Ponte nov dez de 2017 ano xxii nº 251

Page 1

Resende e Itatiaia - Novembro/Dezembro de 2017 - ANO XXII - Nº 251 JORNAL MENSAL- DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Publicação do Instituto Campo Bello

www.pontevelha.com contato@pontevelha.com

Aparecida - 300 anos

Mantiqueira serra que chora Sonora pedra Bailando Seus Amplos seios. Até quando? Maracatu Pedra Sonora Foto Marcela Dias

Universidade Aberta Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre, dos imortais que têm a cabeça no Olimpo nevado, e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias, e Eros: o mais belo entre Deuses imortais, solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos ele doma no peito o espírito e a prudente vontade. Hesíodo, Teogonia Trad. Jaas Torrano

Nesta Edição • • • • • • • • • •

O Maracatu Pedra Sonora se apresentou no Teatro da Aman Alunos do Noel de Carvalho produzem Cordel da Ilíada Djavan no elemento úmido História breve e sentimental do ciclismo O povo no poder virou um caso de olho gordo Está provado: Letras melhoram perfume do café Poesia essencial- Manoel de Barros relembrado ao rés do chão O Bingo das vovós e a direção defensiva O cortejo singular do poeta morto O triste fim dos símbolos da Pátria


2 - O Ponte Velha - Novembro/Dezembro de 2017

No Tempo do Fio do Bigode

Ponte 2018

Bernardino Alberto Pianta Tavares Joel Pereira

Nasceu em 13.04.1939, em Porto Alegre/RS, filho de Joaquim Pereira Tavares e Ligia Pianta Tavares. Ingressou no Exército na Escola Preparatório de Porto Alegre, onde foi o aluno 227 da 3ª Companhia , de onde veio para a Academia Militar das Agulhas Negras, como Cadete Tavares. Formou-se em Engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia – IME, o que o habilitou a ser Professor dos cadetes na AMAN, na área técnica. Convidado a entrar para a política, candidatou-se a Vereador em Resende, pela Aliança Renovadora Nacional – Arena. Foi o mais votado, com 2.047 votos, ou 10,3% dos votos válidos. Sua votação nominal somente foi suplantada, em 2008, pelo Gláucio Junianelli, que alcançou 2.216 pelo PSB, e pela Soraya, que, em 2012, obteve 2.266 votos também pelo PSB. A votação percentual do Bernardino, porém, nunca foi superada. Pela sua eleição, foi reformado do Exército, como Capitão. No miolo do Governo Noel de Oliveira (mandato 1983 a 1988), foi secretário de Obras em Resende, ocasião em que transformou a cidade em um canteiro de obras, demonstrando sua grande capacidade de trabalho. Fora de Resende, participou de grandes obras de engenharia, como o Porto de Sepetiba, Construção da Linha Vermelha, dentre outras. Do primeiro casamento com Maria Izabel Vianna Tavares, teve 4 filhos: João Alberto Vianna Tavares, Carlos Alberto Vianna Tavares, Luciana Vianna Tavares e Luís Alberto Vianna Tavares. Casado em segundas núpcias com Marta Regina Aurélio Vieira Pianta Tavares, com quem teve uma filha – Ligia Aurélio Vieira Pianta Tavares e foi padrasto de Rafael Vieira Cano. Bernardino faleceu em 15.09.2016, deixando um exemplo de seriedade, dedicação e competência.

Manipulação Homeopatia Fitoterapia Cosméticos Rua Alfredo Whately 151 . Campos Elíseos Resende Tel.: (24) 3354.5111/22.42

Bombas -Fechadura -Motores Ferragens e Ferramentas Utensílios Domésticos

SEMPRE FACILITANDO A SUA VIDA

Calçadão Fone: 3355.2277

Caros leitores, quebrando o protocolo, fazemos um editorial-mensagem para esclarecer os rumos deste mensário e desejar um venturoso 2018 a vocês e a nossos apoiadores. Entramos no 22o ano de publicação com uma equipe renovada. Um outro “coletivo”. A região da Paraiba Nova - nosso antigo nome - cresce e se modifica, e o Ponte Velha precisa conversar com as novas e diferentes cidades que nascem. As modificações não ocorrem apenas na zona de influência da rodovia que nos traz um progresso cada vez mais questionável, mas principalmente no con-domínio das consciências, aos pés da Mantiqueira de amplos seios, às margens do Paraíba com seus afluentes. Algumas “caixas de ressonância” têm captado essas mudanças de consciência. Famílias e escolas, reféns das metas de produção e consumo, as têm recebido à maneira de um constrangimento, um fato consumado. As mídias de massa e redes sociais amplificam esse tom de destino inexorável, e acrescentam a um cenário que encurralou a esperança, aquela indispensável pitada de caos e de cinismo. As igrejas se vão tornando lugares de uma reação sentimental, que faz do barulho e do mau gosto sua mensagem antiprofética. O Ponte tem procurado refletir as mudanças regionais em parceria com alguns “coletivos” mais sensíveis aos elementos que conjugam renovação e tradição perene. São parceiros de poesia e metafísica, serviço ao bem comum e ócio criativo. Destacamos nesse 2017 que acaba, as parcerias da Arcanjo Gabriel, do Instituto Campo Bello, do Câmara Cultural, da Academia Resendense de História, da Casa da Cultura Macedo Miranda e da Associação Educacional Dom Bosco. Juntos, temos tentado manter viva a esperança, a prosa bem humorada e algumas de nossas principais raízes históricas. Esta Edição gira em torno dessa consciência, que toma café com Manoel de Barros e dança o Maracatu com Heidegger, Hesíodo e Homero. Uma aposta no universal, que desejamos volte a ser regularmente mensal em 2018.

