O Ponte Velha | Outubro de 2016

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RESENDE E ITATIAIA - Outubro de 2016 Nº 246. ANO XXI - JORNAL MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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No Ponte, “só 10% é mentira”!

Abstenções + votos nulos + votos em branco: Seríamos governados por “Ninguém”

Ou o Brasil acaba com a corrupção ou a saúva acaba com o Brazil


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No Tempo do Fio do Bigode Filho de Sebastião José Rodrigues e de Adelaide Pereira Vianna, Tácito Vianna Rodrigues nasceu em 22/04/1901, em Resende, na casa nº 19, no Largo do Centenário, e passou para o Oriente Eterno em 29 de junho de 1994, conforme preciso registro no livro “O Resendense do Século XX”, escrito pelo pranteado Alceu Vilela Paiva (Coronel do Exército e Engenheiro Civil), biógrafo e discípulo do Dr. Tácito. O título desse livro surgiu em decorrência de o historiador Cel. Cláudio Moreira Bento ter classificado o Dr. Tácito como o resendense do século passado, após estudar a vida e a obra do homenageado. Casou-se com Brasília de Oliveira Botelho, em 1933, com quem teve quatro filhos: Antonio Henrique – técnico da construção civil; Vera Lúcia - Engenheira Civil; Luiz Henrique –Engenheiro Metalúrgico e Alfredo Henrique – Economista. Formado em Engenharia Civil, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, na turma de 1926, especializou-se em urbanização e em construção de estradas e de pontes. Construiu, dentre várias, a Estrada Resende/

Joel Pereira

Fernando António de Castro Maia

Tácito Vianna Rodrigues

Cala a boca, Magda

Riachuelo, ligando Resende a São José do Barreiro/SP. Considerado o maior construtor de pontes do Brasil, edificou 129 pontes em 18 Estados. Além disto, planejou e loteou onze importantes bairros de Resende: Itapuca, Liberdade, Vila Julieta, Alegria, Vila Adelaide, Jardim Brasília I, Alvorada, Nova Liberdade, Tangará, Bairro Comercial e Jardim Brasília II. Na bela conceituação do Arquivo Histórico Municipal de Resende (credor da foto

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ilustrativa), o Dr. Tácito foi “a verdadeira bússola da vocação urbana de Resende”. Demonstrando seu descortino e sua preocupação com o bem estar de seus empregados, criou o bairro Vila Moderna, onde construiu várias casas destinadas a moradia daqueles, além de uma escola e uma igreja. As casas foram vendidas aos colaboradores, com vários anos de prazo, sem juros e sem correção. Dotado de invulgar espírito público, foi presidente

do Aero Clube e do Rotary Clube de Resende. É Patrono da Confraria dos Cidadãos de Resende e da Academia Resendense de História. Sempre que havia eleição para Prefeito de Resende, o Dr.Tácito era lembrado, e chegou mesmo a aceitar uma candidatura pela UDN, da qual desistiu ao verificar que a campanha não iria transcorrer dentro de seus elevados princípios. Inspirador da Medalha Tácito Vianna Rodrigues, honraria criada pela Câmara Municipal de Resende, em 1999, na presidência de Alceu Vilela Paiva Junior (Alceuzinho), destinada a homenagear, anualmente, cidadão que obtenha destaque em âmbito regional, nacional e internacional. Na época atual –– em que muitos daqueles que deveriam servir de bons exemplos ilustram as manchetes policiais ––, é necessário, mais do que nunca, que resgatemos exemplos de cidadania. Exemplos de pessoas que não tinham o dinheiro como Deus, apenas como uma justa remuneração ao trabalho. Exemplos de cidadãos que, verdadeiramente, amavam o próximo, pois no feliz dizer do líder rural resendense, Gilson Mario Siqueira, “sem amor ao próximo, não existem soluções”!

Publicação do Instituto Campo Bello 14673758/0001-03

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Escrevo essas mal traçadas linhas me sentindo como aquele comentarista de futebol que passa dando palpites o jogo inteiro para, no final, errar todos; e ele, após a peleja, deita falação sobre como foi o jogo do violento esporte bretão. Eu e quase todo mundo erramos feio no resultado da eleição para prefeito. Agora, com o jogo terminado, vou tentar dividir com os leitores o que aconteceu. 1) O Noel começou a perder a eleição no debate. Aquele jogo dele com a candidata do PT, além de não ter pegado bem, derrubou o candidato do prefeito Rechuan. E como sua rejeição era a maior dos 4, os votos começaram a migrar para o Diogo. 2) Nas últimas duas semanas, o programa do Doutor Diogo deu uma virada em qualidade e conteúdo, e o do Noel continuou com aquele chove não molha sem objetividade – sabe ouvir, sabe fazer. 3) Houve sim uma reunião com os principais líderes no sábado, véspera da campanha. Para o prefeito, a vitória do Noel era inadmissível. Então veio a ordem: todos devem votar no Diogo. Sem a participação da campanha dele, claro. Isso explica a queda violenta do Mário Rodrigues na reta final. As apostas no sábado eram sobre quem ficaria em terceiro: Mário ou Diogo. Enfim, Deus proteja esse menino. Bom médico, ser humano excelente, mas que acabou de montar num rabo de foguete. Aliás e a propósito Nas eleições para vereador, se o bem não venceu, o mal também foi derrotado. Cala boca, Magda.


Outubro de 2016 - O Ponte Velha -

Em cima da cômoda da minha casa tem duas estatuetas: uma da deusa indiana Shiva, em posição de yoga, e outra de uma baiana de saia rodada, requebrando e com as mãos na cintura. Gosto de ver as duas juntas porque significam a integração de espiritualidade e sensualidade, do apolíneo e do dionisíaco. Só nessa integração a natureza humana se realiza: mais que apenas no sexo, a sensualidade também nos pés descalços sobre a estrada de terra, na massagem que lhes fazem as pedrinhas; mais que a meditação na posição de lótus, a meditação também no sexo, ou quando se arruma a cozinha e se lava com carinho a colher de pau, e a água fria nas mãos é um prazer. Penso que quanto maior o contentamento do corpo, mais intenso é o que chamamos espiritualidade, porque aí se agradece à vida. O Freud achava que só seríamos felizes quando nos tornássemos “perversos polimorfos” , como ele dizia que eram as crianças. Um prazer intenso com a simples respiração. Jesus disse o mesmo: só entraremos no reino do céu quando formos como as crianças. O cristianismo autêntico ressalta a simplicidade, o valor da pobreza, uma vez que a própria vida, a Graça, é riqueza inigualável. Pobreza, não miséria (o Joãozinho Trinta nunca entendeu essa diferença). O ordinário é que é extraordinário, afirmava Chesterton, pensador cristão. Há um território comum entre o mais elevado e o mais simples, e é só aí que ambas as coisas acontecem.

A deusa Shiva e a baiana Gustavo Praça

Carybé. Bico de pena, 1950, Museu de Arte da Bahia

Qualquer dia vou arranjar mais duas estatuetas para colocar na cômoda, lado a lado: uma do Roberto Campos e outra do Joseph Stalin. Mercado e Estado, no organismo social, também só encontram sua excelência quando integrados, um potencializando o outro. Há um território comum, há um centro, que é a ideia de social-democracia, onde o Estado, além de cumprir suas obrigações básicas, investe para regular ou potencializar o mercado de acordo com nosso interesse (considerando o varejo da polarização coxinhas x esquerdopatas, ressaltemos que a busca do equilibrio não significa o centrão peemedebista, nem o conceito de socialdemocracia precisa ter a cara do Aécio Neves ou do FHC).

