Edição 29 - Revista de Agronegócios - Dezembro/2008

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F E R T I L I Z A N T E S

14 Revista Attalea® Agronegócios - Dez 2008 -

Adubação em Tempos de Crise Heitor Cantarella, Bernardo van Raij e José Antônio Quaggio 1 Nutrientes minerais tais como nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S) etc, são essenciais para a produção agrícola, pois eles compõem cerca de 5% da massa seca das plantas. Assim, a cada colheita de grãos, frutas, hortaliças, fibras, madeira etc, parte dos elementos minerais retirados do solo é transportada para fora da fazenda. Como exemplo, uma tonelada de milho contém cerca de 30 kg nos nutrientes mais caros, N, P e K. Se os nutrientes removidos pelas colheitas não forem repostos, ocorre um declínio gradativo da fertilidade do solo e, em conseqüência, da produtividade. Esses elementos devem ser repostos na forma de fertilizantes minerais ou orgânicos para manter a capacidade produtiva do solo. O nitrogênio é um caso especial. Para algumas culturas, especialmente as leguminosas como a soja e o feijão, parte do N pode vir da atmosfera por meio da fixação biológica promovida por microrganismos associados às plantas. Mas, para a maioria das plantas cultivadas, também o N tem que ser fornecido na forma de fertilizantes minerais ou orgânicos. Para o bom aproveitamento dos nutrientes aplicados ou presentes no solo, o solo não pode ser muito ácido. Assim, além da adubação, é necessário fazer a calagem quando a acidez do solo é excessiva. O calcário, que tem a função de corrigir a acidez dos solos, tornando os nutrientes mais facilmente disponíveis para as plantas, também fornece nutrientes, tais como cálcio e magnésio. Além disso, o gesso, um produto que serve para atenuar os efeitos da acidez do subsolo sob as raízes das plantas, fornece cálcio e enxofre. A agricultura moderna, pelos custos envolvidos para altas produtividades, não pode mais ser realizada sem a aplicação de elevadas quantidades de nutrientes e corretivos. O consumo do

Brasil em fertilizantes do Brasil em 2007 foi, segundo a ANDA, de 11,0 milhões de toneladas de nutrientes. Isso representa em torno de 50,9 kg de nutrientes NPK por tonelada de produto agrícola, incluindo grãos, cana-de-açúcar, tubérculos, fibras e frutas. O crescimento vertiginoso da demanda por fertilizantes nos últimos anos, puxado pelo consumo crescente da China, Índia, Brasil e vários outros países asiáticos fez com os preços desses produtos aumentasse muito no mundo todo. O reequilíbrio entre oferta e procura deve levar algum tempo, pois a fabricação de fertilizantes requer grandes investimentos industriais com longo tempo de maturação uma vez que os insumos utilizados para a produção de fertilizantes são rochas ou minerais naturais processados (para P e K, por exemplo) ou gás natural ou outros derivados de petróleo (para o N). Isso significa que os preços dos adubos devem continuar altos pelo menos por mais uma ou duas safras. Apesar dos preços das principais commodities estarem em patamares elevados, com algumas exceções como a cana-de-açúcar, a relação de troca entre fertilizantes e insumos versus produtos agrícolas se tornou desfavorável para os agricultores. Assim, muitos agricultores deverão cortar custos, especialmente com fertilizantes. Mas como reduzir o uso de um insumo essencial para o desenvolvimento das plantas como os fertilizantes sem prejudicar a produtividade?

Calcário

Sem Fósforo

Com Fósforo

Sem calcário 3 t/ha 6 t/ha

400 1.755 2.194

843 1.983 2.495

Fazer análise do solo - O primeiro passo é fazer a análise do solo para ter um diagnóstico das necessidades específicas para produzir em cada gleba da propriedade e priorizar a aplicação dos nutrientes mais limitantes à produtividade, que são aqueles que darão os maiores retornos ao capital investido e, consequentemente lucro. Há muitos laboratórios de análise qualificados para oferecer um bom serviço, com métodos apropriados para os solos tropicais. A página do IAC na internet (www.iac. sp.gov.br) dispõe de uma lista de laboratórios que participam do Programa Interlaboratorial coordenado por aquele instituto e também tem detalhes sobre os métodos de análise e o modo de realizar a amostragem. Corrigir a acidez do solo - O segundo passo é fazer calagem se o solo estiver ácido. A análise do solo também permite a obtenção de indicações seguras sobre o tipo e a quantidade de calcário a aplicar para as diferentes culturas. Há dois aspectos importantes relativos à calagem: a) o preço do calcário, produzido e consumido localmente,

Tabela 2. - Limites de interpretação de teores de potássio, magnésio, fósforo e de enxofre em solos. Teor no Solo

P Resina K+ M g ++ Florestais P e r e n e s Anuais Hortaliças t r o c . - - - - - - - - - - - - - - - - - m g / d m 3- - - - - - - - - - - - - - - - -

Muito baixo Baixo Médio Alto Muito Alto

0-2 3-5 6-8 9-16 > 16

0-5 6-12 13-30 31-60 > 60

0-6 7-15 16-40 41-80 > 80

0-10 11-25 26-60 61-120 > 120

S

mmol/dm3

0,0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 > 6,0

mg/dm3

0-4 5-8 >8

0-4 5-10 >10

Tabela 3. - Limites de interpretação dos teores de micronutrientes em solos. Teor no Solo

B

Cu

Fe

Mn

Zn

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - m g / d m 3- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

1

- Pesquisadores do Centro de Solos e Recursos Ambientais, IAC - Instituto Agronômico, Campinas (SP). Emails: cantarella@iac.sp.gov.br, bvanraij@iac.sp. gov.br e quaggio@iac.sp.gov.br,

Tabela 1. - Produtividade de algodão (kg/ ha de algodão em caroço) em função da aplicação de calcário e fósforo.

Baixo Médio Alto

0-0,20 0,21-0,60 >0,60

0-0,2 0,3-0,8 >0,8

0-4 5-12 >12

0-1,2 1,3-5,0 >5,0

0-0,5 0,6-1,2 >1,2


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