Abrente nº68

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Vozeiro de Primeira Linha

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Ano XVIII • Nº 68 • Segunda jeira • Abril, maio e junho de 2013

Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista Galega

Editorial À medida que a ofensiva capitalista recrudesce, umha parte dos setores sociais mais diretamente afetados organiza-se em estruturas defensivas. Os protestos das plataformas dos longos milhares de famílias e pessoas enganadas polas preferentes, ou de atingidas polos despejos de vivendas, som alguns dos mais conhecidos, pola visibilizaçom na denúncia da política do PP. As suas demandas -que fazemos nossas-, incorporam-se à reclamaçom de emprego, salários e pensons dignas, serviços sociais, sanidade e educaçom pública, universal e de qualidade, futuro para a juventude, que inçam as ruas da Galiza Porém, até o momento estes movimentos e reclamaçons sociais tenhem focado as suas legítimas reivindicaçons de forma parcial e intermitente. Mas os responsáveis das agressons e injustiças que padecem, que padecemos, som os mesmos, o inimigo a quem se enfrentam é idêntico. Chegou pois o momento de que os movimentos populares procurem a imprescindível aliança e acordos programáticos, em base a comuns denominadores, que permitam optimizar ao máximo a sua fortaleza para assim dobrar os governos do PP, da Junta e de Madrid, e favorecer umha mudança radical das políticas socioeconómicas neoliberais. Defesa da saúde pública e do direito à vivenda, defesa do emprego e da educaçom, nom som demandas antagónicas, nem contraditórias. Som o eixo de um programa tático de mínimos que o conjunto do povo trabalhador galego deve vertebrar e desenvolver, contribuindo assim para a articulaçom de umha alternativa de massas à desfeita a que nos conduz o capitalismo espanhol seguindo os ditados da troika. Este programa nom só deve combinar habilmente um conjunto de reivindicaçons plausíveis no atual quadro de economia de mercado, com a necessária orientaçom tendente à superaçom do modo de produçom capitalista. Deve enquadrar-se na situaçom de dependência que padece a Galiza como naçom oprimida por Espanha.

Soberania nacional

Nem é possível superar a exploraçom que padece a maioria social sem mudar as relaçons capitalistas, nem se podem solucionar a imensa maioria dos problemas que padece a Galiza e as suas camadas populares sem recuperarmos a liberdade nacional da nossa pátria. A defesa da soberania nacional é um elemento medular de qualquer programa e reivindicaçom que realmente procure contribuir para a construçom de umha alternativa obreira e popular às políticas neoliberais do PP-PSOE. Sem capacidade de decisom, nom se podem mudar as diretrizes que a burguesia impom por meio dos seus partidos, sindicatos e estruturas de dominaçom. Sem instituiçons soberanas, sem umha Galiza com Estado próprio, nom é possível evitar a destruiçom planificada da nossa economia, alterar o rol que nos impom a divisom internacional de trabalho como destino turístico, regiom produtora de matérias-primas, energia, mao de obra barata, onde instalar indústrias poluentes. Sem soberania, nom é possível solventar os graves problemas que arrasta a cada vez mais minguada frota pesqueira galega, carente de um Estado que defenda os seus intereses, negociando novas áreas de pesca com outros países com base em acordos mutuamente beneficiosos. Sem soberania nacional, nom poderemos evitar que o governinho vendepátrias de Feijó continue a entregar o nosso subsolo, solo e sobressolo às multinacionais mineiras que espoliam e saqueiam os nossos recursos minerais deixando poluiçom, destruiçom e miséria. Sem soberania nacional, nom poderemos alterar a progressiva espanholizaçom da nossa sociedade e inverter a aceleraçom da plena assimilaçom cultural e lingüística por parte de Espanha. Sem soberania nacional, nom poderemos desenhar e implementar umha economia planificada, de orientaçom socialista, que evite a emigraçom maciça da juventude mais preparada, gere pleno emprego e redistribua a riqueza entre o conjunto da populaçom.

Sem soberania, nom poderemos sentar as bases para umha revoluçom cultural que quebre a dominaçom patriarcal, permitindo a emancipaçom plena das mulheres, de mais de metade da força de trabalho. Sem soberania nom é possível construir umha sociedade socialista que garanta o benestar, liberdade e felicidade do nosso povo. Sem soberania nom poderemos ajudar a criar umha nova ordem internacional anti-imperialista, baseada na multipolaridade e nas relaçons igualitárias entre os povos e as naçons do planeta.

Independência e soberania estám interligadas

Porém, para sermos umha Pátria livre e soberana, temos que atingir primeiro a independência nacional. Nom se pode ser naçom soberana sem sermos independentes. Sem Estado próprio, nom há soberania. A reclamaçom, a defesa da independência nacional -sem eufemismos de nengum tipo-, é umha reivindicaçom imprescindível para construir, a partir de posiçons de esquerda anticapitalista e feminista, um movimento popular amplo, plural e abragente que aspire a ser umha alternativa real para essa maioria do nosso povo que, ou bem em silêncio, ou bem resignado, ou bem organizado e luitando na rua, de forma difusa ou mais consciente, deseja e reclama umha radical mudança de rumo. Qualquer programa político que neste país se considere coerentemente de esquerda tem que defender sem complexos nem timoratismos a independência e a soberania nacional da Galiza. A auto-organizaçom obreira e popular som pois condiçons sine qua non para avançar na direçom da liberdade e emancipaçom. Para atingir a independência e a soberania nacional, o povo trabalhador galego tem que construir umha ampla rede organizativa própria, sem submissons nem sucursalismos. Somos nós, exclusivamente nós, o sujeito de decisom do nosso futuro. É o povo galego quem decidirá sem tutelagens nem ingerências externas que

Sumário 3 Num grandioso comício revolucionário, é proclamado o Estado Galego Ramiro Vidal Alvarinho

4 Língua, política e política lingüística Helena Sabel

5-6 A Marxismo em lilás Noa Rios Bergantinhos

7 O desafio bolivariano Amílcar Figueroa Salazar

8 Primeira Linha organizou debate internacional sobre a vigência do marxismo


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país queremos, que sociedade desejamos para os e as que agora vivemos aqui e para as geraçons que ham de vir.

PĂĄtria Socialista

A equaçom soberania-socialismo ganha måxima atualidade. Sem soberania, Ê inviåvel construir as bases de umha sociedade socialista, pois careceríamos dos mecanismos e das ferramentas imprescindíveis para podermos optar à sua edificaçom. E o socialismo Ê a única garantia para preservarmos a soberania nacional de um Estado independente. Por este motivo, as e os comunistas galegos devemos ressituar a utilizaçom do conceito e a palavra de ordem Påtria Socialista. Daí a importåncia que adquire neste momento de profunda multricrise do Estado espanhol a ativaçom de um espaço integrador do conjunto de organizaçons, forças, coletivos e pessoas que coincidimos, partindo da diversidade e do pluralismo, na urgente necessidade de situarmos a reclamaçom da independência e a soberania nacional no eixo da agenda política e social das luitas. Primeira Linha saúda esta iniciativa e aposta numha ampla aliança de forças obeiras e populares em base a um programa avançado que favoreça as convergências das luitas, para injetar confiança no nosso povo, para erguer um muro defensivo das agressons de Espanha, o patriarcado e o capitalismo, para construir poder popular hoje, aqui e agora, para ensaiar o modelo e as futuras instituiçons dumha Påtria independente, livre e soberana.

Direito Ă rebeliom

Nom podemos deixar-nos arrastar polo conformismo e o fatalismo que carateriza em etapas de crise os comportamentos sociais de segmentos populares. Corresponde aos/Ă s

NÂş 68 Abril, maio e junho de 2013

Editorial

comunistas manter permanente luita ideológica, realizar constante pedagogia política para evitar que a ideologia dominante se instale nos setores mais facilmente alienados, e portanto a reaçom poda justificar e aplicar com facilidade as suas baterias de ataques contra as nossas conquistas e direitos como classe, como mulheres e como galegas e galegos. A rebeliom nom só Ê um direito reconhecido internacionalmente quando um povo estå submetido a decisons emanadas de governos ilegítimos. A rebeliom na Galiza do sÊculo XXI Ê umha necessidade. As camarilhas que ocupam Sam Caetano e o governo espanhol de Rajói continuam a adotar medidas lesivas contra os interesses da Galiza e das suas maiorias sociais, incumprindo boa parte dos seus programas eleitorais. Som governos entreguistas, corruptos, cleptocråticos e vinculados com as måfias e o narcotråfico. Som, pois, governos ilegítimos, cada dia mais questionados pola maiorias. Ou bem se demitem ou bem hå que tombå-los. Eis o dilema, os desafios e as tarefas do movimento popular.

