Habitat 17

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Número 17

arquitetura | arte | design

atelier oï

Os sócios do atelier oï, escritório suíço de renome internacional, contam como suas criações de design, arquitetura, interiores e cenografia cativaram as maiores marcas de luxo do mundo










habitat EDITORIAL

O futuro é aqui

O

objetivo da arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida”, declarou Paulo Mendes da Rocha, Prêmio Pritzker de 2006, em uma de suas frases memoráveis. Nesta última edição da revista, celebramos o ano de 2023, ampliando essa concepção às mentes brilhantes que, com sua inventividade, moldam o mundo com uma expressão poética mais humana. Ao longo das páginas, desvelam-se as atmosferas oníricas criadas pelo escritório suíço atelier oï, que conferem emoção ao universo da arquitetura e do design. A nomeação de Curitiba como a cidade mais inteligente do mundo é motivo de orgulho. Agraciada com a maior exposição artística de Joana Vasconcelos, em homenagem aos 21 anos do MON, a capital pulsa com a magia das instalações colossais da artista portuguesa. O mundo volta os olhos para o Brasil. Dois leões de ouro reconhecem nossos talentos: o recebido este ano na Bienal de Arquitetura de Veneza com o Pavilhão Terra e o que será entregue na próxima Bienal de Veneza à Anna Maria Maiolino, artista plástica ítalo-brasileira. Nossas raízes e ancestralidades precisam ser exaltadas, como propõe o tema da próxima CASACOR 2024. Com a exposição Antropofagia, o fotógrafo Ruy Teixeira reflete, em seus escritos para a Habitat, sobre a mostra na galeria Espasso em Miami, reverenciando a essência do Brasil contemporâneo, das raízes do modernismo à confluência de sua multiculturalidade. O Futuro é esse lugar, onde o passado se reinventa no presente e recria novos começos. É aqui, em terras brasileiras. Boa leitura!

Débora Mateus

Editora e diretora de conteúdo

Escultura de Franz Weissmann sobre mesa de Joaquim Tenreiro. Foto: Ruy Teixeira

EXPEDIENTE Publisher: Cíntia Peixoto, cintia.vieira.peixoto@gmail.com | (41) 99225-7610 Comercialização: Saltori Mídia Estratégica, saltori@saltori.com.br | (41) 99996-9995 | R SALTORI REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS LTDA | 05.552.266/0001-60 Edição e direção de conteúdo: Débora Mateus | debora@dmcomunicacao.com Direção de arte: Igor F. Dranka | ferreiradranka@gmail.com Conselho editorial: Cintia Peixoto, Consuelo Cornelsen e Débora Mateus Colunistas: Paula Campos (Coluna Sobre Morar), Rodolfo Guttierrez (Coluna É Design), Cesar Franco (Coluna Conexão), Isabela França (Coluna Caleidoscópio), Débora Mateus (Coluna Spectrum, Arte & Design), Christian Ullmann (Coluna Ponto de Vista). Redes sociais: Cristina Fontoura Consultoria, consultoriacristinafontoura@gmail.com, @consultoriacristinafontoura Contato: arevistahabitat@gmail.com Créditos: Catherine Gailloud (Capa) Impressão: Maxi Gráfica e Editora LTDA. | maxigrafica@maxigrafica.com.br Marca registrada: Capelatto Marcas e Patentes

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RM



habitat CASA L’ESPACE I HABITAT

O Espírito do Tempo Iniciamos um novo tempo, colaborativo, plural e inclusivo. Neste contexto, encerramos 2023 impactados pelas mudanças e fervilhando de novas ideias para gerar conexões, trocas e inovação em um mercado ímpar de arquitetura, arte e design. Em 2024, a Casa L’Espace I Habitat nasce desta nova premissa : proporcionar cultura e conteúdo aos nossos parceiros, leitores e comunidade. Sejam bem-vindos, a Casa é nossa! Cintia Peixoto | Publisher

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habitat INDICE

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16 CAPA.

Os sócios do escritório suíco atelier oï revelam como suas criações de design, arquitetura, interiores e cenografia cativaram as maiores marcas de luxo do mundo

38 ARQUITETURA SUÍCA.

Os chalés projetados por Jean MichelMartignoni no coração dos Alpes suíços

46 PREMIAÇÃO.

Curitiba é eleita a cidade mais inteligente do mundo em 2023

52 ANTROPOFAGIA.

Ruy Teixeira reflete sobre sua exposição realizada na Galeria Espasso, em Miami

60 COLUNA SPECTRUM.

Maria Helena Pessôa guia a MH Studios à luz de suas paixões em um manifesto criativo

64 ENTREVISTA.

Alexandre Dely, sócio da incorporadora L´Espace, elenca as tendências do mercado imobiliário

68 EXTRAVAGÂNCIAS.

Em cartaz no MON até 2024, exposição é a maior da artista Joana Vasconcelos no Brasil

72 EXPOSIÇÃO.

“Vai Saudade: Zéh Palito & Heitor dos Prazeres” em Curitiba

76 VITRINE.

Uma seleção de peças desenhadas por arquitetos e designers no Paraná

78 NOVA ABORDAGEM.

Mariana Palma apresenta sua nova mostra individual na capital paulista

82 ARTE PARANAENSE.

A trajetória de José Antonio de Lima, artista que expôs em diversos continentes

86 NOTAS DE MERCADO.

As principais notícias nacionais e globais

92 SOBRE MORAR.

O lar de Tania e Guilherme Barthel

98 CALEIDOSCÓPIO.

Parceria inédita une moda autoral e chás exclusivos

100 É DESIGN.

O universo escultural de Rafael Sartori

104 CONEXÃO.

Cobertura dos eventos sociais de destaque em Curitiba

114 PONTO DE VISTA.

Christian Ullmann explica sobre o premiado projeto “Raízes”, que incorpora biomateriais no design

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EMOÇÃO DESENHADA Os sócios do atelier oï, escritório suíço, contam como desenvolvem os projetos de design, arquitetura, interiores e cenograf ia que atraíram as maiores marcas de luxo do mundo Por Débora Mateus

Fotos: Courtesy of atelier oï

Luminárias Oïphorique, esculturas de luz inspiradas no movimento de criaturas marinhas, concebidas para o estúdio espanhol Parachilna (2016)

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ornar tangível o invisível, converter sonhos em poesia visual - algo que para muitos pode ser um desafio quase utópico -, é a centelha que inspira a narrativa multifacetada do atelier oï. Fundado há 32 anos na cidade de La Neuveville, na Suíça, pelos arquitetos Aurel Aebi, Armand Louis e o construtor de barcos Patrick Reymond, o escritório conquistou renome internacional com diversos prêmios e projetos inovadores de design, arquitetura, cenografia e decoração de interiores. Eles colecionam criações que surpreendem e emocionam, concebidas para marcas como Artemide, Louis

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Vuitton, Bulgari, Fendi CASA, Foscarini, B&B Italia, Nespresso, Pringle of Scotland e Rimowa. Já projetaram 260 boutiques, show-rooms e lojas que incorporam o brandscaping (arquitetura e experiência de marca) em várias metrópoles como Paris e Londres. Além de realizar exposições em Zurique, Tóquio e até em São Paulo, no Museu da Casa Brasileira (2018). O trio de designers explica, em entrevista exclusiva à Habitat, que enxerga cada projeto como uma oportunidade de redescobrir e começar do zero, numa ação de aprendizado contínuo. “Nossa paixão, curiosidade e sentidos nos guiam

em direção a essas surpresas e emoções, criando atmosferas poéticas e mágicas”. Seu processo criativo explora o conceito de “pensar com as mãos”, integrando conhecimento técnico e experimentação de diversos materiais. Essa força lírica indiscutível é capturada no movimento de instalações cenográficas que apresentam objetos cinéticos, convergindo narrativas sensoriais de dança, luz, som e fragrâncias. A linguagem inusitada também reverbera em composições arquitetônicas, de interiores, e peças artísticas de design. Os projetos brotam da fusão entre tema, improvisação e estrutura.


A exposição Oïphorique em 2018 marcou a reabertura do Museum für Gestaltung Zürich. Foram exibidas as criações do atelier oï que fizeram história

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Exposição Oïphorique em 2018 no Museum für Gestaltung Zürich

“Nossa paixão, curiosidade e sentidos nos guiam em direção a essas surpresas e emoções, criando atmosferas poéticas e mágicas”

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Instalação de arte olfativa Hélicoïdale. A superposição das peças de madeira ultrafina de pinheiro suíço forma leques que se movem em ritmos distintos

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A fachada em concreto perfurada para o centro de produção joalheira do grupo Swatch, DYB, alude ao trabalho dos gemólogos e à lapidação das pedras preciosas

Os frascos do perfume Allegra, da Bulgari, refletem a preciosidade e as cores das joias da marca, com destaque para o contraste das texturas lisas e plissadas

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EXPERIMENTAÇÃO COLABORATIVA

Instalação Eoles: ventiladores em papel japonês dobrado com movimentos circulares e difusão de fragrâncias. Expostos na Galeria Rossana Orlandi, em Milão (2023)

Os sócios Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond baseiam seu processo criativo na força colaborativa. Daí a origem do nome oï – que vem de “troika”, versão russa de uma carruagem puxada por uma equipe de três cavalos. Fundamentam o princípio de colaboração como energia motriz tripartida a serviço dos projetos, algo que tem um papel significativo na consagração do atelier oï. “Nossa força vem de nossa transdisciplinaridade, visões cruzadas, culturas dife-

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rentes e sensibilidades diversas. Os projetos se beneficiam dessas perspectivas profissionais variadas e a melhor ideia conta, não importa de quem vem, sempre garantindo que o projeto e seu valor estejam no centro de nossa atenção”, afirmam. Para eles, amantes do jazz, essa característica pode ser comparada à improvisação de um grupo musical, onde cada membro tem que ouvir seus parceiros para criar uma química musical juntos. “Um indivíduo deve observar e se

inspirar, então automaticamente faz parte de um organismo, de um coletivo ou de uma sociedade”, destacam. A imersão na história de cada marca, permite o desenvolvimento de soluções autênticas. O trio diz criar “uma ‘Storytexture’ única para cada marca, para continuar construindo sua história no espaço: “Cada encontro, jornada, diversidade encontrada ao longo do caminho enriquece nossa própria história”.


Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond, fundadores do atelier oï Foto: Catherine Gailloud

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Moïtel, sede do atelier Oï localizada em um motel da década de 1960 revitalizado

O Moïtel, motel reformado que data dos anos 1960, abriga as instalações do atelier oï. Às margens do lago Bienne, rodeado pelas montanhas do Jura e vinhedos, é fonte de inspiração para o time. Com estúdio fotográfico, materioteca (acervo de materiais) e salas de trabalho, é um lugar acolhedor para aqueles que buscam conhecer seu ofício. Não é coincidência que a paisagem idílica e a natureza influenciem seus projetos. Segundo

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os fundadores, o espaço simboliza a busca por novos encontros e descobertas. “O Moïtel mantém sua função primordial: a hospitalidade criativa. Queremos que nossos colaboradores vejam o Moïtel como parte essencial de sua jornada criativa. Regularmente, temos clientes, parceiros, amigos, fornecedores ou funcionários hospedados em uma das salas do Moïtel, recebendo-os para uma experiência noturna em nossa sede”.


Série Gaïa, em parceria com o especialista em vidro veneziano WonderGlass, exibido neste ano, na Galeria Rossana Orlandi, durante a Semana de Design de Milão

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A icônica rede Hammock, assinada pelo atelier oï para a coleção Objets Nomades da Luis Vuitton em 2012

A imersão nas técnicas tradicionais artesanais e industriais japonesas, aprendidas com o designer Shigeru Uchida, impulsionou a aprimoração experimental de materiais e o savoir-faire artesanal, algo inerente à assinatura do atelier oï. Os sócios trabalharam junto com artesãos e a prefeitura de Gifu, algo que explica a influência do japonismo em suas concepções, ao mesmo tempo revolucionárias. Para eles, as novas ferramentas digitais estão a serviço da criação, não contra ela. “Precisamos saber como combiná-las e como podem se estimular mutuamente. No entanto, também é nosso dever preservar o know-how, técnicas, modos de produção e distribuição do passado. A transmissão e preservação

Luminária pendente Piva, em couro, criada pelo atelier oï para Objets Nomades da Louis Vuitton, durante a edição deste ano da Semana de Design de Milão

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Mesas Metrópolis, criadas para Fendi Casa

Sofá da série Fun Fendi, criado para Fendi Casa

do savoir-faire, ao longo das gerações, é parte fundamental do que nos inspira na cultura japonesa”. Discernir quando é inteligente produzir um novo objeto, já que a conservação também ocorre quando não se produz nada é um fator importante. “Enzo Mari disse uma vez que se um objeto é perfeito, não se deve projetar um segundo”, lembram.

Em 2012, eles colaboraram com a Louis Vuitton na coleção Objets Nomades, usando couro como ponto de partida para criar uma série de peças com toque oriental, união entre modernidade e tradição, como a rede Hammock. Este foi um marco para sua projeção internacional. “Embarcamos nessa jornada com a coleção Objets Nomades da Louis Vuitton há mais de 10

anos, compartilhando valores semelhantes e trocando expertise, o que beneficiou ambas as partes. Mantemos um constante intercâmbio com a marca para explorar novos desenvolvimentos e ambições conjuntas para o futuro”. A parceria levou a uma colaboração contínua que gerou novas criações para a linha Objets Nomades na última Semana de Design de Milão.

