Ponte ago set de 2017 ano xxii nº 249

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RESENDE E ITATIAIA - Agosto/Setembro de 2017 - ANO XXII - Nº 248 JORNAL MENSAL- DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Publicação do Instituto Campo Bello

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Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim. Millôr

Noel de Oliveira - sem sombra de dúvida

Universidade Aberta

Noel de Oliveira nasceu em Resende no dia 26 de junho de 1929, filho de Hermílio de Oliveira e Silva e de Maria Fontanezzi de Oliveira. Morreu no último 15 de setembro. Concluiu o curso secundário no Colégio Dom Bosco em 1948 e, dois anos depois, ingressou no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Atuou como líder estudantil no Colégio de Maria Zenaide e Dr. João Villela. Elegeu-se vereador em outubro de 1954, sendo reeleito em outubro de 1958, permanecendo na Câmara Municipal de Resende até o fim de seu segundo mandato em janeiro de 1963. Após 1964, com a instauração do bipartidarismo em 1965, ingressou no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar instaurado no país em abril de 1964. Nos anos 1970, elegeu-se deputado estadual na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, substituindo Marcelo Dable, que assumiu a Prefeitura de Barra Mansa. Com a redemocratização de 1979, oscilou entre o PDT e o PMDB, sempre representando uma classe média popular e sensível às questões mais prementes do cotidiano. Em 1982, voltou a disputar eleições municipais, vencendo para prefeito. Em 1994, foi eleito deputado federal. Terminou sua carreira na vida pública entre 2009 e 2016 como vice-prefeito de Rechuan. Em 2002, conversou com o Ponte Velha, de que resultou a entrevista que republicamos nesta edição.


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No Tempo do Fio do Bigode

Joel Pereira

Antônio de Carvalho Filho em 1972. Aprovou a venda de ações da Petrobrás que o Município possuía , ajudando o Prefeito José Marco Pineschi a concretizar importantes obras na cidade, tais como: a ponte Tácito Vianna Rodrigues, sobre o rio Paraíba, e mais duas pontes sobre o rio Sesmaria: uma defronte a Universidade Estácio de Sá; a outra próxima ao INSS. Além disto, o Município comprou uma extensa área do Carlos Ferreira Pinto – grande benfeitor de Resende –, onde hoje estão instalados o Sesi, o Senac, o Corpo de Bombeiros, o Parque das Águas, o Estádio de Futebol, o Fórum e outros. Além disto, Pineschi comprou, também, o prédio do Banco do Brasil, na Praça Oliveira Botelho, onde instalou a Câmara Municipal.

Antonio de Carvalho Filho foi conhecido como Toninho Parada, Toninho Barbeiro, Toninho Popó ou Toninho Vereador. Filho de Totonho Parada (Antonio de Carvalho Reis) e de Dona Sinhaninha (Ana Aparecida Pires), Toninho nasceu em 28/03/1941, na Fazenda Pouso Alegre, em São Pedro do Taguá - arraial formado em terras doadas ao patrimônio do Santo pelo Sr. Totonho Parada. O Taguá pertence à cidade de Rio Preto/MG, vizinha de Parapeúna, distrito de Valença/RJ. Nascido e criado às margens do rio que dá nome à cidade, Toninho Parada viveu na lida do campo até atingir a maioridade, quando resolveu buscar um outro caminho. Foi para Nova Iguaçu morar na casa de sua irmã Maria Aparecida Reis Silva, casada com Luiz Carlos da Silva (Lili Barbeiro, falecido em novembro de 2016), para aprender, no salão do pai deste, o ofício de barbeiro. Anos depois, já dominando a arte da profissão, veio para Resende, onde abriu um salão e convidou seu cunhado Lili para companheiro de trabalho. Toninho sempre demonstrou uma enorme gratidão pela irmã e pelo cunhado, companheiros das horas boas e das horas difíceis. Tempos depois, resolveu mudar de profissão e foi caixeiro-viajante da Biscoitos Aymoré, de onde se desligou para trabalhar por conta própria, com atacado de doces, balas e biscoitos e, também, um ponto de varejo na Av. Gen. Afonseca, na Vila Julieta. Passou a ser conhecido como Toninho Popó, nome de fantasia de sua loja. Com o falecimento de seus pais, a Fazenda Pouso Alegre foi dividida pelos cinco filhos do casal: Miguel Parada, Aparecida, Tereza, Nely e Toninho Parada. Mais tarde, Toninho adquiriu as terras do irmão mais velho, englobando a casa onde nasceu. Concomitantemente ao comércio, foi pecuarista de leite lá na Fazenda Pouso Alegre, coadministrada pelo seu sobrinho Clóvis de Carvalho Gomes, o famoso Ramalhete, com eventual participação do Antonio Gomes de

Toninho Parada foi um católico fervoroso, devoto de Nossa Senhora Aparecida. Em testemunho de fé, já sessentão, foi a pé ao Santuário de Aparecida, na companhia do saudoso Oscar Luiz de Castro Reis (Oscar da Vips) e do Toninho do Zé Pinto (Antonio Carlos de Souza Coelho). Carvalho, o Tonico. Seus amigos Jacintho Machado, Joel Pereira e Paulo Machado passaram inesquecíveis finais de semana com o Toninho lá na Fazenda, justificando o nome de Pouso Alegre.

Esportista, foi um grande jogador de truco; criador de galos combatentes (em um tempo que a atividade era permitida) e jogador de futebol. Foi proprietário da primeira quadra particular de futebol de salão em Resende, no Bairro Itapuca. Torcedor fanático do Vasco da Gama, seja na primeira ou na segunda divisão.

Pela sua liderança e grande capacidade de comunicação, Toninho acabou requisitado também pela política. Candidato a vereador em 1970, foi o oposicionista mais votado, eleito pelo MDB, com 672 votos. Tornou-se também conhecido como Toninho Vereador, pelo seu atuante trabalho. Aquela memorável Câmara, mandato de dois anos, foi presidida por Antonio de Carvalho Faria (Toninho Capitão), em 1971, e por João Luiz Gomes,

Falecido em 1º de maio de 2017, Toninho foi casado com Vera Duarte, sua grande companheira. Deixou três filhos: Ana Paula (advogada), Simone (funcionária pública federal) e Rodrigo Omar (comerciante).

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Toninho Vereador sempre será lembrado como uma pessoa que, em sua breve passagem pela terra, procurou melhorar a vida de seus semelhantes, deixando um exemplo de honestidade e de trabalho!

Publicação bimestral do Instituto Campo Bello 14673758/0001-03

Expediente Jornalista responsável: Gustavo Praça de Carvalho 24- 99301.5687 Reg. 12 . 923 Concepção gráfica: Afonso Praça Edição eletrônica: Lila Almendra Edição e Diagramação: Marcos Cotrim 24-98828.5997 Gestão: Anna Pitanga 24- 99932.1155 e Larissa Machado 24- 99864.6725 contato@pontevelha.com www.pontevelha.com


Agosto/Setembro de 2017 - O Ponte Velha -

Gustavo Praça

1 - No primeiro semestre deste ano lideranças de Penedo se mobilizaram pela regulamentação da entrada de ônibus de excursões turísticas. Houve um domingo, no fim de dezembro último, que cerca de 120 ônibus trouxeram mais ou menos cinco mil pessoas para o pequeno centro da Casa de Papai Noel. Guardadas as proporções, é o nosso problema com imigrantes. Tem que acolher, mas tem que por ordem. As cidades turísticas cobram taxa pela entrada de ônibus de excursões. Só Penedo não fazia. Ora, a uma distância possível para passeio de um dia, tanto do Rio quanto de São Paulo, éramos o filé para empresários do ramo e para alguns poucos que lucram no local a troco de virarmos um inferno. O número de carros também devia ser regulamentado? Que trabalho difícil é a administração da coisa pública... Por isso é que a pessoa se elege e prefere fazer “política”. 2 - O episódio dos ônibus de turismo gerou debates sobre um calendário de eventos que possa trazer gente de mais dinheiro. Dou meu pitaco: a obra de saneamento do ribeirão das Pedras é o evento-mãe, vale por todos os eventos, quase que dispensa os outros eventos, e é uma atração para ricos e pobres, a natureza é democrática. Tem dinheiro para isso nos cofres do CEIVAP (o consórcio que cobra pelo uso das águas para aplicação no Paraíba e em suas micro-bacias) e também no Ministério do

Tando regular, tá lôco de bom!

