Jornal O Ponte Velha Junho 2011

RESENDE E ITATIAIA - JUNHO DE 2011 Nº 182 . ANO 16 - JORNAL MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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u cur...

se caipira é

Qual a saída para a nossa roça?

Flávio Maia

Uma entrevista com Miguel Dias, novo Secretário de Agricultura, e outras matérias sobre o tema

Turismo Rural, Agricultura Orgânica, Remuneração por Serviços Ambientais, Boas Estradas, etc.

2 - O Ponte Velha - Junho de 2011

POLITICÁLYA 1) POLÍTICOS INFLUENTES DE RESENDE, JÁ TESTADOS NAS URNAS: O Ponte Velha não destaca apenas as estrelas de primeira grandeza, porque, como já disse o poeta João Cabral, “um galo sozinho não tece uma manhã”.

NELSON DE ASSIS – Em 1988 foi candidato a vereador pelo PDT e alcançou 332 votos.

Eleito pelo PDT, em 1992, com 1.031 votos, passando a fazer parte da seleta galeria de vereadores resendenses com mais de 1.000 votos. Em 1996, não se elegeu, obtendo 601 votos, pelo PSDB. Reeleito com 435 votos em 2000, pelo PTB; Obteve 282 votos, em 2004, pelo PSB, insuficientes para se eleger. Em 2008 alcançou apenas 139 votos, pelo PMDB. Tem uma folha de serviços prestados e é perseverante.

Não será surpresa se ele voltar.

NOEL SAMPAIO - Ex industriário (IQR), atualmente é transportador de bois. Filho do falecido Benedito Julião (conceituado mestre de obras) e de Dona Cotinha, tradicional família com raízes na Capelinha. Irmão de Oscar Sampaio. Candidato a vereador em 1988, pelo PDT, obteve 252 votos. Mantém permanente contato com sua base, o que o credencia como excelente parceiro.

ODILON FARIA - Candidato a Deputado Federal, pelo PDT, em 1990 obteve 7.046 votos. O conhecido radialista foi eleito vereador, em 2000, pelo PDT, com 851 votos. Em 2004, candidato pelo PDT, alcançou

apenas 196 votos. Bom orador e combativo político.

OSVALDO RIBEIRO TEIXEIRA – Candidato a vereador em 1988, alcançou 232 votos, pelo PTR. Tem base eleitoral na cidade e no distrito da Fumaça.

Plantou a maior parte das mangueiras que hoje frutificam à beira do Rio Paraíba do Sul, fazendo a alegria da criançada.

Esse trabalho o credencia como um bom candidato.

RANKING DOS POLÍTICOS RESENDENSES VIVOS

- Especula-se que o PT poderá ter candidato próprio a Prefeito, saindo com o Rogério Coutinho, carismático servidor público estadual. Político elegante e sério, certamente enriquecerá o debate e a possibilidade de escolha do eleitor.

- Abram os olhos! O Vice do Noel de Carvalho está praticamente escolhido. Poderá ser um importante médico de Resende.

- Se o PDT lançar candidato próprio a Prefeito, poderá presentear o Carvalho com a vitória, como já fez com o Rechuan. Nas últimas eleições, dois candidatos foram testados.

ROGÉRIO COUTINHO Candidato a vereador, em 1996, pelo PT, alcançou 300 votos. O simpático servidor público foi candidato a vereador, em 2000, não se elegeu, mas alcançando 347 votos, pelo PT. Candidato a Deputado Estadual, em 1994, pelo PT, alcançou 1.385 votos em Resende.

ROQUE CERQUEIRA – Profundo conhecedor da política fluminense, desfruta de excelente relacionamento com políticos do Estado, a começar do Vice-Governador Pezão. Candidato a Deputado Federal, dobradinha com Noel de Oliveira, em 1990, alcançou 7.078 votos. Candidato a Deputado Estadual em 1994, pelo PPR, obteve apenas 1.777 votos em Resende. Vereador eleito em 1996, com 815 votos, pelo PMDB. Presidente da Câmara em 1998, deixou sua marca – a reforma da sede. Candidato a vereador, pelo PMDB, em 2000, obteve apenas 363 votos, não se reelegendo. Em 2008 alcançou 615 votos, ficando como suplente.

Além de seus atributos, ainda desfruta da parceria da Dora, sua simpática e eficiente esposa.

Cabo Euclides e Professor Silva

- O Dr. Julianelli é persistente.

Provavelmente será candidato a Prefeito ou a Vice-Prefeito.

- Continua o movimento para o candidato do efeito Enéias.

Como já dito, o provável candidato é esquerdista histórico, boêmio, extravagante, inteligente, politizado e excelente orador.

- E o Pedra, heim? Está quieto, como sempre. Na hora certa surgirá no bojo de uma candidatura com possibilidade de vitória.

PREFEITURA 2012 - Existe alguma torcida para o Rechuan ingressar no PMDB, o que causaria um desconforto para o Noel de Carvalho, candidato a candidato a Prefeito. Carvalhismos à parte, o Noel não nasceu ontem. Em seus 12 anos de ALERJ construiu uma vasta rede de influência e de amizades. Na hora em que ele quiser, pode escolher partidos. Se quiser, fica no PMDB, ou, hipótese mais provável, ingressa em um importante partido, bem estruturado aqui em Resende. Muitos que hoje estão torcendo para o Carvalho sair do PMDB terão a orelha para torcer.

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Junho de 2011 - O Ponte Velha - 3 Na Boca Maldita do Formigueiro (o bairro comercial de Penedo), local de grandes conhecedores da política de Itatiaia, o que se comenta é que a maior novidade da próxima eleição pode ser a dobradinha de Gilda Mollica, do PT, com Almir Dumay. Gilda aparecendo como novidade e Almir, como vice, trazendo seus votos. Para Almir fica difícil sair como cabeça de chapa porque o PMDB, seu partido, está dominado “por cima” pelo Ypê (Piciani já disse que o PMDB de Itatiaia é do Ypê. É assim a nossa pré-história política: o diretório regional sufoca os movimentos orgânicos dos municípios; sufoca a democracia).

Gilda e Almir já teriam inclusive começado as conversas.

Parecem incompatíveis? Alegar-se-ia que foi assim que o PT chegou ao poder a nível nacional — embora a gente esteja vendo a toda hora a fragilidade de sua base de apoio, inclusive na recente votação do Código Florestal.

A idéia teria sido deflagrada a partir de uma pesquisa encomendada por Alexandre Serfiottis, de olho na Pref. de Itatiaia — assim como andaria também de olho nela o Silvio de Carvalho. Na tal pesquisa Almir e Jair teriam aparecido tecnicamente empatados, com cerca de 25% das intenções de votos. Como Jair, por temperamento, não divide o poder — e por isso Almir não confiaria numa composição com o velho colega na cabeça—, surgiu a idéia da dupla com Gilda, ficando a petista na cabeça, uma vez que a maleabilidade é uma das qualidades de Almir. Pegando uma parte da empreitada, para ele estaria tudo certo.

E Gilda já está em plena campanha, inclusive usando seu

E o jogo se aquece... cargo de vice prefeita (que não se dá com o prefeito) para tentar jogadas de governo paralelo, como no episódio da dragagem do rio das Pedras. Ela conseguiu as máquinas via Minc, PV, INEA, e o Ypê embarreirou via Dornelles e Pezão. É assim — desarmonica e desafinada — que a banda toca na nossa pré-histórica política. Mas vai chegar a Era de Aquarius...

O Luis Carlos poderia era ter ido direto para Penedo quando soube da presença das máquinas, abraçar a Gilda, sair com ela na foto e deixar fazer o serviço, porque, mal ou bem, ia-se atender a uma antiga demanda dos moradores da parte baixa de Penedo, com os quais Gilda já vem se reunindo há bastante tempo. Depois, criticasse publicamente a forma como a Gilda agiu.