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VALSA LUMINOSA A luz e as luminárias são temas recorrentes no trabalho do atelier oï, explorados de maneira lúdica. Cenários destacam a estética poética de peças em movimento idealizadas em diversos materiais. As luminárias Les danseuses, criadas em tecido que giram em velocidades diferentes, remetem a uma valsa luminosa. Em séries como a Oïphorique, peças em tecido pregueado se compri-

mem e dilatam, espelhando o movimento de criaturas marinhas flutuantes. A linha Allegro, concebida para a empresa veneziana Foscarini, apresenta hastes metálicas que criam jogos de luz e sombra, produzindo sons de carrilhões quando se movem. Das experiências em conjunto com os vidreiros das oficinas de Murano surgiram luminárias monumentais. A combinação de materiais tradicionais

como couro e vidro pode ser vista na série Stelle Filanti idealizada para a Venini Artight collection. O trio de designers diz que trabalha com a luz como material, de forma a esculpir e curar: “Nosso trabalho é uma observação da luz em seus estados naturais. Ela se move, muda e evolui ao longo do tempo. Também nesse contexto, a natureza é uma fonte fundamental de inspiração para nós”.

Luminárias Les Danseuses giram em velocidades diferentes como numa dança

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Luminárias Allegro, idealizadas para a empresa de iluminação veneziana Foscarini

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A série de lustres Stelle Filanti, idealizada para a Venini Artight collection combina vidro e couro

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Desenho da escola secundária que será construída no Camboja, em colaboração com a ONG suíça que atua na região, Smiling Gecko

HORIZONTES VARIADOS Entre os novos projetos, destaque para dois arquitetônicos de cunho social e educacional: uma Casa da Cultura e escola secundária no Camboja, em colaboração com a ONG suíça Smiling Gecko, que promove a educação como base para uma economia e comunidade prósperas e independentes. Além disso, os fundadores planejam expandir o desenvolvimento da linha própria, oï PRIVÉ,

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que inclui coleções de obras de arte em edição limitada criadas em parceria com artesãos internacionais, que exploram diversos materiais, savoir-faire e artesanato, refletindo sua visão pessoal. “Trabalhando com arquitetura, design de interiores, design de produtos, cenografia e arte, buscamos dissolver as barreiras entre gêneros e criar soluções holísticas, do objeto ao espaço”, finalizam.


Artplage, projeto vencedor da concorrência para a Exposição Nacional na Suíça em Neuchâtel (2002), incluiu três tetos de deque em forma de gotas d’água e caniços iluminados no lago

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Concepção do espaço interno do restaurante da empresa La Balôise, em Basel

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Projeto de interiores assinado para EHL Hospitality Business School. Foram criados mobiliários e várias instalações simbolizando as diferentes etapas de aprendizado

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habitat ARQUITETURA SUÍÇA

NO CORAÇÃO DOS ALPES SUÍÇOS Em meio aos cenários valaisanos, o arquiteto suíço Jean-Michel Martignoni revela como se consolidou ao projetar chalés de madeira maciça que fundem inovação e sustentabilidade Por Débora Mateus Fotos: Courtesy of Jean-Michel Martigoni

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alais, na Suíça, é um privilégio reservado a poucos. Para concretizar o desejo desse modo de viver, o arquiteto Jean-Michel Martignoni desenvolveu uma abordagem impregnada de paixão criativa, que soma mais de 40 anos de atuação, particular àqueles que trabalham e vivem neste cenário. À frente da direção da empresa Ma Maison Bois, ele se especializou na concepção de chalés inovadores de madeira maciça, provenientes de materiais sustentáveis da silvicultura, em parceria com fornecedores finlandeses. Numa fusão de sustentabilidade e tradição, ele já realizou cerca de 580 projetos. Dentre os mais recentes, uma residência na cidade de Grimisuat, que levou em consideração os desejos de um casal de origens distintas - a brasileira Caroline e o marido suíço Stéphane -, que almejavam o aconchego de um chalé com leitura contemporânea. Em conversa exclusiva à Habitat, Martignoni revela que suas concepções são influenciadas pelo ambiente de seu entorno, premissa que também deu origem ao lar deste casal. “Na residência de Grimisuat a intenção foi aproveitar a vista dos alpes e ao mesmo tempo criar privacidade por meio da construção de varandas. O design dos espaços internos permite desfrutar desse cenário, com fachadas de portas de vidro que trazem a natureza para dentro do espaço de convivência, com vistas para o vale”, revela.

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Residência do casal Caroline e Stéphane Glassey projetada por Jean-Michel Martignoni tem conceito contemporâneo e o aconchego de um chalé suíço

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habitat ARQUITETURA SUÍÇA

O design da casa situada em Grimisuat, no coração dos alpes suíços, incorpora a natureza do cenário às áreas de convivência

Os ambientes são envoltos por elementos em madeira maciça sustentável que propiciam uma sensação de proteção e bem-estar

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Na área externa, a piscina espelha as cores da paisagem idílica dos alpes suíços

Com conceito de “aquário na caixa”, a casa reflete a identidade dos proprietários. A composição de interiores feita por eles, contou com o toque da expertise curatorial esteta de Consuelo Cornelsen: ecoa as preferências do marido, que preza pelo padrão da madeira e se une à contemporaneidade das escolhas de Caroline em obras de arte e objetos de décor. “O projeto de iluminação idealizado por Consuelo destacou com precisão as diferentes instalações e o volume da construção”, ressalta Martignoni. Segundo ele, a singularidade do ambiente ou localização, a sensibilidade, a história, os sentimentos ligados ao lugar e aos eventos faz com que cada composição seja única. “Todos esses elementos permitem conceber um projeto que seja inigualável em sua interação com o ambiente e que tenha uma história e valores que o tornem especial”. Jean-Michel Martignoni nasceu na região do Valais, onde desenvolve há mais de 40 anos diversos projetos arquitetônicos

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habitat ARQUITETURA SUÍÇA

A singularidade das criações projetadas por Martignoni evidenciam o ambiente, história e memórias afetivas

A materialidade da madeira maciça desempenha um papel importante nas concepções residenciais. Para o arquiteto suíço, como um material vivo, ela incorpora propriedades de conforto, energia inigualável dentro dos espaços, regula a umidade e proporciona uma grande inércia térmica. Valores que, segundo ele, foram incorporados no estilo de vida e arquitetura finlandeses. A sustentabilidade se torna crucial

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nas construções contemporâneas: “É muito importante cuidar do nosso ambiente, e o ato de construir deve estar alinhado com o desenvolvimento sustentável”. Ele destaca que a abordagem arquitetônica pode influenciar nosso futuro. Por isso, integrar desde o início do processo de design essa preocupação com o meio ambiente como elemento central na reflexão do projeto torna-se um passo natural.


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habitat PREFEITURA

CURITIBA: A CIDADE MAIS INTELIGENTE DO MUNDO EM 2023 Vencedora do prêmio City World Smart City Awards, a capital paranaense é referência em inovação no planejamento urbano inteligente, crescimento socioeconômico e sustentabilidade Fotos: Divulgação

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m 8 de novembro, Curitiba alcançou outro um marco histórico ao ser eleita a Cidade Mais Inteligente do Mundo de 2023, em Barcelona, na Espanha. O prefeito Rafael Greca recebeu o principal prêmio do World Smart City Awards, na categoria “Cidades”. A honraria é considerada a mais importante do mundo no quesito cidades inteligentes e destacou as políticas públicas e programas de planejamento urbanos inteligentes implementados pela Prefeitura. Foram avaliadas ações de crescimento socioeconômico e sustentabilidade ambiental, além de iniciativas

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de eletromobilidade, segurança alimentar e conectividade. Para o prefeito Rafael Greca, a premiação reconhece a posição vanguardista da capital paranaense. “Ano após ano, temos mostrado como Curitiba se diferencia das demais cidades, sendo pioneira em serviços de cidades inteligentes que estimulam o pensamento inovador, promovendo melhorias na vida dos curitibanos, com desenvolvimento sustentável e reforçando que a inovação só vale quando ela se transforma em processo social”, destaca ao celebrar a premiação internacional.


As abordagens servem de exemplo global. “A Prefeitura de Curitiba tem implantado soluções para manter a construção de uma cidade mais sustentável e inovadora, alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)”, reforça Greca. A cidade é moldada pela conexão de maneira intrínseca à comunidade que a habita, no ecossistema que conecta as relações e seus cidadãos. O vice-prefeito,

Eduardo Pimentel, comemora a vitória com orgulho: “Essa conquista recebida pelo nosso prefeito na Espanha é uma honra. Curitiba está no topo da lista das cidades mais avançadas do mundo, à frente de outras 800 que tiveram seus projetos avaliados. Foi reconhecida pelo ‘Oscar’ da inovação, um prêmio já concedido a Londres e Seoul. Esse título é fruto de um trabalho de investimento em tecnologia, inovação que visa a qualidade de vida dos cidadãos. Insere-se no con-

texto de ESG (Environmental, Social and Governance), crucial na gestão pública e que incorporamos no cotidiano dos curitibanos, com a série de ações desenvolvidas”, explica. Essa é a quinta vez que a capital paranaense se destaca entre as seis finalistas do World Smart City Awards. Neste ano, o Paraná também foi eleito o estado mais inovador e sustentável do Brasil, segundo o ranking Bright Cities.

Rafael Greca, prefeito de Curitiba, recebeu o prêmio World Smart City Awards junto da comitiva que o acompanhou em Barcelona

DIVERSAS INOVAÇÕES

Para concorrer à premiação, a capital paranaense apresentou uma série de iniciativas com destaque para soluções tecnológicas, como o Wi-fi Curitiba, a Muralha Digital, o aplicativo Saúde Já e o Nota Curitibana, desenvolvidas em parceria com o ICI - Instituto das Cidades Inteligentes. Avanços em eletromobilidade, com a introdução de ônibus elétricos a partir de 2024, programas de acesso à alimentação saudável, como as Fazendas Urbanas, Armazéns da Família, e Restaurantes Populares. As ações

que contribuem para tornar a cidade neutra em emissões de carbono até 2050 incluem a Pirâmide Solar, primeira usina fotovoltaica sobre um aterro desativado na América Latina, o programa Curitiba Mais Energia, com instalação de painéis fotovoltaicos em vários pontos da cidade, além do 100 mil árvores e Amigo dos Rios. O Bairro Novo da Caximba será a maior intervenção socioambiental da história da capital. Em fase de desenvolvimento, está trocando palafitas irregulares por um bairro inteligente para cerca de 1.700 famílias em uma Área de

Preservação Ambiental que prevê a construção de um parque linear, infraestrutura de transporte, saneamento, abastecimento de água e energia elétrica. Além disso, a capital é referência nacional nos últimos anos como Cidade Educadora, com o incentivo à cultura maker através do Fab Lab Cajuru e dos Faróis do Saber Inovação. Curitiba é celebrada globalmente como modelo de inovação urbana, destacando-se na criação de um legado transformador que incorpora práticas sociais e ambientais para as atuais e futuras gerações. Parabéns, Curitiba!

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habitat ARQUITETURA E ARTE

O hall de entrada do edifício Melo Alves 645 possui um acervo de obras assinadas por artistas como Renato Rios, Felipe Cohen e Ana Mazzei Foto: Divulgação MOS

CONEXÃO URBANISMO, ARTE E ARQUITETURA Com sede na capital paulista, a MOS realiza projetos dentro e fora do país que incluem o trabalho artístico e mudam o entorno da cidade

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crescente valorização do calendário nacional, com eventos diversos nas artes e no design, destaca a importância da conexão com o público e reconhecimento da cena cultural no país. Isso direciona a atenção dos agentes da construção civil para uma nova experiência de morar. Os sócios Eduardo Andrade de Carvalho, Manoel Maia e Matheus Farah fundaram a MOS em 2019, na capital paulista, com um formato que se diferencia das práticas convencionais do setor imobiliário: integrar a arquitetura ao processo

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de incorporação. Para o sócio Eduardo Andrade de Carvalho essa prática garante agilidade e maior atenção. “Ao unir as duas áreas dentro da MOS, podemos otimizar os processos que envolvem a incorporação e desenvolver projetos mais cuidadosos com os moradores e com a cidade”, explica à Habitat. Um exemplo é o edifício Melo Alves 645, localizado nos Jardins. A fachada, repleta de espécies nativas da Mata Atlântica, demonstra como um projeto pode transformar o entorno da cidade.


Outro ponto de destaque do prédio é o paisagismo que contempla plantas nativas da Mata Atlântica na fachada e nas varandas Foto: Divulgação MOS

Essa abordagem se amplia também à inclusão da arte nas construções de prédios em São Paulo, casas no interior paulista e em cidades americanas, assim como em outras iniciativas. “Além dos nossos projetos, a MOS fomenta a conexão entre arte, arquitetura e urbanismo, atuando em três frentes distintas: o comissionamento de artistas, o apoio a instituições e eventos de arte e arquitetura e a promoção de passeios que unem os saberes”. Entre os artistas comissionados logo na fase inicial dos projetos, estão Ana Mazzei, Felipe Cohen, Renato Rios e Rodrigo Cass. O edifício Melo Alves 645, lançado em 2021 e atualmente em construção, possui obras de arte contemporâneas instaladas no hall de entrada. Como um circuito artístico, o acervo inclui 28 quadros assinados por Renato Rios, uma escultura de mármore e granito de Felipe Cohen, além de um mural com linhas de madeira de Ana Mazzei.