Renato Serra Renato Serra

Oscar Pereira da Silva - Mercado Caipira, 1937

Meio Ambiente. Precisa um bom projeto e vontade de fazer. Penedo tem hoje seis vereadores na câmara de Itatiaia, além do que o prefeito e os secretários de obras e de turismo também são daqui. É um momento excelente para buscar esse projeto em parceria com a associação dos empresários de turismo e as comunitárias. Quem sabe com o gerenciamento da ONG Crescente Fértil, que é da região e tem experiência nesse tipo de projeto. Diz o otimista: o político que realizar um projeto desse se reelege tranquilamente. Diz o pessimista: o político sabe bem como se reeleger com menos trabalho. Diz o otimista: com um projeto desse os hotéis só teriam vagas para seis ou oito meses à frente, pois todos

iam querer mostrar a seus filhos uma pequena bacia hidrográfica cristalina. Diz o pessimista: ninguém está ligando para rio limpo não. As pessoas gostam mesmo é de andar no meio da confusão e fazer selfie. O realista pensa que a obra pode começar lentamente. É difícil procurar fazer o melhor e ter cacife pra eleição como ela se dá hoje, com a mentalidade média de hoje. Por isso é que a pessoa se elege e prefere fazer “política”. Tudo se funda num caldo de cultura. É só a melhora do gosto desse caldo que permite que as regras mudem e a gente possa escrever a palavra política sem aspas. É como canta o MC Negão: “O processo é lento/ Não tou dizendo que é fácil/ Tem que trabalhar feito um operário/ Só que sem horário”.

O trabalho sem horário são as pequenas, atômicas e fundamentais ações cotidianas de cada um. 3 - O turismo é chamado de “indústria sem chaminés”. Mas tudo vira palanque, as palavras também. Sustentável, orgânico, transparente, reciclável, alternativo. O rio das Pedras é um palanque? Para mim também? As tartarugas e as baleias são um palanque? O mundo virou um palanque, como me dizia outro dia meu amigo Raymundo Rodrigues, arquiteto mestre em construir com os materiais que a terra nos dá diretamente. O Raymundo não consegue mais usar nenhuma dessas palavras aí

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acima para falar do trabalho dele. Só consegue dizer: “meu trabalho é isso aqui”. 4- Aí eu lembro de um caso que me contaram, ilustrativo da fraqueza (e da força) das palavras. Diz que um matuto estava tranquilamente sentado num toco, olhando a lua, quando foi visto pelo poeta Olavo Bilac. Este então ficou emocionado com a cena. Aproximou-se do nosso capiau e lhe disse: - És um amante do belo! Acaso, já viste também os róseos-dourados dedos da aurora tecendo uma fímbria de luz pelo nascente, ou as sulfurosas ilhotas de sanguíneo vermelho pairando sobre um lago de fogo a esbrasear-se no poente, ou as nuvens como farrapos de brancura obumbrando a lua, que flutua esquiva, sobre um céu soturno? - Ultimamente, não respondeu o caipira. Faz um ano que num bebo um gole de pinga. 5- Que a gente procure a palavra que vem embolada com o pensamento intuitivo. E eu penso agora na palavra fé. Tenho fé que o Brasil está vivendo uma grande revolução na sua cultura política. Penso na palavra precário, que é o que nós somos, para dar valor ao que for o possível se feito a cada momento pelos homens e pelas instituições. Como diz o gaúcho: “se fica regular tá loco de bom”

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Dos páramos andinos ao Brasil

A cidade de Bogotá – Colômbia sediou, de 12 a 15 de julho, o Congresso Internacional de Páramos e Ecossistemas de Montanha, quando vários países apresentaram suas visões sobre esses ambientes, entre eles Argentina, Chile, Bolívia, Equador, Venezuela, Peru, Costa Rica e Colômbia. Abordaram-se temas relacionados a políticas públicas nacionais, que envolvem desde a criação de comitês para os ecossistemas de montanha, como no caso da Argentina, até assuntos mais específicos, como as mudanças climáticas, o pagamento por serviços ambientais e a prevenção a desastres naturais, como enchentes e deslizamentos. Destaca-se na apresentação da Argentina o mapeamento e a classificação do seu relevo montanhoso, a partir de 300 metros de altitude, em Colina, Serra, Montanha, Alta Montanha e Altiplano, sendo os dois últimos acima de 3.000 e Montanha entre 1000 e 3.000. Uma análise dos principais problemas que afetam as montanhas de lá coincide com nossa realidade em muitos aspectos: Mudança do clima, necessidade de aprofundar mecanismos de participação social, presença de espécies exóticas, perda de tradições culturais, uso de agrotóxicos, insuficiência de serviços básicos para a população, desmatamento, incêndios florestais, sobrepastoreio, processos erosivos, perda de biodiversidade e êxodo rural. A participação chilena foi impactante, com a descrição do processo de elaboração da Política para a Gestão Sustentável das Montanhas no Chile, entre abril e novembro de 2016, resultando na formulação de um Abril/2016 primeiro documento que veio a ser submetido a uma pioneira “consulta cidadã” virtual em dezembro do mesmo ano. A Bolívia destacou o processo de evolução da sua legislação nacional, desde a Lei de Direitos da Mãe Terra, em 2002, até a Lei 777/2016, que estabelece a Gestão de Risco da Mudança Climática no Sistema de Planejamento Integral do Estado. A mudança do clima é uma realidade na Bolívia, onde se constata oficialmente, como suas consequências, “recuo de glaciares, mudanças no regime de chuvas, desertificação, migração, enfermidades, secas, inundações e incêndios”. Como lema, “um país que protege as montanhas em suas bacias hidrográfica, é um país que tem água em seus rios”. A apresentação do Equador foi mais voltada para o modelo de governança que procura articular Estado, Comunidades e Sociedade Civil e as linhas de ação que vêm sendo implantadas, como: restauração e manejo sustentável de áreas úmidas, fomento de atividades produtivas sustentáveis (turismo de observação de aves, turismo comunitário), controle e vigilância, pesquisa, capacitação e educação ambiental.

A Venezuela focou em seu marco jurídico que protege altitudes médias e altas das bacias hidrográficas, em particular as nascentes de água, áreas úmidas e os picos andinos e altoandinos, contando com um sistema de parques nacionais que abrange cerca de 210 mil hectares de ecossistemas de páramos. A Costa Rica apresentou o manejo de ecossistemas de alta montanha na Cordilheira de Talamanca, uma área relativamente pequena (50 mil hectares) que tem como principal atividade o ecoturismo. Destacou a elaboração participativa dos planos de manejo das áreas protegidas e os programas de gestão comunitária e educação ambiental como estratégias para enfrentar as principais ameaças, que são a caça, os incêndios florestais e as plantações ilegais. Na Colômbia, anfitriã do evento, após determinação da Justiça o governo delimitou mais de 1.440.000 hectares de páramos, abrangendo 270 municípios e tendo como um dos principais objetivos, além da conservação do ecossistema, garantir o abastecimento de água para mais de 30 milhões de habitantes. Um erro na dosagem da definição das limitações de uso da área, que se esperava ser voltada para proibir mineração e monoculturas, acabou impedindo até mesmo a pequena produção rural familiar, o que gerou imediata mobilização e o compromisso do governo em rever os critérios adotados. De forma geral, a correlação entre água, parques nacionais e valorização dos serviços ambientais é uma estratégia bastante usada para sensibilizar a população para a conservação da natureza. O simpático e ameaçado urso andino foi adotado como a grande estrela desse esforço. Esse nosso vizinho amazônico vive um momento interessante desde que foi estabelecido o acordo de paz com as forças de guerrilha, as Farc. Recursos militares e logísticos, antes destinados à guerra, estão sendo direcionados para apoiar a segurança pública e a vigilância de parques nacionais. No entanto, ex-guerrilheiros em busca de trabalho têm sido fator de pressão sobre a floresta, resultando em aumento do desmatamento, o que está motivando o governo a desenvolver projetos de possam gerar postos de trabalho com ecoturismo e outras atividades amigas na natureza. Enquanto isso, no Brasil, apesar de retrocessos e incêndios, cresce o interesse pela restauração florestal e o pagamento pelos serviços ambientais. E também avança a organização de um grande evento internacional sobre ambientes de montanha, a se realizar em dezembro de 2018, em Friburgo. Em breve, mais notícias sobre o nosso “Mountains 2018”. Luis Felipe Cesar