A nova ignomĂ­nia do Pacto social

A rebeliom tem que fazer-se extensível ao PSOE, mas tambÊm ao sindicalismo espanhol que neste 1º de Maio, em vez de apelar à luita e transmitir firmeza e confiança na capacidade da nossa classe para frear de forma unida e organizada a ofensiva do Capital, ofertårom uns novos Pactos da Moncloa. O sindicalismo entreguista, amarelo e claudicante da UGT e CCOO opta novamente por realizar ainda mais concessons, por ofertar umha infame paz social que provocarå mais desemprego, exploraçom e misÊria na classe trabalhadora, em troca de subsídios e ajudas que garantam perpetuar os privilÊgios da mas-

Vigo, 1Âş de Maio de 2013

todôntica casta burocråtica. O povo trabalhador galego tem que virar as costas aos partidos do branqueamento e aos sindicatos pactistas, assim como aos que na mesma årea pretendem substituí-los para reproduzir similares políticas. A alternativa emanarå das entranhas do nosso povo, nom de salvadores foråneos, nem de forças alheias desconhecedoras da nossa realidade, que tentam por ativa e por passiva impor o mesmo paradigma unitarista que leva sÊculos provocando a nossa ruína. O discurso e pråtica anticapitalista na Galiza nom se pode ser idêntico às receitas que a esquerda espanhola pode aplicar em Cuenca ou Badajoz. A alternativa serå resultado da síntese criadora das melhores tradiçons de luita que este povo foi construindo nas últimas dÊcadas com a incorporaçom das novas geraçons, reivindicaçons e estilos de intervir. Serå um produto genuinamente galego, pensado na Galiza

e para a Galiza. Nom serå decalque nem cópia, mas criaçom heroica, fazendo nossas as palavras do marxista peruano Carlos Mariåtegui

Greve geral

A convocatória de greve geral Ê umha necessidade para demarcar posiçons entre dous modelos antagónicos de sindicalismo, para facilitar a convergência das luitas, para frear as agressons permanentes, para gerar

as condiçons subjetivas de um novo ciclo de luitas baseado numha estratÊgia permanente e encadeada de mobilizaçons que alterem o guiom que nos imponhem Madrid e Bruxelas. O sindicalismo galego e de classe tem que marcar jå data de greve geral, pois o fundamental Ê somar a cumplicidade ativa dos movimentos sociais em defesa da vivenda, contra o roubo dos bancos, contra a espoliaçom dos nossos recursos, e nom aguardar polo inesperado aval das sucursais na Galiza de Ignacio Fernåndez Toxo e Cåndido Mendez. Esta greve geral tem que ter umha orientaçom política, nom só exclusivamente economicista. O movimento popular nom só tem que incorporar a defesa da soberania nacional, tem que apostar na ruptura democråtica e um processo constituinte galego. Porque nom podemos depositar exclusivamente a orientaçom deste amplo e plural movimento social, obreiro e popular que coletivamente queremos desenvolver -dotado de um programa anticapitalista, feminista e patriótico- nos fetiches do curtoprazismo eleitoral. Com toda a certeza, a mudança vai dar-se na rua. Tal como nós, Espanha e o Capital sabem que aí estå o campo de batalha determinante, que inclinarå a balança em prol da Galiza e das suas camadas populares.

Sam NicolĂĄs, 6, Baixo Ponte Vedra

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ANÁLISE

Ramiro Vidal Alvarinho

Nº 68 Abril, maio e junho de 2013

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Num grandioso comício revolucionário, é proclamado o Estado Galego

Com efeito, tal como informa a rotativa de “El Pueblo Gallego”, às sete da tarde na Alameda de Compostela foi realizado um comício de proporçons monstruosas, no qual se proclamou o Estado Galego (largando amarras com Espanha) e no qual foi nomeado Presidente da Junta Revolucionária da República Galega António Alonso Rios. Esta informaçom é real, nom se trata de um relato de ficçom. Estou a lê-la num documento de enorme valor, umha folha em formato pergaminho que a comissom da Festa da República Galega editou para as pessoas assistentes ao evento na cita do ano passado. Esta folha reproduz a capa do jornal compostelano, que narra com todo o detalhe o acontecido naquela tarde de 27 de junho de 1931 na Alameda, onde perante umha multidom afervoada se está a produzir um facto histórico que os consensos políticos posteriores silenciariam. O contexto histórico em que isto tem lugar é umha Galiza que vive os dias posteriores à fugida da Espanha do rei Alfonso XIII para o exílio, umha Galiza ainda marcada no rural pola forte pressom do caciquismo e as luitas das sociedades agrárias. Há um detonante, dentro deste clima de fragor pré-revolucionário, que fai saltar a faísca para que este episódio de claro cariz independentista se desenvolva; o Estado espanhol paralisa as obras do caminho de ferro entre Ourense e Compostela, umha medida que evidentemente prejudica o País social e economicamente, mas que além disso tem umha conseqüência imediata verdadeiramente amarga: deixa sem emprego 12.000 operários. Isto provocaria umha forte reaçom social, política e institucional. Naqueles dias, “El Pueblo Gallego” fala de umha paralisaçom geral na cidade do Sar, na qual fechariam todos os comércios, obrigando o Ministério da Marinha a enviar um telegrama à Cámara Municipal com umha soluçom de continuidade para as obras cuja cópia se colaria em lugares estratégicos da urbe, ainda que as autoridades municipais nom acreditassem muito na consistência da soluçom oferecida, ao ponto de que há um contato telefónico constante com as autoridades homólogas na capital ourensana para consensualizar a atitude a manter. Segundo reporta “El Pueblo Gallego”, no povo compostelano tampouco há confiança nas promessas do governo espanhol e os operários que trabalham nas obras do caminho de ferro decidem retornar aos seus postos de trabalho, mas na assembleia onde se adota esta decisom também se chega ao acordo de que, se a administraçom central nom cumprisse com o que tinha prometido, a classe operária galega iniciaria umha greve geral revolucionária.

Comício de 27 de junho

Ora, voltando ao incendiário comício de 27 de junho, som para tomar nota algumhas das intervençons extratadas na crónica. Quiçá seja para muitas pessoas inverosímil ler que de algum participante no comício da Alameda saírom palavras como “Isto tem que acabar e vai acabar por cima de todo: Galiza demonstra com clareza que está em pé, em aberta revoluçom para conseguir a sua liberdade, a sua autonomia e a sua independência absoluta” ou “neste momento nom nos interessa a república federal espanhola, mas a República Galega. Vamos lá proclamá-la por cima de todos os caciquismos, de todos os governos civis e de todas as arbitrariedades de um poder central!”. E se isto sai da boca de Carnero Valenzuela, que se fazemos caso de “El Pueblo Gallego”, foi intensamente aplaudido e ovacionado polo povo congregado lá, nom serám menos surpreendentes as palavras do comunista Eduardo Puente a reclamar umha Galiza “soviética, se figer falta” ou do próprio Alonso Rios a afirmar que a revoluçom se tinha que fazer na rua “e por todos os meios” porque “já se esgotou toda via de soluçom humilhante”, ou seja, claramente chamando à ruptura com a via institucional e à rebeliom nas ruas.

Capa de "El Pueblo Gallego" de 28 de junho de 1931

Antom Alonso Rios

O “perigoso” de recordar isto todo, é que nesta crónica que hoje parece ficçom, mas que corresponde a um facto real, identificamos elementos que tenhem vigência plena na atualidade ou até analogia no futuro. É certo que a realmente proclamada República Galega nom tivo um percurso muito mais aló do eco manifestado noutros pontos do País e que tal República nom se chegou a consumar, mas que todos estes factos tivérom lugar ou que vultos da política galega de entom se manifestáram nos termos referidos e o figérom obtendo o aplauso das massas, desmente esse discurso que se refere ao galeguismo como umha corrente ideológica sempre comprometida com a unidade da Espanha e nunca rupturista, sobretodo conservadora e em qualquer caso anedótica. Também desmente o argumento de que a reivindicaçom dos nossos direitos nacionais seja um posicionamento burguês ou pequeno-burguês, que nada tenha a ver com as reivindicaçons da classe operária, umha máxima pola qual organizaçons de esquerda de obediência espanhola tenhem umha enorme querença.

Destacado papel da classe operária na proclamaçom da República Galega

A julgar polos acontecimentos relatados naquela capa de “El Pueblo Gallego”, parece que no espectro de forças e correntes que estavam dispostas a proclamar a independência da Galiza, estavam os comunistas e, polos vistos, a classe operária tivo um especial protagonismo naqueles dias. Os trabalhadores do caminho de ferro estavam dispostos a chamar a classe operária galega à greve geral revolucionária, e sem aguardarem permissom dos sindicatos espanhois. Haverá entom que entender que essa classe operária para alguns alheia sempre às reivindicaçons no plano nacional, aqui se reconhecia sujeito revolucionário em si próprio, legitimado para iniciar a revoluçom na Galiza. Afirmava em linhas mais acima que recordar isto era “perigoso”. Fundamentalmente é perigoso, nom para os que somos independentistas convencid@s, que em todo o caso encontramos aqui provas documentadas de que o independentismo

galego sim tem tradiçom que reivindicar e que nom surgimos do nada; que de facto em situaçons análogas o nacionalismo e a esquerda revolucionária já formulou a independência (e o socialismo, soviético por mais sinal) como resposta. É perigoso para o espanholismo de direita e de esquerda, porque desmonta o mito de que o povo galego nunca reivindicou realmente a independência e que isso de reivindicar a independência com postulados de esquerda é umha invençom fruto das enteléquias de alguns inteletuais e do mimetismo com outros movimentos de outras latitudes. Analisando todo o material que nos oferece a impactante e emocionante crónica, vemos como a proclamaçom do Estado Galego de 27 de junho e o chamado claríssimo à revoluçom surge da consciência do papel marginal que já naqueles tempos o projeto nacional espanhol reservava à Galiza (e nom era umha questom de monarquias ou repúblicas) do descrédito das instituiçons representativas do Estado espanhol em solo galego, por ser o acobilho dos caciques, e da situaçom de opressom que sofriam a classe operária e o povo galego. Claramente fala-se de que é a ruptura com Espanha o objetivo a alcançar, e que a maneira de luitar por ela é na rua e nom nas instituiçons. Os parecidos com a situaçom atual nom fai falta que os explique eu.

