S A M B A D E V É I O DA ILHA DO MASSANGANO M U L H E R & P O D E R N A R O D A
AMANDA RODRIGUES DA SILVA TEIXEIRA
ANA MEIRE TIBURCIO PEDRO ALVES DE SOUZA NETO
EDIANNE DOS SANTOS NOBRE (ORIENT.)
S A M B A D E V É I O
DA ILHA DO MASSANGANO
M U L H E R & P O D E R N A R O D A
CURSO: HISTÓRIA
DISCIPLINA: TEORIA DA HISTÓRIA
Capa e composição imag.: A arte de Heitor dos Prazeres
Fotos: Hélia Scheppa, Ieda Rozenfeld e Ricardo Moura
AS MULHERES NO SAMBA DE VÉIO 05 DONA AMÉLIA E RAIMUNDA SOL POSTO 06 PATRIMÔNIO VIVO 07 IMPORTÂNCIA E VALORIZAÇÃO: O SAMBA DE VÉIO ENQUANTO UM TRABALHO 08 NÃO DEIXE O SAMBA MORRER:O SAMBA DE VÉIO MIRIM 10 DOCUMENTÁRIOS 11 TRECHOS DAS ENTREVISTAS 13 GALERIA 14 S U M Á R I O AS BAMBAS DO SAMBA 04 ÁLBUNS DO SAMBA DE VÉIO DA ILHA DO MASSANGANO 15 APRESENTAÇÃO 03 REFERÊNCIAS 17
APRESENTAÇÃO
A Ilha do Massangano é um dos tesouros escondidos no sertão nordestino. Banhado pelas águas do Rio São Franciscos em seus quatro cantos, esse santuário ecológico fica a cerca de 15 quilômetros do centro de Petrolina (PE), e “é um registro vivo das populações ribeirinhas que habitaram as margens do Rio São Francisco no final do século XX” Em seu vilarejo a ilha abriga 150 famílias, e seu acesso se dá através de barquinhas. Para os recém-chegados, esse lugar pode parecer um refúgio pitoresco carregado de misticidade. Mas muito mais que isso, a ilha é reconhecida por preservar tradições centenárias.
É na Ilha do Massangano que ocorre uma das festas mais populares da região: A Festa de Reis, comemorada no mês de Janeiro. É nesse evento que acontece a performance do famoso “Samba de ‘Véio’”, manifestação artística e cultural feita pelos ilhéus, e que teria se originado no século XIX, com os descendentes caboclos que se fixaram nessa região. Após a instituição do Samba de “Véio” enquanto grupo, ele se expandiu, passando a se apresentar em diversos eventos e em outras cidades. Nesse produto didático expomos como as mulheres da Ilha do Massangano foram ocupando espaços dentro do samba, que antes pertenciam exclusivamente a figura masculina, ao ponto de assumirem o protagonismo dessa manifestação. E os papéis desempenhados por elas nos dias atuais, sobretudo enquanto principais agentes da preservação do Samba de Véio.
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AS BAMBAS DO SAMBA
AS ORIGENS DO SAMBA DE "VÉIO"
O Samba de Véio é uma manifestação cultural de tradição oral que possui algumas semelhanças com o samba de roda da Bahia, e com a dança do coco de Pernambuco, mas com características bem específicas. O grupo, formado por homens e mulheres em sua maioria negros descendentes de gerações vindas de quilombos e aldeias das margens do rio são Francisco, nascidos, criados e residentes da Ilha do Massangano, zona rural do município de Petrolina, Pernambuco, teve origem há mais 100 anos.