Uma outra novidade na próxima eleição seria Dudu, o Eduardo Guedes, do PSDB, que atualmente acumula a presidência da Câmara e a presidência da CERES — Cooperativa de Eletrificação Rural de Resende (e aqui vale o registro de que muita gente considera que ganhar a diretoria da CERES talvez seja mais difícil do que ganhar a Prefeitura). Dudu está em plena ascenção na política e vem fazendo um bom trabalho na CERES. Ficou muito bem para ele, recentemente, a devolução de um dinheiro indevidamente cobrado,

Gustavo Praça

uma tarifa mais alta do que a que deveria ter sido praticada a partir de 2008. A devolução foi um exigência da ANEEL, a agência reguladora, mas Dudu faturou os louros, inclusive porque alega que já havia tal determinação e a diretoria anterior não fazia a devolução. E devolveu tudo de uma vez só.

Dudu é do mesmo partido de Jair e esse é um grande complicador.

Ele gostaria que Jair fosse seu vice, acha que Jair deveria entender que o momento é dele, Dudu. Difícil de convencer o Jair... Outra alternativa seria trocar de partido até outubro. Mas para onde?

Para compor com quem? E mais, perdendo o mandato de vereador, a presidência da Câmara, que rende mais uma boa quantia, e a presidência da CERES, outra boa quantia. É coisa demais para deixar pra trás, para arriscar perder tudo sem ganhar a prefeitura.

Tem que gostar muito do jogo.

Mas todo mundo que entra na parada gosta.

Fora da mesa do jogo, para além das luzes baixas que enfocam só o pano verde, os dias estão cada vez mais bonitos nessa passagem do outono para o inverno.

PS: Se o Pallocci aprendesse a tocar trombone de vara (ele fem o fisique du rôle) certamente seria mais feliz do que juntando tanto dinheiro assim.

Nosssa Roça de Volta

O assunto da entrevista desta edição — o declínio da nossa zona rural a partir da segunda metade do século passado, com o advento do ciclo industrial e da nova face urbana — deveria permanecer na nossa pauta como uma questão fundamental para a Resende e o mundo que sonhamos construir no século XXI. Há uma consciência planetária sobre a necessidade de um retorno ao campo em novas bases, com a agricultura natural, que dá às pessoas mais saúde, trabalho menos alienante, mais chance de crescimento interior, e, por carambola, possibilita cidades mais humanas como centros desse novo campo. Por toda parte há um movimento nesse sentido, inclusive em países de grande extensão territorial e muito explorados pelas grande corporações da agricultura química, como a Índia.

Aqui em Resende, se não temos como conter a especulação do capital sobre nossa grande planície à beira do Paraíba, talvez tenhamos ainda alguma autonomia para planejar nossa rede de pequenas propriedades em área impróprias às máquinas; essa impropriedade pode ser um trunfo. O Miguel Dias fala, na entrevista, sobre o eco-turismo-rural como novo ciclo para a roça. Seria mesmo uma beleza um ressurgimento da nossa tradição “caipira” (e ponho entre aspas porque penso a palavra sem a conotação de desprezo), com alguma forma de incentivo do poder público à produção dos chamados alimentos bio-dinâmicos, conjugados ao turismo rural e histórico — um turismo que se enriqueceria muito. A Academia de História de Resende, sob o comando do Marcos Cotrim, tem pensado essa questão, inclusive com um seminário muito bom que foi realizado na AEDB. A questão paira no ar, como uma aspiração coletiva, uma necessidade de projeção, de planejamento da vida.

Na próxima edição conversaremos com Joaquim Moura, fundador da Conatura, um camarada que lida há muitos anos com a questão da agricultura orgânica e que mora em Visconde de Mauá. O Joaquim, por sinal, escreveu um pequeno texto que publicamos na pg 3, como resposta ao texto Triste Realidade”, que havíamos publicado na edição de março.

Neste último, um suposto pequeno produtor falava sobre as agruras de enfrentar a burocracia dos órgãos ambientais. Diz-se que o tal texto, que pescamos na net, era na verdade uma arma dos “ruralistas”. De qualquer forma, a meu ver era um texto muito bom e continha verdades (a realidade é sempre mais complexa do que coisas numa gaveta do mal e outras numa gaveta do bem). E o fato é que recompensar o homem do campo pelo serviço de conservação ambiental, como prega o Joaquim — e também o Eliel, na mesma página — é uma boa saída para o pequeno agricultor conseguir cumprir as leis.

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4 - O Ponte Velha - Junho de 2011 Joaquim Moura

Eliel de Assis Queiróz

Sejamos Pornográficos (Docemente Pornográficos) A frase do título acima é do Carlos Drummond de Andrade. Se ele tivesse escrito “sejamos hipócritas, docemente hipócritas”, a reação negativa da sociedade teria sido muito menor do que foi na época em que ele pregou tal comportamento. Puro corporativismo.

Enquanto a hipocrisia é uma prática comum entre membros de uma grande parte da sociedade, a pornografia é coisa de minoria. A primeira é praticada diariamente, sem censura. A segunda, não.

Descobri, recentemente, que existem hipócritas temáticos. Hipócritas ambientais, por exemplo, fazem parte deste grupo.

Em um recente seminário sobre meio ambiente, no intervalo do café, um grupo minoritário de pessoas comentava o “desconforto ético” que elas sentiam quando o assunto era pagamento por prestação de serviços ambientais.

“Mercantilização da natureza”, dizia uma delas, sendo imediatamente apoiada pelas demais. Não resisti à tentação e entrei de sola: “vocês sentem este mesmo constrangimento quando pagam pelo arroz, feijão, batata, leite e outros produtos, frutos da exploração da natureza pelo homem?” Continuei no ataque: “exploração da natureza no pior sentido, sem pensar no amanhã, como acontece em muitos casos onde a agricultura é praticada de forma predatória, com o uso intensivo de agrotóxico”. A resposta que obtive foi um longo silêncio.

Ao lado deste grupo havia um outro, discutindo o quanto um agricultor deveria receber por proteger rios e florestas. Se o agricultor produzia leite, deveria receber um valor igual ao do leite

produzido. Se a produção fosse de cana, receberia um valor igual ao da cana, diziam eles. Eu, que já estava com a faca nos dentes, fui logo perguntando: “se vocês ainda não sabem a diferença entre água, leite e cana, eu lanço um desafio: fico dez dias sem beber leite e chupar cana e vocês dez dias sem beber água, topam?”

São pessoas com esta mentalidade que contaminam o debate, acirrando os ânimos e estimulando conflitos desnecessários, dividindo o país entre ruralistas e ambientalistas. E quem não é ruralista nem ambientalista, como é que fica?

Até hoje, ainda tem muita gente que se diz ambientalista, mas trata a terra como antigamente, fazendo divisão entre “terra limpa”, sem florestas, pronta para o uso, e “terra suja”, com floresta, mas de baixo valor econômico, se comparada com a primeira.

“Limpeza de terreno” nada mais é do que desmatamento.

Produtor rural, prestador de serviço ambiental, tem, sim, que receber um valor justo por isso.

Sem paternalismo, sem clientelismo, vinculando tal pagamento a projetos de sustentabilidade ambiental, social e econômica da sua propriedade.

E o que dizer dos proprietários de Reservas Particulares (RPPN), que têm a obrigação de gerir suas reservas como verdadeiras unidades de conservação, com muito mais deveres do que direitos?

Esses, mais ainda, devem ter à sua disposição mecanismos que possibilitem gerir suas unidades em toda a sua plenitude, sem que isso seja tratado como um favor, mas sim como uma obrigação do poder público.

Mas, na prática, não é isso que acontece. Basta dar uma olhada no artigo 21 da Lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) para constatar a ilusão que esta lei cria: o apoio do poder público às RPPN será dado “sempre que possível e oportuno”. Ora, uma lei é um contrato, onde direitos, deveres e penalidades devem ser estabelecidos de forma clara e objetiva e não como esta pérola da mais pura e ineficaz burocracia. Se nem as unidades públicas são apoiadas “sempre que possível e oportuno”, imagine com relação às reservas particulares.