Republicanismo espanhol

Há nestes momentos um crescimento da reivindicaçom republicana a nível espanhol. Tomou impulso em 2006, com o Ano da Memória promovido polo governo espanhol da época e toma umha força especial agora que a monarquia espanhola está em horas especialmente baixas, polo seu envolvimento em casos de corrupçom, acentuados polos entraves legais para processar e julgar os membros da Casa Real, o que fai transparecer a desigualdade jurídica entre eles e o resto dos cidadaos e cidadás do Estado espanhol. A monarquia foi elemento coesionador no seu dia, graças à fabulaçom historiográfica fiada em torno da figura de Juan Carlos I, quem para aceder ao trono jurou os Principios Fundamentales del Movimiento, mas que depois juraria a Constituiçom e

orquestraria um auto-golpe para aparecer como “herói da democracia” perante a opiniom pública daqueles anos. O problema é que perante as novas geraçons tanto ele como a instituiçom da monarquia som um anacronismo. Isto fai com que o PCE, através do seu projeto de massas, que é Esquerda Unida, ressuscite o seu durante muitos anos aletargado republicanismo. Os mesmos que aceitárom a monarquia como forma de estado para serem legalizados, agora pretendem liderar a passagem para a república, com a esquerda extraparlamentar como aliada e somando também os nacionalismos de tradiçom mais pactista (sobretodo PNV e CiU) sem descartar que UPyD e PSOE se podam incorporar de maneira ativa a um movimento “revolucionário” que devolva os bourbons ao exílio. Querem fazer do derrocamento do regime bourbónico a “contradiçom principal”, deixando em stand by as reivindicaçons de tipo nacional, sobreentendendo-se que a consecuçom da III República espanhola criará per se um quadro mais favorável a que as naçons com aspiraçons de maior soberania consigam um status mais aceitável para elas, que obviamente nunca passaria pola independência. Reconheceria-se em todo o caso o direito à autodeterminaçom. O que se pede às classes populares galegas, e em particular ao campo soberanista galego, é que fiemos as aspiraçons do povo galego a umha questom de fé de complicado sustento, tendo em conta que foi a partir das instituiçons da II República que se freou a ratificaçom do Estatuto de Autonomia da Galiza de 1936. Porque foi o entom Presidente da República, Santiago Casares Quiroga, quem bloqueou esse trámite até o mesmíssimo dia do Alzamiento Nacional. Foi o mesmo Casares Quiroga que ordenou bombardear a partir do governo militar da Corunha o povo, que reclamava armas para se defender dos fascistas. Se a II República espanhola traiu o povo galego, pode acontecer o mesmo com a III República, e máxime com UPyD e PSOE a liderarem com o PCE esse processo… a que tipo de acordo no plano nacional estariam dispostas estas forças? Umha república naturalmente é melhor do que umha monarquia em princípio, já que nunca numha monarquia oferece liberdade e igualdade reais a quem tem que viver sob o seu mandato, ainda que claro, por outra parte que um Estado se constitua em república nom garante que ofereça condiçons mais avançadas nem no nacional nem no social. A África do Sul do Apartheid era umha república e, em nome dessa república, estava legalmente instituída a desigualdade racial; a França e a Itália som também repúblicas, mas som claramente centralistas no que se refere aos níveis administrativos, no plano lingüístico existe umha só língua que é considerada a da República e o resto som dialetos, e no social, ambos pertencem à dogmaticamente capitalista Uniom Europeia. Porém, o PCE, ainda que tenha um discurso diferente do que os outros dous partidos sistémicos, foi partícipe do regime bourbónico desde que aceita a sua institui-

çom máxima em troca de passar a ser legal. Tam partícipe foi que durante décadas proibiu nos seus atos partidários a exibiçom de bandeiras tricolores, essa que agora querem que ondeemos nós e a aceitemos em pé de igualdade com a nossa estreleira. Proibiu isso, e proibiu a memória dos que matárom e morrérom por essa bandeira. E agora querem-na impor a aqueles que nom temos na reivindicaçom da III República espanhola um ojetivo central nem essencial, porque nom consideramos Espanha a nossa naçom, ainda que evidentemente saudássemos que mais umha monarquia no mundo caísse. Querem que deixemos de parte as nossas reivindicaçons, que consideram veleidades e enteléquias pequeno-burguesas, mas proíbem que se reivindique ou se nomeie a guerrilha galega, que falemos de Henriqueta Outeiro, de Gomes Gaioso, de Manolo Velho, de Benigno Álvares, porque pretendem ter a exclusiva sobre a sua memória e o seu legado. Detalhes como a proclamaçom da República Soviética da Galiza também naqueles dias de junho de 31 em Ourense, a defesa da língua galega e os direitos nacionais por parte do Benigno Álvares, a luita heroica da Henriqueta e a sua defesa da auto-organizaçom dos comunistas galegos, isso todo, quebra a visom metropolocêntrica e uniformizadora que eles dam da resistência contra o fascismo. A questom é que, em primeiro lugar, esse dogma de que todo progressista que morar no Estado espanhol deve ter a República espanhola como horizonte necessário para outros horizontes é como mínimo subscetível de ser posto em causa, toda vez que o facto de que o Estado espanhol se constitua em república nom neutraliza os setores que historicamente se opugérom aos direitos nacionais da Galiza ou de outras naçons. De facto, a oligarquia espanhola no seu dia franquista, e até hoje monárquica, poderá voltar-se republicana e pactuar um mutis da monarquia com o próprio Juan Carlos se virem que é necessário. Porque essa oligarquia já tem experiência em pôr-se à frente das situaçons antes de que essas situaçons a superem, porque fôrom eles os que propiciarom o advenimento da II República, porque fôrom eles os que alimentárom o terrorismo fascista para combater o movimento operário e camponês e mesmo com o tempo convertêrom á organizaçom pistoleira Falange no seu projeto político, ou nom estava pragada a Falange de ex lerrouxistas e ex–cedistas? E, em segundo lugar, há antecedentes de rebeliom real contra Espanha e com umha orientaçom de esquerdas com claro protagonismo do movimento operário. Os comunistas galegos de prática independentista nom estamos instalados em projetos produto de experiências de laboratório, vimos de algumha parte. O Sempre en Galiza de Castelao nom é a Bíblia inquebrantável e esse hispanismo impossível e eterna fonte de frustraçons nem é o teito ideológico máximo ao qual podemos aspirar, nem reflete de maneira total Castelao, pois a sua proximidade política e humana do grupo de A Fouce, nom é um acaso, de qualquer jeito. Nom acreditamos numha esquerda oficial espanhola que pactuou a sua entrada no clube das organizaçons do regime em troca de trair a memória dos seus luitadores em defesa da República espanhola, mas sobretodo pola dignidade humana, e que durante o regime bourbónico vendeu no plano sindical em repetidas ocasions a classe operária galega. Defenderemos sempre a necessidade, e nom a opçom, de que este povo construa umha pátria livre e independente, sem opressom de classe nem de género. E essa luita sim é nossa, inassumível para a burguesia galega que nos ódia e nos teme da maneira mais visceral. Por algum motivo será. Ramiro Vidal Alvarinho fai parte da Direçom Nacional de NÓS-UP


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Nº 68 Abril, maio e junho de 2013

A língua é política. É política quando se converte numha arma de imposiçom cultural para acelerar um processo de exploraçom económica baseada na opressom dum povo, é política quando a sua utilizaçom vai parelha a umha reivindicaçom identitária por oposiçom a outra com que disputa polo mesmo espaço, também é política quando os índices do seu uso dependem de fatores de extraçom social e de classe, e entre muitos outros exemplos que poderíamos citar, umha língua é umha ferramenta política quando competem diferentes estratégias para a sua defesa e conservaçom que respondem a distintos programas táticos e diversos objetivos estratégicos.

Helena Sabel

OPINIOM

Língua, política e política lingüística

Dos velhos conflitos normativos

A Galiza é um desses casos paradoxais em que a diversidade de estratégias que tenhem como fim a normalizaçom lingüística desperta umha das polémicas a respeito do idioma mais encarniçadas, que com freqüência acabam sendo reduzidas de maneira simplista a umha mera questom ortográfica. Em origem trata-se de diferentes táticas que –supostamente– tenhem no alvo o mesmo objetivo: recuperar a hegemonia social da língua galega, mas chegam a ser interpretadas como armadilhas do inimigo com as quais se pretende ocultar o que na verdade seria umha estratégia de imposiçom do espanhol. A muitas/-os de nós nos venhem à mente aquelas palavras do que na altura ostentava o cargo da presidência da Real Academia Galega (RAG), Xosé Luís Méndez Ferrín, quando comparava o movimento reintegracionista com coletivos em prol do assimilacionismo espanholista, afirmando do reintegracionismo que “O mesmo que con Galicia Bilingüe. É xente que está en contra do idioma” (Tempos novos, março 2010). Umha atitude nom menos beligerante mantém o novo presidente dessa instituiçom, Xesús Alonso Montero, quem viu a necessidade de asseverar, nas suas primeiras declaraçons após ocupar o cargo, a sua intoleráncia ante posicionamentos reintegracionistas, afirmando que nom haveria qualquer mudança normativa e muito menos umha que se movesse nesses parámetros, pois mesmo se mostrou absolutamente contrário às ínfimas reformas de 2003 que se negociaram com o daquela chamado ‘reintegracionismo de mínimos’ (Praza Pública, 21/04/2013). Este ódio visceral de certos setores isolacionistas para com o reintegracionismo, que tam freqüentemente se converte no alvo desse tipo de críticas ofensivas por parte de pessoas vinculadas a esse isolacionismo institucional (sendo este, de facto, a origem da maior parte delas), também pode ser analisado ao invés, e ver nessa atitude destrutiva contra um movimento social a maneira de sufocar um ativismo consciente, rupturista e contundente nos seus postulados que, portanto, é daninho e prejudicial quando o que interessa é manter o status quo. Porém, em parte por estarmos acostumadas/-os à esquizofrenia que vivemos no nosso país, nem sequer nos parece surpreendente que pessoas que apelam à proteçom da nossa língua passem mais tempo fazendo umha defesa da sua estratégia baseada no menosprezo dum amplo movimento sociocultural como é o reintegracionismo do que identificando e contestando aos verdadeiros inimigos do nosso idioma. É preciso insistir em que um dos eixos que carateriza o movimento reintegracionista é que este se organiza por volta dum ativismo de base, dumha defesa do idioma que nom se limita a teorizar a respeito de qual é a normativa que do ponto de vista histórico-lingüístico seja a mais ajeitada para codificar a nossa língua, pois a sua proposta normativizadora nom é separável da normalizadora. O reintegracionismo vai além das questons ortográficas, sendo consciente de que para conseguir que o uso da língua galega seja normal no espaço territorial que lhe é historicamente natural nom é suficiente com a mera promoçom do idioma se nom se detetam e combatem os agentes que impedem esta normalizaçom. É ingénuo pensar que as mesmas pessoas que estám interessadas na folcloralizaçom do nosso idioma do ponto de vista sociocultural e na sua hibridaçom com o espanhol do ponto de vista lingüístico sejam as que nos deem os recursos e meios para a sua proteçom. Nom obstante, devemos parabe-

como objetivo tirar dum posto de poder umha pessoa com umha ideologia que o sistema considere tam “molesta” porque, se umha cousa deixou bem clara durante a sua ocupaçom do cargo de presidente da RAG, é que a moral e coerência deste indivíduo pouco tem a ver com as práticas comunistas e independentistas das quais se di que é um grande defensor. Um comunista independentista nom participa em empolados atos com umha atitude de máxima cordialidade e amabilidade com o chefe dum governo corrupto e antipopular, nom defende o nepotismo ultradireitista e espanholista, nom apoia os meios de comunicaçom de massas ao serviço do regime patriarco-burguês do mesmo jeito que nunca um meio difusor da ideologia dominante apoiaria um comunista e, por último, um comunista jamais se inseriria tam simbioticamente no sistema como Ferrín fijo. Ferrín nom supunha qualquer ameaça, nom era molesto nem o mais mínimo, daí que, com certeza, nom devamos procurar na sua suposta ideologia independentista de esquerda a causa da sua queda. De igual maneira deveríamos analisar aqui a figura do atual presidente, que a pouco mais dum mês de tomar posse do cargo, já foi centro da polémica em numerosas ocasions polas suas desafortunadas declaraçons que deixam de manifesto a sua ineptitude para o cargo. É inadmissível que o presidente da RAG admita que nom fala galego com freqüência, ou afirme que “o Bloque é como essas maes que querem muito os nenos pequenos e apertam-nos tanto que os abafam”1. Declaraçons deste tipo parecem confirmar que Montero nom é mais do que um fantoche colocado a modo de marioneta.

