#272 BOA VONTADE

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Em seu artigo, Paiva Netto destaca: “Ainda que os governos do mundo resolvessem toda a problemática social de seus povos, a Caridade seria necessária. (...) Ora, Caridade é sinônimo de Amor...”

ANO 66 • No 272 • JUNHO/2022

E s t oc ol mo + 50

É urgente a conscientização ambiental Tempestades mais severas, escassez de água, extremos nas temperaturas: cientistas explicam por que precisamos do esforço coletivo para evitar o colapso climático

LBV atua em prol das populações que mais sofrem com as mudanças climáticas e desperta a consciência sustentável a partir das novas gerações

LONGEVIDADE Serviços de convivência da LBV ajudam a combater a depressão em idosos HISTÓRIA DA VIDA Professor de Harvard apresenta as descobertas mais recentes sobre a evolução do Universo



TRATADO DO NOVO MANDAMENTO DE JESUS

A Espiritualmente Re volucionária Ordem Su prema do Divino Mestre repr esenta o diferencial da Le giã o da Boa Vontade e é a base de todas as suas ações de promoção espiritual, socia l e humana, pela força do Amor Fraterno, por Ele trazid o ao mundo. Ensinou Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Es 13:34 tadista: “ Novo Mandamento vos do u: am aivo s com o Eu 13:35 vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros. 15:7 Se permanecerdes em mim e as minhas palavras em vós permanecerem, pedi o qu e quiserdes, e vos será 15:8 con ced ido. A glória de meu Pai está em que deis muito fruto; e ass im sereis meus discípulos. 15:10 Se guardardes os meus mandamentos, permanec ereis no meu Amor; assim como tenho guardado os mandam ent os de meu Pai e permaneço no Seu Amor. 15:11 Tenho-vos dito estas coisas a fim de que a minha alegri a esteja em vós e a vossa ale gria seja completa. 15:12 O meu Mandamento é est e: que vos ameis como Eu vos tenho amado. 15:13 Não há maior Amor do que doar a pró pria vida pelos seus amigos. 15:14 E vós sereis meus amigos se fize rde s o que Eu vos mando. 15:17 E Eu vos mando isto: am ai-vos como Eu vos amei. 15:15

Já não mais vos chamo ser vos, porque o servo não sab e o que faz o seu senhor; ma s tenho-vos chamado amigo s, porque tudo quanto aprendi com meu Pai vos tenho dado a con hecer. 15:16 Não fostes vós que me esc olhestes; pelo contrário, fui Eu que vos escolhi e vos design ei para que vades e deis bo ns frutos, de modo que o vosso fruto permaneça, a fim de que tud o quanto pedirdes ao Pai em meu no me Ele vos conceda. 15:17 E isto Eu vos mando: que vos ameis como Eu vos ten ho amado. 15:9 Porquanto, da mesma forma como o Pai me am a, Eu também vos amo. Perman ecei no meu Amor”. (Tratado do Novo Mandame nto de Jesus, reunido por Pai va Netto, consoante o Santo Evange lho do Cristo de Deus, segund o João, 13:34 e 35; e 15:7, 8, 10 a 17 e 9.)


Em 23 de maio de 2022 (segunda-feira), o escritor Paiva Netto apresentou, pela Super Rede Boa Vontade de Comunicação (rádio, TV e internet), página endereçada, em 12 de janeiro de 1991 (sábado), aos Irmãos de Boa Vontade do Brasil e do mundo, e que recebera momentos antes por intermédio de Josué Bertolin, secretário-executivo da Academia Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista. Embora passados 31 anos, o documento continua atualíssimo justamente por partir do Jesus Ecumênico, sem arestas, que abraça a todos sem distinção, amplamente defendido por Paiva Netto. Logo no início de sua palavra, ele trouxe este fortíssimo pensamento do fundador da LBV, Alziro Zarur (19141979): “Religião, Filosofia, Ciência e Política são quatro aspectos da mesma Verdade: Deus”. Vamos, portanto, à histórica circular que emocionou profundamente os telespectadores, ouvintes e internautas da Comunicação 100% Jesus e que você pode acompanhar pelo Instagram e Facebook (@ paivanetto.com), pelo YouTube.com/paivanettovideos ou ainda pelo blog do autor: https://www.paivanetto.com/pt/jesus/nosso-lema-acima-de-tudo-em-nossa-vida-e-Jesus

Deus Está Presente! Viva Jesus em nossos corações para sempre! 1) Nosso caminho é Jesus! 2) Nossa vida é Jesus! 3) Nossa segurança é Jesus! 4) Nossa sobrevivência é Jesus! 5) Nosso Mestre é Jesus! 6) Nosso Guia é Jesus! 7) Nosso Chefe é Jesus! 8) Nosso Amor é Jesus! 9) Nossa saúde é Jesus! 10) Nosso bom sucesso é Jesus! 11) O destino feliz de nossas famílias é Jesus! 12) Nossa segurança eterna é Jesus! 13) Nosso equilíbrio econômico-financeiro é Jesus! 14) Nossas férias, alegria e alimento é Jesus! 15) Cultura, estudo e Fé é Jesus! 16) Política e Religião é Jesus! 17) Nossa sobrevivência na guerra que vem vindo aí é Jesus! 18) Jesus é tudo para nós, se tivermos juízo; pois, como dizia o saudoso Irmão Zarur, se não

ligarmos em Jesus as nossas tomadas e não nos unirmos à Humanidade de Cima, que será de nós? Nada! 19) É urgentemente necessário que todos nós nos integremos nesta convicção: Jesus! 20) Só assim sobreviveremos a tudo que acontecer nas nossas vidas. 21) É Ele mesmo, Jesus, Quem nos convocou. Ele mesmo. 22) Não podemos brincar com Ele. Jesus!!! Jesus!!! E mais Jesus!!! E ainda mais Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, o Senhor da Paz! Com Jesus, venceremos sempre, sempre e sempre! Deus Está Presente! Viva Jesus em nossos corações para sempre! Aquele que os ama, José de Paiva Netto Servidor dos Amigos de Deus




SUMÁRIO

Revista apolítica e apartidária da Espiritualidade Ecumênica ANO 66 • EDIÇÃO 272 • JUNHO/2022 Edição fechada em 31/5/2022 BOA VONTADE é uma publicação da LBV, lançada pela Editora Elevação. Registrada sob o no 18.166 no livro “B” do 9o Cartório de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo.

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DIRETOR E EDITOR RESPONSÁVEL: Francisco de Assis Periotto — MTE/DRTE/RJ 19.916 JP CHEFE DE REDAÇÃO: Rodrigo de Oliveira — MTE/DRTE/SP 42.853 JP COORDENAÇÃO-GERAL DE PAUTA: Gerdeilson Botelho SUPERINTENDÊNCIA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO: Gizelle Tonin de Almeida EQUIPE ELEVAÇÃO: Adriane Schirmer, Carolina Salomão, Cida Linares, Leila Marco, Leilla Tonin, Mariane de Oliveira Luz, Mário Augusto Brandão, Neuza Alves, Nicholas de Paiva, Vivian R. Ferreira, Walter Periotto, Wanderly Albieri Baptista, Wellington Carvalho de Souza e William Luz. CAPA E PROJETO GRÁFICO: Helen Winkler DIAGRAMAÇÃO: Diego Ciusz e Helen Winkler FOTO DE CAPA: shutterstock.com ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Rua Doraci, 90 • CEP 01134-050 • Bom Retiro • São Paulo/SP • Tel.: (11) 3225-4971 • Caixa Postal 13.833-9 • CEP 01216-970 Internet: boavontade.com E-mail: info@boavontade.com

8 Mensagem de Paiva Netto

A revista BOA VONTADE não se responsabiliza por conceitos e opiniões em seus artigos assinados. A publicação obedece ao elevado propósito de estimular o debate dos temas relevantes brasileiros e mundiais e de refletir as tendências do pensamento contemporâneo.

Caridade: a Ideologia Divina do espírito de Justiça

16 Biosfera

• Iminência de crise climática (p. 16) • Somos Natureza (p. 32)

CANAIS DA LBV NA INTERNET

48 Terceira idade

Alegria por conviver

www.lbv.org.br Facebook: LBVBrasil Youtube: LBV Videos Instagram: LBVBrasil Twitter: @LBVBrasil

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56 Espírito e Ciência

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História da vida

64 LBV é ação

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Bruna Gonçalves

MENSAGEM DE PAIVA NETTO


PAIVA NETTO ESCREVE

caridade:

a Ideologia Divina do espírito de Justiça “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu Irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o Amor de Deus?” (Primeira Epístola de João, 3:17)


João Preda

MENSAGEM DE PAIVA NETTO

JOSÉ DE PAIVA NETTO é escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno”.

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Cristo cura os enfermos, obra de R. Gebhard Fugel (1863-1939).

M

editando sobre o imenso valor da Caridade, ressalto que não basta dar o pão material, que, depois, pelo corpo é lançado fora... Necessário se faz também atender às carências do Espírito, de forma que ele, mesmo quando reencarnado, descubra as extraordinárias qualidades que, como Templo do Deus Vivo*1, traz dentro de si próprio. Assim, aprenderá a empregá-las com pleno conhecimento das Leis Divinas. E saberá livrar-se dos enganos, cuja origem — para os que têm “olhos de ver e ouvidos de ouvir” — se encontra no campo espiritual. Espírito enfermo, matéria enferma. Mente perturbada, corpo afetado*2. A so*1 Templo do Deus Vivo — Escreveu o Apóstolo Paulo, que aprendeu com Jesus: “Vós sois o Templo do Deus Vivo” (Primeira Epístola aos Coríntios, 3:16). *2 Nota de Paiva Netto Mens sana in corpore sano — Pensamento latino, atribuído ao poeta romano Juvenal (55 aprox.-127 aprox.): “Mente sã, corpo são”. Pedimos licença ao famoso autor de Sátiras para ir adiante: é necessário manter o Espírito, sua parte eterna, sadio. Equivocam-se os dirigentes de nações que insistem unicamente no aperfeiçoamento atlético e intelectual dos seus compatriotas. Esquecem o basilar: a imprescindível formação espiritual do povo, fundamentada no Novo Mandamento do Cristo (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35). Sem isso, a criatura é fatalmente levada às desilusões com a vida, aos erros e às frustrações. É quando a mocidade se entrega aos vícios mais terríveis.


Fotos: Reprodução BV

lução é psicossomática. Pensamento é força realmente. Escreveu Adelaide Coutinho (1905-1975 aprox.), pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier (19102002): — Se não lapidarmos o coração, sobrevém para nós a tormenta. São os votos malcumpridos, as promessas olvidadas, as tarefas ao abandono, os compromissos relegados ao esquecimento e a ânsia doentia de colher sem plantar e auferir lucros sem esforços, na grande jornada [da matéria] em que juntos de nossos amigos e adversários, tanto poderíamos realizar em nosso próprio proveito!

fraternidade humana, porque a dor e a necessidade, a tristeza e a doença, a pobreza e a morte não se acham longe de ti. Eis por que a Legião da Boa Vontade não cuida somente do corpo, mas também do Espírito. De outra forma, há sempre o perigo de se promover a vagabundagem, coisa que absolutamente não fazemos. Como dizia o abade, poeta e tradutor francês Jacques Delille (1738-1813), — a Caridade que se faz por meio de esmola é uma forma de conservar a miséria.

E Emmanuel (Espírito) nos traz este alertamento:

Que ninguém, todavia, se furte ao dever de ajudar. Amanhã poderá situar-se entre os suplicantes, necessitado urgente da esmola do que passa...

— O desânimo absorve-te o coração? Lembra-te de que o tédio é um insulto à

— Hodie mihi, cras tibi. (Hoje, eu; amanhã, você.)