Rancho Belos Prados inaugura Capela Dr. Rafael de Almeida Procaci Cirurgião-Dentista (CRO-RJ 20333) Especialista em ORTODONTIA e Ortopedia Funcional dos Maxilares Centro Médico Policlínica Resende

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Em comemoração aos 300 anos de descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida, foi inaugurada uma capela em homenagem à Padroeira do Brasil no Rancho Belos Prados, Itatiaia, no último dia 12 de outubro. A imagem chegou pelo Paraíba no antigo porto, onde foi recebida pelo proprietário, Joaquim Carlos Bernardes Maia (o Kim) e mais devotos. O grupo costuma se reunir para cavalgadas e tem Nossa Senhora como patrona. Com este gesto, Kim dá seguimento à piedosa tradição familiar, abrigando a imagem em Oratório de talhe antigo (foto), patrimônio herdado de seus ancestrais. (MCB)


Agosto/Setembro de 2017 - O Ponte Velha -

O Nascimento das Universidades

N o Ano de Nosso Senhor de 1148, tempo das Cruzadas, tempo das catedrais e tempo de grande aventura acadêmica, fazia apenas sete anos que Hugo, o Saxônico havia morrido, e seu nome ficou conhecido na história como “Hugo de São Vítor” – neste período houve a união administrativa da Abadia de São Vítor com a Abadia de Saint-Geneviève. É verdade que o reconhecimento do Sumo Pontífice Pascal II endossou a reputação dos mestres destas escolas, e o ensino fundamentava-se na formação clássica do trívio – “gramática, retórica e dialética” e quadrívio “aritmética, geometria, música e astronomia”. Alguns estudantes haviam ficado confusos ao perceberem num dos vitrais fixados com chumbo nas janelas coloridas da Abadia de São Vítor o episódio em que Jesus falava com a mulher samaritana. Levantavam questionamentos, dentre eles se era conveniente aos monges também nos seus dias fazerem como o Senhor: falar com as mulheres ao invés de fugirem delas. Um dos estudantes chamava-se Adalberto de Lion, e seus estudos o haviam estimulado a evocar uma disputa como era costume no âmbito acadêmico da Abadia. E foi às vésperas de Natal que os alunos da Abadia de São Vitor se reuniram num grande salão para assistir a disputatio entre sua escola e a Abadia de Saint-Geneviève.

Na mediação da disputa estava o Mestre Gilberto de Parma, representante da Faculdade das Artes. Seus cabelos brancos e ralos se mostravam testemunhas de anos dedicados à leitura, noites em que a tênue luz da lamparina bruxuleava em seu quarto. Sua coluna era arqueada, aparentava mais idade do que realmente tinha. Em suas mãos carregava um livro de capa dura e que logo foi apoiado no púlpito de mogno invernizado. O salão arredondado continha mais de duzentos estudantes; estavam divididos por setores e o piso era elevado, no formato de um anfiteatro clássico, de forma que a plateia ficava num patamar mais alto do que os dois participantes da disputa. Eram eles: Adalberto de Lion, representante de São Vítor, e Adam da Normandia, estudante de Saint-Geneviève. Abrindo seu livro, Mestre Gilberto de Parma inicia a leitura introdutória: — Eu amava as belezas terrenas e caminhava para o abismo [...] eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criatu-

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microcosmo do mundo inteiro. — Gesticulou para a plateia como se estivesse rezando, as duas mãos em forma suplicante. — Sendo assim, suas palavras demonstram o quanto és estulto, Adalberto, pois a ordem cisterciense não segue as regras de São Bento e sim as de São Macário. Os alunos na plateia comentavam baixinho entre si o desenrolar da disputa. Alguns em sinal de admiração e outros de indignação. — Tolo! — Retrucou Adalberto. — Santo Anselmo salienta em sua obra Proslógion a necessidade de alguns se internarem voluntariamente como intercessores, fugindo do tumulto e da beleza das formas. — Não é a beleza das formas que atrapalha a santidade — Adam olhava a plateia como quem busca aprovação, era dedicado na arte da oratória a tal ponto que seus olhos lacrimejavam em sinal de paixão às reflexões evocadas. — Que valor teria a vida monástica se quando confrontada com o desafio de pregar o evangelho aos leigos omitissem tamanha responsabilidade? É por isso que Guilherme de Malmesbury consegue notoriedade e empatia entre os camponeses do Languedoc. — É por isso que surgem as heresias, precisamente El Greco- São Luís, rei de França os cátaros — disse Adalberto com o rosto ainda vermelho, suas palavras soavam com ras. — Sua voz era rouca, mas todos no plenário ouviram intrepidez. — Um monge seria alvo fácil para a a leitura introdutória com a citação das Confissões de beleza das formas corruptíveis Agostinho. Evocava a voz da autoridade. — Hoje, Ano e comprometeria o modelo de vita angelica. de Nosso Senhor de 1148, iniciamos mais uma disputa — A forma não se relaciona com o corpo da muentre nossos estimados alunos. Portanto, a lher, visto que, na tradição de Pedro Abelardo o questão em pauta consiste em: “É conveniente a um mon- termo “forma” é conceito metafísico designativo ge falar com uma mulher mesmo ferindo seus votos?” à essência do ente, ou seja, aquilo que a coisa é em — A caridade faz parte do fruto do Espírito, si mesma. — Adam da Normandia fez um muxosegundo a carta do Apóstolo dos Gentios à Igreja de xo. — Caíste em impasse metafísico, Adalberto! Gálatas — explicou de O aluno de São Vítor ficara furioso quando o início Adam da Normandia —, creio que o problema mestre Gilberto pediu a palavra: evocado não se relaciona — Já basta por hoje, Adalberto! Seu impasse deu com as regras monásticas, mas com a salvação das almas. a vitória para Adam da Normandia. A alma sendo — O estudante simples, não divisível e nem composta, também havia se preparado com meses de antecedência para re- é conhecida pelo termo “forma” e não pode ser presentar Saint-Geneviève, havia escolhido uma túnica associada ao corpo humano. cinza que lembrava o hábito da ordem cisterciense. — Um Contudo, devemos entender que o fato do monge monge não somente pode como também deve falar com não falar com as mulheres as mulheres se isso inferir em corolário soteriológico. está associada à funcionalidade eclesiástica de — Divirjo, mestre Gilberto — interveio Adalberto de nosso tempo. Alguns lançam a Lion —, toda lei divina torna-se evidente por si mesma, palavra, outros intercedem. inferindo em caráter moral. Os monges cistercienses estão A sessão havia terminado. Adam da Normandia submetidos à regra de São Bento, logo, torna-se fora recebido com júbilo incongruente ao interno quebrar a lei e falar com as entre seus amigos de escola e os alunos voltavam mulheres de Paris. contentes para o dormitório. Adam ficara desconcertado com o ataque direto de seu Makyl Xavier oponente e respondeu: — Pedro Damião dissera que cada cristão fiel era um

