas. Jano é um deus dos começos, pois todo o viver é determinado pelas suas chegadas que, na realidade, são novas partidas. Ano velho e ano novo, chegar e partir, começar e terminar, eis o ciclo eterno do retorno do tempo. Jano é também um deus bifronte porque tem dois rostos, um que olha para o íntimo e o outro, para fora. Explicando melhor, todo portal romano tinha o desenho de duas faces, indicando uma que olha para nós, para o nosso interior, onde a alma vigilante descansa. A outra face se dirige para o exterior, para o campo das escolhas, da

luta diária pela sobrevivência do corpo, com o qual chegaremos em casa, suados e exaustos, mas com o pão garantido. Por isso, Jano ficou conhecido como o deus dos portais, presidindo o destino humano e premiando no céu aqueles que passarem por essas dificuldades com galhardia e sensatez. Todo homem sensato, durante seu trajeto de vida, precisa armazenar entusiasmos e colecionar contentamentos, pois são eles que irão alimentar espiritualmente as festas de final de ano. Mas janeiro é o tempo de iniciar a nova luta para preparar um novo ano mais festivo ainda. Imitando o próprio Hércules, que tinha doze trabalhos a realizar, temos 12 meses em que teremos de vencer os incontáveis desafios até chegarmos vitoriosos, alegres e felizes ao final de mais um ano, em que desmedidamente iremos, de novo, sorrir, cantar, abraçar e dançar. Não é de graça que janeiro nos incita tanto a sair, viajar, conhecer pessoas diferentes, novas paisagens, novos horizontes ou litorâneas experiências. Em nosso hemisfério, janeiro é o tempo de verão com seu contagiante calor, que significa luz e animação, suor e desejo, que se resume nessa busca frenética por uma intimidade maior com águas, pessoas, areias e montanhas. Essa época, por irradiar muita energia, é, também, movimento, forma e ritmo, condições básicas para fortalecer ao máximo os passos do intrépido viajante. Finalmente, verão é tempo de partir, de festejar amizades, descobrir novos amores, fantasiar o inútil e parabenizar a atoice. Viver essas experiências, tanto de corpo quanto de alma, provoca arrepios de contentamento em nosso desejo. E assim fica muito mais fácil aguentar as rotineiras tarefas do cotidiano. E, desse modo, chegar tranquilo ao final do ano que vai nos preparar para um outro janeiro. Confiemos em Janos, o deus tutelar, que irá nos indicar a melhor direção a seguir. Já sabemos: quando as alegrias e as felicidades se encontram, formamos a festa, abraçamos, amamos e dançamos. Depois delas, com certeza, a jornada será mais fascinante ainda. Boas férias e amplos horizontes! 

(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.

98  ECOLÓGICO | JANEIRO DE 2015

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