Chico Xavier

Emmanuel

Jacques Delille

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Fotos: Reprodução BV

MENSAGEM DE PAIVA NETTO

Apóstolo Paulo

Maimônides

João Evangelista

Alimente-se, pois, o corpo combalido, mas que se lhe salve a Alma com o Evangelho e o Apocalipse de Jesus, em Espírito e Verdade, à luz do Seu Novo Mandamento, de forma que o ser humano, conhecendo e vivendo as Leis de Deus, livre de sectarismos e fanatismos que tanto têm prejudicado as religiões no mundo, descubra que, sendo Templo do Deus Vivo, como anotou o Apóstolo Paulo, pode libertar-se da miséria. Descoberta a riqueza interior, a exterior, mais dia, menos dia, surgirá. Analisando o trabalho de grandes pensadores, escreveu Henry Thomas (1886-1970) a respeito do filósofo e físico judeu-árabe Maimônides (1135-1204), conhecido como o Aristóteles da Idade Média: — [Maimônides] é especialmente famoso pelos seus Oito Degraus de Ouro da Caridade. Neste ensaio, expõe que há uma diferença entre dar e dar. Podeis dar com a mão, o pensamento e o coração. O primeiro e mais baixo degrau na escala da Caridade é dar com relutância. O segundo é dar insuficientemente. O terceiro é dar somente quando se é solicitado. E assim por diante, até chegarmos ao oitavo degrau. Este é impedir a pobreza para evitar a necessidade da Caridade. Este, conclui ele, é o mais alto degrau e o cume da escada de ouro da Caridade. Entretanto, não se deve restringir a Caridade ao louvável serviço da assistência material. Caridade é muito mais. Dirige-se ao Espírito do ser humano. Ainda que os governos do mundo resolvessem toda a problemática social de seus povos, a Caridade seria necessária. Ela é, como prega a Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, Amor. E “Deus é Amor” (Primeira Epístola de João, 4:16). Ninguém vive sem Ele, nem mesmo os Irmãos ateus...

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Curitiba/PR

CARIDADE — DOM SUPREMO Caridade é um dom supremo no qual o Espírito se vai integrando, até que alcance a compreensão do Apóstolo Paulo na sua famosa página, constante da Primeira Epístola aos Coríntios, 13:1 a 13, e cuja versão foi transcrita na Antologia da Boa Vontade (1955):

A CARIDADE Eu podia falar todas as línguas Dos homens e dos anjos. Logo que não tivesse Caridade, Já não passava de um metal que tine, De um sino vão que soa! Podia ter o dom da profecia, Saber o mais possível, Ter Fé capaz de transportar montanhas.


Evelyn Alves

Bianca Gunha

Florianópolis/SC

Logo que eu não tivesse Caridade, Já não valia nada!

Nunca folgou de ver uma injustiça; Folga com a Verdade!

Eu podia gastar toda a fortuna A bem dos miseráveis, Deixar que me arrojassem vivo às [chamas. Logo que eu não tivesse Caridade, De nada me servia!

Tolera tudo! Tudo crê e espera! Em suma, tudo sofre!

A Caridade é dócil, é benévola; Nunca foi invejosa; Nunca procede temerariamente; Nunca se ensoberbece. Não é ambiciosa; Não trabalha em seu proveito próprio; Não se irrita; Nunca suspeita mal!

A Caridade jamais acaba; Mas, havendo profecias, desaparecerão; Havendo línguas, cessarão; Havendo ciência, passará; Porque em parte conhecemos, E em parte profetizamos. Quando, porém, Vier o que é perfeito, Então, o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, Falava como menino, BOA VONTADE | 13


Arquivo BV

Sentia como menino, Pensava como menino; Quando cheguei a ser homem, Desisti das cousas próprias de menino.

Reprodução BV

Alziro Zarur

Evangelista Mateus

Ítala Kelly

MENSAGEM DE PAIVA NETTO

Porque agora vemos como em espelho, Obscuramente, Então, veremos face a face; Agora, conheço em parte, Então, conhecerei como também sou conhe[cido. Agora, pois, permanecem a Fé, A Esperança e a Caridade. Destas três, porém, a maior é a Ca[ridade. (Os destaques são meus.)

CARIDADE É AMOR Alguns tradutores da Bíblia preferem a palavra Amor em vez de Caridade. Ora, Caridade é sinônimo de Amor... Então, como poderia Paulo ser a favor da Fé, mas contra a Caridade?*3 Àqueles que, geralmente bem-nutridos, exaltam a Fé e menosprezam as Boas Obras, esta fraterna advertência: barrigas vazias nem sempre estão dispostas a ouvir. Mormente agora, neste final de ciclo apocalíptico, quando a incorruptível Justiça de Deus dará, como revelou Jesus, em Sua Boa Nova, consoante Mateus, 16:27, — a cada um de acordo com as suas próprias obras, e não segundo a Fé somente.

CARIDADE MATERIAL E CARIDADE ESPIRITUAL Diante do texto do Apóstolo dos Gen-

Uauá/BA

tios, abre-se nossa compreensão para entender este ensinamento da Proclamação da Boa Vontade de Deus, de autoria do fundador da Legião da Boa Vontade, Alziro Zarur (1914-1979): — A Caridade Material é sempre louvável, e só depende da Boa Vontade dos que podem ajudar. Mas a Caridade Espiritual é mais importante. Disse o Apóstolo Paulo: “Eu poderia dar uma fortuna aos pobres e não fazer Caridade”. A Caridade Material só é completa quando acompanhada de Caridade Espiritual: é preciso esclarecer os que sofrem, para que saibam por que sofrem. O contrário é estimular

*3 Como poderia Paulo ser a favor da Fé, mas contra a Caridade — Leia mais sobre o tema em “Fé e Boas Obras, firmadas em Jesus”, no primeiro volume das Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo (1987). 14 | BOA VONTADE


Vivian R. Ferreira

São Paulo/SP

a mendicância e a ociosidade dos ignorantes espirituais. Grande também o ensinamento destas palavras da sabedoria milenar: — Melhor que dar o peixe é ensinar o homem a pescar. Mas isso não significa que, a pretexto de ensinar, deixe-se criminosamente o necessitado sem qualquer amparo. É dever cristão e humanitário socorrer o carente. Em meu artigo “Portugal é uma Paixão”, que publiquei em 1993, afirmo que ser cristão não é carregar um rótulo, muitas vezes hereditário, todavia um estado natural de civilidade, uma forma quintessenciada de bem-querer.

66 ANOS NA LBV Gostaria de compartilhar com vocês, minhas estimadas leitoras e meus estimados leitores, a satisfação de completar, em 29 de junho, 66 anos de atuação ecumênica na Legião da Boa Vontade (LBV), 43 dos quais à frente dessa Obra, que nasceu para amar e ser amada. Procuro manter em todas essas décadas de trabalho o mesmo ímpeto — a Primeira Caridade a que se refere Jesus na Carta à Igreja em Éfeso (Apocalipse, 2:4) — de quando iniciei, ainda bem jovem, minha vida legionária. Agradeço a todos os que comigo cooperam no socorro aos necessitados do corpo e da Alma e os convido a seguir em frente, cientes de que a Fé nos fortalece, mas o trabalho nos realiza! paivanetto@lbv.org.br | www.paivanetto.com

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BIOSFERA

Iminência de crise climática No mês dedicado ao meio ambiente, a BOA VONTADE convidou dois especialistas para falar do recente relatório do IPCC e mostra o esforço de vários atores da sociedade para reverter esse cenário assustador LEILA MARCO E ALAN LINCOLN


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BIOSFERA

J

unho de 2022! Neste mês devotado à Natureza e à atenção ao planeta, exemplos não faltam de iniciativas e pessoas que se empenham por modificar o status quo. Entre os marcos históricos dessa luta está a realização, há 50 anos, da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, na cidade de Estocolmo, na Suécia, em 1972, na qual foram dados os passos iniciais para o direito ambiental internacional. Apesar dessa batalha cinquentenária pela conscientização da sociedade, pelo cuidado com os ecossistemas existentes e pela pesquisa de fontes de energia limpa — e hoje já temos tecnologia suficiente para a transição para uma economia verde —, sente-se ainda a ausência de vontade política para tornar realidade essas novas tecnologias, a fim de frear as ameaças de destruição e trabalhar por um mundo mais sustentável. Por isso, para comemorar e ao mesmo tempo refletir acerca das perspectivas futuras para nossa morada global, ocorrerá, entre 2 e 3 de junho, a Conferência Estocolmo+50: um planeta saudável para a prosperidade de todos e todas — nossa responsabilidade, nossa oportunidade. Promovida às vésperas do Dia Mundial do Ambiente, celebrado em 5 de junho, a ideia desse encontro é fortalecer cooperações e iniciativas rápidas e inovadoras que repensem o bem-estar humano, traçando uma época mais harmônica para os povos. De acordo com a ONU, o evento priorizará três diálogos de liderança, “que deverão apresentar recomendações evidentes e concretas sobre ações que podem ser feitas em todos os níveis”. São estas:

Diálogo de liderança 1: Reflexões sobre a necessidade urgente de práticas para se alcançar um planeta saudável e a prosperidade para todas e todos. Diálogo de liderança 2: Como alcançar uma recuperação sustentável e inclusiva da pandemia da Covid-19. Diálogo de liderança 3: De que maneira acelerar a implementação da dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável no contexto da Década da Ação e a implementação do desenvolvimento sustentável.

Esse evento internacional será sediado pelos governos do Quênia e da Suécia e reunirá a comunidade global para debater as interconexões entre desenvolvimento, pobreza e meio ambiente. 18 | BOA VONTADE


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UN Photo/Robaton

UN Photo/Michos Tzovaras

Visão geral da reunião de abertura da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, na cidade de Estocolmo, na Suécia, em 1972, na qual foram dados os passos iniciais para o direito ambiental internacional.

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BIOSFERA

O ALERTA DO IPCC Muitos dos debates em Estocolmo terão como base a terceira e última seção para o sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, divulgado pelos cientistas em 4 de abril deste ano e que é uma referência a respeito da produção de pesquisa mais atual sobre o tema, destacando que a humanidade tem três anos para fazer reduções imediatas e em grande escala de emissão de gases de efeito estufa em todos os setores-chave, a fim de limitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C, conforme foi definido pelo Acordo de Paris, para evitar uma crise climática com consequências irreversíveis para nosso orbe, de forma a atingir o pico das emissões até 2025 e reduzir 43% até 2030. 20 | BOA VONTADE

O relatório é um esforço conjunto de 268 autores, de 65 países, que levaram em consideração milhares de estudos científicos. Segundo os especialistas envolvidos nesse trabalho, o abandono do uso de combustíveis fósseis é fundamental para reverter o cenário ameaçador que se projeta para daqui a alguns anos. Ao falar do documento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi categórico: “Este relatório do IPCC mostra a ladainha de promessas quebradas sobre o clima. É um registro de vergonha, catalogando as promessas vazias que seguramente nos colocam em direção a um mundo inabitável”. Todos esses acontecimentos mundiais marcados para 2022 têm em vista encorajar o diálogo e influenciar as decisões de governantes para enfrentar essa crise cli-


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António Guterres, secretário-geral da ONU

mática. A revista BOA VONTADE, atenta a essas preocupações, promove nesta edição uma reflexão sobre o assunto a partir da entrevista de dois cientistas brasileiros que colaboraram com o IPCC, os professores Patricia Pinho e Jean Ometto. Além da contribuição dos pesquisadores, esse especial sobre o meio ambiente traz também a experiência da Legião da Boa Vontade em diminuir as desigualdades sociais, proporcionando educação de qualidade a pessoas vulneráveis, que geralmente estão mais expostas aos impactos climáticos, de maneira a prepará-las, em especial os jovens, que são a esperança do futuro do planeta, para enfrentar os desafios atuais e, acima de tudo, para que possam contribuir de alguma maneira para mitigar a crise em questão.

De acordo com o novo relatório de avaliação do IPCC, atualmente, o ser humano joga na atmosfera cerca de 60 bilhões de toneladas de CO2 por ano. O valor é 50% maior que em 1990. Mesmo com a assinatura do Acordo de Paris, as emissões têm aumentado. Houve uma estagnação apenas no primeiro ano da pandemia.

