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REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

mulheres de diferentes classes possam reivindicar seus direitos quanto ao parto humanizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para que isso aconteça, é necessário que elas se informem e consumam matérias jornalísticas sobre esse segmento. Então essa pesquisa ajuda da mesma forma a entender o que impede as matérias da revista feminina Claudia de chegarem neste público e, consequentemente, como poderemos evitar o mesmo erro no futuro.

REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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A presente pesquisa analisa criticamente as matérias de maternidade – sobre parto – na editoria de saúde da Revista Claudia on-line. Para dar embasamento ao estudo, e o aporte teórico necessário para compreendermos como as revistas femininas escolhem suas pautas e, consequentemente, dialogam com o público-leitor, utilizamos a teoria do Newsmaking e os critérios de noticiabilidade propostos por Mauro Wolf sob explicação de Nelson Traquina (2008) e Felipe Pena (2020) – em termos de relevância, influência do interesse de pessoas envolvidas e proximidade geográfica, cultural e social. Para aplicação e entendimento desta teoria no meio digital, utilizamos também a análise feita por Leonel Aguiar (2009), extraída do livro Jornalismo on-line: modos de fazer. Incluímos, ainda, o pensamento proposto por Jesús Martín-Barbero, teórico dos estudos culturais, que analisa como a recepção midiática ocorre para as pessoas que recebem e decodificam as informações da imprensa. Segundo Martín-Barbero (1997), este processo da recepção da mensagem é mediado por práticas rotineiras que estão inseridas dentro de um contexto social e cultural do sujeito que recebe a notícia. Essas práticas estão constantemente presentes nas interpretações que os receptores fazem de um conteúdo midiático transmitido pela imprensa. No entanto, com base no Newsmaking, para que essas mensagens ou informações cheguem a determinados públicos, as notícias também dependerão da iniciativa dos jornalistas e de demandas da sociedade, que acabam se tornando produtos do sistema cultural que estão inseridas, ou seja:

Para ser noticiável, o acontecimento deve ser significativo; isto é, suscetível de ser interpretado no contexto cultural do leitor. Associado a esse fator está o valor-notícia da proximidade, sobretudo em termos geográficos, mas também em termos culturais. (AGUIAR, 2009, p. 174)

Essa teoria, embora não tão atual, ainda ajuda a moldar esses meios de produção da notícia e, consequentemente, leva em consideração apenas os critérios de noticiabilidade que podem limitar o enquadramento do que "vale ser noticiado", o que afeta os leitores no momento em que se deparam com a matéria a ser decodificada:

Para Wolf, os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios que os jornalistas utilizam na seleção de acontecimentos, isto é, na decisão de escolher um acontecimento como candidato à sua transformação em notícia e esquecer outro acontecimento. (TRAQUINA, 2008, p.78)

Além desses critérios de noticiabilidade pré-determinados, que implicam diretamente no não interesse em trazer mais pautas sobre saúde feminina para os diferentes meios sociais, esse fator está interligado com a segmentação de conteúdos para um determinado público-leitor. Isso também atrapalha o processo das classes C e D receberem as notícias presentes dentro das revistas femininas clássicas, como é o caso da Claudia, que de acordo com o seu Mídia Kit de 2021, já citado nesta pesquisa, detém 74% de novos assinantes pertencentes a elite brasileira, logo, entendemos que as pautas serão segmentadas para a classe A e B, não visando abarcar a interseccionalidade social das mulheres periféricas. Porém, segundo Marília Scalzo (2011), essa segmentação, por mais que não abranja todas as classes, é necessária, pois: “quando atingem públicos enormes e difíceis de distinguir, as revistas começam a correr perigo”, por conseguinte elas passam a ter muito mais demandas, entram em crise e podem deixar de existir por serem “vítimas de seu próprio gigantismo” (p. 16). Mas até que ponto é vantajoso as revistas digitais clássicas não abrirem espaço para pautas que trazem a figura periférica em meio a transformações culturais e sociais? Pois, ao nos depararmos com os conteúdos veiculados na mídia sobre o parto humanizado no Sistema Único de Saúde (SUS), é possível notar que quase sempre está associado a uma narrativa que muitas vezes não corresponde a sua total amplitude; este é um ponto que refletimos sobre o que a mídia mostra como realidade e o que é verossímil. Já que esse recurso gratuito oferecido pelo SUS, ainda não é de conhecimento comum de muitas das mulheres que vivem nas regiões periféricas, fato este que observamos na pesquisa qualitativa aplicada por enquete para 97 pessoas do gênero feminino que estão fora da elite, números estes que serão vistos mais à frente neste artigo. Sendo assim, uma das hipóteses a ser colocada em xeque e analisada minuciosamente com o apoio dos teóricos citados, é que a falta de narrativas complexas

sobre o parto humanizado pode cercar a visão das leitoras sobre o processo, como: o que ele representa, qual sua importância para as mulheres, como reivindicar esse processo, a emancipação da maternidade, entre outros. Outro ponto considerado é o símbolo trazido pelos jornalistas ao retratar a maternidade, o que pode influenciar os olhos de quem lê. Pois, também existe um excesso de notícias em que a maternidade está relacionada, muitas vezes, à violência obstétrica sem considerar sua complexidade e as outras formas de partos que são menos invasivos – como o caso do humanizado –, isso pode reforçar ideias superficiais que colocam o parto como antagonista da saúde feminina. Contudo, para Manuel Castells (2013), existe uma característica comum para todos os processos de construção simbólica emitidos pela mídia:

Embora cada mente humana individual construa seu próprio significado interpretando em seus próprios termos as informações comunicadas, esse processamento mental é condicionado pelo ambiente da comunicação. (CASTELLS, 2013, p. 15)

Esses processos de construção simbólica dependem vastamente das “mensagens e estruturas criadas, formatadas e difundidas nas redes de comunicação multimídia” (CASTELLS, 2013, p. 11) e que apesar de as informações recebidas serem processadas e interpretadas individualmente, estarão eventualmente condicionadas ao ambiente de comunicação, ou seja, estarão também submetidas ao ambiente midiático em que estão inseridas.

Também, para auxiliar a construção do produto final do presente trabalho, utilizamos a pesquisa qualitativa para o aprofundamento e compreensão do objeto de estudo. Desta forma, entendemos como é feita a construção da linguagem empregada nas matérias da editoria de saúde feminina na Revista Claudia no ambiente digital. Com a análise crítica do discurso, desvendamos como o diálogo empregado neste objeto nem sempre atinge as mulheres da periferia, se ocorre casos de desigualdade social ou se trazem pautas com representatividade que abrangem este público-leitor. E, claro, para que a problematização desta pesquisa seja desvendada apropriadamente, buscamos entender como se dá a análise crítica do discurso, como aponta o linguista Teun A. van Dijk:

A Análise Crítica do Discurso (ACD) é um tipo de investigação que estuda, em primeiro lugar, o modo como o abuso do poder social, a dominância e a desigualdade são postos em prática, e igualmente o modo como são produzidos e o modo como se lhes resiste, pelo texto e pela fala, no contexto social [...] os analistas críticos do discurso tomam uma

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