Ameaças à Diplomacia: O caso do Populismo

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Ameaças à Diplomacia: O caso do Populismo

Os Desafios Diplomáticos Contemporâneos
a22200955
Índice Resumo 3 Abstract 4 Introdução 5 Populismo 7 Ressurgimento do populismo 10 Como é que o populismo afeta a diplomacia? 14 Considerações finais ....................................................................................................... 26 Bibliografia ..................................................................................................................... 28

Resumo

Neste artigo, propomo-nos analisar os impactos que a ascensão do populismo tem para a diplomacia, embora os efeitos do populismo na política interna tenham sido amplamente estudados, as suas consequências para a diplomacia continuam pouco explorados.

A diplomacia é uma ferramenta crucial para a resolução pacífica de conflitos e para a promoção da cooperação internacional, mas enfrenta uma série de desafios no mundo atual, um deles é a ascensão do populismo em diversos países do mundo, como é o caso dos Estados Unidos da América, Brasil, India e de alguns países europeus, por exemplo, França; Portugal; Espanha; Itália, entre outros

Geralmente visto como um problema nacional, constamos que a adoção de práticas populistas podem ter um impacto significativo na diplomacia internacional, prejudicando a estabilidade política e a cooperação global, pela erosão da confiança entre países Tais consequências podem ter efeitos negativos na segurança e estabilidade global, tornando essencial que a diplomacia encontre respostas eficazes ao populismo, promovendo práticas mais inclusivas e cooperativas de forma a manter a paz.

Palavras-Chaves: Populismo; Diplomacia; Cooperação Internacional; Política Externa

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Abstract

In this article, we propose to analyse the impacts that the rise of populism has on diplomacy. Although the effects of populism on domestic politics have been widely studied, its impacts on diplomacy remain largely unexplored.

Diplomacy is a crucial tool for peaceful conflict resolution and the promotion of international cooperation, but it faces a series of challenges in today´s world. One of these challenges is the rise of populism in several countries around the world, such as the United States of America, Brazil, India and some European countries, including France, Portugal, Spain, and Italy, among others.

Generally seen as a national problem, we find that the adoption of populist practices can have a significant impact on international diplomacy, undermining political stability and global cooperation by eroding trust between countries. Such consequences can have negative effects on global security and stability, making it essential for diplomacy to find effective responses to populism, promoting more inclusive and cooperative practices to maintain peace.

Key Words: Populism; Diplomacy; International Cooperation; Foreign Policy

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Introdução

Considerando que a ascensão do populismo têm sido um assunto que tem suscitado bastante interesse, buscamos responder à questão de se essa ascensão terá alguma repercussão nas relações diplomáticas.

Num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, a diplomacia continua a ser uma ferramenta fundamental para a promoção da cooperação internacional e para a resolução de conflitos de forma pacífica. A diplomacia contemporânea é fruto de uma constante evolução histórica1 trazendo consigo novos problemas, como é o caso de uma crescente polarização política, a ascensão do populismo e do nacionalismo, a fragmentação do sistema internacional, a introdução de novas tecnologias, a mudança climática e até a utilização de diplomatas privados são exemplos de desafios que podem afetar a importância da diplomacia. Diante destes desafios, é importante que a diplomacia se adapte e desenvolva novas estratégias para continuar a desempenhar o seu papel vital na promoção da paz.

Ao referenciarmos as principais ameaças que afetam a diplomacia no mundo atual, percebemos que elas podem surgir de diversas fontes, tanto internas quantos externas, aos países. No entanto, uma das principais ameaças à diplomacia vem de problemas domésticos, é o caso da ascensão do populismo, uma tendência política que tem ganhado força em diversos países ao redor do mundo. Compreender os efeitos do populismo na diplomacia é crucial, uma vez que essa tendência política poderá vir a ter consequências significativas na forma que a diplomacia contemporânea funciona.

O populismo tem sido amplamente discutido como um fenômeno nacional, no entanto, as suas implicações transcendem as fronteiras de um país e podem trazer consigo implicações significativas na forma como esse país pratica a sua diplomacia e a sua política externa. Neste contexto, o nosso trabalho tem como objetivo explorar questões relevantes tais como: Quais são as consequências do populismo para a diplomacia? Como

1 Como Azmal Mahmud Khan e Saimun Parvez afirmam “O processo diplomático não é newtoniano, mas darwiniano, está em constante evolução em vez de ser estático” (Khan & Parvez, 2009)

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é que o populismo afeta a política externa de um país? A sua participação internacional depende da ideologia que esses líderes populistas seguem? Haverá características comuns na prática da política externas de governos populistas?

Considerando estas questões, verificamos que ao longo das últimas décadas, o populismo tem se manifestado em diferentes países, com líderes que adotam retóricas nacionalistas e anti-establishment, pretendendo deslegitimar as instituições internacionais e promovendo uma abordagem de confronto nas relações com outros países. Este fenômeno tem o potencial de minar a estabilidade política e a cooperação internacional, podendo levar a conflitos e tensões diplomáticas que terá repercussões na ordem global estabelecida comprometendo os esforços para a construção de uma paz duradoura.

Para ilustrar esses pontos, examinaremos exemplos de como essas ameaças afetaram a diplomacia em diferentes contextos, incluindo a crescente polarização política que tem sido observada na Europa e como o populismo poderá prejudicar as práticas diplomáticas nesses países. Argumentamos também a importância de compreender as causas do populismo e de se buscar soluções para mitigar os possíveis efeitos negativos na diplomacia.

Compreendemos que a ascensão do populismo, por exemplo, em países europeus, não irá necessariamente causar uma rutura completa do sistema diplomático desses países. Além disso, não é possível afirmar que haverá uma orientação uniforme em como os países liderados por líderes populistas2 irão conduzir a sua política externa, ou mesmo a forma que conduzem a diplomacia É importante considerar que a ideologia dos líderes populistas poderá desempenhar um papel ainda mais significativo na forma como esses praticarão a sua atividade diplomática. Consequentemente, é difícil prever um padrão uniforme do impacto do populismo na diplomacia dos países afetados por esse fenómeno.

2 Isto não exclui a possibilidade de que os partidos populistas também possam ter influência na formulação de políticas, mesmo pertencendo à oposição, por exemplo, a questão da imigração, ou a questão das competências da soberania, em estados-membros da União Europeia

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Este estudo pretende assim, contribuir para uma melhor compreensão da relação que o populismo tem para a diplomacia, e para uma reflexão de como esse poderá afetar as práticas diplomáticas dos países se não for mitigado.