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Impacto maior nas populações mais pobres Doutora em Ecologia Humana pela Universidade da Califórnia, Patricia Pinho alerta sobre as regiões do planeta que mais sofrem com as mudanças climáticas


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uando se fala das repercussões do efeito estufa, em especial da emissão dos gases carbônico (CO2) e metano (CH4) pela queima de combustíveis fósseis, que tem alterado o clima da Terra, além de observar as fortes ondas de calor, secas, incêndios florestais e a contínua elevação do nível dos rios, mares e dos oceanos, outros fatores já podem ser detectados em diferentes áreas e são alvo de estudo de cientistas. Um desses pesquisadores de ponta é a professora Patricia Pinho, doutora em Ecologia Humana pela Universidade da Califórnia e diretora científica adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Ela é a autora principal no capítulo “Pobreza, modos de vida e desenvolvimento sustentável”, do grupo de trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação (2022) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que fornece uma avaliação detalhada das consequências dessas alterações, bem como dos riscos e da adaptação das cidades, onde mais da metade da população do mundo vive atualmente. Na entrevista à BOA VONTADE, Patricia destaca que a própria existência do ser humano está em perigo, em razão de um planeta completamente alterado antropogenicamente, e que “os impactos mais severos são experienciados nos ecossistemas que estão situados no ‘sul global’”.

Patricia Pinho, doutora em Ecologia Humana pela Universidade da Califórnia e diretora científica adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

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BV — O que precisa ser mais levado a sério nesse novo relatório? Patricia Pinho — Esse último relatório do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas reuniu mais de 270 cientistas, e a gente sabe, com alto grau de confiabilidade, que a trajetória e a variabilidade que estamos observando dos extremos climáticos são de origem antrópica, o que quer dizer: é o homem e seus processos de desenvolvimento socioeconômico, processos industriais e de agricultura, com a dependência em combustíveis fósseis, que têm gerado um aumento de emissões [desses gases, provocando, assim, a elevação] da temperatura global. Esse relatório lida, especificamente, com os impactos, com as vulnerabilidades e com as estratégias de adaptação, que são as soluções existentes. Ele é um alerta para a humanidade sobre a crise climática. E por que a gente chama de crise? Porque é sem precedente o número 24 | BOA VONTADE

de eventos dramáticos, de secas e enchentes extremas, ondas de calor, alteração da sazonalidade... O que impacta diretamente a vida das pessoas, a produtividade agrícola, a economia... Além desse conceito de perdas e de danos materiais, há também os imateriais, intangíveis, como a perda de vidas humanas ou de cultura, do modo de vida... As pessoas, as populações tradicionais em regiões costeiras, sobretudo no Brasil, que tem uma imensa linha da costa, é bem relevante, têm sido obrigadas a sair, a deixar as suas áreas de habitação histórica, milenar, a exemplo de povos indígenas, por conta desses extremos. BV — Em recente palestra, a professora ressaltou que as regiões que mais sofrem com as emissões de gases do efeito estufa geralmente não são as que mais poluem, e sim as mais pobres, por serem mais vulne-


ráveis. Como lidar com os impactos das mudanças climáticas tendo em vista o social? Patricia Pinho — Houve muito debate sobre esse assunto, porque existem assimetrias no aquecimento global, inclusive no que tange aos impactos. Os países industrializados, mais desenvolvidos hoje, situam-se na Europa; há também os Estados Unidos. Essas nações historicamente têm emitido mais gases de efeito estufa desde a revolução industrial até agora do que, comparativamente, por exemplo, o Brasil e os países da América Latina, da Ásia, as ilhas do Pacífico. E isso gera uma responsabilidade, porque, realmente, os impactos mais severos são experienciados nos ecossistemas que estão situados no “sul global”, [afetando] povos que estão no meio do processo, economias emergentes ou de baixo desenvolvimento econômico. Se esses países promoverem o mesmo tipo de desenvolvimento socioeconômico que os EUA, a Europa e outras nações fizeram, a gente estará piorando, e muito [, a situação do planeta]; transacionando para riscos e temperaturas inaceitáveis. Então, isso não pode acontecer, está em jogo a questão da justiça climática. Pede-se, globalmente, o anexo seis do Acordo de Paris para que esses que têm uma contribuição histórica de emissão de gases ajudem financeiramente na trajetória de desenvolvimento limpo, ou resiliente climaticamente, na adaptação dos países mais vulneráveis, que são de alta taxa de pobreza, de desigualdade socioeconômica, onde há uma grande população indígena ou tradicional, dependentes extremamente de atividades que são sensíveis ao clima, como a agricultura e a pesca, e onde os trabalhadores estão expostos ao ar livre. Mas isso não quer dizer que as pessoas que possuem melhor condição financeira estão a salvo de sofrer os impactos;

países como os Estados Unidos também terão perdas econômicas violentas, mas têm mais condições de resposta, de implementação de uma agenda de adaptação, enquanto você vê regiões na África e na Amazônia nas quais enchentes têm afetado as cidades com magnitude sem precedentes, provocando, muitas vezes, um colapso daquele município. Precisamos estar atentos à questão da justiça climática, para evitar uma crise humanitária, porque a consequência disso é a ocorrência de maiores migrações e o crescimento da incidência de indivíduos morando nas periferias urbanas em condições sub-humanas. BV — O Brasil é um grande produtor de alimentos. Caso as variações climáticas intensifiquem-se, provocando períodos prolongados de seca ou enchentes, qual será o custo disso? Patricia Pinho — Essa é uma questão

“Você vê regiões na África e na Amazônia nas quais enchentes têm afetado as cidades com magnitude sem precedentes, provocando, muitas vezes, um colapso daquele município. Precisamos estar atentos à questão da justiça climática, para evitar uma crise humanitária, porque a consequência disso é a ocorrência de maiores migrações, o crescimento da incidência de indivíduos morando nas periferias urbanas em condições sub-humanas.”

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“A população precisa conhecer os impactos que já são observados e dos riscos futuros. Quanto mais tempo deixamos passar sem ação, maiores serão as lacunas de adaptação e os riscos. (...) A gente tem de pensar em outras economias possíveis, que sejam mais sustentáveis, que promovam o bem-estar humano e a resiliência.”

central da mudança no meio ambiente, ela é bem mais perceptível pelas pessoas porque veem a escassez do recurso, o desaparecimento de algumas espécies. O clima é algo um pouco intangível, mas o que está acontecendo agora é diferente. Temos sentido na pele o aumento da temperatura, sobretudo nas regiões mais tropicais do sul do globo terrestre, como sendo o novo normal. É necessário que as pessoas se mobilizem no que tange às ações coletivas, porque a ideia de que, então, vamos colocar ar-condicionado dentro das nossas casas, nos carros, apenas contribui para a piora da crise climática. Você não está resolvendo a problemática, está jogando essas questões para as gerações futuras. Precisamos ter estratégias em massa — que são adaptativas e que melhoram o conforto térmico, o bem-estar humano, reduzindo problemas cardiovasculares —, ações políticas, no setor privado, para colaborar, ter alternativa 26 | BOA VONTADE

energética, trazer reflorestamento, árvores para o meio urbano, soluções baseadas na Natureza de baixíssimo custo e que reduzem muito a temperatura experienciada nessas ilhas de calor, que são as grandes cidades. Qualquer atitude importa: “Deixei a luz acesa, vou lá apagar”, porque a nossa geração de energia hoje é de uma fonte não renovável. Ela é hídrica. Por que o Brasil não passa para a energia solar? Eu trabalhei em um projeto na África do Sul onde as comunidades para as mulheres, sobretudo as que lideram as suas casas, suas famílias, utilizam a geração de energia solar alternativa. Que estejamos atentos para os meios já disponíveis, que isso aconteça logo, para evitar colapsos, limites duros de adaptação, como o colapso de um ecossistema. No caso do Brasil, para a Amazônia, esse colapso é esperado no aquecimento acima de 2 graus, e, pela nossa trajetória, alcançaremos isso em breve, talvez em 2040, e


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aí nem a tecnologia mais avançada nem dinheiro nenhum investido serão capazes de reparar esses danos, esses serviços globais ecossistêmicos. BV — Se não fizermos essa mudança de cultura de consumo, por mais que isso tenha um custo, o problema pode ganhar uma magnitude que talvez não tenhamos condições de arcar com suas consequências? Patricia Pinho — Nós já temos perdas econômicas expressivas que estão sendo observadas aqui no Brasil. Por isso, é uma honra falar sobre esse relatório, porque eu vi que grandes jornais da mídia nacional não estamparam o seu resultado em primeira página, e isso para mim é um crime contra a nossa sociedade. A população precisa conhecer os impactos que já são observados e dos riscos futuros. Quanto mais tempo deixamos passar sem ação, maiores

serão as lacunas de adaptação e os riscos. Que tipos de emprego as pessoas terão daqui a 10 anos? Que tipo de economia? A pandemia mostrou uma nova forma de fazer as coisas; hoje, por exemplo, eu viajo muito menos, há reuniões em que não preciso estar fisicamente, o meio digital funciona, e ele reduz a emissão e a dependência de combustíveis fósseis, o uso de ar-condicionado, o consumo exacerbado de produtos e alimentos. A Covid-19 mostrou que é possível mudar comportamentos. Desenvolver a ciclovia em São Paulo é importante, tem um custo pequeno e é uma estratégia de adaptação, porque permite que as pessoas se locomovam em pequenas distâncias, [tenham um espaço de] lazer, sem falar no benefício para a saúde. E a gente tem de pensar em outras economias possíveis, que sejam mais sustentáveis, que promovam o bem-estar humano e a resiliência. BOA VONTADE | 27


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O papel da floresta na regulação do clima Pesquisador do Inpe, Jean Ometto fala da necessidade de se evitar o colapso da Amazônia

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BV — Por que esses relatórios do IPCC são tão relevantes? Jean Ometto — Primeiro, agradeço o convite, é muito valioso esse espaço para dialogarmos sobre temáticas tão importantes como essa. O IPCC é um esforço da comunidade científica global, uma instituição que está sob o guarda-chuva Organização das Nações Unidas; então, os países signatários da ONU são apoiadores dessa ação. Para que os tomadores de decisão, em diversos níveis, possam planejar, organizar-se, construir uma governança sobre o uso de recursos naturais e o dia a dia da sociedade, as informações científicas são absolutamente relevantes, de maneira que essas decisões sejam tomadas em bases muito sólidas. No contexto das Nações Unidas, propôs-se a Rio-92, a convenção do clima e, dentro da convenção, esse painel científico. São cientistas nomeados pelos países do mundo todo, como no meu caso em particular e de outros colegas que trabalharam no relatório; fomos indicados pelo governo brasileiro e avaliados por uma comissão. As mudanças climáticas já estão comprovadas e vêm acontecendo, e

Divulgação

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utro estudioso ouvido pela reportagem da revista e que faz alertas diretos, envolvendo em seus comentários não apenas aspectos climáticos e econômicos, é o professor Jean Ometto, pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que participa também do grupo de trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. No bate-papo, ele falou da qualidade do material produzido pelo IPCC, da importância de trazer essas informações ao público em geral e de preservar a rica, extensa e frágil Floresta Amazônica, grande responsável pela regulação do clima no hemisfério sul do planeta.