Esse território comum parece ser o que o mundo busca hoje, a atual síntese da dialética histórica (o pulsar da história é muito mais longo no tempo do que o nosso, dizia alguém outro dia); é para onde o momento do Brasil parece apontar, do combate à corrupção à busca de um Estado menor mas mais eficiente, passando pela reforma política que diminui a distância entre a casta institucional e as pessoas - e cada coisa dessas é também a outra. Um vereador, um deputado, não pode ser um coronel com seu feudo, que o elege indefinidamente por trocentos mandatos. É preciso menos dinheiro, menos privilégios - até em nome da felicidade do parlamentar - e parece que caminhamos para isso, ainda

que devagar, uma coisa de cada vez. Essa busca de território comum tem um exemplo muito bom na música. Quando se toca junto, a atenção nos outros instrumentos faz cada um tocar melhor, adequar a sua altura à beleza do conjunto. O prazer da harmonia regula o prazer individual. Se o capitalismo selvagem toca muito alto, não adianta o Estado quebrar-lhe o instrumento, expulsá-lo da banda ou querer tocar mais alto ainda; só piora. O que ajuda é nós, pessoas comuns, cantarmos num coro cada vez mais afinado. Ou, quando acharmos necessário, como ocorreu nessa última

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eleição, nos calarmos em coro afinado, porque o silêncio no momento adequado é um coro de anjos, ou um berro. E traremos os instrumentos para o centro integrador, onde mora a harmonia, onde o espírito empreendedor entende que o Estado é parceiro na tarefa de fazer beleza. Porque o que toda pessoa quer mesmo é ser amiga das outras, é o reconhecimento e a gratidão pela sua capacidade, é a comunhão; o poder desproporcional só traz a solidão. Minha utopia é que a humanidade é um adolescente que está amadurecendo a custa de muita barbaridade, a mais visível hoje é Síria, mas não dá para descrer desse animal capaz de pensar. E que Hillary ganhe a eleiçao! Vou botar a estatueta do Stalin dançando com a da baiana, e a da Shiva com a do Roberto Campos, para comemorar. PS: Atenção moradores de Penedo: não deixem de experimentar os pães que os irmãos padeiros Marcos e Mário Biolchini estão fazendo. Eles não usam a massa pronta que já vem com fermento, conservante, etc. Eles fazem a massa. A gente sente a diferença no miolo e na casca, é outra coisa. Tem pão francês, italiano, preto, de muitos tipos. A pequena padaria deles fica no primeiro andar do shopping do Esquilo, na Av. Rubens Mader, embaixo da linda loja Astral Esotérica. Acho que se chama Due Fratelli.

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA X TORRE DE BABEL X MITOLOGIA GREGA X ELEIÇÕES O que esses assuntos têm em comum? Muito mais do que se imagina. “Torre de Babel”, é uma expressão usada para definir grupos, instituições e lugares onde as pessoas não falam a mesma língua. Resumindo: bagunça, confusão, descontrole. Se você quiser saber a história da Torre de Babel consulte a Bíblia, livro de Gênesis. Já temos um ponto em comum entre administração pública (municipal, estadual e federal) com a Torre de Babel. O tal do “governo de coalização”, formado por grupos e partidos políticos com ideologias e pensamentos totalmente diferentes, é um exemplo de “torre de babel”. O resultado é este que estamos vivendo atualmente na política e na economia dos nossos municípios, estados e união: “zona total”. Com exceções, para não sair batendo em todo mundo. Não acredite em candidatos que dizem que suas coligações são pequenininhas. Depois da eleição, se for vitorioso, ele bota todo mundo no governo, que passa a ser de “coalização”. E a mitologia grega, onde é que entra nesta abordagem? Vamos ter que fazer uma viagem no tempo até a ilha grega de Creta e conhecer Teseu, que matou o Minotauro. Ninguém conseguia matar o Minotauro porque ele vivia em um labirinto, onde quem entrava não conseguia sair vivo. Teseu usou um novelo de lã: amarrou uma ponta na entrada do labirinto, foi até onde estava o Minotauro, matou-o e voltou Abril/2016 seguindo a trilha deixada pelo fio do novelo de lã. Viram como esta mitologia também tem tudo a ver com as nossas administrações públicas? Labirintos são as estruturas organizacionais elaboradas sem planejamento prévio; métodos, procedimentos e burocracia feitos sob medida para infernizar a vida dos cidadãos, exemplos que proliferam na administração do estado brasileiro. Casos de pessoas vivas tendo que provar que não morreram, como noticiado diariamente pela imprensa, são bons exemplos de labirintos da nossa administração pública. Eliel de Assis Queiroz Instituto Agulhas Negras

MOVEIS FEMA SUL MINEIRO LTDA, CNPJ 17.739.817/0002-60. CONCESSÃO DE CERTIDÃO AMBIENTAL. A MÓVEIS FEMA SUL MINEIRO LTDA torna público que recebeu da Agência do Meio Ambiente do Município de Resende - AMAR, através do processo n.º 19376/2016, a CERTIDÃO AMBIENTAL n.º 037/2016 referente a inexigibilidade de licença ambiental para a atividade de Com. Varejista de Móveis sem transporte, com endereço na Avenida Ten. Cel. Mendes, n.º 1698, Santa Isabel, no município de Resende-RJ.

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(um conto do livro “Mini-histórias Sobre Mulheres”) Ela acabara de completar 18 anos. Seu corpo é escultural e sua pele veludosa. Marcas? Somente do biquíni. Até mesmo seu nome indica o frescor ensolarado da juventude: Flórida. Estudar nunca fora sua pretensão. Agora que ela tinha se livrado do colégio, se dedicava integralmente aos seus poucos hábitos sagrados: a academia e seus canais de conteúdo na internet, suas maiores preocupações. Trabalhar? Quem sabe um dia alguma grande marca faça-lhe um convite! Assim ela viveria para receber, pelo correio, kits e mais kits de produtos para apresentá-los aos seus seguidores, que ávidos por novidades perseguem-na em seus canais. Ah, um sonho! – ela pensa constantemente. Flórida nunca acorda cedo. Quando sai de casa é somente para passear, visitar lojas no shopping e alimentar a esperança de encontrar um de seus fãs, para então dissimular a alegria e fingir que a situação é corriqueira – observara por meses o comportamento dos grandes artistas perante o público. Hoje, uma subcelebridade, jamais revelaria aos seus fãs como fora o início de sua insólita carreira! Uma de suas manias, que a cada dia se torna mais forte, é a de contar as curtidas e compartilhamentos das suas postagens nas redes sociais. Ela chega a ficar ansiosa, se ao acaso, em cinco minutos a nova postagem estiver ainda sem repercussão. E às vezes apela para sua arma secreta e perversa. Comentários, curtidas e compartilhamentos alimentam sua alma estimulando sua brandura. Antes de apelar par sua arma infalível ela segue um ritual: estapeia a tela do dispositivo, solta uns guinchos estranhos, vai até a cozinha e toma suco verde, faz duzentos movimentos abdominais e anda do quarto à cozinha várias vezes… Sua família já se acostumara. Então, finalmente ela se senta cabisbaixa e aplica sua fórmula de sucesso, perfil por perfil. Somente esse segredo – da arma infalível – ela guarda a sete chaves, ainda que a contragosto! Mas, na verdade já apresentava sinais de estafa de tanto mantê-lo a salvo. Terapia! – concluiu que essa era a sua necessidade. A maior parte do seu dia era assim, deitada na cama ou sentada no sofá, respondendo aos comentários ou conversando com seus admiradores. Por diversas vezes chegou a manter três dispositivos no seu entorno para esses fins. Sua compulsão por sucesso nas redes sociais começara assim: se ela não tivesse nenhuma repercussão de sua postagem, decidia por removê-la e em seguida postar outra coisa: partes do seu corpo malhado e roupas ou acessórios acompanhados de dicas de uso – essas eram certeiras. Uma com os homens e outra com as mulheres. Seu primeiro dia de terapia. Adentrou o cômodo, cumprimentou a psicóloga com um áspero “oi” e alojou-se no sofá entre as almofadas. Com olhar de desamparo encarou a psicóloga, que desviou de leve o olhar para descontrair, ofereceu água e resolveu iniciar. – Sobre o que gostaria de conversar, Flórida? – perguntou a profissional. – Sobre meus fãs. – respondeu ela. Antes que a psicóloga soubesse o que dizer ela tirou da bolsa uma pasta com um calhamaço de folhas em seu interior e arremessou sobre a mesinha de centro. A psicóloga sem saber o que acontecia, folheou diversos perfis de redes sociais. Cada arquivo continha: logins, senhas, e-mails, nomes e sobrenomes, fotos de família, profissões, postagens realizadas nas redes… Um dossiê completo para cada pessoa, num total de 300 perfis. – O que é isso? Quem são essas pessoas? – perguntou a psicóloga bastante confusa. – Minha arma infalível. Meus fãs! – respondeu Flórida, com lágrimas no rosto. A psicóloga a olhou com uma expressão de incredulidade e disse: – Querida, não sou muito dessa vibe de tecnologia. Você poderia me explicar? Flórida estampa de leve um sorriso sarcástico e faz-se o silêncio por uns instantes. Ela inspira profundamente, olha de um lado para o outro da sala, balbucia alguma coisa. Mentalmente ela estava elaborando uma forma menos patética de dizer aquilo, avaliando se era mesmo aquilo que queria. Como a psicóloga nada sabia de internet ela poderia continuar a guardar aquele segredo, quase caiu em tentação. Mas, o fardo já estava demasiadamente pesado para carregar. Alguém tinha que saber! Flórida decidiu. Encarou a psicóloga com um olhar frio e diz: – Eles são fakes! Eu os criei para impulsionar minhas publicações. A psicóloga faz cara de nada. Dimas Moraes, professor e escritor