Publicação bimestral do Instituto Campo Bello 14673758/0001-03

Expediente Jornalista responsável:

Gustavo Praça de Carvalho 24- 99301.5687 Reg. 12 . 923 Concepção gráfica: Afonso Praça Edição eletrônica: Anna Pitanga Edição e Diagramação: Marcos Cotrim 24-98828.5997 Gestão: Anna Pitanga 24- 99932.1155 e Larissa Machado 24- 99864.6725 contato@pontevelha.com www.pontevelha.com


Novembro/Dezembro de 2017 - O Ponte Velha -

A batida forte e quebrada dos tambores do Maracatu Pedra Sonora ecoaram numa noite dessas no teatrão da AMAN, trazendo ordem, fé e esperança à nossa alma brasileira. Era uma ópera. Um balé do porte dos melhores grupos do mundo. Com danças indígenas, cantos africanos, a serra da Mantiqueira grávida em cima de pernas de pau, de cabelos azuis que eram as águas descendo pelas pedras. Contava a história do som da pedra, que salvou o índio numa velha guerra na Mantiqueira; som despertado pelo tambor de Xangô, porque, como diz o Manoel de Barros, só dá pra acreditar no que a gente inventa. E que iluminação, que coreografia!! Que trabalho conjunto de uma nova geração que se concentra em Penedo! No fim do espetáculo o público seguiu atrás dos artistas pelos corredores do teatro e todos fizemos um carnaval maracuteuado no saguão. Até o ajudante de ordens ajudou a fazer “desordem”. “Falta um pouco de demônio aqui em Berna”, escreveu a Clarice Lispector, numa carta a uma amiga, quando morava na Suíça, casada com um diplomata. Já se disse, e parece ser a verdade, que só seremos felizes quando dormirmos com Deus e o Diabo na mesma cama. Se um dos dois fica absoluto, aí é o inferno mesmo, que tem

Renato Serra Renato Serra

A reta é torta

puder dar um apoio, a gente agradece; quem não puder, repasse para os amigos que já está dando uma força. Valeu! Tamo juntos na montanha russa.

Gustavo Praça

Foto Marcela Dias - Pedra Sonora

certezas absolutas, que não ri de si mesmo e nem de nada. A natureza é doida: batucada de trovões, guerra entre todos os bichos, desde os micróbios, Deus e o Diabo ali são uma coisa só; a gente é que tem um grande problema com a consciência e tem que construir esse equilíbrio a todo instante. E os tambores do Pedra dão a direção, de uma alma que pode ser diversa e íntegra; alegre, agressiva, justa. A alma “mulata nata do litoral” (Caetano) que vai se curar da doença que veste terno e gravata e acumula um dinheiro que vira câncer, como o acúmulo do sangue vira tumor. Tem que circular.

O Pedra comemorou aniversário no começo de dezembro com grande festa. Parabéns! 3-Penedo está colhendo uma grande safra de notas musicais, acordes e ritmos. O Coletivo Nosso Novo Som está redondo. Outro dia deixou a plateia em êxtase no bar da Kit e do Elcinho, e do Felipe, o “Espeto Penedo”. Muita amizade e congregação. (O bar do Élcio me lembrou o Clube Finlândia de quando eu era garoto, com cachorros passeando em meio à confraternização). E a banda Cassius Clay, o fino no rock e no blues, e tanta outra gente de talento que canta na noite,

3

inclusive os já consagrados que se apresentam no Jazz Village. E como, modéstia à parte, eu também sou da vila, aproveito que fui esperto ao fazer essa introdução para pedir apoio ao CD que estamos gravando, eu, Gabriel Lopes, Fernando Farias e Luís Lima (o Japão); os três últimos são componentes do Coletivo. A gravação já vai adiantada, no estúdio do Gustavo Holanda (outro excelente músico), no Jardim Martinelli (Penedo!). É só digitar no Google (malandramontanha catarse) e ver um pouco do trabalho. Quem

PS: Outro dia falei sobre tratar o esgoto de Penedo, mas há um problema correlato e mais urgente que é o abastecimento de água. Se não houver uma administração melhor da coleta e distribuição, evitando tanta perda, nossa micro bacia acaba antes de poder ser tratada. Cada dia se precisa captar mais e parece não haver muito critério para o como fazer. Claro, as pessoas têm que ter água, mas da maneira mais adequada a se preservar a bacia. Que se cobre a água e se a gerencie bem. Que se faça captação do Paraíba, bombeando e tratando para a parte baixa de Penedo, caso seja preciso. PS2: Leio num site “de esquerda” que até o bullyng é consequência do capitalismo. A burrice eu tenho certeza que não é, que é um dos diversos problemas da natureza humana.

VENDO linda casa no Alto Penedo

Centro Cultural Estalagem Memória Regional Café, Antiquário, Eventos Rua Raul Cotrim, 259 - Centro, Itatiaia tel. 24-33523985 ; 988285997 www.institutocampobello.org

Com 2.000 m2 de área de terreno, com dois braços de rio. Três quartos e mais duas suítes com entrada independente. Tel: 99301 5687 - gustavopraca.com.br/talitha


4 - O Ponte Velha - Novembro/Dezembro de 2017

Djavan ao mar!

Tinha quase 15 anos quando minha família se mudou para uma cidade litorânea. Não houve um batismo, uma iniciação ao azul indizível, com um horizonte poético, ou palavras cheias de beleza me apresentando ao mar. Não. Naquela época meus pais estavam ocupados demais gerenciando as dificuldades de uma família grande e não havia espaço para essas abstrações. De qualquer maneira, meu amor pelo mar não necessitou deste preâmbulo. Foi algo assim já sabido, o cheiro de maresia, o salitre, o horizonte, o contato dos pés com a areia, a água gelada refrigerando o corpo quente e queimado de sol. Minha juventude foi permeada de momentos de descoberta e felicidade à beira mar. Morávamos próximo a um hotel cinco estrelas que separava a praia de seus abastados hóspedes de nós, com uma cerca de arame farpado. Para acessar um pedaço desta, tínhamos que atravessar um canal (assim o chamávamos) que na vazante molhava nossos tornozelos e na cheia passava de nossas cabeças. Sabendo disso íamos para a praia cientes de que não podíamos descuidar da hora da volta, pois nenhum de nós sabia nadar. Passávamos horas cochilando ao sol, correndo, brincando, rindo, até que o estômago roncava de fome avisando que era hora de ir. Naquele dia, eu e minhas irmãs devíamos ter saído de casa bastante saciadas, pois quando a fome bateu a maré já enchera o suficiente para a água bater em nossos ombros. Resolvemos enfrentar a travessia e evitar a fúria dos pais e o risco de ficar presas pela cerca que nos impedia de passar pelo outro lado. Certificamo-nos que os pés tocavam o fundo e iniciamos nossa jornada através do canal. Caminhávamos devagar sentindo a água no pescoço quando a menor de nós perdeu o chão. Não bastasse o risco iminente de um triplo afogamento, tudo se agravou quando ela Abril/2016 se deu conta de que a camiseta que carregava nas mãos se soltara. Não era uma simples camiseta. Era “a” camiseta. A camiseta que era assim um… um talismã, um estandarte,