Jean Ometto, pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), coordenador no Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

é um processo que já vem ocorrendo nos últimos 100 anos com mais rapidez, pois está relacionado às atividades humanas. A Ciência identificou que uma série de processos, de eventos que são atribuídos às mudanças climáticas, entrou no contexto de emergência, de urgência, e, por isso, essa questão tem sido debatida de forma mais intensa e ampla. BV — As pessoas têm demonstrado uma consciência, uma interação maior com o meio ambiente, e é fundamental a população fazer parte desse processo de mudança de comportamento. Jean Ometto — Esse é o ponto central. Precisamos lembrar que, dentro disso, há indivíduos, e são eles que tomam as decisões, que influenciam o que a gente chama de população, seja em um país, uma cidade do globo terrestre. As atitudes individuais são absolutamente centrais. O aumento da percepção é esse resgate da conexão nossa com o planeta, estamos interligados, fazemos parte de um contexto de processos físicos, biológicos. Para nos alimentarmos, é necessária uma produção que depende BOA VONTADE | 29


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de chuva, de nutrientes no solo, da abelha para polinizar, de uma microfauna no solo para poder ter nutrientes para a raiz, ou seja, de todo um contexto que está associado à Natureza. E essa mudança de postura vai desde essa relação mais próxima, como citei no exemplo da agricultura, até em relação aos centros urbanos, porque, hoje, 80% da população vive em cidades. BV — O relatório do IPCC pondera ainda sobre a questão das desigualdades sociais, que os mais vulneráveis sofrerão com maior força os impactos das mudanças climáticas. O que é essencial considerar nesse aspecto? Jean Ometto — O relatório fez um levantamento e identificou que entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas, quer dizer, quase a metade da população global é vulnerável às mudanças do clima. Não é só uma situação 30 | BOA VONTADE

regional, do nosso país ou de países próximos, mas global. E o que leva a essa maior vulnerabilidade? São as condições de vida, de acesso a recursos, de nutrição, de qualidade de alimento, de habitação. Todo esse contexto caracteriza uma população mais vulnerável. E essa desigualdade acontece em todo lugar do planeta, de uma maneira mais ou menos intensa. (...) Se você tem um evento extremo de deslizamento de encosta, normalmente as pessoas afetadas são as que têm uma condição de habitação menos favorável, porque o planejamento da expansão urbana não foi adequado, a população que ocupou aquele espaço sofre as consequências. E isso em vários aspectos. Ondas de calor, picos de temperatura muito baixa, que também estão associados a essa dinâmica climática, habitações que, às vezes, estão muito próximas ao mar e podem vivenciar o problema de maremoto. Em geral, as comunidades mais vulnerá-


veis são as mais afetadas. Parte da resolução dessa questão vem do planejamento da sociedade, de como a gente a conduz com relação às mudanças climáticas, da redução de desigualdade. BV — Por que a preservação da Floresta Amazônica é indispensável para o equilíbrio do nosso meio ambiente, da temperatura? O regime de chuvas tem sido alterado, a exemplo das fortes precipitações que temos presenciado desde o fim de 2021 em diversas partes do nosso país? Jean Ometto — Análises científicas bastante profundas que vêm sendo realizadas há décadas — são mais de 50 anos que se levantam informações sobre a Floresta Amazônica — mostram de que forma ela interfere na alimentação da circulação regional atmosférica, na transferência da água do solo para a atmosfera, de uma maneira supereficiente. E por que a planta faz isso? Parte do alimento que ela produz vem da atmosfera, essencialmente de um processo que lembra a fotossíntese, quando a planta absorve o gás carbônico da atmosfera e libera água. E essa troca gasosa é superimportante para a manutenção do clima local, do clima regional, porque estamos falando de uma larga escala. A Amazônia se estende até os Andes, ela compõe toda a parte norte da América do Sul, incluindo Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. E o Brasil tem mais de 60% da Amazônia, uma parte importante do território nacional. Então, a gente tem uma cobertura vegetal que tem grande influência no clima pela dimensão continental, pela funcionalidade que a floresta tem de troca de água, de troca de gases, esses elementos todos são absolutamente centrais ao clima regional. Se tirarmos a floresta de lá, teremos impactos no clima seriíssimos por conta das transfe-

rências de massa de ar, de água e tudo mais. O valor da floresta como reguladora do clima é uma questão científica. [Vale dizer] que nós incorporamos no relatório informações que vêm de comunidades tradicionais, da gestão daquele ambiente. Existem estudos que mostram a ocupação da Amazônia de mais de 1.500, 2.000, até 5.000 anos, há muito tempo tem gente lá, e a floresta estava preservada. Claro, a quantidade de pessoas é diferente, hoje nós temos mais de 20 milhões de cidadãos na Amazônia, mas, para seguir a vida no dia a dia, é necessário preservar a floresta. Esse é um debate central, que replica para a Mata Atlântica, para o Cerrado, para a Caatinga — o relatório do IPCC também olhou para isso —, para o Pantanal, que são expressões da Natureza, são ecossistemas que fazem parte desses biomas de grande valor para o debate de clima, da sustentabilidade, da produção sustentável de alimento e por aí vai. Agradeço muito a audiência [da Boa Vontade] pelo espaço.

“A Amazônia se estende até os Andes, ela compõe toda a parte norte da América do Sul, incluindo Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. (...) Se tirarmos a floresta de lá, teremos impactos no clima seriíssimos por conta das transferências de massa de ar, de água e tudo mais. O valor da floresta como reguladora do clima é uma questão científica.”

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Márcio Francisco

Somos Natureza LBV: amparo aos mais vulneráveis às mudanças climáticas e foco na educação ambiental de crianças e jovens LEILA MARCO

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Nadiele Bortolin

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ão 8h15 quando dois micro-ônibus começam a chegar ao Centro Comunitário de Assistência Social Alziro Zarur, da Legião da Boa Vontade — localizado na Rodovia RS 30, km 19, Parada 119, em Glorinha/RS —, trazendo as primeiras crianças e adolescentes, dos 250 atendidos, em dois turnos, em idades entre 6 e 15 anos, pelo serviço de convivência e de fortalecimento de vínculos da Instituição: Criança — Futuro no Presente! A alegria deles em meio a um ambiente cercado de verde é algo que emociona e encoraja, ao mostrar a possibilidade de as pessoas se relacionarem de forma construtiva e harmônica com a Natureza. A iniciativa é fruto de décadas de trabalho em defesa ao meio ambiente e do cuidado com o ser humano, em especial com os mais vulneráveis, características da ação da LBV em todo o Brasil. Não é sem motivo que um dos lemas da Obra é este pensamento do jornalista e educador Paiva Netto, presidente da Entidade: “Educar. Preservar. Sobreviver. Humanamente também somos Natureza”. Ele foi e é o grande incentivador para que a unidade se tornasse um parque, revitalizando o lugar ao longo de décadas, desde que o terreno foi doado à Instituição ainda na década de 1960. Atualmente, cerca de 70% da propriedade, que possui quase um milhão de metros quadrados, compõe-se de mata nativa e de espécies procedentes de reflorestamentos. São quatro mil árvores, além de hortaliças e plantas diversas que embelezam o local. Nesse verdadeiro oásis de biodiversidade, há gigantescos eucaliptos, figueiras centenárias, carvalhos, jambolões e paus-brasil, bem como uma variedade de espécies fru-


Márcio Francisco Márcio Francisco

O serviço de convivência e de fortalecimento de vínculos do Centro Comunitário Alziro Zarur, da LBV em Glorinha/RS, recebe crianças e adolescentes de comunidades carentes de Gravataí/RS, do loteamento Xará, dos bairros Breno Jardim Garcia e Sagrada Família, além de usuários da área rural do município onde está localizado.

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A ex-atendida Amanda Vitória da Silva, em visita à unidade da LBV em Glorinha/RS, falou dos sentimentos e das lembranças ao retornar àquela casa de tantos aprendizados para ela. No destaque abaixo, na época em que frequentava o serviço de convivência da Instituição.

Ar qu ivo

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Liliane Cardoso

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tíferas no pomar, a exemplo de goiabeiras, pessegueiros, laranjeiras, macieiras etc. Adentrar as dependências da unidade é se permitir estar mais próximo do que é belo e que faz bem aos olhos e ao coração. Amanda Vitória Shirotti da Silva, de 17 anos, em visita ao local que a atendeu 36 | BOA VONTADE

por cinco anos, entre 2015 e 2019, fala dos sentimentos e das lembranças ao retornar àquela casa de tantos aprendizados. “Eu era ‘louca’ para entrar na LBV; a maioria das crianças da minha vila estava matriculada aqui, eu sabia das atividades que ofereciam, e, no dia que comecei, quando vi os portões se abrindo, fiquei encantada”, rememora. Amanda conta que na unidade teve muitos ensinamentos. “Eu participei de diversos projetos de reciclagem, com plásticos, papéis, e também da implantação da horta. Estar em um espaço como esse ao ar livre, em que se está sempre em contato com a Natureza, com os bichos, os pássaros, é muito importante. Aqui o que tu ‘aprende’ leva para a vida, como o jeito de se portar, o respeito às pessoas e também


Nadiele Bortolin Márcio Francisco

à Natureza, aos animais, é um conjunto todo. (...) Aqui aprendi a ter Amor ao próximo, saber como me comunicar e fiz grandes amigos.” A quem colabora com a Legião da Boa Vontade a jovem agradece: “Vocês mudam a vida de muitas pessoas. Tem gente que não tem o que comer, o que vestir, não tem um ambiente bom para crescer, e, vindo para a LBV, ganha tudo isso. Não é só o bem material, é Amor, acolhimento, um ensinamento que faz você ser uma pessoa melhor. Eu mesma sempre fui uma pessoa tímida e, conforme ia participando das atividades, fui me soltando mais; hoje em dia tenho uma conversa legal com a minha mãe, com o meu pai, com os meus familiares. A LBV é a minha segunda casa, minha segunda família”, conclui.

Cuidado especial também com a alimentação dos usuários dos serviços no Centro Comunitário Alziro Zarur. No local, são servidas mais de 4.500 refeições ao mês (entre café da manhã, almoço e lanche da tarde), bem como pães, cucas e bolos, produzidos na unidade.

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Nadiele Bortolin

Segundo a educadora Maria Angélica Nunes de Souza, com a ação socioeducativa da Legião da Boa Vontade, os usuários são convidados, quase que diariamente, “por meio de atividades lúdicas e conversas, a refletir sobre a nossa relação com o meio ambiente”. Ela destaca duas oficinas que têm esse objetivo: a de Cidadania Ecumênica, em que ocorrem essas reflexões, e a de Arte e Cultura, na qual a garotada realiza a confecção de brinquedos, jogos e artesanatos com materiais que seriam jogados fora, além de incentivar o contato com a terra, com a aprendizagem na horta, no pomar e no Jardim Botânico José de Paiva Netto. A exemplo de Amanda, várias outras gerações têm sido beneficiadas com as atividades promo-

Ro dr igu es

Fotos: Márcio Francisco

Maria Angélica de Souza, educadora da LBV.

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vidas no Centro Comunitário da LBV em Glorinha, entre as quais Dafiny Nathaly Fontinel Cesario, de 10 anos, que tem mais dois irmãos inscritos no mesmo serviço da Entidade. Ela também se apaixonou pelo lugar: “Eu gosto muito da Natureza, das atividades de cuidar do meio ambiente. Aqui é como um paraíso, porque a LBV é sensacional por dentro e por fora”. Apesar da pouca idade, está atenta às mudanças no clima da Terra e se preocupa: “Isso que está acontecendo é uma reação da Natureza ao que a gente faz para ela, poluindo, desmatando... Quando crescer, quero trabalhar com pesquisa para evitar esses efeitos [catastróficos]. Na LBV, eu aprendi a amar o meio ambiente”.

PELA SUSTENTABILIDADE DO PLANETA A seguir, alguns dos textos do escritor Paiva Netto em prol da conscientização de todos quanto ao respeito à Mãe Natureza. Leia, comente e compartilhe estes e outros conteúdos do blog Paiva Netto (www.paivanetto.com) com seus contatos.

CUIDADO, ESTAMOS RESPIRANDO A MORTE! https://bityli.com/OhUBus

O Jardim Botânico José de Paiva Netto é uma extensa área de preservação ambiental, no qual diversas árvores nativas e frutíferas são cuidadas. Localizado no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV em Glorinha/RS, é conhecido, não à toa, como Templo da Natureza e da Criança. Esse espaço foi inaugurado em 29 de junho de 2006 e abriga espécies como o pau-brasil, jacarandá, plátano, quaresmeira, erva-mate e jatobá.