A língua e a sua política

Ferrín, sempre conciliador com o poder

Alonso Montero, um colaboracionista com o assimilacionismo espanhol

nizar nestas linhas a classe dominante burguesa-espanhola por saber escolher tam bem de que sabor é o caramelo e a quem tem que ser entregue para converter os órgaos de defesa do nosso idioma numha série de “chiringuitos” institucionais, contentes com qualquer pequena reforma que permita que o galego sobreviva dalgumha maneira, sem importar que esta sobrevivência seja completamente testemunhal, para assim continuar a receber esses saborosos caramelinhos.

Das recentes pugnas polo poder

Escándalos, acusaçons de diversa índole, mudanças nos postos de direçom... o que ficou patente nestes últimos meses é que nom sempre esses “chiringuitos” de que falamos estám satisfeitos com o reparto do bolo, o que provoca umha série de disputas internas que trazem à tona o facto de que, por muito que estas instituiçons tenham na língua a sua razom de ser, esta nom deixa de ter um papel secundário, posto que os interesses pessoais dos agentes involucrados ocupam o primeiro plano. Assim pois, nestes últimos meses a sociedade galega foi umha espetadora pas-

siva –pois como em tantos outros ámbitos que lhe afetam diretamente, somos relegadas de participar ativamente nos processos que seriam da nossa incumbência– dumha trama de acusaçons encontradas, teorias conspiratórias, filtraçons de informaçom, denúncias e demissons. Nom imos desenvolver aqui as denúncias difundidas polos meios de comunicaçom que tivérom Ferrín entre os seus protagonistas, o carro oficial da instituiçom que este presidia, a sua filha e o seu genro; mas sim queremos chamar a atençom para o facto de que Xosé Luis Méndez Ferrín foi acusado de nepotismo e esbanjamento de recursos na sua qualidade de presidente da RAG e que nom se dignou a dar qualquer explicaçom ao respeito. Além do mais, a sua polémica demissom nom foi realizada como um ato de assunçon de responsabilidade ante os factos acima citados, sendo a justificaçom da mesma umhas supostas conspiraçons que afirma que existem contra a sua pessoa. Nom nos interessa aqui analisar detalhadamente o papel que pudo desempenhar Rosario Álvarez e pessoas do seu círculo na hora de conseguir a demissom de

Ferrín, ainda que convenha reconhecer que este nom lho pujo mui difícil. Porém, o que sim se percebe de maneira evidente, sem necessidade de entrar em profundidade nessas disputas internas protagonizadas polos conflitos de interesses, é que nos dias de hoje há um monopólio nos órgaos de direçom à frente das principais instituiçons com competências a respeito da nossa língua e cultura. Assim pois, constatamos que com a manutençom da direçom do Instituto da Língua Galega (ILG) graças à vitória da candidatura continuísta com a, agora ex-diretora, Rosario Álvarez –umha eleiçom que tampouco está isenta da polémica, havendo algumhas acusaçons que denunciavam a manipulaçom do censo e o processo eleitoral, mas que se levárom com muito mais discreçom que noutros organismos–, e com a derrota nas urnas da lista encabeçada por membros da antiga equipa de governo da RAG presidida por Ferrín, encontramos os mesmos nomes, nomes que também ocupam cargos importantes numha terceira instituiçom: o Conselho da Cultura Galega. Porém, o inquestionável é que Ferrín nom é qualquer mártir, nom é vítima dum complô que tinha

A língua é política e no caso galego, a política lingüística deste país depende dos agentes mais interessados na sua desapariçom. É impossível pensarmos que se elaborarám umhas medidas normalizadoras reais a partir das mesmas instituiçons governamentais que apostam num projeto de assimilaçom cultural e ideológica a favor do nacionalismo espanhol: todos aqueles organismos que dependam da Junta da Galiza apenas permitirám reformas que nom atentem contra a estratégia de acumulaçom de capital da burguesia espanhola baseada na opressom nacional, pois, como dizíamos, a língua é política e a carga simbólica que encerra é um elemento desestabilizador dentro dum processo de submetimento e homogeneizaçom. Por outra parte, o que é que se pode esperar de instituiçons privadas como a Real Academia Galega, ou públicas, como o Instituto da Língua Galega e o Conselho da Cultura Galega, das quais a sociedade galega conhece mais os interesses pessoais da gente que está à sua frente do que o seu labor estritamente lingüístico e cultural? A corrupçom que embebe o sistema democrático burguês, apodrecido nos mesmos cimentos, impregna praticamente todo o que faga parte dele e a institucionalizaçom da língua galega por volta do governo autonómica nom fica isenta. A Lei de Normalizaçom Lingüística de 15 de junho de 1983 outorgava o critério de autoridade para a normativizaçom da língua galega à RAG, a umha academia que seguia o modelo da sua rançosa homóloga espanhola, a umha instituiçom elitista que ao longo da sua história manifestara a sua ineptitude na hora de levar a cabo os objetivos que ela mesma se marcava. Mais de trinta anos depois da promulgaçom da lei que normalizaria o uso da nossa língua, constatamos como o nosso idioma nom deixou de cair em número de falantes nem conseguiu frear-se o alarmante processo de castelhanizaçom que vinha sofrendo desde praticamente os finais da Idade Média. Este modelo nom fai mais que demonstrar a sua inutilidade, equipa após equipa, reformulaçom após reformulaçom. Trabalho de base para o prestígio dumha língua internacional, eis as chaves contra o nepotismo das elites e a esterilidade do projeto normalizador. 1 h t t p : / / w w w . v t e l e v i s i o n . e s / i n f o r m a t i vosv/2013/05/07/0031_26_175830.htm

Helena Sabel fai parte da Mesa Nacional de BRIGA


ANÁLISE

É lugar comum afirmar que existiu desde o início do pensamento marxista umha difícil e tensa relaçom com as reivindicaçons feministas, chegando mesmo a ser definida como um casamento mal sucedido. Se bem é certo que o feminismo tivo –e ainda temque abrir-se passagem dentro do marxismo com desigual sucesso dependendo da figura ou época analisada, também o é que reivindicaçons feministas estivérom presentes desde o início da conformaçom deste imenso corpus teórico e prático que denominamos Marxismo. O contexto histórico em que se vam conformando estas novas ideias -principalmente na Europa ao longo do século XIX- está influenciado por dous novos fatores que entram em jogo nesta altura: as significativas mudanças na situaçom socioeconómica das mulheres e o discurso que sobre elas se vai articulando para justificar a perpetuaçom da situaçom de opressom, exploraçom e dominaçom que já suportavam de antes, mas que se verá intensificado e reforçado com o consolidaçom do capitalismo. Muito resumidamente, assinalamos o ascenso da burguesia como nova classe dominante, que traz às costas a imposiçom dos seus valores como norma social de conduta: o matrimónio burguês resultado do amor burguês que tem que formar um lar burguês sob a legenda alcunhada na altura do “Lar, Doce Lar”. Empregárom-se de forma maciça duas premissas para justificar a reclusom das mulheres ao limitado e asfixiante espaço que formam os lares: a sua suposta inferioridade mental e física, tendo que passar da tutelagem paterna à marital (norma legal instaurada a partir do código civil napoleónico) ao tempo que som apresentadas como as depositárias dos valores familiares e responsáveis pola educaçom das crianças e polo ascenso social, moral e económico da família. Simultaneamente às novas necessidades do voraz sistema capitalista obriga à incorporaçom maciça de centenas de milhares de mulheres proletárias ao trabalho industrial, para as quais regem normas específicas muito mais duras e brutais que para os seus companheiros de classe, pois fôrom empregues como mao de obra abundante, barata e submissa, que podia ser introduzida ou excluída do mercado laboral segundo as necessidades do capital, conformando o que Marx denominou como gigantesco exército industrial de reserva. A resposta das mulheres a esta situaçom foi o começo das reivindicaçons feministas, diferentes segundo a classe a que pertenciam, sendo o sufragismo a forma que adotou o feminismo de corte mais burguês e o feminismo socialista ou classista o que se foi conformando ao calor das reivindicaçons operárias. Ambos estivérom fortemente relacionados desde o começo com numerosos vasos comunicantes e campos de batalha comuns e partilhados. Dentro do marxismo, encontramos diversas tomadas de posiçom a respeito destas reivindicaçons em funçom da figura analisada, mas podemos afirmar que é no marxismo onde o feminismo encontra o seu mais útil e necessário aliado, embora esta incontestável afirmaçom nom se veja referendada pola teoria e a prática de muitos auto-denominados marxistas.