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6- O Ponte Velha - Agosto/Setembro de 2017

“O principal é uma mudança cultural: o sujeito saber que está no cargo para servir” G

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Noel de Oliveira é uma instituição política de Resende. Descendente de italianos de Porto Real por parte de mãe, e portugueses, índios e negros por parte de pai. Seu pai foi colono na roça e depois teve armazém na rua Alfredo Whately, perto de igreja de São Sebastião. E foi na lida com a grande freguesia popular que ele desenvolveu o talento para a conversa e a ajuda ao próximo\eleitor. Começou a carreira no PTB, em 1954, como o vereador mais votado. Jovem e de classe popular, era uma novidade para a Câmara na época. Foi prefeito de 1983 a 1988, ganhando fama de honesto. Foi deputado estadual e federal. Os adversários criticam seu estilo centralizador e dizem que ele não tem visão ampla. Noel responde que eles falam isso porque não o podem chamar de ladrão. No PDT, ele foi candidato a prefeito, e conversou com o Ponte Velha na varanda de sua modesta casa no bairro da Liberdade há 14 anos. Sobre seu “voto de pobreza”, guardadas as proporções, tinha o estilo do uruguaio Jose Mujica. PV: Essa sua casa, de portão aberto para a calçada, nem parece casa de deputado federal. NOEL: Se eu não fosse político acho que ia ser padre. Padre faz voto de pobreza, e eu sou o único político do mundo que fez voto de pobreza. Só tenho essa casa que fiz para mim e outra casinha ali... Eu só tenho a aposentadoria do INSS, para o qual eu contribui por 40 anos sobre 12 salários, e ganho menos de seis, R$ 1339,00. Eu ia ser um bom padre. Posso não ser um bom religioso, mas sou um bom cristão. Cristo é um só. Eu acho mesmo que o maior problema do nosso tempo é a falta de uma compreensão melhor da ideia de Deus, para que as pessoas tivessem um cuidado maior com o semelhante. E a culpa maior é da classe política, que sempre deu mau exemplo, destruindo os valores do povo. PV: Quando você foi eleito o vereador não ganhava nada. Você acha que o salário desvirtua? NOEL: Depois da revolução também houve um período em que não se ganhava. Eu acho justo que o homem público ganhe salário, mas não podia ficar tão longe do que ganha o povo. O vereador ganha quatro mil reais e o trabalhador R$ 240,00, um dos salários mais miseráveis do mundo! Olha a diferença do carrinho dos dois no mercado... Isso vai trazendo uma revolta no cidadão: “por que é que eu vou ser honesto se esse ladrão está aí comendo presunto e peito de peru?” Estômago todo mundo tem. PV: Como você está vendo o Lula? NOEL: Votei no Lula e acho que ele será um grande presidente. É inteligente, simples e modesto. É povo, e o povo sente que ele é. Nesse começo é difícil, mas, com paciência, ele dará ao Brasil muita alegria. Precisamos desenvolver, mas sem dinheiro é impossível; é preciso salário maior, a partir do mínimo. Fala-se em dobrar o salário em quatro anos, é pouco. Quando Getúlio foi eleito, o seu ministro do trabalho, João Goulart, deu um salário mínimo aumentado em 100%. Houve uma grita muito grande, mas todos os patrões pagaram e o país melhorou muito no setor de emprego e produção. Essa medida, por outro lado, custou a Jango uma antipatia que foi no futuro uma das causas de sua deposição. O capital não perdoa quem se atreve a cruzar o seu caminho. PV: Nesse momento seria bom para Resende um governo do PT? NOEL: Pois eu acho que isso é que está errado; essa dependência é que acabou com o país. Você

Da esquerda, em pé: Rute e Noel, Mário e Neusa, Paulo e Nibete, Nilza com Landa no colo, Roque e Xandoca No centro: Hermílio Oliveira e Maria Fontanezzi, com Ito. Crianças: Rita, Cláudia, Vica, Flávia, João, Paulo Henrique

é prefeito e sabe que está no partido do presidente, e aí pensa assim: “ah, eu vou lá, peço dinheiro e ele me arranja...” Então fica uma pedição que é uma coisa assustadora. Igual a um filho que fica indo para a boate: “Meu pai me dá dinheiro, pra que é que eu vou trabalhar?” O prefeito pede ao governador, o governador ao presidente, e é um saco sem fundo. Cria muita corrupção, porque esse dinheiro arranjado desse jeito nem todo chega onde tem que chegar. Devia ser proibido emprestar dinheiro. Porque você tem que governar com autonomia.

PV: Tem alguma possibilidade de você se filiar ao PT? NOEL: Olha, para um político de verdade a pior coisa que tem é mudar de partido. Eu saí do PTB porque ele acabou; entrei no MDB, que virou PMDB, e a pior coisa que aconteceu foi ter que sair de lá por causa da traição que me fizeram a troco de benefícios pessoais. Foi terrível. Eu depois até pensei em entrar para o PT, mas eu queria entrar em Resende e não por cima, e a coisa aqui era muito fechada. Acabei indo para o PDT, a convite do Carlos Henrique Reeve.

PV: Mas para certas obras maiores o município não tem dinheiro. NOEL: Mas aí quem tem que fazer é o governo federal. Agora eu acho que vai chegar nisso, porque foi criado o Ministério das Cidades. Esse é que é o Ministério importante. Eu acho que todo pedido de verba tem que passar por lá, para ver se tem necessidade realmente. Porque a maioria dos projetos não tem necessidade; constrói-se e fica largado.

PV: Você tem mágoa do Eduardo? Porque na ocasião dessa traição houve uma articulação dele, distribuindo cargos, para inviabilizar a sua escolha na convenção como candidato a prefeito. NOEL: Não. Ele fez uma articulação política e cabia ao partido resistir. É como pai e filho. Eu era o filho do partido e o partido foi um pai mau. O partido tinha que ter falado: “não, o nosso filho é o Noel, e com filho não tem negócio”. Mas o partido hoje é um negócio que te acomoda, e você faz o que quer


Agosto/Setembro de 2017 - O Ponte Velha -

sem dar bola para ele. a verdade é essa, mas isso é muito ruim. PV: Como deveria ser a reforma política? NOEL: Primeiro: você fortaleceria os partidos com candidaturas avulsas. Ou seja, você poderia ser candidato sem pertencer a partido algum. Porque aí os partidos iam ter cuidado, uma vez que o bom candidato não precisaria mais deles. Aí, se o partido quer o Noel vai ter que se estruturar e mostrar que é decente. Se não eu não entro. É uma possibilidade difícil mas necessária. E também o voto distrital, o fim do voto proporcional, onde um deputado tem 80.000 votos e não é eleito, e outro com 12.000 é. E é curioso o seguinte: hoje, quando um partido forte perde ele se fortalece, como é o caso do PMDB agora. Então a cúpula dos espertos fica manipulando os partidos. A entrada do Garotinho e o silêncio dele foi aquele remedinho que o PMDB precisava para poder exigir as coisas. E os governos gostam porque fica muito mais fácil de negociar, de fazer as leis já conduzidas para quem está no poder. No meu mandato como deputado federal houve uma pequena reforminha política. O João de Almeida, da Bahia, foi o relator, e eu costumava dizer para ele: “Ô João, só falta você botar um artigo nessa lei dizendo que quem está aqui não sai nunca mais...” Mas o principal é uma mudança cultural: o sujeito saber que está no cargo para servir. PV: Moradia, por exemplo, é um direito do cidadão. Na nossa região já tem muita gente morando precariamente. NOEL: A questão aí é que você faz 10 mil casas e vem todo mundo para o seu município porque os outros não estão fazendo. A solução vira um problema. Nesse ponto tinha que haver uma política maior, uma união dos municípios para segurar o seu munícipe lá, fazendo uma política para o pequeno produtor rural ficar no campo. Enquanto o pequeno produtor rural ficar à própria sorte, as cidades estão perdidas. Resende tem uma tradição leiteira que está se perdendo. Mas se o governo promover, por exemplo, um programa de inseminação artificial, aquela vaquinha que dá só dois litros vai produzir uma bezerra boa que vai dar 10 litros. Engenheiro Passos e Porto Real produziam e mandavam para o CEASA em São Paulo. Com a política que fizemos teve muita gente de Porto Real que largou a Cyanamid e voltou para o campo, porque o homem que nasceu no campo tem amor por aquilo. O campo tem muito potencial, só falta organizar. O meu pai, antes de ser comerciante, foi colono na Fazenda do Banco. Sabe quantos colonos tinha lá? Quatrocentos. Mais do que em muita indústria. A nossa região é acidentada, emprega muita mão de obra, tanto no leite quanto nos hortigranjeiros. E outra coisa: hoje em dia o consumo é muito maior, vende-se tudo o que se produzir, até estrume de vaca ensacado. PV: O surto industrial parece que faz a gente considerar o campo como um ciclo encerrado. NOEL: Pois este é o grande erro. A gente vive num mundo que cada vez mais precisa comer alimentos produzidos de forma saudável, sem contaminação. Você vai em Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, cidades fantásticas, e lá se desenvolvem juntas a indústria, a agricultura e a pecuária. Se uma está numa