Não cabe, neste assunto, o nosso velho e conhecido “me engana que eu gosto”. Ou é para valer, ou então deixa tudo como está para ver como é que fica. Unidade de conservação, no papel, basta as do poder público. No caso específico da Mata Atlântica, onde 75% do que sobrou está em áreas particulares, uma política de incentivo a criação e, principalmente, gestão de RPPN é mais importante ainda.

E, para terminar, no mais puro estilo ancelmogoisniano, “terra suja” é o cacete.

Eliel de Assis Queiroz (Proprietário/Gestor RPPN Reserva Agulhas Negras)

Resposta ao Zé Rurícula Deixem-me acrescentar meus 10 tostões de imaginação.

Acredito que quem mora no campo, e pretende viver dele, precisa entender que é o guardião de um tesouro que não lhe pertence, mas às gerações futuras. Que ele tem sobre seus ombros a responsabilidade de conservar e promover a fertilidade do solo e a biodiversidade da natureza local, e a qualidade das águas etc.

Por isso precisa aprender a produzir sem esgotar os recursos de produção da propriedade, mas, ao contrário, precisa dinamizá-los.

Tudo isso é irrecorrível, e o governo, o estado brasileiro, deveria realmente recompensar os “serviços ambientais” que correspondem à preservação que um proprietário promova em sua propriedade. Quem não se satisfizer com essas condições, quem não entender o alcance que as ações de um agricultor pode impactar lá no futuro, realmente é melhor passar a terra adiante, de preferência - quem dera!

- a quem esteja mais consciente, e ir morar na cidade.

Foi o B.Franklin quem disse aquela frase manjada: “se acabarem as cidades, os campos sobreviverão; se os campos morrerem, as cidades perecerão”. Pois é. Se bem que hoje tememos que, sossobrando as cidades, levarão junto consigo os campos, de tão degradados, desnaturados e poluídos que estarão então...

O conceito de “pegada ecológica” das cidades ainda não existia nos tempos do velho Benjamin; mas muitos ecologistas já havia.

Pensar na “pegada” urbana que maltrata a natureza muitas milhas *away* dos limites urbanizados, impactando áreas naturais e rurais muito maiores do que as ocupadas pelas cidades que as geraram, mostra que também as cidades precisarão ser fiscalizadas pelo Ibama com igual rigor; o despejo de esgotos domésticos e industriais dos subúrbios para os rios; o desmatamento de encostas e nascentes nos morros do Rio de Janeiro; a geração de lixo semdestinação adequada não impactante no ambiente etc. são medidas que terão que vir, para desespero do amigo Zé, rurícola amigo do Luis, urbanóide, mesmo que se torne mais um deles.

Junho de 2011 - O Ponte Velha - 5 A terceira margem do rio - O lago da hidrelétrica de Queluz está enchendo. O Paraíba surge como um canal, sem pedras, margens retificadas. Às suas margens, o roxo do capim gordura resiste à braquiária e ao eucalipto.

Restos de uma regionalidade que ia além das fronteiras políticas, tão artificiais e abstratas. Ainda subsiste o sertão? O horizonte montanhoso que dava sentido às comunidades e ritmo às identidades? Pode-se habitar o www. sertão?

Guimarães Rosa inventou-nos um sertão que, somado ao de Euclides, Raquel e Graciliano, fala das margens de nossa civilização.

Ariano Suassuna e sua lógica de pedra, também declinada por Cabral e Drummond, fizeram o favor de pavimentá-la. Riobaldo falava numa sintaxe oblíqua, revelando o pathos brasileiro, o grande encontro do sertão.

Desertão, lugar de tentação e de folia. Vernacular e universal.

Santo ócio! A paz ainda era fruto da justiça. Tutaméia! Se me perdoam o latim.

A quinta estação - Dizem que uma das estações do Trem Bala será em Itatiaia. Não sei.

Por enquanto, esse futuro de “município logístico” apenas reforça nosso status de objeto.

Não se vê viv’alma discutindo à altura. Além disso, parece que vem aí mais uma fábrica, a da Hyunday que, se for bacana, dará uma esmolinha de “responsabilidade social” e plantará árvores na Primavera com brasileirinhos uniformizados. Os blogs e os jornais nos inundarão de clichês

Marcos Cotrim

De margens e destinos ímpares e teremos a sensação de participar ativamente do processo.

Proativos?

A implantação desses equipamentos, como um pedágio entre as almas, não se faz apenas no território, mas na história que dá identidade e no futuro que devia dar esperança. Em pouco tempo, para admirar a Serra, ou teremos que voar ou chegar tão perto que nem um ambientalista agüenta.

Perspectivas são patrimônios; deveríamos lutar por elas. Como modos de falar e maneiras sábias de nada fazer. Quem será responsável por essas beatitudes? O sertão tem seus brios...

Mas o sertão vem sendo alagado. Nesse mundo alagado, se diz que o valor de algo se deve à sua raridade. Mentira. O pensamento teria mais valor.

Incrível que os prefeitos queiram dar lap-tops para os professores, em vez de salários. A senha, professor? Walt Whitman! E o Paraíba passa sem explicações.

Lembremos T. S. Elliot, citando o “Henrique V” de Shakespeare: “Onde está a sabedoria, que perdemos com o conhecimento?

Onde está o conhecimento que perdemos com a informação”?

O sétimo selo - Analistas da Revolução Francesa falam de uma República das Letras, governo paralelo formado por “sociedades de pensamento”.

Para Cochin e Furet, nas últimas décadas do Antigo Regime, coexistiam na França duas formas de sociabilidade política: a tradicional, fundada no princípio hierárquico, nas famílias e nas instituições corporativas; e a democrática, produzida pelos cafés, salões, lojas, jornais, “sociedades de pensamento” estruturadas a partir dos umbigos individuais e do princípio da igualdade entre os seus membros. Seria uma “grande sociedade aberta”... A

ordem se apoiaria na lei e não nas diferenças naturais e históricas.

Tratou-se de definir as margens cientificamente. O

A vigésima quinta hora Concluamos um tanto professoralmente: O cidadão da república virtual das letras foi desenraizado de todo solo tradicional pela tecnologia e pelo culto cientificista do progresso. Não pertence a nada e por nada se responsabiliza. Vai querer cuidar de quê? diria Antônio Conselheiro.

Sem história, será um sociopata cordial, um consumidor compulsivo de imagens que ele próprio cria como editor de seu mundo blindado à solidariedade. Mas plantará árvores dia 23 de setembro e navegará impávido em seu rio de mentirinha. Inventará seu português como um pseudo-Riobaldo, um Qorpo Santo feroz e sua Ensiqlopedia digital, para descrever nosso “deserto de homens e livros”. E não conseguirá explicar por que o WWF e o Greenpeace não atuam nos países que mais poluem no mundo, nem legislam sobre reservas legais.

Dizem que uma das estações do Trem Bala será em Itatiaia.

Por enquanto, esse futuro de “município logístico” apenas reforça nosso status de objeto. ovo da serpente. Plantavam-se a liberdade individual e os “direitos humanos”, mas nasceu a sociedade de massas, que ora se consolida como sociedade da informação. Como até hoje seus seguidores, tentavam banir a morte por decreto, transformando a vida em negócio de saúde pública, controle demográfico, eugenia, higiene ou engenharia de planejamento social.

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6 - O Ponte Velha - Junho de 2011

Miguel “Osama” Dias e o futuro da nossa roça

Se você encontrar em Resende um sósia do Bin Laden, falando na maior das alturas, cercado por uma porção de pessoas sorridentes, certamente estará diante do Miguelzinho Osama. Miguel Gilberto Dias, também conhecido como Migué do Juca, Migué Urubu, Miguel Bin Laden, Miguel Magro, Migué Jagunço, Miguelzinho Encosto ou Miguel da Ferrocim. Engenheiro especializado em estruturas metálicas, tem obras realizadas em 20 cidades, em três Estados. É também fazendeiro. À primeira vista, Miguel não impressiona bem: fala muito alto, provoca as pessoas e tem uma aparência agressiva. Mas, à medida que se conhece o Miguel, vai se descortinando um sujeito prestativo, competente, brincalhão e leal, razão de ele ser uma das pessoas mais populares de Resende. Depois de ter sido Tri Secretário (Indústria, Agricultura e Obras) do Governo Mehoas, agora é Secretário de Agricultura no Governo Rechuan. O Ponto Velha o entrevistou no Bar Oppção, do Roberto e do Kawai, o novo point de Resende.