Populismo

O conceito de populismo é um tópico de grande debate na ciência política, sendo importante encontrar um conceito que nos pareça mais adequado. Embora o populismo seja frequentemente associado a ideologias autoritárias, nacionalistas, e à extrema-direita, bem como conceitos como a xenofobia, não o podemos considerar como sinônimos dessas, pois também é frequentemente utilizado por partidos da esquerda, como ocorreu na América Latina3 Portanto, para entendermos o populismo, precisamos analisá-lo no seu contexto histórico e político, levando em consideração as diferentes abordagens teóricas que o tentam definir.

Ao longo das últimas décadas, várias escolas de pensamento foram surgindo para tentar dar uma definição ao populismo. Começando pela definição dada por Mudde e Kalwasser (2004)4 , estes entendem que o populismo é uma ideologia “thin-centred”, onde possui um núcleo central que é oposição entre o “povo” e as “elites”, que pode ser combinada com outras ideologias políticas de forma a ganhar maior apoio popular. Dependendo da “thick ideology” escolhida, as elites podem ser representadas pelo sistema político5 , como também pode ser um grupo doméstico de oligarcas, ou em casos europeus, um ataque às instituições europeias6, frequentemente utilizadas por partidos europeus da extrema-direita, como é o caso da Reagrupamento Nacional7, liderada por Marine Le Pen Dessa forma, a definição dada por Mudde e Kalwasser segure que o

3 O populismo teve impactos significativas em diversos países da América Latina, por exemplo, na Venezuela, onde Hugo Chávez adotou uma ideologia de esquerda.

4 (Mudde & Kaltwasser, 2017)

5 Pensamos aqui os ataques do antigo presidente norte-americano Donald Trump a Washington, ou os ataques do André Ventura (CHEGA) ao sistema político de Portugal

6 Viktor Orbán comparou as instituições europeias à Alemanha Nazi.

7 Antigamente denominado de Frente Nacional

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populismo é uma ideologia que considera a sociedade divida em duas entidades homogêneas e antagonistas: o “povo puro” e a “elite corrupta”.

Já para Laclau (2005)8, o populismo é uma lógica/discurso baseada na mobilização popular em torno de um desejo comum, e que utiliza uma retórica de antagonismo contra as elites dominantes, entende assim que o populismo não é uma ideologia fixa Ou seja, é uma forma de construção política que se baseia na criação de uma identidade coletiva em torno de um líder ou um movimento que se apresenta como representante do povo contras as elites dominantes. É assim uma estratégia de mobilização que pretender unir setores heterogêneos da sociedade em torno de uma demanda ou de um projeto político comum, não sendo uma ideologia fixa ou uma forma de organização política estática, mas uma lógica de construção discursiva que pode ser adotada por diferentes atores políticos e em diferentes contextos. Como na definição de Mudde e Kalwasser, populismo pode ser adotado por líderes de qualquer campo político, tanto da esquerda como da direita.

Para Paul Taggart9 , o populismo é uma ideologia que se caracteriza pela mobilização de uma base popular através de uma retórica que se apresenta como alternativa ao sistema político estabelecido, mas que pode ser ambígua em relação às suas propostas, e que frequentemente apresenta um viés anti-establishment. É uma ideologia que se baseia na oposição entre o “povo puro” e as elites corruptas, e que busca mobilizar as massas populares contras as elites políticas, económicas e culturais que são vistas como inimigas do povo. Sendo também uma ideologia ambivalente e heterogênea, que tanto pode ser adotada por partidos de esquerda como de direita, e que se baseia numa retórica polarizadora e anti institucional, que pretende mobilizar as emoções e os valores populares em torno de um projeto político.

Entre nós, adotamos a perspetiva que entende o populismo como uma estratégia política10 que busca conquistar o apoio popular através da adoção de uma retórica antielitista e da construção de uma polarização entre o “povo” e as “elites”. Considerando-

8 (Laclau, 2005)

9 Neste sentido seguimos a ideia defendida de (Taggart, 2000)

10 Tanto Kurt Weyland (Weyland, Clarifying a Contested Concept: Populism in the Study of Latin American Politics, 2001) como Robert Barr (Barr, 2009), consideram o populismo como uma estratégica de mobilização política.

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o também como uma ideologia “thin-centred”, com um núcleo definido: a defesa do povo e a crítica às elites, frequentemente combinada com uma “thick ideology”, ou seja, ideologias mais densas, como é o caso do socialismo, comunismo, neoliberalismo11 . Observamos que o populismo pode assumir várias formas e ser adotado por líderes de qualquer lado do espectro político, como socialistas ou liberais; assim como por globalistas e nacionalistas Por esta razão, não pode ser assim considerado uma ideologia isolada, mas sim uma estratégia política, ou uma “thin-centred ideology”, que os líderes juntam à sua ideologia para tentar conquistar o apoio popular.

Embora o populismo não tenha uma definição única, é possível identificar algumas características que são frequentemente associadas ao populismo, em qualquer das visões defendidas Por exemplo, os líderes populistas costumam adotar uma visão dualista da sociedade, dividindo-a em duas classes opostas, o “povo”, geralmente visto como oprimido e explorado pela “elite” A elite pode representar diferentes grupos, tanto internos como externos, por exemplo, podem ser grupos políticos, económicos, organizações internacionais, a media, ou mesmo grupos académicos. Os líderes normalmente apresentam-se como representantes autênticos e legítimos dos interesses do povo, em oposição às elites corruptas e deslocadas da realidade dos cidadãos comuns, frequentemente rejeitando as instituições políticas tradicionais e a media, pois na visão deles, são consideradas como elites. Apelam também às emoções e sentimentos dos cidadãos, procurando transmitir as suas mensagens de forma simples e clara, com a advento das redes sociais, os líderes populistas conseguem comunicar com os seus seguidores de forma mais próxima e direta, o que lhes permite uma maior proximidade do que geralmente outros líderes políticos conseguem alcançar12 Utilizam também uma retórica de anti estabelecimento, independentemente de fazerem parte ou não, sendo esse visto como um alvo favorito para os líderes populistas, em que o consideram como corruptos, ineficazes para cumprir as necessidades da população geral.

11 Assemelha-se à ideologia defendida por Cas Mudde e Cristóbal Rovira-Kaltwasser (Mudde & Kaltwasser, 2017)

12 Podemos observar através da maneira como esses atores políticos utilizam as redes sociais como uma plataforma para se comunicarem com o público e espalhar as suas ideias, utilizando muitas vezes slogans estratégicos para gerar impacto emocional e simplificar a complexidade dos problemas políticos em questão.