uma peça cujo valor era incalculável para ela por ter estampado o rosto do Djavan. Enquanto duas de nós lutavam para chegar à margem, ela lutava para salvar a camiseta com seu ídolo. Era como se ele mesmo estivesse ali precisando de salvamento e aquela roupa fosse seu salva vidas, sua tábua de salvação. Não sei se gritamos, ou se alguém da areia viu nosso quase afogamento e correu para nos ajudar. Fomos salvas e zarpamos para casa, onde não contamos nada. Até hoje narramos esse fato nos encontros de família como uma referência à despreocupação, irresponsabilidade e espírito aventureiro dos jovens; que demonstra também certa ingenuidade acerca dos perigos da vida, dos riscos que ela oferece. Um pensamento de imortalidade, de força física e capacidade de vencer todos os obstáculos, os torna impetuosos e à mercê das adversidades. Naquele dia poderíamos ter nos afogado por conta da inconsequência juvenil. De um estado de inconsciência que é típico dos jovens e que nem sempre culmina com final feliz. Por outro lado, esse olhar distanciado que os pais muitas vezes têm sobre seus filhos, seja por preocupação demais com a subsistência da família, seja por que motivos for, pode ajudar nessa coisa de se rir diante do perigo. Para nossa família o final não foi trágico. Poderia ter sido. Quanto à camiseta com o Djavan, foi salva e durou muito tempo ainda. Cheguei a vê-la esburacada alguns anos depois. O que o amor juvenil, seja por um ídolo ou outra pessoa pode fazer, é algo que nem sempre podemos imaginar, ou prever. Por causa disso, é preciso estar atentos às braçadas que os jovens dão e orientá-los sobre sua efemeridade.

Maria Paula da Costa

FRITZ ESTÁ DEVOLTA O nosso velho amigo austríaco, Fritz, está de volta a Penedo, agora à frente do Bier Kultur, na Avenida das Mangueiras. Vendemos pelo Construcard da CAIXA e pelo CDC do Banco do Brasil

Dr. Rafael de Almeida Procaci Cirurgião-Dentista (CRO-RJ 20333) Especialista em ORTODONTIA e Ortopedia Funcional dos Maxilares Centro Médico Policlínica Resende

!

ço!

No

v

oe

re nde

Av. Marcílio Dias 563, Sala 203 (24) 999.48.48.99 (24) 3359-2565

Como não podia deixar de ser, já é a melhor comida alemã do pedaço!


Bicicleta: uma pequena história Quando criança, conhecia apenas dois tipos de bicicleta: a dos trabalhadores em obra, tais como pedreiro, carpinteiro, etc, que usavam a bicicleta como uso pessoal, de casa para o trabalho. O outro tipo, eram as nossas bicicletas que serviam para diversão. Através dos tempos, outros tipos de bicicletas foram aparecendo. A do tipo bicicross, já para competição; as Mountain Bikes e as de velocidade. Depois vieram as bicicletas para finalidade de exercício para a saúde e de uso esportivo para adultos. Foram construídas nas grandes cidades, ciclovias para uso exclusivo dos amantes das duas rodas. Aconteceram na cidade do Rio de Janeiro, grandes revoadas de ciclistas, que partiam do final da Delfim Moreira e iam até o Museu de Arte Moderna. Isso, acontecia às terças-feiras, à noite. Deram-lhe o nome de Tuesday Night Bikers. Esse evento, mereceu uma matéria do New York Times. Entramos agora, na história da era das Bikes: o uso de uma bicicleta especial, com a finalidade de competição. Inspirados no Tour de France, no Giro d’Italia e na Vuelta de Espagna, os ciclistas brasileiros começaram a se dedicar e a se aperfeiçoar no esporte. As bikes, logicamente, mantêm uma grande semelhança com as bicicletas, mas, tudo nelas é diferente:

George Godoy

o guidom, o selim, com material super leve; os pneus especiais; além, logicamente do preço. Anualmente, realiza-se em Las Vegas, uma feira dedicada a elas. Onde são apresentadas todas as novidades para o próximo ano. Pedalar esportivamente ganhou uma nova dimensão, que vai desde a hora de dormir, a hora de acordar e a dieta do ciclista. Já existem campeonatos municipais, estaduais e federais. Sendo assim, foram criadas várias equipes que contam inclusive com patrocínio. No Rio de Janeiro existem empresas que tudo têm, tudo fazem, em prol desse esporte. Tais com as lojas de venda de todo o tipo de equipamento e acessórios, oficina de manutenção e studio indoor para preparação dos atletas do Ironman. Meu filho faz parte de uma dessas empresas. O roteiro de treinos é bem original: pedalam no Aterro do Flamengo às 3h

Rei das Trutas (Direção Irineu N. Coelho)

Av. das Mangueiras, 69 . Fone: 3351-1387

O povo no poder

5

Marcos Cotrim

Nunca um ano novo pareceu tão velho. 2018 vem chegando com dores nas costas e exames clínicos pendentes; chega sem dentes de leite, sem aquele selo de renovação que nós, animais simbólicos, esperamos de um “ano bom”. Carregado de etiquetas, anêmico de éticas, obeso de clichês, sem graça, morno, repetitivo, provoca aquela expressão de Fernando Pessoa: “Arre! Onde há gente no mundo?” Pois sofremos entre representações, imagens, fantasmas e clones, enredos surrados e palcos decadentes. Um desses espectros é o do “pobre”. Algum Maquiavel contemporâneo conseguiu associar o povo e o pobre no mesmo vínculo de beatitude sociológica. A canonização automática e promocional do pobre tem sido a “garantia” de que o povo chegou ao poder. Ái! A lambança democrática só não é mais trágica graças ao humor com que o brasileiro mostra os dentes de seu tio, o Jaguaretê. Ora, o único pobre que nasceu santo foi Jesus Cristo, Nosso Senhor, rei dos povos.