fase ruim, as outras estão bem. Aqui parece que o sujeito ficou condenado a vender o sítio e trabalhar numa indústria dessas... Na zona rural também pode ter computador, junto com a enxada. PV: E o cara trabalhando com a enxada já não precisa pagar academia de ginástica. NOEL: Não morre do coração, não tem estresse... Então, o que é a modernidade? Eu acho que é a melhoria daquilo que já existe. É claro que você vai melhorando, mas não é você largar de mão um terra acidentada só porque em outros lugares tem imensas plantações planas completamente mecanizadas. Isso é idiotice. Então, precisa organizar o campo e precisa também um governo dar continuidade ao que o outro faz. Por exemplo, fizemos 150 km de rede de esgoto, e quantas estações de tratamento se fez depois? Nenhuma. Aí quem sofre é o rio Paraíba. PV: O que você acha do orçamento participativo? NOEL: Aquilo é uma enganação. Para resolver que vai botar meio-fio? Tinha que ser mais profundo, para dar o rumo da administração. PV: Você disse que um governo tem que dar continuidade ao outro, mas os teus adversários te acusam de não ter levado adiante as obras do hospital de Emergência só porque tinham sido iniciadas pelo Noel de Carvalho. NOEL: Mentira. O governo do Carvalho fez pouquinha coisa do hospital, só a fundação e tal, e eu fui à justiça e consegui a anulação da forma como a coisa vinha sendo feita, porque a Xerox adiantava a receita dos impostos para pagar as faturas e depois fazer um encontro de contas, e do jeito que ia a gente não ia conseguir pagar aquilo nunca, era uma coisa astronômica: com a inflação, uma fatura de 500 reais já virava três, quatro mil. A Xerox antecipava o dinheiro em nome dos futuros impostos, os quais a gente nem sabia a quanto ia montar. O projeto da Câmara autorizava a Xerox a fiscalizar o nosso caixa e a nossa contabilidade. Você quer coisa mais grave do que isso? Um particular fiscalizar a coisa pública. E outra: a firma que deu o menor preço e o menor tempo na licitação não ganhou, quem ganhou foi a Consteca. Aí, essa firma que tinha dado as melhores condições entrou com um mandado, e quando o mandado ia ser julgado ela retirou porque estava construindo para a Xerox no Rio... Aí, em vista disso tudo, eu questionei o contrato na justiça, começando pela antecipação da receita, que é uma coisa que não pode. Aí a justiça parou a obra e foi uma novela, rapaz... A Consteca entrou com três processos contra mim, até mulher bonita mandaram para tentar me seduzir, uma mulher cheirosa mesmo, nunca vi uma coisa tão linda... Mas fazer o quê? Eu não podia trair o município. Na justiça o município ganhou de sete a zero; estou na garganta deles até hoje. PV: O Noel de Carvalho articulou uma lei baixando os impostos da Xerox para que ela pagasse tudo em Resende e não no local de aluguel das máquinas, e isso que viabilizou a construção do hospital, certo? NOEL: Foi ele que fez o primeiro acordo, só que não dava dinheiro nenhum porque ainda não era grande vantagem recolher tudo em Resende. Eu é que idealizei, com o meu pessoal, uma tabela progressiva, que quanto mais a Xerox pagasse aqui mais

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diminuía a alíquota.

PV: Você não acha errado isso? Diminuir o dinheiro que uma multinacional pagaria espalhado pelo Brasil para ela pagar tudo em Resende? NOEL: Errado é, mas todo mundo faz assim; é errado mas quem consegue um acordo desses o seu município ganha muito. (...)

PV: tua idade e o fato de você já ter feito ponte de safena atrapalham a tua carreira política? NOEL: Eu só tenho 74 anos, faltam ainda 26 para completar 100...E sabe quanto tempo eu fiquei sem ir ao INCOR fazer revisão? Quatro anos. O médico reclama e eu digo; “O que é isso, doutor, quem não morre não vê Deus...” Então, eu não sou velho, eu tenho idade. Velho eu não fico porque eu não tenho tempo. Minha vida é tão normal, mais normal do que a desses caras aí. Eu não estou barrigudo, não estou careca... Estou fininho. Eles, ao contrário, estão tudo barrigudo, enrugado... Eles já estão mais velhos do que eu, porque isso é uma questão interior. Eles não têm a tranquilidade que eu tenho. Ainda mais que conhecimento não envelhece, aprimora. O melhor exemplo é Tales de Mileto, com os teoremas da geometria.

PV: Carvalho e Meohas. Qual é o melhor administrador? NOEL: Os dois são bem melhores do que eu em matéria de divulgação. Transformam uma coisinha numa coisa sensacional. Agora, em termos de atuação ali onde o povo precisa nenhum deles se encosta em mim, apesar de obras grandiosas. A obra grandiosa muitas vezes é feita para o ego do sujeito e não para o ser humano. (...)

PV: O que você acha da terceirização dos serviços, tipo foi feito com o lixo? NOEL: Não é necessário. Eu sou contra a terceirização de órgão público. O servidor público, que é a pessoa mais importante no serviço público, passa a gostar daquilo. O terceirizado, não. Amanhã mandam ele para outro lugar. E outra: em geral a firma traz gente de fora.

PV: Então por que se terceiriza? NOEL: (rindo) Aí é que é o mistério... Acaba que fica um comprometimento muito grande entre o terceirizado e quem terceiriza; o terceirizado passa a ser meio sócio; muito jogo, muita coisa... E aí cria a desonestidade.

PV: Os teus adversários dizem que você é centralizador, que não consegue delegar poder, que fica muito preso a detalhes, indo cedo para a garagem ver caminhão em vez de gerenciar o todo. NOEL: Se eu ficar dormindo, como todos ficam dormindo até meio dia, quem ganha com isso? Se você for prefeito de Campinas, de São Paulo, você não pode fazer isso (ir para a garagem cedo), mas numa cidade de porte médio como a nossa você pode fazer. O que acontece é que eles não têm o que falar de mim. Não podem dizer que eu roubo, então falam essas besteiras. Até de analfabeto já me chamaram. Quando você é bem votado eles falam mesmo. (...)


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O gosto varia com a idade

Desde pequeno, adolescente, homem feito, que na minha casa se usava um aparelho de chá, café e jantar marca KPM, polonês, comprado na Casa dos Presentes com o nosso conhecido Celso Chaves. Com o passar do tempo passei a achar esse aparelho muito feio e antiquado. Dei preferência a aparelhos todos retos, geométricos e brancos, comprados na Loja do Bom Desenho, em Ipanema. Usei-os por muitos anos. Há pouco tempo, com mais de setenta anos, mandei buscar o aparelho polonês do depósito onde estava guardado e a usá-lo diariamente. Tenho ficado encantado com a delicadeza de seu desenho, com a elegância de suas formas e com a sua leveza. Fico por vezes até admirado. Em resumo: não estou aqui para fazer apologia do clássico nem do moderno. Apenas para ter a certeza que o gosto varia com a idade.