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Considerando o populismo como uma “thin ideology”, o papel que os líderes populistas desempenharão no cenário internacional irá fortemente variar consoante a “thick ideology” que eles adotem. No entanto, independentemente da sua orientação ideológica, as características frequentemente associadas ao populismo, como a polarização entre o “povo” e a “elite”, que Mudde se refere13 , farão parte da sua atuação no âmbito da política interna como na política externa.

Após a exposição das definições e conceitos fundamentos do populismo, na primeira parte do trabalho, dedicaremos a segunda parte ao estudo do fenómeno do ressurgimento do populismo, com o objetivo de compreender as suas causas e efeitos desse movimento. Numa terceira parte do trabalho, analisaremos a influência do populismo na diplomacia, com um foco específico em alguns países que foram afetados por esse ressurgimento, a fim de examinar as suas práticas diplomáticas e verificar se o populismo teve consequências na diplomacia desses países.

Ressurgimento do populismo

Antes de abordarmos os efeitos que o populismo tem para a política externa e para a diplomacia, gostávamos de referenciar que esse movimento está a apresentar indícios de um ressurgimento em vários pontos do planeta. E falamos em ressurgimento e não num aparecimento pois esse nunca se viu completamente desaparecido ao longo da histórica contemporânea, apesar de em países do hemisfério norte ter estado adormecido por várias décadas, em países do hemisfério sul, como o Venezuela, a Argentina, são conhecidos por terem experimentado ondas de populismo ao longo da sua história. Sendo importante destacar que a ascensão do populismo não é um problema exclusivo de países europeus, ou países do hemisfério norte, mas sim uma tendência que se espalha por todo o mundo. Optamos, assim, por analisar os seus impactos na diplomacia por esse mesmo fator, é que se está a vivenciar esse ressurgimento, em vários países, principalmente em países europeus, que potencialmente tinham menos palco político pelas condições

13 (Mudde & Kaltwasser, 2017)

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económicas e democráticas desses países. Procuramos estudar o porquê desse ressurgimento, que fator ou fatores se apresentam como fonte dessa ascensão populista.

O ressurgimento do populismo pode ter várias causas, entre elas a globalização. A globalização é um tema frequentemente discutido por líderes populistas e pode ser considerado um dos fatores subjacentes a esse fenômeno. Embora a globalização tenha efeitos positivos, é também associada a alguns negativos, visto que a globalização veio a criar um ambiente de competição incerto, especialmente em setores como a indústria manufatureira, que vêm-se agora a competir com locais onde a mão de obra é mais barata, introduzindo no mercado produtos mais baratos, o que pode levar a uma sensação de insegurança econômica entre os trabalhadores, que se sentem ameaçados por trabalhadores estrangeiros ou por empresas que procuram transferir o local da produção para outros países.

Embora a globalização tenha trazido benefícios económicos para muitas pessoas em todo o mundo, é também frequentemente associada a um aumento das desigualdades económicas em muitas partes do globo, criando um ambiente de ressentimento entre a população mais pobre, que se sentem excluídas desse processo económico. O populismo, também nesse contexto, pode oferecer uma resposta emocional para aqueles que se vêm ameaças ou ressentidos pelo processo de globalização, sendo frequente ver esses líderes a prometerem proteger os empregos locais e as indústrias nacionais.

É inegável que as situações económicas têm um grande impacto na sua ascensão, por exemplo, a crise financeira de 2008, ou mesmo a crise financeira da zona euro, de 2010, tiverem um impacto significativo na popularidade de movimentos populistas. Essas crises expuseram as falhas do sistema financeiro global, gerando uma perda de confiança nas elites económicas e políticas que deveriam ter supervisionado e regulado melhor o sistema financeiro. Esse sentimento de descontentamento perante as elites económicas e políticas cai no núcleo central do populismo: povo vs elite, tendo como resultado, muitas pessoas começaram a ver essa elite como responsável pela crise e se viraram contra ela, abrindo caminho para os líderes populistas que prometiam lutar contra ela a favor do povo. Além disso, essas crises também resultaram num aumento do desemprego e da precariedade, afetando especialmente a população mais vulnerável, gerando um sentimento de insegurança e instabilidade, que foi explorado pelos líderes populistas.

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O ressurgimento do populismo não pode ser atribuído apenas ao aspeto económico, especialmente no continente europeu. Apenas olhando para a situação económica como causa desse ressurgimento, seria um erro, uma vez que analisando os casos da Alemanha e dos Estados Unidos, países em que o populismo está a ganhar força, mostra que a situação económica não é necessariamente uma situação desestabilizadora, não podemos afirmar que esse seja a única causa do ressurgimento do populismo nesses países14 Uma outra possível causa, desse ressurgimento, no continente europeu, poderá estar relacionada com a crise migratória.

A Europa tem enfrentado uma crise migratória, com milhares de pessoas a chegar às suas fronteiras em busca de segurança e refúgio. Esse influxo de imigrantes tem gerado tensões entre os países europeus e a sua população, que muitas vezes se sente ameaçada pela presença de pessoas de diferentes culturas e regiões, trazendo consigo o receio de uma crise de identidade. Os líderes populistas têm explorado essa ansiedade em torno da imigração para promover as suas agendas políticas, muitas vezes adotando uma retórica anti-imigração e xenófoba15, pois para esses líderes, essa migração poderá resultar no desaparecimento dos valores e tradições locais, juntamente com o aumento dos ataques terroristas

A perceção generalizada de que os políticos e partidos tradicionais não estão a representar adequadamente os interesses das “pessoas comuns” tem levado também a que muitos eleitores procurem alternativas, incluindo aquelas fornecidas por partidos populistas, que se apresentam frequentemente como oposição à corrupção e ao estabelecimento político, que o considera como uma elite e que não representa adequadamente o bem da população geral. Esta crise de representação política, que se intensifica em muitos países, pode ser exacerbada pela crescente polarização política16 e pela falta de consenso em torno de questões-chave, como a imigração, as alterações climáticas, medidas económicas, entre outros, tornando-se muitas vezes pontos de discórdia, sem um compromisso à vista. À medida que as diferenças ideológicas se

14 (Lemke, 2020)

15 Essa retórica foi utilizada por vários partidos europeus, por exemplo, Vox (Espanha); Lega Nord (Itália); Aurora Dourada (Grécia) Chega (Portugal), ou ainda por Marine Le Pen, em que podemos ver afirmações como: “A globalização, de um lado, e a falta de reação, por outro, levam-nos a ter uma imigração descontrolada e, daí, ao islamismo em casa”

16 Por exemplo, em países como os Estados Unidos; Brasil; Portugal; Espanha; Itália

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intensificam, a típica divisão entre a esquerda contra a direita torna-se cada vez mais evidente, e a falta de consenso, poderá ter como consequência a diminuição da confiança do público nas instituições políticas, aumentando ainda mais a sensação de alienação e descontentamento com essas instituições. Essa crescente sensação de descontentamento pode, por sua vez, criar uma oportunidade para os líderes populistas emergirem como alternativas ao status quo, prometendo uma nova forma de fazer política e apresentandose como representantes das “pessoas comuns”.