Com vocês, Miguelzinho Osama.

GUSTAVO:Conte um pouco a tua história.

MIGUEL: Eu sou de Arimatéia, em Minas, mas cheguei aqui com cinco anos de idade; estou aqui há 55 anos.

Viemos para cá em 57, para a Fazenda da Graça. Estudei no Oliveira Botelho, no Dom Bosco, no Souza Dantas, e depois engenharia em Itajubá. Trabalhei um tempo na Ferrovia do Aço, pela Mendes Júnior, e depois retornei a Resende.

GUSTAVO: Em Arimatéia a tua família era da roça?

MIGUEL: Naquela época 90% de toda a nossa região era da zona rural. Arimatéia, para você que não sabe, é hoje Bocaina de Minas. Chamava-se Arimatéia de Aiuruoca.

GUSTAVO: Então você é de Resende; Bocaina é formadora de Resende.

MIGUEL: Sim. No tempo do Rancho dos Mineiros, meu pai trazia o que produzia para cá, e voltava com pouca coisa. Noventa por cento de Resende era de família mineira. Não só Resende. Barra Mansa também, onde eu tenho vários parentes. Volta Redonda veio bem depois... Para você ter uma noção, eu tenho parentes que trabalharam na construção da usina de Volta Redonda...

GUSTAVO: No Seminário que a Academia de História de Resende fez no último fim de semana foram mostrados dados impressionantes sobre o crescimento da cidade e o esvaziamento da zona rural nos últimos 50 anos. Em 1986 nós ainda éramos a segunda bacia leiteira do estado.

Em 1950 nós tínhamos cerca de 80% da população na roça - o que, aliás, você acabou de testemunhar aqui - e hoje menos de 20%.

MIGUEL: Muito menos. Hoje está estimado na zona rural sete mil e poucas pessoas. * Alugamos chalés de seg. a sex. para empresas * Espaço para festas e eventos Encontro de Igrejas (casais e jovens) * Amplos chalés, piscina, sauna, churrasqueira, campo de futebol e quadra de volley

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Agora, isso vem de um desleixo de todas as esferas do poder público: municipal, estadual e federal.

GUSTAVO: Que não regulam a lógica do puro interesse do capital, como das multinacionais de leite em pó.

MIGUEL: Eu não quero nem entrar nessa seara, mas hoje uma das partes mais ricas desse país são os grandes conglomerados.

E onde é que estão? Onde é o maior PIB desse país? É da agropecuária.

GUSTAVO: Da agroindústria que exporta soja pra fazer ração animal.

MIGUEL: Se nós tivéssemos dado condições técnicas ao pequeno produtor rural... Por exemplo: o meu pai, que faleceu no ano passado. Nunca fez outra coisa na vida do que ser puxador de peito de vaca, pecuarista. Conseguiu formar todos os filhos com nível superior, e isso não é uma coisa muito longínqua. Na época, com o valor que a gente recebia por um litro de leite a gente comprava um litro e meio de gasolina. Meu pai tinha um jeep de capota de aço na época. Eu, menino ainda, atravessava o rio Preto com as cangalhas no burro e ia vender leite em Falcão.

GUSTAVO: Na família rural tem trabalho para todo mundo.

MIGUEL: Então, porque não deu certo o negócio do leite? Por causa da liberação do preço, que era tabelado na época da revolução: o produtor recebia 70% do que o consumidor pagava. Veja hoje o preço do leite para o consumidor e o quanto que o produtor recebe... Então, eu sou a favor do livre comércio, mas você tem que proteger os mais fracos. E proteger os produtos estratégicos.

Um outro ponto é que nós não fomos preparados para o cooperativismo. Não é só a de leite, não. Qualquer cooperativa. A diretoria assume o mandato e o cooperado parece que deve favor ao diretor, e não participa das decisões.

GUSTAVO: Reproduz o que acontece na política.

MIGUEL: Pois é. As cooperativas do sul do país são de dar inveja na gente. Mas aquilo vem de uma formação de 100 anos. Aqui com a gente, se você ganha a presidência da associação de moradores, ao invés de as pessoas te ajudarem só vão te cobrar. Se a rua tem buraco você é o culpado... Você passa a ser o mandatário... É isso que nós temos que mudar se quisermos o cooperativismo. Vou ser

Junho de 2011 - O Ponte Velha - 7 sincero com você: aqui na nossa região, só se vier uma nova geração.

JOEL: Outra coisa que eu vejo como causa da derrocada da agropecuária na nossa região é que o Banco do Brasil, em tempos idos, atuava como um banco de fomento; ele era realmente parceiro do homem do campo. Eu cheguei a pegar esse tempo no Banco. Depois, o Banco passou a tratar o pecuarista como um cliente normal. Isso tem a ver com uma mentalidade que alguns pseudo-intelectuais disseminam e que os governos incorporam - e estou me referindo aqui à idéia de que subsídio é coisa de país subdesenvolvido. Ora, é muito melhor você subsidiar a produção de alimentos do que depois ter que subsidiar a medicina corretiva porque o sujeito comeu mal.

MIGUEL: Meu pai chegava a pegar empréstimo no Banco do Brasil com cinco anos de carência e mais 10 anos para pagar; a juro fixo de 1% ao ano.

JOEL: Quanto que ele produzia! Quanto que a fazenda melhorava! Claro que tinha distorções: o camarada pegar o empréstimo para comprar caminhonete para passear aqui na cidade. Mas você tem que corrigir as distorções, e não acabar com a parceria.

GUSTAVO: Nesse seminário da Academia de História, um camarada chamado Milton Da Cas deu um depoimento contando que o pai dele, na década de 60, plantava arroz em grande parte da baixada do pólo industrial.

MIGUEL: Além da terra ali ser boa, veja a quantidade de água que tem ali... Porque o arroz precisa de água.

Eu lembro desse arroz de Resende; eles tinham uma beneficiadora na cidade.

GUSTAVO: Nós não conseguimos ter poder sobre a melhor área para se plantar. O que regula é só a lei de mercado. Qual a perspectiva que você vê para o nosso campo? O que está a nosso alcance fazer?

MIGUEL: Eu assumi há 15 dias a Secretaria. O problema que eu vejo é que a gente tem que dar um jeito de motivar, de dar credibilidade às instituições da área - Secretarias, Emater, Ministério -, para fazer com que o povo acredite.

Eu já fui Secretário de Obras, de Indústria,Comércio e Turismo e de Agricultura, e eu acredito que essas três funções são fundamentais para a gente leve vida novamente ao homem do campo. Nós promovemos agora um curso de Turismo Rural. O que é o Turismo Rural? É você manter o cara na roça e agregar valor ao que ele já tem. Porque nós temos aqui uma região linda... E o verdadeiro cara, quando ele sai da cidade grande ele não quer hotel de cinco estrelas, isso ele já tem lá. Ele quer ver

o campo, mas com higiene, com boa recepção. E é isso esse cursos que nós estamos fazendo.

GUSTAVO: É interessante você usar essa expressão -”o verdadeiro cara”...

MIGUEL: Já fizemos também um encontro sobre cachaça; são 26 produtores da nossa região - através do Secretário Totonho junto com o Sindicato Rural e o Senai.

JOEL: E como é importante a boa cachaça!Tanto quanto o bom leite, cada qual na sua função. A vaquinha do

“O que é o Turismo Rural? É você manter o cara na roça e agregar valor ao que ele já tem. Porque nós temos aqui uma região linda... E o verdadeiro cara, quando ele sai da cidade grande ele não quer hotel de cinco estrelas, isso ele já tem lá. Ele quer ver o campo, mas com higiene, com boa recepção. Eu acredito que isso é que pode trazer vida outra vez ao homem do campo” Ponte Velha outro dia fez o seguinte comentário, que eu gostei demais: “nunca vi ninguém fazer amigos bebendo leite...” E o Ulisses Guimarães dizia que não confiava em político que não bebia.