da manhã. Estão sempre indo na direção da Prainha com o raiar do dia. E, aos poucos, foi aparecendo uma ala feminina de ciclistas. Não poderíamos terminar, sem fazer fazer menção à descida das escadas de Santos e à construção do Velódromo para as últimas Olimpíadas no Rio. Pena que um baloneiro irresponsável acabou por colocar fogo na cobertura do mesmo. Prometeram rconstruí-lo. A conclusão a que se chega hoje é que o ciclismo como competição desenvolve um hábito super saudável, um exercício aeróbico, um estreito companheirismo e um belo contato com a natureza. Entretanto, recomenda-se que ele seja realizado em horários de pouco tráfego e sempre em conjunto por motivos de segurança. Se você ainda está indeciso, compre a sua bike e vá desfrutar as delícias desse esporte.

Presépio em estilo japonês

A incapacidade de renovação é sintoma de morte iminente. Os Padres da Igreja, sábios dos primeiros séculos da Cristandade, atribuíam essa morte à inveja. Santo Agostinho via na inveja ‘o pecado diabólico por excelência’ (Catech. 4, 8). São Gregorio Magno dizia que ‘Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pelo mal do próximo e o desgosto causado pela sua prosperidade’ (Moralia. 31, 45). Assim, a produção em série das linhas de montagem se transferiu à ordem moral. Sistemas de ensino e sistemas políticos apresentam aquela cor cinzenta que resulta de uma mistura inconsequente de todos os tons da palheta. Em vez de obra de arte, onde as diferentes cores se mantêm em unidade que valoriza cada uma, a sociedade que vota virou refém do igualitarismo, que é um tipo de inveja sofisticado. Como disse o parachoque de algum caminhão, podemos ser tão pobres que só temos dinheiro. Também podemos perder aquela virtude primordial do povo, que é a simplicidade, e embarcar no populismo, esta soberba disfarçada de cidadania. A presunção de levar o povo ao poder é uma nota de 3 reais. Não há nada de realmente novo nisso.

Desde 1985

A mais saborosa da região Consulte o Guia 4 Rodas Agora com certificado de selo de qualidade concedido pela Fiperj

Novembro/Dezembro de 2017 - O Ponte Velha -

Pão integral de grãos (chia e linhaça) fresquinho de segunda a sexta. Granola especial, Arroz integral cateto, Açúcar demerara, Mascavo e outros produtos. Encomendas pelo tel. 24 . 3351-1131 ou Whatsapp 9928 50645

.com.br

@yahoo

edo florapen


6- O Ponte Velha - Novembro/Dezembro de 2017

Café & literatura: um “casamento” que gerou frutos Rosel Ulisses Vasconcelos*

Por ocasião da final da Copa do Mundo de Futebol de 1998, disputada, como sabemos, na França e tendo como finalistas a seleção da casa e a nossa canarinho, lembro-me de ter lido, em uma coluna esportiva de um jornal do qual não guardei o nome, que a decisão da última Copa do século coroaria os dois países que mais contribuíram para esse popularíssimo esporte. De fato, se reza a tradição que o futebol é invenção britânica, brasileiros e franceses se destacam como os maiores responsáveis pela transformação deste em arte e espetáculo, bem como para a sua consagração como o esporte das massas – isto em escala mundial. Está na História: foi um francês, Jules Rimet, que em 1928 obteve aprovação para levar do sonho à realidade um torneio internacional de futebol, envolvendo seleções de vários países, de continentes distintos. Estava dado o pontapé inicial para a Copa do Mundo de 1930 – apenas a primeira de uma série que conduziria àquela final de 1998, na qual os franceses se sagrariam campeões em seus próprios domínios. Também quis o destino que fosse de um jogador francês, Lucien Laurent, o primeiro gol feito em uma Copa do Mundo, na vitória de 4 a 1 da sua seleção sobre a do México, em 1930, no Uruguai. É ainda de um atleta da França (embora marroquino de nascença), o lendário Just Fontaine, a marca praticamente insuperável de maior número de gols convertidos em um só Mundial: 13 bolas na rede na Copa de 1958. Ufa! Por outro lado, nenhum país elevou o futebol à condição de arte como o Brasil. Seleções fantásticas (embora nem sempre campeãs), jogadores extraordinários – verdadeiros gênios do esporte, que poderíamos listar até a exaustão –, campanhas inesquecíveis, títulos e mais títulos, tudo isso fez dos canarinhos referência mundial quando se trata de beleza e de espetáculo com a bola nos pés. Aqueles que lamentaram a eliminação do Brasil e da França na Copa de 1982 –seleções que fariam, na opinião de muitos, uma “final dos sonhos” naquele torneio – tiveram que esperar o apagar das luzes do século, na última chance que havia, para verem realizado o seu desejo. Pior para nós, que perdemos o jogo e o título... Não foi apenas no futebol, entretanto, que a parceria entre Brasil e França rendeu ótimos resultados. Antes de tudo, é preciso não esquecer que, durante muito tempo, Paris foi o principal centro irradiador de cultura em todo o mundo e o francês era, então, o idioma da civilização. Somente para ficar em um exemplo retirado “da minha praia”, todas as escolas literárias que aportaram deste lado do Atlântico no trans-

