3 minute read

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O discurso contribui para a constituição de todas as dimensões da estrutura social que, direta ou indiretamente, o moldam e o restringem suas próprias normas econvenções, comotambémrelações, identidades e instituições que lhe são subjacentes. O discurso é uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado. (FAIRCLOUGH, 2001, p.91)

E, por mais que a escolha da jornalista reforce a hegemonia do discurso e o estereótipo que molda as identidades sociais presentes não só nesta, como também na reportagemanalisada anteriormente, ela traz informações importantes sobre parir emcasa em tempos de COVID-19 e, demonstra a partir dos diálogos das especialistas, as recomendações que as mulheres, independente de classe, gênero ou cor, devem tomar na hora de escolher o melhor tipo de parto em tempos de pandemia. No entanto, essa foi mais um exemplo de matéria com neutralização do discurso em que não citam ou difundem a informação que existem as Casas de Parto Humanizado do SUS.

Advertisement

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há 60 anos no mercado editorial, a revista Claudia chegou ao Brasil com o intuito de abrir espaço para debater novas pautas sobre a mulher na sociedade. Segundo a própria revista6, naquela época, não existia diversidade feminina e a abordagem era limitada, por não se referir a todas as mulheres, apenas a um público muito específico – um problema que era comum na comunicação especializada em jornalismo feminino. Com o passar do tempo a revista soube adaptar-se às novas discussões e passou incluir outras figuras femininas para integrar as fontes de reportagens.

Porém, com a empregabilidade da análise crítica do discurso feito nessa pesquisa, foi possível identificar que a revista continua centralizando seu diálogo para um nicho muito específico, como aponta não só o Mídia Kit do veículo, mas igualmente nas reportagens analisadas. E, por mais que a revista afirme que “revolucionou” a imprensa feminina ao trazer pautas e mulheres plurais, em muitos casos, ainda não é isso que acontece. Claro, a Claudia on-line não negligencia a discussão da maternidade e abre, sim, espaço para algumas fontes interseccionais como pudemos ver na reportagem “A atuação das doulas pelo fim da violência obstétrica”. No entanto, ainda há algumas ressalvas na sua escolha, pois, muitas vezes, centralizam o discurso no mesmo tipo de

6 “Como a maior revista feminina do país revolucionou o conteúdo para mulher”, disponível em https://claudia.abril.com.br/sua-vida/60-anos-claudia-veja-a-historia-da-maior-revista-feminina/. Acesso em: 18/11/2021.

perfil: mulheres brancas, elitizadas, de classe média alta que não vivem nas comunidades ou favelas, o que evidencia um certo nível de discriminação social e hegemonia. Ou seja, esse estudo também mostrou como os modos de fazer jornalismo em revista feminina clássica, como é o caso da Claudia, ainda seguem modelos muito parecidos e ultrapassados. E, apesar de cada uma ter um público específico de mulher, a Claudia não abre diálogos direcionados para todo tipo de figura feminina, e acaba centralizando seu olhar em um único perfil, quase sempre imutável. Sua produção repete as mesmas fórmulas ano a pós ano, o que resulta em pautas elitizadas, restrição de acesso à informação, já que conta, em sua maioria, com matérias pagas e fechadas para os assinantes e, claro, centralizado nas mãos das classes A e B. E, apesar de haver uma tendência em mostrar uma nova imagem da mulher, ao trazer algumas figuras interseccionais, as reportagens acabam mantendo representações de determinadas classes e mulheres tradicionais que são a "cara" da revista, mais um motivo para não querer mudar, afinal, não são essas pessoas que consomem massivamente os conteúdos de Claudia. Mas isso também acontece porque não dão abertura para essa nova leitora – que não vem do berço da elite. Logo, a principal reflexão que este estudo trouxe foi que, por mais que as jornalistas tragam debates importantes para o portal de notícias, as fontes utilizadas e o discurso empregado – com base nos pilares da revista – ainda reforçam a construção de relações hierarquizadas e, assim, ao abordar o parto humanizado sem citar a amplitude do SUS, deixam de priorizar as minorias sociais e focam o diálogo diretamente nas classes dominantes. Esse é um tema importante para continuar sendo analisado dentro das práticas jornalísticas voltadas à comunicação social, sobre tudo, em veículos segmentados para mulheres. Pois, a mulher periférica tem direito ao acesso à informação e de se sentir representada nas revistas, assim como qualquer outra pessoa, independente de classe, gênero ou cor de pele.

This article is from: