Terra Vermelha - Raul Leal

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VenVenVentania – fotografia sobre papel – 150x50cm - 2021
Ventania – fotografia sobre papel – 50x50cm - 2021 Ventania – fotografia sobre papel – 50x50cm - 2021

Terra Vermelha

O bioma natural das regiões Norte e Noroeste Fluminense, objeto de estudo e apreço de artistas viajantes que por aqui passaram entre os séculos XVI e XIX, distancia-se cada vez mais do ideário exuberante representado nas gravuras e litografias produzidas ao longo da história. O verde que antes preenchia as cenas que figuravam os livros de viagens destes artistas é, atualmente, invadido pelo tom vermelho causado pela aridez da terra local, evidência dos procedimentos extrativistas que ocasionam a má qualidade do solo, processos de erosão e secas prolongadas. Se o papel da paisagem na arte foi, outrora, compreendido como a representação do belo, do pitoresco ou do exótico, é no sentido contrário que o artista Raul Leal produz os trabalhos aqui presentes. Em suas fotografias, o cenário se apresenta como um espaço de instabilidade: entre a aparição e a desaparição, o registro e o vestígio. O limiar que separa os campos da prática artística e da vida cotidiana foram objetos de longa discussão nas artes visuais, sob os quais alguns artistas tornam-se partidários ao estabelecimento dessa separação, enquanto outros acreditam que a potência da arte se faz justamente no entrecruzamento dos dois campos. Frente aos desafios do Antropoceno (que designa o período social e histórico em que o ser humano domina o meio que o circunda, provocando alterações biofísicas em escala planetária), artistas como Raul Leal se inserem nesta segunda marcha, sob a qual a reconfiguração do sensível só é operada por uma prática artística que toque, comente ou, ainda, proponha uma ação direta no mundo.

Em “Terra Vermelha”, a arte adentra o campo político: todas as imagens e processos que habitam esta exposição se relacionam diretamente com as transformações do território. Como maneira de abordar a questão, Raul produz fotografias que registram os impactos da ação humana na região, e, em seguida, as sobrepõe em placas de madeira. O processo resulta em imagens ruidosas, em que a aparição do material — a madeira — dialoga sobre sua própria extração e produção, um dos fatores que propiciam a crise ambiental local. Opera-se, portanto, uma alteração da semelhança.

Durante um longo tempo, a paisagem brasileira foi tema à serviço da construção de uma unidade cultural e identitária. Exuberante e esplendorosa em evocações ufanistas literárias ou plásticas, ela agora se vê à mercê de um desejo de ordem capitalista em que os recursos naturais são apenas um meio para a geração de riquezas. Frente a este desafio, a série “Ventania” constitui um conjunto de trabalhos que retratam cenas de resiliência botânica, que arduamente resistem a sucumbir. Estas fotografias são superpostas por estrias de madeira natural, cuja operação formal põe em disputa a presença em cena. A intervenção resulta em uma imagem que revela não só a beleza do bioma local, mas o perigo de sua perda.

Já na série “Rebento”, um conjunto de trabalhos fotográficos impressos em chapas de madeira figuram registros de mudas de árvores cultivadas pelo artista em áreas degradadas do Rio de Janeiro. São objetos que se apresentam como zonas de instabilidade, em que fotografias revelam buracos e rasgos em suas aplicações que dão a ver a textura da madeira, ao fundo. As falhas interferem na leitura das imagens, que retratam justamente a possibilidade de salvaguarda do bioma local. Os rasgos, por sua vez, dão a ver o seu produto exportação, a madeira, apontando para a ameaça ecológica que assola o território. Entre a impermanência da imagem e a irreversibilidade da ação humana, Raul busca transformar a denúncia em anúncio, propondo a criação de novas peças realizadas a partir do plantio de mudas nos arredores da sede do SESC-Campos. A exposição adquire, assim, uma configuração de laboratório/ateliê coletivo, encontrando na ação direta uma ponte entre a prática estética e a ação política.

Neste sentido, a exposição “Terra Vermelha” parte do problema de ordem ecológica que assola as regiões Norte e Noroeste Fluminense para propor uma prática artística que evidencie a urgência do debate em torno de um problema ecológico. A força da imagem revela aqui sua potência de convocar da reflexão à ação, impondo-se como uma ferramenta de transformação e agenciamento coletivo.

Lucas Albuquerque Ventania – fotografia sobre papel – 50x50cm - 2021 Ventania – fotografia sobre papel – 50x50cm - 2021
Rebento – monotipia sobre madeira – 31x40cm - 2021
VenVenVentania – fotografia sobre papel – 150x50cm - 2021
Rebento – monotipia sobre madeira – 31x40cm - 2021
Rebento – monotipia sobre madeira – 31x40cm - 2021
VenVenVentania – fotografia sobre papel – 150x50cm - 2021
Rebento – monotipia sobre madeira – 31x40cm - 2021
Ventania – fotografia sobre papel – 50x50cm - 2021 Ventania – fotografia sobre papel – 50x50cm - 2021

A arte nesses rincões tem suas raízes na natureza ou tudo o que a esta pertence – terra, pedras, árvores, bichos, ideias ou quase ideias que escudam dificilmente das coisas e das gentes que com estas convivem, com estas se misturam ou talvez se completam.

Mário Pedrosa

O projeto para essa exposição surgiu da vontade de situar uma ação no local de origem dos trabalhos que a compõe e de fazer um movimento de refluxo em direção a esse eixo periférico representado pelas terras do interior do Brasil.

Terra Vermelha foi uma obra em aberto, de onde se expandiram atividades relacionais que resultaram em novos processos incorporados ao projeto inicial.

Realizamos diversas visitas em parceria com escolas, conversas mediadas por especialistas em meio ambiente, doação de mudas e plantio de árvores na área urbana e rural.

No decorrer das atividades foram realizados novos trabalhos incorporados à exposição, trazendo imagens das mudas de árvores plantadas em Campos.

Um ciclo se encerra, mas os caminhos estão abertos para que outros se iniciem.

Raul Leal

Rebento – monotipia sobre madeira – 31x40cm - 2022

Sobre o artista:

Raul Leal é artista visual formado pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage RJ. É especialista em gestão cultural pela Fundação Cecierj RJ. Residências no Parque Nacional de Itatiaia, na Universidade Federal do Espírito Santo e no Parque Nacional do Caparaó. Realizou diversas exposições individuais e coletivas em galerias e espaços institucionais. Possui trabalhos em instituições como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte de Blumenau, Biblioteca Nacional, Universidade Federal do Espírito Santo, entre outras. Utiliza em sua produção artística os meios da pintura, desenho, fotografia, instalação e vídeo.

SESC RJ

Presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro/FECOMERCIO RJ Antonio Florencio de Queiroz Junior Diretora Regional Regina Pinho

Diretor de Programas Sociais

Fernando Alves da Silva

Diretor de Desenvolvimento Institucional Fabio Soares

Diretor de Comunicação e Marketing Heber Moura Gerente de Cultura Christine Braga (gerente interina) Analista de Cultura

Felipe Capello (Arte Educação) Stela Costa (Artes Visuais)

Unidade Sesc Campos

Gerente

Débora Magalhâes

Analista de Cultura Ronaldo Vicente

EXPOSIÇÃO

Curadoria Lucas Albuquerque Produção executiva Ana Beatriz Vieira Programação visual Mexe / estúdio de propaganda

Assessoria de imprensa Patrícia Bueno Fotografia Antônio Cruz realização produção

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