Ao longo deste capítulo, discutimos que o ressurgimento do populismo não pode ser atribuído a apenas a um único fator, mas sim a uma combinação de várias causas, sendo importante destacar que esses fatores não atuam isoladamente, mas muitas vezes se reforçam e se amplificam mutuamente. Por exemplo, em Portugal, podemos observar que o aumento dos movimentos populistas pode ser explicado por uma combinação de diferentes fatores que criaram um ambiente de insatisfação e descontentamento em relação às elites políticas e económicas do país, o que foi explorado por esses líderes populistas para ganhar poder

É fundamental compreender que o ressurgimento do populismo é um fenômeno complexo e multifacetado, que requer uma análise cuidadosa e detalhada dos vários fatores que o impulsionam. A interação de diferentes fatores económicos, sociais e políticos pode criar um ambiente favorável para o surgimento e a ascensão do populismo em diferentes contextos nacionais e internacionais, que poderá ter várias consequências, tanto a nível interno como a nível externo. Além das consequências políticas e socais, o ressurgimento do populismo também pode ter impactos na diplomacia e nas relações internacionais, influenciando a forma como as nações interagem e colaboram entre si. Portanto, é crucial analisar cuidadosamente as diferentes facetas desse fenómeno para entender as suas implicações e desafios, no ramo da diplomacia, o que será o nosso objetivo em seguida.

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Como é que o populismo afeta a diplomacia?

Embora o populismo tenha se tornado um fenômeno cada vez mais evidente na política interna, a sua influência na diplomacia ainda não foi amplamente discutida no estudo das relações internacionais. Este trabalho, e em especial este capítulo, tem como objetivo preencher essa lacuna, explorando as implicações do populismo na diplomacia, as suas manifestações e impactos, e como é que esses podem afetar a cooperação e o diálogo entre as nações.

A diplomacia, que é uma prática de relações internacionais baseada na negociação, diálogo e compromisso, tem sido cada vez mais contestada pelos líderes populistas e nacionalistas, tanto na Europa e noutros continentes. Esses movimentos têm adotado uma postura que coloca o interesse nacional em primeiro lugar e enfatiza a soberania do país. Isso tem resultado numa crise de coesão e uma diminuição das respostas a crises internacionais, bem como na diminuição de medidas preventivas para desafios globais, como as alterações climáticas. Além disso, o multilateralismo, a diplomacia e outras ferramentas de “soft power” têm sido rejeitadas por esses líderes, que veem a cooperação global como uma ameaça à soberania nacional e à vontade popular. Isso tem levado à desvalorização da cooperação global e à falta da resolução coletiva de problemas e, como resultado disso, a governança global está em risco e a estabilidade internacional vê se cada mais precária17

As ideias populistas podem ter várias repercussões na diplomacia de um país e na sua política externa. Os projetos populistas geralmente andam acompanhados de ideias nacionalistas, resultando numa oposição às instituições internacionais em prol da defesa da soberania do seu país. Essa postura pode desafiar a ordem internacional e as instituições que a representam, como é o caso da União Europeia18. Além disso, o anti pluralismo e a personalização do poder que frequentemente acompanham o populismo tendem a tornar esses líderes suspeitos da cooperação institucionalizada em matéria da política externa. Como resultado, os líderes populistas podem adotar uma abordagem

17 (Lemke, 2020)

18 (Cadier & Lequesne, 2020)

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isolacionista em relação à diplomacia e às relações internacionais, priorizando a defesa dos seus próprios interesses em detrimento da cooperação global e da resolução coletiva de problemas.

Assim, quando atores populistas saem da oposição para formar governo, eles têm agora possibilidade de moldar não apenas a política interna, mas também a maneira como o seu país se relaciona com o resto do mundo19. Isso pode ter graves repercussões na estabilidade regional e global, principalmente em estados-membros da União Europeia que poderão ver essa estabilidade desestabilizada por mudanças repentinas na política externa de um país que tenha um governo populista. Essas mudanças podem desencadear tensões políticas, econômicas e sociais, que por sua vez podem enfraquecer a coesão e a integração europeia.

Para entendermos como é que o populismo poderá afetar a diplomacia, é importante analisar não apenas as técnicas populistas, mas também a ideologia adotada pelos líderes populistas. A interação desses fatores é que, na nossa opinião, irá determinar o papel que esses líderes desempenharão no palco internacional, incluindo a sua abordagem à diplomacia e às relações internacionais, por exemplo, como já referimos, os líderes populistas com inclinações nacionalistas tendem a defender uma abordagem mais unilateral na política externa, procurando proteger a soberania do seu país, desafiando as instituições e normas internacionais.

Apesar de haver uma quantidade limitada de literatura que analisa os impactos do populismo na política externa, ou mesmo na diplomacia, gostaríamos de destacar a ideia de Verbeek e Zaslove20 , em que sustentam que os partidos populistas não adotam necessariamente posições idênticas na política externa, já que as suas preferências são determinadas pela “thick ideology”21 Isto significa que governos populistas de direita e esquerda podem ter posições completamente diferentes em questões como a imigração, globalização, e no caso de países membros da união europeia, os partidos podem adotar

19 Independente de fazerem parte da oposição, podemos observar movimentos populistas a influenciar tanto a política interna como externa de um país, por exemplo, Le Pen, mesmo em oposição, tem influenciado a posição da França perante o acolhimento de refugiados.

20 (Verbeek & Zaslive, Populism and foreign policy, 2017)

21 Apoiando assim a ideia de Mihai Varga e Aron Buzogány (Varga & Buzogány, 2020) que argumentam, que conservadorismo definirá mais a política externa de um país do que propriamente o populismo

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visões totalmente diferentes se o seu país deverá continuar ou não na União Europeia. Ou seja, poderá haver líderes populistas que preferem acordos bilaterais, enquanto outros adotem uma postura mais multilateral22, como também poderá haver aqueles que preferem uma postura mais isolacionista23 Assim sendo, é compreensível que na literatura existente, os autores optem por análises mais específicas, em que analisam casos concretos de como o populismo afeta a política externa ou diplomacia naquele país24 , já que é difícil prever um padrão uniforme ao comportamento dos líderes populistas em relação à política externa.

