9 minute read

PARA COMEÇAR

O Brasil, assim como muitos países, possui histórias que são contadas em todas as gerações. Observe a imagem abaixo e responda às perguntas:

1. O que está sendo representado na figura?

Advertisement

Espera-se que os estudantes descrevam a imagem. Sugestão de resposta: na ilustração, há um lobo com estatura de homem, um cavalo com fogo no lugar da cabeça e um menino sem uma perna, com um gorro na cabeça e um cachimbo na boca .

2. Você já viu esses personagens antes? Com o que eles se parecem?

Espera-se que os estudantes façam comentários pessoais. Caso já tenham visto esses personagens, sugere-se que o professor pergunte onde. Se for o primeiro contato dos alunos com esses personagens, sugere-se que o professor questione com o que eles se parecem. Possíveis respostas: com um homem, com um cavalo, com um lobo ou com personagens de histórias fantásticas.

3. A ilustração representa lendas brasileiras. Você sabe o que são lendas?

Este é um momento cultural! Em uma resposta afirmativa, espera-se que os estudantes expliquem o que sabem sobre o gênero. Caso os estudantes desconheçam esse conceito, o professor deve explicar que lendas são narrativas fantásticas, transmitidas pela tradição oral, nas quais há uma mistura de acontecimentos reais e imaginários. Sugere-se ao professor mencionar quais são os personagens retratados na ilustração: Lobisomem, Mula sem cabeça e Saci-pererê.

4. No seu país existem histórias como essas? Compartilhe com a turma. R esposta pessoal.

Para Ouvir

Agora, escute um diálogo entre quatro pessoas que estão viajando, no qual será narrado um “causo” sobre a Bola de fogo e o Lobisomem. Você sabe o que é um “causo”? Após escutar o áudio, responda às seguintes perguntas: Áudio retirado do canal do Projeto Fonologia, disponível no link: https://youtu.be/ 1ZgnM-tMGA0

1. Para você, essa conversa se passa entre amigos ou entre pessoas desconhecidas? Resposta pessoal.

2. Em que lugar essas pessoas estavam conversando?

Na estrada, dentro de um automóvel.

3. Qual é o assunto da conversa?

As pessoas estão contando “causos” sobre a Bola de Fogo e o Lobisomem.

4. Elas mencionam algo sobre uma “bola de fogo’’. O que seria isso?

É uma bola de fogo que aparece e vai acompanhando os motoristas que estão sozinhos.

5. Quando e onde a Bola de fogo aparece?

A Bola de fogo aparece no trecho da rodovia que vai de Elisa até Casa Branca, por volta das 18h00.

6. Quem viu a Bola de fogo?

Valda, a cabeleireira.

7. Qual é a história do Lobisomem? Quando ele se transforma?

Quando um casal gera seis filhas mulheres e o sétimo filho é do sexo masculino, o menino será um Lobisomem, ou seja, metade homem e metade lobo. A criança nasce humana e se transforma na lua cheia.

8. No áudio, as pessoas acreditam nessas histórias?

Nem todas as pessoas acreditam.

9. Você sabe o que significa a expressão “reza a lenda’’?

Espera-se uma compreensão através do contexto. Nesse diálogo, a expressão é usada para dar uma explicação popular e não científica.

Para Ler

Agora leia um trecho do conto “O Lobisomem’’, de Raymundo Magalhães. Pelo título, como você imagina que será essa narrativa?

Texto disponível em: https://docs.google.com/document/d/1DK6NeJjTHm8OOXXkzGnzOXuSnXO22Gzta1gWfZ6o4ew/edit?usp=sharing

O Lobisomem de Raymundo Magalhães.

[...]

“ Seu Bento era um belo tipo de homem, muito branco, de nariz aquilino, com uma barba cerrada e longa, cujas pontas tinha o hábito de retorcer, com arrogância. Andava pelos setenta anos, mas estava forte, esperando viver, pelo menos, o dobro... Extremamente desasseado, sempre de corrimboque em punho, a fungar pitadas de tabaco, com um enorme lenço de ganga sobre um dos ombros, era uma figura pitoresca pelo seu modo de vestir. Quer de verão, quer de inverno, calçava tamancos e o seu traje compunha-se de uma calça de riscado e de uma camisa de madapolão com as fraldas soltas que lhe alcançavam os joelhos. Nada neste mundo o obrigaria a passar os panos ou a enfiar um paletó. Ia assim a toda parte, à igreja como ao mercado, e, mesmo quando se faziam eleições, era em fralda de camisa que dava o seu voto ao governo.

Cer ta manhã, ainda com escuro, estava a rodinha formada, uns sentados no bal- cão, outros em caixas vazias de gás. Era em junho. Fazia um frio de bater o queixo. A cachaça corria com mais abundância e a palestra aumentava de animação, à medida que os copinhos se repetiam. A neve, como lá se chama a cerração, era tão espessa que não deixava ver nada a vinte metros de distância. Por isso, ninguém reparou na chegada do Zé Vicente, um lavrador de Pavuna, senão quando ele, depois de ter amarrado o cavalo à gameleira da porta, entrou na bodega, muito maneiroso, dando os bons dias e apertando a mão de cada um. Seu Bento quis saber logo que novidade era aquela, porque aparecia ele assim de madrugada. Haveria doença em casa?