Em uma das paredes do Hall, o mural da artista Ana Mazzei. Foto: Divulgação MOS

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habitat ARQUITETURA E ARTE

Casa da Madeira, Matheus Farah + Manoel Maia Arquitetura. Foto: Manuel Sá

Na Casa Madeira, uma residência de 1.225 m² na Fazenda Boa Vista assinada pelos arquitetos Matheus Farah + Manoel Maia Arquitetura, trabalhos artísticos são combinados a móveis de design assinado. Projetada para evidenciar a estrutura de madeira engenheirada em todos os ambientes, possui uma implantação em L que garante integração nos layouts dos amplos espaços, fechados por placas de concreto pré-fabricadas. De acordo com Carvalho, a escolha destes materiais garante agilidade, previsibilidade no processo, custo controlado e pouca manutenção, uma vez que a produção em fábrica resulta em um canteiro de obras mais ´limpo`. Os materiais reduzem consumo de água, energia, e produção de resíduos.

Peças de design assinado como as poltronas Diz de Sergio Rodrigues criam uma atmosfera harmônica com a estrutura de madeira do projeto e o cenário natural. Foto: Manuel Sá

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habitat ARTE

Escultura neoconcretista de Franz Weissmann (austríaco de origem) sobre a mesa de Joaquim Tenreiro (nascido em Portugal). Dois nomes de primeira linha do modernismo. Nesta imagem, as obras se fundem na sua abstração geométrica

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ANTROPOFAGIA Exposição inaugurada em 4 de dezembro na Galeria Espasso durante a Art Basel em Miami Por Ruy Teixeira

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ão 83 fotos com tamanhos e molduras distintas, colocadas lado a lado nas paredes da galeria de design Espasso, em Miami. A escolha das imagens é uma pesquisa do que era essencial por mim fotografado. Desde sempre me sinto um repórter das ideias. Procuro capturar o que me atrai pelo seu significado, pela sua construção. Ao juntar centenas de imagens sobre a mesa, a escolha me leva a dissertar sobre o nosso momento artístico e cultural. Como amante do modernismo, a maior parte do meu trabalho está relacionada com o design e arquitetura. Inevitável não passar pela semana modernista de 1922, onde tudo teve início. Oswald de Andrade no seu Manifesto Antropofágico define historicamente o movimento. Antropofagia significa o ato canibal. Comer a carne da própria espécie. Na visão de Oswald, a cultura brasileira deveria se alimentar da arte estrangeira para depois produzir a própria. Todas as influências seriam bem-vindas e consumidas. A máxima era “Tupi or not tupi, thats the question”, parodiando Shakespeare. No entanto, toda a escola modernista inspirada no movimento futurista italiano e posteriormente seguindo os preceitos da Bauhaus, era extremamente elitista. Entretanto, a profecia Oswaldiana se realizou. As regras estabelecidas foram modificadas e movimentos originais nasceram e tomaram conta do país. Uma verdadeira revolução cultural se instaurou, varrendo o clássico e conservador. Chegamos ao ponto de ter uma capital erguida por um único arquiteto, autêntico e original. No design, na arquitetura, nas artes e na música se desenvolve uma produção rica e importante.

Exu Cara de Gato, de Chico Tabibuia. O artista carioca de fé evangélica acreditava que esculpindo as imagens de Exu, deixava aprisionada a entidade que o atormentava nos seus sonhos

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habitat ARTE

Museu nacional de Brasília de Oscar Niemeyer. Um dos nomes de importância histórica da arquitetura. Inicialmente influenciado por Le Corbusier, cria seu próprio estilo e supera seus mestres nas obras que realiza

Passados cem anos, a antropofagia mudou de sentido. O estrangeiro deixou de ser o prato predileto. A cultura não mais recebe os dogmas vindos de fora. Se alimenta do próprio estômago, da história de um país que por muito tempo ignorou as próprias entranhas. Hoje, os povos originários, o movimento negro, e a arte popular convivem com a Brasília de Niemeyer; a bossa nova escuta o funk. A maestria das peças de Tenreiro contrapõem-se ao viceral mundo de Chico Tabibuia. O barroco colonial de Aleijadinho, inspira o carnaval da avenida e Yemanjá com a sua divindade se torna popular e onipresente. Convívios antagônicos que

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instauram e autenticam o presente. Culturas por tanto tempo enterradas pelo preconceito e domínio socioeconômico surgem com forte valor simbólico dividindo visibilidade e simbolismo com a elite. As dores e memórias de escravisados, indígenas, negros, favelados, crentes, demarcam as novas fronteiras. Esta exposição nasce de uma contínua reportagem feita através dos anos com fotos que juntas formam um grande quebra cabeça, onde contemplo pessoas, obras e situações que me ajudaram a compor a este tema. Imagens de arte e fé, em uma interação do panorama cultural que passa diante da minha câmera.


Yemanjá sem cabeça, fotografada na sua festa na praia grande em São Paulo. Entidade de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, é ela quem decide o destino de todos aqueles que que se relacionam com o mar

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habitat DESIGN

PRECIOSIDADES DO COLECIONISMO MODERNO BRASILEIRO Novo livro de Ruy Teixeira e Jayme Vargas enaltece o design moderno brasileiro sob a perspectiva da recente valorização das peças de mobiliário em acervos de colecionadores, galerias nacionais e internacionais Por Débora Mateus Fotos: Ruy Teixeira

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ma obra-prima à altura da riqueza patrimonial do colecionismo que retrata. Em seu novo livro Horizonte Ampliado – Design Moderno Brasileiro, publicado pela editora Olhares, o fotógrafo Ruy Texeira e o historiador Jayme Vargas exploram a evolução da percepção contemporânea

do design moderno brasileiro por meio de uma análise virtuosa em 31 coleções, galerias nacionais e internacionais. Realizada em parceria com a Associação Mobiliário e Design Moderno Brasileiro, a publicação retrata um panorama sobre como a produção destes móveis se tornou parte intrínseca das trajetórias de

modernização do Brasil do século 20. Os ensaios autorais visuais e textuais se entrelaçam em uma linguagem imagética com carga histórica, revelando o entorno que envolve peças de mobiliário modernas icônicas e preciosas da produção nacional.

Coleção Esther Feingold ilustra a imagem de capa do livro Horizonte Ampliado – Design Moderno Brasileiro

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Coleção Flávia e Eduardo Steinberg: cadeira Joaquim Tenreiro, mesa Lucas Jimeno e progressão cromática 18.816 pregos, José Patrício

Galeria Mercado Moderno: cadeira Carlo Hauner, mesa Joaquim Tenreiro e ânforas Domingos Tótora

Galeria Carpenters, Londres: mesa de jantar, José Zanine Caldas e cadeira, modelo A, Carlo Mollino

Segundo Teixeira, que já publicou outros 10 livros, incluindo um vencedor do Prêmio Jabuti, a obra é uma extensão de Desenho da Utopia, lançado em 2016 pelos dois autores. Agora, os ensaios autorais celebram a riqueza das peças assinadas por consagrados designers brasileiros, como Joaquim Tenreiro, Lina Bo Bardi, Sergio Rodrigues, José Zanine Caldas e Jorge Zalszupin, organizadas em seus próprios contextos: núcleos independentes de acervos e coleções. “Passei um ano fotografando este novo livro. Criei altares e curadoria de imagens em cada espaço que registrei. Segui o caminho da teoria do Ges-

talt abordada na produção artística de Geraldo de Barros (1923-1998). Minha gramática se constrói na ideia de que a imagem é parte da soma e se transforma em outra coisa, o modo de ver para construir as fotos”, explica. A obra Horizonte Ampliado ressalta o amadurecimento do cenário atual que transpassa o design de móveis modernos no Brasil e sua crescente valorização internacional. Ao incluir casas estrangeiras que trabalham com mobiliários brasileiros, o livro também evidencia a projeção global do tema, mostrando como a herança do design moderno nacional se mantém atual e influente no cenário internacional. Edição 17

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Coluna SPECTRUM por Débora Mateus

Maria Helena Pessôa em Alice House Of Curiosers, que lançou o Trent Planner 2024

Guardiã de memórias e da literatura Em um manifesto criativo, Maria Helena Pessôa de Queiroz guia a MH Studios à luz de suas paixões, promove o resgate do papel artesanal e estimula hábito da escrita e leitura Fotos: MH Studios

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o entrar na casa de Maria Helena Pessôa de Queiroz para fazer a entrevista que desaguou nessas linhas, compreendi a plenitude criativa que deu vida à MH Studios. A refinada papelaria artesanal que faz cintilar álbuns artísticos bordados à mão e Trent Planners, se tornou uma declaração ao resgate de memórias afetivas e à preservação da arte milenar do fazer manual. Na contramão da fugacidade digital, a empreitada, que começou tímida,

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prospera exponencialmente. Ultrapassa as fronteiras do “escritório-ateliê”, sediado na capital paulista. Chegou a um evento da Hermès, em Paris, e integra a curadoria do site internacional Moda Operandi. Há uma simbiose que torna compreensível essa jornada ao percorrer a residência da empreendedora criativa. Ela é ampliada de forma conceitual até o ateliê. Ambos os espaços, apesar das localizações distintas, demonstram o universo

múltiplo inerente à sua personalidade. “Quando iniciei a MH, eu não queria criar algo desnecessário. Minha ideia se transformou em uma rede de manifestos, incentivando as pessoas a redescobrir os álbuns de fotografia e o papel em uma era que cultua o digital. Proporcionar um momento elevado de indulgência, instigando o resgate de memórias e o ritual da escrita em criações feitas por artesãos. Esse é o verdadeiro luxo”, explica Pessôa. Sua morada expressa um emaranhado de


elementos: paixões, vivências e emoções. Um mundo próprio onde jubilam as mais diversas expressões artísticas, marcos de sua história, incluindo os álbuns de fotografia do pai José. Cada canto é um diário que se desenrola. O caminho da advocacia com carreira estabelecida, foi abandonado, em um ato corajoso e verdadeiro, quando perdeu as fotos do computador durante um

mestrado no exterior. “A arte me salvou e é o mantra da minha vida”, confessa ao mencionar o quadro com a frase “A arte salva”, acima do sofá. Apesar de não se considerar uma artista, ela moldou seu repertório desde a infância, quando visitava museus com a mãe. A segurança em lutar pelos sonhos é atribuída ao amor incondicional da família. Seu Instagram pessoal é uma plataforma que incorpora

literatura, artes e experiências em destinos não convencionais. Ela influencia pelas reflexões e seu jeito de olhar o mundo, não pelo look. “Sou fã de moda, gosto de me vestir, mas meu manifesto é um pouco menos de look e mais book”. Isso se reforçou no dia que viu um influenciador elogiar um livro recebido de uma marca de luxo como objeto de décor, ignorando a leitura.

Os álbuns de fotos são bordados por artesãos brasileiros

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Coluna SPECTRUM por Débora Mateus

Ateliê que sedia o escritório da MH Studios

“São os curiosos que movem o mundo”

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Ambiente de leitura criado em parceria com o Soho House na Casa Higiénopolis, palco do evento Alice House of Curiosers

TRIBUTO AOS CURIOSOS

Da bagagem cultural e o compromisso em preservar a experiência literária nasceu o jargão “Mais book, Menos look”. Esse insight fez surgir Alice House of Curiosers, jornada literária que lançou a agenda 2024, com textos e títulos de livros curados por Pedro Pacífico. Durante 5 dias, o casarão Nhonhô Magalhães, batizado de Casa Higienópolis, virou palco para uma atmosfera inspirada nos clubes literários londrinos. Reuniu casa de leitura em parceria com o clube privado inglês Soho House, bar, anfiteatro e restaurante com menu da chef Renata Vanzetto. Um espaço para os amantes da literatura e novos adeptos se encontrarem, comparti-

Criado artesanalmente, o Trent Planner 2024 inclui textos e obras literárias

lharem ideias e descobertas. Segundo ela, foi inspirado na obra de Lewis Carrol, que fez da lendária Alice, “a mais curiosa personagem da literatura”. A ideia emergiu num dia de epifania, quando tentava ler num café em Londres, encorajada pela atmosfera dos cafés parisienses descritos por Hemingway. Desconcentrada pelo barulho, ela saiu para caminhar como fez Virginia Wolf, uma de suas escritoras prediletas, em “O Valor do Riso”. Em meio a andança, teve a certeza do tema que moldaria o Trent Planner. A mascote escolhida, a intrépida girafa Alice, personifica sua curiosidade. “Fala-se muito de influencers e eu queria ter os ´curiosers`”. Uma escolha original

que alude ao neologismo “Curiouser and Curiouser” criado por Carrol. Na homenagem, um convite aos que se entregam à busca incessante, protagonistas de novas histórias. “Alice nasceu do meu lugar dos sonhos para ler, viajar sem sair do lugar e abrir um livro, não só para decorar. Meu convite é que, em 2024, as pessoas se permitam essa experiência. Pois, no final do dia, são os curiosos que movem o mundo”. No cerne da influência contemporânea, Maria Helena Pessôa de Queiroz constrói um legado versado que branda pela autenticidade, liberdade e pelos horizontes sublimes que a literatura desvenda. Uma odisseia que inspira a imaginar e forjar nossas próprias narrativas.

