RBSP v. 41 n. 2 - abr. / jun. 2017

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Revista Baiana de Saúde Pública

decorrentes de agressões, 29,06% são brancos, 56,39% são pardos e 7,94% são pretos. Uma vez que não é possível que o indivíduo, por já estar morto, realizar a autodeclaração de raça/cor, essa identificação fica a cargo do profissional que preenche a DO. Análise de entrevistas com funcionários do IML de uma capital brasileira em relação a informação sobre raça/cor da pele revelou que o processo de identificação é omisso, impreciso e distorcido. Houve maior classificação de pretos como pardos, o que cria um erro de informação, alterando dados sobre a morte de indivíduos de cor preta e, consequentemente, os diagnósticos de situação de saúde que orientam as políticas públicas19. As distorções nos dados registrados resultam no embranquecimento da população e colaboram para a dificuldade no reconhecimento das desigualdades em saúde. Argumentos relacionados à subjetividade da definição de raça/cor do indivíduo contribuem com a falta de meios adequados para que a identificação do morto seja feita de forma adequada a sua identidade, podendo configurar prática de racismo institucional20. Especialmente em grandes centros urbanos, as causas externas atingem predominantemente negros jovens de 15 a 49 anos. Em 2004, a taxa de homicídios no Brasil atingiu a população negra em uma proporção de 1,731 vezes maior que a população branca16. Há diferenças importantes na ocorrência de óbitos por causas externas e sexo da população. No presente estudo, na população de 1 a 49 anos, 87,33% dos óbitos por causas externas acometeu a população masculina, sendo desses, 47,3% consequências de agressões. Das mulheres que morrem por causas externas, 38,5% sofrem acidentes de trânsito e 27,8% morrem decorrente de agressões. No Brasil, as causas externas têm sido o grupo de óbitos que mais revela a desigualdade entre homens e mulheres na população adulta de 20 a 59 anos de idade. Um estudo realizado em 2010 chama a atenção para o comportamento agressivo e arriscado dos homens, o que poderia justificar a maior incidência de óbitos por essas causas nesse grupo. Além disso, as mulheres costumam ser vítimas de violências que nem sempre levam à morte, e muitas vezes os agressores são os próprios homens. A incidência de óbitos por causas externas é muito maior entre os homens do que entre as mulheres (36,4% e 10,9%), o que representa, para os homens, um risco quase cinco vezes maior de morrer precocemente por essas causas do que nas mulheres. Um estudo mostrou que a diferença entre sexos é nitidamente identificada na razão da mortalidade que estimou, para cada mulher, quase oito homens morrendo por causas externas no Brasil. Essa diferença pode ser melhor compreendida por meio das desigualdades entre homens e mulheres, observando uma perspectiva de modelos culturais de gênero21. Os dados encontrados estão em consonância com as estatísticas mundiais. Dados divulgados pela OMS, em 2011, mostram que a proporção de óbitos por essas causas é quase o dobro para

v. 41, n. 2, p. 394-409 abr./jun. 2017

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