7 minute read

CICS - O que se faz por cá

O Centro de Investigação em Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (CICS- -UBI), é uma unidade de investigação financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, cuja criação remonta à implementação da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS). No entanto, o funcionamento em pleno aconteceu a partir de 2007, com a disponibilização de infraestruturas especificas para uso do CICS- -UBI no novo edifício da FCS, o que permitiu aumentar consideravelmente a massa critica de investigadores e as diferentes valências de investigação. Nos laboratórios do CICS-UBI é possível realizar estudos nos diferentes níveis de abordagem do espectro da investigação biomédica e biotecnológica. Temos ao dispor dos nossos investigadores, biotério, laboratórios de cultura de células, e de genómica, proteómica, citometria, electrofisiologia, microbiologia, cromotografia, síntese orgânica e tecnologia farmacêutica, assim como, as infraestruturas de ressonância magnética e nuclear e bioimagem que fazem parte do roteiro nacional de infraestruturas de investigação.

Numa interface biomedicina – biotecnologia, o CICS-UBI tem organizada a sua atividade em torno de quatro grupos de investigação, os quais representam as grandes áreas de actividade do centro: 1) Biofármacos e Biomateriais; 2) Doenças Neurológicas e Neurovasculares; 3) Hormonas e Metabolismo e 4) Química Biomedicinal e Investigação do Medicamento.

Advertisement

Os objetivos de investigação de cada um dos grupos respondem aos desafios societais delineados pelas agências nacionais e europeias, e estão em linha com os objetivos para o desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. Nos últimos 5 anos, foram diversas as contribuições do CICS-UBI para o desenvolvimento científico na área das ciências da saúde. Em resumo, foram identificados novos genes de susceptibilidade, biomarcadores e alterações moleculares e metabólicas em cancros hormono-dependentes e várias desordens endócrinas, o que providenciou informação crucial para a gestão do processo clinico e desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas. Na área das doenças neurológicas e neurovasculares, foram caracterizados diversos mecanismos associados aos processos de neuroinflamação, neurotoxicidade e neuroprotecção, o que permitiu a identificação de várias moléculas endógenas e exógenas com possível aplicação terapêutica, por exemplo, na doença de Parkinson e acidente vascular cerebral. Numa perspetiva do desenvolvimento de fármacos tem sido feita a caracterização e o perfil farmacológico de novos fármacos para o tratamento da Doença de Parkinson e epilepsia, o desenvolvimento de novas formulações de aplicação tópica para o tratamento da candidíase vaginal, assim como a síntese de novas moléculas e a caracterização de produtos naturais com propriedades biológicas diversas (neuroativas, antibacterianos, antioxidantes, antiproliferativos, antidiabéticos, etc.). Foram também desenvolvidos novos métodos analíticos para a determinação de drogas de abuso em amostras biológicas, constituindo um suporte essencial à clínica e análise forense, e caraterizados mecanismos de resistência aos antibióticos. Na vertente mais biotecnológica, de referir as diversas contribuições, na grande maioria em colaboração internacional e com empresas, para o desenvolvimento de processos de síntese, purificação e entrega de biofármacos. Esta área de investigação tem possibilitado otimizar a utilização de várias biomoléculas em aplicações pré-clínicas, por exemplo, para o tratamento do cancro ou doença de Alzheimer. Os esforços e dedicação dos nossos investigadores têm também contribuído, grandemente, para a valorização dos recursos e especificidades da região. Temos como exemplo os projetos de investigação relacionados com as propriedades bioactivas das águas termais ou de produtos da região, como a cereja e diversos tipos de plantas endógenas, o caso da esteva, e as potenciais aplicações destas no tratamento de diversas doenças (pele, respiratórias, diabetes, ou cancro).

Atualmente, o CICS-UBI assume-se como uma unidade de investigação consolidada em termos de recursos humanos e qualidade da investigação desenvolvida. Com uma equipa atual de 60 investigadores doutorados, o CI- CS-UBI tem vindo a apresentar ao longo dos anos um crescimento continuo da quantidade e qualidade dos outputs científicos. Em 2019, o número total de artigos publicados em revistas científicas indexadas na ISI Web of Knowledge ultrapassou a barreira dos 150 por ano, valor máximo até então, o que foi acompanhado também pelo valor mais alto de sempre do fator de impacto médio das publicações (3.8) e do ratio do número de artigos por investigador doutorado por ano (2,6).