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habitat ENTREVISTA

Sede do escritório da L’Espace, no coração do Bigorrilho, projetada pelo Arquea Arquitetos Foto: Divulgação

NOVAS PERSPECTIVAS NA INCORPORAÇÃO URBANA

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lexandre Dely, arquiteto de formação e empresário, comanda a incorporadora curitibana L’Espace ao lado de três sócios. Com 20 anos de atuação, o DNA da empresa é fruto da troca de ideias rica e constante entre os quatro empreendedores. Da fusão de suas expertises em arquitetura e engenharia às personalidades e visões próprias de cada um, o conceito da incorporadora se torna um diferencial de mercado. A experiência como investidores e incorporadores de edifícios de alto padrão resulta em uma filosofia que equilibra a parte comercial à percepção de que a boa arquitetura é aquela que contempla arte e design nos projetos, em equilíbrio também com qualidade de vida de seus moradores e com

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a paisagem urbana. Atualmente com três prédios, dois em fase de lançamento e um em construção, assinados por arquitetos renomados como Angelo Bucci (Blōma Roofgarden), Marcos Bertoldi (L’Espace Verdigris), e Arquea Arquitetos (Euclides), a empresa ingressa em uma fase de expansão de marca que inclui o projeto Casa L’Espace | Habitat. Filho do consagrado arquiteto e urbanista Rafael Dely, que contribuiu de maneira significativa para a história de Curitiba, ele herdou do pai a identidade profunda e o carinho pela cidade. Da vivência em diversos países, construiu um repertório plural que adota para falar sobre algumas tendências do segmento imobiliário.


Alexandre Dely. Foto: Alexandre Môre

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habitat ENTREVISTA

Rooftop do edifício Blōma, assinado por Angelo Bucci, da SPBR Foto: Divulgação

QUAIS AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DO SEGMENTO IMOBILIÁRIO PARA OS PRÓXIMOS ANOS?

Uma tendência que eu, Alexandre, acredito - embora não tenha certeza se é a visão da empresa, algo que estamos ainda discutindo - é a possível volta a um morar mais urbano. Nos últimos anos, especialmente durante a fase mais crítica da pandemia, muitas pessoas buscaram refúgio em casas de campo, praias ou áreas mais afastadas, talvez por impulsividade ou um certo desespero. No entanto, percebo que muitos estão reconsiderando essa escolha. Morar mais distante dos centros urbanos tem seu lado agradável, mas as complexidades também se tornaram evidentes. As pessoas sentem falta dessa vida urbana que inclui cinema, compras, restaurantes, escolas dos filhos, enfim, da infraestrutura que possui grande valor. Além disso, noto que esse retorno à vida urbana vem acompanhado de exigências positivas, como a busca por empreendimentos mais verdes, uma escala humana mais presente, unidades mais iluminadas e arejadas. Itens de conforto e segurança, como áreas de entregas, monta-cargas e até mesmo hortas nos edifícios, estão entre as prioridades desse movimento.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS ENFRENTADOS PELO SEGMENTO NO PARANÁ E NO BRASIL, E COMO A L’ESPACE PLANEJA CONTRIBUIR PARA MOLDAR O CENÁRIO FUTURO?

Como sempre, para o setor imobiliário, é crucial alcançar um crescimento econômico sustentável e duradouro, proporcionando a formação de um mercado consumidor consistente e regular, com juros mais baixos e previsíveis. Precisamos evitar a persistente montanha russa econômica que enfrentamos há décadas. Quanto à nossa contribuição, não temos pretensões grandiosas ou arrogância. Nós queremos desempenhar nosso papel na realização de empreendimentos de qualidade, contribuindo para tornar as cidades mais agradáveis e humanas. Queremos que nossos clientes fiquem felizes e satisfeitos, possibilitando-lhes planejar e viver o seu ‘amanhã’ com base em seus sonhos e projetos.

COMO É POSSÍVEL INCORPORAR ARTE E DESIGN EM PROJETOS COMERCIAIS SEM PERDER AS CARACTERÍSTICAS COMERCIAIS?

A arte e o design não competem nem se opõem às questões comerciais; ao contrário, contribuem para tornar os edifícios mais atraentes, confortáveis e esteticamente agradáveis. Isso naturalmente resulta em maior atratividade comercial. Acredito que o segredo reside no equilíbrio entre a filosofia e as demandas do mercado, e é isso que buscamos aplicar na L’Espace. Ao iniciar um novo projeto com um escritório de arquitetura, fornecemos o briefing do produto, mas proporcionamos total liberdade criativa para que ideias inovadoras surjam sem barreiras. Claro, há uma adaptação de vários elementos depois, já que lidamos com empreendimentos que abrangem diversas opiniões e tipos de famílias em um único produto. Às vezes, é necessário trazer o arquiteto de volta à realidade. Mas esse processo enriquece tanto o desenvolvimento quanto o resultado, são nesses momentos que as boas soluções aparecem. A boa arquitetura, que considero uma das expressões artísticas mais completas, serve como contraponto a um mundo que hoje está, infelizmente, pesado e caótico. A arte traz paz de espírito, alegria a tudo isso e assim, possui um valor comercial enorme.

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Detalhes da fachada do Verdigris projetado por Marcos Bertoldi tem inspiração na op-art Foto: Divulgação

A SUSTENTABILIDADE E A INOVAÇÃO GANHAM CADA VEZ MAIS RELEVÂNCIA NO SEGMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL. PODERIA MENCIONAR QUE INICIATIVAS SÃO IMPORTANTES NO CONTEXTO FUTURO?

Acredito que atualmente certas práticas, que deixaram de ser meras iniciativas para se tornarem requisitos obrigatórios, incluem a reutilização de água e a eficiência energética. Na minha perspectiva, a indústria como um todo, não apenas a da construção, deveria intensificar o esforço para utilizar materiais de produção local, sempre que possível, a fim de reduzir o impacto do transporte, além de adotar o uso de materiais reciclados para amenizar a já agressiva exploração dos recursos naturais.



habitat ARTE

Atração mais nobre da mostra, a instalação “Valquíria Dior” tem dimensões grandiosas e mescla técnicas como crochê de lã feito à mão, tecidos e poliéster | Foto: Adrien Dirand, Cortesy of DIOR

EXUBERÂNCIA SEM LIMITES Realizada pelo MON, a maior exposição individual de Joana Vasconcelos no Brasil, propõe uma imersão ao exuberante mundo criado pela renomada artista portuguesa e expõe obra apresentada no último desf ile da Dior

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universo de Joana Vasconcelos, uma das figuras mais proeminentes da arte contemporânea portuguesa, agora pode ser apreciado no Museu Oscar Niemeyer, MON, até de maio de 2024. A exposição “Extravagâncias” apresenta suas obras icônicas que marcaram mostras prestigiadas como a Bienal de Veneza, o Museu Guggenheim de Bilbao e o Chatêau de Versailles. Esta é a maior exposição individual da artista em solo brasileiro e a mais importante já realizada pelo MON. Juliana Vosnika, diretora-presidente do Museu, afirma que criações permeiam diversos ambientes, incluindo o Olho e a rampa principal de acesso, que, pela primeira vez, se torna um espaço expositivo. “Instalações e esculturas monumentais extrapolam o espaço e invadem o MON, convidando o visitante a mergulhar num universo jamais criado no Museu”, ressalta. Para Joana Vasconcelos, expor no mu-

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seu paranaense tem um valor especial. “Estou muito feliz em voltar ao Brasil e poder reunir a minha última ‘Valquíria (Miss Dior)’ com a que criei para o Matarazzo em 2014, num diálogo muito interessante não só entre as duas obras, mas também com a arquitetura do Museu, que considero um dos mais importantes da cena contemporânea internacional. Expor no `Olho´ do Niemeyer eleva a exposição a uma dimensão mítica”, afirma. A atração principal, “Valquíria Miss Dior”, é uma escultura têxtil colossal de dimensões que chegam a quase 7 metros de altura e mais de 20 metros de comprimento. Criada para o desfile da coleção Outono-Inverno 2023-2024 da marca francesa, em Paris, a obra mescla técnicas como crochê de lã feito à mão, tecidos e poliéster. Estabelece um diálogo entre a moda e a arte, em homenagem à Catherine Dior, a irmã do fundador da marca de alta-costura Christian Dior. Joana Vasconcelos é conhecida por defender os

direitos femininos em seus trabalhos. “As mulheres não têm os mesmos direitos que os homens. Até que haja isso, é preciso falar sem vergonha das manualidades, de todo o conhecimento que é desenvolvido no interior da casa e que é passado de geração a geração, que não é valorizado. Meu papel é, através da minha obra, colocar em evidência estes trabalhos femininos nos locais míticos dos homens e lhes dar um contexto forte. Faço isso usando uma identidade feminina”, declara. Outro destaque é “Valquíria Matarazzo”, que recepciona o público em uma instalação sobre a rampa principal de acesso ao MON. Segundo a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, “mais uma vez, o nosso Museu Oscar Niemeyer se consolida como um dos museus mais importantes do cenário internacional da arte contemporânea ao receber a maior exposição da artista Joana Vasconcelos no Brasil”.


EXPRESSÃO ECLÉTICA

Nascida de uma família de intelectuais e artistas, Joana Vasconcelos alcançou notoriedade ao longo de 3 décadas, pelas esculturas monumentais e instalações imersivas que descontextualizam objetos do cotidiano. Atualiza o conceito de artes e ofícios para o século 21, estabelecendo diálogos entre esfera privada e espaço público, herança popular e a cultura. Com humor e ironia, ela questiona o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva. Atraiu os holofotes internacionais com “A Noiva” em 2005, na primeira Bienal de Veneza curada por mulheres. Segundo Marc Pottier, curador da exposição no MON, a seleção de modelos dos principais projetos site-specific da artista plástica realizados em todo o mundo permite captar a amplitude de uma personalidade extraordinária que parece ter o céu como limite. Além do Olho e da rampa do Museu, suas produções ocupam

Joana Vasconcelos. Foto: Arlindo Camacho for Atelier Joana Vasconcelos

os andares da torre e espaços Araucária, onde são exibidos trabalhos como “Pantelmina”, “Big Booby” - maquetes inéditas criadas especialmente para a mostra-, dos icônicos “Solitário”, “Castiçais”, “Gateway”, “Bolo de Noiva”, “Máscara” e “Sapato”, além de diversos painéis. Entre trabalhos notáveis de sua trajetória, destaca-se o “Bolo de Noiva”, construção de 3 níveis instalada no parque de Waddesdon Manor, próximo a Londres. A obra é revestida com azulejos artesanais, inspirada no Barroco e tradições decorativas de Lisboa, refletindo a habilidade em ultrapassar estilos e épocas. A “Árvore Da Vida”, criada especialmente para a Sainte-Chapelle do Château de Vincennes, possui 13 metros de altura e cerca de 140 mil folhas bordadas à mão. Evoca a história do local e a figura mitológica de Dafne, proporcionando uma reflexão sobre autodeterminação e autoaperfeiçoamento.

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habitat DESIGN

CURITIBA EM FOCO

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design brasileiro desempenha um papel relevante na expressão da identidade cultural, para além da forma e função. Mestres visionários como Paulo Mendes da Rocha, vencedor do Prêmio Pritzker, influenciaram gerações ao incorporar reflexões sobre a intersecção poética com a essência humana. O movimento crescente e

significativo que impulsiona exposições, palestras e pesquisas contribui para uma percepção coletiva que cada vez mais valoriza o design autoral, como uma vertente de criação. Apresentamos o novo espaço da revista Habitat, que trará a cada edição uma seleção de peças desenhadas por arquitetos e designers radicados ou nascidos na capital paranaense.

ESSÊNCIA ESCULPIDA Enlace de tradição e contemporaneidade, a peça destaca o uso consciente e autêntico da madeira. Fragmentos de diversas espécies convergem para formar um tronco denso e robusto num processo que harmoniza artesanato, tecnologia e métodos seriais. A forma simplificada realça a madeira em seu estado bruto pela abstração de pés e braços, distanciando-se da representação do corpo humano. O móvel abraça a originalidade esculpida pela essência da matéria.

Cadeira Sólida, Leandro Garcia. Foto: Ricardo Perini

EXPRESSÃO ETÉREA Inspirada nas sombras acolhedoras das palmeiras, a linha Talipot traz mesas e poltronas que dão à padronagem Herringbone (espinha de peixe) uma nova leitura. Com estética leve e flutuante, os móveis feitos em inox, se entrelaçam no acabamento e na própria estrutura. A coleção ganha fusão entre o artesanal e inovação ao evidenciar a união manual das hastes, e a durabilidade, obtida com acabamentos como pinturas tecnológicas e tecidos especiais. Coleção Talipot, Dieedro, por Jayme Bernardo Foto: Divulgação

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SIMBIOSE NATURAL Com forma orgânica e escultórica, a mesa Anita homenageia Anita Malfatti, artista plástica brasileira que foi uma das precursoras da Semana de Arte Moderna. Criada em 2022, a peça venceu o terceiro lugar do prêmio Adriana Adam de Design. Promovida pelo mestre italiano Gaetano Pesce, a premiação destacou talentos da nova geração do design nacional. Pesce destacou o aspecto figurativo do projeto e os elementos que remetem às silhuetas da natureza.

