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D E S C U L P E, S E U T E M P O ACABOU! Uma peça de Grossi, o Antigo
SUMÁRIO
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Argumento, 4 Primeiro ato, 9 II Ato, 15 Fechamento, 23 Epílogo, 28 Sobre o autor, 33
A R G U M E N T O
(Com o efeito da narração1)
Pede o autor o direito de narrar a comédia onde a clareza assusta, é como uma mãe para a felicidade oportuna, o país que eles chamam de Hilária
Temos duas figuras emblemáticas, um parlamentar e um desembargador, a principio sob encontro casual naquele supermercado banal.
Ao fim de um par de dias, em todas as mídias do mundo é divulgada a notícia sobre o risco da estrutura do núcleo do planeta estar abalada. Chovem incertezas, muitos diriam que seria apenas mais uma bobeira para atrair atenção, o trágico, mas foi naquele dia que
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As partes indicadas entre colchetes também podem ser substituídas por uma narração, fica ao critério da montagem admitida pela companhia, assim como os demais movimentos e trejeitos das personagens não mencionados no texto pelo autor
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viram a nuvem espessa pela primeira vez pairando às vistas.
Misturaram aquelas interpretações, todos sabiam que era o inevitável ali se apresentando, e desse mosto a sentença de que a nuvem chegava, havia agora a desgraça real e o apodrecimento reinante, uma contaminação cruzada. Essa peste gera reações diversas nas pessoas, e seu principal sintoma, o mais curioso, é o agravamento do quadro consumista latente de cada cidadão “O nome é doença da ganância”, eles apelidaram!
Dessa síndrome ninguém sabe as causas mas os efeitos são gerais, é pelo caos, desespero, loucura que brota. Arrependimentos, ‘bateção de cabeça generalizada. E os esclarecidos acalmam se e aceitam a sentença da levada. Mas é o fim mesmo ou apenas um grande ciclo que se encerra? Que seja, o que importa de fato, muitos dizem, é a autopreservação.
Assim, os pequenos seres correm aos supermercados, achando que a onda é passageira, a remediar se pela espera, nutridos e carrinhos cheios, um ar pairado de incertezas.
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Enquanto isso, nas ruas, corajosos ativistas levantam placas. Em seus rostos, nota se certo pio de esperança; estão todos ali juntos, em comoções e choradeira, para enfrentar o que não sabem. Levantaram suas queixas com os dizeres “QUE FAZEMOS?”, “NÃO TRANSFIRA SUA RESPONSABILIDADE!!”, “CONHECIMENTO É LEGAL, FICAR BURRO QUE É VERGONHOSO”, e por fim, listam a mensagem mais usada, escrito nítido “UNIÃO”. Mas será que é lá a raiz do problema, se unir? Há muita revolta, pouca forma, um aquário em transborde.
Dessa forma, com tudo isso rolando, os dois chamemos de “os dois” o parlamentar e o desembargador! Bem, eles vêm chegando ao caixa com seus carrinhos de compras lotados, chega tilintar. Calmamente, papeando como se todos no ambiente se curvassem para sua passagem.
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P E R S O N A G E N S
Em ordem de aparição
Narração Parlamentar Desembargador
Voz do rádio Homem
Segundo homem Mulher Caixa
Senhor de idade
Uma menina
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O CENÁRIO
O interior de um supermercado e seus caixas, depois o estacionamento e a rua logo à frente. Um país hoje renomeado como Hilária, agitação popular
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P R I M E I R O A T O
[O corpo do parlamentar com seus trejeitos ensaiados, ele começa a fala enquanto as mãos passam os produtos do carrinho para a esteira do caixa.]
PARLAMENTAR
(Emitindo um quase suspiro)
Eu apanhei esses maços de fumo porque vai ficar inquieto, sei que cura até sem um uisquinho, hehe(...)
DESENBARGADOR
(Do tipo zoeiro)
Adega boa, hein! E faz parte da humildade, vai dizer que não? ?
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PARLAMENTAR
(Se fazendo de desentendido)
É normal, é? que alguém ‘não chamuscante conteste e tal.