CONSCIENTIZAÇÃO HOJE... https://bityli.com/CDleEv

A CARTA DO CHEFE SEATTLE https://bityli.com/tBkbB

O QUE ESTÁ HAVENDO COM O PLANETA? https://bityli.com/zWfFEH

O QUE FIZEMOS DA ÁGUA? https://bityli.com/mLrEN

SOLIDARIEDADE COM A TERRA https://bityli.com/EdxVvl

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Sustentabilidade nas cidades Trabalho da LBV oferece bons exemplos às novas gerações 40 | BOA VONTADE


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Fotos: Arquivo BV

as grandes cidades do país, as unidades da Legião da Boa Vontade têm a preocupação de incorporar hábitos ecologicamente mais sustentáveis no cotidiano das famílias atendidas pela Obra, atitudes simples que fazem toda a diferença, sem, contudo, sobrecarregar ou exigir maiores esforços de quem as pratica. De acordo com a Organização das Nações Unidas, esse é um dos desafios da atualidade, visto que 55% da população mundial vive em áreas urbanas e há projeções que preveem que essa porcentagem deve chegar a 70% até 2050. O que demanda empenho de toda a sociedade no sentido de tornar esses espaços mais inclusivos, seguros e sustentáveis. Em Maceió/AL, a LBV trouxe diversificadas iniciativas nesse sentido para o dia a dia das crianças e dos adolescentes que frequentam o Centro Comunitário de Assistência Social na localidade, situado na Rua Muniz Falcão, 964, Barro Duro. Por meio dessas atividades, de forma lúdica, eles são incentivados a pensar no cole-

tivo e no impacto de suas ações sobre o mundo. Esse trabalho de conscientização ambiental ocorre em diversas oficinas durante todo o ano, seguindo os conceitos da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico, que integram a linha educacional criada pelo presidente da LBV, a qual alerta para a necessidade de se ter “uma visão além do intelecto” nas ações das unidades socioeducacionais da Instituição. A educadora Rosângela Faria, que atua na referida unidade alagoana, explica como a arte e a cultura são aliadas nesse conhecimento: “As letras das músicas da Legião da Boa Vontade têm um papel primordial, a exemplo da canção Minha Casa é o Planeta Terra, porque, além de ser belíssima, é voltada ao tema de combate à poluição, de preservação do orbe; e, aí, as crianças, os adolescentes, os idosos, aprendem a ter um olhar diferente, refletindo sobre as mensagens que os autores das músicas passam. Nas oficinas do sa-

“Tem uma música do Beto Guedes que diz ‘1 + 1 é sempre mais que 2’, e nós aqui, na LBV, somos esses multiplicadores das ações ambientais, [os usuários dos serviços] levam esse conhecimento para suas casas e multiplicam também, até para as futuras gerações. Então, saber que os jovens estão sendo impactados positivamente, que a mensagem está sendo lançada de forma verdadeira e segura, é compreender que podemos fazer a diferença [para o planeta], e isso não tem preço.” ROSÂNGELA FARIAS

Educadora no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV em Maceió/AL

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Samuel da Silva Barbosa, 11 anos, atendido pelo serviço Criança: Futuro no Presente! na capital alagoana.

Fotos: Arquivo BV

ber, também pela leitura, literatura de cordel, poemas e poesia, isso ocorre. Até mesmo no esporte temos ensinado a confecção de instrumentos como raquetes e pranchas com garrafas PET; enfim, em todas as áreas, sensibilizamos para a redução da poluição, do lixo”. Ainda dentro desse contexto de reutilização, a equipe do Centro Comunitário, com a ajuda dos frequentadores do local, construiu espaços para a coleta de água da chuva e a compostagem de materiais orgânicos e hortas suspensas, aproveitando todo tipo de objetos, alguns bem inusitados, espalhando verde e beleza e oferecendo alimentos frescos para as refeições. “Botas e vasos sanitários foram pintados e decorados com a participação dos usuários, que acompanham o crescimento das plantas. Dependendo da estação do ano, isso aqui fica tudo florido, é muito lindo! Isso é o mais interessante, as crianças e os adolescentes colocaram a mão na massa, é uma produção coletiva, e, a partir dessa aproximação, eles passam a ver o assunto com outros olhos. Eles acompanham o crescimento das verduras, alimentam-se delas, daquilo que foi produzido por eles, daí, o usuário leva isso para o seio familiar”, conta a educadora. E a garotada mostra que está entendendo bem a lição. Samuel da Silva Barbosa, 11 anos, um dos meninos que frequentam o serviço Criança: Futuro no Presente!, na capital de Alagoas, já aprendeu que não existe distinção entre o meio e o ser e que não somos senhores da Natureza, ao contrário, nós somos parte intrínseca dela. Por isso, é um dos mais entusiasmados em transformar aquilo que se tornaria lixo em brinquedos e utilidades para outras crianças. Quando perguntado por que gosta tanto dessa atividade, é categórico: “Para ajudar o próximo e também o meio ambiente. O nosso mundo não pode ficar sujo do jeito que está. Vejam os oceanos, onde animais morrem ao comer sucata; eles não podem pagar pelo nosso erro”.


QUANDO MENOS É MAIS A preocupação por um mundo melhor passa pela mudança de hábitos do cotidiano

Conheça 10 sugestões sustentáveis que são ensinadas a crianças e adolescentes nas escolas e nos Centros Comunitários de Assistência Social da LBV em todo o Brasil, as quais reduzem o impacto da presença humana no planeta e podem, facilmente, ser colocadas em prática por todos nós.

1

Reduzir o consumo de energia elétrica, desligando a luz e aparelhos eletrônicos quando não estão em uso ou ao sair do ambiente onde estão.

6

Ser menos consumista, evitando comprar produtos que não precisa. Assim ajudamos a manter os recursos naturais.

2

Tomar banhos rápidos evitando o desperdício de litros de água, bem como criar o hábito de fechar torneiras enquanto escova os dentes ou ensaboa as mãos e a louça da cozinha.

7

Não jogar lixo nas ruas, pois agir assim só piora a poluição, causa doenças e aumenta os índices de enchentes.

3

Montar uma horta caseira e/ou levar as crianças para conhecer lugares de agricultura familiar, para que entendam que não desperdiçar alimentos é uma forma também de preservar o meio ambiente, bem como diminuir o consumo de carne.

8

Restringir o consumo de plástico, como copos descartáveis e garrafas PET. A melhor escolha é usar embalagens reutilizáveis ou recicláveis/ compostáveis.

9

Andar mais a pé sempre que possível. Os carros e outros tipos de veículos automotores poluem o meio ambiente.

10

Não comprar nem ter animais silvestres em casa.

4 5

Reutilizar sempre que possível os objetos. Separar o resíduo que for orgânico do que é reciclável, a fim de dar uma destinação mais sustentável a eles.

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Educar cérebro e E coração Aluna egressa da LBV tornou-se professora e atua na escola da Instituição para poder apresentar às futuras gerações o caminho da sustentabilidade 44 | BOA VONTADE

ssa educação ambiental transformadora oferecida pela Legião da Boa Vontade, que reavalia o consumo desenfreado, a riqueza material como realização financeira e o individualismo como valores fundamentais, foi o que levou a aluna egressa do Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP, Bruna Danielle a se tornar professora de Ciências e a voltar a essa escola, onde estudou do berçário ao Ensino Médio, agora como educadora. Ela é uma entusiasta da linha educacional aplicada na rede de ensino da LBV. “Com a Pedagogia do Afeto (dirigida para crianças de até 10 anos) e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico (a partir dos 11 anos), criadas


Fotos: João Nery

es igu dr o sR ca Lu

pelo educador Paiva Netto, ensinamos o aluno a ter um ‘olhar além do intelecto’, o que o leva a se preocupar com o próximo, a cuidar do ambiente em que está inserido. Essa formação fez a diferença na minha vida e na dos colegas que estudaram comigo e faz hoje na vida das crianças com que eu atuo. Isso me dá uma sensação de dever cumprido, pois a nossa missão aqui é educar não só o cérebro, mas também o coração, como enfatiza o educador Paiva Netto.” Bruna acredita que, graças ao ensino diferenciado que teve na LBV, pôde entender que o destino do nosso planeta está nas mãos de cada um de nós, que é preciso racionalizar o

consumo dos recursos e contribuir na luta contra as mudanças climáticas, sem o que, diz a professora, será impossível ter uma morada global mais sustentável e melhor para se viver. “Ter a oportunidade de apresentar às pessoas o caminho certo, porque a escola acaba sendo a segunda casa dos alunos, de mostrar para esses jovens que há esperança, foi o que me inspirou a escolher a profissão”, completa. O resultado, segundo a educadora, é ver que os estudantes iniciam um processo de compreender a sua relação com o meio ambiente. “Eu estava trabalhando o tema de combustíveis fósseis, dos gases do efeito estufa, e conversamos sobre os resultados BOA VONTADE | 45


Vivian R. Ferreira

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João Nery

Na escola da LBV na capital paulista, o Recanto Jesus (bosque que traz 21 árvores de diferentes espécies, 15 delas frutíferas, mais as árvores e jardim de diversificadas flores) ensina à criança uma convivência harmônica com o meio ambiente.

do relatório do IPCC, e eles se mostraram bastante preocupados. Trouxeram devolutivas de como contaram para os pais o que aprenderam, das discussões que nós tivemos aqui, a ponto de apresentarem mudanças de hábitos em casa e no caminho da escola para a residência, como deixar de vir de ônibus para vir andando ou de bicicleta, além de procurar comprar produtos próximos de casa, o que já contribui para a diminuição da emissão de gases e, consequentemente, para a redução do aquecimento global.”

Para a aluna Isadora Santos Ferreira, de 13 anos, do 8o ano do Ensino Fundamental do Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP, o que aprendeu em sala de aula serviu para toda a família: “Lá em casa, a gente começou a separar o lixo que pode ser reciclado, porque eu estudei tudo o que acontece com o plástico no meio ambiente e a importância de reutilizar os materiais. Na LBV, a gente desde pequena é ensinada a tomar banhos curtos, a ter equilíbrio, moderação no consumo. Há sempre a promoção de projetos, palestras que nos ajudam a levar esses assuntos para nosso dia a dia”.

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onsciência ecológica pela preservação do planeta é um dos temas que integram o Projeto de Apoio a Ex-Alunos (Paex), do Centro de Educação Infantil José de Paiva Netto, da Legião da Boa Vontade (LBV) em Curitiba/PR. Recentemente, a Instituição realizou uma atividade socioeducativa em prol do combate à crise climática que o planeta Terra enfrenta, e como exercício de conscientização os alunos receberam um pedido de ajuda elaborado pelas professoras. Em resposta a esse pedido, as crianças, que têm entre 6 e 8 anos de idade, durante as rodas de conversa, elaboraram estratégias para a resolução do problema. Depois de estudarem o assunto, elas resolveram agir: escreveram cartas para diversos órgãos e encaminharam sugestões de possíveis soluções para combater a crise climática. “Eles ficaram bastante intrigados em saber como ajudar, o que precisam fazer, com quem poderiam falar, tanto em casa, com os amigos e autoridades, e fizeram propostas para cuidar do planeta, que incluem economia de água, a preservação das árvores e dos animais”, conta a educadora Isabele Lazaroto, monitora do Paex.

Para surpresa da garotada, autoridades públicas responderam às cartinhas enviadas, agradecendo aos alunos o empenho e desejando o sucesso do projeto. A escola da LBV em Curitiba/PR está localizada na Rua Padre Estanislau Trzebiatówski, 180, Boqueirão — tel.: (41) 3386-8430.

Bianca Gunha

Crianças da LBV pedem ajuda pela preservação do planeta


TERCEIRA IDADE

Alegria

por conviver O tão esperado retorno às atividades presenciais da LBV ocorre para os idosos do serviço Vida Plena, seguindo todos os protocolos de segurança WELLINGTON CARVALHO DE SOUZA

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Salvador/BA

Lucas Rodrigues


Fotos: Lucas Rodrigues

TERCEIRA IDADE

Salvador/BA

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uem sempre sonhou em exercer as atividades profissionais na ambiência do próprio lar (o chamado home office) pode ter se sentido contemplado durante a pandemia, que provocou essa significativa mudança em muitas empresas. No entanto, ficar a maior parte do tempo em casa não é uma opção tão atrativa aos que já saíram do mercado de trabalho e sentem a extrema necessidade de socializar com outras pessoas, a fim de evitar a solidão. Idosos aposentados, como os que frequentam o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos Vida Plena, da Legião da Boa Vontade, constam entre esses. Desde 2020, esse público — o mais vulnerável à Covid-19, ressalte-se — cumpriu o necessário distanciamento social em suas residências, participando de ativi-

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dades socioeducativas remotas propostas pela LBV. Ao longo do período mais crítico da crise sanitária, as equipes multiprofissionais dos Centros Comunitários de Assistência Social preparavam kits com as instruções e os materiais necessários à realização das atividades e entregavam na casa de cada usuário. As assistentes sociais e psicólogas também telefonavam constantemente aos atendidos — afora as visitas domiciliares que realizavam, sempre respeitando os protocolos sanitários —, para identificar necessidades de acompanhamento, fazendo muitas situações de vulnerabilidade não se tornarem risco para as famílias atendidas; bem como intermediavam o acesso a benefícios governamentais e institucionais, o fornecimento


