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DA JANELA DO MEU QUARTO

Mesmo que soubesse de antemão, ser-me-ia difícil conceber a ideia de que, a partir de março, estaria confinada à minha casa e ao meu quarto. Numa época em que tudo lá fora floresce! Não são apenas as flores que brotam e as árvores que resplandecem…. Abrem-se sorrisos, fortalecem-se laços, a felicidade e a ânsia de aproveitar a vida impõem-se! Repentinamente, ficamos desprovidos de quase tudo aquilo que é inerente à condição humana: privaram-nos do contacto físico, da confraternização, das visitas recorrentes aos familiares, principalmente, àquela que é a geração mais frágil, tão importante para nós…

Através da janela do meu quarto, comecei a contemplar a paisagem que me envolvia e a prestar mais atenção aos pormenores que, com frequência, na azáfama dos dias, escapavam! De janela aberta, escutava o passar da brisa, o estalar das folhas, e o ruído dos automóveis tinha cedido lugar a uma quietude imensa, sinal de que a comunidade estava, de facto, empenhada em lutar por um bem comum! De quando em quando, os pássaros aglomeravam-se na minha varanda e substituíam o silêncio por uma melodia quase orquestrada! “Não deixa de ser irónico!”, pensava eu. O Homem, esse ser, por vezes, ganancioso e egoísta, que crescentemente se tem apoderado da Natureza, estava confinado dentro de quatro paredes, vendo esta seguir o seu rumo, ainda mais serena, imponente! Num ápice, fomos dominados por um “organismo”, que nem a olho nu é visível, e que ultrapassou fronteiras mais depressa do que alguma vez conseguiríamos prever! Estaria a Humanidade preparada para enfrentar um desafio com tamanhas proporções à escala global? Obviamente, não! De que serve, então, a competitividade, a soberba, a crueldade, se em situações como esta, que nos apanham completamente desprevenidos, nos tornamos tão frágeis e impotentes?! Afinal de contas, só a união faz a força, e verificamos isso, na perfeição, ao nos unirmos como sociedade que somos para tentar travar esta batalha!

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Da janela do meu quarto, ansiava pela chegada do dia em que tudo voltasse à normalidade, mas sempre com a consciência de que esse dia tardaria! Desejava poder caminhar pelas ruas verdejantes, que tanto caracterizam o local onde vivo, e aproveitar tudo ao máximo sem ter de pensar nas consequências que tal pudesse acarretar! Gostava de voltar a sentir o calor do abraço da família e do carinho dos amigos! Em simultâneo, receava este regresso e sabia, claramente, que estes meus desejos não poderiam ser satisfeitos num futuro próximo! Ao invés, ter-nos-íamos de adaptar gradualmente!

Quero acreditar que todo este tempo de recolhimento e de introspeção serviu para nos tornarmos melhores pessoas, gratas por tudo aquilo que nos faz tanta falta e que, no passado, assumíamos como garantido! Agradecer por vivermos num país tão sereno, por termos todas as condições básicas de que necessitamos ao nosso dispor! Por termos uma família, que mesmo afastada fisicamente durante este período, sabemos que está connosco! Da janela do meu quarto, pensei inúmeras vezes nas crianças que desejavam tudo isto, muito antes da pandemia, e, infelizmente, nunca viram os seus desejos concretizados… Crianças que necessitam de estabilidade, de uma família que as conforte, de igualdade!

Espero, sinceramente, que a harmonia que as pessoas demonstraram, ao se unirem para superarem este desafio, prevaleça daqui em diante! A pandemia foi a maior prova de que a Humanidade é capaz de unir todas as forças para alcançar um mundo melhor! Não poderemos, nunca, é rumar sozinhos!

Marta Soares