O socialismo utópico

Sob esta denominaçom, enquadramos a multidom de autores e autoras que som considerados como antecedentes do marxismo e dentro da qual podemos diferenciar duas correntes no relativo à sua tomada de posiçom a respeito das reivindicaçons feministas. Na favorável à igualdade entre os sexos, nomearemos dous exemplos1: Fourier e Flora Tristán. O primeiro é o autor da célebre sentença que seria recolhida polos próprios Marx e Engels: “(...) a mudança dumha época histórica sempre se deixa determinar em funçom do progresso das mulheres em relaçom à liberdade, porque é aqui, na relaçom da mulher com o homem (...) que aparece de maneira mais evidente a vitória da natureza humana sobre a brutalidade. O grau de emancipaçom da mulher é a medida natural do grau de emancipaçom geral”. E, continuou, “ninguém fica mais profundamente punido do que o homem quando a mulher é mantida na escravatura”. Porém, sem dúvida algumha, será umha mulher de quem quase nom se fala nem se nomeia nos livros de história oficiais, quem levou mais adiante as reivindicaçons femi-

Noa Rios Bergantinhos

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Marxismo em lilás

lheres, combatendo de raiz o determinismo biológico predominante. – Oferecem umha análise histórica das origens da opressom das mulheres, que embora fosse limitada nalguns campos, sim abriu perspetivas e caminhos para aprofundamentos futuros. – Achegam a definiçom da família como um fenómeno social em evoluçom, estabelecendo umha clara ligaçom entre as mudanças estruturais nas relaçons familiares e as mudanças na divisom sexual do trabalho. – Assinalam a ligaçom entre ideologia e interesses materiais, assim como o seu papel na reproduçom de formas específicas de relaçons de poder na sociedade, entre elas a dos homens sobre as mulheres.

August Bebel

«O desenvolvimento amplo da rede de berçários, jardins de infância, cantinas e lavandarias permite a participaçom das mulheres na construçom do socialismo»

«Todo para a Vitória! Das mulheres da URSS para a Frente»

«Trabalhadoras...peguem no fuzil»

nistas na altura. Referimo-nos à francesa Flora Tristan (1803-1844). Os seus posicionamentos a respeito da situaçom das mulheres som muito avançados na altura, mas também no ámbito da teoria socialista podemos considerar esta mulher como umha adiantada, umha socialista da fase de transiçom entre o utopismo e o marxismo, sendo a primeira em situar ao proletariado como o agente principal das transformaçons sociais, antes de que o figessem os próprios Marx e Engels, e ao contrário do que faziam o resto dos utópicos, que apenas pretendiam humanizar o capitalismo. Foi umha das primeiras a compreender a íntima relaçom existente entre a emancipaçom da classe trabalhadora e a emancipaçom das mulheres, gastando boa parte de sua vida a tentar organizar o proletariado com este fim. Afirmará: “a ignoráncia das mulheres do povo tem conseqüências funestas. Sustento que a emancipaçom dos operários é impossível se as mulheres permanecerem neste estado de embrutecimento”. Defendeu também as prostitutas, o direito ao divórcio e à escolha de marido, à igualdade entre filhas e filhos ilegítimos, reclamando em todo momento direitos iguais para homens e mulheres. Na sua obra mais conhecida, Uniom Operária, defendeu a necessidade de conformar umha forte organizaçom de trabalhadores e trabalhadoras que funcionara como um instrumento de luita por melhores condiçons de vida e de transformaçom revolucionária da sociedade capitalista. Nesta obra afirma também: “Mesmo o homem mais oprimido pode oprimir outro ser, que é sua própria mulher. A mulher é a proletária do homem”. Por isso proclamou: “Trabalhadores, em 1791 vossos pais proclamaram a imortal declaraçom dos Direitos do Homem, e graças àquela solene declaraçom sodes homens livres e iguais perante a lei (...) O que toca a vocês fazerem agora é libertar os últimos escravos que existem em França, proclamar os Direitos da Mulher e empregando os mesmos termos que empregaram os vossos pais dizer: ‘nós, o proletariado da França (...) decidimos incluir na nos-

sa Carta os direitos sagrados e inalienáveis da mulher’.” Mas também temos vozes claramente reacionárias a ecoar dentro do socialismo utópico, sendo a mais relevante a de Proudhon. Para ele, a mulher era, sob todos os aspetos, inferior ao homem. Inclusive tentou expressar essa inferioridade em percentagens pseudo-científicas. Polos seus cálculos, a mulher possuía apenas 8/27 da capacidade masculina. Mesmo chegou ao absurdo de defender umha seleçom genética que permitisse eliminar as esposas más e formar umha raça de boas esposas disciplinadas, como se formava umha raça de boas vacas leiteiras. Aspirava a umha legislaçom que desse ao marido o direito de vida e de morte sobre sua mulher. As ideias preconceituosas de Proudhon fariam carreira no movimento operário europeu.

Marx e Engels

As posiçons feministas destes socialistas utópicos teriam um importante impacto no pensamento de dous jovens revolucionários alemáns: Karl Marx e Friedrich Engels, quem se bem ao longo da sua dilatada obra nom dedicárom todo o esforço teórico que teríamos gostado a esta questom2, sim será no seu pensamento que se estruture a análise das raízes históricas da opressom das mulheres e se produzam as principais ferramentas teóricas para entender as relaçons de poder e a sua reproduçom no processo de dominaçom, opressom e exploraçom das mulheres. Dito doutra forma, o seu importante contributo teórico foi o que posteriormente permitiu ao feminismo dar um salto qualitativo, tanto na teoria como na prática. As referências à situaçom das mulheres nestes autores encontramo-la desde os seus primeiros escritos. Assim, nos artigos na Gazeta Renana de 1842, Marx defenderá o direito ao divórcio, rejeitando a ideia da indissolubilidade do casamento. Conforme avança o tempo, e com ele vai madurecendo o seu pensamento, iremos deparando com mais e melhores reflexons, incorporando a ideia-força de Fourier de que “o grau de emancipaçom da mulher é a medida natural

do grau de emancipaçom geral”3. Mas nom será até a elaboraçom de obras como A Ideologia Alemá (1846) e, posteriormente, do Manifesto do Partido Comunista quando estudem e definam, mediante o materialismo-histórico4, as bases da opressom feminina e os caminhos mais adequados para a superar. Consideravam que este passava necessariamente pola revoluçom social que transformasse os meios de produçom e a riqueza por eles produzida em propriedade social, criando assim as condiçons para que a libertaçom da mulher pudesse ser completada. Referência especial merece a obra de Engels A origem da Família, a Propriedade privada e o Estado de 1884. O fundamental desta obra é que rompe de raiz com a ideia de que a mulher já era escrava do homem nas origens da sociedade. Engels afirma que é com o desmoronamento do direito materno quando “a mulher viu-se convertida em servidora, escrava da luxúria do homem e em simples instrumento de reproduçom (…) para assegurar a fidelidade da mulher e a paternidade, foi entregue sem condiçons ao poder do marido. Se ele a mata, tam só está exercendo os seus direitos”. Considera que é na propriedade privada e na necessidade de a preservar, onde se acha a causa e origem da opressom das mulheres, pois era com o seu submetimento a única forma de garantir a acumulaçom de riquezas, assegurando-se de que a propriedade passava de maes a filhos. Evidentemente que esta explicaçom histórica, à luz dos estudos de hoje, require umha outra interpretaçom, mas o importante e significativo é que com ela articulárom a questom feminina dentro da sua teoria geral da História, assinalando lucidamente que a origem da subordinaçom da mulher nom estava na sua capacidade reprodutora, nem em diferentes capacidades físicas, mas em causas sociais com a apariçom da propriedade privada e a exclusom das mulheres da esfera da produçom social. Podemos afirmar entom que na obra de Marx e Engels oferecem, quando menos, quatro contributos fundamentais para o pensamento feminista: – A desnaturalizaçom da opressom das mu-

Se há um autor nesta altura que mereça umha consideraçom especial polo seu contributo para a luita feminista, este deve ser sem dúvida o marxista alemám Augusto Bebel (1840-1913), o primeiro a se debruçar especificamente sobre o problema da emancipaçom das mulheres. Publicará em 1978 a extensa obra A mulher e o socialismo, o qual além de ser um rigoroso e amplo estudo das condiçons socio-económicas das mulheres na segunda metade do século XIX, achega-nos várias e inovadoras ideias de vital importáncia para a prática feminista e revolucionária da altura: Umha delas foi opor-se à equivocada conclusom de que a reivindicaçom da igualdade das mulheres deveria esperar a atuaçom de um futuro Estado socialista ou operário, proclamando que a luita pola plena equiparaçom do sexo feminino devia de ser um componente da luita do proletariado e umha tarefa do presente. Reparemos em que Bebel era o líder da social-democracia alemá do momento, polo que as suas ideias pretendiam ter umha traslaçom imediata à prática política. Outro dos contributos mais inovadores e importantes foi o reconhecimento das especificidades da luita feminista, que permitiria unir as mulheres de várias classes em torno de algumhas bandeiras. Afirmará que “é evidente que as mulheres estam interessadas em agitar-se por melhorar a sua situaçom, em emancipar-se, digámo-lo dumha vez, mas nom contem com os homens, assim como os proletários nom tenhem que contar com a burguesia.” Do ponto de vista da moral sexual, apresenta avanços claros: critica a doutrina sexual da abstinência e do falso e hipócrita pudor social na hora de falar sobre sexualidade “a hipócrita mojigateria e a agochada lascívia dos nossos tempos que se envergonha e se inibe de chamar as cousas polo seu nome e falar dum modo natural das cousas naturais (…) o conhecimento das propriedades dos órgaos sexuais é tam necessário como o de todos os demais órgaos, e o ser humano deve emprestar-lhe os mesmos cuidados”. Deparamos nele com umha clara diferenciaçom entre a sexualidade e a procriaçom, lúcida e avançada visom que terá muita influência em feministas algo posteriores a ele, como Alexandra Kollontai e Clara Zetkin. Resta dizer que embora os posicionamentos do Bebel estivessem bem definidos neste aspeto, nom tivérom o acolhimento esperado nem seguimento no seio da corrente política à qual pertencia, havendo numerosos exemplos de como a prática política fica muitas das vezes por trás do pensamento mais lúcido e avançado. Ao invés, na altura temos também exemplos da prática, sem vacilaçons, de práticas feministas que ultrapassavam de longe os limites sociais estabelecidos para as mulheres, como é o caso da Comuna de Paris com as suas avançadas leis e como exemplo prático da participaçom direta das mulheres em todos os ámbitos sociais, desde a produçom até a defesa armada da primeira experiência dum governo socialista na história.