George Godoy

Ô maiada, Me ofereceram dois balaio de dinhero, mais um relógio mondaine, uma bicicreta gorike e um tatú manso de gaiola prá votar na associação. ‘Ce tem uma palavrinha a mor de conseio?

Notícias da Aedb ► Prêmio Água – A AEDB acabou de receber o “Prêmio Água”, concedido pela Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP), em reconhecimento por seu histórico de parceria com essa associação, desde sua instalação. Durante dez anos - de 2004 a 2013 – a AEDB cedeu o espaço para funcionamento da sede da AGEVAP. A parceria se dá, também, através de consultorias técnicas prestadas, frequentemente, pela AEDB à AGEVAP. O Diretor Mário Aníbal Simon Esteves

► Selo de Responsabilidade Social – Outra distinção recebida pela AEDB, no mês de outubro, foi o Selo de “Instituição Socialmente Responsável”, conferido pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – ABMES, por sua participação na 12ª Semana de Responsabilidade Social, realizada em setembro, com o propósito de valorizar instituições de ensino superior privado de todo o Brasil que promovem ações sociais na comunidade. A AEDB mereceu o selo pelo conjunto de ações comunitárias desenvolvidas este ano. ► Arena Multipropósito – A partir de 2018, a AEDB contará com uma arena para realização de atividades esportivas, culturais e artísticas, com capacidade para 1.000 pessoas. A arena terá estrutura acústica e palco com dimensão apropriada para receber grandes eventos. Contará, ainda, com área multiuso para cinema e todo tipo de projeção. Haverá amplo estacionamento e bicicletário. Também está prevista a acessibilidade para cadeirantes. ► Ciências Contábeis em alta – Cerca de 29% dos alunos da primeira turma do curso de Ciências Contábeis, formada no ano passado, que fizeram o Exame de Suficiência, realizado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), foram aprovados na prova realizada no mês de maio. A média de aprovação nacional é de 25%. Comparativamente, esses índices atestam a qualidade do curso de Ciências Contábeis da AEDB. Em tempo: o Exame de Suficiência é indispensável para obtenção do registro junto ao CFC, sem o qual o contabilista não pode exercer a profissão.

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Di-versos

Agosto/Setembro de 2017 - O Ponte Velha Krhisha Simpson

Nessa nova coluna do Ponte, aquele que vem sendo apontado como o grande ícone vivo da Literatura nacional e quiçá mundial (comparável a Camões e Cervantes), Krishna Simpson, nos brinda com toda a sua genialidade e mostra o poder de sua caneta (no bom sentido, é claro) mensalmente uma vez por mês a cada período médio de 30 dias. Autor do best seller “A Mentira com Responsabilidade” (com previsão de venda de milhões de exemplares e tradução para dezenas de idiomas, nem que seja num universo paralelo), este inenarrável autor traz agora uma mistura variada de muitas miscelâneas diferentes juntas e organizadas de forma não caótica. Ou não. Reflexões da madrugada...

Sonetos do Planalto 1: O Áudio

Estou pensando em como será dar aula daqui a cinco, dez, quinze anos.w O tempo parece passar cada vez mais rápido, as ferramentas tecnológicas vão aos poucos dominando o nosso tempo, os estudantes muito agitados, sem capacidade de concentração, os professores estressados, com salários desestimulantes, o sistema educacional falido, que não acompanha a evolução em outros setores das atividades humanas. A escola, algumas vezes (se não muitas), mais parece um sistema prisional... algumas pessoas, nas instituições, ainda insistem em impor uma rigidez arcaica aos participantes daquilo chamado de “dia letivo”: alunos, professores, funcionários, orientadores e mesmo os pais. Bem, a pergunta não é se, mas quando essa forma de trabalho irá entrar num colapso sem volta. Rigidez lembra o tronco de uma velha árvore, que acabou sendo derrubada pelo vento de tanto oferecer resistência. Por que não podemos ser como o bambu, que flexiona mas não quebra?

De noite no palácio, às escondidas Sinistro bate-papo acontecia Quantias de dinheiro prometidas Tomando estranho rumo: escusa via Mas ele nem a ideia não fazia Que todas as palavras proferidas Por mais cuidado ao serem escolhidas Podiam ser sabidas algum dia E toda uma nação ouvia a voz Daquele mandatário impopular De pronto uma bufunfa liberando Ficou rapidamente bem feroz Ao ver toda a imundície a dispersar E agora passa os dias se esquivando A questão é: se a escola é o prolongamento da casa das pessoas que ali estão, como fazer para tornar um pouco mais agradável nossa estadia naquele momento em que lá permanecemos? Será que iremos nós, educadores, suportar ainda algumas décadas esse “status quo” ao qual temos sido subjugados por todo esse tempo de prática educacional? O que fazer para mudar? Claro, começando por nós mesmos. Mas, e a mu-

dança coletiva, e o processo de construção democrática das práticas pedagógicas e dos saberes? Enfim, é tão difícil assim escutarmos as opiniões diferentes, filtrar o que possa ir ao encontro de nossas ideias e não perder o equilíbrio emocional por conta de ideias diferentes das nossas? Será que não seria bom ouvirmos os nossos alunos, procurar saber deles a opinião a respeito do nosso trabalho, acatar sugestões? Afinal, eles estão vivendo um momento muito diferente do nosso (professores de uma ou mais gerações anteriores). Uma coisa é certa: é preciso bolarmos uma estratégia de trabalho diferente dessa que está aí, com muita humildade para ouvir, com muita vontade de melhorar e com a expectativa de atingir não apenas um resultado melhor em notas, em índices, em gráficos, mas, principalmente, em gerar mais felicidade no coração desses seres humanos os quais fomos, de alguma maneira e por algum propósito, designados para ensinar e cuidar.

Quanto ao acaso Somavilla

Caríssimos, digo-lhes que não me confrangem lanhos na face ou na alma nem passos combalidos e erráticos que acabam em tropeços e quedas causando-me danos que se perenizam na memória da dor. Abomino, isto sim, todos os ruídos que me apartam da música imanente à natureza;

Afronta-me, acima de tudo, a violência que campeia sufocando os mais simples, fazendo com que a própria vida não tenha sentido, inoculando a desesperançae a vontade de morrer, sentimentos malsãos a negar a essência dos evangelhos; punge-me ver a poesia em desespero, dorida, descarnada, ressequida, sumindo até mesmo dos lugares onde o riso e a alegria sempre foram emblemas onipresentes; apavoram-me presságios da perda de qualquer sentido, mormente a visão; infelicitam-me os ultrajes cotidianos que a poluição exacerbada nos impõeprenunciando o fim de êxtases cotidianos que experimentávamos até bem pouco,em um tempo que se esvai como as águas virgens do Itatiaia, que escapa como o arvindo dos altos vales de ancestral pureza. Uma era que em decifrávamos os mistérios da paisagem desta porção de encantos perenemente azuis da Mantiqueira, legadoque nos coube de partos da mãe terra e que poderemos perder por não o merecer. Dis

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10 - O Ponte Velha - Agosto/Setembro de 2017

Público ou privado?