DESENBARGADOR
(Se mostrando para a moça do caixa)
É saudável, e deve ser feito. Incomodar não é legal pra nenhuma das partes. Sabemos que deve existir respeito e harmonia entre as partes. Mas sendo sincero sobre a questão daquela propaganda brutal das imagens nos versos dos pacotes de chamas, convenhamos que é ofensiva, desnecessária, irreal(...)
PARLAMENTAR
(Maneando a cabeça)
Tão sugestiva, segregativa, alguém repara naquilo? Se sim,
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me diz o que um bebê jogado no meio de sujeira e isso inclui umas quantas guimbas de sujeitadas! O que isso tem a ver com o ato?
DESENBARGADOR
(Caricato ao extremo)
Nota 10 pra quem responder essa!
[Eles riem! No sistema de rádio do supermercado, além das ofertas, uma pauta é ouvida, um desses programas que animavam as manhãs das pessoas na cidade.]
NO RÁDIO
(Com ênfase nas palavras)
(...) greve geral; a raiva envolvida; empregadores perdendo grana aos montões; luta por direitos, ânsia pelo bem estar; contra a politicagem e corrupção
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dominadoras; vida mais justa; sem tolices e as enganações; quem de vocês nunca sofreu?
Ou estranhezas nas licitações, obras, notícias do dia, enfim, a gestão dos recursos para os jogos das Arenas e Olimpiácas. Celebração bonita de pessoas, esporte, espírito, união. Esse é o tema geral das conversas de hoje, e agora pedimos a palavra do assistente social de xxiiíiiiií bittťt ‘Arroz 5 kilos agulhinha $9,90, massa de pastel do lar (....)’
[Um grupo de pessoas caminha pelos corredores do local.]
HOMEM
(Dá um tapinha no amigo e fala)
A frase é batida, vocês não me julguem, é assim algo como ‘tudo depende apenas de uma atitude positiva de sua parte!’
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SEGUNDO HOMEM
(Entrando na brincadeira)
E o peidão, ao ver um orgulhoso, empesteia o ambiente do caixa.
É sua forma de se preservar, o caso vai no descontento e no depressivo, ao longe.
“Divirtam se vocês sem culpa, diz ele aos atentos, eu já tenho muitos pesos na consciência. MULHER
(Surpresa, depois rindo)
Como assim? Essa é a fala o orgulhoso, sem entender tamanha descrença?
[Os três chegando ao caixa ao lado do parlamentar e do desembargador.]
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CAIXA
[Os políticos se entreolham e nitidamente fingem não ter ouvido nada da conversa alheia.]
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(Para a mulher e os outros)
Acostume se, e sorri a mocinha atendente.
I I A T O
(Aqui as ações ficam ainda mais a cargo dos atores e suas particularidades inventivas.)
Parlamentar diz: Isso parece até greve geral.
Desembargador retruca: É preciso ser realista, aqui ninguém pode ser revoltar...??
Parlamentar: Uma hora ia acontecer, evidente.
Desembargador: Só fez a galera perder grana, isso sim.
Hunnf. Pra você ver como doar é uma coisa seletiva, a caridade é até certo ponto(..)
Parlamentar: Bem, é o que nos atinge.
Desembargador: QUE PARADA É ESSA? QUAL TEU LADO, MALANDRERO?
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Parlamentar: HHHHHH... ÚU, não curtiu? É feio?
Desembargador: Não disse isso, mas tudo bem.
Parlamentar: Fica esperto, amiguíssimo.
Desembargador: Eu sei, eu sei. Não tem nem pra onde correr.
Parlamentar: Claro, temos limites territoriais para respeitar. Não dá pra sair correndo por aí pelado tipo selvagem.
Desembargador: Aí ia ser interessante.
Parlamentar: Limites territoriais! Isso não deve existir pra gente como a gente.
Desembargador: Quem inventou? Se foi o mesmo que fez o dinheirinho!
Parlamentar: Provavelmente um parente teu, HHHHHU.
Desembargador: É, heheheh, e tua mãe ajudou!
Parlamentar: IUHHHHHHHUH
Desembargador: Duvido, negligente do jeito que era.
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Parlamentar: Eu não ponho minha mãe no fogo, opa, digo, tua mãmi.
Desembargador: BOA!
Parlamentar: UH
Desembargador: Então, eu te questiono, tem ou não uma parte da vastidão na qual podemos nos refugiar?