Mesa Anita, Anima Studio Design. Foto: Divulgação

SÍNTESE CULTURAL A poltrona Graziosa, fruto da colaboração entre o estúdio curitibano Furf Design e Natuzzi Editions, combina a qualidade italiana com um toque de “bossa”, inspirada na poesia de momentos efêmeros. Integrante da Collezione Ginga, resultado da parceria inédita entre a marca italiana e o Brasil através do DNP - Design na Pele, a poltrona representa uma fusão cultural entre os dois países. Uma homenagem ao design autoral que celebra autenticidade e beleza. Poltrona Graziosa, Furf Design e Nattuzzi Editons. Foto: Divulgação

FLUIDEZ TRIDIMENSIONAL Lançamento da Elmor Design, a cadeira reflete a aspiração de capturar a idealidade das formas. Métodos lógicos de composição bidimensional alçam a tridimensionalidade. Com uma estrutura angular, inspirada no fragmento de arestas de um cubo, braços e pernas tangenciam o plano do assento, enquanto o encosto tubular confere fluidez e leveza à cadeira.

Cadeira Seta, Jorge Elmor. Foto: Divulgação

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habitat ARTE

VAI SAUDADE: HEITOR DOS PRAZERES & ZÉH PALITO Em cartaz na Galeria Simões de Assis até 16 de dezembro, a mostra promove diálogos que celebram a cultura af ro-brasileira ao longo de um século Por Débora Mateus

Roda de Samba 2023, Zéh Palito

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naugurada na sede curitibana da galeria Simões de Assis, a exposição “Vai Saudade: Heitor dos Prazeres & Zéh Palito”, transcende duas gerações, num intervalo centenário. Destaca a convergência artística das criações do consagrado compositor e pintor carioca Heitor dos Prazeres (1898-1966) e do artista visual e muralista Zéh Palito, nascido em 1986. Nomeada a partir de uma composição musical de Heitor, estabelece reflexões tão necessárias quanto atuais sobre a relevância da manifestação cultural afro-brasileira. A ideia desse encontro, que ultrapassa o hiato temporal, foi sugerida por Emanoel Araujo (1959-2022),

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renomado no meio das artes pelo ativismo na herança africana da cultura brasileira. Ele propôs essa conexão aos diretores da galeria que representa também seu espólio, Guilherme e Waldir Simões de Assis, antes de falecer. Em entrevista à Habitat, Zéh Palito, que divide sua vida entre Brasil e Estados Unidos, conta que foi influenciado por Heitor dos Prazeres desde os 15 anos, quando começou a pintar. “Gosto muito de samba e, quando criança, tocava cavaquinho. Conheci o trabalho de Heitor como músico, depois como artista. Ele sempre influenciou de maneira indireta minhas obras. No entanto, é a primeira

vez que crio com a intenção explícita de propor este diálogo, com temas como o samba e a dança, parte de sua identidade”. A exibição realça a confluência entre os estilos de Heitor e Zéh, revelando elementos pictóricos compartilhados da cultura popular brasileira e de suas vivências. Para o curador Ademar Brito, a influência de Heitor se faz presente na obra de Zéh de diversas formas. “Ambos compartilham uma ligação intrínseca com a riqueza cultural brasileira, contribuindo significativamente para a luta pelo reconhecimento da matriz negra”, explica.


Roda de Samba déc. 1960, Heitor dos Prazeres, Simões de Assis

GERAÇÕES ENTRELAÇADAS

Sem Título 1963, Heitor dos Prazeres, Simões de Assis

O Mundo é um Moinho 2023, Zéh Palito, Simões de Assis

Heitor dos Prazeres, filho de pai marceneiro e clarinetista, e mãe costureira, destacou-se como artista polivalente no período pós-abolição. Sua expressividade permeou as artes visuais, música e moda. Músico consagrado, fundou as escolas de samba Portela e Mangueira. Foi pioneiro nos conceitos afrocentristas, e um dos primeiros negros do país a conquistar pujança internacional. Além de realizar inúmeras exposições, possui obras no acervo do MoMA e da Rainha da Inglaterra. Sua trajetória revolucionária abriu portas para inúmeros talentos.

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habitat ARTE

Zéh Palito reside em Baltimore parte do ano, mas possui experiência cultural que abrange a residência na Zâmbia e viagens por países africanos, onde criou murais e realizou ações sociais. Sua arte, em ascensão global, enfatiza as minorias étnicas e sociais, especialmente negros e indígenas, refletindo as referências do tropicalismo brasileiro, pop americano e raízes africanas. Prolífico muralista em 30 países, participou de várias exposições, incluindo museus renomados como o Zeitz MOCAA, na África do Sul, e o X Museum, na China, além da Galerie Perrotin, em Paris – uma das maiores do mundo. Ainda este ano, ele participa, junto a Simões de Assis, da edição da Art Basel Miami. Ambos os artistas, em suas épocas, afirmam a identidade cultural negra, resistindo ao apagamento da tradição. Zéh incorpora aspectos culturais de Heitor, como indumentárias e elementos boêmios, mas também introduz traços norte-americanos, marcantes em sua narrativa. A inspiração em títulos de músicas brasileiras, que nomeia alguns trabalhos, espelha a influência musical de Heitor dos Prazeres. Zéh Palito destaca a importância da família e de suas viagens na construção de sua produção artística única: “Apesar das limitações financeiras, o apoio emocional familiar foi crucial em meu trabalho. Se hoje minhas obras expressam amor e afetividade, é porque esses valores foram cultivados em casa. Meus pais são meus heróis e minha maior referência”.

Quando o Sol Nascer 2023, Zéh Palito, Simões de Assis

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habitat VITRINE

REFÚGIO ESSENCIAL Por Ireni Ferreira

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econhecida pelo olhar estético que mescla influências globais e apreço pelo minimalismo contemporâneo, Ireni Ferreira, administradora e designer de interiores, capitaneia o IK Studio, situado em Jurerê Internacional, Santa Catarina. Com uma abordagem minuciosa, ela dá vida à essência única de cada cliente em ambientes repletos de personalidade e conforto. Acredita que os espaços devem ser concebidos para serem vividos com aconchego e harmonia, incorporando

também a tecnologia, como a automação inteligente presente desde a concepção de suas criações, necessidade básica, segundo ela, nas composições de interiores contemporâneas. O design biofílico, que incorpora elementos da natureza em ambientes residenciais e corporativos, é outro ponto crucial em seus projetos. A energia revigorante das plantas, tanto dentro quanto fora dos lares, abraça e humaniza os espaços. Tons terrosos têm efeito calmante e se destacam pela associação ao meio

natural. As formas orgânicas são uma prioridade em sua escolha de mobiliário, linhas puras e minimalistas conferem uma sensação de bem-estar sem excessos. Para a vitrine da última edição do ano, Ireni Ferreira empresta sua visão aguçada, pautada no DNA criativo e sensível para fazer uma seleção de 5 peças do design nacional. Elas resumem as composições que ressignificaram diversas moradas em 2023, criadas pelo time que integra seu escritório de arquitetura e decoração de interiores.

Mesa de centro Água, Domingos Tótora. Foto: Divulgação

POÉTICA SUSTENTÁVEL Com uma técnica tradicional que trabalha a matéria-prima reciclada quando ainda nem se falava em sustentabilidade, Domingos Tótora transforma o papel kraft em peças que se elevam ao patamar de arte. A mesa de centro Água possui base esculpida em forma de seixos feitos à mão, captura a poesia da natureza pela delicadeza de seu design. Assim como a escultura mago, que verte arte e design em uma obra singular. Escultura Âmago, Domingos Tótora Foto: Divulgação

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BELEZA DO IMPROVISO Na recém-lançada coleção “Untitled”, Guilherme Wentz busca na própria essência inspiração para criar sofás, poltronas e mesas. As peças celebram a beleza da imperfeição e a simplicidade das formas, em um cenário imaginário de cabana rústica que reinterpreta o improviso. Destaque para a poltrona com capa que parece ter sido disposta de maneira improvisada, que reflete silêncio da natureza, onde desenho cede lugar à materialidade.

Birdhouse Gotinha Foto: Divulgação

NATUREZA LÚDICA

Linha “Untitled”, Guilherme Wentz Foto: Lorena Dini

Casas penduráveis, disponíveis em diversas cores, são resultado do primeiro projeto desenvolvido pela Lattoog para pássaros. Inspiradas na natureza em forma de gota, evidenciam a estética lúdica e funcionalidade, permitindo o uso individual ou em agrupamentos. Versáteis, essas peças adicionam uma camada de decoração vibrante aos ambientes externos.

RIQUEZA NATIVA As espécies tropicais brasileiras ganham expressão nos desenhos assinados por Roberta Banqueri na coleção Tupiniquim. A poltrona Caju reinterpreta de maneira única dois elementos distintivos: a fruta, com sua castanha, e o pedúnculo floral, que pode se apresentar em tons de amarelo, vermelho ou rosado. Inspirada pela singularidade do sabor da fruta que lhe empresta o nome, a peça de mobiliário assume uma presença imponente, com suas formas curvilíneas e generosas.

Poltrona Caju em couro, Roberta Banqueri Foto: Divulgação

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NOVA ABORDAGEM ARTÍSTICA MARCA MOSTRA INDIVIDUAL DE MARIANA PALMA Trabalhos inéditos da artista paulistana traduzem o aprofundamento da pesquisa pictórica e processos de construção de imagens Por Débora Mateus Fotos: Filipe Berndt

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a exposição A pintura como verbo, curada por Ivo Mesquita, a abordagem criativa de Mariana Palma evolui para uma nova direção. As obras inéditas apresentadas na mostra realizada até novembro na galeria Millan, em São Paulo, demonstram uma investigação profunda na pintura e na geração de imagens. Um universo póetico e etéreo emerge da sobreposição de pinturas e fotografias, prolífuo em camadas de formas voluptuosas e cores pulsantes. Nessa nova narrativa, a artista incorpora transparência às obras, por meio de uma técnica nova, além da já conhecida marmorização em seu processo, que se origina a partir de fundos de telas complexos pré-definidos. Mariana Palma explica que sua proposta convida o espectador à reflexão sobre a experiência de contemplação. Cada nuance da obra

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pode ser capturada, como um mergulho no todo. “Essa sobreposição dos elementos deve ser apreciada em conjunto, sem hierarquias, como se dissolvessem em uma experiência reflexiva. Eu busco trazer uma profundidade à pintura para que ela se torne uma imagem viva e em constante evolução, inspirando novos caminhos”. Para garantir que os espectadores adentrassem nessa perspectiva, uma instalação de painéis com fotografias impressas em voil, logo na entrada, apresentou a série de naturezas mortas, registradas por ela, com plantas, animais e frutas em distintos estágios de decomposição - uma exploração contemporânea sobre a efemeridade da vida à tradicional Vanitas do período barroco. O diálogo entre as pinturas criadas com aspecto liso “chapado”, se contrapõe às imagens

que se desdobram da série Vanitas em intervenções táteis com bordados que unem volume de texturas e símbolos. Segundo Ivo Mesquita, “A partir da coleta arbitrária em um amplo leque de referências visuais armazenadas no computador, Palma opera, como uma inteligência artificial, manipulando milhares de fragmentos”. Em um mundo cada vez mais tocado pela efemeridade do scroll das telas das mídias sociais, suas obras unem tecnologia e o primor artesanal dos pincéis, num compromisso com a pintura como experiência, linguagem, conhecimento e memória. Nas palavras do curador ela “busca resgatar no observador a experiência da contemplação, o silêncio. Propõe olhar os trabalhos, fechar os olhos, imaginar. E justamente para isso, eles não têm títulos”.


Sem título, 2023

Sem título (da série Pó), 2021

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Sem título, 2023

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METAMORFOSE DAS FORMAS Inspirado na vivência rural paranaense, o artista José Antonio de Lima levou as formas oníricas transmutantes de suas obras a terras de outros continentes Por Débora Mateus Fotos: Acervo José Antônio de Lima

Tramas, Luminale 2014, Frankfurt

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o esculpir tecidos, papel, arame e limalhas de ferro, e manipular uma variedade de técnicas que vão da costura à modelagem com uma pasta de papel que se torna tão rígida quanto pedra, José Antônio de Lima transforma formas em signos pictóricos. Casulos bidimensionais evoluíram para instalações espaciais. As “Catedrais” em versões grandiosas e as “Tramas”, alternativas em menor dimensão - todas feitas com tecidos e cordas que alçam a tridimensionalidade, num convite à reflexão sobre a expressividade onírica amorfa. Esse universo fluido também se manifesta em desenhos de geometria flexível e pinturas coloridas, que incorporam tons ocres da terra e remetem à sua infância rural. O fervor criativo,

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refletido na habilidade de transpor as fronteiras entre forma e imaginação, impulsionou sua carreira iniciada nos anos 80 a ultrapassar os limites do Paraná. Lima expôs suas obras no Japão, Suécia, Finlândia, França e Alemanha, onde estampou a primeira página do jornal Bild, com a manchete “Alarme de Faíscas em Frankfurt”. Alcançou destaque em importantes espaços culturais brasileiros, incluindo mostras individuais no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro, no Museu Oscar Niemeyer e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Além de salões notáveis como o Alcyr Ramalho Filho de Artistas Plásticos, em Curitiba, o Museu de Arte Moderna da Bahia, entre outros.