Embora não seja possível definir o populismo como uma prática especifica, autónoma e uniforme de política externa, também não o podemos ignorar o seu impacto na diplomacia e na política externa de um país. Porém, não será o único fator determinante na política externa e da diplomacia, efetuada por um determinado país, sendo importante destacar que outros fatores, como as “condições estruturais externas e pressões geopolíticas, arquiteturas institucionais e constitucionais domésticas bem como as ideologias dos partidos populistas” (Destradi, Cadier, & Plagemann, 2021), que também poderão vir influenciar a política externa e a diplomacia. Para compreendermos o papel dos partidos populistas na política externa, é necessário analisar também a política nacional que esses governos adotam25

Nesse sentido, este trabalho não tem como objetivo apresentar o populismo como o único fator determinante da política externa e da diplomacia de um determinado país, mas sim explorar as características comuns a todos os governos populistas e como essas podem afetar a diplomacia desse país. Sendo importante ter em mente que o populismo não é o único fator que influencia a diplomacia de um país, mas certamente é um elemento importante a ser considerado na análise das políticas externas e das relações internacionais. Ao compreendermos melhor as características do populismo e como ele

22 Por exemplo, Viktor Orbán, na Hungria adotou uma postura mais bilateral com a Rússia e a China, enquanto criticava posições mais multilaterais, como a União Europeia e a NATO.

23 Rodrigo Duterte, ex-presidente das Filipinas adotou uma abordagem mais isolacionista na política externa. Outro exemplo, é o ex-presidente americano, Donald Trump, e a sua política “América Primeiro”

24 Por exemplo, Feliciano de Sá Guimarães e Irma Dutra de Oliveira e Silva (Guimarães & Silva, 2021) analisaram como é que o populismo afetou a política externa do Brasil, ou o análise realizada por Camila Vidal (Vidal, 2013), sobre o projeto da política externa defendido pela Frente Nacional para a França, entre outros trabalhos que preferiram analisar os impactos do populismo na política externa de um determinado país.

25 (Wehner & Thies, 2020)

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afeta a diplomacia, podemos encontrar formas mais eficazes de lidar com os desafios que ele apresenta e promover relações internacionais mais estáveis e pacíficas.

A retórica populista pode levar a políticas externas mais agressivas ou confrontadoras26 , sugerindo que os governos populistas tendem a adotar políticas externas mais conflituosas ou menos passiveis de compromissos do que governos não populistas27 . Porém, as políticas externas de um governo, não são apenas determinadas pela sua natureza populista, mas também pela ideologia política e, vemos isso, por exemplo, na política militar, em que por terem um governo populista não será esse o único fator determinante para que esse país seja mais conflituoso ou não, depende também da própria ideologia defendida por esse líder, pois vemos partidos da direita, que normalmente apoiam maiores gastos a nível da defesa28, enquanto a tendência para partidos da esquerda é de serem mais pacifistas. Mesmo entre os governos populistas, alguns podem favorecer políticas mais defensivas, enquanto outros podem projetar apoio a medidas externas de aplicação da força, como intervenções militares para combater o terrorismo.

Outra área em que o populismo pode afetar a diplomacia ocorre nas relações bilaterais e multilaterais, especialmente com instituições internacionais como a U.E, frequentemente associadas por esses líderes como parte da “elite” O populismo é muitas vezes acompanhado por visões nacionalistas e isolacionistas, como se vê na Europa, onde há uma tendência generalizada de euroceticismo entre partidos populistas tanto de esquerda como de direita. Esses partidos tentam deslegitimar as instituições internacionais e, quando se encontram no poder, adotam diálogos no sentido de retirar o seu país dessas organizações multilaterais, sendo o Brexit o caso mais notório, acompanhado da retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, do Conselho dos Direitos Humanos e da Organização Mundial da Saúde29 A retórica populista contra as instituições internacionais parece ser uma continuação da sua retórica contra as instituições nacionais, já que os partidos populistas muitas vezes criticam e desacreditam

26 (Destradi, Cadier, & Plagemann, 2021)

27 (Plagemann & Destradi, 2019)

28 Também aqui Le Pen propunha um reforço do poder militar da França, propondo inclusive, introduzir uma referência constitucional da percentagem do PIB que deveria ser destinado para o orçamento militar.

29 Durante a presidência de Donald Trump

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essas instituições, classificando-as como elites distantes e desconectadas dos interesses da população.

Porém não há consenso pleno em estudos anteriores que analisaram os efeitos do populismo, podendo encontrar exemplos de partidos populistas europeus que vão contra essa norma e são apologistas do processo de integração europeu, como afirmam Verbeek e Zaslove30. E mesmo assim, é importante notar que nem todos os partidos populistas que eram contra esse processo, como é o caso da Hungria31 e da Polónia32, chegaram perto de se retirar da União Europeia, mesmo sendo contra certas políticas oriundas de Bruxelas. Por outro lado, mesmo em casos de populismo no hemisfério sul, como na Venezuela33 , podemos observar a sua participação em instituições regionais, que tinham como objetivo contrabalançar o poder dos Estados Unidos34, ou mesmo no governo indiano, liderado por Narendra Modi, não reparamos uma tendência clara de retirar o apoio a instituições regionais35. Portanto, a relação entre o populismo e o apoio às instituições internacionais é complexa e pode variar de acordo com o contexto político e ideológico de cada país.

Uma tendência que parece evidente em governos populistas é a preferência por acordos bilaterais em detrimento de acordos multilaterais. Essa preferência pode estar alinhada a outra característica comum seguida pelos líderes populistas no âmbito da política externa, que se prende com a visão nacionalista, que enfatiza a soberania36 e a autonomia do país em relação a outras nações, o que pode explicar essa preferência por acordos bilaterais. Além disso, é comum que os líderes populistas apresentem uma retórica crítica em relação a organizações multilaterais, como a ONU ou a UE, acusandoas de serem elitistas e violarem a soberania nacional. Essa critica às organizações

30 (Verbeek & Zaslive, Populism and foreign policy, 2017)

31 O partido Fidesz, liderado por Viktor Orbán.

32 Lei e Justiça

33 Quando foi liderada por Hugo Chávez

34 Chávez via os Estados Unidos como um inimigo e rival, implicando uma nova relação com os EUA, procurou assim romper da dependência americana e perseguir uma política externa derivada do princípio da autonomia, porém não colocou de parte a procura de uma parceria regional, pois vemos a sua participação na ALBA (Bolivarian Allience for the Peoples of Our America), constituída pela Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua

35 Apesar de retirar apoio à Organização para a Cooperação Islâmica, a Índia continuou a apoiar instituições regionais como a Bay of Bengal Initiative for Multi-Sectoral Technical and Economic Cooperation (BIMSTEC)

