WORKSHOP INTERNACIONAL RIO BR 2012

Page 32

“insubstituível material dos solos”3. Este princípio apresenta-se como uma constante acção de reciclagem, que permite dar continuidade à utilização do “pergaminho”4 territorial. Na percepção dos sulcos, ou enrugamentos do passado, procura-se o alicerce para depositar uma nova acção capaz de responder à necessidades do quotidiano. Nesta perspectiva, a acção transformadora socorre-se de instrumentos, ou ferramentas que suportam as decisões de leitura associadas a cada necessidade. Diante do emaranhado de capas que se sedimentam abaixo da superfície do solo, coloca-se a necessidade de um processo electivo, que em última análise corresponde a uma utilização do tempo passado como material de configuração de um devir. É na procura de um estreitamento de laços de correlação que se ancoram às configurações depositadas no território, as novas configurações. Este processo pressupõe um entendimento narrativo do contexto, convertendo-o numa linguagem capaz de gerar pontos de observação, este pontos de observação são, em si mesmos, argumentos de acção. Corboz valoriza a representação cartográfica como hipótese de abstracção narrativa do real. É contudo na base cartográfica (abstracta) que se procede, quer ao lançamento, quer à experimentação do projecto. O mapa surge como filtro, que enquadra as escolhas orientadoras da leitura operativa do território, tornando a sua “extensão, a sua espessura e sua perpétua metamorfose”5 em algo mensurável e passível de ser transformado. O território, ou sítio, adquire uma dimensão mental, tal como reflectia Eduardo Souto de Moura numa entrevista, em 1996, onde afirmava que: «O sítio é um pressuposto. Não existe o sítio. O sítio é um instrumento. É impossível fazer casas sem ter um lápis, e ter casas sem ter um sítio. E o sítio é aquilo que se quer que ele seja. Tentou-se ‘vender’ o sítio como entidade objectiva, com frases como: ‘A solução está no sítio’. A solução está na cabeça das pessoas. O Leonardo da Vinci dizia: ‘A Arte é coisa mental’. O sítio é coisa mental. Portanto, o sítio é tão importante quanto as outras coisas que intervêm no projecto.»6 Outra consideração fundamental neste processo de reflexão sobre a compreensão e transformação no território passa pelo entendimento de um geografia humana que surge, sobretudo, na contemporaneidade como agente relevante em todo o processo. Giancarlo de Carlo, numa posição, extrema, de grande abertura reflecte sobre o importante contributo das comunidades em relação às decisões formuladas pela arquitectura, em “An Architecture of participation”7, de 1980. Para este activo membro do Team 10, “Uma operação arquitectónica [passaria por] três fases: a definição do problema, a elaboração da solução e a avaliação dos resultados”. Neste conjunto de etapas de participação, a presença dos utilizadores deveria existir durante todo o decorrer da operação, procedimento que teria reflexos directos e indirectos em todo o processo, ou seja: cada fase da operação seria como fase de projecto; o “uso” seria também interpretado como uma fase da operação e, por conseguinte, do próprio projecto.Com a fusão das diferentes fases, a operação deixaria de ser linear, unidireccional, ou auto-suficiente. A posição de De Carlo, justificada à luz do tempo em que é formulada, enquadra o papel dos utilizadores como uma extensão territorial com determinante influência na configuração final da obra. 3

Ibid, pag. 851. Ibid, pag. 851. 5 ibid, pag. 847. 6 Pais, Paulo (entrevista) “A ambição à obra anónima, numa conversa com Eduardo Souto de Moura”, em Trigueiros, Luiz, (coord) Eduardo Souto de Moura, Blau,1994, pag. 28. 7 Carlo, Giancarlo de “Uma Arquitectura da Participação” in AA.VV” Teoria Crítica de Arquitectura do Século XX Caleidoscópio, Casal de Cambra, 2011 (p. 753-758) (texto original Carlo, Giancarlo “An Architecture of participation, in Perpecta: The Yale Journal, vol. 17, 1980 4

32


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.