Parlamentar: Meu filho, lucrativista do jeito que você é, ninguém vai te dar asilo. Ainda mais se souberem do teu passado.
Desembargador: Nem precisa ir longe, o presente já me denuncia!
Parlamentar: Ninguém tem como fugir do nosso “sistema”. Não existe essa opção! Essa é minha resposta.
Desembargador: É como dançar uma música em declínio.
Parlamentar: Olha o senhor e suas expressões chulas... pois é.
Desembargador: Poxa, tem vezes que podemos tomá las emprestadas.
Parlamentar: Vai nessa. Quando o tempo melhorar, por que não pensar em algo
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mais ousado, uma fala sua? Aquelas desculpinhas que inventa.
Desembargador: Atiçar a imaginação das pessoas? Essa eu passo. Além do mais, o tempo não vai melhorar muito por enquanto. Pelo que me disseram, sujaram demais.
Parlamentar: É, eu sei. Como se fosse um rasgo no equilíbrio natural. Custa acreditar, mas sim. O que não são erros de cálculo, sei lá, agora o planeta reclama a vez, da sua forma de agir.
Desembargador: Erros? Esperavam que isso de projeto desse errado um pouco mais longe.
Parlamentar: Somente?
Desembargador: É.
Parlamentar: Sei.
Desembargador: Nos testes, alguns casos foram tratados como reles “acidentes”. Onde esses meninos conseguem seus diplomas?
Parlamentar: Na mesma cachorrada que a gente, com certeza.
Desembargador: Ninguém fiscaliza.
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Parlamentar: Ninguém fiscaliza. Tampouco existe o tal órgão fiscalizador de órgãos. Existe propina, olhaa. As retas do Estado, sempre os mamíferos mamando!!
Desembargador: Tantas utopias cansam. Pelo visto, nem vai rolar. Tem muita questão mais urgente.
Parlamentar: Logo os noticiários vão se dar conta, e as corridas quentes estamparão que o investimento bioquímico dos “superiores” deu em furada, atinge rios e lagos, contamina a água.
Desembargador: Que se eleva, chove, volta, esses processos.
Parlamentar: De processo você entende, não... mundofanticida! Mas enfim. Nem isso, deu algo pior, não sei. Essa tal de nuvem, quem sabe, parece forte. As respostas da Natureza são fortes às vezes.
Desembargador: É.
Parlamentar: Melhor que criem uma lei para retirar dos dicionários a palavra “negligência”.
Desembargador: Pois crie você!
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Parlamentar: É boa a ideia. Farei assim que a poeira assentar.
Desembargador: Positivo.
Parlamentar: Mas não me sai isso da cabeça, ração que faz peixe crescer pra caramba em cativeiro.
Desembargador: São técnicas, imbecil! Umas dão certo, outras não. É preciso saber lidar. Mas vê se larga de me zoar com isso.
Parlamentar: Diz isso para a PRESERVAÇÃO, aos teus eleitores, esses pentelhos.
Desembargador: Eu não! Tenho cara de besta? Existir é do jeito que dá, eles não têm o mesmo molejo.
Parlamentar: “Ração que faz peixe crescer”
Desembargador: Chega de pensar alto, camarada.
Parlamentar: Isso aí. Neste País imediatista, o “jeitinho” é que não vai atrapalhar a gente, pelo contrário.
Desembargador: Mesmo assim, depois de tantas tentativas de “abafar o caso” e “não
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perder credibilidade”, não há manutenção que segure esses tais dos panfletos.
Parlamentar: Isso sim é chato.
Desembargador: Do resto, cuidamos.
Parlamentar: É o que parece.
Desembargador: O que precisam achar que parece, vai distrair a atenção dos panfletistas.
Parlamentar: Como os golpes congregacionais, da capital distante do povo, da igualdade. Teria isso algo a mais?
Desembargador: Essa pergunta é tão retrógrada. Vou deixar para os historiadores de plantão!
Parlamentar: !!
Desembargador: Pois eu rio também!