36 Mesmo defendendo a soberania dos países, e o princípio da não ingerência, não podemos afirmar que os partidos populistas adotam todos uma visão de não interferir em assuntos internos de outros estados, como é o exemplo dos governos húngaros e polacos na questão da Ucrânia e da Bielorrússia

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multilaterais, como a ONU ou a União Europeia, pode ser acompanhada por uma visão de que as relações bilaterais dão mais controlo ao país, o que parece ser o motivo por trás da preferência dos líderes populistas por acordos bilaterais do que multilaterais. Como exemplo, podemos referenciar o governo de Donald Trump, nos EUA, que preferiu celebrar acordos comerciais bilaterais em vez de participar em acordos multilaterais, como demonstrado pela retirada dos Estados Unidos da Parceria Transpacífica, essa preferência é evidente na declaração de Donald Trump, em que este negociaria “acordos bilaterais de comércio justo que trouxessem empregos e indústria de volta à costa americana”37

Embora a preferência por acordos bilaterais seja comum em governos populistas, não é uma regra geral. Um exemplo disso é a Índia, que também é liderada por um governo populista de Narendra Modi, mas tem adotado uma abordagem que não se foca apenas em acordos bilaterais. A Índia tem procurado uma abordagem que visa fortalecer as suas relações com vários países e organizações internacionais ao mesmo tempo, isto pode ser explicado pelo facto que da Índia não ter o mesmo poder e influência dos Estados Unidos no palco internacional, não podendo essa sair de uma organização internacional sem perder a sua relevância na região e mesmo no resto do mundo. Assim, a Índia pode beneficiar de uma abordagem mais aberta e flexível, que lhe permita manter boas relações com várias nações e organizações, dessa forma, tem negociado tanto acordos bilaterais como acordos multilaterais, mostrando que a preferência por acordos bilaterais não é uma tendência universal em todos os governos populistas38 .

A preferência por acordos bilaterais, poderá resultar na desestabilização das relações internacionais, uma vez que esses líderes podem priorizar as suas visões nacionalistas em vez de colaborar com outros países para resolver problemas globais. Esse tipo de abordagem pode ser especialmente prejudicial em questões transnacionais, como as alterações climáticas, que requerem ações coordenadas dos vários países. Um

37 Apesar de Bernie Sander defender ideologias opostas a que Donald Trump defende, esse também aplaudiu a medida.

38 A Índia continuou empenhada em organizações como o BRICS, Indian Ocena Rim Association, entre outras, demonstrando mais uma vez que a preferência por acordos bilaterais não será uma regra para todos os governos populistas.

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exemplo disso é a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, sendo essa saída um grande recuo nos esforços globais da mitigação das mudanças climáticas.

Essa fragmentação do sistema multilateral, levará a uma diminuição da cooperação internacional, tornando mais difícil alcançar soluções abrangentes e sustentáveis para os problemas globais. A falta de cooperação internacional pode ter consequências graves para o futuro do planeta, tornando-se cada vez mais difícil enfrentar desafios como a pobreza, a desigualdade, a migração e a segurança internacional. Acordos a este nível poderão ficar cada vez mais escassos se mais líderes populistas chegarem ao poder, o que pode agravar ainda mais essas situações.

Outra questão relevante que surge em relação a essa preferência por acordos bilaterais prende-se com as possíveis implicações na construção de alianças, tanto bilaterais como multilaterais, e se a chegada desses líderes ao poder poderá levar a uma rutura das alianças já estabelecidas por governos anteriores. Para ilustrar esse ponto, podemos considerar o exemplo do Brasil, liderado por Jair Bolsonaro.

Durante a presidência de Bolsonaro, houve uma mudança significativa na política externa brasileira em relação à China e aos Estados Unidos. O governo de Bolsonaro demonstrou uma preferência por uma aliança mais próxima com os Estados Unidos, enquanto adotou uma postura mais crítica em relação à China. Essa mudança na orientação da política externa pode ser explicada em parte pela empatia de Bolsonaro com o presidente americano, Donald Trump, uma vez que ambos compartilham ideologias populistas e nacionalistas

Os comentários do ex-presidente, Jair Bolsonaro, sobre a China geraram consequências na forma como os dois países agiam diplomaticamente, com comentários como “a China não quer comprar no Brasil, quer comprar o Brasil”, Bolsonaro parece que introduziu um sentimento anti-China nos vários setores do governo39 Esses comentários e a postura mais crítica adotada em relação à China, pelo governo de Bolsonaro prejudicaram a relação dos dois países. Como resultado, a parceria económica do Brasil com a China sofreu o impacto da eleição de Bolsonaro, enquanto a equipa do

39 (Spektor, 2019)

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presidente introduziu um novo alinhamento com os Estados Unidos em questões políticodiplomáticas, sugerindo que o Brasil, durante a presidência de Jair Bolsonaro, adotou uma postura mais alinhada com os interesses americanos.

Essa mudança na política externa do Brasil pode ser vista como um exemplo de como a chegada de líderes populistas ao poder pode levar à rutura de alianças estabelecidas por governos anteriores. Essa fragmentação pode dificultar a criação de novas alianças e a cooperação internacional, tornando mais difícil a resolução de problemas globais.

Ao analisarmos a política externa do Brasil e dos Estados Unidos, liderados por governos populistas como Bolsonaro e Trump, podemos ainda observar que há uma tendência para desfazer as políticas externas dos governos anteriores. Esses líderes populistas frequentemente criticavam as políticas dos seus antecessores, considerando-as como fracassadas e prejudiciais aos seus países. No caso do Brasil, Bolsonaro criticou duramente a política externa do governo anterior, liderado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e procurou fazer mudanças significativas na relação com os Estados Unidos, em contrapartida, a sua relação com a China viu-se afetada. Da mesma forma, Trump adotou uma abordagem mais nacionalistas e unilateral em relação a muitos assuntos, criticando abertamente a política externa do governo de Obama, retirando os Estados Unidos de vários acordos multilaterais, como o Acordo de Paris.

