DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA DAS BRINCADEIRAS DE PALMAS

MODOS DE BRINCAR EM ÉPOCAS DE ISOLAMENTO: ENTRE UMA PALMA E OUTRA

Pedro Gabriel Viana do Amaral Professor de Educação Física e Pedagogo Especialista em Ensino de Educação Infantil

COMO SURGE O PROJETO? A partir do contexto atual de Pandemia e Isolamento, as oficinas de Práticas Corporais se viram em um impasse estrutural: como continuar a possibilitar práticas de movimento distante das crianças, sem saber quais materiais e espaços as mesmas tinham em casa e respeitando seus processos - tanto da idade quanto do novo momento?

Logo, surge a ideia de retorno às brincadeiras com palmas, enquanto uma possibilidade do brincar que não exige material, grandes espaços e, ao mesmo tempo, põe em desafio diversas questões corporais, como: parlendas diversas, ritmos diferentes, afeto, cognição e coordenação.

SOBRE QUAIS PERSPECTIVAS AS OFICINAS SÃO PENSADAS?

Pensando que a brincadeira se reproduz, se reinventa e faz parte de um amplo arcabouço sócio-histórico e cultural no território brasileiro, como ponto de partida, pensei em apresentar Parlendas e Ritmos de diferentes regiões do país, tendo como referência o site do Mapa do Brincar.

Ainda que as crianças também tenham mandado registros por meio de fotos e vídeos, essa revista digital terá como foco, mostrar alguns registros em forma de desenho que as crianças fizeram durante as práticas, a fim de evidenciar as possibilidades de construções culturais e simbólicas possíveis de serem feitas por meio das práticas corporais neste novo contexto.

EU DIGO A1 ORIGEM ALTO PARAÍSO ( GOIÁS)

EU DIGO A1 "Eu digo A, A

A badabadĂĄ Tinga, latinga Latinga o ba Eu digo E, E E bedebedĂŠ

Tinga, latinga Latinga o be Eu digo U, U I budubudu Tinga, latinga Latinga o bu"

EU DIGO A2 ORIGEM CAMPINA GRANDE (PARAÍBA)

EU DIGO A2

"Eu digo A, A Abadabadá Sicolomi, colomi Está Eu digo E, E Ebedébedé Sicolomi, colomi Esté Eu digo I, I Ibidíbidí Sicolomi, colomi Esti Eu digo O, O Obodóbodó Sicolomi, colomi Estó Eu digo U, U Ubudúbudú Sicolomi, colomi, Estú Eu digo ÃO, ÃO Ãobadãobadão Sicolomi, colomi Estão."

ARANHA CARANGUEJEIRA ORIGEM ALCÂNTARA (MARANHÃO)

ARANHA CARANGUEJEIRA Aranha caranguejeira Ela é bonita, mas é casqueira.

Levei ao médico pra consultar.

O médico disse: melhor

matar.

Não mate, não.

Senão vai ganhar um beliscão, Na unha do dedão.

Água gelada.

Suco de limão.

ARANHA CARANGUEJEIRA

ARANHA CARANGUEJEIRA

TRICILÔMELO ORIGEM BEZERROS (PERNABUNCO)

TRICILÔMELO

Tricilomêlo Auã to cêlo Tricilomêlo, siri Auã to cêlo, siri Trici, trici

Auê

TRICILÔMELO

TRICILÔMELO

TRICILÔMELO

TRICILÔMELO

TRICILÔMELO

TRICILÔMELO

TRICILÔMELO

POPEYE ORIGEM CAMPINA S (SÃO PAULO)

POPEYE Popeye foi à feira E não sabia o que comprar Comprou uma cadeira Para a Olívia se sentar A Olívia se sentou A cadeira esborrachou Coitadinha da Olívia Foi parar no corredor Corredor estava sujo de poeira A coitadinha da Olívia foi parar na geladeira Geladeira tava suja de mingau Coitadinha da Olívia foi parar no hospital Hospital estava sujo de remédio Coitadinha da Olívia foi parar no cemitério Tério, tério, tério Era meia-noite Noite, noite, noite Havia uma caveira Veira, veira, veira Era vagabunda Bunda, bunda, bunda Olha o respeito Peito, peito, peito Arroz, feijão, batata e macarrão Quem se mexer vai virar sabão

POPEYE

POPEYE

POPEYE

POPEYE

POPEYE

POPEYE

POPEYE

POPEYE

POPEYE

DESAFIO DA SEMANA Esse desafio se desenvolveu a fim de finalizar as práticas de Brincadeiras de Palmas. As crianças deveriam recriar as parlendas e colocá-las no ritmo da qual utilizou.

Algumas mandaram os registros em forma de escrita e vídeo, mostrando uma apropriação da brincadeira e uma segurança de criar dentro de sua possibilidade.

Nesta revista preferi não colocar as criações pois as crianças não se sentiram confortáveis de compartilhar entre si. Entretanto, em seus registros, evidenciou-se um envolvimento das crianças em que foi possível perceber que se divertiam muito nesse jogo com as palavras e com os ritmos.

“A linguagem é a capacidade humana de produzir sentidos, de articular significados sociais e pessoais, e compartilhá-los conforme as necessidades e experiências da vida em sociedade. E não se restringe ao verbal, à língua, pois inclui a produção de todo tipo de signo, verbal e não verbal, humano e não humano.”

(BETTI, 2018, p.39)

AVALIAÇÃO DO PROCESSO Mesmo essas brincadeiras terem uma premissa inicial de restabelecer os vínculos com a instituição e com o oficineiro de Práticas Corporais, foi possível perceber, por meio dos registros, que as crianças fruíram, experimentaram e experienciaram diversas formas de brincar de brincadeiras de palmas, a ponto de se sentirem seguras para recriarem a seu modo.

O corpo pôde ser desafiado por meio dos ritmos, das palmas, do encontro com o outro, já que as famílias faziam a ponte dessa tarefa, brincando ao lado da criança. Nem sempre era fácil e, às vezes, não foi tão legal fazer e cada um foi dando o retorno dos vídeos a seu modo e dentro das suas possibilidades.

O afeto foi uma das premissas principais presentes dentro dessas brincadeiras. Sendo que alguns registros foram entregues mais em forma de recadinhos do que ligados necessariamente ao conteúdo. O estar com o outro nos fez falta, mas tentamos.

E assim a brincadeira, quando lúdica, segue simbolizando e significando as tensões colocadas na realidade.

Continuo com muita saudade de todos, Pedro

REFERÊNCIAS BETTI, Mauro. Corporeidade, jogo, linguagem: a Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental / Mauro Betti, Pierre Normando Gomes-da-Silva; ilustrações Felipe Batista. -1. ed. - São Paulo: Cortez, 2018. - (Docência em formação / coordenação Selma Garrido Pimenta). https://mapadobrincar.folha.com.br/ > acessado em 12 de agosto de 2020