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AS MULHERES NO SAMBA DE VÉIO
Quem olha as sambistas, puxadoras e vocalistas nas rodas de samba, sempre apresentando sua arte com muita habilidade, nem imagina que logo no início das rodas, os homens comandavam e quase não havia presença feminina Dona Fátima, que é atualmente a vocalista responsável pela primeira voz, conta que, na infância seu pai não deixava que ela e sua irmã frequentassem a roda Porém, com o passar do tempo a presença das mulheres foi invadindo o samba da Ilha do Massangano Inicialmente, de forma tímida, mas atualmente essa atuação é potente e importantíssima para a continuidade da tradição e a propagação dessa manifestação cultural, que é considerada Patrimônio vivo da cultura de Pernambuco Hoje em dia os principais nomes do samba são figuras femininas, em sua maioria agricultoras, autônomas e donas de casa, que conciliam suas funções com a participação enquanto integrantes do samba Essa última atribuição para elas é motivo de orgulho, exige muita luta e resiliência das mulheres que integram o movimento, visto que elas, sempre dispostas a levar o samba de véio para o maior número de pessoas e lugares possíveis, são o elo entre a ancestralidade da cultura local e a continuidade de um legado muito importante de pessoas ribeirinhas, pretas e racializadas, agricultores e barqueiros Essas que por muito tempo não foram estudadas ou ouvidas em ambientes acadêmicos, mas que hoje com o resgate da História local começam a ocupar seu lugar de destaque, principalmente quando pesamos a construção da identidade cultural Petrolinense e Pernambucana
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Considerada a matriarca do Samba de "Véio", Dona Amélia é uma verdadeira celebridade na Ilha do Massangano, lugar onde nasceu e cresceu Hoje com quase 90 anos, a história de Dona Amélia confunde-se com a história da ilha e do Samba de Véio: ela é filha do casal Manoel e Celestina, considerados os pioneiros do Samba de "Véio". Desde menina brincava de samba, em uma época em que crianças não podiam participar da manifestação Mas, na medida em que foi crescendo, Dona Amélia conquistou seu espaço na roda, com seu jeito ímpar de tocar tamborete. Por conta da idade avançada, ela não participa mais ativamente no samba como foi antigamente, mas seu nome continua emblemático, ao ponto de a gestão da cidade de Petrolina batizar um teatro com ele: o Teatro
Dona Amélia - Sesc Pernambuco
DONA AMÉLIA
E RAIMUNDA SOL POSTO
Raimunda Sol Posto não tinha necessariamente uma função dentro da manifestação Samba de Véio Digo, enquanto puxadora ou sambista Mas, teve um papel importante para ampliação e expansão dessa tradição Foi com seu cargo e título de vereadora da cidade de Petrolina entre 2004 e 2008, que Raimunda instituiu o Samba de "Véio" enquanto grupo artístico, com a criação de uma associação voltada para organização do samba Foi a partir disso que os integrantes do Samba de "Véio" começaram a viajar, apresentando-se nos mais diversos eventos de diferentes cidades Fazendo com que o grupo chegasse até a gravar um CD. Raimunda faleceu no ano de 2021, mas antes deixou um pedido e uma missão para suas descendentes: nãodeixeosambaacabar!
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PATRIMÔNIO
VIVO
Dona Fátima Claro diz que no início da instituição do Samba de Véio enquanto grupo, eles enfrentaram muitos perrengues, principalmente pela negligência na criação de políticas voltadas para patrocínio, apoio e incentivo dessa manifestação No ano de 2022 o Samba de Véio da Ilha do Massangano foi considerado patrimônio vivo da cultura de Pernambuco. Dona Chica Claro comenta que esse status fez com que a prefeitura e a secretaria de cultura do município voltassem seus olhos pela primeira para essa manifestação. Entretanto, ainda não é um apoio concreto. Em sua entrevista, seu Chagas diz que o órgão “que realmente tem um cuidado de divulgar, de garantir, de convidar, de mostrar é o SESC” O SESC tem exercido papel fundamental para o Samba de Véio, visto que o grupo raramente é convidado a participar das atividades culturais da cidade de Petrolina, como o carnaval. Sendo assim, o SESC tem suprido essa lacuna, convidando o grupo para os mais diversos eventos realizados pelo órgão
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IMPORTÂNCIA E VALORIZAÇÃO: O SAMBA DE VÉIO ENQUANTO UM TRABALHO
Conversando com as participantes fizemos o seguinte questionamento: você considera sua atuação no samba um trabalho? todas responderam positivamente, visto que carregam com muita responsabilidade suas atribuições e tentam sempre honrar os convites quando são chamados para eventos; porém uma reinvindicação comum entre as participantes é a respeito dos valores recebidos, veja bem, o samba hoje é considerado Patrimônio vivo da cultura Pernambucana, mesmo assim seus integrantes ainda não são valorizados financeiramente para que possam se dedicar com maior afinco as programações, Seu Chagas, produtor do Samba de Véio da Ilha do Massangano nos conta que em alguns casos, rejeita participações por ser um dia em que todos estão envolvidos com as atividades que contribuem para a renda, nesse sentido, cabe aqui uma reflexão sobre quanto a pasta responsável pelo fomento a cultura do Município de Petrolina, falha com um movimento que só tem a engrandecer e contribuir para a propagação de uma identidade cultural verdadeiramente Petrolinense.
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NÃO DEIXE O SAMBA MORRER: O SAMBA DE VÉIO MIRIM
O samba de véio mirim, surge inicialmente por uma certa resistência dos adultos em incorporar as crianças a roda, isso porque geralmente o álcool estava presente nas manifestações, percebendo isso dona Chica Claro que atualmente é vocalista responsável pela segunda voz nas apresentações, viu que essas crianças não poderiam ser excluídas da tradição, já que eles são o futuro do samba, sendo assim ela reuniu crianças de 03 a 16 anos e organizou o samba de véio mirim, dona Chica fazia o trabalho de ensaiar com as crianças leva-las para apresentações e compor os sambas que eles iam cantar, toda essa movimentação foi muito importante para inclusão dos pequenos e para que eles entendessem a importância daquilo que é a alma da comunidade do Massangano, o Samba de Véio; o tempo passou e os jovens cresceram, alguns foram para as rodas com os adultos outros trilharam caminhos diferentes, o que acarretou em uma pausa no samba de véio mirim, porém atualmente as crianças e jovens estão se organizando para reativar novamente esse movimento e recorreram a dona Chica Claro, que já se mostrou muito empolgada em ajudar e dar o suporte necessário para que o grupo se restabeleça e volte as apresentações
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D O C U M E N T Á
O SAMBA DE VÉIO DA ILHA DO MASSANGANO
produzido pela TV Caatinga
O samba é uma mistura de sons originados da África e que hoje faz parte da expressão cultural brasileira. No sertão pernambucano, o Samba de Véio manifesta a ancestralidade da tradição e reflete o cotidiano de uma comunidade que vive na Ilha do Massangano.