MIGUEL: Eu concordo plenamente. Mas vou dizer uma coisa aqui: tem que beber o leite pra aguentar beber a cachaça... Mas voltando aos cursos, eu soube agora através do prefeito Rechuan, nós temos mais 20 cursos para serem ministrados até o final do ano. Apicultura, por exemplo, que eu nem sabia que era tão forte aqui. Nós temos 60 produtores, com 36 filiados à APISULF. Temos a idéia de criar aqui na região a “Casa do Mel”. Apicultura preserva a floração, ajuda o Meio Ambiente e ajuda o Turismo.

Então nós temos que ter um associativismo entre as atividades; eu não acredito em mais nada que seja isolado.

GUSTAVO: E pode ter junto a agricultura orgânica, que tem cada vez mais mercado.

MIGUEL: E eu quero deixar aqui registrado o meu agradecimento ao prefeito Rechuan por estar acreditando nessa possibilidade e no nosso trabalho. E quero dizer também que sou filiado ao PSB mas o meu partido é o

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povo de Resende, sejam os resendenses ou sejam os que chegaram aqui há pouco.

GUSTAVO: Esses que chegaram há pouco são chamados por alguns de “neo resendenses”, que precisariam conhecer mais a história da região.

MIGUEL: Pois então vou te dizer que muitos dos resendenses, nascidos aqui, não conhecem a história; não sabem onde é o morro do Carrapato, em Engenheiro Passos; muitos nunca foram nem a Visconde de Mauá.

Não conhecem o entorno: Arapeí, Formoso, São José do Barreiro, Bananal... Nunca tiraram o sapato engraxado com a meinha branca... Eu tenho orgulho de dizer que conheço nossa região toda; sou de Bocaina, de uma gente que reuniu todas as famílias dessa serra: meu nome correto é Miguel Moreira Balieiro Almeida Dias.

JOEL: Mas esse Balieiro do Miguel não é o mesmo Balieiro da família do Aloísio. Tem duas versões: uma é que vem de um camarada que era baleiro no cinema de Bocaina; a outra, que vem de sujeito que fazia balaio por lá, era balaieiro. Então, não posso sonegar essa informação ao leitor porque pode ter um fundamento de verdade.

GUSTAVO: Vamos falar sério... Miguel, você acha que foi prejudicial para a nossa zona rural a introdução maciça do eucalípto no fim dos anos 70, começo dos 80, quando se oferecia ao fazendeiro um pouco mais do que ele ganhava com o leite pelo aluguel das suas terras?

MIGUEL: Olha, daquela maneira, como monocultura, é ruim. Toda monocultura é ruim. Indústria também, se você acha que vai se basear só nela é ruim.

GUSTAVO: Essas indústrias montadoras, que não fabricam aqui as peças, se mudam com a maior facilidade.

Conformem as oscilações dos mercados, desmontam os galpões e vão embora.

MIGUEL: Deixam até o galpão ali mesmo... Ganham 10 anos de isenção... Com pouco anos já pagaram aquilo...

E quando acaba a isenção você tem que sentar com ela e negociar, porque se não ela vai embora... Nós já tivemos casos em Resende, não preciso citar nomes aqui. Mudam a razão social de três em três anos...

JOEL: O capital internacional é muito volátil. O Miguel é da escola da ACIAR, foi diretor muitos anos, e o Luis Geraldo sempre falou - e eu sei que o Miguel também pensa assim: nós não somos contra dar incentivos a esses grandes grupos, mas por que também não dar ao médio e pequeno empresário? O Miguel mesmo já foi industrial, com 300 empregados. Ele, assim como outra grande

8 - O Ponte Velha - Junho de 2011 formadora de mão de obra da região, foram inviabilizados pela falta de crédito e pela alta tributação, que no Brasil é feita partindo do princípio de que você sonega. Então, indústrias como a Ferrocin, do Miguel, ou outras de pequeno porte, se forem dar nota fiscal

da roça (todo terceiro domingo do mês no Parque das Exposições) e comprar os legumes e verduras sem agrotóxico, plantados nas nossas fazendas... Ô Miguel, me parece que o Rechuan está colocando gente certa nessa área.

MIGUEL: O camarada que é médico

“Eu sou a favor do livre comércio, mas você tem que proteger os mais fracos. E proteger os produtos estratégicos. Um outro ponto é que nós não fomos preparados para o cooperativismo.

A diretoria assume o mandato e o cooperado parece que deve favor ao diretor, e não participa das decisões.” para todo mundo, elas quebram. Se for apresentar todo o faturamento para o governo, quebra.

MIGUEL: E você se apegar numa coisa só é sempre ruim. O importante é consorciar vários aspectos produtivos, como eu estou exemplificando no caso do turismo rural.

Se o eucalipto entra como um ítem entre outros, é muito bom; é mais uma garantia de renda para sustentar o desenvolvimento das atividades rurais.

JOEL: O eucalípto é bom também para uso próprio, para você queimar e preservar a sua mata nativa.

MIGUEL: Nós somos uma região de pequenas propriedades e elas podem prosperar numa mentalidade de diversificar a produção. A gente tem que entender que a morte da zona rural é a morte da cidade.

Eu cheguei a ter 30 famílias trabalhando para mim na roça; eram 53 crianças. É muito importante que essa gente possa permanecer lá, porque se vier para a cidade vai haver mais um marginalizado, mais uma menina na prostituição, mais um garoto para servir de aviãozinho... Então, esse pai de família tem que ficar na roça, onde ele anda com a calça velha, o pé sujo de terra, mas tem sua dignidade. Quer ver um absurdo? O concurso público para o sujeito ser conserva de estrada rural. Ora, o caboclo às vezes nunca pegou num lápis mas entende de conserva de estrada mais que eu e você.

JOEL: Como é bonito a gente ir à feira

já sabe a importância de uma boa alimentação, como base para a gente ter menos problemas de saúde.

GUSTAVO: Bom, quem sempre foi produtor rural, como o Noel de Carvalho, também tem grande interesse nisso.

MIGUEL: Claro, o Noel foi importante nesse processo - eu acho que ele podia ter investido mais no turismo rural, já que a hotelaria também é a área dele.

Eu trabalhei com o Noel no Condesurb (Conselho de Desenvolvimento Urbano), com Michel Arbex, Chico Fortes, Eitel César Fernandes, o Alceu Vilela Paiva e o Dr. Tácito. Eu era o garoto dessa turma.

Eu tive o privilégio de conviver com o Dr. Tácito, com o Dr. Haroldo, com o Délio, com esses todos que eu já citei aí do Conselho, a maior parte que já não está entre nós. E hoje em dia conviver com o Joel Pereira, o Luis Geraldo Whately, o Jacinto Onofre Machado, o Toninho Parada, Edimar Guimarães, esse pessoal mais da minha faixa etária... Tudo isso eu considero um privilégio.

JOEL: O que é que a Bocaina tem de especial para ser esse celeiro de gente especializada aqui em Resende. Na área de odontologia, o Sebastião Moreira Neto, o Rawlisson Dias; na medicina, o José Máximo Balieiro, o Dr. Virgílio, Dr. Maciel. Na área da engenharia quem tem mais além de você?

MIGUEL: O Dimas Toledo, o Dr. José Donato Dias, que é meu primo, aposentado

da Eletrobrás e hoje é presidente nacional da Associação do Gado Gir-holando, que foi Secretário de Agricultura de Miguel Pereira...

GUSTAVO: Você tem índio puri entre os seus ascendentes. Guarda alguma mágoa do homem branco?

MIGUEL: Não. Eles chegaram e nosso povo foi lá pra cima, para a aldeia que depois ficou com o nome de Fumaça e que tem a maior cachoeira do estado, coisa que, infelizmente, o nosso povo não sabe.

GUSTAVO: Porque não dá pra chegar lá direito, pra tomar banho.