Lenine

A figura do Lenine nom pode ser abordada desligada da experiência concreta do andamento do primeiro estado operário, ao qual podemos atribuir-lhe o imenso valor de ter sido o primeiro em legislar de forma clara e sem complexos a favor das mulheres e dos seus direitos em multidom de ámbitos. Se bem em termos gerais podemos colocar Lenine claramente dentro dos defensores da passa à página 6


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ANÁLISE

Vem da página 5

igualdade entre os sexos, mostra do qual é a sua abundante obra escrita com referências explícitas e concretas a respeito dos direitos das mulheres e da necessidade da luita feminista, certo é também que nom destaca por ter ideias especialmente avançadas neste campo5. Umha de suas máximas, seguindo a velha tradiçom socialista, era que “o proletariado nom pode lograr a liberdade completa sem conquistar a plena liberdade para as mulheres”. Posicionou-se em inúmeras ocasions a favor do direito ao voto feminino, criticando fortemente a falta de coerência dos social-democratas6, que eram contrários a ele por puro oportunismo político. Em As tarefas do proletariado na nossa revoluçom, escrito em abril de 1917, Lenine afirmou: “Sem incorporar a mulher na participaçom independente tanto na vida política em geral como no serviço social permanente que deve prestar todo cidadao, é inútil falar só em socialismo, e nem sequer de umha democracia completa e estável”. Abundantes som também as suas propostas em matéria de legislaçom laboral referida às mulheres, assim como posicionamentos a favor de direitos como ao divórcio e aborto, assim como a igualdade das crianças legítimas e ilegítimas. Fixo fincapé na importáncia da luita das próprias mulheres trabalhadoras para o seu processo de emancipaçom afirmando que “a emancipaçom dos operários deve ser obra dos próprios operários, e da mesma maneira a emancipaçom das operárias deve ser obra das próprias operárias”. Era muito consciente de que as mulheres nom poderiam ficar à espera da vontade dos homens, mesmo sendo eles sinceros revolucionários. Nom devemos desconsiderar o fundamental que deveu ser para a formaçom do pensamento do Lenine em relaçom ao

Marxismo em lilás feminismo, o facto de se ter rodeado de mulheres claramente feministas ao longo da sua vida, desde Nadezhda Krupskaya até Alexandra Kollontai, passando pola Inés Armand e a própria Clara Zetkin. A Revoluçom Russa foi o melhor exemplo da aplicaçom prática destas ideias. Cá tam só trazemos um breve e incompleto resumo de muitas da conquistas atingidas: aprovou-se o direito ao divórcio, ao aborto, à igualdade política e à uniom de feito; aboliu-se o casamento religioso e a lei anti-sodomia; estabeleceu-se a igualdade de direitos para crianças legítimas e ilegítimas; eliminou-se a potestade marital e instaurou-se o direito da mulher a conservar o seu apelido, endereço e nacionalidade. No plano laboral, instaurou-se a licença por maternidade, as horas de lactaçom e a proteçom no trabalho, construindo umha gigantesca rede pública de infantários, escolas e refeitórios. Do ponto de vista da organizaçom política, cria-se a seçom feminina do Comité Central em 1919, a denominada Zhenotdel, com equivalentes em todas as esferas do Partido7. Resta dizer a enorme influência que a Revoluçom Russa terá no conjunto do sufragismo a nível internacional, e nomeadamente no inglês, assim como em todo o desenvolvimento do feminismo posterior.

Alexandra Kollontai

Este breve e incompleto repasso de marxistas que tivérom algo a dizer sobre a exploraçom das mulheres ficaria muito coxo sem nom figéssemos referência umha das mais importantes marxistas feministas da altura. Referemos-nos à Alexandra Kollontai, responsável dumha grande parte da legislaçom social da Rússia soviética e ministra no primeiro governo revolucionário,

enfoque do feminismo será atacado também polos seus e polas suas camaradas, acusando-a de trastocar as prioridades do Partido e de alentar a anarquia sexual. A dogmatizaçom teórica que se acentuou com o ascenso de Staline afetará também o pensamento feminista marxista, colocando de lado os fundamentais contributos destes e destas marxistas às quais temos feito referência (e muitos outros e outras que por questons de espaço nom pudemos abordar), devendo aguardar até passada a segunda metade do século XX, para voltar a encontrar novos e refrescantes ventos lilás e vermelhos que contribuírom para umha nova jeira dentro do marxismo em lilás.

Alexandra Kollontai

sendo também a primeira mulher no mundo contemporáneo que exerceu o cargo de embaixadora. A sua importáncia e originalidade é tal que requeriria muitas mais linhas que as que este artigo pode oferecer, polo que só assinalaremos a modo de alíneas as achegas mais significativas: – Propom umha síntese de marxismo e feminismo, atacando duramente o feminismo burguês por nom ter em conta as necessidades e reivindicaçons das trabalhadoras, mas também a indiferença que os dirigentes da classe obreira tinham perante a opressom específica das mulheres. – Examina a situaçom da mulher sob o capitalismo a partir de três ámbitos: o trabalho, a família e a relaçom entre os sexos. – Parte das ideias de Marx e Engels para

defender a necessidade da dissoluçom da família burguesa mas vai além deles defendendo a socializaçom do trabalho doméstico e da maternidade. – É a primeira em relacionar a exploraçom laboral e a luita de classes com a sexualidade. – Define à “Mulher Nova”, defendendo que a nova classe social em ascenso, o proletariado, precisa dumha nova ideologia, de novos valores e novos hábitos de vida. Esta mulher nova deve rejeitar às dependências nom só materiais, mas também afetivas, pois até aí a mulher só foi definida polas suas relaçons sentimentais. – Critica duramente a ciência heterocentrista da época, a moral hipócrita da sociedade e o cativeiro amoroso das mulheres. Logicamente, este pioneiro e lúcido

1 Outros socialistas utópicos que poderiamos enquadrar sob esta epígrafe seriam as mulheres Jeanne Désirée, fundadora do jornal La Femme Libré, Claire Demar, Pauline Roland, Jeanne Deroin, Louise Michel e homens como Saint Simon ou J. Stuart Mill. 2 Recomendamos a leitura da obra da marxista Silvia Federici, Calibán y la Bruja, onde se fai umha importante achega crítica sobre o processo de acumulaçom originária estudado por Marx, ao que lhe critica nom ter incorporado o reforçamento e endurecimento do Patriarcado como elemento fundamental e imprescindível para o surgimento do capitalismo como modo de produçom dominante. 3 É nos Manuscritos de 1844 que escreverám: “A relaçom imediata, natural, necessária dos seres humanos é a relaçom do homem com a mulher (...) Eis por que, com fundamento nesta relaçom, se pode aquilatar o grau de desenvolvimento do homem”. 4 Na Ideologia Alemá, eles já afirmavam: “A divisom do trabalho implica, ao mesmo tempo, a repartiçom do trabalho e de seus produtos, distribuiçom desigual, na verdade, tanto quanto à quantidade como quanto a qualidade; onde a mulher e os filhos som os escravos do homem. A escravidom certamente muito rudimentar e latente na família é a primeira propriedade, que, aliás, corresponde já plenamente aqui à definiçom dos economistas modernos segundo a qual ela é a livre disposiçom da força de trabalho de outro”. Assim, o primeiro passo para emancipaçom – e nom o último - seria a incorporaçom da mulher no trabalho social produtivo. “Para que a emancipaçom se torne factível é preciso, antes de todo, que a mulher poda participar da produçom em larga escala social e que o trabalho doméstico nom a ocupe além de umha medida insignificante”, afirmou Engels. 5 As suas conversas com a Clara Zetkin a respeito da moral sexual som bastante clarificadores a este respeito. 6 Reparemos que o termo social-democrata tinha um significado diferente ao atual naquela altura, sendo como se definiam os revolucionários e revolucionárias. 7 A partir de 1923 começa a volta atrás polos ventos involucionistas do estalinismo: em 1926 reinstaura-se o matrimónio e as mulheres deverám ficar ao cargo das crianças; em 1929 suprime-se a Zhenotdel por considerar que a sua labor já está conseguida; em 1937 proibirá-se o aborto e em 1943 as escolas mistas; as mulheres deverám voltar ao lar para que haja trabalho para os homens; a homossexualidade voltará a estar penada reinstaurando-se a figura de filho e filha ilegítima e dificultando o divórcio, etc. Cria o título de Mae Heroica para aquela mulher com umha descendência de 10 crianças e a Ordem de Glória Maternal para aquelas que fiquem entre as 7 e as 10.