Outubro de 2016 - O Ponte Velha -

Quanto pesa um ônibus de passageiros? Normalmente, eu gosto muito de aprender, conhecer coisas novas, mas talvez eu respondesse a esta pergunta com um “não me importa”, se não fosse o acontecimento único que vou narrar a você. Q u a n d o e u e s t u d ava n o S e minário, éramos 37 seminaristas distribuídos entre os períodos dos cursos de Filosofia e Teologia. Estudávamos muito, toda a manhã na faculdade, mais três horas de estudo individual obrigatório à tarde, mais o que cada um achava necessário. Para aliviar o estresse desse ritmo intenso de estudos, vez por outra, nossos reitores organizavam algum passeio. Certa vez, o passeio programado foi para um belo assim já lhe tinha ocorrido, e hotel-fazenda, que ficava na ele disse que não. Depois de zona rural duma cidade pró- breve silêncio, contemplando xima, a uns 50 quilômetros do aquela cena curiosa, fiz-lhe Seminário. Estávamos muito outra pergunta: - Qual o peso animados! Programamos um do ônibus? - 17 Toneladas, torneio de futebol para a ma- respondeu-me. Imediatamennhã do passeio, seguido de te, fiz um cálculo simples divichurrasco no almoço, a cargo dindo este peso pelo número do gaúcho do grupo, e para a de seminaristas. O resultado tarde planejamos usufruir das foi animador: menos de quipiscinas, lagos, rio e cavalga- nhentos quilos para cada um! Certifiquei-me com o modas que a fazenda oferecia. Como planejado, o ônibus torista das ferramentas dischegou no Seminário às 7 ho- poníveis. Resolvi propor a ras da manhã daquele sábado. todos os colegas um plano Às 8 horas começaríamos o para a retirada do nosso ôninosso torneio de futebol, não bus. Houve os que preferiram fosse o malogro que nos sur- pensar que era impossível e preendeu no caminho. É que seria melhor aguardar por um havia duas estradas para a fa- provável socorro. E houve zenda, mas por uma delas não também os que resolveram se era possível transitar ônibus unir para tentar colocar meu e caminhões longos. Quando plano em prática. Se falhasdescobrimos isso, já era tarde se, pelo menos teríamos o demais. Nosso ônibus tinha fi- consolo de ter tentado algo. O plano consistiu em atercado encalhado no vão de um declive bem acentuado. Os pa- rar a estrada por debaixo dos ra-choques dianteiro e traseiro pneus do ônibus, formando se apoiaram no chão, man- uma espécie de trilho, que tendo todas as rodas no ar. devia se elevar até descolar o Então, descemos todos do veículo do chão, garantindo a veículo para avaliar a situação. continuação da viagem. Parece Ao fundo, podia-se ouvir o simples, não é? Sim, é simples burburinho de reclamações, mesmo. Mas para executar afinal, sempre há mal-humo- este plano, precisei organizar rados de plantão em qualquer quatro grupos. Dois grupos grupo. Voltei-me ao moto- saíram em missão, um para rista e lhe perguntei se algo cada direção da estrada, a fim

Rei das Trutas (Direção Irineu N. Coelho)

de tentar obter mais ferramentas. Outros dois ficaram, para começar a recolher pedras, organizando-as sob as rodas do ônibus. Logo voltaram os colegas dos grupos com pás, enxadas, enxadões, cavadeiras, carrinhos de mão, baldes de pedreiro. Cavamos os barrancos da estrada para conseguir terra e cascalho para juntar às pedras maiores e levar adiante o nosso plano. Quando nosso aterro atingiu os pneus, calçamos o macaco disponível com tábuas e levantamos o ônibus, uma roda de cada vez, abrindo novo vão entre as rodas e o chão para preenchê-lo com mais aterro. Assim fizemos debaixo de todas as rodas, repetindo o procedimento até ver os para-choques se distanciarem o bastante do chão. Foi quando falei ao motorista: - Então, vamos tentar sair daqui? E ele respondeu: - Opa, só se for agora! Convoquei meus colegas a se posicionarem comigo atrás do ônibus, para que o empurrássemos assim que o motorista acelerasse. Isso feito, vimos o veículo roncar forte enquanto o empurrávamos com ânimo. As rodas giravam vigorosamente projetando cascalho para trás. E a vitória Desde 1985