MIGUEL: E os governos são culpados, porque não deram condições de acessibilidade. Porque os que tiveram a caneta não a usaram para melhorar as estradas rurais. Ou nós damos boas condições às nossas estradas ou nenhum desses projetos que eu falei aí anteriormente vai vingar. Mesmo porque antigamente a gente andava cinco, dez quilômetros a pé para estudar. Hoje não: tem que buscar a criança em casa. Então é muito carro tendo que trafegar, não dá mais para deixar as estradas no abandono.

As nossas estradas foram traçadas quando o melhor topógrafo que nós tínhamos

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era o burro. Mas hoje, com a tecnologia moderna, os equipamentos modernos, não é possível que a gente não tenha uma programação séria para parar de jogar dinheiro fora.

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Junho de 2011 - O Ponte Velha - 9 GUSTAVO: Na década de 70 o Noel de Carvalho construiu o balneário Boca do Rego, próximo à Fumaça. A idéia era dar uma alternativa ao resendense para desafogar um pouco o Penedo.

Parece que o governo seguinte abandonou...

MIGUEL: Isso funcionou, chegou a abrigar mais gente do que as Três Cachoeiras.

GUSTAVO: Mas por que parou?

MIGUEL: Por problema de acessibilidade. Hoje já está trafegável da estrada Bonsucesso para a Fazenda Monte Alegre; já está bastante trafegável. Mas quantos anos ficou sem a ponte lá? Parabéns ao Rechuan, que arrumou a estrada e a ponte.

Então, eu quero dizer que as nossas perspectivas são muito boas: estamos com 99.9% das propriedades energizadas; a telefonia desenvolveu muito (antigamente o hoteleiro da Serrinha tinha que vir a Resende saber se a reserva foi feita, se o dinheiro foi depositado). Resta a gente cuidar melhor das estradas.

Para levar gente para a zona rural, mostrar a nossa cultura. Fazer uma coisa de mão dupla, para não ficar só o menino da roça vidrado na cultura da cidade que lhe é imposta pela mídia. Tem muito companheiro que tem condições de comprar uma 4x4 e não liga de andar em estrada esburacada, mas ele tem que pensar naquele que anda de coletivo, nos doentes.

JOEL: E ficam os caras entupindo as vagas da cidade com seus 4x4 e ainda usando

combustível subsidiado, o diesel.

GUSTAVO: Você quer dizer mais alguma coisa, Miguel?

MIGUEL: Quero dizer que no poder público ou fora dele eu me guio por uma coisa que aprendi com meus pais: é melhor amarelar na hora do que avermelhar depois. Eu não quero

a ver com o Osama, por causa do sangue árabe. Morre um, nascem 15; o nosso sangue não acaba. Meu avô descende dos portuguêses que vieram para cá, mas dos portuguêses árabes, mouros. Eu acho que não tem ninguém mais miscigenado do que eu nesse mundo - tenho árabe, português, “O sujeito não pode ter só direitos, um pouco de tenho ele tem que ter deveres também. francês, índio, tenho Nós vivemos hoje numa sociedade negro... É claro que eu escolho que todo mundo quer proteger o que é melhor todo mundo. Mas na casa dos pra mim de outros. Pra casa dele ele não leva... acordo com a oportunidade e a É muito fácil criar uma ONG e ocasião... dizer que isso e aquilo não pode, JOEL: Segundo o Eduardo Kraucs, mas levar o problema pra casa o Miguel é uma dela a ONG não leva..” alma penada, um espírito antigo, que escapou de uma tumba lá da igreja de é ter de mudar de calçada para Bocaina. não falar com você. Eu não quero MIGUEL: Vocês ficam me é deixar de frequentar o meu gozando mas eu acho que ele tem botequim ou a minha igreja. até um pouco de razão, porque GUSTAVO: Você é católico? muitas vezes me dá um desejo MIGUEL: A religião para mim danado de viver no século XIX. é aquela que o sujeito tem Eu acho que eu sou um espírito dentro de si e não aquela que de 1800. Tenho uma espécie de ele vende para os outros. Já tem saudade da ordem, do respeito. político demais fazendo isso, O sujeito não pode ter só se aproveitando da necessidade direitos, ele tem que ter deveres das pessoas. Se é para melhorar a vida do ser humano, qualquer religião serve.

GUSTAVO: Você prefere ser chamado de Osama ou de Obama?

MIGUEL: Eu tenho muito mais

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também. Nós vivemos hoje numa sociedade que todo mundo quer proteger todo mundo. Mas na casa dos outros. Pra casa dele ele não leva... É muito fácil criar uma ONG e dizer que isso e aquilo não pode, mas levar o problema pra casa dela a ONG não leva...

GUSTAVO: E antigamente se levava o problema pra casa?

MIGUEL: Levava. Se tivesse corretivo, levava.

GUSTAVO: Antigamente as famílias cuidavam dos seus doidos em casa.

MIGUEL: E hoje você não sabe quem é o doido mais... Por exemplo: que democracia é essa em que a gente vive?

GUSTAVO: Uma democracia em que 20% dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado é processada por corrupção, em que quem legisla é o Executivo, etc.

MIGUEL: Será que a gente tem que chegar ao fundo do poço para

reagir? Às vezes eu acho que faltou mesmo a gente passar por um sofrimento, tipo uma guerra, uma escassez de tudo, para dar valor a cada coisa. Será que nós não podemos pró-agir, pelo menos uma vez na vida? Será que não podemos ter dignidade, clareza e posicionamento? Para isso se paga um preço caro. Mas eu nunca gostei de pagar barato.

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10 - O Ponte Velha - Junho de 2011

Juntos, em torno da Fogueira

Resende Recicla

Dia 2 de julho, um sábado, tem a imperdível festa junina da Associação Escola Arcanjo Gabryel, em Penedo. A grande atração é a presença da Orquestra Voadora, do Rio, que tem prestigiado a Arcanjo nos últimos anos.

Fogueira, música, teatro, quitutes, quentão, bazar de produtos feitos pelos alunos e a emocionante caminhada das lanternas. A festa da Arcanjo é sempre o congraçamento de uma grande família, coisa de que a gente tanto precisa nos dias de hoje.

Parada Promove A nossa Parada do Milho agora não está cobrando taxa de entrega nos pedidos acima de R$ 15,00.

Por sinal, com esse tempo frio nada melhor do que tomar à noite aquela canja de lá, ou, se conseguir abrir mão da canja, um dos outros tipos de sopa que o Ricardo e Cia oferecem. Grande Parada!

Jazz e Blues Nos meses de junho, julho e agosto o Jazz Village Bistrô, em Penedo, está com uma programação de jazz e blues de primeira linha. Sempre às sextas e sábados às 21 horas. Bom lugar para se tomar um vinho, aquecendo o corpo e o espírito. O Jazz Village fica no Hotel Pequena Suécia.

O Humor do Cândido

:: Loterias :: Livros :: Jornais :: Revistas

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O cartunista Cândido Machado lançou seu livro “Ainda vamos rir disso tudo...”, no último dia 26, na livraria Nobel, no Resende Shopping.

O livro é uma coletânea de seus trabalhos desde a época em que passou pelos jornais Pasquim e Última Hora. Cândido mora em Mauá há mais de 20 anos, onde é proprietário da Pousada Passaredo. Além do desenho de humor, ele é craque no cultivo de orquídeas e bromélias.

A AMAR (Agência do Meio Ambiente de Resende) informa ao Ponte Velha que já são 26 os bairros onde está sendo recolhido o lixo reciclável.

A Prefeitura dá a estrutura — incluindo três caminhões com motoristas — e duas cooperativas de catadores fazem o trabalho. A agência fez também algumas parcerias que deram às cooperativas prensa, esteiras e capacitação. Informa também que está sendo feita a coleta em todos os órgãos públicos, o que agora, por sinal, é lei; que o lixão de Bulhões já pode ser considerado um aterro controloado e que Resende foi citada como exemplo pelo INEA em curso minitrado no Rio a municípios do estado.

