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ENCONTROS DE VIOLAS, AMIZADES E PARTILHAS

As nossas Violas iniciaram um processo de aproximação com o intuito de criar um movimento colectivo de valorização do instrumento: aprender com as realidades e dificuldades uns dos outros, partilhar ideias, conhecimentos e repertórios.

Os “Encontros de Violas de Arame” começaram a surgir nos últimos anos, havendo mesmo um “Encontro” que já existe há mais de uma década. Em 2009, em Castro Verde, o músico Pedro Mestre, Tocador de Viola Campaniça e ensaiador de Grupos Corais Alentejanos, organizou, juntamente com a “Viola Campaniça Produções Culturais”, o “I Encontro de Violas de Arame Portuguesas”. Este Encontro tornou‑se um importante “motor” na valorização da Viola de Arame no nosso País e criou uma rede de contactos entre músicos que se dedicam, cada qual na sua Região, à preservação da Viola de Arame.

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Neste Encontro participaram José Barros (Viola Braguesa), Pedro Mestre (Viola Campaniça), Rafael Carvalho (Viola da Terra) e Vítor Sardinha (Viola de Arame Madeirense), protagonizando nas oficinas momentos de diálogo com vários músicos e investigadores presentes, falando da realidade e contextos das Violas nas suas Regiões, executando temas e trocando informações. Os quatro músicos realizaram ainda 2 Concertos.

A importância deste Encontro, e que o destaca de outros, é que juntou esta quantidade de Violas mantendo uma continuidade até ao presente. Em 2010, o “II Encontro de Violas de Arame” foi realizado nos Açores, organizado pelo músico Açoriano Rafael Carvalho, contando com os mesmos elementos da primeira edição, mas onde também esteve presente o músico Chico Lobo com a “Viola Caipira” do Brasil (Viola descendente das Violas de Arame Portuguesas). O Encontro teve, em anos seguintes, mais algumas edições no Alentejo, sendo que, em 2018, participou pela primeira a Viola Terceirense (Viola de 15 Cordas) pelas mãos do músico Bruno Bettencourt.

Fig. 18 – II Encontro de Violas de Arame, 2010 – Igreja de São Paulo, Ribeira Quente

Desde 2009 começaram a ser convidados Tocadores de outras Violas de Arame Portuguesas, pelo valioso trabalho que estavam a desenvolver nas suas Regiões. Viola Caiçara (Brasil) e Viola Beiroa (2013),Viola Amarantina (2015), Viola Toeira (2017). A edição de 2019 decorreu pela primeira vez na Madeira.

O Encontro de Violas de Arame teve duas edições no Brasil, em 2015 e 2016, com o nome de “Mostra Internacional de Violas de Arame”. Em 2021, com a situação de pandemia mundial originada pela infecção pela COVID‑ 19 que assolou o mundo, a “III Mostra Internacional de Violas de Arame” decorreu em formato on‑line e contou, pela primeira vez, com a Viola da Terra. Estas três edições foram produzidas pela “Viola Brasil Produções”.

Estes Encontros de Violas têm ainda a particularidade de envolver outros músicos, escolas de violas, investigadores e construtores, o que muito tem contribuído para um envolvimento e entusiasmo das pessoas que não se reduz aos 3 ou 4 dias do Evento.

Há outros Encontros de Violas que vão surgindo, outras formas de diálogo inexistentes no passado, e espera‑se que todo este trabalho contribua para que se reconheça o real valor das nossas Violas.

Este grupo de músicos lançou, há algum tempo, a ideia de uma candidatura da Viola de Arame a Património da Unesco. Todo o trabalho desenvolvido em cada Região, em cada Encontro, por cada músico e investigador ao longo dos últimos anos é um contributo para a afirmação da Viola no nosso País e, até mesmo, da “redescoberta” da mesma em muitos locais. Com um trabalho conjunto, esperamos um dia conseguir concretizar mais este importante objectivo para a valorização das nossas Violas.

A Associação de Juventude Viola da Terra, formada em Dezembro de 2010, começou a organizar anualmente o “Festival Violas do Atlântico”. Desde 2011 que a Viola da Terra recebe uma Viola de Arame convidada, proporcionando, conjuntamente, um ou dois Concertos. Cada músico apresenta‑ ‑se a solo, especificando as técnicas e sonoridades características da sua Viola, mas, depois, tocam várias modas em conjunto, demonstrando a versatilidade e complementaridade musical das nossas Violas.

Fig. 19 – Cartazes das 10 edições do Festival Violas do Atlântico

O músico Açoriano Rafael Carvalho tem sido o anfitrião destes encontros, recebendo em 2011 (1.ª edição) e 2017 Vítor Sardinha, com a Viola de Arame Madeirense. O músico Chico Lobo esteve nas edições de 2012 e 2018, com a Viola Caipira do Brasil.

José Barros trouxe a Viola Braguesa, em 2013, à 3.ª edição, e Amadeu Magalhães visitou‑nos com a Viola Toeira, em 2014. Em 2015 foi a vez da participação da Viola Campaniça, pelas mãos de Pedro Mestre.

A edição de 2016 contou com Orlando Martins, da Ilha do Pico, juntando assim o toque rasgado da Viola, característico daquela Ilha, com o toque ponteado de São Miguel.

A nona edição, em 2019, contou com a Viola Beiroa, pelas mãos do tocador Ricardo Fonseca.

A décima edição decorreu em 2020, em formato on‑line devido à pandemia, juntando os dois modelos de Violas dos Açores: a Viola de 15 Cordas (Viola Terceirense), pelas mãos de Bruno Bettencourt, e a Viola de 12 Cordas. Este Festival tem sido um importante marco para as Violas de Arame pois tem proporcionado encontros inéditos entre as nossas Violas.