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B) Transcrições das entrevistas
Nayra Eugênio – fonte que sofreu violência obstétrica em hospital
(11) 95991-2923 | nah.eugenio@hotmail.com
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Adriana Tenório - fonte que teve filho no Coletivo Sopro de Vida
(11) 95491-2526
Débora Belo – fonte que teve o bebê na Cada de Parto do Sapopemba
belo_debora@gmail.com
ALINHAMENTO EDITORIAL — ENFOQUE/ANGULAÇÃO:
Essa reportagem tem como objetivo mostrar a importância de informar o público feminino periférico sobre o parto humanizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pois, muitas vezes, as mídias não trazem pautas com as informações necessárias para mulheres da periferia. E, em decorrência da desinformação sobre o assunto, as parturientes acabam sofrendo violência obstetra por não conhecerem esse outro método fornecido gratuitamente. Por meio das informações que foram levantadas com fontes da área, como: doulas casas de parto humanizado do SUS, ginecologistas e também por meio das narrativas de personagens que vivenciaram o parto humanizado no SUS, e com a experiência das mães que sofreram violência obstétrica. Nosso foco foi trazer essas histórias para informar as mães e mulheres em geral da periferia da capital de São Paulo, sobre como reivindicar o parto humanizado, além de fornecer explicações de como funciona esse processo; se todas as mulheres podem ter esse tipo de experiência; se esse método é acessível, etc. Ainda, inserimos na reportagem extensa dados sobre a Organização Mundial da Saúde (OMS), como eles retratam a violência obstétrica, dados sobre índice (porcentagem) de cesárea no Brasil. O qual alertamos sobre os riscos que podem gerar para a mãe e o bebê. Também trouxemos explicações sobre cinco diferentes partos para ajudar na escolha das leitoras do “Eu, favelada”; Para esse levantamento, se fez necessário uso de infografia para evidenciar cada categoria de parto de forma clara e objetiva. OBSERVAÇÃO: necessário o uso de fotografia fornecido pelas fontes, infográfico sobre tipos de parto e linguagem de fácil entendimento.
PAUTEIRA/ REVISOR:
Gabriela Cuerba (1947140-8) INFOGRAFIA: Gabriela Cuerba 1947140-8
REPÓRTER:
Gabriela Cuerba 1947140-8 EDITORA: Priscila Ferreira (1954039-6)
B) Transcrições das entrevistas
Isabella D’ercole, repórter da revista Claudia
- O Mídia Kit da revista aponta que 55% dos assinantes da Claudia on-line são pessoas de baixa renda. Mas com que frequência vocês abordam temas que abrangem a mulher periférica que estão dentro desse grupo socioeconômico?
“Quando falamos alta e baixa renda, 'A' é uma classe muito, muito elevada e 'B' é uma classe média, não é exatamente uma mulher de baixa renda, em uma situação vulnerável. Porque ela nem conseguiria ter acesso a um meio digital e muito menos pagar o nosso valor digital [da Revista Claudia on-line], hoje a nossa assinatura digital é R$ 8,90. Parece um valor muito baixo, mas a gente sabe que é um preço que cabe no orçamento de quem ganha, pelo menos, acima de cinco salários mínimos, pois ninguém que ganha um salário mínimo vai pegar uma parte do seu dinheiro para pagar esse tipo de acesso. Então é importante destacar isso, o público chamado de baixa renda no Mídia Kit não são pessoas pertencentes às classes C e D, mas sim as do grupo B.” - Qual é o critério de noticiabilidade para trazer notícias sobre parto/ parto
humanizado? Como é feita a seleção de pauta para a editoria de maternidade da Revista Claudia?
“Quando a gente fala de pautas, a gente pensa nos pilares da marca. Então, a Claudia tem alguns pilares: família é um dos pilares, saúde é outro pilar, aí tem cozinha, beleza, etc. Sendo saúde e família um pilar, toda questão relacionada a maternidade se torna um assunto importante. É... não cabe a nós fazer julgamentos sobre as escolhas das pessoas, mas oferecer informações. O que a gente tem feito é participar ativamente das campanhas internacionais pra combater o excesso de alguns procedimentos que nem sempre são necessários, mas a gente não advoga por nada. É, o que a gente sempre destaca é o como aquilo impacta na vida da mulher. Então qual é a diferença de um parto humanizado na vida da mulher e da criança e aí, as notícias relacionadas são sempre bem-vindas então é casos específicos técnicas novas números que mudam esse é normalmente o critério que a gente usa.” - Você, quanto repórter, busca trazer mulheres plurais como fontes de reportagens,
por exemplo, com representatividade racial, social e de gênero?