correr do século XIX surgiram na França ou ao menos passaram antes por ela. O Romantismo, é verdade, não nasceu nem nos anos oitocentos nem na terra de Lamartine e Chateaubriand: ele despontou no século anterior, na Alemanha. Mas foi a França que, após adotá-lo, o exportou para cá. As demais estéticas, do Realismo ao Simbolismo, são francesas de berço. É de se ver, contudo, que se por um lado recebíamos esmagadora influência francesa no que concerne às letras, às artes, à moda e a tantas outras coisas, por outro exportávamos para lá e para os quatro cantos do planeta um produto cujo consumo ganharia ares de ritual entre artistas e intelectuais do Velho Mundo: o café. A associação entre café e literatura, o feliz matrimônio do qual provêm os cafés literários, é junção de um produto de exportação tipicamente brasileiro e da projeção cultural que a França, muito especialmente Paris, teve em todo o mundo ocidental nos séculos anteriores. À exceção da Inglaterra, onde o chá continuou sendo a bebida preferida, o café se tornou uma espécie de “febre”, sendo consumido em larga escala tanto nas capitais europeias como no Velho Oeste norte-americano. Nem sempre foi assim: até o século XVI, o café era proibido, tal como uma droga ilícita. Mas, entrando o século XIX, não apenas seu consumo estava plenamente liberado como, graças às grandes safras brasileiras, o seu preço o tornou acessível à população em geral. O Brasil teve papel fundamental nesse processo: só para se ter ideia, o nosso país respondia por quatro quintos da produção mundial cafeeira na virada para o século XX. Curiosamente, assim como o futebol, a origem do café não está ligada aos principais países que o consagraram e populari-

zaram – a planta é proveniente da África, mais especificamente das terras altas da Etiópia. Para cá, consta que a primeira muda de café teria sido trazida clandestinamente de Caiena, na Guiana Francesa, em 1727, por Francisco de Mello Palheta; porém, demoraria ainda um século para que tivesse início, entre nós, um autêntico ciclo do café. Não devemos nos esquecer de que Resende teve uma participação expressiva na produção cafeeira no período que vai de 1820 a 1880, quando entra em declínio a cafeicultura no nosso município. Quente e estimulante, com fama de provocar ideias, o café em pouco tempo virou hábito irresistível. Poetas e escritores parisienses do século XIX logo criaram a prática de se reunir para ingerir a tão apreciada bebida ao mesmo tempo em que debatiam questões a respeito da literatura e das artes em geral. Em pouco tempo, a moda das reuniões em cafés se espalhou mundo afora e chegou por aqui. Sânzio de Azevedo, em seu livro A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará, nos diz que foi o grêmio do Café Java, situado na área central de Fortaleza, o embrião da futura Padaria Espiritual, que reuniria poetas e prosadores a partir de 1892. Aliás, Fortaleza detinha na época o charmoso apelido de “Paris dos trópicos”. Já Carlos Drummond de Andrade nos conta que a moda das reuniões nos cafés alavancou, em Belo Horizonte, o Modernismo mineiro. Ele próprio e mais Emílio Moura, Abgar Renault, Pedro Nava e tantos outros adquiriram o hábito de sentarem-se ao redor de uma mesa para compartilhar ideias enquanto sorviam xícaras da revigorante bebida. Recentemente, participei com alunos e colegas de trabalho de um café literário que me reportou àqueles tempos antigos. A união entre café e literatura já rendeu muitos frutos. Alguns hábitos jamais deviam ser perdidos, ainda mais quando se vê a superficialidade de pensamento e se percebe a decadência de valores que vigora nos dias de hoje em consideráveis parcelas da nossa sociedade.

Café- Ilustração de Cláudia Lambert

*Rosel Ulisses Silva e Vasconcelos é professor de português e literatura, graduado em Letras e com mestrado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará. Em Resende, leciona desde 2002 na AEDB – Associação Educacional Dom Bosco.


Novembro/Dezembro de 2017 - O Ponte Velha -

O homem é filho da palavra

7

Ergo fides ex auditu, auditus autem per verbum Christi. Rm 10,17

O percurso proposto na década de 60, pelo linguista ugandês Zirimu, de oratura como que confrontando o caminho tradicional da literatura ocidental, denota negligência histórica com a Antiguidade e o Medievo. Uma pretensa legitimação do registro oral, não houvesse importância em tempos idos, aponta mais para uma imposição de novas linguagens e nomenclaturas politicamente corretas do que para uma manifestação real da arte. Uma espécie de Zoilo moderno. Não tanto o conteúdo das obras, mas o enquadramento filosófico que lhe dá tom estridente e hesitante. Vejam só – para ficar com um exemplo, segundo Régine Pernoud em Luz sobre a Idade Média, a força da oralidade no período medieval era tanta que havia advogados letrados e iletrados sem o menor problema. Um tempo, assim como na Idade Antiga, em que as pessoas se dispunham à difícil tarefa da modernidade: escutar. Isso sem contar a extensa tradição oral, retratada no Antigo e no Novo Testamento. Escapando um pouco desta chave, notamos que a literatura oral vem viajando pela história há muito tempo, desde os tempos homéricos, passando pelas cantigas medievais, até chegar no repente nordestino. A palavra canta, ligando tempos e épocas, em toda esta cronologia. Ouvia-a de um poeta como Hesíodo a um rei como Davi, de um escravo como Esopo a um palhaço como Ariano Suassuna, e que o diga o Movimento Armorial, com folhetos e xilogravuras, que unia o erudito e o popular. Assim podemos dizer que o cordel existe desde sempre. Do ponto de vista da escrita, a partir do século XVI, chega às raias ibéricas, como pliegos sueltos, folhas soltas e/ou volantes, se destacando no Brasil a partir das décadas de 60 e 70 do século XX, em Salvador. Isso não muda o fato de a oralidade dos versos existir pela Terra da Santa Cruz desde o início da colonização. O cordel é, pois, um horizonte de possibilidade de experiências existenciais. Esta confrontação e separação entre oralidade e escrita não resolve a questão, pois precisamos entender realmente os cordões da alma literária, que acena, não para uma nação nem para um interesse econômico tampouco para divisão de classes, mas para o destino de um povo, um povo que se chama homem. Embora a escrita seja uma espécie de cemitério das palavras, dela a oralidade busca resgatar e ressuscitar o vigor da palavra, ao dinamizá-la. A pauta do cordão, da qual provém a palavra cordel (do grego khorde, “tripa ou corda feita

Capa do Cordel de Thifany Silveira

“Opostos ao Deus cristão, que é bom, puro e perfeito, eram os deuses do Olimpo, cheios de vícios e defeitos, assim, eram como nós, humanos do mesmo jeito” aluna Amanda Calixto, E. M. Noel de Carvalho - Turma 803

dela”, por meio do latim chorda, “corda”), nos dá ensejo para comunicar uma atividade planejada e aplicada por mim, discente do curso de Letras da Dom Bosco, via Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), na Escola Municipal Noel de Carvalho. O Pibid do curso de Letras, em Resende, atua no referido colégio desde 2014 e já envolveu vinte alunos e alunas da nossa IES (Instituição de Ensino Superior) e centenas de colegiais do Ensino Fundamental Maior. Trata-se de uma parceria extremamente salutar, em que ambos os lados saem favorecidos. Os bolsistas desenvolvem atividades semanais envolvendo a produção de textos, sempre em aulas de Língua Portuguesa e, em geral, procurando reforçar os conteúdos abordados pelas professoras.