Noa Rios Bergantinhos fai parte do Comité Central de Primeira Linha

LIVROS David Harvey Ciudades rebeldes. Del derecho de la ciudad a la revolución urbana Madrid, Ediciones Akal, S.A., 2013, 240 páginas

Castelao (versom em língua portugesa: Fernando Vasques Corredoira) Sempre em Galiza Compostela, Através Editora, 2010, 580 páginas

O liberalismo económico proclama umha cidade em expansom incontrolada, enquanto que o ambientalismo de esquerda está aterrorizado muito amiúde diante da degradaçom ecológica e social dessas “megapolis” em que fai contraste a sumptuosidade com a miséria, enquanto o autor se emprenha em dilucidar a criaçom dumha polis positiva e resistente à acumulaçom de indigência que vai paralela, ou melhor, que está integrada, com a acumulaçom do Capital, e mostra-se crítico com determinados enfoques dum marxismo da velha escola, ao qual nom lhe é doado ir além da fábrica para se situar na cidade e as novas luitas proletárias, e assim mesmo com horizontalismos muito presos do fetiche do assemblearismo e incapazes de se enfrontar com um sistema articulado em alto grau. O livro abre com um prefácio a respeito da Icária de Henri Lefebvre, com a sua visom dum movimento revolucionário, quando diversos grupos heterotópicos perscrutam de súbito, mesmo num instante efémero, as possibilidades de dar existência a algo diferente, porém é consciente da dificuldade de derrubar a isotopia (essa ordem espacial do Capital e do Estado) e de que os espaços heterotópicos dos grupos anómicos acabam por ser absorvidos na práxis dominante. Sabe que há que destruir a totalidade do sistema e que reivindicar o direito à cidade somente é um degráu intermédio. Um primeiro capítulo sobre o direito à cidade em que reivindica, nestes tempos dumha singularmente violenta economia da despossessom, um direito coletivo a reinventar a cidade, a mudar o mundo, como consigna de trabalho e ideal político. Em As raízes urbanas das crises capitalistas afronta com certa minudência a dominaçom da classe capitalista sobre os aparatos do Estado e sobre toda a populaçom (formas de vida, capacidade laboral, valores culturais e políticos, conceçons do mundo…). Som, já que logo, as cidades importantes focos de luita económica, social, política e ideológica emancipatória. A criaçom de bens comuns urbanos pensa que é algo que princípia agora a ser reconhecido e elaborado a nível teórico-prático e que há avondosas sinais nos movimentos sociais da existência de grandes massas críticas de energia política e em disposiçom de atuar. Um quarto capítulo sobre a arte da renda, onde tenta chamar a atençom sobre a adoraçom do “marketing da arte” polos capitalistas e a tendência a colocar nos produtos um selo de monopólio e vender todo como original, autêntico e único. Um longo capítulo, Reclamar a cidade para a luita anticapitalista, fai análise de formas de luita, mas é sabedor de que criar umha cidade totalmente comunista no meio do capitalismo levará provavelmente a umha repressom real e violenta… Será factível corroer por dentro umha estrutura capitalista para que entre em colapso? Ainda restam dous muito breves ensaios a respeito do capitalismo montaraz de Londres 2011 ou Occupy Wall Street como némesis contra o partido de Wall Street. Um livro com constantes referências à Comuna de Paris e que há que ler e debater. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

A Associaçom Galega da Língua tirou do prelo, sob a sua marca editorial Através Editoria, umha nova ediçom da obra de Castelao Sempre em Galiza, mas editada pola primeira vez na norma internacional da nossa língua, o português. Esta é umha fantástica notícia, pois numha grande parte é a culminaçom do desejo de Castelao de que “as palavras voem por cima das fronteiras”, e supom a visibilizaçom prática do reintegracionismo ideológico do mais grande referente do galeguismo histórico, e símbolo de massas do nacionalismo. Esta internacional do Sempre em Galiza é a concreçom do pensamento reintegracionista inerente ao nosso processo de construçom nacional desde o seus inicios, e publicar a Castelao na normativa luso-brasileira é a visibilizaçom necessária disto. Ao tempo, esta ediçom supom a internacionalizaçom através do espaço lusófono da obra mitica, e talvez em grande parte fundacional, do nacionalismo galego. Num momento onde Castelao volta a ser um espaço comum de legitimaçom de diferente comportamento da esquerda nacional, estamos na ocasiom perfeita para repassarmos em profundida a sua obra, expressom da sua vida. Pois isso é o Sempre em Galiza, a foto fixa da evoluçom ideológica de Afonso Daniel Rodrigues Castelao na dificil encruzilhada da realidade politica da decada de 30 e 40 do seculo XX. Achamos que hoje é mais necessário que nunca aprender da deceçom sofrida polo pensador de Rianjo por parte da esquerda espanhola, e como essa deceçom se transforma em confiança nas forças próprias. Voltarmos ao Sempre em Galiza a partir da esquerda independentista e socialista galega é um exercício histórico, para comprovarmos que o Castelao frentepopulista de 1936 nom é o mesmo que o proto-independentista de 1947. A obra magna do de Rianjo nom é um totem nem umha Bíblia, mas um ponto de partida para a adoçom dumha consciência nacional com sentido transformador, mas também tem a virtude da impossibilidade da sua apropriaçom partidária devido ao caráter poliédrico do seu pensamento em relaçom à suas próprias vivências. Em definitivo, umha obra de necessária releitura, nestes tempos de profundo debate ideológico de principios no campo da esquerda e do nacionalismo. (Miguel Cuba)

WEB La Araña Feminista... y Socialista encuentrofeminista.weebly.com Este é o espaço web da organizaçom feminista venezuelana La Araña Feminista, que se define a si mesma como umha “rede de coletivos e individualidades feministas socialistas revolucionárias” que agrupa mais de trinta entidades sob o seu nome. Neste web, pode-se encontrar informaçom sobre as recentes campanhas levadas avante pola Araña (pola despenalizaçom do aborto; contra a violência machista; de apoio ao legítimo governo de Nicolás Maduro; etc) assim como os princípios políticos, ideológicos e organizativos desta original entidade feminista da Venezuela.

Jean Salem A felicidade ou a arte de ser feliz quando os tempos vão maus Beja, Cooperativa Cultural Alentejana, 2012, 148 páginas Jean Salem, partindo do conhecimento do “heroísmo dos nossos pais que fôrom militantes convictos”, fai um reconhecimento revolucionário à felicidade de amar, à felicidade de acreditar na felicidade terrestre. De amar e luitar. Mas nos inícios dos anos 80 e com o advento dos tempos do desmoronamento, da desordem e da cacarejada morte de Marx, confessa que em vez de dedicar a Marx “umha milésima parte de doutoramento” debruçou-se no materialismo antigo. Nesta procura erudita, dá um passeio e volta visitar aos clássicos, acompanhado de Epicuro matizado com muitíssimo marxismo, polo Jean, que em definiçons do Miguel Urbano “é um daqueles humanistas, cada vez mais raros, que som homens de cultura integrada”. Salem marca no livro a cadência “e confere harmonia a este orfeom tam diversificado”, de Tolstoi a Santo Agostinho, Maupassant, Moliere, Tchekov, Shakespeare, e muitíssimos grandes filósofos. A felicidade é o tema central do livro, o objetivo supremo do género humano. Através do percurso histórico, analisa e revista os clássicos, os pensadores da antigüidade, mas também os pós-modernos e consegue explicar com certeza a felicidade como “conceito ecrám” doença pós-moderna, a felicidade comercial do pressentísmo, das sondagens em tempos de “cretinizaçom sistemática” a felicidade comercial dentro do discurso: democracia fast-food e fast-life em grande parte produto das opinions da classe média. A radicalidade sempre defrontada com a mediocridade imposta. Contra a filosofia “oca e sem esqueleto”, o prazer indissociável da felicidade, antítese de qualquer ideia do prazer como pecado. O amor universal e diverso. Pontes construídas em ensaio, A felicidade ou a arte de ser feliz... como luita consciente na defesa e como parte intrínseca da revoluçom e das revolucionárias. (Xavier Moreda)


Internacional

Amílcar Figueroa Salazar

Nº 68 Abril, maio e junho de 2013

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O desafio bolivariano

No Conselho de Ministros de 20 de outubro de 2012, Hugo Chávez evidencia o que foi a sua busca mais angustiosa: conseguir o ponto de nom retorno ao caminho socialista por ele traçado. “Comuna ou nada” foi a determinaçom radical que marcou aquela reflexom que depois foi recolhida polo MINCI no livro titulado O Golpe de Leme1, de cujo estudo nom deve subtrair-se quem aspirar a refletir sobre o porvir do processo bolivariano; objetivamente, analisa se finalmente podemos romper ou nom com a lógica do sistema do capital. Este é um problema central, que nom pode ser resolvido polos processos socialistas euro asiáticos do século XX, apesar da genialidade dos seus dirigentes, e que se apresenta como o grande desafio a superar polos processos de mudanças revolucionárias surgidos na América Latina na primeira década do século XXI e cujo impulso inicial o gerou a irrupçom da insurgência bolivariana na Venezuela. Ora, é indubitável que o ponto de nom retorno passa por consolidar a hegemonia revolucionária, a qual nom deve ser entendida só como obtençom de umha maioria eleitoral, como equivocamente interpretam alguns camaradas; é imprescindível umha hegemonia social, e mais ainda, que a cultura revolucionária passe a ser a cultura dominante da sociedade; e devemos começar por reconhecer que nunca a cultura burguesa perdeu sua primacia no nosso país. De outubro a hoje a história acelerou-se. O hiper agressivo cancro (provavelmente inoculado) terminou por liquidar fisicamente o Comandante Hugo Chávez, líder da Revoluçom, com consequências inimagináveis, mas que já começam a incidir no complexo quadro político presente. Nicolás Maduro, postulado expressamente por Chávez para ir à luita eleitoral em caso do previsível desfecho da sua doença, ganhou as eleiçons de 14 de abril; ao mesmo tempo, regista-se umha importante ascensom da contrarrevoluçom, que tenta nom respeitar os 273.056 votos de vantagem das forças socialistas. As forças do capital (Estados Unidos, o paramilitarismo colombiano encabeçado por Álvaro Uribe Vélez, outros aliados da direita internacional e, com certeza, as forças do fascismo interno) consideram ter chegado o momento para acelerar o seu plano desestabilizador, o qual vinha em desenvolvimento desde longo tempo atrás, e que aspira a liquidar o processo bolivariano em tempo peremptório, aplicando esquemas intervencionistas já praticados em outras partes do mundo. A violência desatada nos dias posteriores ao dia 14 de abril, conseqüência da intençom pré-establecida de desconhecer o resultado eleitoral, é parte do esquema: desestabilizaçom-ingovernabilidade-intervençom estrangeira, polo qual está a discorrer o candidato perdedor Capriles Radonski e a direçom da extrema-direita venezuelana. Até o presente, contabilizam-se 9 falecidos e 120 lesionados, simultaneamente de vários Centros de Diagnóstico Integral -CDI- incendiados. Por todo isso, devem responder os seus instigadores. Essa violência recorda-nos ensinanças da história de muitos momentos e países: a burguesia que se mostra como campeá da democracia recorre à força cada vez que está em questom a sua dominaçom. No entanto, a atual violência apoia-se num fenómeno novo no nosso país: um segmento da populaçom (pequeno por enquanto) tem sido arrastado para o fascismo, vítima da influência mediática do sistema do capital. Este facto tínhamo-lo advertido num artigo publicado meses atrás sob o título “Tendências fascistas na direita venezuelana”2. O fascismo atual, tal como o histórico, surge como umha reaçom das chamadas camadas médias, horrorizadas diante da possibilidade do socialismo, num esforço político que, em última instáncia,