“Sim, uma procuração muito grande de Cláudia é, que desde o do princípio, a Cláudia se diz uma revista para a mulher brasileira. Por muito tempo a gente sabe que isso significou uma parcela muito pequena da população, mas, hoje, a gente tem uma ideia de como é diversa a população feminina brasileira. E a gente tenta falar com todos os públicos. Existe uma coisa muito importante que, assim, quem é o público alvo da revista. O público alvo da revista é uma mulher mais do centro urbano. É uma mulher um pouco mais velha, né? Quem de trinta e cinco pra cima. É em sua maioria AB, então obviamente tudo todas as pautas que a gente pensa a gente pensa com enfoque nesse público, mas a obrigatoriedade da pluralidade é uma bandeira que a gente assumiu há alguns anos e que a gente sempre faz questão de manter. Isso nem sempre acontece de uma forma natural, porque a gente tem um olhar viciado obviamente pra quem está próximo de nós pra nossa bolha. Mas a gente tem uma um momento de reflexão ali de olhar. Então quantas profissionais negras estão trabalhando com a gente? Né? A gente exclui de alguma forma mulheres trans ao fazer alguma constatação, a gente em todos os tipos de corpos? Tudo isso que é uma coisa que a gente se questiona quando a gente vai elaborar ou uma foto ou um texto e aí encontra as nossas falhas e repensa a partir daí.
Caroline Dutra, mulher que teve parto humanizado na Casa Angela do SUS
- Como você descobriu o parto humanizado? Porque você disse para mim que você
pesquisou bastante, conversou com mulheres. E quais foram essas informações que elas passaram pra você?
“Eu não tinha conhecimento do parto humanizado. É, na verdade, por incrível que pareça eu conheci a casa de parto através de um amigo do meu esposo. É... nós comentamos com ele que eu estava grávida e assim por não ter sido uma gestação alegre... vamos se dizer assim não foi mil maravilhas quando eu descobri, né? Então eu queria fazer um pouco menos pior do que eu já conhecia, né? Porque assim eu sempre conheci e ouvi relatos de pessoas que me diziam que era péssimo parto no hospital, e eu morria de medo de ter que ir realmente ao hospital, né? E aí, conversando com ele, ele virou e falou assim, ‘vocês precisam conhecer a Casa Ângela.’ Aí eu falei, ‘Casa Ângela?’, ele falou assim: ‘é uma casa de parto.’ Aí eu falei, vou pesquisar pra saber, né? Aí entrei no Instagram primeira coisa que eu fiz e eu vi um vídeo muito bonito que tem lá. Eu acho que se chama ‘a chegada do Pedro’, alguma coisa assim. E eu vi a mulher na banheira, ela estava muito calma nossa então assim eu falei nossa que legal, né? Tipo interessante e aí eu conversei com a minha mãe e perguntei sobre partos, perguntei pra ela como é que foi o meu parto e o parto. Né? E aí ela falou que foi rápido. Falei nossa como assim? Rápido, ela falou assim ‘ó quando a sua irmã nasceu, me internei às quatro a cinco ela nasceu.’ Eu perguntei se foi no hospital e ela disse que sim… e eu falei: ‘mas teve aquela injeção, né? Que os que tem analgesia?’, aí ela falou assim que ela teve opção, mas ela preferia não pegar. Aí eu falei ‘ah legal pelo menos sei que no hospital público se caso eu tiver com medo eu posso ir tomar uma pelo. Né?’ Eu pensei que se eu sentisse dor seria medicada, anestesiada, mas nada disso! Conversando com algumas pessoas descobri que os hospitais não dão mais analgesia em casos de parto normal. E também veio a primeira onda da COVID-19 e isso me assustou ainda mais.” - Quando você teve seu filho na Casa Angela e qual foi a importância de ter o parto
humanizado na sua experiência como mãe?