Dia desses passava por uma calçada e em determinado ponto meu caminho foi atravancado por um casal de jovens se beijando. Um daqueles beijos em que parece que o mundo vai acabar e se quer transportar o ser amado para dentro de si, para protegê-lo de todo o perigo. Lindo! Nada contra um beijo bem dado. Não me incomodaria assistir a essa cena, não fosse o fato de estarem praticamente deitados na calçada, atravessados de um modo que os transeuntes precisavam descer da calçada para poderem continuar seus caminhos. Ao me deparar com os dois ainda simulei um sinal de levantem-se, mas nem se mexeram. Nem ao menos ensaiaram um pedido de desculpas por estarem impedindo a passagem. Com pressa, decidi não criar caso. Fiz como todos os passantes e segui em frente. Enquanto seguia pus-me a pensar em como as coisas privadas estão se tornando cada vez mais públicas. O casalzinho agia como se estivesse no sofá da sala ou em qualquer outro local onde só estivessem os dois. Mas estavam na rua, no meio da calçada, aonde pessoas, pelo menos em princípio, têm seu direito de ir e vir garantidos. E assim como namorar deitado na calçada, há inúmeras situações em que aquilo que deveria ficar resguardado hoje está sendo cada vez mais compartilhado, exposto aos olhos de quem quiser ver, sentir ou ouvir. Nas ruas, nos ônibus, nos metrôs, em aviões, em salões de beleza, ambientes de trabalho, cinema, banheiros públicos, enfim, não há local específico. Pode-se ver alguém trocar de roupa no meio de uma loja como se não houvesse trocador, passar fio dental à mesa de uma lanchonete, cortar unhas numa viagem de metrô, retirar cravos de alguém na fila do banco, xingar o marido pelo celular, assistir a vídeos pornôs sentado ao lado de um passageiro, almoçar durante uma viagem de ônibus… São ações que não trazem consigo nenhuma ilegalidade — ao menos que seja de meu conhecimento — e que muitas vezes são realizadas por imposição da falta de tempo ou bom senso de quem o pratica. Afinal, quem almoça no ônibus, por exemplo, tenho certeza não o faz porque sim; mas porque precisa se alimentar e muitas vezes não o pode fazer em outro momento, com a calma e o conforto que deveria ter para tal. O que me chama a atenção é o fato de estarmos retornando ao status do tempo em que a colonização estava em seus primórdios, quando o conceito de privado ainda não existia, pois a falta de uma estrutura arquitetônica e cultural não o permitia. Casas sem portas, com meias paredes, com pessoas dormindo e vivendo num único cômodo, eram propícias à exposição de situações mais íntimas ou do cotidiano dos moradores. Hoje não podemos dizer que há falta de um ambiente que nos preserve. Pelo contrário, há tanta privacidade dentro de casa que às vezes até causa isolamento. Outro fato que contribuiu para essa abertura da vida privada foi o advento do celular que trouxe para a rua e para quem queira ouvir, a vida íntima das pessoas. Outro dia num salão de beleza, foi imposta a mim e a todos que ali estavam a narrativa de uma funcionária via celular: contava à amiga como conhecera um parceiro e todos os detalhes desse relacionamento, inclusive sexuais. E não se importava que todos fizessem caras e bocas. Até um sinal foi feito para que se contivesse, mas que nada! Contava em alto e bom som, como se quisesse mesmo ser ouvida. E assim recebemos informações da vida de pessoas que não conhecemos ou com quem não nos relacionamos. O que fazer com essas informações dependerá da índole de quem as ouve. O importante, no que concerne ao público e ao privado, é agir com bom senso, dentro de uma ética que prime pelo respeito ao alheio. E respeito a si mesmo. Os jovens precisam saber que somos livres para escolher aonde vamos nos deitar e namorar, mas que há local apropriado para isso. Com certeza, não é na calçada. Muitos já sabem. Mas não agem conforme. E esse não se importar com quem vê ou a quem incomoda pode estar camuflando uma conduta egoísta que vem causando tantos conflitos nos dias atuais. Viver em sociedade exige uma compreensão ampla do individual e do coletivo. Do que pode ser compartilhado e do que se deve preservar. Do que é imposição de condições adversas e do que é escolha. Ter claro onde começa e termina o direito de cada um e quando se pode, mas não se deve; exercer esse direito. Afinal, já evoluímos o suficiente para não mais nos justificarmos pela falta de paredes ou portas. Não é mesmo? Maria Paula

Manifesto Agrofágico Jan Niklas Jenkner

Só a AGROFAGIA nos une. Primitivamente. Espiritualmente. Socialmente. Única lei da terra. Expressão soberana de todas culturas mundanas, de todos os humanismos. De todas as metafísicas. De todos aboios rasgados de vaqueiros. O relincho ou o mugido, eis a questão. Contra todos artificialismos. E contra a domesticação do pensamento matuto. Só me interessa o que não é meu. Lei do jagunço. Lei do agrófago. Estamos sufocados por todas gravatas com que querem nos enlaçar como caça. A morte lenta em nó Windsor. Riobaldo tatarana acabou com a divisão homem-natureza. E num redemunho fez do diabo sertanejo. Contra todas etiquetas. Pela permeabilidade entre mundo interior e exterior. A reação contra o verniz das aparências provém do calor do fogão à lenha. Filhos do solo, refazenda. O boi soberano não resiste ao toque do berrante e feito cobra entra na dança. A chuva de saúva fertiliza a infância. No admirável mundo gado. Foi porque nunca tivemos leis gerais, nem estado. Nosso país é delimitado ao norte pelo riacho das pedras, ao sul pelo mata-burro, a leste buritizais, e a oeste chumbo de espingarda. Por uma consciência agreste, uma virada rural. Contra os os importadores de vida asfaltada. O cotidiano sazonal. A mitologia de ser cabra-da-peste, que Levy-Strauss não estudou. Queremos a Revolução Caipira. Maior que a Revolução Industrial. A unificação da peleja do reino dos homens e dos animais. Sem nós, a elite paulistana não teria sequer seus jeans surrados de fábrica. A idade do chão de terra batida. A poeira na estrada. A estética do barro. A ruminação como epistemologia. A ideia como capim em digestão nos quatro estômagos da vaca. Semeadura. O contato com o Brasil profundo. Euclides. O bicho do mato. Da Revolução Campesina, ao sertanismo, à modernagem do campo. Galopamos. Nunca fomos catequizados. Fizemos o curupira andar pra frente e o saci pular num pé só. Mas nunca admitimos o ceticismo da ciência entre nós. Contra Juscelino Kubitschek. Sua mecanização do solo nos forçou a um progresso que não é o nosso. A uma ordem estrangeira. Mas do concreto fizemos paisagem. O espírito se recusa a conceber o mundo sem a ligação material com a subsistência. O agromorfismo. A transformação permanente do ovo em galinha. Contra a dominação do tempo e do espaço pela máquina. Contra as elites industriais. Em comunicação com o solo. Já tínhamos os orgânicos. Já tínhamos a teoria pós-moderna. Já tinhamos o sloow food. Poeira. Poeira. Poeira. Poeira. Poeira. O instinto da jagunçada. O projeto civilizatório roceiro. Foram fugitivos de uma sociedade que estamos pastando, porque somos fortes e vingativos como o tatu. Já tinhamos a legislação ambiental, a comunhão entre homem e natureza. Ecovila? já tínhamos. Pela fruição artística rural. Pela constelação de vagalumes e o arranjo para orquestra do sapo cururu. Entre poleiros e currais, veredas que guiam um caboclo sob luz de candeeiro. A segurança na algibeira. Faca, cantil de pinga e fumo de rolo. Pela volta do mistério do pio do Uirapuru. Pelo desejo de sol que há no capim. No meio do matagal que é maior que o mundo. Contra o desenvolvimentismo, o racionalismo exacerbado e as teorias da economia moderna. Contra o estado nacional — a existência castrada pelo excesso de homem no homem. Em Itatiaia

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Agosto/Setembro de 2017 - O Ponte Velha -