serve aos interesses do capital financeiro. Na Venezuela, a sua presença começa a se estender para setores do lumpen proletariado e inclusive de trabalhadores desprovistos de consciência social que nom conseguem ver os avanços que nestes 14 anos conseguiu o povo trabalhador. De tal forma, a direita conseguiu melhorar sua posiçom na correlaçom de forças existente no país depois de um esforço gigantesco dos seus atores internos e externos e da aplicaçom sistemática de um plano que tem elementos essenciais fora do enquadramento do paradigma por ela apregonado, a democracia burguesa; eles som: -operaçom centrífuga para incrementar a fuga de capitais, desabastecimento de alimentos e outros produtos, incremento da especulaçom e da carestia nos circuitos privados, entrada ao país de força paramilitar, sabotagem ao sistema elétrico; todo isso acompanhado de um esmagador despregamento mediático nacional e internacional orientado para deslegitimar o governo e localizar em frente à opiniom pública mundial o nosso país como um Estado foragido. Cruzada que tropeçou com o legado de Hugo Chávez. Que 7.575.704 tenham votado a favor do processo apesar do desaparecimento físico do líder da Revoluçom, de ter sido submetido o país a umha guerra económica-mediática, desespera quem estivo habituado a render todo aos seus pés, umha classe prepotente que considera os seus votos de maior valia em frente aos de quem permaneceu excluído durante séculos. Nom entende o acontecido na sociedade na era bolivariana, quando a democracia mudou de qualidade, alargando-se substantivamente, com níveis de protagonismo popular muito superiores ao passado, onde, em geral, existe um altíssimo nível de participaçom política. Também nom entende que outras reformas profundas impulsionadas por Hugo Chávez apontárom para abrir o caminho das mudanças estruturais, da construçom socialista e isto explica que o bloco de forças que gira em torno do mundo do

trabalho (maioritário) nom esteja disposto a retroceder. Deter o fascismo é a principal tarefa atual da Revoluçom na Venezuela e o novo governo de Maduro mostrou resoluçom para isso comprometendo-se em dar continuidade à linha social estratégica. Atuar com firmeza para que nom nos passe aquilo de-

nunciado por Simón Bolívar ao analisar as causas da perda da Primeira República: ...”a cada conspiraçom sucedia um perdom, e a cada perdom sucedia outra conspiraçom que se voltava a perdoar”... (S.B. 15-12-1812). Só atuando com resoluçom poderá ser contida a violência, que na verdade, tem estado presente ao longo de todos estes anos apesar dos esforços de Hugo Chávez para que a transformaçom da sociedade se desenvolvesse em paz e em democracia. Recordemos nom só as vítimas do Golpe contrarrevolucionário do 11 de abril de 2002, pois que terá que somar uns douscentos caídos por mandato da oligarquia fazendeira para tentar impedir a aplicaçom da Lei de Terras ou os casos de dirigentes operários, camponeses ou de povos originários assassinados, expressom da violência exercida por umha classe renuente a perder seus privilégios. Contra todo isso, o povo trabalhador deu mostras de paciência e mantivo a sua confiança nos organismos de Estado o que nom significa que esteja disposto a ver arrebatadas as conquistas obtidas durante o processo bolivariano e ver passivamente derramar-se o

sangue dos seus camaradas. Para as e os revolucionários, do que se trata agora é de segurar o joelho em terra para deter o fascismo fortalecendo-nos no desenvolvimento do Poder Popular. Muitas falsas ideias fôrom pulverizadas pela história dos últimos dias, umha delas: que estudar as classes, o seu comportamento, os seus interesses, a sua luita correspondia a um tempo passado, que no século XXI eram outros fatores os que primavam na política; mas a luita de classes tem-se-nos revelado na sua exata crudeza. O fascismo será derrotado, nom nos cabe dúvida disso. A Revoluçom Bolivariana exibe grandes fortalezas. Elas som: o desenvolvimento da consciência política da maioria da populaçom, possuir umha bem sucedida experiência em batalhas eleitorais, mas também está o facto certo de que os planos imperiais tropeçam com umha Força Armada Nacional Bolivariana que experimentou mudanças na sua doutrina militar, modificou a estratégia da defesa nacional, sendo profundamente anti-imperialista e popular. No entanto, a derrota do fascismo, condiçom vinculativa ao reimpulso da luita socialista, passa também polo golpe de leme que priorize o relacionamiento da direçom com o povo trabalhador, empreenda umha retificaçom para além das feiçons operativas, que se desate ainda umha batalha frontal contra a corrupçom e outros vícios que danificam a profundidade do processo. Enfim, só a consolidaçom do poder popular, o desenvolvimento permanente da teoria revolucionária, o impulso de umha economia produtiva crescentemente comunitarizada, no meio de um forte debate de ideias que aponte para o fortalecimento da consciência marcará o ponto de nom retorno, o triunfo do socialismo. 1 CHÁVEZ, Hugo, El Golpe de Timón, Colección Claves, Correo del Orinoco, Caracas, outubro 2012. 2 http://www.aporrea.org/ideologia/a153320.html

Amílcar Figueroa Salazar é historiador e militante revolucionário venezuelano. Foi Presidente do Parlatino.


Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista Galega

Edita: Primeira Linha. Redaçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.org Conselho de Redaçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Sacauntos Cooperativa Gráfica. Encerramento da ediçom: 8 de maio de 2013 Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: primeiralinhagz@gmail.com / primeiralinha@primeiralinha.org / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta. Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados. Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997

XVII Jornadas Independentistas Galegas

Primeira Linha organizou debate internacional sobre a vigência do marxismo Nines Maestro e Jean Salem

Como cada ano desde 1997, as Jornadas Independentistas Galegas constituírom um foro de debate no seio da esquerda revolucionária independentista da Galiza, com presença de relevantes analistas e militantes do movimento revolucionário internacional. No passado sábado dia 20 de abril, o Centro Social do Pichel de Compostela acolheu o evento, dedicado à figura de Karl Marx e ao marxismo como guia para a compreensom e transformaçom da sociedade, mediante a derrota do capitalismo e a construçom do socialismo. A XVII ediçom das Jornadas Independentistas Galegas realizou-se em plena crise e descomposiçom do regime espanhol e no quadro de umha multicrise internacional que pom em questom a própria continuidade da Uniom Europeia como espaço ao serviço do grande capital e do imperialismo. Com umha depauperaçom generalizada cada vez mais clara e patente para amplas camadas sociais do nosso país, o nosso partido considerou necessário divulgar e debater o pensamento revolucionário do fundador do marxismo, como contributo para o rearmamento ideológico e político das massas, como melhor forma de afrontar os grandes desafios colocados pola atual crise.

Já na parte da tarde, a segunda sessom foi protagonizada primeiro por Nines Maestro, dirigente da Red Roja (Estado espanhol) e militante revolucionária com umha importante trajetória, que orientou a sua comunicaçom à emancipaçom da mulher na perspetiva do marxismo. Jean Salem, filósofo e professor universitário francês, ofereceu a sua visom sobre o vigência do marxismo, destacando ainda os contributos posteriores de Lenine como parte de um programa que o passar do tempo e crises como a atual só confirmam como ferramentas imprescindíveis para a derrota do capitalismo.

Debates, clausura e confraternizaçom

Homenagem a Hugo Chávez

Na parte da manhá, a primeira sessom das Jornadas começou com as palavras do secretário-geral do nosso partido, Carlos Morais, lembrando a figura de Hugo Chávez Frias, líder revolucionário venezuelano recentemente desaparecido, a quem foi dedicada a jornada de debate que começava nesses momentos. Antes de dar passagem à apresentaçom dos dous camaradas que participárom na primeira sessom, transmitiu a satisfaçom pola presença nestas Jornadas de Miguel Nicolás e Telmo Varela, ex-presos políticos galegos, que nas ediçons anteriores nom pudérom assistir por estarem encarcerados.

Fotos Mar Castro

Silvestre Lacerda e Joan Teran

De Portugal, o camarada Silvestre Lacerda, militante do PCP, trouxo-nos umha visom biográfica de Marx, enquadrando-a no contexto histórico em que vi-

veu, destacando os enormes contributos teórico-práticos do revolucionário alemám no desenvolvimento do programa político da classe trabalhadora. Dos Països Cataláns véu Joan Teran,

do Secretariado Nacional das CUP, que analisou o marxismo com a perspetiva de umha naçom oprimida e das necessidades emancipatórias da classe operária e do povo trabalhador no seu conjunto.

Porém, como cada ano, as comunicaçons das e dos oradores nom foi todo. As Jornadas contam também com a participaçom do público e assim foi também nesta ocasiom. Debates vivos e de utilidade para a formaçom coletiva e para a troca de ideias entre camaradas, companheiros e companheiras nom só do nosso partido, mas doutros coletivos do movimento popular galego presentes na sala. As XVII Jornadas Independentistas Galegas fôrom clausuradas pouco antes das nove da noite, após umha série de intervençons como conclusons, realizadas por Silvestre Lacerda, Joan Teran, Nines Maestro e Jean Salem, e o agradecimento de Primeira Linha às quatro camaradas por terem participado nesta iniciativa dos comunistas galegos, com destaque a Jean Salem, quem realizou um grande esforço por viajar à Galiza, na qual estivo menos de 24 horas. Um jantar e umha ceia de confraternizaçom completou umha jornada importante que, mais umha vez, confirmou as Jornadas Independentistas Galegas como importante iniciativa teórica para a construçom do movimento independentista, socialista e feminista galego com sólidos alicerces revolucionários marxistas.

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“O galego é um fim, porque o galego é Galiza. Indubitavelmente, podemos imaginar umha Galiza que nom fale em galego, mas essa Galiza seria algo muito diferente da Galiza real e, sobretodo, da Galiza ideal em que @s melhores galeg@s pensam quando pronunciam o nome de Galiza” Carvalho Calero. Palestra ‘Sobre a nossa língua’ pronunciada na Corunha, a 7 de fevereiro de 1979


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