Tentando retomar aquela disposição para a escuta, repousamos nos conselhos de Homero. A atividade foi realizada em seis aulas de mais ou menos cinquenta minutos, na turma 803 do período da manhã da Escola Municipal Noel de Carvalho, sob a supervisão e colaboração das professoras titulares Rosângela Rocha e Rosângela Mota. Utilizamos adaptações de A Ilíada, lendo-as a cada aula e produzindo, ao mesmo tempo, os versos do cordel. Culminando com a confecção dos cordéis, em que usaram folha de papel cartão, cartolina, cola, lápis de cor, caneta e canetinha. A priori, pensou-se muito antes de propor tal atividade, visto o tempo necessário para a realização dela, mas ao notar o interesse dos alunos por Homero, estórias dos deuses e heróis, optamos por este caminho. Tal proposta se ancora na noção de estudiosidade medieval, virtude que torna o homem estudante, aqui distinto de aluno, e o faz reeditar os conteúdos nas mais diversas formas, como fizemos, por exemplo, em outra aula, a árvore genealógica de cada aluno em forma de quadrinhos. Esta dupla disposição é que salienta a importância da aprendizagem, pois disciplina a vontade de conhecer, hierarquizando o interesse. E, neste sentido, destacamos aqui os nomes dos alunos que se empenharam nesta feita: Thifany Silveira, Danton Gastão, Eduarda da Silva, Jenyffer Kawani, Amanda Calixto, Kamila Balieiro, Ygor Martins, Isabelly Gomes, Luma Carina, Maria Eduarda Lopes, Mariana Fialho, Gabriel de Oliveira, Marilene Barbosa e Vitória da Silva.

Jefferson Divino (com leitura de Rosel Ulisses Vasconcedllos) O autor é aluno do Curso de Letras da Aedb


8 - O Ponte Velha - Novembro/Dezembro de 2017

Peres na Ardhis

A Academia Resendense de História (Ardhis) recebeu em seus quadros no último dia 08/12 o Cel. Carlos Roberto Peres (na foto, com sua mulher Marli). Ocupou a Cadeira n. 22, cujo patrono é o Gen. Luís de Sá Affonseca, engenheiro militar, construtor da Aman e fundador do Aero Clube de Resende. O novo acadêmico foi saudado pelo presidente emérito da Ardhis, Cel. Claudio Moreira Bento, e pelo professor Julio Fidelis, que destacou a atuação do novo sócio como competente gestor cultural e artífice do diálogo entre a Aman e a cidade neste campo. A solenidade ocorreu na data comemorativa da padroeira da cidade, e foi abrilhantada pela palestra do professor Eduardo César Werneck, de Cruzeiro, sobre o Marquês do Paraná e sua atuação em Resende. Estiveram pesentes, os acadêmicos Antônio Carlos Esteves, Juan Garcia, João Alberto Stagi, Karla Carvalho, Sônia Leite, Maria Fernanda Oliveira, Claudionor Rosa, Fernando Rodrigues e Celso Dutra. Representou o Prefeito Diogo Balieiro, a Diretora da Casa da Cultura Macedo Miranda, Denise Assis. Prestigiaram o evento também o Presidente da Câmara Municipal, Roque Cerqueira, e a Diretora do Câmara Cultural, Ana Paula Bernardi. MCB

Ô maiada, Difícir votá! O povo no poder só tá fazendo um banzé dos diabo! Tudo eis inriquece rapidim...

Associação Educacional Dom Bosco Democratizando o ensino superior privado

No próximo dia 20 de dezembro, acontece o Vestibular para ingresso nas Faculdades Dom Bosco em 2018. A inscrição pode ser feita on-line, pelo site www.aedb.br/vestibular, ou presencialmente, no campus da AEDB, em Resende. Para inscrição presencial, o estudante deve se dirigir à Secretaria de Atendimento, no horário de 8h às 12h e de 13h às 21,30 horas. Este ano não haverá cobrança de taxa de inscrição. O ingresso nas Faculdades Dom Bosco pode-se dar, também, pelo aproveitamento do resultado obtido pelo candidato no Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, de 2012 a 2107. Para facilitar o ingresso na faculdade a todos os estudantes, independente de sua condição econômica, a AEDB conta com um completo programa de descontos e bolsas de estudo, que possibilita reduzir,significativamente, o valor da mensalidade. E oferece, também, algumas modalidades de financiamento, que o aluno paga depois de formado. OPÇÕES DE CURSOS A AEDB oferece 19 cursos de graduação, nas áreas de Engenharia, Negócios, Educação, Saúde, além dos Tecnológicos, que atendem às necessidades do mercado de trabalho regional e têm boa empregabilidade. Mais informações sobre os cursos podem ser encontradas acessando www.aedb.br/graduação Para mais informações sobre o Vestibular 2018 nas Faculdades Dom Bosco, ligue para 0800 282-1505.

Hummmmmm Meu voto é do Maracatu Pedra Sonora, que além de bailar repercute sons ancestrais.

Dr. Maurício Diogo CRO 10689

Especialista em Implantodontia

Implantes: cônico, cone morse Prótese sobre implantes Enxerto ósseo: regeneração óssea guiada Resende Shopping Torre II Tel. 33851474

Sala 602


Casa do Ser Imagine faculdades integradas sem cursos de Filosofia e de Letras. Como instaurar a Universidade sem pensar o homem em sua essência, sem debater ideias? Um conglomerado de faculdades que funcionem com eficiência como empresas superavitárias, visando obsessivamente ao lucro e ao mercado de trabalho, mas vazias de questionamentos...