Travando prosa sem proveito Januário madrugou no campeio da tropa, cruzando como que, casualmente, a estradinha de chão molhado, margeada de capim fino, com água do riacho à meia bacia, por conta de uma chuvinha fora de encomenda. Foi assim que Josefina começou a escrever seu conto rescendendo a água de colônia. Ela adorava fazer laços nos seus solilóquios, e admirar as brochuras distintas da biblioteca de sua mãe. Josefina carregava um ar ausente, comprazia-se com suas frases descosidas, palavras atrasadas. Sentia-se clandestina, porque se fazia quase longe dos homens e dos sacerdotes. Encantava a família com seus meandros caprichosos, com sua doçura particular. Frequentava (isto quando frequentava) pessoas assentadas e jamais destratava alguém. Sua costumeira conversa ia de sua infância quase até a sua campa, largando de onde em onde, suas cores sobre as coisas, enfeitando o canto. Também dava de quando em vez, de ficar amoitada e de travar prosa sem proveito, como quem mal e mal selou cavalo, e logo o pé d’água apertou. Tudo era pretexto para Josefina escrever – quase tudo! Disposta ou não, ao entusiasmo, a coisa vinha da ânsia, dando ao leitor a sensação de angustioso imprevisto, de ofertas de sorrisos, olhos que suplicam, arrepios de urtigas, enfim, um rol de tralhas esquisitas. Ora, o tema parecia gramático demais, ora era qual trigo irrompendo grande como a misericórdia divina. Continuando o conto, Januário desapeia com pressa e aflição de ganhar logo a rua, pra descer na venda, comprar uns réis de mantimentos, deixando alguns centavos de vendagem, por pura cisma ou, para não desenredar a tradição. Januário era quase todo lirismo,

não fosse o resto dele inexplicável, a boca descaída, dando-lhe a expressão de desprezo. Contador de histórias que nem ele só! Januário costumava ir à missa, para que perdoados fossem os seus pecados, assim na terra como no céu. Fazia serviço pesado e escrevia cartas de amor, em papel fino, declarando-se para a vizinha, de quem nunca obteve resposta. Confesso, ele chorava pelas suas mal traçadas linhas, pela paixão não correspondida. Melhor, disse ele, de si para si mesmo, é esquecer a moreninha, pois que nada se remedeia – ora... ora! A vida continua. Passou o dia, outro dia passou a noite, outra noite, e logo era o casamento de Januário com a filha da outra vizinha. Daí que foi festança no arraial, com uma gentança convidada (carecia de ver o tanto) e mais os padrinhos, vestido de noiva, véu e grinalda. Ja-

nuário num terno de brim ajustado, brilhantina nos cabelos, comidas no fogão, violas na ramada, mesa posta vergando com o peso dos pratos – tudo no traquejo! Já era lusco-fusco quando pegaram de acender as luzes. Eis que o passado rural começa a desaparecer, tornando-se objeto de nostalgia – escreve Josefina. Na cidade vão desaparecendo os bondes, vão chegando os sinais de modernidade. Descompassos nas famílias, enredos e desenredos, relações exibindo o seu lado difícil. O trem, só de quando em vez dava a honra de parar na estação. Eis que foi anunciada a chegada de um cineminha naquele povoado de poucas casas, que de verdade era uma fazenda crescida, pisada pelos cascos dos bois andejos. A notícia do cinema causou sensação e deveria (falavam os moradores) de ser registrada no livro da capela, como

posse conseguida pelo antigo cultivo do chão. Josefina pertence a uma raça torturada e criadora, que murmura, imagina e inventa, mas de alguma forma, os personagens são reais. - Como assim? Deve ser, então, igual a mistura de quirera com farelinho de arroz, vento se enredando nos ramos. - Já madura a manhã, que mal lhe pergunte: cadê Januário? Numa concordância de renúncias e propósitos, Januário mantem-se casado. De fato, formou família – deu conta! Por ora, as aves migratórias não nos informam mais nada.

Martha Carvalho Rocha

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Seu carro agradece e seu paladar também


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Fala, Zé Leon: DissonÂncia cognitiVa

A palavra é: Dissonância Cognitiva. O que é? As pessoas tendem a procurar uma coerência em suas crenças e percepções. Então o que acontece quando uma das nossas crenças entra em conflito com outra crença anteriormente detida? O termo dissonância cognitiva é usado para descrever as sensações de desconforto que resultam de duas crenças contraditórias. Quando há uma discrepância entre as crenças e comportamentos, algo tem de mudar, a fim de eliminar ou reduzir a dissonância. O psicólogo Leon Festinger propôs uma teoria da dissonância cognitiva centrada em como as pessoas tentam alcançar consistência interna. Ele sugeriu que as pessoas têm uma necessidade interior para garantir que as suas crenças e comportamentos são consistentes. Crenças inconsistentes ou conflitantes levam a desarmonia, que as pessoas se esforçam para evitar. É o caso dos fumantes, que sabe que faz mal fumar e desenvolvem teorias que os absolvem do crime. E é o caso dos petistas, que vêm o Lula como um dogma. Se aparecer uma foto dele recebendo uma mala de dinheiro de alguém vão dizer que é coisa da imprensa golpista e na verdade ele está dando, e não recebendo o dinheiro.

Li um artigo sobre esse tema e o articulista dava como exemplo uma seita americana dos anos 50 que pregava o fim do mundo para dia e hora marcados. No dia do “juízo final”, todos reunidos, passou meia noite e nada. A guia espiritual se retirou em meditação e voltou com a seguinte explicação: “nossas orações durante o início do apocalipse salvaram a humanidade.” Todos acreditaram que tinham salvado o mundo, e não que a líder era uma tremenda duma vigarista. Só um mitômano consegue sobreviver a tanto bombardeio. É só quem sofre de dissonância cognitiva acredita na inocência de seu líder. E não será surpresa para ninguém se ele der uma de perseguido político e se esconder (porque seus crimes são previstos

Joel Pereira

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no código penal) numa embaixada bolivariana. *** Com a desmoralização dos três poderes podres, salvam-se alguns juízes de primeira instância, a tendência é que surjam os chamados salvadores da pátria. Quem não se lembra do caçador de marajás? Deu no que deu. Enfim o quadro politico tente a fortalecer candidatos tipo Lula ou Bolsonaro. Esse pode se desidratar. É só um general Mourão da vida se lançar candidato. Mesmo liderando as pesquisas, Lula dificilmente vem candidato, ainda vem muita porrada nele e pode até se tornar inelegível. E o PT está sem poste. Fernando Haddad? Nem se reelegeu prefeito. Jaques Wagner? E ainda temos a esquerda representada pelo Ciro

Gomes e a Marina Silva, que é uma espécie do meu Botafogo na política, nada nada nada e morre na praia. Não se pode duvidar do potencial do Bolsonaro, mas acho que ele também desidrata durante a campanha. Tem o PSDB rachado entre Alckmim e Dória, e a sombra das delações sobre as cabeças coroadas de Aécio e Serra. A tendência é o Dória procurar uma legenda, pois não tem os tucanos na mão. O antes PMDB forte vai chegar em 2018 com suas principais lideranças vendo o sol nascer quadrado. Os principais financiadores já estão ou na Papuda ou no conforto do lar usando uma tornozeleira eletrônica. Tem ainda correndo por fora Joaquim Barbosa. Ganha uma viajem só de ida para ver os lançamentos dos foguetes na Coréia do Norte quem cravar hoje o nome do futuro presidente do Brasil. Vai que o Luciano Huck se anima? *** E nosso abandonado Rio de Janeiro? Bebeto de Freitas? Eduardo Paes? Romário? Me tira o tubooooooooo. *** E o Palocci disse que o PT não é um partido, é uma seita. Sempre foi. A seita de tudo.

Teatro

J. Strauklys

A Peça é o mundo, suas engrenagens. A dificuldade que traz a própria montagem. Manter-se atento, foco, estar. Me exaure o brilho, a luz. Que emana dos dispositivos. Ânsia e medo. A culpa. E de viés, por um momento, enxergo além. Me envergonho do papel. Travestido de coelho entrego panfletos, Executivo — obscuros interesses alheios. Quero as curvas da atriz. A coxia. Cheiro de página de livro. O cedro do tampo. Suporte que absorve. Cansei das emissões.


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