A extensa lista de exposições atesta a solidez de sua trajetória nas artes. “Meus trabalhos são uma maneira de escrever os símbolos que crio, derivam das observações do cotidiano e de diversas referências culturais”, explica à Habitat. Sua afinidade com o papel ocupa lugar relevante em suas produções. “Sempre gostei do papel, pela característica orgânica. Recolhia papel, alumínio, encontrados em excesso nas ruas e os utilizava não apenas por falta de recursos para comprar os materiais convencionais, mas também para dar utilidade a esses elementos desperdiçados. Me aventurei em experimentos que permitiram criar técnicas próprias”. A narrativa sensível e vanguardista à época fez com que fosse descoberto e reconhecido por figuras importantes do cenário artístico paranaense, como Maria Cecília de Araújo Noronha, ex-diretora do MAC-PR, Adalice Araújo, artista plástica e historiadora, e o curador Fernando Bini.

Sem Título 2005, técnica mista em papel sobre tela

DA INFÂNCIA RURAL À ARTE O envolvimento de José Antônio de Lima com as artes começou de forma precoce, no interior paranaense. De origem mineira, foi em meados dos anos 60 que fincou raízes na cidadela de Grandes Rios. Aos 13 anos, decidiu que queria ser artista. Desenhava motivado pelo olhar curioso do mundo ao redor, a vivência rural serviu como fonte de inspiração: os tons da terra, os bichos, as sacas de café. Mudou-se para Londrina, onde cursou jornalismo, profissão que permitiu explorar o repertório cultural que alimentava as produções artísticas - criadas em paralelo. Somente após se estabelecer em Curitiba, em 1987, onde reside desde então, conseguiu transformar a arte em seu único ofício. Sem Título 2005, técnica mista em papel sobre tela

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habitat ARTE

Sem Título 2011, ólleo sobre tela

A incessante pesquisa de materiais levou o artista a explorar telas de cobre, latão e ferro galvanizado. “Gosto de observar o processo metamórfico da oxidação de elementos como cobre e latão, que faz surgir outras cores. Isso me permite criar pinturas e moldes que se convertem em outros trabalhos”. Segundo ele, há também a história que se cria com as camadas de memórias da materialidade. “Minhas obras não têm título. Isso permite que adquiram múltiplas interpretações de acordo

Série Catedrais 2010, Alumínio

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com a percepção de quem as contempla”. No processo de experimentação com as formas, Lima estabelece diálogos sobre a mutação temporal, explorando a dualidade entre efêmero e imutável numa poética visual que liberta a forma para o espaço aberto. A força metamórfica que deu luz à estética poética fundiu-se com sua evolução transmutante, não apenas na arte, mas também na esfera do autoconhecimento.



habitat MERCADO NOVO MUSEU DE ZAHA HADID ARCHTECTS Com arquitetura futurista, o Museu de Ficção Científica de Chengdu foi projetado por Zaha Hadid Architects para a 81ª edição da Worldcon, Convenção Mundial de Ficção Científica. Pela primeira vez realizado na China, o evento foi sediado em uma área de 59 mil metros quadrados. O projeto se destaca pela estética ficcional que inclui elementos reflexivos, como corredores espelhados, escadas rolantes prateadas e um piso de terrazzo feito de vidro reciclado. Concluído em apenas 12 meses com o auxílio de softwares para modelagem simultânea, o museu dá a impressão de flutuar sobre o lago Jingrong. A construção prioriza o uso de materiais reciclados e painéis solares. Foto: Arch-Exist

ARTE DE MAXWELL ALEXANDRE NA SPFW

As passarelas da última edição do São Paulo Fashion Week foram transformadas em uma manifestação artística com a coleção apresentada pela marca Angela Brito, que exibiu peças estampadas com a arte de Maxwell Alexandre. O artista carioca contribuiu com sua visão inclusiva para a coleção inspirada nas romarias africanas de Cabo Verde, convidando à reflexão sobre as peregrinações religiosas e cerimônias tradicionais. Alexandre criou cinco estampas exclusivas que abraçam a convergência expressiva entre arte e moda.

Foto: David Permadi

HOTEL MAIS ESTREITO DO MUNDO

O Pitu Rooms, hotel de sete quartos localizado em Salatiga, Indonésia, tem atraído atenção por suas dimensões: possui 2,8 metros de largura, 17 metros de altura, e 9,5 metros de comprimento. Desenvolvido pelo estúdio Sahabat Selojene e apelidado de “hotel mais estreito de todos”, se tornou uma oportunidade para fomentar o turismo na região. As dimensões incomuns do terreno não impediram que o escritório se aventurasse na construção. De acordo com Ary Indra, fundador do estúdio, a abordagem inovadora desafia a concepção tradicional de espaços hoteleiros grandiosos. Com uma estrutura alta e estreita, cada microquarto inclui uma cama de casal e uma cabine de banheiro. Foto: Zé Takashi

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ANNA MARIA MAIOLINO GANHA LEÃO DE OURO

Laureada com o Leão de Ouro da Bienal de Arte de Veneza, a ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino receberá o prêmio na 61ª edição da mostra em 2024, ao lado da artista turca Nil Yalter. Em sua estreia na exposição, que é uma das mais relevantes do mundo, Maiolino apresentará uma obra inédita, continuação de sua série de esculturas e instalações em argila. Com o tema “Estrangeiros em Todos os Lugares”, a próxima Biennale reverenciará as contribuições da artista que explora a subjetividade através de diversas formas de expressão, como desenho, gravura, poesia, audiovisual, performance, escultura e instalação. Durante seis décadas, sua arte reflete a experiência migratória e noções de pertencimento. Radicada no Brasil, possui trabalhos em mais de 30 museus, incluindo o MASP em São Paulo, o MoMA, em Nova York, e o Tate Modern, em Londres.

Foto: Maycon Lima

JARDIM DE ARTE

Inaugurando um novo momento para o segmento de edifícios de alto padrão, o recém-entregue JARDIM destaca-se por trazer arte e design locais para o dia a dia dos moradores - e da cidade. A IDEE Incorporadora selecionou obras de nomes como Eliane Prolik, Alfi Vivern e André Mendes, bem como peças de designers como Leandro Garcia e o icônico Sergio Rodrigues, para as áreas de lazer do edifício. São criações que revelam parte da produção contemporânea de Curitiba, incluindo trabalhos assinados por artistas que integram o acervo do Museu Oscar Niemeyer, vizinho do edifício assinado pelo Arquea Arquitetos. Em consonância com iniciativas pioneiras, o empreendimento enriquece o patrimônio cultural urbano e estimula olhares sensíveis de quem transita pela região. Foto: Divulgação

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habitat MERCADO CASACOR LANÇA TEMA DE 2024 EM SÃO PAULO

“De presente, o agora” é o tema da CASACOR 2024, uma reflexão profunda sobre ancestralidade e legado para futuras gerações. O anúncio, no MASP, incluiu debate com a equipe curatorial, o arquiteto Alexandre Salles e a trend forecaster Lidewij Edelkoort. Eles abordaram o poder criativo do Sul Global e a urgência de integrar heranças culturais às inovações. Segundo a curadora Livia Pedreira, o Manifesto 2024 propõe “incentivar um olhar menos eurocêntrico e mais autêntico, aproveitando o momento em que o mundo volta os olhos para o Brasil com esperança”. A CASACOR São Paulo 2024 acontecerá de 21 de maio a 28 de julho no Conjunto Nacional.

Créditos: Agência Sharp

CRIS BERTOLUCCI EM EXPANSÃO

A ampliação da loja conceito da designer Cris Bertolucci representa um marco em seus 13 anos de atuação como referência no mercado brasileiro de iluminação. O novo espaço inclui a exibição de peças emblemáticas, colaborações com outros designers e lançamentos. Para celebrar o momento, ela apresentou a coleção comemorativa “Cápsulas BOB” - extensão provocativa à linha exibida na SP-Arte 2023. A série limitada de 10 luminárias em alumínio pintado e latão é inspirada nos “block colors” do Grupo Memphis, movimento revolucionário dos anos 80. Com formas puras e geométricas a coleção insere novas cores vibrantes à paleta. Foto: Divulgação

REABERTURA DO MUSEU CASA DAS ROSAS

Foto: Andre Hoff

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O Museu Casa das Rosas, ícone histórico na Avenida Paulista, reabriu suas portas após dois anos de restauração. O casarão, que remonta a 1935 e já foi habitado por barões do café, passou por um processo de revitalização, incluindo mudanças na fachada, descoberta e recuperação de detalhes originais, como papel de parede e adornos. Além de abrigar um acervo com 20 mil itens do poeta Haroldo de Campos, o espaço dedicado à literatura agora passa a ser um ponto de convergência também com o patrimônio, segundo Marcelo Tápia, diretor do museu desde 2016. A casa pertence à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e é gerida pela organização social Poiesis.



habitat MERCADO MAISON & OBJET ANUNCIA DESIGNER DE 2024

O designer francês Mathieu Lehanneur, reconhecido por mesclar arte, ciência, tecnologia e savoir-faire artesanal, foi nomeado Designer de 2024 pela Maison & Objet, uma das maiores feiras de decoração e design do mundo. Sua trajetória inclui parcerias com marcas de luxo, cientistas e startups. Entre os projetos de destaque, está a criação de um purificador de ar em conjunto com a Harvard University em 2018, ano em que fundou seu estúdio. Além disso, Lehanneur será responsável pela concepção da tocha olímpica e paralímpica para os Jogos de Paris no próximo ano.

Foto: Felipe Ribon

ATRATIVO IMOBILIÁRIO PARA INVESTIDORES

Foto: Anderson Kochinski

Projetado pelo escritório de arquitetura Ricardo Amaral, com design de interiores por Viviane Tabalipa, o Easy Life Campos Sales, entregue recentemente pela D. Borchath atraiu investidores voltados para locação por temporada. Localizado no Alto da Glória, em Curitiba, possui unidades compactas e as áreas comuns, como horta compartilhada e o coworking. Segundo o diretor geral, Douglas Borcath Filho, esses diferenciais foram fundamentais para que todas as 113 unidades fossem vendidas.

CASA GLASER LANÇA LINHA DE DÉCOR

A Glaser Presentes tradicional loja curitibana com 136 anos de história, anuncia a expansão de seu portfólio com a introdução da marca Casa Glaser, que agora oferece itens de mobiliário, luminárias e objetos de decoração. Localizada no centro da capital paranaense, foi inaugurada originalmente como um armazém de secos e molhados por Wenceslau Glaser, imigrante austríaco. Ao longo dos anos, o prédio neoclássico passou por reformas e mudanças de nicho, mantendo-se como uma das poucas lojas centenárias na cidade.

Foto: Divulgação

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Coluna SOBRE MORAR por Paula Campos

O casal Tania e Guilherme Barthel. Foto: Divulgação

O mundo particular de Tania e Guilherme As casas contam as histórias de seus moradores, e nós contamos as histórias dessas casas. No “episódio” de hoje, o lar de Tania e Guilherme Barthel Fotos: Nando Fisher

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m meio às movimentadas avenidas do Batel mora um casal que vive a vida de forma leve e descomplicada. Seu apartamento, uma cobertura dividida em 3 pavimentos, foi planejado para dar espaço à sua rotina saudável e equilibrada. Tania, com seu jeito prático, tem paixão pela vida e costuma sempre ver o lado bom das coisas. Com seu olhar único, compartilha a leveza de seu dia a dia no Instagram, que considera um diário pessoal. Guilherme, um pouco mais reservado, é muito gentil e educado, transparece tranquilidade e positividade natural. Em suas palavras, deixa clara a admiração pela esposa e sua forma leve de ver a vida. Expressa sua personalidade por meio de um de seus hobbies, a fotografia. Sintonia é uma palavra que os define. Juntos desde a adolescência construíram sua história e negócios com muita cum-

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plicidade. Tamanha conexão os levou a ter sucesso no relacionamento e na admirável carreira. Fundaram o grupo NZN, que inclui portais como Baixaki, Tudo Gostoso, Mega Curioso, Tecmundo e Click Jogos. Juntos há 27 anos, demonstram muito carinho um pelo outro e fazem questão de dizer: “Quando estamos juntos, a gente se basta’’. É nesta cobertura no Batel que moram com sua ‘’familinha’’, como costumam chamar. São 11 pets que dividem os quase 900m² com seus donos. Cada espaço, material e tecido foram pensados com carinho, para que os dois Chihuahuas Ernesto e Kal-El, e os 9 gatos das raças Bengal, Cornish Rex e Sphynx chamados Edgar, Alejandro, Érico, Matheito, Krusty, Mickey, Cedric, Lupin e Adonis, possam circular livremente pelo apartamento.