Boas notícias! Quanto ao centro velho da cidade, onde os moradores reclamam do lixo largado nas praças da Matriz e do Centenário, a AMAR diz que em breve a coleta abrangerá também tais logradouros. E lá trata-se do reciclado e do lixo orgânico, que também não vem sendo recolhido regularmente. É muito bom ver a AMAR a todo vapor, com Fontanezzi, Plínio, Cotia e Cia entusiasmados com o trabalho.

O artista da Capa Nascido em 1911, Flávio Maia (foto da capa) estaria comemorando 100 anos. Neto do historiador João Maia, Flávio foi um excelente fotógrafo e deixou um vasto registro da Resende do século passado. Tinha ao mesmo tempo o sentido artístico da composição do quadro e o timing do repórter, como por exemplo na sequência de fotos que fez quando do incêndio da igreja da Matriz. Em meados do século passado era o único resendense a viver de fotografia (retratista, como também eram chamados naqueles tempos). Morou algum tempo em Volta Redonda, onde trabalhou com fotografias. Casou-se com Doelpha Maia, mas enviuvou-

Uai e Su é 10 E no quesito lugar aconchegante para as noites de inverno um dos primeiros colocados é sem dúvida o encantado bar Uai e Su, com seus caldos, suas sopas, suas comidinhas criativas e o calor humano de Sueli, Beto e Cia. A casa anda lotada, ponto de encontro do resendense antenado. E tem música ao vivo com dois caras muito bons: o Abild, que canta às sextas e sábados, e o José Carlos, às primeiras quartas-feiras do mês.

Os dois têm repertório versátil, tendo como âncora a variada e fecunda MPB.

-se; posteriormente contraiu matrimônio com Rosa Anechino (foto), também já falecida. Flávio também desenhava bicos de pena e gostava de escrever.

Joel Pereira Advogado - OAB.RJ - 141147

joelpereiraadvogado@joelpereira.adv.br Av. Ten. Cel. Adalberto Mendes, 21/201 CEP: 27520-300 - Resende - RJ Fones: (24) 3360.3156 / 3354.6379

expediente:

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Tel: 3351 2072

Jornalista responsável: Gustavo Praça de Carvalho Reg.: 12 . 923 Arte gráfica: Afonso Praça Ajudante: Maria Morena Ratinetz

Penedo

Av. das Mangueiras (a 800m do Portal de Penedo)

24 . 3351 . 1145 // 9301 . 5687 contato@pontevelha.com www.pontevelha.com

Av. das Mangueiras, 1645 - Lj. 04

Junho de 2011 - O Ponte Velha - 11

Nossa História, Nossa Gente

Juca Paiva

O objetivo desta coluna é homenagear pessoas que dão nome a logradouros de Resende. O homenageado deste mês empresta seu nome a uma rua no Bairro Mirante das Agulhas. É a antiga Rua 6, denominação conferida pela Lei 1961, de 22/11/96. Seu CEP é 27524-565. Pela primeira vez, o colunista aproveita in totum o texto básico fornecido pela família do homenageado. O texto de sua filha Maria Luiza e de sua neta, Chrysley veio perfeito inclusive no tamanho.

Assim, o titular lhes atribui a autoria desta coluna.

José de Almeida Paiva Filho, o Juca Paiva, nasceu em 22 de junho de 1911, em Rio das Flores, Rio de Janeiro. Filho de D. Luizinha e de José de Almeida Paiva, vulgo Zeca Paiva. Vieram para Resende quando ainda era criança. O pai era fazendeiro e tinha uma fazenda na estrada da Limeira, que se chamava Fazenda da Babilônia, hoje denominada Fazenda São José. Na fazenda ele trabalhava com o pai, tirando leite, cuidando do gado, fazendo queijo. Cresceu apaixonado por criação, por fazenda, por gado leiteiro.

Aos 18 anos fez tiro de guerra e aos 21 anos casava-se com Artêmia Cândido Dias, filha do Capitão João Cândido Dias e de Dona Maria Cândido Dias.

Após o casamento eles foram morar na Fazenda Santa Júlia, onde nasceram os primeiros filhos. Depois Juca Paiva comprou do sogro a Fazenda São Sebastião, nos arredores de São José do Barreiro, fronteira de Resende, em São Paulo.

Nesta fazenda nasceram seus filhos caçulas e lá ele seguiu criando gado leiteiro, tornando-se um grande pecuarista. Aos poucos foi comprando terras nas redondezas e anexando à sua fazen-

Joel Pereira

da. Além de criador de gado ele gostava de negociar. De zelar pela fazenda, de cuidar dos empregados e suas famílias.

Seu hobby era caçar. Paixão que dividia com vários amigos, dentre eles Natanael Soares da Rocha e Aarão Soares da Rocha.

Juca Paiva e sua esposa tiveram sete filhos: Maria Luiza, Argemiro, José Odilon, João, Artêmia, Juracema e Juracy.

Todos se casaram e tiveram filhos. Foram vinte e dois netos e hoje são muitos bisnetos.

O que Juca Paiva tinha de especial era a índole boa, a firmeza de caráter, a enorme capacidade de trabalho, o respeito de todos ao seu redor, a vitalidade.

Ele foi um dos sócios fundadores da Cooperativa Agropecuária de Resende. Cultivava amigos, tinha vários em Resende, como o Dr João Villela, Francisco Tavares Resende, Luiz Cleto da Rocha, um tio especial, Tio Toniquinho, osobrinho querido Luiz Geraldo de Paiva Whately, o irmão Honório Duque de Paiva, dentre tantos que ele gostava e admirava.

Ele tem uma cadeira com seu nome na Academia Resendense de História - ARDHIS. Artêmia Dias Paiva faleceu aos cinqüenta e dois anos e ele casou-se novamente com Nancy Amorim. Viveram juntos até o fim de sua vida, em 1º de fevereiro de 1996, quando faleceu aos 85 anos de idade.

REFERÊNCIAS: Memórias de Maria Luiza de Paiva Cavalcante Silva e Chrysley Márcia de Paiva Silva Pimenta; Indice Geral da Legislação do Município de Resende, Elisa Abrahão.

Foto do acervo da família

Tópicos Utópicos 23

Luis Felipe Cesar

*Semana do Meio Ambiente com votação de mudanças no Código Florestal. Parlamentares fazem Brasil retroceder na proteção do meio ambiente. Agora cabe ao Senado. Urgente incluir na nova lei incentivos para quem preserva, recupera as florestas e faz agricultura sustentável. Retirar anistia e sensação de impunidade. Garantir proteção às matas ciliares, áreas acima de 1.800 metros de altitude, encostas e outras áreas de risco. *O deputado federal Alfredo Sirkis (PV) comentou que, apesar de 410 votos a favor de mudanças no código florestal, não mais de 100 deputados são ruralistas. Apesar disso, os demais, sem interesse direto no assunto, votaram com absoluta convicção, totalmente impermeáveis a qualquer ponderação. E festejaram intensamente. *Em Resende, muitos eventos nesse período especial: Destaque para a ARDHIS, a AEDB, através do seu curso de Biologia e o Parque Nacional do Itatiaia, sediando atividades e impulsionando seu plano de manejo. *A ciclovia na estrada para Penedo (RJ 163) esta ótima, mas a poda das árvores e a iluminação ofuscante estão na contramão da valorização da paisagem. Aparentemente, ainda não foram replantadas as árvores retiradas por ocasião da instalação do novo posto de gasolina. *Em eleição fraternal, depois de um adiamento, tomou posse dia 6 de junho a nova coordenação do Conselho Gestor do Alto Rio Preto, que atua na região de Visconde de Mauá, ficando assim constituída: Coordenação, Agência do Meio Ambiente de Resende – Amar; Vice-coordenação, Associação dos Produtores Rurais de Visconde de Mauá (Aprovim); Secretaria, Associação Pró Bem Viver e Vice-secretaria, Associação de Artesãos e Pequenos Produtores da Região de Visconde de Mauá (AAPPRVM). *Resende vai ser a capital dos automóveis elétricos, exportando carros e tecnologia. A iluminação pública seguirá o modelo de Fortaleza, com uso de energia solar. Telhados e muros verdes reduzirão o calor.