A experiência, motivação e dinamismo dos nossos investigadores, tem consubstanciado o reconhecimento nacional e internacional da investigação desenvolvida. Dados de 2019, mostram que 49,7 % das nossas publicações resultam de colaborações a nível nacional, e 23,4 % de parcerias no âmbito de protocolos de colaboração com universidades, institutos de investigação ou empresas internacionais. É objetivo e missão do CICS-UBI continuar a desenvolver investigação com os mais elevados padrões de qualidade, promovendo a internacionalização, e incrementando continuamente a multidisciplinaridade e translação, em articulação com a clínica. Para isto, é crucial a ligação do CICS-UBI ao Centro Académico Clínico das Beiras, o maior consórcio nacional envolvendo universidades, instituições de saúde e unidades de investigação.

O CICS-UBI e os seus investigadores colaboram nas atividades formativas da FCS e também da Faculdade de Ciências, acolhendo a larga maioria dos projetos de investigação dos alunos dos 2ºs e 3ºs ciclos destas faculdades. O centro recebe também regularmente alunos de outras instituições para estágios de curta duração, nomeadamente, alunos no âmbito do programa Ciência Viva e alunos de intercâmbios nacionais e internacionais em colaboração com o MedUBI e UBIPharma.

Numa perspetiva de articulação com a sociedade, o CICS-UBI leva a cabo ao longo de ano um conjunto de iniciativas educacionais dirigidas a diferentes públicos, onde se inclui, o Dia Mundial do Cancro, a Semana Internacional do Cérebro, o Dia Internacional do Microorganismo, o MICRODia, a Noite Europeia dos Investigadores, a Semana da Biotecnologia, e a Semana da Ciência e a Tecnologia. Estas ações são cruciais para fomentar o interesse do público pela ciência, para divulgar as atividades do centro, e acima de tudo para aumentar a literacia científica e conhecimento geral sobre temas importantes para a saúde e qualidade de vida das populações.

Num âmbito de resposta às necessidades da sociedade, temos o exemplo recente, em que todos estamos envolvidos, que é o combate à disseminação do SARS-CoV-2 e o controlo da pandemia da COVID-19. Num cenário de necessidade de resposta urgente e qualificada, os investigadores do CICS-UBI conseguiram adaptar a sua investigação e aplicar os seus conhecimentos, dando resposta aos desafios que foram impostos em diversas e inúmeras frentes. Foi implementada a produção de álcool gel, a qual atinge neste momento um total perto dos 300 L, e que serve para suprir as necessidades da UBI, tendo também sido doada a algumas instituições da região. A criação do laboratório de testes do CICS-UBI/FCS para deteção do SARS-CoV-2 constitui uma valência acrescida à capacidade de testagem da região, permitindo um maior controlo da propagação e disseminação da COVID-19. A robustez, flexibilidade e capacidade de adaptação dos nossos investigadores ficou igualmente patente na resposta que deram com a proposta de novos projetosde investigação no âmbito da COVID-19. Num curto espaço de tempo, e de uma forma verdadeiramente exemplar, os investigadores do CICS-UBI, adaptaram a sua investigação à nova realidade e estão a trabalhar no desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico para a COVID-19, na aplicação de testes de imunidade às populações, e na implementação de diversas abordagens inovadoras para o combate à pandemia. De ressaltar as diversas candidaturas que têm sido submetidas a financiamento, entre as quais as do projeto CheckImmune liderado por Miguel Castelo Branco e o projeto Track and Trace, da responsabilidade de Carla Cruz. Este último que pretende desenvolver um novo método de deteção do SARS-Cov-2, mais rápido e menos dispendioso que o clássico método de PCR, foi o projeto melhor classificado de entre todos a concurso para apoio no âmbito da iniciativa Research4COVID da FCT e da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica. E, felizmente, a contribuição do CICS-U- BI para a sociedade neste momento de crise pandémica não se esgota por aqui. Foi da pro- -atividade de investigadores do centro, nomeadamente da Assunção Vaz Patto que foi a dinamizadora da iniciativa, e Ana Paula Duarte que deu o mote com a primeira sessão, que surgiram as “As conversas da quarentena”, um programa de palestras em videoconferência dirigidas aos utentes dos lares de idosos da região, que procurou minimizar os efeitos do isolamento e apoiar esta população particularmente vulnerável.

Fica assim traçado, a pedido do MedUBI, um resumo das atividades do CICS-UBI e o seu enquadramento regional, nacional e internacional. Todos, “ligados”, alunos, técnicos, investigadores e professores temos vindo a construir o caminho do CICS-UBI.

Sílvia Socorro Coordenadora do CICS-UBI