“O que mais gosto na LBV é a atenção que recebo. E também não posso deixar de falar da cesta de alimentos que a gente ganha mensalmente. Ajuda muito em casa. Em vez de comprar o alimento que vem na cesta, eu já pago [a conta de] luz, compro o gás ou remédios. (...) A LBV é importante para mim porque é como uma terapia, repito sempre. (...) Muita gente precisa desse entretenimento, dessa oportunidade de aprendizado. Aqui é como uma escola. Agradeço desde o faxineiro até aos diretores da LBV, assim como aos doadores.” ALMERINA OLIVEIRA

Usuária do serviço Vida Plena, da LBV, em Salvador/BA

Lu ca sR od rig ue s

de suporte emocional e a disseminação de informações acerca da prevenção da Covid-19 na cidade, conforme as orientações do Ministério da Saúde. Dessa forma, podiam acionar outros agentes da rede de apoio caso fosse necessário, a exemplo do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) e da Unidade Básica de Saúde (UBS). De acordo com Ione Santos Silva, assistente social do Centro Comunitário da Instituição em Salvador/BA, no bairro Bonocô, algumas das idosas “viveram momentos de depressão, de solidão, de perdas de familiares, de medo. (...) Quando eu entrava em contato com elas, sempre relatavam que estavam sentindo falta de frequentar a unidade, que queriam estar aqui por ser um lugar


TERCEIRA IDADE

Fotos: Lucas Rodrigues

de felicidade”. Dona Almerina Oliveira, de 70 anos, esteve nessa condição. Para ela, viver a pandemia “foi horrível”. Não é para menos. A aposentada perdeu um sobrinho muito querido por causa do SARS-CoV-2, fato que aumentou a preocupação com o marido e os filhos — um deles é obeso, fator agravante ao quadro clínico. “A LBV me ajudou bastante a superar esse momento. Pedi ajuda à Ione e conversava muito com ela, que me acalmava e indicou o 188 (Centro de Valorização da Vida). Eu ligava lá quase todos os dias e me sentia bem [após o atendimento]. Também telefonava muito para a Marizalva, que é minha colega daqui da LBV, gente boa mesmo”, relata Almerina. Por sua vez, Marizalva Monteiro da Paixão, de 82 anos, conta que sentiu “falta do aconchego do povo, das reuniões em grupo, de ter contato com as pessoas”. Devidamente vacinadas contra a

Salvador/BA

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Covid-19 — objetivo para o qual a Entidade incentivava todas as atendidas —, no dia 12 de abril, elas e as demais 64 idosas voltaram às atividades presenciais do Centro Comunitário, divididas em seis subgrupos de 11 participantes, de modo que a biossegurança possa ser mais bem garantida. Nessa data, foram recepcionadas com um café da manhã mais que especial, repleto de música, dança, boa comida e muito carinho por parte dos colaboradores da unidade. Para a dona Almerina, a confraternização foi “uma surpresa boa. Não esperava mesmo. Foi bom a gente encontrar todas as colegas e funcionárias. Sentia falta dos nossos encontros, que me fazem muito bem. Eu considero [o Vida Plena] uma terapia. Se eu dormir mal e vir para a LBV, pode ter certeza de que volto para casa outra pessoa”. Desde então, ela e Marizalva voltaram a frequentar o local todas as quintas-feiras,


quando desfrutam de diversas oficinas, como artesanato, dança, palestras educativas pertinentes à terceira idade, entre outras propícias ao desenvolvimento da autonomia, da socialização e do fortalecimento de vínculos familiares, interpessoais e intergeracionais, fortalecendo a inserção sociocultural e a cidadania. Sobre estar na Entidade, Almerina ainda destacou que sente “muita gratidão. E ela é pra sempre, pelo atendimento que tenho tido, pelo carinho das colegas, pelas conversas que a gente tem aqui, pelo que passamos e superamos. Isso faz muita diferença”, afirmou a atendida. Conforme esclarece a assistente social Ione, a ação com os idosos na unidade da LBV na capital baiana seguirá a todo vapor. “Continuaremos trabalhando o tema ‘Envelhecimento saudável e ativo’. Focaremos em transmitir orientações sobre os cuidados da saúde física e emocional e

a manutenção da atividade cerebral, do convívio social e familiar.”

“EU ERA MUITO TRISTE ANTES DE CONHECER A LBV” Quem também retornará às atividades presenciais neste mês de junho são as integrantes do Vida Plena em Cabo Frio/RJ. Em abril e maio, elas concluíram uma série de atividades realizadas à distância dentro da temática “Território: lugares de vivência, identidade e memórias”. Por meio de mapas afetivos desenhados por elas próprias, cada qual registrou em um livro de memórias as lembranças que nutrem acerca de sua cidade de origem, lugares que apreciam em Cabo Frio e o próprio Centro Comunitário de Assistência Social da Legião da Boa Vontade. Dessa forma, puderam resgatar a identidade e o sentimento de pertencimento ao grupo — o que favorece a readaptação ao funcionamento do serviço presencial.

“Aqui na LBV, tenho sentimentos muito bons: alegria, afeto, harmonia. As meninas tratam a gente muito bem, com muito carinho. Considerando o momento que estávamos vivendo, ainda mais para os idosos e quem mora sozinho, como eu, senti que o retorno [às atividades presenciais] foi uma coisa muito boa. (...) Foi uma recepção muito calorosa e aconchegante. ‘Vixe Maria’! [Os funcionários] nos tratam como verdadeiras rainhas; por isso que a gente sentia falta. O Vida Plena é importante porque dá essa alegria, esse ânimo na gente. E outra coisa: eu gosto também da limpeza daqui, onde sinto um ar limpo. Aqui é muito bom mesmo! Sempre fico contando os dias pra chegar quinta-feira. Agradeço à Instituição por essa atenção que dá para todas nós. Só tenho que agradecer por tudo isso.” MARIZALVA MONTEIRO DA PAIXÃO

Integrante do serviço Vida Plena, da LBV, na capital baiana

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Arquivo BV

TERCEIRA IDADE

Cabo Frio/RJ

Ana Lúcia Pereira, de 66 anos, conta que “era muito triste antes de conhecer a LBV. Às vezes, queria conversar com alguém, mas não tinha companhia. Quando vim pra cá, descobri que podia contar com as companheiras. Está sendo gratificante. Eu me sinto acolhida cada vez que entro na Instituição”. Ela participa das iniciativas da Entidade desde 2015. “Eu me senti mais útil em tudo o que faço. Passei a ser mais compreendida. Sinto-me bem aqui no meio das minhas companheiras, participando das palestras. A gente conversa, brinca, ri, conta as novidades do dia a dia”, realçou. Com certeza, o próximo semestre de 2022 será um período repleto de troca de experiências, muitas gargalhadas, ainda mais atenção e afeto entre esse pessoal todo que, a despeito de inúmeros desafios que já enfrentou, continua apostando na alegria de viver. Ou melhor, de conviver.

Pandemia, mulheres e saúde mental

De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia fez crescer em mais de 25% os casos de depressão e ansiedade em todo o mundo. Um dos motivos apontados foi o estresse causado pelo isolamento social em 2020. A solidão e o medo da infecção, sofrimento e morte, o luto e preocupações financeiras também foram citados como fatores. No Brasil, pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) aponta que mais de 50% das mulheres apresentaram algum sintoma de ansiedade ou depressão durante a crise sanitária. Estudo inédito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ainda revela o aumento de suicídios, especialmente entre grupos mais vulneráveis, nas regiões Norte e Nordeste, durante a primeira onda da Covid-19 em nosso país. O fenômeno também foi observado nas mulheres a partir de 60 anos do Nordeste, com a elevação do número de suicídios de 40%. shutterstock.com

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ESPÍRITO E CIÊNCIA

História da vida

Em entrevista exclusiva, Professor de Harvard dr. Andrew Knoll apresenta as descobertas mais recentes sobre a evolução do Universo DA REDAÇÃO


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C

ompreender como o Cosmos e tudo o que nele há se formaram é um fascínio para milhares de pessoas. Afinal de contas, alcançar a exatidão de como se deu esse processo pode impactar completamente as crenças e os valores da humanidade, da mesma forma o modo que ela mesma tem encarado o próprio futuro. Andrew Knoll, doutor em Geologia e professor de História Natural na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, é um dos principais estudiosos do assunto e, participando de recente roda de entrevistas, promovida pelo Fórum Mundial Espírito e Ciência (FMEC), da Legião da Boa Vontade, abordou fatos curiosos sobre o tema, fazendo importantes alertas. “(...) Acho que temos uma boa ideia de como será nosso planeta daqui a 100 anos. E isso deveria nos deixar preocupados, porque vivemos em um tempo geologicamente incomum. A Terra está mudando em uma velocidade raramente observada nos registros geológicos. (...) Se não houver cautela de todos, o mundo no final deste século será muito diferente”, considerou Knoll. Vale destacar que o fórum da LBV tem o objetivo de incentivar o diálogo fraterno e ecumênico entre as diversas áreas do saber acerca de assuntos relevantes para os povos. A seguir, os principais trechos desse bate-papo, transmitido pelo canal do FMEC no YouTube (www.youtube.com/forumespiritoeciencia). Para outras informações sobre essa iniciativa da LBV, acesse www. forumespiritoeciencia.org. Boa leitura!

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Divulgação

ESPÍRITO E CIÊNCIA

Andrew Knoll é geólogo, planetologista, paleontólogo, escritor e professor de História Natural na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Faz parte da equipe científica da NASA para as missões a Marte. É membro da Academia Americana de Artes e Ciências e da Royal Society.

BOA VONTADE — Em seu mais recente livro, A Brief History of Earth (Uma Breve História da Terra, em tradução livre), publicado em 2021, o senhor fala da realidade de há 4 bilhões de anos, da formação do nosso planeta e do Sistema Solar. Como foi esse período? Andrew Knoll — Todas as possibilidades de vida, oceanos, atmosfera, continentes, resumem-se a como a Terra se formou e do que ela foi feita. E essa história tem início com o big bang, quando temos o Universo se expandindo de maneira rápida, constituído principalmente por íons de hidrogênio (H). Com o tempo, a grande arquiteta do Cosmos, a gravidade, começou a juntar partículas, as quais formaram a primeira geração de estrelas. No interior quente e denso das estrelas, vimos novos elementos formando-se. Obtivemos o hélio (He), o boro (B), essencialmente, o carbono (C). À medida que avançamos no tempo, e com estrelas maiores, todos os elementos da tabela periódica foram basicamente constituídos. E isso ocorre ao longo de bilhões de anos. Então, foi realmente há pouco mais de 4,5 bilhões de anos quando, mais uma vez, a gravidade fez uma nova estrela com 58 | BOA VONTADE

materiais ao seu redor que se unem em planetas. E aí estamos nós. BV — O Sol também é formado e criado nesse espaço e tempo com esses elementos iniciais? Andrew Knoll — Sim. O Sol é composto majoritariamente por hidrogênio e hélio, e essa é a maior parte da massa do Sistema Solar. Portanto, à medida que a gravidade começa a juntar os materiais do nosso Sistema Solar, grande parte dela forma essa massa muito quente e densa, que é o Sol. Mas, felizmente para nós, existem partículas de poeira, gases congelados que formam um anel ou um disco ao redor desse sol inicial. E essa é a matéria da qual vêm todos os planetas. Temos a sorte de viver em um planeta formado com muito material rochoso denso, como também com água e gases. Estamos, de certa maneira, em um local ideal dentro do nosso Sistema Solar, onde a vida pode florescer. BV — E a Lua? Como foi constituída? Andrew Knoll — Alguns planetas do nosso Sistema Solar têm muitas luas. Nós temos apenas uma, que é grande. Há cerca de 30 ou 40 anos, alguém propôs que a Lua tenha surgido quando um objeto do tamanho de Marte colidiu com a Terra e muito material foi expelido para o espaço. Mas, novamente, por conta da gravidade, grande parte desse material se juntou, criando a Lua. Em resumo, ela tem sido nossa parceira desde o início, formada por uma colisão enorme que afetou tanto nós quanto a própria formação dela. BV — Em seus trabalhos, o senhor fala que as rochas “contam” a nossa história. Pode nos falar mais a respeito? Andrew Knoll — Gosto de dizer aos meus


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alunos que vivemos em um planeta que registra sua própria história, e ele o faz em rochas, principalmente as sedimentares: arenitos, calcários, folhelhos, que vão se acumulando ao longo do tempo. Quando surge uma dessas camadas, ela apresenta características físicas que nos falam sobre o tempo e o lugar em que se formou. Há “assinaturas químicas” e também “assinaturas biológicas”, que nos revelam o que estava ocorrendo ali. Se analisarmos metodicamente as rochas, camada por camada, desenvolveremos uma imagem de uma Terra que mudou fisicamente ao longo do tempo, que mudou quimicamente durante as eras no que diz respeito a coisas como o oxigênio. BV — O senhor analisa o que chama de “microfósseis” e alguns “sinais químicos sutis”. O que são? Andrew Knoll — Todos sabem sobre os dinossauros e outros fósseis de animais e plantas. Esses tipos de organismos, na verdade, vieram depois no processo evolutivo. Primeiro, começamos a ver animais cerca de 85% do caminho da história da vida, cuja fase mais longa e profunda é a microbiana. (...) E a boa notícia é que alguns desses microrganismos podem ser preservados como fósseis. É preciso um microscópio para vê-los, parte de sua química é preservada. Moléculas compostas por microrganismos, às vezes, são mantidas e nos falam sobre sua presença. Há algumas coisas simples como o carbono, que vêm de diversas formas. E certas atividades metabólicas de organismos, na verdade, imprimem uma assinatura diferente neles. Acontece que, mesmo quando olhamos para essas rochas de mais de, digamos, 600 milhões de anos, e não há esqueletos, não há rastros, ou traços, ou folhas, ou qualquer coisa assim, se observarmos com cuidado, há uma assina-

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tura bem preservada desse mundo microbiano bem mais antigo.