Essa abordagem de desfazer as políticas externas anteriores pode levar a uma instabilidade nas relações internacionais e tornar mais difícil a construção de alianças e cooperação internacional. Além disso, essa tendência pode gerar um ambiente de incerteza e imprevisibilidade nas relações internacionais, o que pode ser prejudicial para a resolução de questões globais complexas. Isso pode levar a uma postura mais confrontadora, dificultando a diplomacia, que tem como objetivo assegurar a paz. A mudança abrupta na orientação da política externa também pode ter impactos na credibilidade do país e afetar a confiança dos seus parceiros comerciais e diplomáticos

É importante lembrar que a política externa e a diplomacia são um dos principais instrumentos de um país para alcançar os seus objetivos estratégicos e, quando ocorre uma mudança brusca nessa política, pode haver consequências imprevisíveis para a

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posição e influência do país no cenário internacional. Por exemplo, no caso dos Estados Unidos, a chegada do presidente Donald Trump ao poder e a sua postura confrontadora e imprevisível gerou um clima de incerteza e desconfiança entre os seus parceiros internacionais. Isso pode ter contribuído para diminuir a esfera de influência dos Estados Unidos em algumas questões internacionais, como foi o caso da crise na península coreana. Os tweets polémicos e as declarações impulsivas de Trump sobre a Coreia do Norte e outros assuntos globais podem ter prejudicado a credibilidade diplomática e a liderança dos Estados Unidos no cenário internacional40. Através das suas declarações públicas, Donald Trump muitas vezes ignorava os protocolos e as normas da diplomacia, o que levou a uma comunicação pouco clara com outros países e até mesmo aliados.

Assim, é importante que também os líderes populistas tenham uma visão estratégica a longo prazo, algo que muitas das vezes não acontece, adotando estes uma política externa que é frequentemente vaga e apenas uma continuação da política doméstica. É fundamental que esses líderes populistas considerem cuidadosamente as implicações das suas políticas externas na cooperação internacional, pois a estabilidade e a previsibilidade são fundamentais para a promoção da paz e da prosperidade global.

Uma possibilidade que também deve ser considerada é a de que governos populistas ao adotarem uma postura mais confrontadora e nacionalista, buscando proteger a soberania nacional do seu país41, acompanhada de um aumento da despesa militar42, isto tudo, poderá criar uma atmosfera em que a diplomacia fatalista possa surgir.

40 Durante a sua presidência, os tweets de Donald Trump, mostraram uma falta de clareza e compreensão sobre a diplomacia. Esse comportamento pode ser atribuído em parte à sua aparente falta de consulta com a sua equipa de diplomatas e, em vez disso, tomou decisões impulsivas e inconsistentes que podem ter prejudicado a credibilidade e a eficácia da política externa dos Estados Unidos.

41 O processo de saída do Reino Unido da União Europeia, conhecido como Brexit, utilizou amplamente a retórica da soberania, com os seus defensores a alegar que o país estava a perder autonomia e o poder de decisão para as instituições da União Europeia.

42 Um exemplo notável é o governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que promoveu a ideia de “América primeiro” e aumentou significativamente o orçamento militar do país. Essa postura nacionalista levou a um aumento das tensões com outros países, incluindo a Coreia do Norte e o Irão, além de gerar críticas da comunidade internacional sobre a falta de comprometimento dos EUA com a cooperação global. Outro exemplo, é a líder do partido francês Reagrupamento Nacional, Marine Le Pen, que defende a ideia de um aumento na despesa militar, embora não tenha proposto iniciativas militares de expansão, a sua retórica nacionalista e anti-imigração, bem como as políticas controversas em relação à União Europeia, têm sido criticadas por muitos líderes internacionais.

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Esses governos muitas vezes procuram mostrar uma imagem de força e poder para os seus eleitores, e a diplomacia pode ser vista como uma fraqueza nesse contexto. Como resultado, a diplomacia pode ser vista como uma atividade inútil, e a tensão diplomática pode aumentar, tornando-se mais difícil a resolução pacifica de conflitos. Em vez disso, os governos populistas podem estar mais inclinados a resolver os conflitos por meio da força militar, em vez do diálogo e da negociação. Esse tipo de postura pode levar a uma escalda das tensões e a uma maior instabilidade nas relações internacionais, dificultando a resolução pacífica de conflitos e criando um ambiente de incerteza e insegurança global.

Os governos populistas, frequentemente, procuram descredibilizar a diplomacia, considerando-a como uma atividade exclusiva e elitista, além de possuírem uma visão negativa sobre cooperação internacional e da diplomacia em geral. Isso pode também levar a ataques por partes desses líderes a diplomatas, afetando a confiança e a credibilidade desses profissionais, bem como a capacidade de os Estados realizarem negociações e acordos internacionais. Um exemplo disso, é o caso do presidente Donald Trump, que atacou publicamente diplomatas dos EUA, como a embaixadora na Ucrânia43 , em relação ao escândalo do impeachment em 2019. Outro exemplo, é o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que nomeou Ernesto Araújo trazendo este “declarações que deixaram o Brasil mais distante das suas tradições diplomáticas”, (Mori & Idoeta, 2021), pois é normal que esses líderes populistas ao chegarem ao poder, substituírem todo o corpo diplomático por profissionais que apoiam as suas visões, a sua ideologia.

A crescente hostilidade dos líderes populistas em relação aos diplomatas é um fenômeno preocupante na política internacional contemporânea. Na maior parte, esses líderes, têm uma atitude cética em relação à diplomacia e frequentemente procuram minar a credibilidade dos diplomatas. Além dos exemplos do Brasil e dos Estados Unidos, também na Europa se viviu governos, o Pis na Polónia, em que tomou medida para tentar “capturar” politicamente o corpo diplomático. Por outro lado, em países como a Itália e a Áustria, as instituições foram capazes de resistir às tentativas de politização da diplomacia. Sendo importante de destacar a opinião de David Cadier e Christian

43 Utilizando, novamente o Twitter, Donald Trump escreveu: “Everywhere Marie Yovanovitch went turned bad. She started off in Somalia, how did that go? Then fast forward to Ukraine, where the new Ukrainian President spoke unfavorably about her in my second phone call with him. It is a U.S President´s absolute right to appoint ambassadors.”

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Lequesne44, em que realçam a importância de manter uma estrutura institucional forte e independente para proteger a integridade e a eficácia da diplomacia diante dos desafios atuais, incluindo o populismo e o nacionalismo.

Essa mudança na retórica e na adoção de políticas que vão contra a tradição diplomática e os princípios da cooperação internacional pode resultar numa impressibilidade da maneira que aquele estado costumava praticar a diplomacia. Por exemplo, um governo populista pode afastar-se de acordos internacionais já estabelecidos, como aconteceu com o Donald Trump a sair de acordos internacionais, podendo ainda mudar drasticamente a sua posição em relação a certas questões internacionais, causando desconforto e incerteza entre outros países. Adicionalmente, essas práticas populistas podem gerar uma atmosfera de desconfiança e hostilidade em relação a outros países, dificultando as relações diplomáticas e a cooperação internacional, podendo levar a um isolamento do país em questão no cenário internacional, diminuindo a sua influência e prestígio.