Como compreender que a Linguagem é a morada do Ser e nela moram as artes e o homem? E nunca mais refletir que devem existir muito mais verdades nas faculdades integradas do que sonha a nossa obsessão produtiva em busca de lucros e de títulos. Nem os tempos machadianos idos e vividos hão de permanecer. Restará um campo árido, vazio de ideias, a confirmar o pensamento de Heidegger de que a humanidade vive a longa noite do esquecimento do Ser.

Pensemos a fundo as faculdades integradas brasileiras e instauremos os questionamentos filosóficos, o debate livre de ideias.

Novembro/Dezembro de 2017 - O Ponte Velha -

Bingo!

Quando o poeta morre

Estavam agitadas como formigas num formigueiro remexido. Excitadas. Era quinta-feira, dia de sair pra farra e se esbaldar. Eulália organizava os encontros, religiosamente. Das novenas para o santo de fé ao bingo. E hoje era dia de fazer uma fezinha. No bingo. Bingo! A média etária do grupo beira os oitenta anos. Religiosas e serelepes, aprontam todas. Até o ano passado, Eulália buscava cada uma em sua casa, de carro, dirigindo um Dodge Dart amarelo. Hoje, vão de van, do seu Abelardo, aposentado, ex-motorista de ônibus da empresa de uma delas. Não por medo de assalto ou do trânsito, mas por proibição mesmo. Os filhos a proibiram. - Mamãe, a partir de hoje você não dirige mais. - Quem disse que não? - Nós, seus filhos. - Nem pensar. - Já pensamos e decidimos. Mamãe, não dá mais. Oitenta e um anos. Ainda mais um carro enorme como o seu. - Tá me chamando de velha? Adoro meu carro. - Sabemos disso. Lembra da última que você aprontou? - Não. - Mamãe! Você se esqueceu do carro enguiçado naquela rua estreita do Centro da cidade? Você e suas amigas de cabelo azul? - Não fala assim das minhas amigas. Elas o viram nascer. - Pois é, viram, mas como você, largaram o carro lá com os documentos e tudo. - E daí? Pegamos um táxi, fomos pra Colombo e, de lá, liguei pra você. - Antes disso, a polícia já tinha me ligado. - Então, ficou tudo resolvido. - Sim, claro, depois de uma multa astronômica, mais a oficina, mais o toca-fitas roubado, ficou tudo resolvido. E está resolvido, também, que você não dirige mais. - O queeeeeeeê? Se me tirarem o carro, eu morro em uma semana. - Sem problema, vamos arriscar. - Ingratos. Passado um ano e todas vivinhas da Silva, lá vão elas rumo ao bingo. Felizes da vida, bem arrumadas, os cabelos variando do azul claro ao roxo esmaecido, colares fininhos de pérola, sapatos confortáveis para aguentar o peso da idade, os quilinhos a mais e o inchaço nos pés depois de algumas horas sentadas na mesa de jogo. Abelardo, bonachão, tem toda a paciência do mundo. Ajuda-as a descer da van, acompanha-as até o salão e fica esperando, por algumas horas, até a diversão acabar. Ganha uma gorjeta graúda pela gentileza. Bingo, à tarde, cheio de velhinhas, é divertido. Aquela montoeira de senhoras falando palavrão quando uma outra, que não elas, grita: Bingo! É só parar e observar. O palavrão pipoca de mesa em mesa. E elas comem pipoca. Muita pipoca. Às quintas-feiras, na matinê, tem pipoqueira vestida de branco, como no conto do Herbert Farias. Elas se fartam, fazem sua fezinha, se divertem e, à noite, agradecem a Deus por mais um dia vivido, religiosas que são. Sergio Cerante Ornellas

Homeopatia Veterinária

W. Rosa Monteiro

Gustavo Vernes - CRMV- RJ 5241 Tel.- (24) 992960661

9

(Ainda para Manoel de Barros) Somavilla

Ninguém devotará reles atenção ao noticiário emaranhado no jornal; no universo, os big bangs se repetirão alardeando inúteis relatividades; o transeunte, esse por quem o poeta urdiu tramas, costurou magias, alheio, adentrará o gramado, quer dizer o ventre inchado de enganos em que milhões consomem-se assando em fogo lento a própria dor. Se o intérprete da ilusão de viver não mais luzir, remoto vagalume, é certo que não será o dia do juízo final: só que as borboletas vão se perder nos cinzentos confins de cada ser; os passarinhos voarão contra os espinhos; sementes e floradas darão em nada e proliferarão, como pragas, interrogações. Se um vai e outro se esvai, e não são muitos, daqui a pouco só restará a realidade. Dis

47 .10 1 5 )33 616 (24 351.1 3

En

k

treg

Gás - Água - Medicamentos Av. Brasil, 851 - Penedo - Itatiaia

a


10 - O Ponte Velha - Novembro/Dezembro de 2017


Novembro/Dezembro de 2017- O Ponte Velha -

Na sala de visitas daquela casa de velha edificação, fazia-se “quarto ao morto”. Foi quando o galo cantou fora de hora, o vento esparramou o monte de palha seca, devidamente amontoado, uma parelha de cavalos desembocou de uma esquina, a deixar Nelson no tropel das ideias, dando-lhe rumo ao mistério poético. Pois era poeta, era lavrador das palavras, o morto de nome e sobrenome respeitado, por ora sendo velado ali, no aceso das velas, no entre flores frescas, no fervor das rezas e, dos cantos em vozes quebradiças. Amigos, admiradores e Nelson pensando em tom, de certo modo elevado, quebrando o silêncio sagrado do momento fúnebre: - Quais foram as substâncias especiais usadas pelo finado, na massa narrativa da sua obra? Qual foi o ingrediente secreto da sua poesia, inda que voz corrente diga ser sua prosa, a sua poesia mais penetrante? Nelson queria encontrar o fio que uniu aquele homem à sua obra. E não conseguiu. Encontrar a banda que fora esquecida e a que fora lembrada, voando até limites insuspeitados, percebendo que a criação no trabalho do poeta, nele refazia-se e refazia-se, como que num ciclo de milagres. - O que é findo então, Nelson murmurou, ainda respira! - Sua vida nos pertence poeta, nela saímos e entramos quando nos apraz, basta ler os seus livros. De certa forma, você nos introduziu à natureza desta terra, depois não nos quis apaziguados, por

