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A VIOLA E O CARNAVAL

A nossa Viola sempre teve um papel activo no quotidiano dos Açorianos, acompanhando o povo nas festividades e ajuntamentos, ao longo de todo o ano. Normalmente, só pela Quaresma é que a Viola era arrumada em sinal de respeito, durante todo o período de preparação para a Celebração da Páscoa.

Do Natal aos “Reis” ou no “Cantar às Estrelas”, a Viola estava e está presente, com maior ou menor incidência do que no passado, consoante a realidade de cada local.

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Estas tradições têm a particularidade de promoverem o convívio entre as pessoas: nos ensaios, arranjos de letras e músicas, na elaboração das vestimentas, nas deslocações, no frenesim dos bastidores, nos momentos de apresentação (em palco ou pelas ruas) e, depois, na confraternização final, depois de um trabalho bem feito. Há, certamente, a vontade e o objectivo de apresentar um resultado artístico de qualidade, mas a motivação do trabalho conjunto e da celebração de amizades é provavelmente o maior catalisador por detrás de cada grupo.

A Viola aparece no seio destas tradições, fazendo e mantendo o seu papel, graças ao esforço e empenho dos que a ela se dedicam.

O Carnaval não é excepção e, nestas festas, a Viola marca a sua presença.

Uma das grandes tradições da Ilha Graciosa, no Carnaval, são os Serões com “Modas de Viola”. As “Modas Novas” e as “Modas Velhas” dão o mote para grandes bailes de roda, onde o Tocador aparece, tocando e cantando, mas também integrando a roda e fazendo parte do Baile.

Esta tradição passou das casas particulares para os grandes Salões e é comum a vários espaços recreativos da Ilha. Mesmo havendo as Bandas que animam os Bailes de Carnaval, estas interrompem a sua actuação, a meio da noite, para dar espaço aos acordes e solos das Violas da Terra, e aos Bailes com “Modas de Viola”. Esta é uma convivência musical que a Graciosa tem sabido perpetuar com jovens e velhos Tocadores.

Outra tradição é a das “Danças de Carnaval”. Em várias Ilhas dos Açores estas Danças ocorrem, cada qual com características próprias.

A Viola, mais uma vez, assume a sua presença, dando um contributo que já remonta a muitas décadas. A Viola pode aparecer acompanhada de outras Violas, ao lado do Violino, Bandolim, Acordeão e até acompanhada por instrumentos de sopro.

Em alguns locais, as “Danças de Carnaval” eram e são interpretadas só por homens. No caso de Água Retorta, esta Dança da década de 50 do século passado era bailada só por homens. Metade deles vestia‑se, assim, de mulher. A Dança aparece acompanhada por dois Tocadores de Viola. Esta tradição repete‑se, anualmente, na “Dança de Carnaval” da Vila da Povoação.

Na Ilha Graciosa, por outro lado, há registos da década de 50 de “Danças de Carnaval” já com homens e mulheres, o que deve ter representado um grande avanço nas nossas Ilhas para a época.

Na Ilha Terceira temos os “Bailinhos de Carnaval”. É a tradição que mais pessoas movimenta no nosso Arquipélago em torno desta temática. São momentos de grande entusiamo com Salões cheios para assistirem às apresentações dos vários grupos, trazendo a sátira popular envolvida em momentos musicais e com representações teatrais de elevada qualidade.

A Viola da Terra aparece nesses Bailinhos, mas com pouca expressão! No entanto, nos últimos anos, tem‑se assistido a uma retoma da presença da Viola Terceirense nos grupos e sente‑se que há uma vontade de muitos músicos de a tornar uma presença mais assídua nos Salões.

As nossas Violas, na realidade, são instrumentos de pouca “potência acústica” (projecção de som). Se tentarmos compreender o contexto musical actual dos Bailinhos, os mesmos incluem muitos instrumentos: acordeão, bandolim, violão, violino e instrumentos de sopros. No meio de tudo isto a Viola não se consegue fazer ouvir. O Tocador de Viola prefere integrar o Bailinho, tocando outro instrumento, pois, mesmo dando o melhor de si, a Viola fica “abafada” pelos restantes.

Estes vários exemplos tiveram o intuito de documentar a presença da Viola nestas manifestações populares, que decorrem um pouco por todas as Ilhas dos Açores. Retratando o passado, valorizando as tradições e revelando a presença que a Viola ainda tem no presente, principalmente, num mundo em mudança vertiginosa, mas que a Viola e os seus intervenientes teimam em acompanhar.