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parece também que nenhuma divisão é capaz de preencher o coração do homem. Sem falar que a divisão representa quase sempre um prejuízo a qualquer grupo. Fiquei pensando como seria se todos tivessem participado do trabalho... E assim pensando me dei conta de que somente a educação é capaz de possibilitar ao homem a superação das suas tendências menos dignas, como o egoísmo, a desunião e qualquer negatividade. Afinal, educar é aperfeiçoar o homem, é saber garimpar as riquezas que estão no subsolo profundo do mistério de cada pessoa, é despertar e atuar o potencial latente sob a crosta das aparências, vencendo as barreiras do comodismo, chegou! O motorista condu- do medo e da mediocriziu o ônibus uns 30 metros dade. Educar é a melhor e para a frente, subindo o morro mais digna das atividades e parando em seguida. Depois, humanas, sem detrimento desceu exultante para come- das demais. Educar é ciência morarmos aquela façanha! e arte ao mesmo tempo. Eram 17 toneladas! ÉraQuatro horas se haviam passado desde a interrupção do mos 17 colegas. Então, você nosso passeio. E agora, livres e já sabe, foram 1000 quilos também suados, empoeirados para cada um, não é? Bem, e vibrantes de alegria nos abra- é verdade, é uma das narçávamos e congratulávamos rativas possíveis. Mas eu pelo bom sucesso daquela em- prefiro dizer que cada um preitada. Foi quando percebi pode se gabar de ter levanque começavam a se aproxi- tado os 17000 quilos. E a mar alguns do grupo dos que quem perguntar como pode nada fizeram. Entraram no ser isso, direi que não havia ônibus calados, não pareciam possibilidade de mover 17 conseguir se alegrar conosco. pacotes separados de 1000 E, como prolongávamos nos- quilos cada. O problema era sa comemoração, ainda ouvi- indivisível. Todos os 17000 mos alguns resmungarem que quilos só puderam ser modevíamos ir logo, que já tínha- vidos pelos 17 que tiveram a mos perdido muito tempo... coragem de se tornar um só. Não é à toa que os gregos Fiquei pensando como seria se todos tivessem participado inventaram uma palavra para do trabalho... Contabilizando, dizer que alguém é prisioneicreio que podemos dizer que ro de si mesmo: idiota! Então, seria necessário menos da ao se libertar desta prisão, metade do tempo, e que, no cada um pode descobrir a final, teríamos bem mais que força que tem quando sai de o dobro da alegria, além do si, quando vence o egoísmo lucro imenso da união e da e o orgulho, quando sabe faenergia positiva contagiando zer o “eu” somar-se a outros a todos. O grupo se dividiu. “eus” edificando um “NÓS”! Talvez seja da natureza dos UBUNTU! grupos se dividir. Aliás, parece que é da natureza humana se Prof. Raphael Lôbo, dividir. Mas, nesse campo, chefe escoteiro no 135 GEBP

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6- O Ponte Velha - Outubro de 2016

Manoel-de-Barro, um passarim do Pantanal Jefferson Divino*

Antes de escrever este artigo, estava revendo a última entrevista de Clarice Lispector (1920-1977), concedida em 1° de fevereiro de 1977, ao repórter Júlio Lerner, para o programa “Panorama” da TV Cultura, de São Paulo. Parte da entrevista que muito me admirou aconteceu quando Lerner perguntou a Clarice sobre o papel do escritor brasileiro hoje (1997). Ela, suavemente, respondeu: “De falar o menos possível”. Pouco antes de assisti-la, lia Escritos (1999) de São Francisco de Assis (1182-1226), profundo servo. Tratava frequentemente da humildade e da pobreza de espírito, heranças do Verbo Encarnado. Pobreza de espírito que tem parte com o silêncio. Sobre isso, discorre o teólogo e poeta do País de Gales, Rowan Willians: “não é possível falar de diálogo sem incluir a escuta recíproca, e não é possível escutar sem admitir alguma forma de pobreza interior, como a pobreza do silêncio, que nos serve para escutar as palavras do outro, e a pobreza de reconhecer que o outro pode nos dar algo de que temos necessidade”. É isso que reclamava a manifestação de Clarice. Isto esclarece sobre o que me põe a pena em mão. Explico: faz cem anos de nascimento do poeta da palavra, Manoel de Barros (1916), mas que, como disse a jornalista Tatiany Leite, tem “a arte de encontrar poesia no silêncio”. O poeta das inutilidades, Manoel Wenceslau Leite de Barros, era cuiabano do mês natalino, precisamente do Beco da Marinha. Em casa, chamado de Nequinho. Era casado com Stella, “guia de cego” (alcunha manoelina), e amigo do sr. Bernardo. Cresceu regado de muita fauna e flora. Não bastasse ser do mesmo mês de Nosso Senhor, era homem da terra, do pasto e dos currais. Daí as “desimportanças”. Sobre suas mãos derramam-se heranças de um pastor e tocador de harpa. Ouvi, pela primeira vez, o som de sua harpa, quando pastoreava na pessoa do provocador Antônio Abujamra, tocava “O Fotógrafo”, publicado em “Ensaios fotográficos” (2000), pela editora Record. Formou-se, em 1941, bacharel em Direito. Viajou muito também: Nova Iorque, Paris, Itália, Portugal. Pertenceu, cronologicamente, à Geração de 45, terceira fase do Modernismo Brasileiro. Além disso, ocupava a cadeira n° 1 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Pois bem, publicou seu primeiro livro, Poemas concebidos sem pecado, em 1937, que escreveu aos 19 anos. 20 exemplares apenas, isso sem contar o de Manoel. Mas só veio à tona em 1980, aos 64 anos, a partir da divulgação de Millôr Fernandes. Para o grande público, ficara no anonimato por muito tempo, embora já tivesse sido laureado por Mário de Andrade, Guimarães Rosa e Drummond, inclusive conta-se que, quando diziam para o itabirano que ele era o maior poeta vivo, Drummond recusava, pois dizia que Manoel de Barros ainda vivia. Recebeu diversos prêmios, incluindo duas vezes o Prêmio Jabuti, com O guardador de águas (1989), em 1990, e com O Fazedor de Amanhecer (2001), em 2002. Poeta de mais de 20 obras publicadas, inclusive no exterior, precisamente em Portugal, na França e na Espanha. Tal qual dizia: “era poeta em tempo integral”.

Andre Penner/Veja/Ed. Abril - Divulgação

Há vária maneiras sérias de não dizer nada mas só a poesia é verdadeira

O apanhador de desperdícios Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. Na edição passada, por um descuido do editor publicou-se este poema de Manoel de Barros como de autoria do prof. Jefferson Divino, autor do artigo.

Tornando às memórias, foi no internato (19281934) que conheceu as grandes obras, os clássicos da literatura, mas foi do contato com a obra do padre Antônio Vieira (1608-1697), de fino dom da palavra, que o poeta Manoel descobriu sua vocação, encantado pelos sermões do “mestre” de Pessoa, disse: “é pra isso que eu presto”. “Eu” – dizia ele poeticamente – “aprendera em Vieira que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir”. Encontra-se aí a chave para entender o que revelou Lispector a Lerner: ouvir, escutar. Daí também Antônio Houaiss (1915-1999), outro colaborador na divulgação do poeta, o ter comparado a São Francisco de Assis por conta da “humildade diante das coisas”. Pieper (1904-1997), filósofo alemão, nos diz que é no silêncio profundo, nesta escuta atenta, que somos investidos e autorizados à palavra. Talvez isso explique o ressoar das obras de Manoel, nelas é o silêncio quem assopra. Só assim para compor esta quase-oração: “Aprendeu com a natureza o perfume de Deus”. Espécie de constatação da sentença de Santo Tomás de Aquino: “A graça supõe a natureza”. Concluindo, Manoel é poeta, como já dito, inclusive por ele, das inutilidades, do ócio. Ele traduz um pouco de cada um de nós, visto que “há muitos Severinos” (João Cabral de Melo Neto). É deste amor ao ócio, chão da poesia, que ele talha a palavra, pois “só quem ama é capaz de ouvir e entender” (Olavo Bilac). Isto nos permite dizer claramente que Manoel, segundo afirma Pieper, “compreende o mundo como Criação, Criação que se originou na Palavra”, por isso a palavra é-lhe muito próxima na vida. Vide suas criações: aparelho de ser inútil, sapo com esquadria de alumínio, luar com freio automático, estrelas em alta rotação, laminação de sabiás etc. É a sua relação mais intensa com a palavra, a poesia. Que assim, ele define: “A poesia é a virtude do inútil”. Mas assegura que ela nasce do mistério. Aqui, é brilhante a convergência com Lauand (Logos ludens), Huizinga (Homo ludens), Corção, Barcellos e outros tantos, ainda mais quando versa: “a palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria”. Ou seja, o lúdico da Sabedoria Divina chega ao gorjeio do passarim pantaneiro. Manoel de Barros é o inútil, calado, do mato, enfim, guardada as proporções, é o “boi mudo” que, na e pela poesia, seu mugido mais estremece. No termo, como que tornando ao pensamento grego, das Musas, o poeta diz a que se propõe a poesia: “Para lembrar aos homens o valor das coisas desimportantes, das coisas gratuitas”. E da combinação Manoel-Musas, o cantor Márcio Camillo, também mato-grossense, propôs musicar a poesia manoelina, o que resultou no CD “Crianceiras” (2012), sendo escopo o público infantil. Deixou-nos numa quinta-feira modorrenta, 13 de novembro de 2014, às 08h05, aos 97 anos de idade, praticamente um mês antes de completar mais uma primavera, o poeta que, ao lado de Drummond, melhor cantou a infância: por falência de múltiplos órgãos. Senti-me diminuído a partir daquele dia. Hoje sou ainda menos. Mas quem nasce poeta da palavra, nela permanece guardado, porque a palavra, esta não morre e, é no silêncio que ocorre seu melhor soar. *O autor é aluno do Curso de Letras da Aedb