O APARTAMENTO

Após viverem nos Estados Unidos, o casal retornou ao Brasil e adquiriu o atual apartamento - sétimo desde o casamento. Durante a estadia em Los Angeles, eles perceberam o que era importante ter em casa. Ao voltarem para Curitiba, confiaram a reforma e decoração ao arquiteto Mauricio Pinheiro Lima, primo de Tania. Com leitura certeira do estilo de vida do casal, ele ajustou o layout para atender a rotina dos clientes. O primeiro andar abriga a suíte íntima com conceito minimalista, com destaque para a cama dossel e o baú Louis Vuitton. No andar intermediário, estão as salas, espaço de leitura e cozinha integrada, onde Tania cozinha todos os dias. No terceiro andar estão os espaços de lazer, muito utilizados por eles: cinema digno dos anos 50 com carrinho de pipoca retrô, spa, academia com vista, piscina com borda infinita e um delicioso terraço. Para amarrar todos os ambientes, Mauricio criou uma base neutra em madeira clara com circulação livre e poucos elementos, atendendo ao pedido por uma casa prática e funcional.

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Coluna SOBRE MORAR por Paula Campos

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TOQUE DE PERSONALIDADE

Com um projeto sem excessos, algumas peças de destaque foram inseridas para dar vida à base neutra. Na sala, a Lounge Chair Vermelha da Louis Vuitton, um desejo de Tania e Guilherme, é um dos itens que mais chama a atenção. Logo ao lado, o quadro de João Machado, filho do artista Juarez Machado, se destaca na sala de jantar. No hall, Ale Mazzarolo criou para o casal a luminária exposta na parede da escada, que esconde em suas linhas as letras MIAU em homenagem aos moradores felinos, e uma obra do Artista Baiano Mano Penalva, exposta na entrada da suíte principal, feita em madeira e materiais naturais traz leveza e movimento em frente ao painel ripado. Entre escolhas acertadas e cuidado ao criar cada ambiente, Tania e Guilherme afirmam que, quando não estão viajando - uma de suas paixões -, estão no lugar que mais amam no mundo. Têm o privilégio de ter em casa tudo o que mais gostam, junto aos seus queridos pets e na companhia um do outro.

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Coluna SOBRE MORAR por Paula Campos

Sobre Morar em 2023 Ao longo deste ano, visitamos casas e lugares que contam a história de quem os habita. Estes espaços foram escolhidos justamente por serem um reflexo f iel da personalidade de pessoas que expressam o que há dentro de si em sua casa, ou em seu espaço. Vamos relembrá-las? Fotos: Divulgação

RODOLFO FONTANA

A casa de Rodolfo conta a história da sua vida através do acervo que herdou de seus antepassados junto ao seu olhar criterioso e contemporâneo. Este loft esbanja estilo e repertório.

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CARLOS REICHMANN

A morada de Carlinhos é um mix de garimpo, arte, cores e estampas bem coordenadas em perfeita harmonia. Seu estilo pode ser considerado eclético para alguns, maximalista para outros, mas para ele o que uma casa não pode, é ser sem graça!

ANDREA CAMPOS

Andrea mora em seu paraíso particular. É possível ouvir o barulho da água, o canto dos pássaros e o vento nas folhas das árvores, detalhes sutis que passam despercebidos por muitos estão sempre em seu radar, atento e sensível.

GALERIA CRISTIANO ROSS

A Galeria do Cris e do Júlio não chega a ser uma casa, mas abriga também muitas histórias através da seleção minuciosa de cada peça de mobiliário modernista que faz parte de seu acervo. Sempre sob o olhar cuidadoso destes sócios que colocam tudo de si em seu trabalho.

ERCÍLIO SLAVIERO E RAÍSSA ZANINI

A casa de Ercílio, Raíssa e Fiorella é a união perfeita entre o equilíbrio estético e uma atmosfera urbana e descontraída, detalhes de cor e muitas obras de arte encantam neste apartamento que pelo estilo e modernidade poderia estar qualquer lugar do mundo.



Coluna CALEIDOSCÓPIO por Isabela França

BYNOMADS, Claire Juliani e Bazaar Fashion apresentam collab inédita entre moda autoral e chás Fotos: Thamy Poli

As peças da collab Tales of Tea foram tingidas com corantes naturais dos chás exclusivos

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istórias e conexões têm sido o fio condutor de muitos criativos. Isso está valendo para a moda, decoração, joalheria, gastronomia e diversas outras áreas. A palavra da vez é colaboração, soma, adição. E quanto mais rica, quanto mais repertório e mais essên-

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cia cada um dos partícipes tem, melhor é o resultado desta soma. Quem sai ganhando, é o consumidor. O consumidor moderno quer narrativa. Ele não quer mais comprar um produto por comprar, quer um produto único. E um trabalho colaborativo gera essa exclusividade. Foi assim com a coleção

apresentada em collab pela estilista catarinense Claire Juliani e a BYNOMADS, marca de perfumaria autoral que acaba de anunciar ao mercado sua primeira coleção de chás. Tales of Tea, nome da linha de chás assinada por Mehdi Achek e Milena Kroeff, que também nomeia a collab.


FUSÃO DE TALENTOS

Marcia Almeida, Claire Juliani, Andrea Omeiri, Rafaela Feldhaus e Mehdi Achek

Com mais de 25 anos de experiência na criação de peças de moda feminina, Claire Juliani é apaixonada pelo linho natural. Neste projeto com a BYNOMADS, a ideia foi tingir o linho natural com os chás e o resultado foi sensacional. Do rosa bebê ao azul, as duas marcas encontraram as mais belas cores para criar uma coleção com 50 peças únicas, desfiladas no belo cenário da Bazaar Fashion, em Curitiba. Esta perspectiva única e inovadora só aconteceu com a combinação dos talentos que integram a parceria. Para Claire Juliani a indústria da moda, em particular, é influenciada por tendências. “Gosto muito de trabalhar com colaborações, pois elas nos permitem uma resposta mais rápida e flexível a essas tendências, mantendo as coleções frescas e atualizadas”, comenta. Mehdi Achek acredita que as collabs encorajam a quebra de barreiras criativas. “Nos sentimos mais livres para experimentar e sair da zona de conforto”, diz. Este ano, a marca também realizou uma parceria com a designer Ana Strumpf na criação de uma vela que foi um sucesso de vendas. Segundo o empresário, estas colaborações também funcionam como uma plataforma para abordar questões sociais ou ambientais. No caso desta iniciativa, destacam-se as práticas sustentáveis do uso de materiais naturais tanto na produção das peças artesanais, quanto no processo de tingimento dos tecidos, com os chás em vez do uso de tintas e corantes.

Os sócios Mehdi e Milena criaram quatro blends especiais para a linha Tales of Tea. Cada um deles é uma narrativa de cores e aromas, entrelaçados por histórias que levam a diferentes lugares e instigam novas sensações e sabores. “Sayf in Marrakech” homenageia a arte de tecer histórias e da sinfonia dos aromas, onde a tradição marroquina do chá eleva a essência das conexões e transcende através dos sentidos. “Férias na Bahia” é uma ode aos dias ensolarados e leves, em que cada elemento conta histórias de tradição e autenticidade. “Zephyr of Dubai” promove uma viagem dos sentidos por histórias de uma odisseia sensorial que se curva ao oriente e atravessa o paladar com uma tapeçaria de sabores. O “Well-

ness Blend” é uma seleção de ingredientes que estimulam os sentidos e acolhem a alma, celebra elementos ancestrais e as cores vibrantes e pulsantes, que elevam o espírito como histórias de amor. A combinação de diferentes talentos leva a criações únicas que jamais seriam alcançadas individualmente. Além disso, parcerias como esta permitem que as marcas alcancem novos públicos e ainda possam atrair novos consumidores de ambos os lados. Collabs geralmente resultam em uma percepção mais elevada da qualidade e valor de ambos os produtos envolvidos, uma vez que cada marca tem suas especialidades e características, muitas vezes complementares.

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Coluna É DESIGN por Rodolpho Guttierrez

Mestre autodidata na arte de tecer histórias Explorando o universo escultural de Rafael Sartori

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o coração de Curitiba, o escultor e restaurador autodidata, Rafael Sartori, tece sua paixão pela cidade e pelas formas artísticas com maestria. Residente desta metrópole pulsante, Sartori não apenas cria esculturas, mas confere identidade à paisagem urbana, desencadeando uma narrativa visual que ecoa por gerações. Com um vínculo de carinho profundo pela capital paranaense, ele compartilha sua perspectiva única: “Gosto da ideia de que as obras se tornam parte integrante da paisagem urbana, sendo a escultura, juntamente com a arquitetura, a melhor expressão de uma época e dos fatos marcantes a ela relacionados”. Sua visão transcende o simples ato de esculpir. É uma tentativa consciente de encapsular a história materializada em obras de arte, harmonizando-as com o cenário escolhido. Sartori, cuja paixão pelas ciências biológicas desde a infância é evidente, encontra inspiração na botânica e na zoologia. Inicia seu processo criativo com uma imersão profunda no tema, que se manifesta raramente em croquis ou esboços. “A obra começa a ser construída mentalmente durante a pesquisa bibliográfica, e só então dou início ao trabalho material”, revela o escultor. A escolha meticulosa dos materiais é uma extensão de seu processo artístico. Considerando as características e finalidades de cada trabalho, ele explora combinações únicas de materiais e técnicas. “Os materiais podem ter significados específicos conforme o tema, mas muitas vezes as escolhas são pautadas por questões técnicas”.

Rafael Sartori no Ateliê de Esculturas e Fundição do Memorial Paranista, no Parque São Lourenço. Foto: Daniel Castellano / SMCS

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Cisne Negro. Foto Divulgação

Antes de esculpir, Sartori mergulha na arquitetura e no ambiente urbano. Busca a integração e harmonia estética, reconhecendo a subjetividade inerente à percepção individual. “Sempre me chama a atenção a surpresa das pessoas quando têm oportunidade de conhecer um pouco do processo envolvido”. A responsabilidade de esculpir a identidade visual da cidade é desafiadora, envolve a coordenação de equipes e a superação de obstáculos inesperados. “Às vezes brinco que sou bom em resolver problemas”, confessa ele, destacando a importância da flexibilidade diante das complexidades de seu processo criativo. Abordando a sustentabilidade e durabilidade das artes, Sartori enfatiza o bronze como o material por excelência. “Esculturas em bronze sobreviveram a diversas civilizações, assistindo impérios se levantarem e desaparecerem”. Seu compromisso técnico elimina preocupações sobre a integridade da obra ao longo do tempo. Apesar de suas habilidades autodidatas, destaca a dificuldade em apontar uma influência clara, sugerindo que

Ateliê de Esculturas e Fundição do Memorial Paranista, no Parque São Lourenço Foto: Daniel Castellano / SMCS

sua primeira paixão por temas naturais tenha moldado consistentemente sua jornada. Com projetos em andamento e ideias fervilhantes, Sartori antecipa um futuro repleto de desafios inspiradores, continuando a enriquecer a comunidade com suas obras. Ao mergulhar no univer-

so escultural de Rafael Sartori, descobrimos não apenas um artista, mas um contador de histórias que esculpe a essência de Curitiba em formas duradouras. Seu legado transpassa o material, deixando uma marca que jamais será apagada na paisagem urbana da cidade que ama.

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Coluna INSTAGRAM por Cristina Fontoura

Habitat também no Instagram. Instagram Tem Siga, curta e compartilhe nossas notícias sobre arte, cultura, arquitetura e decoração no Brasil e no mundo @revistahabitat

BOTTEH

ATUXUÁ

Humberto Campana inspirou-se na Sabai, uma fibra natural típica da Índia para criar um armário amarrado com fios de latão tão delicados quanto a própria fibra. Exclusiva para a Galeria de Design aequō, primeira galeria de design colecionável da Índia. @ aequō

A última vitrine do ano, assinada por BST Arquitetura, apresenta a coleção Trans.bordar. As peças, lançadas na SP-Arte 2023, ganham destaque em Curitiba sob o olhar dos arquitetos Guilherme Belotto, Camille Scopel e Thiago Tanaka. @botteh_cwb

NATAL SOLIDÁRIO

O instituto TMO e Bazaar Fashion lançaram uma campanha de Natal com a Árvore Solidária. Os parARTE E BELEZA ticipantes concorrerão a prêmios na Bazaar Fashion A arte de Alfi Vivern, no Consultório do Dr. Ulisses e joias da Monalisa. @bazaarfashion Misima Ribeiro, consagrado dermatologista curiti- * TMO e Casa Malice desenvolvem um trabalho de apoio ao bano, reúne beleza e arte. @clinicaulissesmisima transplante de medula óssea no Brasil.

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Coluna CONEXÃO por Cesar Franco

TRUNK SHOW DOLCE & GABBANA A Construtora Laguna e a W Investments organizaram um trunk show para apresentar a nova coleção Holiday 2023 da Dolce & Gabbana. O evento, realizado na Galeria Laguna, contou com a presença de um seleto grupo de convidados. Na imagem capturada por Patricia Amancio, o diretor geral da Construtora Laguna, Gabriel Raad.