Parlamentar: É, o plano de desenvolvimento sustentável do país vai por água abaixo. Lá se vão os viciosos, a máquina de grana, os investimentos estrangeiros, os megaeventos, enganações. O mundo vai acabar, caro amigo? Deve mesmo porque se chateou com tantos signos autoritários. É o
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que te pergunto, pois tenho família e preciso dar um jeito.
Desembargador: Que nada, você só pensa na tua conta!
Parlamentar: Maldito, tô nem aí
Desembargador: E agora o que houve com esse teu país, Hilária mesmo; mas o mundo acaba pra quem morre. Aqui estão os males, aqui se encerram. Notícia do fim, esses boatos? Besteiras, rápido esquecem. Cada um diz uma frase que anula a próxima, não vê?
Parlamentar: Ah eu vejo bem, melhor pra mim né. Já diria o adagio, esteja sim preparado para tudo na sua vida; sentimentos contraditórios geram conclusões claras e espontâneas e tal.
Desembargador: Virou filósofo agora, canalinha? O pensador das urnas, ajuda para ganhar em troca.
Parlamentar: HHHHHU
Desembargador: Heheheh e o ruim é que persiste atazanando.
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F E C H A M E N T O
“A fala da moça do caixa” (Se afastando dos outros, os demais atores congelam em cena durante o monólogo)
Pensavam estar a sós com suas, ela inicia, vamos dizer né, queixas de pança cheia, não notavam nem os olhares distintos da gente, dos atingidos. Já estavam nesse esquema, passando as compras, nunca que iriam notar que o eleitorado existe de fato, justamente coexistindo por ali! Só que o ambiente não perdoa, as coisas voltam. Foram indicados por outras pessoas, que isso. Cada qual sua fratura exposta aos sinais da impunidade desmedida daqueles idiotas. O certo é que agora eles estão policiados, vamos ver a sentença, são alvos do próprio lento veneno. Em tronos vãos, ilesos, esqueceram que são perecíveis da mesma forma, esses dois ladrões pelo ego. A indignação floresce já que estão na arena dos populares, paralisados, desprotegidos de
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suas vestes eles também suam com as novas regras!
Acompanhando tudo com bons ouvidos, poderia ser “o rapaz que ensaca as compras”. Ele pararia de fazer seu serviço por essa curiosidade, até dava para analisar os velhacos à sua frente, presentes. Sente nojo. Outros ao redor também, que ouviam a história toda. Todos se detêm e perguntam se era necessário o que faziam com o povo, eles fitam os que enchem a boca de palavras. São fuzilados por seus cargos públicos, claro que sentem a energia daquelas pessoas irritadas pela opção de terem sido um parlamentar ou qualquer nomeação. São eles dois os causadores ou meros estopins? Bem, culpados ou não, é notável que muito contribuíram para a desgraça alheia, feriram.
O rapaz que ensaca as compras enche os pulmões e então pode falar, é sua vez “COMO É QUE É!?” Todo o resto do recinto lhe dá apoio moral, me dá ânimo contar isso! Poderia ser qualquer um de nós ‘A gente esperava muito pelo troco, pega eeles!!’
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“O mesmo povo”, antes inocente, sem saber quase nada do que se passa ao seu redor, agora brinca com os próprios desejos; indo além, a reorganizar o futuro dos seus intuitos, realiza como seria a perfeição da vida em sociedade, já chega, desequilíbrio não. Convém chamar pelo ódio? Não mais, ainda que dê aquela energia para extravasar. É o debate narrado, assistido com incredulidade; uma crise de consciência. “Caiu o mundo, te falar” todo o choque se dá na fila, durante a pesagem. Aquela submissão, a fila, a catástrofe emocional foi que estatelou!
“Ameninadocaixa”, euuu, que achava ridículo como atuavam os ditos diplomados, a exercer uma forma de teatro barato em seus atos, também quer soltar a voz, e eu realizo, pude malhar os gastadores, os inconsequentes.
“Sério assim, e lamentável, pra quem encenam? Será que realmente acreditam que isso vingue? Somos otárias??? É muita falta de respeito... extorquindo?” Tudo isso ela expõe, a mulher, a pessoa comum, depois acabo de dizer e sou acolhida pelas outras vozes reclamando. “Eles armaram tudo!”