Outubro de 2016 - O Ponte Velha -

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Moral da História - O bardo e o ferreiro

onta-se que no ano do nosso Senhor de 1199, o Rei Ricardo “Coração de Leão” voltara à Inglaterra após dez longos anos de combate na Terra Santa. A Terceira Cruzada havia marcado não somente o corpo do rei ‘leão’, mas, sobretudo a sua alma, os horrores da guerra o haviam moldado a ferro e fogo; a fama de assassino de árabes manchara sua imagem na Palestina. Além disso, fora capturado por tropas austríacas a mando de Leopoldo V duque de Salzburg. O monarca inglês ficara numa masmorra fétida durante seis meses e de acordo com as cartas daquela época, o governo inglês teve que pagar 150 mil marcos como resgate, o que representava cerca de dois anos de dividendos da coroa inglesa. O roubo de uma botija de moedas de ouro afetara profundamente o estado emocional do ‘Leão’, dinheiro que o ajudaria na consolidação de seu governo na Bretanha. Diziam entre os soldados de sua comitiva real que o rei estava sem comer fazia dois dias, o ódio o alimentava e prometera cortar a cabeça do arqueiro Peter Basil, líder dos ladrões. Pelo menos, esse era o relato de Gilbert, um cozinheiro do rei que ganhava dinheiro e prazeres relatando as peripécias oriundas do círculo fechado dos nobres para a plebe. Com o mau humor do rei, muitos se reuniram com o objetivo de animar o coração de leão. Sir. Thomas e o padre Wallace lideravam o grupo de bajuladores do rei. Estavam procurando naquela manhã chuvosa e cinza alguém com dotes para tal façanha; de repente, acharam um malabarista no centro do acampamento. – Ei! Equilibrista... não queres ganhar dinheiro satisfazendo a corte e apresentando seu número para o rei mal humorado? – disse Sir Thomas, aproximando-se do artista. – Não sou equilibrista senhor, sou malabarista replicou o homem que estava em cima de um caixote, jogava cinco garrafinhas para cima e num movimento circular apreendia a atenção dos transeuntes. – Tenho dois filhos e uma esposa para sustentar, caso não consiga mudar o coração do leão... quem vai sustentar minha casa? Perderia minha cabeça. Na verdade estava difícil para SirThomas e o padre Wallace encontrarem alguém naquela tarde disposto a enfrentar o mau humor do rei. Os súditos costumam valorizar mais suas cabeças do que o bolso. Chegando a noite na campina de U’Velles, a tropa teve ordens de assentar acampamento. Foi numa roda de soldados, que SirThomas e o padre encontraram um bardo tocando alaúde entre muitos soldados, eles estavam comendo pão caruncho e tomando cerveja azedada, não havia iguarias para aqueles lamacentos militares que seguiam o rei Ricardo, sua devoção ao líder que conquistara Jerusalém era inexpugnável. As duas autoridades aproximaram-se do jovem músico de bela aparência e perguntaram: – Saudações jovem tocador, não queres tu usar esse dom magnífico para alegrar seu rei? – Depende de quanto vocês pretendem me pagar – o jovem músico, disse com entusiasmo, os olhos brilharam com a oportunidade de fazer fortuna. Não era soldado, não tinha a devoção de um soldado. Seu oportunismo era patente, sua intenção era ficar famoso e conquistar jovens camponesas e quiçá mulheres de alta estirpe com suas belas canções. – Achas que podes melhorar o ânimo do Rei

Makyl Xavier*

Ricardo? – perguntou o padre Wallace, arqueando as sobrancelhas, suas mãos estavam unidas como numa oração na linha da cintura. – Tenho certeza! – revidou o bardo, seu orgulho fazia-o gesticular, alisava seus longos e lisos cabelos amarelos. – Mesmo porque, se eu não conseguir quem poderia fazer tal façanha? O ferreiro ali do lado? – O ferreiro que estava numa tenda perto dali trabalhando numa forja era forte, seus braços eram maiores que de muitos lanceiros da comitiva, a cada golpe na lâmina de uma espada ainda rubra era possível ouvir o som de seu martelo na bigorna: tim-tum-tum-tim. Todos deram gargalhadas, soldados, mulheres, lanceiros, o cozinheiro e Sir Thomas com o padre Wallace. – Espero que saibas contar uma boa história! Pois posso imaginar o que poderia fazer nosso rei com aqueles que malogram em suas tentativas de alegrá-lo – ralhou SirThomas com o bardo. – Não apenas uma, sei cantar várias novelas de cavalaria, dos contos vikings, o romance de Tristão e Isolda às lendas do Rei Arthur – disse o bardo com a palma da mão direita no peito. Guardou o alaúde nas costas e partiu com a comitiva, além de uma considerável multidão que esperava o desfecho daquele cenário curioso. Inclusive o ferreiro seguiu a multidão com seu avental de couro, analisando o comentário das pessoas. A caminhada da turba passou adiante do refeitório, o bardo na esperança de tirar vantagem já imaginava adquirir um cavalo de guerra e um cargo na presença do rei, conforme fora prometido pelos representantes da coroa.Mas, ao passar pela cocheira, o bardo disse: – Amigos... estou passando mal; uma dor de cabeça está tirando minha memória. Creio não ser possível contar nem vinte canções para nossa majestade. – Ora essas! Pelo menos uma canção você ainda pode cantar bardo. Quem sabe não vai dar certo? – reclamou o padre Wallace demonstrando consternação diante daquela atitude. O bardo passava as costas da mão direita na testa, com a boca aberta simulava ânsia de vômito e pra quem olhava pra ele poderia jurar que escorria suor em seu rosto. Não tardou para chegarem próximo à tenda real quando o tocador de alaúde caiu ao chão num suposto espasmo. A multidão ficou apreensiva. Quem poderia solucionar aquele problema? – E agora Sir Thomas? Quem poderá se apresentar na presença do rei? – um pajem havia questionado em alta voz para conseguir par-