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ESPÍRITO E CIÊNCIA

BV — É verdade que já houve um tempo em que não existia oxigênio (O2) na Terra? Andrew Knoll — Com certeza! É difícil para muitos de nós imaginar um mundo sem oxigênio, porque não duraríamos cinco minutos nele. Mas existem, ainda hoje, vários tipos de bactérias que vivem em ambientes onde não há O2, e algumas delas morrem com a presença desse gás. Quando interrogamos rochas de mais de 2,4 bilhões de anos, a química delas revela-nos que não havia O2. E isso significa que quase metade da história do nosso planeta foi sem ele. O primeiro bilhão de anos ou mais de evolução foi uma biota que existiu na ausência de oxigênio. As rochas revelam-nos claramente que, há cerca de 2,4 bilhões de anos, houve uma mudança no sistema. A atmosfera acumula talvez 1% ou 2% dos níveis de oxigênio atuais. E isso é o suficiente para que haja uma revolução biológica. BV — O senhor participou de uma missão da NASA (National Aeronautics and Space Administration) em Marte e pôde verificar materiais rochosos desse planeta. As rochas de lá revelam algo sobre a Terra? Andrew Knoll — Pela primeira vez usando astro móvel, pudemos analisar camadas de rochas sedimentares, assim como fazemos na Terra. E elas nos revelam que Marte tem sido um planeta bastante diferente da Terra durante a maior parte de sua história. Não há evidências de placas tectônicas, esse motor que torna a Terra tão dinâmica. Há pouquíssimo oxigênio, e isso provavelmente vem das próprias reações químicas. Então, de certa forma, quando olhamos para Marte e Vênus, nossos vizinhos mais próximos, as características deles indicam que o nosso orbe é muito distinto e, certamente, há coisas que temos em comum com outros plane60 | BOA VONTADE

tas. Mas tudo o que torna a Terra habitável é, de fato, singular. BV — Como é conectar tantas áreas do conhecimento humano, como a Biologia, a Química, a História, entre outras, para desvendar nossas origens? Andrew Knoll — É assim que gosto de trabalhar. Sempre que você descobre algo em uma dessas áreas, surgem questões sobre outros setores. Não posso fazer toda a Ciência sozinho. Mas, se eu encontrar provas de alguma mudança biológica, adoraria saber se existe algo associado ao ambiente. Se vou fazer isso, não posso ser apenas um paleontólogo analisando fósseis; tenho que ser um químico e analisar as rochas. E essa tem sido, pelo menos para mim, uma maneira bem satisfatória de olhar para a Terra e a vida. Porque acredito sinceramente que não se pode entender uma dessas coisas sem associá-la a outras.


“(...) Quando olhamos para Marte e Vênus, nossos vizinhos mais próximos, as características deles indicam que o nosso orbe é muito distinto e, certamente, há coisas que temos em comum com outros planetas. Mas tudo o que torna a Terra habitável é, de fato, singular.”

BV — Nesse longo período, surge o Homo sapiens. Existe uma correlação para o surgimento desse ser cognitivo que é único em nosso sistema? Andrew Knoll — Existe. Aprendemos bastante sobre nossa própria ancestralidade nos últimos 30 ou 40 anos. Grande parte dela vem da África, há vários trabalhos sobre evolução e clima desenvolvidos nesse continente. Está bem claro que, há cerca de 6 ou 7 milhões de anos, nossa linhagem se separou de nossos parentes mais próximos, os chimpanzés. Com o tempo, nossos ancestrais ficaram cada vez mais parecidos conosco. Eles começaram a andar sobre duas pernas (bipedismo), o que nos torna únicos entre os grandes primatas. Eles começaram a mudar a anatomia do corpo, de modo que se tornaram menos dependentes de subir em árvores e mais aptos a andar. Os dentes mudaram de forma, indicando

que a alimentação estava se transformando. Tudo isso aconteceu em uma África que está se tornando mais seca ao longo do tempo. E as pessoas discutem sobre como isso está impulsionando a evolução humana. Mas está bem claro que muitas das características que nos separam dos chimpanzés, por exemplo, realmente surgiram, pelo menos em parte, como adaptações a um mundo mais parecido com uma savana, em vez de um mundo florestal. E outra coisa interessante é que os humanos mais velhos no sentido de nossa própria espécie, Homo sapiens, têm cerca de 300 mil anos... Algo [significante] aconteceu. E podemos discutir sobre há cerca de 45 mil anos, porque naquela época começamos a ver pinturas rupestres incríveis — as mais antigas na Indonésia. Começamos a ver ferramentas novas e mais sofisticadas, assim como diferentes evidências de práticas sociais, funerais etc. BOA VONTADE | 61


Acredita-se que talvez seja quando a linguagem tenha surgido, porque ela passa a ser fundamental para os humanos. E é quase de tirar o fôlego ver o registro dos humanos antes de 45 mil anos e depois; porque, após esse período, começamos a caminhar mais rapidamente em direção à agricultura, às cidades e, mais recentemente, ao tipo de tecnologia que é nossa glória e nosso problema hoje. BV — Podemos considerar que o tipo de vida na Terra é algo raro? Andrew Knoll — É difícil para mim acreditar que as condições sob as quais a vida surgiu na Terra sejam únicas no Universo. Como sempre dizem, existem bilhões de estrelas. E o que aprendemos com a Astronomia nas últimas duas décadas é que a maioria das estrelas que podemos observar tem planetas. Deve haver bilhões de planetas por lá. E mesmo que as chances de qualquer um deles dar origem à vida sejam pequenas, quando se tem tantos assim, acho muito provável que haja alguma forma de vida em outro lugar. O problema é: como podemos provar que existem? Essa é uma questão técnica difícil. BV — Existem grandes questões sobre as quais refletimos ao longo da nossa existência. Entre elas: “De onde viemos? O que estamos fazendo aqui? Para onde iremos?” O seu trabalho pode ajudar a responder a algumas dessas perguntas? Andrew Knoll — Não sei como as coisas serão daqui a um milhão de anos. Por outro lado, acho que temos uma boa ideia de como será nosso planeta daqui a 100 anos. E isso deveria nos deixar preocupados, porque vivemos em um tempo geologicamente incomum. A Terra está mudando em uma velocidade raramente observada nos registros geológicos. E, quando observada, geralmente é um período em que muitas espécies se tornam extintas. Então, a boa notícia é que nós somos seres inteligentes e tecnologicamente experientes. 62 | BOA VONTADE

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ESPÍRITO E CIÊNCIA

Se quisermos mudar as coisas, podemos, mas, se não fizermos escolhas corretas, não apenas em nossas vidas pessoais, mas em âmbito governamental, acredito que nossos netos poderão viver em um mundo depauperado, no qual a mudança climática afetará tudo, desde a floresta tropical aos recifes, à agricultura. Se não houver cautela de todos, o mundo no final deste século será muito diferente. BV — O que pode nos dizer sobre esse momento específico diante das mudanças ambientais da atualidade? Andrew Knoll — Há várias coisas que podemos fazer como indivíduos. Nesse sentido, provavelmente, consigo pensar mais sobre a vida aqui nos Estados Unidos do que no Brasil, mas há semelhanças. Só de isolar minha casa de uma maneira diferente pode reduzir a energia necessária para aquecê-la ou resfriá-la; optar por co-


“A Terra está mudando em uma velocidade raramente observada nos registros geológicos. E, quando observada, geralmente é um período em que muitas espécies se tornam extintas. Então, a boa notícia é que nós somos seres inteligentes e tecnologicamente experientes. Se quisermos mudar as coisas, podemos, mas, se não fizermos escolhas corretas, não apenas em nossas vidas pessoais, mas em âmbito governamental, acredito que nossos netos poderão viver em um mundo depauperado, no qual a mudança climática afetará tudo, desde a floresta tropical aos recifes, à agricultura. Se não houver cautela de todos, o mundo no final deste século será muito diferente.”

mer alimentos cultivados localmente economiza os custos de energia do transporte; fazer escolhas sobre que tipo de carro você dirige, de aparelhos que utiliza, todas essas coisas ajudam. Há também ações que só podem ser feitas quando se tem apoio em grande escala do tipo que o governo pode oferecer. Acho que uma das coisas que prevejo será importante na próxima ou em duas décadas: já existem programas-piloto bem-sucedidos com tecnologia que pode remover o dióxido de carbono do ar. Eles são implementados apenas em uma pequena escala local, e são necessários trilhões de dólares para fazer isso em uma escala maior. Mas isso, na verdade, poderia reverter pelo menos um dos problemas causados pelos seres humanos, porque, como o público deve saber, mudanças como o aquecimento global alteram o pH dos oceanos. E elas ocorrem por causa do aumento do dióxido de carbono. E

isso é, em grande parte, causado pela queima de combustíveis fósseis. BV — Agradecemos a entrevista, professor. Fique à vontade para deixar sua mensagem final aos nossos leitores. Andrew Knoll — Espero que todos que estejam lendo minhas palavras busquem aprender mais sobre nosso planeta. O Brasil tem uma história geológica excepcional. E há cientistas muito bons no Brasil que estão trabalhando nessa história. Espero que as pessoas reflitam mais sobre as ações dos seres humanos, que não somos simples e pequenos agentes no sistema da Terra, mas somos agentes dominantes nesse sistema. E espero que, com uma melhor compreensão disso, todos nós, em todos os países, trabalhemos com afinco para garantir que nossos netos tenham um mundo com muitas das alegrias que temos hoje. BOA VONTADE | 63


LBV É AÇÃO

LBV antecipa campanha de inverno A onda de frio que assolou boa parte do Brasil na segunda quinzena de maio, em razão da alta pressão polar que estava estacionada no Sul, provocando ventos gelados para o Sudeste e Centro-Oeste, fez com que as madrugadas e as manhãs fossem congelantes. A chegada dessa frente fria antes do inverno levou a Legião da Boa Vontade a antecipar a campanha Diga Sim!, com a entrega de cobertores e do kit aquecer, composto de gorro, cachecol, luvas e meias de lã. A iniciativa trouxe conforto a famílias vulneráveis e a pessoas em situação de rua em diversas localidades do país, onde as temperaturas despencaram rapidamente, aumentando ainda mais o sofrimento desses indivíduos.

TV Globo acompanha ação da LBV A equipe da TV Globo, formada pela repórter Patrícia Falcoski e o cinegrafista Johan Carlos, acompanhou, em 19 de maio, a ação solidária feita pela LBV na região do bairro Bom Retiro e imediações, em São Paulo/SP, em favor da população em situação de rua. A reportagem — que foi veiculada no Jornal da Globo, apresentado pela jornalista Renata Lo Prete e no Hora 1 — abordou também como se deu a preparação dos alimentos, além de entrevistas com alguns voluntários. Para assistir à reportagem, basta clicar: www.instagram. com/tv/Cdx9vJ3AmkF/?utm_source=ig_ web_copy_link

Os portais SBT News e UOL divulgaram também a montagem e a entrega dos kits Aquecer nas ruas da capital paulista.