“Tive meu filho pela Casa Angela e, ano passado [2020], tinham algumas doulas lá, então conversar com elas, desabafar sobre minhas incertezas foi fundamental para a aceitação da gravidez como para os demais processos. Conversar com alguém de fora, que não tinha nada a ver, que não participava da minha vida e eu poder falar tudo aquilo que eu estava sentindo sem ser julgada, dizer que não queria estar grávida e tal. O processo foi lindo e fez com que eu aceitasse e amasse o meu filho.”
- Você comentou sobre o seu plano de parto, poderia explicar o que é e qual a importância dele para a mãe e o bebê?
“É tipo um documento, né? Lá você coloca todos os seus desejos de vontades, para que os profissionais sigam. Claro, não são obrigados a seguir nada, mas é uma forma mais segura de expressar seus desejos e vontades, até porque na hora você estará num momento vulnerável. No meu caso, coloquei que queria parto natural, que queria ficar no chuveiro, que se eu tivesse dor e pedisse analgesia que me dessem. Também pedi para ter o contato pele a pele com o Zion e que o Gabriel [o pai da criança] cortasse o cordão umbilical. O plano de parto foi muito importante para mim e tudo que dava para seguir dele, as
enfermeiras da Casa Angela seguiam. Só a analgesia que estava lá que foi impossível de fazer, mas teve outros métodos para amenizar a dor, como massagens e spinning baby.”
Débora Belo, mulher que teve parto humanizado na Casa de Parto do Sapopemba no SUS
- Quando que você teve sua filha? Por que você escolheu o parto humanizado? Se foi em meio a pandemia, esse fator te influenciou a escolher a casa de parto ao invés de um hospital?
“Fiquei grávida em outubro de 2020 e tive minha bebê em junho de 2021, foi em meio a pandemia, um período difícil de distanciamento. Então, isso foi um fator importante para a escolha da casa de parto, mas não fundamental. Escolhi essa via de parto porque também fui fruto de um parto natural, cresci ouvindo minha mãe falar sobre o parto e que foi maravilhoso e a recuperação rápida. A minha gravidez não foi programada, mas muito bem-vinda. Então, decidi que também queria um parto natural, sem violências e pesquisando bastante, lendo livros e notícias na internet, encontrei a Casa de Parto do Sapopemba e vi avaliações positivas e optei por essa escolha do parto humanizado assim.”
- Como foi sua experiência com a Casa de Parto do Sapopemba?
“Foi como sempre esperei, o atendimento incrível. As enfermeiras super prestativas, me acolheram e sempre vinham ver como eu estava. Elas me deixavam sozinha, claro, para eu ter mais autonomia do processo, mas sempre vinham ver se estava tudo bem. Fiquei muito no chuveiro quando vinham as ondas de dor. Só que houve exames de toque excessivos. Tive laceração e tomei dois pontos. Sinto que deveria ter negado tantos toques. Mas fora isso, tive muita autonomia no processo e uma recuperação muito rápida. Também, respeitaram minha vontade de não dar banho na Teresa assim que nasceu, ela só foi tomar banho no dia seguinte. Respeitaram muito minhas escolhas.”
Ioná e Souza, enfermeira obstetra da Casa Angela
- Qualquer mulher pode ter parto na Casa Angela? E os partos que acabam evoluindo para uma cesárea, como vocês atuam nestes casos de emergência?
“Algumas mães até chegam para dar à luz na casa, fez todo o acompanhamento conosco, mas se no momento que der entrada e o exame do strepto b for positivo [presença de bactérias que podem ser encontradas na região genital feminina], não podemos realizar o parto lá e encaminhamos para um hospital de confiança mais próximo. Em casos de evoluir para uma cesariana, não temos como atender por lá, mas temos à disposição ambulâncias 24h por dia para emergências como essas. Para dar à luz na Casa precisa estar 100% saudável, tanto a mãe quanto o bebê. Não pode ter pressão alta, diabetes, infecção urinária mal curada, ter tido o último filho via cesárea, entre outros pontos que estão no site e eu te passei o link.”
- Vocês fornecem algum tipo de analgesia para as mães?
“Como não possuímos centro cirúrgico na casa, não podemos dar anestesias, mas oferecemos outros métodos para acalmar e diminuir a dor, como massagens com óleos, melhores posições, etc. É bom ressaltar que você pode ter um parto humanizado, por