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3 REFERENCIAL TEÓRICO
from REPRESENTAÇÕES DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A CONTRIBUIÇÃO DA MÍDIA PARA UM PAÍS MAIS INCLUSIVO
by Rede Código
A trajetória da população com deficiência no Brasil foi marcada pela fase inicial dentre os povos indígenas. Não muito diferente da sociedade grega, era comum nas comunidades indígenas a prática de eliminação de crianças com deficiência. Quando nascia uma criança com deformidades físicas, era imediatamente rejeitada, acreditando-se que traria maldição para a tribo, dentre outras consequências (Figueira, 2021). Na realidade, até hoje é comum à prática do infanticídio em algumas tribos isoladas do Brasil, o ato não é inerente apenas a crianças com deficiência. Essas discussões não estão apenas acerca de ativistas da inclusão social, mas também de há uma preocupação no que tange a constituição brasileira e o direito à vida. São inúmeras questões a serem discutidas, mas não cabe a este trabalho discutir os costumes e as culturas dos povos indígenas. Desta forma, a prática do infanticídio sempre foi comum por serem considerados seres “defeituosos”. E eles não eram vistos como indivíduos pertencentes aos mecanismos sociais, no Brasil a pessoa deficiente foi considerada por vários séculos dentro da categoria mais ampla dos miseráveis, talvez o mais pobre dos pobres (SILVA, 1987). Para ele, o deficiente pobre não significava nada no que tange os termos de vida social e política no país. Atualmente há cerca de 46 milhões de brasileiros que possui algum tipo de deficiência, ou seja, 24% da população, conforme diz o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2010. Vale salientar que nesta pesquisa não inclui transtornos mentais, como psicose, autismo e esquizofrenia. Segundo os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) feito em 2018, é apontado que cerca de 486 mil PCD‟S estavam registrados em empregos formais. Por sua vez, o número de pessoas deficientes no país tem implicações diretas no modo como a sociedade deve se organizar para tratar a deficiência com mais justiça e igualdade (Rufino, 2008). E, mesmo com a promulgação da Lei nº 8213/91, também conhecida como Lei de Cotas para pessoas com deficiência, que garante e estabelece a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, a taxa de inclusão pcd é muito baixa em relação à quantidade de empregos no país. Sendo assim, não é comum encontrarmos pessoas com deficiência ocupando algum cargo dentro de uma empresa, principalmente cargos do mais alto escalão executivo.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
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Como foi dito, há milhares de anos as concepções de corpo vêm sofrendo constantes transformações. Isso devido ao forte sistema político-econômico capitalista, e a influência dos meios de comunicação de massa na vida da comunidade. O corpo tornou-se um objeto de
mercantilização, um produto de consumo para as grandes mídias, que coincidentemente estão sob a classe dominante capitalista, Santos e Mederos afirmam que:
Viver parece que se tornou tão somente consumir. As pessoas acreditam cada vez mais que são definidas por aquilo que consomem. Buscam construir sua identidade, suas relações sociais e dar sentido à vida através do consumo. (SANTOS; MEDEROS. 2011)
As transformações nos veículos de comunicação de massa e o modo que arte e cultura são apresentadas diretamente ligadas à teoria crítica da indústria cultural desenvolvida pelos filósofos frankfurtianos Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973). Desse modo, eles foram os principais teóricos a criticarem a ruptura das fronteiras entre consumo, informação e política. O conceito de indústria cultural transformou tudo em mercadoria, inclusive pessoas. Seu principal objetivo é obter lucros e transformar pessoas em consumidoras culturais, sendo essa indústria que define o que vamos consumir, e não o senso comum. E assim transformou pessoas em valores, em mercadoria. No entanto, os meios de comunicação de massa sempre desempenharam um papel fundamental em nossas vidas, e com os avanços tecnológicos no mundo, possibilitaram novas formas de consumo.
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós) dentre as quais parece possível fazer uma melhor escolha (HALL, 2006).
Stuart Hall foi um dos principais teóricos dos estudos culturais, e se questionava sobre o papel da mídia e os conceitos apresentados por ela; cultura, imagem, linguagem, representações, identidade, dentre outros. E seu objetivo era tentar compreender como essas imagens representam a realidade em que vivemos. Hall foi o responsável pela “teoria da representação” ele defende que a mídia cria significados ao representar grupos. E de fato, a mídia tem o poder de criar significados e moldar as nossas concepções, é o que acontece quando ela representa a pessoa com deficiência, sempre apresentando narrativas que não condiz com a realidade, o maior exemplo é a narrativa de superação pessoal. A mídia, de uma forma geral, ajuda no sentido de formar mentalidades, construir valores e narrar a realidade à sua maneira, interferindo na construção das identidades (SCORALICK, 2009).
Ao delimitar comportamentos, modos de ser e agir, os discursos estabelecem normas, padrões e, ao mesmo tempo, afirmam e constituem aquilo que é diferente a esta identidade, que não é apenas o seu oposto, mas é tudo aquilo que não está incluído nesta referência. “Esta dinâmica de significação e demarcação de diferenças, central para as teorias pós-estruturalistas, será fundamental no processo de construção e constituição de identidades” (GUARESCHI, 2006).
Nos dias de hoje, esses veículos são fundamentais para a realização de diversas atividades do nosso dia a dia, tornou-se uma relação indissociável, assim estão presentes em tempo integral em nossa vida. Além de ser uma peça essencial para o cotidiano, esses veículos também transmitem informações incorretas, opiniões, conceitos, reflexões, impõem estereótipos, e assim, permeiam fortemente nas relações humanas determinando mudanças políticas, socioeconômicas e culturais. Atualmente, a mídia ocupa um lugar central na vida de todos. Ajuda a moldar nosso imaginário, estabelecer propriedades decidir e descartar opiniões (CHRISTOFOLETTI, 2008). Que os meios de comunicação de massa estão ligados à classe dominante, isso é fato. O sistema capitalista tem como narrativa a constante ideia de que o indivíduo tem que ser produtivo o tempo inteiro, visando o trabalho e os lucros como um papel central de nossas vidas. Podemos dizer que a capital estrutura todos os modos de produção da notícia Sendo assim, a atividade jornalística em grandes veículos, em sua maioria, anda contra os interesses do público.
No caso da informação repassada pelas mídias, é importante questionar sobre a mecânica de construção do sentido, sobre a mecânica de construção do sentido, sobre a natureza do saber que é transmitido e sobre o efeito de verdade que pode produzir no receptor (CHARAUDEAU, 2006).
Como sabemos, o corpo deficiente é colocado no mundo como incapaz e impotente, tirando-os da sua função de sujeito e do seu pleno exercício de cidadania. Devido à narrativa que a pessoa com deficiência vive – grupo oprimido- e não só eles, mas todos os grupos considerados minorias, a mídia tradicional – grupo hegemônico- não dá o devido espaço para eles, justamente por ser um grupo elitista. Se repararmos, pouco se vê um jornalista pcd atuando em grandes meios midiáticos, por exemplo. Tudo que não se remete ao belo, ao eficiente e ao que a sociedade coloca como padrão de referência, está cada vez mais longe dos holofotes e das mídias (RIBEIRO; SANTOS. 2019).