Proteger #36

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— TEMA DE CAPA

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— CHEGOU A IoT, E AGORA? TEXTO Ana Pipa Responsável pela cibersegurança na IP Carlos Nobre Project Account Manager na UTC F&S Portugal Formador na APSEI

O que tem diferenciado a espécie humana das restantes, não tem sido os diferentes níveis de inteligência, mas as mudanças que impõem e a velocidade que lhes imprime. Para chegar aos dias de hoje, o ser humano passou por várias revoluções, cada uma com tempos mais curtos — alguns milhões de anos para se tornar homo sapiens como caçador/recoletor nómada e milhares de anos como agricultor sedentário. Mas ainda nem sequer passaram 200 anos sobre a última grande revolução, a industrial, e já uma outra revolução se iniciou, a revolução digital, que muda, a cada dia que passa, o paradigma da nossa civilização. Qualquer mudança no passado, demorava, dias, meses ou anos. Era necessário percorrer distâncias enormes, ter um conjunto elevado de pessoas para poderem fazer cálculos complexos, esperar que as árvores e os animais crescessem ao ritmo que a natureza impunha. As viagens aéreas demoraram 68 anos até terem 50 milhões de utilizadores, o telefone cinco anos, a televisão 22 anos e os telemóveis 12 anos. Mas foram apenas necessários quatro anos para que o iPod atingisse o mesmo número de utilizadores, três anos para o Facebook e 19 dias para o Pokemon Go (infografia 1). Estávamos sempre dependentes da terra, do mar ou do ar e dos limites físicos por eles impostos. As próprias Forças Armadas e o mundo civil criaram as suas estruturas baseadas nesta trilogia. Mas a revolução digital veio acrescentar um novo suporte, desta vez virtual, onde já se estabelecem a maioria das comunicações e onde são tomadas muitas decisões críticas. Estamos perante um novo tempo, uma nova era. Tal como no tempo dos descobrimentos o mar era um “mundo” desconhecido que 26.

trazia uma miríade de novas oportunidades e um sem número de perigos, podemos afirmar que o ciberespaço oferece-nos um admirável mundo novo, cheio de novos desafios. A construção deste espaço sem fronteiras já é uma realidade generalizada e (in) discutível, onde a linguagem é feita de conceitos e de relações. Neste mundo a velocidade base é a velocidade da luz, onde as distâncias quase se reduzem a zero, onde é possível simular antes de implementar, onde a proliferação de ideias novas potencializa ainda mais novas ideias e as mudanças têm sido exponenciais e escaláveis. Estamos definitivamente numa era que respira tecnologia! Este novo espaço é local e remoto, é nosso e dos outros. Não é só atmosfera, não é só o número ou endereço IP único que um computador ou dispositivo tem para o designar na Internet, como também é o porto de comunicação que permite estabelecer relação. Mas será que estamos atentos aos perigos que este novo “mar” encerra? Existe um longo caminho a percorrer, do ponto de vista dos processos, das tecnologias, das pessoas e da paisagem organizacional, assim como do enquadramento legal e operacional. Temos, portanto, uma responsabilidade importante em demonstrar a possibilidade de desenvolver novos formatos de pensar para conhecer. Mantemo-nos no processo de descoberta ou de criação de significados múltiplos sobre os ativos e os passivos num ciberespaço experiencial e em mutação constante. Nesta revolução de paradigmas cresceu o ciberespaço com a internet e o seu valor é representado pela internet das coisas proteger  OUTUBRO | DEZEMBRO 2018

1. Número de ano 68

62 anos

50 anos

46

COMPANHIAS AÉREAS

AUTOMÓVEIS

TELEFONE

ELETRICIDADE

anos

1

anos

Fonte: https://i.redd.it/xalrdibs36r01.jpg

(IoT), com uma capacidade de adaptação, de reinvenção, de mudança e de inovação. Os maiores desafios e oportunidades encontram-se nas estruturas e nas dinâmicas. AFINAL, COMO SURGIU A IoT? O grande avanço tecnológico das últimas décadas deve-se ao aumento da capacidade de miniaturização, aumento exponencial da capacidade de processamento e diminuição drástica dos custos da capacidade de memória. Até aos anos 80 do século XX os dispositivos com capacidade de cálculo eram “coisas” grandes e lentas. O GPS, as redes móveis e o telemóvel ainda nem existiam, os portáteis eram uma peça de luxo, as comunicações faziam-se através de equipamentos especiais de comunicação (modems) que funcionavam sobre as linhas analógicas de telefone e demoravam


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