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ticipantes de sua indignação; logo depois, muitos estavam reclamando aquele desfecho. Até que de repente... o ferreiro se apresentou no centro da multidão e disse: – Eu posso ir no lugar do bardo! – afirmou com o punho fechado no peito coberto pelo avental de couro e um ar de satisfação no rosto ao perceber o espasmo da multidão. Todos ficaram atônitos, um grande silêncio se fez quando acompanhado por sir. Thomas o simples ferreiro fora conduzido à tenda de Ricardo Coração de Leão. Naquele momento, as pessoas esperavam do lado de fora ouvir as reclamações do rei e suas ordens para prender aquele mísero, porém, forte ferreiro. Ninguém depositava credibilidade nele. Se o bardo com seu talento não tinha coragem de chegar à presença real; o que poderia fazer o forjador? Assim pensava a maioria das pessoas. Passaram-se dez minutos e logo depois a cortina da tenda real se abriu. Após aquele momento de angustiosa expectativa, a cortina da tenda se abriu e todos puderam assistir à cena improvável do lendário rei Ricardo ao lado do ferreiro. A mão direita do rei acenava a todos e seu semblante era de alegria, sua coroa brilhante o deixava bem mais alto que o homem ao lado. Além disso, descansava o braço esquerdo nas costas largas do forjador. Na cintura do ferreiro, agora havia uma espada presa numa correia e uma fivela dourada. Ninguém havia entendido. Mesmo assim, houve uma modesta celebração e muitos curiosos estavam ansiosos em perguntar o motivo do inacreditável êxito daquele trabalhador, mas o padre Wallace era insuperável em suas especulações, logo se dirigiu ao ferreiro, louco de vontade e embebido pela inveja em saber o motivo do sucesso. Ao ser interpelado o ferreiro respondeu sem muito entusiasmo: – Então padre! Hum- hum – tossiu o ferreiro com o punho direito fechado em forma de copo tapando a boca, realçava seus avantajados músculos quando dobrava o braço. – Não sei narrar ilustres histórias padre, nem cantar belas canções, só tive a iniciativa de relatar a peça que o bardo estava pregando em todos no acampamento. Suas belas canções não lhe deram ousadia suficiente para entrar na tenda. – Sendo assim, quais foram as palavras do rei? Diga logo homem! – perguntava o padre impaciente e curioso. Neste momento, o rei Ricardo se aproximou dos dois e percebendo o motivo da conversa resolveu arrematar o assunto: – É sempre assim padre, longe do rei violento todos se inspiram com novas ideias e belas canções! O verdadeiro talento e a verdadeira coragem só se revelam na ocasião exata e precisa, ao se defrontarem com o risco e ameaça. *O autor é professor de História em Resende e Itatiaia


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Viva o Hino!!!

Academia Resendense de História recebe novo associado A Academia Resendense de História (Ardhis) teve sessão solene comemorativa dos 215 anos da Vila de Resende, no Espaço Z, dia 30 de setembro último. Na ocasião, foi diplomado sócio acadêmico o professor Ênio Sebastião Cardoso de Oliveira, que vem-se destacando graças aos estudos sobre os primeiros habitantes do lugar, os Puris. O professor Ênio tomou posse na cadeira n. 21, cujo patrono é o jornalista Alfredo Sodré, anteriormente ocupada por Sírio Silva. Sua recepção pelo professor Júlio Fidelis lembrou a lacuna que o conhecimento sobre os Puris representava em nossa historiografia.

Bico de pena de O Bandolim, 1899 O opúsculo Viva o Hino!!!, organizado por Claudionor Rosa, é mais um elo da campanha de resgate do Hino a Resende em que o diretor de nosso Arquivo Histórico se empenha há anos. Publicado por ocasião dos festejos de aniversário da cidade, o estudo traz apresentação da professora Sônia Pozzato e análise do estudioso de Pistarini - autor da letra do hino - Fulvio Stagi. Claudionor consegue no livreto de 42 páginas recriar o mundo em que o hino foi composto (1901), gravado e executado, fazendo comparecer personagens da cena artística resendense, como os autores Pistarini e o maestro Lucas Ferraz, a pianista Esther Carvalho da Siveira, a cantora Emília Santa Rosa, o produtor Sávio Silveira, o radialista Arísio Maciel, o maestro Aniceto com sua banda da Associação Operária. Lendo a obra, rica em referências cívicas e patrióticas, lamenta-se o contraste com os dias atuais, esquecidos de suas raízes, o que explica o menosprezo pelo hino. (MCB)

Na foto, os acadêmicos: Michel Hadad, Sônia Pozzato, Julio Fidelis, Ênio Cardoso, Claudionor Rosa, Marcos Cotrim, Karla Carvalho, José Monteiro

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Outubro de 2016 - O Ponte Velha -

Uma crônica gastronômica Não fica a cinco minutos da minha casa, assim como o Peixe-Boi, que está no coração de Campos Eliseos. É um restaurante que fica a 38 km daqui de casa, 25 km pela Dutra até a entrada de Engenheiro Passos, mais 13 km subindo a estrada do Picú, que vai até Caxambu. Leva-se mais ou menos 45 minutos até lá. Não é um restaurante para o cotidiano. Perder-se-ia muito tempo. Poderia-se dizer que é fora de mão. Mas aproveito para um dia que tenho bastante tempo livre e é mister aproveitá-lo, sem se importar com o tempo nem distância. O caminho até lá é maravilhoso. A primeira parte pelo Vale do Paraíba e a segunda, a mais bonita, tangenciando a Serra da Mantiqueira, majestosa, linda, toda de pedra maciça e encoberta por vegetação virgem. Num dia radioso como esse, da estação de outono, com uma luminosidade particular, se nota o claro e escuro das montanhas, dando a perfeita noção de profundidade. Uma verdadeira aquarela pintada por Deus. E aí se chega ao Filadelfo. Trata-se de um pequeno conjunto de construções, tendo ainda o Armazém do Zé Nunes, sogro do Filadelfo, onde se vendem produtos artesanais, próprios da Mantiqueira como formas de queijo mineiro e meia cura. Ao lado está o restaurante. Muito simples, mas muito limpo. A comida é boa e muito farta. Elaborada pela Cristina, mulher do Filadelfo e servida pela “Zuka”, sua filha ( o apelido fui eu que dei). O cardápio é bem simplificado. Pede-se apenas uma refeição, que pode vir guarnecida de carne de vaca, porco, frango ou costelinha. Os acompanhamentos são fixos e abundantes. Se compõem mais ou menos

de: bolinhos de mandioca ( deliciosos), salada mista (fresquissima, vindo da horta), arroz, feijão, farofa, legumes, macarronada e batata frita, tudo em pequenas tigelas de cerâmica, para porções individuais. Tudo delicioso, bem feito e bem servido pela Fernanda e pela “Zuka”. O restaurante é popular e destinado fundamentalmente aos camioneiros que fazem a rota Estado do Rio / Minas Gerais. Os preços são honestos e muito em conta. Para nós que não fazemos muito exercício e nem estamos em idade de crescimento, é impossível dar conta de comer tudo.

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Infelizmente não abre aos domingos. Mas, como adoramos ir lá, vamos sempre às segundas-feiras. Lá, come-se um um trivial simples, gostoso, bem feito e não precisamos pagar pelo luxo do endereço. Saindo de lá, completa-se o passeio até o Registro, limite do Rio de Janeiro com Minas, na loja da Dona Leda, comprando lingüiça, café Marcondes moído na hora, palmito, doces e o famoso queijo da Alagoa. E ainda somos presenteados com um cafezinho feito na hora , que propositadamente deixamos para tomar lá.

Ô maiada, Vancê votou no velho que prometia o novo ou no novo que prometia o velho?

Hummmmmm votei nulo porque nada disso me representa... Só dou meu voto de novo quando baixar o salário do vereador, tiver cláusula de barreira que impeça partidos de aluguel, fim do voto de legenda e voto distrital. Data vênia!

PS. O Filadelfo fica no município de Queluz, Est. de São Paulo e a estrada é muito boa e por incrível que pareça está tendo manutenção.

