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RASGUEADOS, PONTEADOS E OUTRAS QUESTÕES

A Viola da Terra tem uma enorme riqueza e diversidade nas nossas Ilhas: desde aspectos diferenciados de construção, de repertório, de contextos onde é tocada e diferentes técnicas de execução. Um Arquipélago, pequeno como o nosso, tem tratado a Viola com muito carinho, diversidade e com abordagens técnicas, que, sendo distintas, só contribuem para a sua valorização.

Abordo a questão das diferentes técnicas de execução da nossa Viola: Nas Ilhas de Santa Maria, São Miguel e Flores, a Viola é tocada (tangida, ponteada) recorrendo ao polegar da mão direita. Quer isto dizer que a pulsação das cordas com a mão direita é efectuada apenas com o polegar, independentemente da velocidade e dificuldade das passagens.

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No caso das Ilhas Graciosa, São Jorge e Terceira, a Viola é ponteada com o indicador. A melodia das modas é executada com o indicador, ficando para o polegar a tarefa de tocar os baixos (ordens de cordas mais graves). É importante assinalar que, em São Jorge, por exemplo, quando estão a fazer acompanhamentos (acordes), fazem‑no de modo rasgado.

Há diferentes formas de aplicar a combinação da execução com o indicador (melodia) e polegar (acompanhamento, baixos, nota pedal) nestas

Ilhas. Há executantes que utilizam o polegar de forma mais regular, “enchendo” a música que executam com melodia e acompanhamento quase em simultâneo. Outros executantes utilizam o polegar de modo mais pontual, tocando o “baixo” em momentos mais “dispersos” ao longo da melodia. Esta combinação é algo que varia, acima de tudo, de acordo com gosto pessoal e conhecimentos de cada um, não havendo uma forma de execução que se possa considerar mais correcta em relação à outra. O importante, a meu ver, é que se conheça, estude e explore estas duas formas de articulação entre os dedos e que se aplique da melhor forma, de acordo com cada contexto musical.

Nas Ilhas do Faial e do Pico, a Viola é tocada com a técnica do rasgado (rasgueado). A função de “pontear” a melodia recai sobre o bandolim e o violino. Deste modo, cabe à Viola o papel de garantir o “ritmo” da música, de manter a dinâmica e vivacidade dos bailes. Há tocadores que referem que a Viola também faria solos, pontualmente, mas que, no contexto dos bailes e serões de Chamarritas, a Viola é rasgada para melhor se afirmar e se fazer ouvir.

O Corvo é a única Ilha na qual desconhecemos registos de executantes de Viola da Terra na actualidade.

Havendo estas 3 técnicas tradicionais de execução: polegar, indicador e polegar e o rasgado, que, de modo generalista, podemos identificar e atribuir a cada Ilha, a realidade é que o contexto de cada Ilha, de cada momento musical, dos conhecimentos de cada músico podem condicionar e orientar para determinada execução. Há, ainda, novas explorações técnicas do instrumento no presente, de acordo com as linguagens musicais que cada um revê na Viola, fruto das suas próprias influências. Independentemente disso, o conhecimento das técnicas tradicionais (técnicas historicamente informadas) é fulcral para o real conhecimento do instrumento.