— Foi a mulher que quebrou o resguardo — explicou o Zé Vicente. Teve criança há três dias e estava passando muito bem, quando, ontem de noite, aconteceu uma desgraça...

— Que foi? Que foi? — perguntaram todos ao mesmo tempo.

— Acho que foi um lobisomem. Pela meia-noite, ouvimos um bicho rosnar e arranhar a porta do quintal com muita força. A cachorrinha, parida de novo, deu logo sinal do lado de dentro e o bicho largou um grunhido que nos encheu de pavor. Talvez seja um guaxinim, disse eu à mulher. Quis-me levantar, sair fora, para ver que marmota era aquela, mas a Maria não deixou. Depois, mais nada. A Baleia calou-se. Pegamos no sono e, hoje de manhã, ao despertar, verificamos que à porta dos fundos estava aberta e o bicho havia comido a ninhada de cachorrinhos que estava na cozinha. A Maria jura que foi um lobisomem. Eu também acho que sim. O certo é que a pobrezinha tomou um susto medonho, quebrou o resguardo e, agora, está para morrer. Seu Bento consolou o pobre homem sobre cujo lar desabava uma tamanha calamidade:

— Isso não é nada, Zé Vicente. Dá-se um jeito. Tenha coragem e fé em Deus. Consultou demoradamente o Chernoviz:

— O remédio é um purgante de Leroy ou então Água Inglesa. Leve o laruá (era assim que ele pronunciava) leve o laruá e venha me dizer, amanhã, se a mulher melhorou. Ninguém se atrevia a interromper seu Bento, quando ele tratava de medicina. Quem o fizesse, imprudentemente, podia ter a certeza de que o velho curioso esmagá-lo-ia com um olhar colérico e com esta simples apóstrofe — Filho!... Filho, apenas. Não dizia de quem mas todos sabiam o verdadeiro sentido daquele palavrão...

Zé Vicente guardou o remédio, pagou-o, despediu-se dos circunstantes e partiu a galope. Tomou-se mais uma rodada e os comentários, então, esfuziaram.

— Santa simplicidade! — observou seu Doca. — Quanta gente estúpida existe ainda por este mundo! Crer em lobisomem e almas penadas, em pleno século XX, no Século da Eletricidade, só mesmo nesta infeliz terra! Mas, não pode ser de outro modo, porque o governo e a nossa Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, em vez de instruírem o povo, tratam de embrutecê-lo, cada vez mais, para que ele permaneça eternamente, a mesma besta, fácil de governar com um freio — quer esse freio seja o terror do inferno, quer o terror da lei!

Calou-se, desolado, com aquele desabafo, certo de que ninguém compreendia a beleza do seu pensamento. Bebeu mais um copinho. Zangou-se por se julgar um incompreendido, no meio daqueles matutos broncos e passivos. E, de zangado, engoliu, logo em seguida, outro copinho. Irra!

— Esta mocidade de hoje — disse o velho Macedo. — Esta mocidade de hoje não crê mais em nada. Por isso é que o mundo está perdido e acontece tanta desgraça feia... Se até os meninos como você, Doca, já são ateus, maçons, dizem que Deus não existe... Pois fique sabendo, moço, que Deus está lá em cima e que há muita coisa, muita coisa... Almas do outro mundo, lobisomem, tudo isso é verdade. Eu nunca vi alma, mas lobisomem já topei um...

Explodiu uma gargalhada na roda. Seu Macedo, um velhinho pequenino, melgaço, de olhos azuis, cabeça enorme, era conhecido como o maior mentiroso das redondezas. Não abria a boca que não fosse para contar histórias de onça, cada qual mais estapafúrdia, e ficava furioso, quando punham em dúvida a sua palavra. Como, de resto, as suas mentiras não faziam mal a ninguém, não passando de arrojadas fantasias, todos gostavam de ouvi-lo e muitos o estimulavam a contar casos maravilhosos. — Pois conte lá, seu Macedo, conte lá a história do lobisomem. Vamos.

Agora responda às perguntas:

1. O que é narrado?

Uma conversa entre amigos, na qual um deles conta que apareceu um Lobisomem em sua casa.

2. Onde acontece a história?

A história acontece em uma “bodega’’ e no “quintal’’ da casa de Zé Vicente.

3. Como são caracterizados os personagens do texto?

Seu Bento é caracterizado como “um belo tipo de homem, muito branco, de nariz aquilino, com uma barba cerrada e longa, cujas pontas tinha o hábito de retorcer, com arrogância’’; Zé Vicente como “um lavrador de Pavuna’’; e Seu Macedo, “um velhinho pequenino, melgaço, de olhos azuis, cabeça enorme, era conhecido como o maior mentiroso das redondezas.’’