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“Da entoação do senhor de idade”
(Se posicionado acima dos outros, e os atores voltam a se movimentar normalmente)
Indigno isso, então é assim? Diante disso, ao fundo, estou aqui! também posso fazer surgir algumas palavras.
A bestialidade se proliferou, foi tudo a seguir. Os responsáveis, os que deram o alerta interno e que fugiram para o cerne de um país, muitas regras e blá, blá, eles vão saber do que vai acontecer; eles se condenam, opaa, como discutem, enrolam, e não vão pra nada, evidentemente, pois só pensam em ganhar tempo, alguma retratação. Porém eles foram notados, e isso quer dizer enfim que é a luz!
“O que os mais novos podem concluir?”
(Reaparece o narrador, e isso causa o estranhamento dos atores)
Perto dali, intervém a narração, uma garotinha perdida vinda da rua olha tudo, as pessoas puxando aqueles dois. Está chorando, é uma
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criança ainda e já não tem mais sua família onde deveria estar. Mesmo assim ela aprende rápido algo sobre o desespero, e se perguntou pela primeira vez quem é que nota mais um ser humano? Quem tem sensibilidade agora? À sua frente a confusão do mercado, uma transmissão irritando os ouvidos. Lá, a imagem da vergonha assistida.
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E P Í L O G O
[Do lado de fora do mercado, o sistema de som continua a noticiar coisas, ainda que sem seus operadores ou alguma supervisão ] NO RÁDIO
(No timbre, a exasperação)
(...) o que motiva um sobrevivente que tem seu emprego fixo de piloto a não deixar subir na condução um aluno das escolas públicas que só, SÓ deseja ir filosofar? Será má índole? O patrão? Será o quê, que o aluno não pode pensar mais??? Mesmo sabendo que a voz das crianças ainda não é forte, mesmo sabendo que poderiam ser seus filhos ali nessa situação que beira o desespero e a humilhação... não tem
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desculpa, não mesmo. Por que se deixam levar pela falta de empatia?? Qualquer que seja o motivo imposto, ou não! não dá direito de impedir o outro de fazer o que é de seu intuito
NO RÁDIO (Cont.)
(Outra voz, então mais branda) (...) país da hipocrisia e da corrupção, um povo que abaixa a cabeça ainda em submissão. Crescem nas falhas, mantém o esquema, as crias sem rumo de um sistema falido. As placas estão espalhadas pelas ruas, as impressões
[O som vai ficando mais distante. Chega o senhor de idade, ele avista a menina perdida na confusão e vai saber o que houve.]
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SENHOR DE IDADE
(Ajudando, sendo gentil)
Na ponta da faca, com a cabeça cheia fazendo tanta questão de aborrecer, pior que é possível, quer dizer, estropiar tudo! Deixa essa gente pra lá.
MENINA (Olhos cheios d’agua)
Eu não seiii, queria saber. MENINA (Cont.)
(Tentando entender)
Oi? Mas por que o senhor está falando isso?
SENHOR DE IDADE (Complacente)
Nada, minha filha, vamos lá que buscaremos nossa ajuda.
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[Alguém acena para eles, indicando que voltem pelo estacionamento. A menina se anima e volta correndo, deixando para traz o pensativo senhor de idade, ainda com mais dúvidas que qualquer um outro no meio daquele dia que foi diferente.]
SENHOR DE IDADE
(Pensando alto)
E eu só consigo pensar naquela frase que eu li, que os mestres são aqueles que saltam como se qualquer precipício fosse o mar
SENHOR DE IDADE (Cont.)
(Dando de ombros)
Se um deles sabe nadar ou não, tem o brilho certo, ou se escuta, aí, bem, vai saber se jogando dentro
[Os atores e toda a companhia e se reúnem no centro do palco e saúdam o público presente, toca uma música em comemoração.]
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Atos I, ano 2022, Edição do autor
Grossi é escritor e músico, publicou entre outros títulos a peça “Beijo técnico”, além do argumento de “Amor, ódio, redenção e morte”. Em prosa poética, lançou “Atos” e “Limiar”. “Cabezada”, “Esencias”, “Maneja” e “En las eras” são suas obras em espanhol. Participou como guitarrista e vocalista das bandas Alice, íO, Instrumental Vox, Ummantra, SAEM e A ras del suelo
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