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Em SP, entrega de kits para pessoas em situação de rua Fotos: Arquivo BV

Na semana mais fria do ano (de 15 a 21 de maio), de acordo com o Climatempo, os fortes ventos intensificaram o frio; no dia 18, alguns pontos na capital paulista chegaram a registrar 6ºC — uma das temperaturas mais geladas para o mês de maio desde 1990. A LBV não se esqueceu de quem não tem como se proteger do frio, atuando para amparar populações em situação de rua. A equipe de voluntários da Entidade distribuiu, nas noites de 17, 18 e 19 de maio, em parceria com as ONGs Anjos da Cidade e a Pastoral do Povo de Rua, coordenada pelo padre Júlio Lancellotti, 500 kits Aquecer. Vale ressaltar também que sopa, água e agasalhos foram fornecidos a essas pessoas mais vulneráveis.

PARA AJUDAR A MANTER ESSE TRABALHO A FIM DE QUE SEJA POSSÍVEL ATENDER CADA VEZ MAIS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS, ACESSE WWW.LBV.ORG E FAÇA A SUA DOAÇÃO.

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Solidariedade chega ao Sul do país A campanha Diga Sim!, da LBV, chegou igualmente na Região Sul do Brasil, que costuma sofrer com as baixas temperaturas. Na cidade de Curitiba/PR, os termômetros registraram 3oC na madrugada de 18 de maio, o que deixou todos em alerta, e a Legião da Boa Vontade, prontamente, atendeu ao pedido da Casa de Passagem das Mulheres, que faz parte do Serviço de Acolhimento Institucional para essa população. Durante a iniciativa, foram entregues 50 kits Aquecer e 50 cobertores. A coordenadora da Casa de Passagem das Mulheres, Elaine Murmel, falou em nome das que foram amparadas: “Gostaria de agradecer à LBV pela importância dessa doação, o inverno é muito forte em Curitiba. As luvas, meias, cachecóis e cobertas são de grande importância para nós”. No mesmo dia, em Porto Alegre/RS, a Instituição beneficiou com mais 100 kits Aquecer atendidos da Associação Beneficente São Carlos — Centro Ítalo Brasileiro de Assistência e Instrução às migrações (CIBAI Migrações). O padre Ademar Barilli, vice-diretor da referida entidade, recebeu a equipe de voluntários da Legião da Boa Vontade e agradeceu a parceria, que possibilitou oferecer mais conforto a várias famílias neste período de baixas temperaturas, além de destacar a importância do trabalho na defesa e garantia de direitos dos migrantes, especialmente dando oportunidade a estes para a integração sociolaboral, com a possibilidade de regularização de documentos para que esses Irmãos possam ser protagonistas de suas vidas.

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Fotos: Bianca Gunha

LBV É AÇÃO

Curitiba/PR

Curitiba/PR


KIT AQUECER, DA CAMPANHA DE INVERNO DA LBV, É COMPOSTO POR:

1 par de luvas de lã

ou

1 cachecol

Liliane Cardoso

1 gorro

1 par de meias de cano longo de lã

Porto Alegre/RS

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LBV É AÇÃO

LBV apoia vítimas das chuvas em Santa Catarina Entidade atua junto à Defesa Civil de Tubarão para diminuir o impacto dos temporais na vida das famílias afetadas As chuvas ocorridas na primeira semana de maio nos municípios que compõem a bacia hidrográfica do Rio Tubarão, em Santa Catarina, chegaram com força na cidade e elevaram muito o nível das águas, provocando transbordamento. Houve alagamentos em áreas do centro e bairros mais baixos de Tubarão, que fica a 140 quilômetros da capital do Estado, Florianópolis. Sem perder tempo, a LBV, mais uma vez, atuou

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para diminuir o impacto das enchentes na vida das famílias dessa cidade, encaminhando os seguintes itens para a Defesa Civil: 300 kits Aquecer, 250 cobertores, 200 kits de limpeza e 200 cestas de alimentos não perecíveis. Durante a entrega dos materiais na sede da Defesa Civil de Tubarão, localizada na região central da cidade, o agente Daniel Fernandes Camilo comentou: “Por causa das fortes chuvas,


Fotos: Arquivo BV

houve transbordamento do Rio Tubarão e vários bairros ficaram debaixo d’água, muitas casas tiveram perdas totais. (...) E o pessoal da LBV entregou kits [de frio e de limpeza] e forneceu cestas de alimentos para a população que está precisando. Toda ajuda é bem-vinda! Queremos agradecer por essa doação, o povo de Tubarão está grato!” Para saber mais sobre a nossa atuação humanitária, acesse nosso site e siga @LBVBrasil nas redes sociais:

A campanha Diga Sim!, da LBV, foi destaque ainda nos telejornais da TV Globo Bom Dia DF, na edição de 16 de maio, e no Bom Dia Goiás, no dia 20 do referido mês.

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Pedro Paulo Torres

LBV É AÇÃO

Projeto apoiado pela LBV é destaque em Campeonato Brasileiro de Jiu-Jítsu

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No dia 15 de maio, a equipe do projeto social Geração UPP, do Rio de Janeiro/RJ, esteve no Campeonato Brasileiro de Jiu-Jítsu, o mais importante do país, realizado em Barueri/SP. Os 72 atletas que compõem o time têm entre 4 e 17 anos de idade e são moradores das principais comunidades da cidade, como Rocinha, Mangueira, Cidade de Deus, Jacarezinho e Complexo do Alemão. Eles disputaram as lutas dentro de um universo de 80 academias e oito mil inscritos. Na classificação, a equipe ficou em 10o lugar na categoria mirim; na 7a posição na categoria infantojuvenil; e em 8o lugar na colocação geral. Ao


todo, foram 46 medalhas, sendo 10 de ouro! Tamanho foi o sucesso da Geração UPP que inúmeros sites fizeram questão de destacá-lo, entre eles Extra, UOL, Lance, Portal do Vale Tudo, Yahoo, Terra, R7.com e IstoÉ. Há 13 anos, com a parceria da LBV, da Super Rádio Brasil AM 940, da Prime Esportes, do Boomboxe, da Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu (CBJJ), da Secretaria de Estado de Governo, da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer e do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o trabalho da Geração UPP leva os ensinamentos técnicos, filosóficos e sociais das artes marciais, por intermédio de professores policiais, a crianças e jovens de comunidades do Rio. Uma dessas atletas mirins é a Marion Cabral Timoteo, que entrou no projeto quando ainda tinha 4 anos. A faixa-cinza, moradora do Morro da Providência, está com 9 anos e se tornou campeã brasileira no peso leve na classe juvenil 3. “Estava muito ansiosa para conquistar esse título, treino forte todos os dias e estou muito feliz”, celebrou. Vale dizer que foram arrecadadas seis toneladas de alimentos para ajudar famílias em vulnerabilidade social. Nossos parabéns a todos!

Apoio à campanha Diga Sim!, da LBV Nosso muito obrigado à Ativa, ao Canal Você e à Sinergy, empresas que estão divulgando a campanha Diga Sim!, da LBV, por meio de painéis localizados em importantes avenidas de Porto Alegre/RS, bem como em bancas de revistas e relógios espalhados pela capital. A iniciativa da Instituição, vale ressaltar, visa à manutenção de seus serviços e programas, bem como à arrecadação de recursos para intensificar o seu trabalho. Doações à Entidade podem ser feitas de maneira rápida e totalmente segura pelo site lbv.org. Agradecemos também aos colaboradores do jornal O Tempo, de Belo Horizonte/MG, que repercutiram a mobilização fraterna no mês de maio.

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Fotos: Ana Paiva

LBV É AÇÃO

Contra o desperdício de alimentos No Centro Comunitário de Assistência Social da Legião da Boa Vontade na cidade de João Pessoa/PB, em parceria com o Mesa Brasil Sesc, foi realizada, no dia 13 de maio, uma oficina sobre aproveitamento integral dos alimentos voltada para o público do serviço Vivência Solidária. Por meio da iniciativa, foram compartilhados com os atendidos novos conhecimentos acerca de como não desperdiçar componentes de gêneros alimentícios no preparo de diversos tipos de refeição. As dicas foram colocadas em prática na própria ocasião. Cascas de frutas, como de bananas, foram utilizadas na produção de um delicioso bolo, que foi servido como lanche com um refrescante suco preparado com abacaxis totalmente utilizados. 72 | BOA VONTADE


Fotos: Francieli da Silva

Datas mais que especiais Em 16 de maio, o Centro Comunitário da Legião da Boa Vontade em Cascavel/PR completou 42 anos de atuação nessa linda cidade. Atenta a esse importante marco para a comunidade local, sobretudo para as famílias apoiadas pela LBV na superação das situações de vulnerabilidade social que enfrentam, a TV Tarobá, afiliada à Band, esteve presente na data para repercutir o aniversário em matéria especial. Já no dia 23 do referido mês, o Centro Comunitário da Instituição em Glorinha/RS completou 62 anos. Nessa mesma data, a unidade de Porto Alegre/RS completou 67 anos — tempo de atuação alcançado também pelo Centro Comunitário de Pelotas/RS no dia anterior. Parabéns a todos os atendidos, colaboradores e voluntários das unidades!

LBV na TV Guararapes Recentemente, o trabalho da Legião da Boa Vontade foi destaque na TV Guararapes, afiliada à Record TV em Recife/PE. Na manhã do dia 13 de maio, o programa Balanço Geral, apresentado pelo jornalista Evenilson Santana, registrou a ação preventiva e educativa do Centro Comuni-

tário de Assistência Social da LBV, na capital recifense, com o apoio do Conselho Tutelar da Região Política Administrativa 1, em alusão ao dia 18 de maio — Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Valeu, TV Guararapes!

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LBV É AÇÃO

Educação, cultura e história No dia 19 de maio, as crianças atendidas pela Legião da Boa Vontade em Brasília/DF tiveram um momento de entretenimento educativo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Nessa data, elas visitaram a exposição “Brasília — 61 + 1 ano de história”, em que capas do prestigiado jornal Correio Braziliense contam os 62 anos da capital brasileira em suas páginas. Conforme matéria no site do próprio periódico, redigida por Carlos Silva, “as crianças demonstravam, além da coragem de vencer a baixa temperatura, alegria, curiosidade e registravam cada momento em seus celulares. Algumas se reuniam em grupos de amigos e falavam sobre as fotos mais interessantes que viram. Outras passeavam entre as capas, ansiosas para ver o que acontecia no ano em que nasceram e como eram as notícias e a aparência do jornal naquele tempo”.

EPTV convoca telespectadores à prática da Solidariedade Agradecemos ao telejornal Bom Dia Cidade, da EPTV, afiliada à TV Globo, por solicitar à própria audiência, em transmissão ao vivo em 29 de abril, doações de leite em prol dos atendidos no Centro Comunitário da LBV em Araraquara/SP. O destaque foi feito pela querida repórter Fernanda Câmara, com a participação da gestora social da unidade, Diana Oliveira.


Ascom/DPE Alagoas

Defensor Público Geral de Alagoas visita a LBV As meninas e os meninos atendidos pelo serviço Criança — Futuro no Presente!, mantido pela Legião da Boa Vontade em Maceió/AL, recebeu a visita do Defensor Público Geral do Estado de Alagoas, dr. Carlos Eduardo de Paula Monteiro, que conheceu a ação da LBV no município e conversou com os usuários do serviço em uma grande interação sobre o trabalho desenvolvido por ele em prol da sociedade

no indispensável acesso à Justiça. Para retribuir o carinho recebido da garotada, o dr. Carlos Monteiro fez questão de mostrar seu talento, cantando e tocando uma música para os presentes. “Estou encantado com tudo aqui, que é muito organizado, crianças e adolescentes educados e inteligentes. Com o que a Defensoria puder ajudar, estamos à disposição”, declarou o defensor público.

Café 3 Corações doa três mil refrescos à LBV Nosso muito obrigado à empresa pela doação entregue, na manhã de 3 de maio, no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV em Belo Horizonte/MG. Os donativos foram repassados às famílias atendidas pela unidade.

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