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10 - O Ponte Velha - Outubro de 2016

A mentira com responsabilidade

TSE estuda fim de sistema eleitoral, e políticos deverão fazer concurso público para assumir cargos. Cota para corruptos já estaria definida.

Krishna Simpson

uahuehuahahahuuheheuahahaueheheuahahahihihi

Um projeto de lei definitivamente inovador deve surgir no país em breve. Uma proposta brilhante, surgida após polêmicas declarações do ex-presidente Lula de que “a profissão mais honesta é a do político, porque por mais ladrão que ele seja tem que encarar o povo e pedir por votos a cada quatro anos” e que “concursados não precisam do mesmo esforço dos políticos”. E será apresentada pelo próprio TSE, segundo fontes seguras. A ideia consiste em acabar definitivamente com esse negócio de eleição, urnas eletrônicas, santinhos, papeizinhos, folderzinhos, propagandas eleitorais gratuitas, pagas e superfaturadas, etc., e facilitar o processo: para ser político haverá concurso público. Provas de raciocínio lógico, regras de licitação, artigos constitucionais, tudo isso deverá ser cobrado nas provas. Obviamente, estuda-se uma pequena, mísera e ínfima cota para corruptos de uns 80 a 90 por cento, afinal de contas, há o temor de que sem essas cotas ocorra um grande esvaziamento dos prédios públicos destinados a políticos, o que seria uma grande lástima para o país. Resta ainda, apenas, que o governo regulamente “político” como profissão.

Ministra Cármen Lúcia quer criar campo de concentração para autistas e outros não-cidadãos no país. E outra esplêndida ideia surgida dos altos do Monte Olimpo dos Deuses, quer dizer, dos altos do Planalto Central dos Super-homens Seres Celestiais Perfeitos, está dando o que falar. É que o Vampiro Brasileiro, quer dizer, a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, quer criar campos de concentração para autistas e outras pessoas consideradas não-cidadãs impuras intocáveis sub-humanas. A iniciativa terá o apoio da ONG Cleaned White People in South America, filiada à Ku Klux Klan, que trata de colocar pessoas inferiores em seus devidos lugares. Para a ministra, que achou muito bom os ministros do STF não serem autistas, segundo suas palavras em uma recente entrevista para a Globo News, e sim cidadãos perfeitos celestiais iluminados, essa subclasse humana desprezível deveria permanecer concentrada em um só local para não atrapalhar o bom andamento das atividades normais da sociedade brasileira. Mas, num ato de

calada, quer dizer, perdeu a oportunidade de dar uma bronzeada, esteja muito preocupada em que autistas assumam cargos de ministros no STF, afinal, autistas certamente não se envolveriam com corrupção, o que daria um fim nas boquinhas e na mamação nas tetas.

Com medo de inquisição moderna, terreiros cariocas estudam mudança de municípios, e pais-de-santo pedem asilo na Bahia.

extrema bondade e caridade ela acha que os campos sejam bem amplos, arborizados, ajardinados e, claro, murados e monitorados. Haveria cuidadores especializados em métodos de tortura, quer dizer, em métodos de acariciadura, e a lavagem, quer dizer, a merenda, seria preparada com muito amor e carinho pela terceirizada do governo Chumbinho’s Food. Especialistas conjecturam que Maga Patalógica, quer dizer, que Cármen Lúcia, que perdeu a oportunidade de ficar

O resultado das eleições para prefeito da cidade do Rio de Janeiro pode ter uma consequência no mínimo curiosa: a debandada geral de terreiros de umbanda e candomblé para outros municípios do estado, ou mesmo para outros estados. É que, se confirmada a entrada do sobrinho do chefe maior do Templo Cósmico do Império Divino (TECOID) no poder municipal, existe o receio de uma verdadeira perseguição à moda medieval que obrigaria babalorixás, xamãs, médiuns e outros a se filiar nesta denominação. O pai-de-santo José Maria das Sete Encruzilhadas Bem-defumadas das Matas da Cachoeira da Luz, um dos mais conhecidos e respeitados do município, já protocolou um pedido de asilo na Bahia, e até Caetano Veloso já teria oferecido sua casa como refúgio seguro. Especialistas preveem ainda que católicos, budistas, muçulmanos e hinduístas deverão tomar muito cuidado ao andar pelas ruas, pois o risco de linchamentos e sequestros por parte dos integrantes do TECOID seria muito grande. Um outro temor das pessoas é que o futuro prefeito instale nos ônibus circulares caixas de som que tocariam as músicas da igreja, principalmente as de sua autoria, de seus mais de 15 álbuns gospel gravados, o que geraria uma onda de suicídio coletivo na população carioca nunca antes imaginada. Consultado pelo Ponte, o especialista em religião Teo Dominus Emanuel Adonai disse que a partir do próximo ano a cidade do Rio de Janeiro poderá viver uma verdadeira crise cinematográfica, com todas as salas de cinema sendo transformadas em filiais da franchinsing do TECOID, o que aumentaria a venda de DVDs pirateados. De qualquer forma, as passagens de ida para Salvador já estão esgotadas a partir de janeiro, e as companhias aéreas estudam a possibilidade de colocar voos extras para dar conta da demanda.

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Debruçada na alegoria

Clarice alimentava-se da insensata ideia de que sofria, sem realmente sofrer. Algumas vezes sim, boas oportunidades se lhe foram roubadas. Sonhos criteriosos demais, não surtiram efeito. Mãos envelhecidas, entretanto, não dispensavam anéis. Se desmaiou, foi uma vez só e, diagnosticada, desmaiara de saúde boa. Clarice carregava um aroma de brechó e de alfazema. Debruçava-se na alegoria, depositando sua fé entre anjos e arcanjos – serafins e querubins. Se viajava, era com as asas desses seres alados. Clarice era uma mulher de Deus! Comovida, dizia-se pronta para um romance de costumes. Julgava-se de biografia inventada porque, se nascida de véspera, lhe batizariam com o nome de Pedrita, em homenagem ao santo daquela data – São Pedro! Um tanto fora de moda, Clarice morava no campo, entre bananeiras e coqueiros, flores nativas e um pé de cambará. E mais, um pé de malva-rosa. Às vezes, vestia-se com roupa de domingo, soltava os cabelos sempre presos em coque, olhava-se no espelho, adequando-se por minutos à definição de glamourosa e. com a expressão de um vago alarme. Assim, e por pouco tempo, começava também a ter delírios artísticos: era a terra partindo-se em gretas, eram palácios abarrotados de objetos nunca vistos... Violino soando em tom ingênuo... Clarice lidava mal com o acaso, mas a intuição acabava por supri-la desta falta. Gostava de afirmar que, sair do mato, onde o tempo é regido por normas caprichosas, pra morar na cidade – nem pensar! As más línguas diziam que é na cidade que tem de um tudo! As boas línguas perguntavam: um tudo do quê? Barulho, ela não desejava pra ninguém da sua laia – jeito ou feitio. Ah, um espelhinho de bolsa, uma boa vassoura, estava de bom tamanho pra Clarice. Música de fundo, já era querer demais. Havia um vizinho à sua casa, com um belo choro,

musical e triste, e que se lhe chegava, pé-ante-pé, e que era coisa preciosa por demais, pra gestação do seu poema. Pra que ela ficasse lavrando, pregando botão com agulha e linha, rezando e abrindo o peito para o amor febril. Clarice gostava de colher verdura na horta, com balaio de alça, de admirar a construção dos ninhos de guacho, afirmando que eles deveriam ser obrigatórios em todas as fotografias. De vez em quando, Clarice brincava de enfeitar-se com finuras de fidalga. Escolhia servir às visitas o seu silêncio, sabendo ser ele de boa serventia, pois que de ideal cristão. Inclinava-se às frases partidas, a escrever em mal traçadas linhas, a tentar entender o mistério e a boniteza das coisas indefinidas. De longe, dizia ela, meu vizinho lembrava um músico da corte, perturbado por urtigas. Clarice era aquela de vida recolhida, porque se escolheu monástica! Adorava auscultar o tempo, implorando para não ser feliz fora de hora, pra não esquecer da sua mãe dizendo que “quem sai aos seus não degenera”! Ao que ela fazia coro. Lá, um dia, bate à porta de Clarice um moço de botas e chapéu. Caboclo fervoroso – de raça apurada e de nome Genaro. Abrindo a porta, encontrou um jeito de convidá-lo a entrar: Olhe, está chovendo de novo... Aconchegue-se na simplicidade do meu lar! E aí foi que entardeceu como dádiva, como lamento derradeiro... e à moda das músicas de aldeia, com tônicas dominantes. Aconteceu com Clarice e Genaro o que estava fadado a acontecer e, com nó que ninguém desata... Casaram-se em capela curada, com padre, sacristão, água benta e tudo mais. E agora, são muitos e muitos anos depois... e, não se lhes foi consumido, o dom de amar e respeitar um ao outro. E não se lhes foi consumida a fé, entre anjos e arcanjos – serafins e querubins!

Outubro de 2016- O Ponte Velha -

E o palhaço, o que é? Somavilla

Piolin, Abelardo Pinto (1897-1973)

Diz-se, ao sabor dos interesses, que o palhaço é cidadão porque pode votar; acreditam os mais simplórios que é anjo disfarçado... Ora, não creiam nisto,nem naquilo: Os anjos estão relegados às orações e aos altares, o cidadão só se encarna no ano eleitoral. O palhaço é carnal vivente, existe de verdade, distinto dos demais humanos só pelo ofício de encenar pantomimas, farsas, coisas tais. Aqui o histrião sai dos circos e se multiplica: Encontre-o massivamente no cotidiano sem adereços, trôpego, quase exangue, mas invariavelmente zombando da realidade. Nos brasis, o palhaço universal sintetiza com propriedade o povo, a imensa maioria, essas multidões de seres submissos, mestres na arte de sobreviver, esses milhões que se equilibram em corroídos fios de arame que os conduzem das ruas aos redutos mambembes que são seus lares despojados. E pensar que riem e conseguem fazer rir por ainda crerem em mentiras recorrentes, em promessas dos que aboletados no poder, traem sufrágios que lhes foram confiados.

Martha Carvalho Rocha

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Seu carro agradece e seu paladar também


12 - O Ponte Velha - Outubro de 2016

Fala, Zé Leon: Confesso que perdi

Então, eu que tenho pouco, mas fiéis leitores, agora tenho poucos, mas fiéis eleitores. Confesso que perdi. Nunca mais me meto numa aventura dessas sem dinheiro. Em 2008 tive 406 votos e acreditei que falar em cultura, educação, ética na política, meio ambiente, ia tocar o coração das pessoas sensíveis de Resende. Na rua, só ouvia isso: a Câmara precisa de um vereador como você. Mas foram 117 votos apenas. Em Engenheiro Passos, em 2008, tive 150 votos, depois disso fiz um lindo festival de teatro, tive restaurante, me inseri na comunidade e pensei: dá para dobrar. Aí vem um furacão chamado Reginaldo e papa os votos do meu perfil de eleitor. Sem dinheiro, tinha dias que as pessoas marcavam reuniões para mim e eu não ia por falta de gasolina no carro. E teve essa minha campanha bipolar: eu era da coligação do Dr. Diogo e cunhado do Noel de Carvalho. Em resumo, eu não pude caminhar com nenhum dos dois. Colocava o nome do Diogo em todo meu material e as pessoas tinham dificuldade para entender isso. Mas nada justifica o fato do meu discurso não ter tocado o coração dos eleitores. Só no Facebook tenho mais de 3 mil pessoas de Resende, meus vídeos passavam das 600 visualizações. Teve o primeiro que atingiu 1.800.

Estátua de Carlos Scliar (1920-2001) com ateliê ao fundo - Cabo Frio, Rj

E com tudo isso, nem dez por cento consegui atingir. Mas agora é hora de olhar para frente. Peço ao Diogo, prefeito eleito, que olhe com carinho a Resende do presente, que é o jovem. Uma vez conversando com o Rubens César, do Viva Rio, eu perguntei o que se considera uma criança ou um jovem em situação de risco. Ele respondeu: é quando a criança está fora da escola. Diogo, não se conquista a criança ou o jovem com raiz quadrada nem tabela periódica. Conquista-se o jovem

Joel Pereira

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com cultura e esporte. Um jovem que segurar um instrumento musical nunca vai segurar uma arma. Vamos remontar as fanfarras nas escolas. Outra coisa, invista no conceito da Economia Criativa. Não é só o chão de fábrica que dá oportunidade de emprego. Nossa, é tanta coisa a se fazer nessa área... Temos um parque de exposição fechado praticamente 350 dias por ano, podendo virar estúdio de cinema, cooperativa de costureiras. O Centro Histórico, reaberto o Cinema

Vitória e inaugurada a sede nova da Câmara, pode-se transformar num polo gastronômico excelente. Como vereador deixei uma superintendência criada na estrutura da Secretaria de Trabalho e Renda, apenas 4 cargos. E o Rechuan não deu a menor importância para isso. Enfim, vida que segue. Mudando de assunto... É impossível agradecer aqui as tantas pessoas que me ajudaram. Claro que vou esquecer alguém, mas não posso deixar de falar no Yu, no Irineu do Rei das Trutas, no meu apoiador secreto porque estava vinculado a outro candidato, no Marcelo Traça, no Edgar Ziler, na Ana e no Claudio, no Jorge da Playboy, no professor Luciano, na Vera e na Deise Aleixo, na Helena Aniceto, na Raquel, na Carol, Rui e Irani Carvalho, Fátima Bernardi, as pessoas do meu grupo do whatsApp, no Ferrão e na Mônica, da Adiante, e no Luciano Pançardes. Quem eu esqueci, desculpe, mas você também tem a minha gratidão. PS: Quero dedicar essa coluna à memória do Ivan, funcionário da Câmara tragicamente morto no processo eleitoral. O Dr. Ulisses Guimarães dizia que o próximo parlamento é sempre pior que o anterior. Com a falta que o Ivan vai fazer, todos os próximos mandatos serão piores

Jorge e seus alunos A Associação Educacional Dom Bosco - AEDB presenteia Resende no seu aniversário com uma exposição de obras produzidas no curso de pintura ministrado pelo conceituado artista plástico resendense, Jorge Vieira. Desde o dia 21 de setembro, no Corredor Cultural Prof. Cecil Wall Barbosa de Carvalho, da AEDB, acontece a mostra que reúne cerca de 20 telas de cinco alunas, retratando, em sua maioria, paisagens de Resende e seu entorno. A exposição estará aberta à visitação até o dia 22 de outubro. As alunas expositoras são Fátima Paiva, Thereza Rodrigues, Lia, Schirley e V.Walois. Estão participando da exposição, como convidados, os pintores Denir, José Carlos Andrade, Leonel Martins e Milton da Cás, alguns dos quais também foram aprendizes de Jorge Vieira. A curadora da exposição é Vanda Perantoni Schmid, expert em artes plásticas. O curso de pintura de Jorge Vieira é realizado em Resende desde 2013 com o apoio da AEDB, que sede o espaço para as aulas. Virgínia Calaes


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