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R I O S
O SAMBA DE VÉIO E SEUS SABERES
- DA ORALIDADE A ERA DIGITAL
produzido pela Associação Cultural Josefa Isabel dos Santos
Vídeo documentário, com cenas da comemoração da festa de reis da ilha do massangano 2021, sobre a transmissão de saberes do grupo cultural Samba de Véio, produzido pela Associação Cultural Josefa Isabel dos Santos através do Prêmio de Cultura Lei Aldir Blanc - Petrolina/PE.
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ENTREVISTAS
"O samba de Véio é uma coisa, enquanto outra coisa é a associação, é o grupo que representa É uma tradição antiga Existem determinadas comprovações, que que é uma coisa que veio com o Rio. Veio com o pessoal que trabalhava nas barcas. Os moradores me dizem que era a comemoração de tudo: do casamento, do batizado, do aniversário. Tudo terminava no samba".
C H A G A S S A L E S
"Eu queria assim, que não era pra eu dizer: eu acho que sou uma artista Porque tudo aquilo que a gente faz, nós somos artistas Quando a gente é competente, quando a gente quer aquilo e a gente corre atrás, todos nós somos artistas. Então assim, artista é quando a gente acha que o nosso trabalho está perfeito Acha que aquela caminhada está perfeita Assim, ao menos no meu ver Então assim, artista eu me considero artista!"
F Á T I M A C L A R O
"Nós temos nossas músicas pra gravar. Algumas eu que compus. A gente canta sobre o samba, a ilha, Pernambuco, Petrolina, Juazeiro. Ainda sobre o rio, as culturas, as cidades, os barqueiros, os visitantes E as músicas já tá expandindo o mundo inteiro Uma que eu compus ela vai pra São Paulo, Rio de Janeiro" D O
"Morreu dona Raimunda, mas ficou outras pessoas Eu digo, assim: se ela morreu, a gente não pode deixar o samba acabar Ela sempre dizia: o que eu peço a vocês é união Eu quero que vocês sempre estejam unidas e que nunca percam essa coragem de vocês de lutar Nunca desistam do samba Não deixem o samba morrer!" C
TRECHOS DAS
I C A C L A R O
H
O L
13
N A B E R T
I N A
G A L E R I A
3 CHICA CLARO
2 FÁTIMA CLARO
14
1 CHAGAS SALES
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AQUINO, Antonise Coelho de. Ilha do Massangano: dimensões do modo de vida de um povo; a (re) construção do modo de vida e as representações sociais da Ilha do Massangano no Vale do São Francisco. Orientador: Maria de Nazareth Baudel Wanderley. 2004. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004 Disponível em: https://repositorio ufpe br/handle/123456789/9883 Acesso em: 27 jan. 2023;
MENEZES, Jota. Resistir para existir: O samba de véio da ilha do Massangano. Maringá: Editora Viseu, 2021;
OLIVEIRA, Márcia Maria Nóbrega de. O samba é fogo: Fluxos corporais e a noção de existência na Ilha do Massangano. Orientador: Ovídio de Abreu Filho. 2010. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010. Disponível em: https://app uff br/riuff/handle/1/20213 Acesso em: 29 jan 2023;
SÁ, Natalia Coimbra de; SOUZA, Regina Celeste de Almeida. Culturas Regionais No Rio São Francisco: Perspectivas De Análise Do Samba De Véio. Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. XII, ed. Especial, p. 40-46, 2010. Disponível em: https://revistas unifacs br/index php/rde/article/view/1243 Acesso em: 29 jan 2023;
SILVA, Marciano Carvalho da O samba de roda da Ilha do Massangano e os seus processos pedagógicos. Orientador: Maria Gorete Gonçalves Rocha Pereira e Josemar da Silva Martins. 2019. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) - Faculdade de Ciências Sociais, Universidade da Madeira, Funchal, 2019. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.13/2294. Acesso em: 29 jan. 2023;
VERAS, Luciana. Cultura Popular: Petrolina, Sertão do São Francisco. Pernambuco: Revista Continente, 2017. Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/201/culturapopular. Acesso em: 29 jan. 2023.
R E F E R Ê N C I A S