E_SC Tecnologia criativa e estratégica para promover experiências imersivas e interativas e criar emoções que impulsionam vendas do setor imobilitário. Essa é a solução que a E_SC apresenta ao mercado de construção e venda de imóveis, nova empresa curitibana que une as forças da Croma Garden e da Elephant Skin. Na imagem (da esq. para dir.), os sócios da E_SC Ronam Bonfim, André Ceschim, Giovana e Henrique Driessen e Shawendy Ceschim. Foto: Divulgação

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MONARCA Seme Raad Filho, diretor da incorporadora Monarca, celebra a entrega do residencial Álamo, no Bigorrilho. O empreendimento tem a assinatura da Baggio Schiavon Arquitetura (projeto arquitetônico), Ana Letícia Virmond (interiores) e Benedito Abbud (paisagismo). Destaque para o projeto que valoriza o bem-estar, áreas comuns no térreo e a conexão entre apartamento e espaço externo, que ganhou uma escultura de Alfi Vivern. Na foto de Patrícia Klemtz (da esq. p/ dir.), Seme Raad Filho, Ana Letícia Virmond e Flávio Schiavon.

BOTTEH O lançamento da vitrine da Botteh Handmade Rugs, assinada por BST Arquitetura, inaugurou a nova coleção Trans. bordar, que leva a assinatura da Suite Design. O evento contou com um talk sobre design brasileiro, mediado pela diretora de conteúdo da revista Habitat, Débora Mateus, e a participação de Bartira Brittes, além de arquitetos dos escritórios Boscardin Corsi, Giuliano Marchiorato Studio e Solo Arquitetos. Na foto de Patricia Amancio, os arquitetos Guilherme Belotto e Camille Scopel (BST Arquitetura), os sócios do Estúdio Latino de Design Sergio Sone e Ricardo Pizzichini de Paula, e o proprietário da Botteh Handmade Rugs, Amir Shahrouzi.

TIFFANY & CO. Considerada uma das influenciadoras de moda mais relevantes do país, Silvia Braz veio a Curitiba, a convite da Tiffany & Co., para um encontro exclusivo com convidados da marca no Pátio Batel. No talk (da esq. para dir.), Laurita Mourão (Tiffany), Aurelia Kirilos (Tiffany), Simone Soifer (diretora do Pátio Batel), Silvia Braz e Renata Leite (Tiffany). Edição 17

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Coluna CONEXÃO por Cesar Franco

MOSTRA REVEEV 2023 A Reveev Curitiba acaba de inaugurar sua mostra 2023 de mobiliário, com sete ambientes assinados por grandes nomes da arquitetura e design locais. O tema escolhido para esta coleção é “Respire”, um convite ao descanso, relaxamento e bem-estar. No foto de Alexandre Petroski , a arquiteta Elaine Zanon, o CEO da Reveev, Diether Glatz e a designer de interiores Claudia Machado, na abertura da Mostra Reveev 2023.

HŌRA ARQUITETURA E DESIGN As arquitetas Ana Salgado, Juliana Macedo e Karine de Faria lideram o emergente escritório HōRA Arquitetura e Design. Atuando em Curitiba e Cuiabá (MT), os projetos residenciais, comerciais e institucionais das profissionais sempre buscam soluções inteligentes e holísticas.

LIDE PARANÁ A empresária Heloísa Garrett, presidente do LIDE Paraná, recebeu o Prêmio de Embaixadora da Inovação, concedido pelo Governo do Paraná, por iniciativa da Secretaria de Estado da Inovação, Modernização e Transformação Digital (SEI), com o objetivo de reconhecer personalidades que prestaram serviços e realizaram investimentos relevantes em inovação, contribuindo para o desenvolvimento econômico, cultural e social do Paraná. Foto: Gilson Abreu/AEN

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INOVE A Inove Design recebeu em sua loja de Curitiba o designer Aristeu Pires, um dos mais conhecidos e respeitados desenhistas de mobiliário da atualidade. Na foto de Patrícia Amancio, os arquitetos Maurício Pinheiro Lima e Carla Matiolli, Aristeu Pires e Eviete Dacol, diretora da Inove.

BOURBON BISTROT Bourbon Bistrot é o novo restaurante da Rede Bourbon em Curitiba. Eduardo Richard, semifinalista do MasterChef, assina o cardápio do bistrô no hotel na Rua Cândido Lopes, no Centro, que une o clássico e o contemporâneo da culinária francesa de uma maneira descomplicada, com um toque próprio da reconhecida gastronomia de uma das principais redes hoteleiras do país. Foto: Gero Hoffman

ATR INCORPORADORA O fundador da ATR, Rafael Rosa (ao centro), com a equipe da V6 Imóveis, na comemoração dos 10 anos da incorporadora, realizada no Museu Oscar Niemeyer (MON), um dos principais cartões-postais de Curitiba. Foto: André Kasczeszen

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Coluna CONEXÃO por Cesar Franco

FÉER COZINHA ATEMPORAL Féer Cozinha Atemporal inaugurou, em Curitiba, com pratos inéditos assinados pelo renomado chef Lênin Palhano. O novo restaurante da empresária Clemilda Thomé fica na Avenida Manoel Ribas e tem um cardápio que transcende o tempo e supera tendências. O menu destaca alimentos na brasa, variedades de massas e especiarias. Foto: Divulgação

INVESCON Luís Napoleão, CEO da Invescon, celebra o avanço rápido das obras do Varanda Barigui. Localizado em um dos últimos terrenos do Bigorrilho, de frente para o Parque Barigui, o inovador conceito do empreendimento, voltado para famílias, oferece todas as unidades com face norte e apenas dois apartamentos por andar. Desenvolvido com o projeto arquitetônico da Arquea Arquitetura, o empreendimento de alto padrão destaca-se pela sua torre única com 25 pavimentos.

CB BRAND A arquiteta Priscilla Müller reuniu um grupo de mulheres em um almoço para a empresária de moda Anna Carolina Bassi. A fundadora da marca CB Brand, que abrirá as portas no Pátio Batel no final do ano, veio de São Paulo especialmente para a ocasião. O menu foi elaborado por Tina Gabriel. Na foto de Catalunya, Juliana Vosnika, presidente do MON, Ana Carolina Bassi e Tatiana Reichmann.

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AMIGOS DO HC O economista Domingos Murta foi empossado como novo presidente da Associação dos Amigos do HC em cerimônia realizada no Setor de Ciências da Saúde da UFPR. Murta promete desempenhar um “mandato colaborativo ao lado de conselheiros altruístas que dedicam seu valoroso tempo a uma causa nobre”’. Na foto de Daniel Castellano, Domingos Murta, João Maria Francisco (ex-presidente) e Zaki Akel Sobrinho (presidente do Conselho dos Amigos do HC).

BABILÔNIA Os empresários Marcelo e Carlos Pereira receberam familiares e amigos para celebrar os 20 anos de funcionamento do Babilônia, um ícone da gastronomia e do entretenimento em Curitiba. O rebranding completo da casa do Batel, que incluiu uma mudança na fachada, na decoração e no cardápio, além da primeira franquia de drinks engarrafados de Curitiba, foram os principais destaques da noite. Foto: Rafael Japa.

BALI HOME Bali Home comemora novo momento com o lançamento da vitrine da arquiteta Walkiria Nossol. A loja especializada em peças de decoração da Indonésia hoje também conta com peças de mobiliário contemporâneo. Na foto de Patricia Aman, a empresária Roberta Saporiti, diretora da Bali Home, e a arquiteta Walkiria Nossol.

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Coluna CONEXÃO por Cesar Franco

TON SUR TON Um grupo de arquitetos esteve no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, a convite da proprietária da Ton Sur Ton, Sônia Elias, conhecendo em primeira mão os lançamentos da linha Natuzzi Itália. Na ocasião, o chief brand officer da empresa italiana, Pasquale Natuzzi Júnior, esteve presente. Na foto, os arquitetos Jorge Elmor, Alessandra Gandolfi, Rosi Guelmann e Jayme Bernardo.

ERWIN ZAIDOWICZ Erwin Zaidowicz comemora dez anos no mercado das artes com a exposição “Pressão”, apresentando trabalhos inéditos na fábrica da Design Selo. Arquiteto de formação, Erwin, na última década, vem refinando seu trabalho nas artes plásticas sem deixar de lado a arquitetura e elementos dela em suas obras. O artista vai revelando seu mundo de cores e texturas, inspirado em optical art e geometria. Crédito: Patrícia Amancio

MARCELO LOPES O arquiteto Marcelo Lopes encerra o ano com um balanço extremamente positivo, contando com projetos em várias cidades e perspectivas promissoras para o ano novo. Na foto, Lopes conferindo as novidades da Holy Home Store do Batel.

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Coluna CONEXÃO por Cesar Franco

GALERIA ZILDA FRALETTI Cleverson Oliveira comemora o sucesso da exposição “Depois da Tempestade” na Galeria Zilda Fraletti. Ele é um artista-viajante renomado internacionalmente, que transforma suas jornadas pelas Américas em obras de arte incríveis, onde ele capturou paisagens deslumbrantes e reviveu a antiga tradição de empilhar pedras, um costume que remonta aos tempos pré-históricos.

RENATA BERNARDO A Joalheira Renata Bernardo posa no ambiente da designer de interiores Luciana Baggio na abertura da Mostra Reveev 2023.

MARIANA CANET A fotógrafa Mariana Canet lançou seu quarto livro, “Natureza”, no Pátio Batel. Foram dezenas de exemplares vendidos e autografados durante o evento, com a presença de convidados especiais, como o crítico de arte e artista plástico Fernando Velloso, a quem Mariana dedicou o novo livro.

CONSTRUTORA LAGUNA A arquiteta Eliza Schuchovski projetou o apartamento decorado do Almáa, da Construtora Laguna, uma cobertura duplex de 457m². O espaço se destaca como um verdadeiro oásis urbano no Cabral, proporcionando uma vista privilegiada para o campo de golfe do Graciosa Country Club e para a Serra do Mar.

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Coluna PONTO DE VISTA por Christian Ullmann

Projeto raízes: design a partir de biomateriais

Conjunto “Raízes” foi criado com biomateriais para armazenar cosméticos em barra. Ao ser descartado, transforma-se em adubo. Foto: Divulgação

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os anos 2000 houve uma mudança significativa no design, impulsionada pelas novas gerações. Todas as características desta indústria foram sendo questionadas. A fabricação digital, com impressoras 3D e corte a laser, abriu várias possibilidades para jovens designers e estudantes de design. A mudança na produção permitiu criar materiais novos, processos de transformação, autoprodução, universo maker, produção seriada de pequenos lotes e fabricação por encomenda. Tudo é novo, diferente, e minha reflexão, vinda de alguém que já foi um jovem designer, é: “inveja da nova geração e suas possibilidades”. Como parte desse contexto, Gabriel estudou em uma escola que fomenta a criatividade e o pensamento livre. Desde a infância até a adolescência, dedicou a maior parte de seu tempo de lazer nos jardins de sua casa e de seus amigos, cultivando uma conexão com a natureza. Optou pelo design como profissão, e tive

a sorte de tê-lo como aluno, um estudante participativo, criativo e aberto a discussões. Introduzi a ele os fundamentos dos biomateriais, derivados de ingredientes naturais, biológicos e biodegradáveis. Durante um ano de pesquisa, ele explorou receitas e biomateriais, utilizando moldes improvisados ou projetados em fabricação digital. Sua jornada culminou na participação em uma exposição no último Salone Satellite de Milão, a semana de design mais importante do mundo. As experiências de Gabriel no Laboratório de Biomateriais do Istituto Europeo di Design, IED, e em sua cozinha resultaram no projeto Raízes, finalista do Prêmio Brasil Design Award na categoria Design Futuro Projeto Estudantis, notável pela materialização de embalagens. O trabalho emergiu de suas vivências e experiências de infância, conectado a conhecimentos ancestrais populares brasileiros sobre a coexistência com a natureza. As recordações das brincadeiras de infância, como pintar o rosto dos

amigos com sementes, inspiraram o uso da cor de urucum como aquarela durante a adolescência. Na fase de estudante de Design de Produto, essas lembranças tornaram-se fonte de inspiração para criar objetos a partir de biomateriais. Com atenção, sensibilidade e abertura à experimentação, Gabriel combinou elementos de maneira criativa, conectando teoria e prática, inovação e tecnologia a memórias e saberes tradicionais. O conjunto “Raízes” foi concebido com látex natural, urucum, barbatimão, óleo vegetal, óleos essenciais e sementes com o objetivo de armazenar cosméticos em barra. Ao final de sua vida útil, cerca de 3 anos, pode ser descartado na natureza, como adubo devido à sua composição natural. É um exemplo de Design Regenerativo que considera tanto vidas humanas quanto não-humanas no processo. A intenção é criar um impacto positivo no contexto em que o conjunto será usado, descartado ou reutilizado.

Ficha técnica Autoria: Gabriel Sotrati Angelo Istituto Europeo di Design: Laboratório de Biomateriais Categoria: Design de Futuro - Projetos Estudantis (2023) Design e ideação: Gabriel Sotrati Angelo Professores orientadores: Graziela Nivoloni, Christian Ullmann Demais envolvidos: Enzo Goncalves Pretti, Sarah Ferreira, Juan Fernandes Cortes

Christian Ullmann é designer e coordenador dos projetos desenvolvidos pelo Centro de Inovação do IED Brasil

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