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APRESENTAÇÃO

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

Leonel Aguiar (2009); Marília Scalzo (2011); Nilson Lage (2019); Patricia Hill Collins (2021), entre outros.

APRESENTAÇÃO

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Esta pesquisa surgiu da hipótese de que a imprensa feminina, principalmente as revistas clássicas como a Claudia, não atingem mulheres da periferia, porque se preocupam apenas em trazer pautas voltadas ao público de classe média e alta que assinam o portal de notícias e/ou a revista impressa. Ou seja, a pauta já “nasce” direcionada para o perfil ideal dos leitores que consomem as matérias pagas – o que está igualmente ligado aos critérios de noticiabilidade –, por isso a ausência de pautas voltadas diretamente à periferia. Ainda, pensando na problematização deste estudo, já citado anteriormente, também trouxemos com base na Teoria do Newsmaking mais uma hipótese para a falta de representação da mulher plural nas matérias aqui analisadas: para chegar neste determinado público, as notícias dependem da iniciativa dos jornalistas e de demandas da sociedade, e elas acabam se tornando produtos do sistema cultural em que são produzidas (PENA, 2020, p.133). Neste caso, necessitam ter o segmento ideal para atingir aqueles que vão consumir as pautas, seja por aproximação geográfica, cultural ou social. Pois, quando se trata desses grandes veículos –como é o caso da Claudia, as pautas são centradas em um determinado meio social, principalmente nas classes elitizadas, como aponta o mídia kit de 20213. O material revela que 81% dos que consomem a assinatura dupla da Revista Claudia, no caso impressa e on-line, são mulheres e, dentro das novas assinantes, 74% fazem parte da elite brasileira e são donas de negócio, além de viverem em espaços urbanos e confortáveis. Isso revela, ainda que inicialmente, que a maior parte das leitoras não fazem parte das periferias, o que evidencia a importância da análise crítica do discurso sob as matérias da editoria de saúde feminina (parto e maternidade), da Revista Claudia no ambiente digital, presente neste estudo, e também, a pesquisa qualitativa aplicada, por enquete de Google Forms, em 97 mulheres residentes das periferias. Dessa forma, desvendamos até que ponto ela escreveu apenas para o tipo de mulheres pertencentes às classes A e B. Com uma análise crítica do discurso também foi possível desvendar quais figuras femininas a Claudia utilizou como fonte para compor as matérias, se houve pluralidade

3 Conteúdo disponível em: https://bit.ly/midiakit2021claudia. Acesso realizado em 28/09/2021.

social e racial e se a revista igualmente abre espaço para diálogos com as mulheres residentes da periferia e como retratam a pluralidade feminina – que neste caso, foi usado da análise da interseccionalidade, ou seja, "a interseccionalidade investiga como as relações interseccionais de poder influenciam as relações sociais em sociedades marcadas pela diversidade, bem como as experiências individuais na vida cotidiana." (COLLINS; BILGE, p.16). E, consequentemente, se essas matérias apresentavam linguagem apropriada que dialoga com as classes C e D e se foram ou não veiculadas de forma gratuita para livre acesso – que neste caso, todas eram exclusivas para assinantes do online, dificultando a democratização da informação sobre saúde feminina Ainda, ao relembrarmos quem são as leitoras de Claudia apontadas no Mídia Kit, podemos detectar um padrão não só deste veículo, mas sim, da maioria das revistas destinadas às mulheres. De acordo com a professora do Departamento de História da Universidade de Brasília, Tania Navarro Swain (2001, p. 71), "o público-alvo é a mulher de classe média, jovem, com um certo nível de instrução e renda, cujas preocupações e interesses são presumidos nos apelos publicitários e nos temas desenvolvidos”. Ainda para Swain (2001), esse padrão é visto comumente nas revistas femininas de renome como Claudia, TRIP e Marie Claire, que são marcadas por uma mulher idealizada pelos meios de comunicação. Por isso, buscamos entender o motivo das revistas femininas ainda negligenciarem a diversidade da mulher brasileira dentro das matérias de saúde (sobre maternidade) e, porque, com o passar dos anos, elas mudam a segmentação do públicoalvo, mas repetem as mesmas fórmulas de fazer jornalismo, como aponta Marília Scalzo: Hoje, as grandes revistas femininas seguem modelos muito parecidos e, apesar de cada uma olhar para um tipo específico de mulher — o seu público —, repetem fórmulas e cobrem mais ou menos o mesmo universo. Por outro lado, a segmentação faz nascerem filhotes também na imprensa feminina. (SCALZO, 2011, p.35)

Ao pensarmos na segmentação, Scalzo (2011, p.16) explica que a revista é “uma comunicação de massa, mas não muito”, pois se a segmentação passa a abranger enormes públicos, difíceis de distinguir, a revista pode correr perigo de “extinção”, por isso, a delimitação do público é necessária, mas ainda não justifica a ausência da representatividade da mulher das periferias. Para complementar o que fora supracitado sobre saúde feminina nas revistas, pautar a gestação e parto nas favelas é de suma relevância na vida dessas pessoas. Uma vez que a informação pode mudar as relações, as performances e contribuir para que

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