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Terceira idade

Alegria

por conviver

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O tão esperado retorno às atividades presenciais da LBV ocorre para os idosos do serviço Vida Plena, seguindo todos os protocolos de segurança

WELLINGTON CARVALHO DE SOUZA

Salvador/BA

Salvador/BA

Quem sempre sonhou em exercer as atividades profissionais na ambiência do próprio lar (o chamado home office) pode ter se sentido contemplado durante a pandemia, que provocou essa significativa mudança em muitas empresas. No entanto, ficar a maior parte do tempo em casa não é uma opção tão atrativa aos que já saíram do mercado de trabalho e sentem a extrema necessidade de socializar com outras pessoas, a fim de evitar a solidão. Idosos aposentados, como os que frequentam o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos Vida Plena, da Legião da Boa Vontade, constam entre esses.

Desde 2020, esse público — o mais vulnerável à Covid-19, ressalte-se — cumpriu o necessário distanciamento social em suas residências, participando de atividades socioeducativas remotas propostas pela LBV. Ao longo do período mais crítico da crise sanitária, as equipes multiprofissionais dos Centros Comunitários de Assistência Social preparavam kits com as instruções e os materiais necessários à realização das atividades e entregavam na casa de cada usuário.

As assistentes sociais e psicólogas também telefonavam constantemente aos atendidos — afora as visitas domiciliares que realizavam, sempre respeitando os protocolos sanitários —, para identificar necessidades de acompanhamento, fazendo muitas situações de vulnerabilidade não se tornarem risco para as famílias atendidas; bem como intermediavam o acesso a benefícios governamentais e institucionais, o fornecimento

de suporte emocional e a disseminação de informações acerca da prevenção da Covid-19 na cidade, conforme as orientações do Ministério da Saúde. Dessa forma, podiam acionar outros agentes da rede de apoio caso fosse necessário, a exemplo do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) e da Unidade Básica de Saúde (UBS).

De acordo com Ione Santos Silva, assistente social do Centro Comunitário da Instituição em Salvador/BA, no bairro Bonocô, algumas das idosas “viveram momentos de depressão, de solidão, de perdas de familiares, de medo. (...) Quando eu entrava em contato com elas, sempre relatavam que estavam sentindo falta de frequentar a unidade, que queriam estar aqui por ser um lugar

“O que mais gosto na LBV é a atenção que recebo. E também não posso deixar de falar da cesta de alimentos que a gente ganha mensalmente. Ajuda muito em casa. Em vez de comprar o alimento que vem na cesta, eu já pago [a conta de] luz, compro o gás ou remédios. (...) A LBV é importante para mim porque é como uma terapia, repito sempre. (...) Muita gente precisa desse entretenimento, dessa oportunidade de aprendizado. Aqui é como uma escola. Agradeço desde o faxineiro até aos diretores da LBV, assim como aos doadores.”

ALMERINA OLIVEIRA

Usuária do serviço Vida Plena, da LBV, em Salvador/BA

de felicidade”. Dona Almerina Oliveira, de 70 anos, esteve nessa condição. Para ela, viver a pandemia “foi horrível”.

Não é para menos. A aposentada perdeu um sobrinho muito querido por causa do SARS-CoV-2, fato que aumentou a preocupação com o marido e os filhos — um deles é obeso, fator agravante ao quadro clínico. “A LBV me ajudou bastante a superar esse momento. Pedi ajuda à Ione e conversava muito com ela, que me acalmava e indicou o 188 (Centro de Valorização da Vida). Eu ligava lá quase todos os dias e me sentia bem [após o atendimento]. Também telefonava muito para a Marizalva, que é minha colega daqui da LBV, gente boa mesmo”, relata Almerina. Por sua vez, Marizalva Monteiro da Paixão, de 82 anos, conta que sentiu “falta do aconchego do povo, das reuniões em grupo, de ter contato com as pessoas”.

Devidamente vacinadas contra a Covid-19 — objetivo para o qual a Entidade incentivava todas as atendidas —, no dia 12 de abril, elas e as demais 64 idosas voltaram às atividades presenciais do Centro Comunitário, divididas em seis subgrupos de 11 participantes, de modo que a biossegurança possa ser mais bem garantida. Nessa data, foram recepcionadas com um café da manhã mais que especial, repleto de música, dança, boa comida e muito carinho por parte dos colaboradores da unidade.

Para a dona Almerina, a confraternização foi “uma surpresa boa. Não esperava mesmo. Foi bom a gente encontrar todas as colegas e funcionárias. Sentia falta dos nossos encontros, que me fazem muito bem. Eu considero [o Vida Plena] uma terapia. Se eu dormir mal e vir para a LBV, pode ter certeza de que volto para casa outra pessoa”.

Desde então, ela e Marizalva voltaram a frequentar o local todas as quintas-feiras,

Salvador/BA

quando desfrutam de diversas oficinas, como artesanato, dança, palestras educativas pertinentes à terceira idade, entre outras propícias ao desenvolvimento da autonomia, da socialização e do fortalecimento de vínculos familiares, interpessoais e intergeracionais, fortalecendo a inserção sociocultural e a cidadania.

Sobre estar na Entidade, Almerina ainda destacou que sente “muita gratidão. E ela é pra sempre, pelo atendimento que tenho tido, pelo carinho das colegas, pelas conversas que a gente tem aqui, pelo que passamos e superamos. Isso faz muita diferença”, afirmou a atendida.

Conforme esclarece a assistente social Ione, a ação com os idosos na unidade da LBV na capital baiana seguirá a todo vapor. “Continuaremos trabalhando o tema ‘Envelhecimento saudável e ativo’. Focaremos em transmitir orientações sobre os cuidados da saúde física e emocional e a manutenção da atividade cerebral, do convívio social e familiar.”

“EU ERA MUITO TRISTE ANTES DE CONHECER A LBV”

Quem também retornará às atividades presenciais neste mês de junho são as integrantes do Vida Plena em Cabo Frio/RJ. Em abril e maio, elas concluíram uma série de atividades realizadas à distância dentro da temática “Território: lugares de vivência, identidade e memórias”. Por meio de mapas afetivos desenhados por elas próprias, cada qual registrou em um livro de memórias as lembranças que nutrem acerca de sua cidade de origem, lugares que apreciam em Cabo Frio e o próprio Centro Comunitário de Assistência Social da Legião da Boa Vontade. Dessa forma, puderam resgatar a identidade e o sentimento de pertencimento ao grupo — o que favorece a readaptação ao funcionamento do serviço presencial.

“Aqui na LBV, tenho sentimentos muito bons: alegria, afeto, harmonia. As meninas tratam a gente muito bem, com muito carinho. Considerando o momento que estávamos vivendo, ainda mais para os idosos e quem mora sozinho, como eu, senti que o retorno [às atividades presenciais] foi uma coisa muito boa. (...) Foi uma recepção muito calorosa e aconchegante. ‘Vixe Maria’! [Os funcionários] nos tratam como verdadeiras rainhas; por isso que a gente sentia falta. O Vida Plena é importante porque dá essa alegria, esse ânimo na gente. E outra coisa: eu gosto também da limpeza daqui, onde sinto um ar limpo. Aqui é muito bom mesmo! Sempre fico contando os dias pra chegar quinta-feira. Agradeço à Instituição por essa atenção que dá para todas nós. Só tenho que agradecer por tudo isso.”

MARIZALVA MONTEIRO DA PAIXÃO

Integrante do serviço Vida Plena, da LBV, na capital baiana

shutterstock.com Arquivo BV

Cabo Frio/RJ

Ana Lúcia Pereira, de 66 anos, conta que “era muito triste antes de conhecer a LBV. Às vezes, queria conversar com alguém, mas não tinha companhia. Quando vim pra cá, descobri que podia contar com as companheiras. Está sendo gratificante. Eu me sinto acolhida cada vez que entro na Instituição”. Ela participa das iniciativas da Entidade desde 2015. “Eu me senti mais útil em tudo o que faço. Passei a ser mais compreendida. Sinto-me bem aqui no meio das minhas companheiras, participando das palestras. A gente conversa, brinca, ri, conta as novidades do dia a dia”, realçou.

Com certeza, o próximo semestre de 2022 será um período repleto de troca de experiências, muitas gargalhadas, ainda mais atenção e afeto entre esse pessoal todo que, a despeito de inúmeros desafios que já enfrentou, continua apostando na alegria de viver. Ou melhor, de conviver.

Pandemia, mulheres e saúde mental

De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia fez crescer em mais de 25% os casos de depressão e ansiedade em todo o mundo. Um dos motivos apontados foi o estresse causado pelo isolamento social em 2020. A solidão e o medo da infecção, sofrimento e morte, o luto e preocupações financeiras também foram citados como fatores.

No Brasil, pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) aponta que mais de 50% das mulheres apresentaram algum sintoma de ansiedade ou depressão durante a crise sanitária. Estudo inédito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ainda revela o aumento de suicídios, especialmente entre grupos mais vulneráveis, nas regiões Norte e Nordeste, durante a primeira onda da Covid-19 em nosso país. O fenômeno também foi observado nas mulheres a partir de 60 anos do Nordeste, com a elevação do número de suicídios de 40%.

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