Ode ao poeta recém finado

Cláudio Dickson - Enterro (Xilogravura digital)

conta de suas palavras, a confundir-nos. Hoje, aqui, “fazendo-lhe quarto”, agradecemos com gestos galantes, porque sabemos que você foi, é, capaz de compreender os sintomas da galanteria. A dona da casa, sua mulher, surge, coberta de preto, tendo na gola alta que envolve seu pescoço, um camafeu antigo. Aparece nostálgica, sem que ouvíssemos seus passos, quase levitando, cabelos presos num coque, a servir-nos um chá com requintes. Agradecendo em voz quase velada, aos que ali estavam, honrando o seu marido falecido.

- Bom, é a hora de ser anunciado o nome do poeta morto!. De Horácio de Almeida ele era conhecido, ou melhor, é conhecido. E a quem põe-se numa devoção especial. Pela casa da velha edificação, de tamanho suficiente para abrigar todos que vieram “fazer quarto”, passava o bonde, uma vez por dia, na hora acertada, que Horácio costumava tomar, para o seu trabalho, no centro da cidade. O condutor, acordado de seus cuidados, espantou-se com a não chegada do pontual poeta. Aguardou um pouco até aparecer a senhora

enlutada dizendo: - A partir de hoje, a vida de Horácio torna-se um feriado sem fim.. e agradeceu a atenção. Horácio costumava dizer que foi sua mulher quem promoveu sua caminhada literária. Que seu pai e seu avô, e um tio gênio, foram partes constantes da sua imaginação. Foram partes da sua formação caseira-literária. Ele encontrava , na biblioteca da mãe, o seu paraíso. É possível, diz Nelson, traçar um mapa afetivo em todas as fases do escritor e, impossível que se subestimem os livros que ele leu vida afora, os escritores da época que o levaram pela mão ao meio literário. Disseram , em resumo, e em consonância, alguns críticos, que a obra de Horácio era tão dada ao mistério, quase apagando a linha entre o real e a ficção. E que é, na memória da sua infância, que se abrem janelas para tentar entendimento da obra, do autor, por ora estendido no caixão. Recém-finado! Segue o corpo de Horácio, servindo aos costumes, para o campo santo, ao recital de um credo, com a mesma evolução que a sua carreira: no começo jovial, e por fim, triste. Para o que, então, ele, quem sabe, perguntaria: - Que faz no meu cortejo final, tal alegria, quando tudo deveria soar elegíaco? Será Deus a me oferecer pousada? Martha Carvalho Rocha

Posto Avenida Bob`s CREDIBILIDADE

11

Seu carro agradece e seu paladar também


12 - O Ponte Velha - Novembro/Dezembro de 2017

Fala, Zé Leon: Poucas e Boas – e ruins

Feliz Natal, meus poucos mas fieis leitores. Começo essas mal digitadas linhas com uma história que me deixou arrasado. O vereador Reginaldo me convidou para organizar com ele um concurso para a confecção de uma bandeira de Engenheiro Passos. Pois bem, fizemos regulamento, conversamos com os professores, por 3 vezes fomos de sala em sala, o prêmio era de 500 reais e o mais legal: quem vencesse ficaria eternizado pela bandeira escolhida. Então conversamos com, talvez, 500 alunos e sabe quantos se interessaram? Dois apenas, dois. Isso mesmo. Muito chato isso. Eu fiquei analisando o que será que transformou essa juventude. E o trabalho da bandeira podia ser em grupo também, puxa vida, e 500 pratas ainda para jovens carentes – afinal é uma escola pública de um distrito pobre – ajudaria muito, seja na ceia de natal, ou até num tênis novo. Eu penso que futuro podemos esperar dessa geração que vem por aí?

Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança

Castro Alves, Tragédia no Mar. Trecho de “Navio Negreiro”

Eu tinha vontade de montar aqui em Engenheiro Passos, um “coletivo” que juntasse a galera ligada em música, teatro, poesia, mas galera não há. Me lembrei de uma música do Tom e Ravel – eu te amo meu Brasil – que começava com “As praias no Brasil são mais douradas.. – e a gente cantava “A maconha no Brasil foi liberada.” É isso. A maconha e o crack, os males da juventude são.

Joel Pereira

Advogado - OAB.RJ - 141147 joelpereiraadvogado@joelpereira.adv.br Av. Ten. Cel. Adalberto Mendes, 21/201 CEP: 27520-300 - Resende - RJ Fones: (24) 3360.3156 / 3354.6379

Casa Sarquis

Símbolo de distinção e confiança Brinquedos - Tecidos - Armarinhos Confecções - Cama e mesa

Telefones: 3354-2162 / 3354-7245

Sempre que posso conversar com jovens, eu termino contando a história da desembargadora presidente do Tribunal Federal do Trabalho do Mato Grosso. Ela era filha de uma empregada doméstica de uma boia fria. Quer dizer, boia fria já é um subtrabalho e ela era filha da doméstica dela. Teve oportunidades e correu atrás e hoje é uma desembargadora. Depois eu falo dos trabalhadores

que ficam nas estradas balançando bandeirinha no sol rachando. Tiveram as mesmas oportunidades que a juíza. E termino: a vida é feita de escolhas. Ou você vira juiz ou você vira bandeirinha. Itatiaia Tive a honra de ter sido convidado pelo prefeito Dudu, de Itatiaia, para ajudar na implantação de políticas públicas de cultura no município. Fiquei feliz porque a turma que está lá tendo o Rafael à frente já está fazendo um trabalho muito bacana. Espero contribuir com minha experiência. Rio Com a prisão da cópula, quer dizer da cúpula do PMDB e com a decretação da inelegibilidade do Eduardo Paes fica a pergunta que não quer calar: quem sobrou pra pegar a chave do Guanabara? Itapipoca Ruas sujas, mato alto, políticas públicas duvidosas... está complicada a vida em Itapipoca.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.