Novas construções contarão com painéis solares. Os ônibus serão suficientes para transportar a todos com conforto e rapidez, sem barulho ou poluição. Uso de bicicletas será estimulado e cada vez mais intenso. Hortas urbanas vão garantir maior segurança alimentar e saúde.

Este é um perfeito tópico utópico, porém possível!

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Seu carro agradece e seu paladar também

12 - O Ponte Velha - Junho de 2011 Quando o papel era feito de panos velhos, os trapos tinham muito valor na Europa, chegando a ser proibido enterrar os mortos vestidos. As vestes dos falecidos eram recolhidas pelas trapeiras, mulheres miseráveis, excluídas sociais, que logo morriam, com as pestes que vinham nas roupas dos doentes. O papel feito desse algodão reciclado dos tecidos, misturado com fibras vegetais, foi inventado pelos chineses há quase 2 mil anos, mas só chegou à Europa, conforme se estuda na escola, há pouco mais de 500, no tempo dos grandes descobrimentos. Antes disso, só havia os papiros, raríssimos, feitos das palmeiras do Vale do Nilo, e os pergaminhos, de couro de animais e até de pele humana: os parentes vendiam a pele do cara, que horror.

Depois de três séculos do papel de trapo, com o algodão cada vez mais escasso, começou-se a buscar outros materiais. O cientista e inventor austríaco Jacob Schaeffer publicou, em 1875, um ensaio de seis volumes provando ser possível obter papel a partir de mais de 600 espécies de plantas e o alemão Mathias Koops relatou pesquisas semelhantes, editando, em 1800, um livro em papel de palha. As idéias dos dois foram rechaçadas por seus contemporâneos e, em seguida, atropeladas pela descoberta da celulose e a Revolução Industrial. Até que, 200 anos depois, voltaram à tona, no mundo e no Brasil, com o movimento artístico do papel feito à mão – que se define como tendência também política, ecológica e cultural.

Tudo isso e muito mais rende uma conversa com o artista plás-

Regina Guerra

Com vocês, o Senhor Papel tico papeleiro Maurício Rosa, o inventor da exposição itinerante “O Papel das Vilas”, promovida pelo Centro Cultural Visconde de Mauá e que estará até 26 de junho no museu do Parque Nacional. O inusitado coletivo de obras de arte de diferentes linguagens confeccionadas com papéis artesanais feitos de plantas foi inaugurado, em Mauá, em dezembro de 2009. Esteve, depois, no MAM Resende, em Quatis - Recanto 21 e no Jardim Botânico do Rio, tendo sido visto, no total, por cerca de 4 mil pessoas, contando com os mais de 1.000 visitantes, até agora, da mostra do Parque.

Por onde passa, a exposição vai arrebanhando novos artistas, espicaçados pelo desafio de criarem usando os preciosos papéis fabricados por Maurício com casca de pinhão, lírio do brejo ou avencas, entre inúmeras plantas da Mantiqueira. A coletiva começou com 47 participantes e hoje reúne 74 artistas e mais de cem obras, numa fantástica diversidade de aplicações e linguagens: pinturas, aquarelas, esculturas, instalações, intervenções, origamis, marchetaria e recortes, além do núcleo fotográfico. Fazem parte desde artistas de carreira consolidada (como os mauaenses Roberto Granja, Fernando Fleury, Cássia Freitas e Rubens Saboya ou os paulistanos Cláudia Simões e Boi) a talentos adormecidos que ousaram pela primeira vez se expressarem artisticamente, como a artesã Líria Mariana, de Resende, e, da serra,

Dr. Maurício Diogo Cirurgião Dentista - CRO-RJ 10689

Implantodontia

a veterinária Gabi Six. “É o maior coletivo artístico dos sete anos do CCVM – diz Márcia Patrocínio – É bonito as pessoas vindo buscar o papel, começando a criar. E é incrível ver como o Centro Cultural, ao existir como espaço democrático de expressão, faz aflorar o potencial artístico das pessoas.”

Com trabalhos novos sempre chegando, os vendidos sendo substituídos e sistema de rodízio (no Parque estão 45 obras), a mostra nunca é a mesma. Desdobrou-se, ainda, por outros eventos de arte: trabalhos com papel botânico concorreram no recém findo Salão do Pinhão do Centro Cultural de Mauá e estão no Anexo da Câmara de Resende, na retrospectiva da mostra “Desperdício Zero”, organizada pela pintora e guerreira da reciclagem Fátima Porto. Maurício Rosa, presente nos Salões da Primavera de 2009 e 2010 do MAM Resende, recebeu menção honrosa, este ano, na exposição do bicentenário da Aman. Até no Museu do Louvre foram parar pedacinhos de papel de pinhão, no trabalho de Tatiana Ratinetz, a resendense que anda ganhando o mundo.

A educação artística é outro lado bacana. Crianças e adolescentes das escolas de Mauá e do programa municipal Pró Jovem, de Itatiaia, aprenderam com Maurício a fabricar os papéis e trabalhar com eles. Uma das obras mais lindas do “Papel das Vilas” é o álbum sobre a história da escrita e do papel, criação coletiva de alunos da escola da Maromba, mesclando colagens

de tecidos, fotocópias pintadas com lápis de cor e outros materiais.

Maurício Rosa, o “Senhor Papel” de Mauá, é mineiro de Resplendor, Vale do Rio Doce (pelo nome da cidade, ele parece que já

nasceu com a beleza no destino).

Suas iniciais brincam inevitavelemente com mister, “senhor” em inglês, no letreiro da “Mr. Papel”, sua papelaria-atelier em Maringá, que exibe todo tipo de artigos do ramo em papel botânico e reciclagem de papel industrial.

No início dos anos 90, Maurício, bancário e fotógrafo em Brasília, fez as primeiras oficinas de pape artesanal no Museu Vivo da Memória Candanga. Uma das professoras era Diva Buss, de São Paulo, que participa do “Papel das Vilas” e foi pioneira do movimento artístico do papel “natural”, que brotara no país dez anos antes. Na Escola de Belas Artes da UFMG, a mestra Marlene Trindade fundou, em 1980, o primeiro atelier de pesquisas do papel feito à mão.

Em São Paulo, o artista Otávio

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Roth fazia o mesmo, enquanto, na Universidade de Brasília, a professora Zuleica Medeiros começava uma super empreitada, abrangendo educação artística e ambiental, reciclagem, socialização e geração de renda. O núcleo de produção de papel artesanal por meninos de rua de Ceilândia foi o primeiro dos 80 polos do convênio entre a UnB e a Fundação Educacional do DF, envolvendo artesãos, idosos e a rede escolar. Hoje, após três décadas de cursos e seminários, há, Brasil afora, numerosos artistas papeleiros e núcleos de pesquisa, com as plantas usadas variando conforme a flora da região. A casca do pinhão é descoberta de Maurício Rosa que, em 1997, aderiu ao programa de demissões voluntárias do Banco do Brasil foi fazer papel e arte em Mauá.

A forte identidade regional do pinhão, símbolo de Visconde Mauá, é um dos pés do sonho ainda não realizado do artista. O outro pé está no parágrafo anterior: a ação sócio-ambiental de Zuleica Medeiros em Brasília. O sucesso do “Papel das Vilas” pode ser o primeiro passo para o surgimento, no alto da serra, de um centro de aprendizado e produção de papel botânico, reciclagem de papéis industriais e artefatos derivados, com geração de renda e educação ambiental para jovens e adultos. Resultando, de quebra, numa linha de artesanato bem típico de Mauá, que fortaleça as características culturais locais e se torne mais um atrativo para os turistas. Axé!

Licenciamento ambiental Educação ambiental Recuperação paisagística Levantamento florístico Perícia e Auditoria ambiental ISO 14000 Av. Nova Resende, 320, sl.402 Campos Elíseos - Resende/RJ (24) 9254.9851 / (24) 8112.3762 grandifloraambiental@gmail.com