Outra característica comum em muitos líderes populistas é a tendência de desrespeitar a etiqueta diplomática, o que pode ser mais prevalente nesses líderes do que nos líderes não populistas. Essa tendência pode incluir comportamentos considerados rudes ou ofensivos em reuniões internacionais, o uso de linguagem inadequada para se referir a outros líderes45 ou países e a recusa em participar em certos eventos diplomáticos. Essas atitudes podem ser vistas como uma forma de mostrar uma postura mais forte e assertiva, mas que pode prejudicar as relações diplomáticas e corroer a confiança entre países. Pegando outra vez nos exemplos de Donald Trump e Jair Bolsonaro, o primeiro, frequentemente adotou uma linguagem agressiva em relação a outros líderes mundiais46 , e o segundo, já teve problemas com diplomatas de outros países e já se recusou a comparecer a eventos internacionais importantes47

44 (Cadier & Lequesne, 2020)

45 Lembramo-nos do Tweet de Donald Trump quando referiu que Londres necessitava de um novo presidente.

46 Referindo apenas de exemplo, os ataques de Donald Trump ao primeiro-ministro Justin Trudeau, após a cimeira do G7 em 2918, em que chamou Trudeau de “desonesto e fraco”.

47 A recusa por parte de Jair Bolsonaro em comparecer à cimeira do Mercosul.

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Ao longo deste capítulo, discutimos os diferentes impactos que o populismo pode ter na diplomacia. Embora acreditamos que seja uma ameaça à forma como os países, afetados por esses movimentos, conduzem as suas relações internacionais, não podemos afirmar que os líderes populistas, mesmo em poder, tenham completamente revolucionado a diplomacia. Ainda assim, é importante relembrar que os movimentos populistas, frequentemente vêm acompanhados de hostilidade em relação à diplomacia e aos diplomatas, o que pode ter implicações significativas para a diplomacia de um país.

Embora o populismo tenha impactos sérios nas relações diplomáticas, a maioria dos líderes ainda reconhece a importância da diplomacia e da cooperação global, não havendo uma rutura total da diplomacia por parte desses líderes.

Apesar de não terem revolucionado, é inegável que essa tendência tem implicações significativas na forma como esses países atuam diplomaticamente, basta lembrar-nos dos exemplos referidos, como foi o caso dos Estados Unidos. Durante a presidência de Donald Trump, este adotou uma abordagem populista e nacionalista que teve consequências na forma como esse país praticava a política externa e a diplomacia.

Donald Trump, retirou os Estados Unidos de várias organizações internacionais, como o Acordo de Paris, o Acordo Nuclear com o Irão, da UNESCO e da OMS Ele não só retirou o país de organizações internacionais importantes, como também adotou uma abordagem mais agressiva e ofensiva em relação a outros líderes mundiais, especialmente nas redes sociais. Essa postura criou tensões diplomáticas significativas e afetou a credibilidade e influência dos Estados Unidos no cenário internacional. Trump também tentou desestabilizar o corpo diplomático dos EUA, atacando os seus próprios diplomatas, promovendo uma cultura de hostilidade e desconfiança em relação à diplomacia tradicional. Como resultado, a diplomacia norte-americana foi afetada negativamente durante o seu mandato.

De facto, é preocupante ver líderes populistas a questionar a importância da diplomacia. É essencial que os líderes populistas compreendam a importância dessa e trabalhem em conjunto com a comunidade internacional para resolver questões globais de forma eficaz e pacífica. Embora não possamos afirmar que o populismo tenha completamente revolucionado a diplomacia, as suas implicações nessa não devem ser subestimadas.

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Considerações finais

Ao longo deste artigo, analisamos os efeitos do populismo na diplomacia, tendo em conta diferentes exemplos de países e líderes populistas, bem como a opinião de especialistas na área. Demonstramos que o mundo inteiro está a testemunhar um ressurgimento do populismo, e isso tem a capacidade de afetar a diplomacia de várias maneiras, pois é comum que esses líderes adotam uma postura hostil face à diplomacia e aos diplomatas, o que é preocupante para a política internacional contemporânea.

Observamos ainda que muitos líderes têm uma atitude cética em relação à diplomacia e frequentemente procuram minar a credibilidade dos diplomatas. Isso pode levar a mudanças significativas na política externa de um país e desencadear tensões políticas, económicas e sociais. A falta de clareza e compreensão sobre a diplomacia por parte desses líderes pode prejudicar a credibilidade e a eficácia da política externa de um país, comprometendo a sua capacidade para alcançar os seus objetivos e resolver questões globais.

Um exemplo clássico disso é a administração de Donald Trump, nos Estados Unidos. O presidente norte americano, adotou uma visão mais nacionalista retirando o seu país de várias organizações internacionais, e a sua adoção de uma diplomacia pública, utilizando as redes sociais, mostrou uma tendência desse governo para tomar decisões impulsivas e inconsistentes que prejudicaram a diplomacia norte americana.

O populismo pode ainda alimentar um clima de conflitos, onde os interesses nacionais são postos em cima dos interesses globais e a cooperação é vista como um sinal de fraqueza ou traição aos valores nacionais. Essa postura pode dificultar a construção de consensos necessários para a resolução de problemas globais, como as alterações climáticas, a migração, que exigem ações coordenadas ao nível internacional. Além disso, o populismo também pode levar a situações em que a diplomacia não consiga cumprir o

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seu objetivo fundamental de assegurar a paz, uma vez que as relações entre países podem tornar-se cada vez mais tensas e imprevisíveis.

Por fim, devemos destacar que, para enfrentar os desafios apresentados pelo populismo, é essencial manter a estrutura diplomática forte e independente. A diplomacia exige uma abordagem baseada em evidências e conhecimento especializado, que pode ser perdida quando líderes populistas tenta se apegar dela. A manutenção de uma estrutura institucional forte e independente permitirá que a diplomacia continue a desempenhar um papel vital na solução dos problemas globais, por exemplo, as alterações climáticas, a crise migratória, ou a mais recente invasão da Rússia à Ucrânia.

Para evitar um aumento das tensões diplomáticas que podem levar a conflitos armados, é crucial mitigar o populismo. É importante relembrar que o populismo representa assim um desafio para a diplomacia tradicional, pois geralmente enfatiza os interesses nacionais em detrimento dos interesses globais, podendo resultar numa redução da cooperação internacional e numa preferência pela diplomacia bilateral, em detrimento da diplomacia multilateral, o que pode prejudicar a resolução de problemas globais. Portanto, é fundamental que os líderes globais, encontrem maneira de trabalhar em conjunto promovendo um diálogo construtivo, a fim de evitar um colapso nas relações internacionais e manter a estabilidade e a segurança global.

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