4. O que significa a expressão “frio de bater o queixo’’?

Espera-se uma compreensão através do contexto. Essa expressão significa um frio intenso.

5. Você já tinha ouvido falar sobre o Lobisomem? Pela descrição do texto, como ele aparenta ser?

Na primeira parte da pergunta, espera-se uma resposta pessoal. Pelo trecho “ouvimos um bicho rosnar e arranhar a porta do quintal com muita força”, percebe-se que o Lobisomem é um bicho forte e bravo.

6. Os personagens do texto acreditam na existência do Lobisomem? Como podemos perceber isso?

Na fala de Seu Doca: “crer em lobisomem e almas penadas, em pleno século XX, no Século da Eletricidade, só mesmo nesta infeliz terra!’’, percebe-se sua descrença no Lobisomem.

7. Existe alguma semelhança entre o conto e o áudio da atividade anterior?

As duas narrativas falam sobre lendas e “causos”.

8. Como você imagina que terminou essa história? Na sua opinião, seu Macedo realmente encontrou o Lobisomem? Compartilhe com a turma. Resposta pessoal.

Para descobrir o final da história, acesse o site: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000291.pdf

Para Esquematizar

O texto lido anteriormente é um conto. Ao contarmos uma história, geralmente ordenamos as ações conforme elas acontecem no tempo. Quando a história do Lobisomem acontece? A história acontece no passado. Observe as frases retiradas do conto:

Seu Bento era um belo tipo de homem, muito branco, de nariz aquilino A neve, como lá se chama a cerração, era tão espessa que não deixava ver nada a vinte metros de distância.

Teve criança há três dias e estava passando muito bem, quando, ontem de noite, aconteceu uma desgraça...

Ninguém se atrevia a interromper seu Bento, quando ele tratava de medicina. Os termos destacados fazem referência ao presente, ao passado ou ao futuro? Fa zem referência ao passado.

Nos quadros abaixo vamos relembrar o uso e as formas do pretérito perfeito e imperfeito. Complete as lacunas com as formas adequadas.

Pretérito perfeito

O pretérito perfeito introduz eventos pontuais do passado.

DEIXAR ACONTECER OUVIR

EU deixei aconteci ouvi

VOCÊ deixou aconteceu ouviu

ELE/ELA deixou aconteceu ouviu

A GENTE deixou aconteceu ouviu

NÓS deixamos acontecemos ouvimos

ELES/ELAS deixaram aconteceram ouviram

VOCÊS deixaram aconteceram ouviram

Pretérito imperfeito

O pretérito imperfeito apresenta diversos usos, como fazer uma descrição, falar de um hábito ou de uma repetição regular no passado.

DEIXAR ACONTECER OUVIR

EU deixava acontecia ouvia

VOCÊ deixava acontecia ouvia

ELE/ELA deixava acontecia ouvia

A GENTE deixava acontecia ouvia

NÓS deixávamos acontecíamos ouvíamos

ELES/ELAS deixavam aconteciam ouviam

VOCÊS deixavam aconteciam ouviam

Para Praticar

Agora é a sua vez! Imagine que os seus professores de português estão organizando um livro sobre lendas de diferentes culturas, que estará disponível para outros estudantes no site do seu curso de idiomas. Você foi convidado para participar desse projeto e, para isso, deve escrever um texto contando uma lenda do seu país. Compartilhe seu texto com a turma. Re sposta pessoal.

Para Saber Mais

A animação abaixo conta uma lenda do folclore brasileiro. Assista ao vídeo e depois comente com a turma: onde a história acontece? Como são caracterizados os personagens? Qual lenda é apresentada? Como a narrativa é iniciada e finalizada?

“O Curupira”, disponível no canal MultiRio: https://www.youtube.com/watch?v=QJ1If64uwQU

Ne ssa animação, os personagens não produzem falas, por isso, não se trata de uma atividade de compreensão auditiva. Espera-se que os estudantes assistam ao vídeo com atenção, para que sejam capazes de explicar o que ocorre na narrativa. Para que a prática comunicativa aconteça, os alunos devem discutir as perguntas propostas. Nesse momento, espera-se o surgimento espontâneo do pretérito perfeito e imperfeito do indicativo. Se o professor preferir, a atividade pode ser realizada em casa. Nesse caso, aconselha-se que as respostas sejam discutidas na próxima aula.

Pa ra complementar, indicamos: um áudio sobre a lenda do Saci, produzido pelo Ministério da Educação; um texto sobre lendas do folclore, retirado do site Educa mais Brasil; e a série Cidade Invisível, disponível no Netflix.

Gostaria de conhecer mais lendas brasileiras? Acesse:

Série do Professor - Gente Brasileira - Programa 08: Lendas e mitos brasileiros: ht tp://www.dominiopublico.gov.br/download/som/me000905.mp3

Lendas do Folclore: ht tps://www.educamaisbrasil.com.br/enem/artes/lendas-do-folclore

Cidade invisível - O folclore brasileiro na tela do NETFLIX | SETE | EP. 28 ht tps://www.youtube.com/watch?v=9OIIbRodGdk

This article is from: