Revista Cenarium 09/2022

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Uma pesquisa inédita obtida pela CENARIUM aponta que o maior patrimônio ambiental do Brasil, a Amazônia, será o fator decisivo para a escolha da maioria dos eleitores SETEMBRO DE 2022 • ANO 03 • N.º 27 • R$ 15,99 ISSN 2764 8206 782764 9 820605 027 ‘FIEL DA BALANÇA’
tceamtceamazonas www.tce.am.gov.br TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO AMAZONAS O Tribunal de Contas cada vez mais perto de você ARTE: MATHEUS RODRIGUESDICOM / TCE-AM

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O fator ‘Amazônia’ na balança eleitoral

Com 12% do eleitorado brasileiro, a Amazônia é o “fiel da balança” para quase 70% dos eleitores. A constatação está em pontos destacados de um estudo inédito que a REVISTA CENARIUM detalha na edição de setembro, mas, também, é facilmente percebida em debates nas redes sociais e nas ruas das grandes metrópoles.

A importância do maior patrimônio ambiental do País passou a ser notada entre muitos brasileiros, principalmente, a partir do pleito presidencial norte-americano, em 2020, quando o assunto “Amazônia” foi debatido entre Joe Biden e Donald Trump e o embate sobre o tema específico foi parar no trend topic mundial do Twitter.

O peso internacional da Amazônia nessas eleições ganhou ainda mais força neste mês, quando o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, alertou o mundo sobre a devastação da região.

“A Amazônia queima, senhores, enquanto vocês fazem a guerra e jogam com isso. A floresta, pilar climático do mundo, some com toda a sua vida. A grande esponja que absorve o CO2 do planeta está evaporando”, disse Petro aos líderes de outras nações.

Por outro lado, a consciência nacional sobre a relevância da região amazônica sofreu novo impulso, também, no mês de setembro depois que o satélite geoestacionário Goes-16 mostrou que a maior cidade brasileira, São Paulo, foi atingida pela disper são do rastro de fumaça, causada pelas queimadas nos Estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Pará.

Em quatro dias de setembro, as queimadas no Pará supe raram a marca de setembro de 2021. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontou que, de primeiro de janeiro até o dia 5 de setembro, os satélites registraram 20.614 pontos de fogo na floresta.

O que era, para muitos, um discurso do marketing politi camente correto, com o intuito de conceituar marcas e cele bridades, tornou-se uma preocupação real e caso de saúde e segurança públicas para os brasileiros, com a manutenção do “ativo ambiental” tornando-se prioritária.

Portanto, a Amazônia como “fiel da balança” – no contexto de fazer a diferença em uma disputa – é, hoje, o fator influencia dor para a maioria dos eleitores que decidiu se livrar de fardos políticos geradores de retrocessos imensuráveis para o mundo.

A gente da Amazônia

“Não adianta nada a gente salvar as árvores, se a gente não salva quem está salvando as árvores”. Bem disse a liderança indí gena de Rondônia Txai Suruí, em entrevista à Agência Pública, em abril deste ano. Empresto as palavras dela para lembrar que a Amazônia está longe de ser um imenso tapete verde estático e inanimado. Debaixo das árvores vivem, além de fauna e flora, cerca de 30 milhões de indígenas, ribeirinhos e populações urbanas – somente na Amazônia Legal. Cidadãos e eleitores nem sempre lembrados. Com importância ambiental mundial, riquezas naturais e enormes desafios de preservação, a Amazônia está no centro do debate político nacional e internacional, mas sua gente, nem tanto.

“Não estão queimando só a Amazônia, estão queimando as pessoas de lá também”, acrescentou Txai, na entrevista. O mundo inteiro diz estar preocupado e o senso comum remete à ideia da “floresta em pé”. A Amazônia foi tema de debate nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, é notícia na imprensa internacional e tem sido frequente na boca de quem busca votos no Brasil. Mas, como manter as árvores vivas sem que as pessoas tenham, ao menos, o mínimo – saúde, educação, segurança, saneamento básico, ar puro para respirar?

O mundo precisa da Amazônia para o equilíbrio climático, o Brasil precisa manter a floresta em pé para satisfazer o mundo, os políticos querem se eleger com discurso ambiental e a gente amazônida precisa manter vivo o seu lar, para poder viver. Está tudo interligado.

É com essa perspectiva de codependência e relevância que a REVISTA CENARIUM traz, para a edição de setembro, em que no dia 5 se celebrou o Dia da Amazônia, a reportagem “Voto ‘verde’: foco na Amazônia”. A partir dos resultados da pesquisa “Eleições 2022 na Amazônia”, feita pelo Instituto de Pesquisa Action, a pedido da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS), mostramos os anseios da gente da região e o que se espera dos novos governantes. Na capa, a Amazônia como sendo o “fiel da balança” que pode influenciar decisões do eleitorado da região nestas eleições, eleitorado que tem, em nós, mulheres, o poder de maioria e de mobilização.

Editorial
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Leitor&Leitora

�� Conhecer para escolher

O conjunto de reportagens sobre os possíveis governantes da Amazônia Legal está maravilhoso. É fundamental conhecer os possíveis gestores da Amazônia porque os demais Estados impactam aqui no Amazonas. A qualidade e profundidade das reportagens é ótima. Conteúdo que só tem na REVISTA CENARIUM

Helder Mourão, jornalista e professor

Manaus - AM

�� Abrangência e relevância

“Cenarium” é abrangente sobre as realidades, análises e conjecturas ama zônicas. Moderna, sim. No entanto, a revista traz muito do velho jornalismo [em extinção]: a imparcialidade. As narrativas têm lado: o do leitor. Mas não têm o tom do engajamento que muitas vezes menosprezam a inteligência de quem lê. Sou aqui de Rondônia e acompanho com real interesse a publicação, em especial as reportagens que dizem respeito ao meu Estado.

Júlio Olivar, jornalista, escritor e secretário municipal de Educação de Vilhena (RO)

Vilhena - RO

�� Conteúdo atual

A REVISTA CENARIUM aborda conteúdos atuais e extremamente necessários, levando informações da Amazônia para todos os lugares do País. Parabéns para toda a equipe responsável pela revista!

Bianca Sandino

Indaiatuba - SP

► MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

DIA DA AMAZÔNIA

Vida ameaçada 08

Potencial desperdiçado 12

Terras Indígenas vulneráveis no Pará 15

�� Informação para os eleitores

O espaço de reportagens falando sobre os governantes da Amazônia está fenomenal. Para alguém que estava por fora do cenário, e alinhado com a ótima qualidade de reportagem da revista, foi de incrível ajuda. É sempre maravilhoso ler e conhecer as matérias da REVISTA CENARIUM

Caio Bernard, engenheiro mecatrônico

Manaus - AM

�� Mulheres em evidência

Gostaria de parabenizar a revista pelo destaque dado à arbitragem feminina na Copa do Mundo de Futebol Masculino. É muito importante enfatizar a participação das mulheres nos espaços de liderança, poder e decisão. Com isso, observamos que embora determinados espaços sejam historicamente masculinos, as mulheres vêm desempenhado com maestria as mais diversas atividades. E que em breve alcancemos a paridade real de gênero não apenas como cotas ou excepcionalidades e sim protagonismo real.

Tati Gomes, advogada e professora especialista em Direito Eleitoral - vice-presidente da comissão de Direito Eleitoral da Subseção Riacho

Fundo I e II e Recanto das Emas OAB-DF - fundadora do grupo @ eleitoralcomelas

Brasília - DF

► CENARIUM+CIÊNCIA

Veneno nas águas 18

► PODER & INSTITUIÇÕES

ELEIÇÕES 2022

Voto ‘verde’: foco na Amazônia 20

O que querem os eleitores amazônidas? 22 Bioeconomia e preservação

Saúde e a floresta

Educar guardiões da floresta 32

Muitas ‘Amazônias’ em uma 38

“A Amazônia é grande demais para falir” 40

Combate ao assédio 44 Coluna Via Brasília 46

► ECONOMIA & SOCIEDADE

Carga (tributária) pesada 50

Herança da escravidão 52 Amazonas Província 54

► POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

Violência contra indígenas 56

Transparência em defesa do meio ambiente 58

► MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS

Atentado na Argentina 60

► ENTRETENIMENTO & CULTURA

‘Sétima arte’ pulsa na Amazônia 63

► VIAGEM & TURISMO

Festa para ‘Nazinha’ 65

► DIVERSIDADE

Candidaturas trans 67

► ARTIGO – MARCUS LACERDA

Pílulas Bristol 69

�� MANDE SUA MENSAGEM �� E-mail: cartadoleitor@revistacenarium.com.br | WhatsApp: (92) 98564-1573 Sumário Setembro de 2022 • Ano 03 • Nº 27 2008 56
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Crédito: Roberto Jayme | ASCOMTSE Crédito: ApibReprodução Crédito: Christian Braga Greenpeace Crédito: Acervo Pessoal Crédito: Acervo Pessoal

Vida ameaçada

BOA VISTA (RR) – Um dos maiores patrimônios do mundo, a Amazônia vem perdendo milhares e milhares de hectares, desde 2019, por conta do desmatamento desenfreando na região. No último dia 5 de setembro, comemorou-se o Dia da Amazônia, uma data criada por Dom Pedro II, em 5 de setembro de 1850, e um momento de reflexão para lembrar a população da importância da preservação da maior floresta tropical do planeta e sua rica biodiversidade.

Todo esse patrimônio está ameaçado por conta da invasão de grileiros, fazendei ros e garimpeiros que atuam de forma ile gal na região sem licenciamento ambiental e sem a fiscalização adequada, já que os

órgãos de controle estão sendo esvaziados devido à política ambiental do governo do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Porém, especialistas ouvidos pela REVISTA CENARIUM afirmam que os benefícios da Amazônia para o ser humano são gerados mantendo a floresta em pé e não derru bada ou explorada de forma ilegal.

A Amazônia Legal abrange, no Brasil, nove Estados: Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins, totalizando cerca de 59% de todo o território brasileiro, equivalendo a 67% de todas as florestas tropicais do mundo, com um total de 6.700.000 quilômetros de mata. Além do Brasil, a Amazônia está presente em outros

países da América do Sul, como Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.

MAIOR DESMATAMENTO E QUEIMADAS EM DÉCADAS

Segundo dados divulgados pelo Ins tituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a Floresta Amazônica viveu, em 2021, o seu pior ano em uma década. De janeiro a dezembro, foram destruídos 10.362 quilômetros quadrados de mata nativa, equivalendo à metade do Estado de Sergipe. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que monitora a região por meio de imagens de satélites. Apenas em relação a 2020, ano

Queimadas

Em todos os quatro anos que corres pondem à atual gestão federal o número de focos de queimadas na Amazônia teve valores próximos ou superiores a 40 mil, entre janeiro e agosto. Já nos 10 anos anteriores (2009-2018), a média de focos, no mesmo período, foi de cerca de 28 mil.

“O descontrole das queimadas obser vado nos últimos quatro anos está estrei tamente associado a um aumento do

desmatamento e da degradação florestal nesse período”, explica Mariana Napoli tano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. Ela completa: “A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural. Os incêndios não surgem de forma espontânea no bioma e sua ocorrência está sempre asso ciada a ações humanas – em especial ao desmatamento e à degradação florestal”.

Área desmatada na Floresta Amazônica Crédito: Christian Braga Greenpeace
Região amazônica está vulnerável devido ao desmatamento, queimadas, garimpo e invasões
0908 www.revistacenarium.com.br DIA DA AMAZÔNIA MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

em que o desmatamento na Amazônia já havia ocupado a maior área, desde 2012, com 8.096 quilômetros quadrados de floresta destruídos, a devastação em 2021 foi 29% maior.

“O governo Bolsonaro tem promovido uma política antiambiental”, afirma Raul Valle, especialista em Justiça Ambiental e Direito dos Povos do WWF-Brasil. “Inúme ras ações do governo de Jair Bolsonaro con tribuíram para a escalada das queimadas nos últimos anos – e para o aumento do desmatamento e da degradação florestal.

Durante toda a sua gestão, Bolsonaro repe

tiu – no Brasil e no exterior – que não há queimadas na Amazônia, negando dados incontestáveis, enfraqueceu os mecanis mos de controle e comando na região e espalhou um clima de permissividade para os crimes de destruição, apoiando desma tadores e garimpeiros”, explicou Valle.

Em 2019, já no primeiro ano da gestão, os elevados números de incêndios na Amazônia produziram uma crise inter nacional de imagem para o governo. Em agosto, produtores rurais combinaram, para o mesmo período, a queima de pasto e de áreas em processo de desmatamento

– episódio que ficou conhecido como o “dia do fogo”.

A postura do governo foi questionar os dados oficiais e demitir Ricardo Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesqui sas Espaciais (Inpe), à época. Bolsonaro também reduziu o orçamento e a capaci dade de ação de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur sos Naturais Renováveis (Ibama) – que reduziu as operações de fiscalização e viu cair drasticamente o número de multas aplicadas a infratores ambientais.

“O descontrole das queimadas observado nos últimos quatro anos está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período”

Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.

Garimpo ilegal

Outro problema enfrentado é a invasão do garimpo ilegal nas terras indígenas, o que acaba deixando comunidades indíge nas doentes, em virtude da ingestão de alimentos contaminados pelo mercúrio utilizado na extração de ouro do fundo do rio. Relatório divulgado pela Hutukara Associação Yanomami mostrou que o garimpo ilegal tem criado um cenário de terror e medo nas mais de 350 comunida des existentes no território, que sofrem com fome, exaustão, doenças e violência,

incluindo abuso sexual de mulheres e de crianças em troca de comida.

Só na Terra Indígena Yanomami (TIY), a Polícia Federal afirma que possam existir mais de 20 mil garimpeiros trabalhando ilegalmente na extração de ouro. Em 2021, a destruição provocada pelos invasores cresceu 46% em relação a 2020, um incre mento de 1.038 hectares, atingindo um total acumulado de mais de 3 mil campos de futebol devastados, a maior taxa anual desde a demarcação da área em 1992.

O novo mapa da Amazônia, segundo o IBGE, também apoia análises das Cidades Intermediárias da Amazônia Legal O Greenpeace tem realizado sobrevoos no sul do Amazonas e no norte de Rondônia, com o intuito de monitorar o desmatamento e as queimadas na Amazônia Crédito: Christian Braga Greenpeace MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Crédito: Amazonia Legal 2019 IBGE 11 DIA DA AMAZÔNIA
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Potencial desperdiçado

VILHENA (RO) – A destruição do bioma amazônico não é, nem de longe, uma novidade. Tornou-se um tema corriqueiro. Mais uma manchete de jornal. Enquanto muitos parecem se conformar com um quadro praticamente irreversível, a floresta, os animais e as comunidades tradicionais continuam em chamas, derrubadas e transformadas em pastos, à mercê das invasões e de toda a sorte de crimes praticados contra o meio ambiente. Especialistas defendem que a ocupação descontrolada, criminosa e negligenciada é, além de ultrapassada, uma fórmula para o enriquecimento ilí cito, quando deveria ser o contrário: é possível gerar emprego e renda mantendo a floresta viva.

É por esse motivo que a celebração do Dia da Amazônia, no dia 5 de setembro, tem sua comemoração ofuscada devido a uma série de desafios impostos à manu tenção dos ecossistemas.

é comprovada. E o custo-benefício não poderia ser melhor: o Brasil tem potencial para gerar 2,5 milhões de empregos por meio do reflorestamento – e não só na Amazônia, mas de norte a sul do País.

Isso seria o suficiente para diminuir a taxa de desemprego em 25%. Mas, isso só vai acontecer, caso o Brasil atinja a meta de recuperar 12 milhões de hectares de vege tação nativa até 2030. É o que concluiu um estudo produzido pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Aliança pela Restauração na Amazônia e Coalizão Brasil, Clima, Floresta e Agricultura.

O compromisso já existe: foi assumido, pelo governo federal, em 2017, por meio do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) e prevê essa recuperação acontecendo em todos os biomas brasileiros.

PLANTAR E LUCRAR

Ao contrário do triste cenário promo vido pelas redes de economias ilícitas liga das à floresta, a possibilidade de reverter o quadro com medidas simples e baratas

Modelo ultrapassado

Recuperar ainda é um sonho. O mais recente levantamento do MapBiomas mostrou, por exemplo, que a Amazônia perdeu 12% de sua cobertura florestal, em 37 anos. É como se dez Estados do Rio de Janeiro tivessem sido arrancados da floresta, entre 1985 e 2021.

Menos de 80% de todo o bioma con tava, até o ano passado, com vegetação nativa. Além disso, o estudo também revelou que a ocupação da terra para as atividades agropecuárias se alastrou por 15% de todo o ecossistema, nesse mesmo período, sendo o principal vetor do desmatamento.

Para o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, “o atual modelo de desenvolvimento econômico, baseado na conversão descontrolada de áreas de vegetação natural, coloca o Brasil frente a graves problemas no atual cenário de mudanças do clima”.

“Não se trata apenas de implementar ações de comando e controle”, garante ele. “O Brasil precisa de políticas públicas e modelos de negócio que compatibili zem a conservação dos biomas com o desenvolvimento do País, ao mesmo tempo em que cooperam com o enfren tamento da crise climática”, ressaltou Azevedo.

Funcionaria assim: metade da restaura ção seria feita com o replantio de mudas de espécies nativas. Já nas outras áreas, a vegetação se recuperaria sozinha. A Mata Atlântica e a Amazônia seriam as mais beneficiadas, somando, juntas, 76% das áreas a serem recuperadas. Seriam mais de 4 milhões de hectares para cada uma. de espécies nativas. Já nas outras áreas, a vegetação se recuperaria sozinha

Com reduções recordes de vegetação, Brasil desperdiça potencial econômico do reflorestamento Iury Lima – Da Revista Cenarium Crédito:
Metade da restauração da Amazônia seria feita com replantio de mudas
Divulgação | Secom 13 DIA DA AMAZÔNIA MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE REVISTA CENARIUM 12 www.revistacenarium.com.br

Depois, o Cerrado, com 2,1 milhões de hectares, seguido da Caatinga, 500 mil hectares, do Pampa, com 300 mil hectares e do Pantanal, com 50 mil.

E OS EMPREGOS?

Uma vez em prática o reflorestamento previsto pelo governo, entram em campo os postos de trabalho criados a partir do que se chama de “restauração ativa”, aquela gerada pela ação humana: coleta de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção das áreas restauradas, e serviços técnicos, incluindo consultoria, elaboração de projetos e monitoramento.

Ainda de acordo com o estudo, 61% dos empregos que existem hoje nesse ramo estão concentrados no Sudeste e 85% têm ligação com a Mata Atlântica, o bioma

pioneiro em atividades de recuperação, dando exemplo para o que deve ser feito na região amazônica.

FALTA APLICAR

É fato que o reflorestamento é uma das alternativas mais simples e baratas, mas aí entram dois extremos: mesmo após um estudo da Universidade Yale, de Connecticut, nos Estados Unidos, ter apontado o Brasil como um dos países mais promissores ao replantio de árvores, a Nação mais derruba do que consegue plantar – mais de 1 milhão de hectares de floresta foram abaixo, em 2021, enquanto que, até o início daquele mesmo ano, o governo só tinha restaurado 0,5%, ou seja, 70 mil dos 12 milhões de hectares prometidos no Acordo de Paris.

Ferida aberta

Enquanto as autoridades não tomam as posições e providências cabíveis, seguem crescendo o des monte dos órgãos ambientais e o avanço das práticas criminosas, que não poupam nem mesmo áreas pro tegidas, como as Unidades de Con servação (UCs).

Triste exemplo é Rondônia. Agosto fechou com a desarticula ção de uma organização criminosa que cobrava pedágio na entrada da Floresta Nacional (Flona) do Jamari, área de 222 mil hectares com autori zação de uso sustentável. Após pagar valores que variavam de R$ 400 a R$ 800, madeireiros podiam explorar a mata à vontade. O grupo era formado por quatro pessoas. Duas ainda estão soltas.

“Os órgãos de proteção ambiental não vêm conseguindo manter uma fiscalização rígida e conter os inva sores”, lamentou o tecnólogo em Gestão Ambiental e conselheiro da Associação de Defesa Etnoambien tal Kanindé, Edjales Benício. “Isso se acentuou muito mais no atual governo que, infelizmente, boicotou os órgãos de fiscalização, cortando orçamento, não deixando que opera ções de comando e controle fossem realizadas com a chefia dos órgãos que têm expertise nisso, como é o caso do ICMBio e do Ibama. Infeliz mente”, disse ainda.

“A Flona do Jamari não é a única que vem sofrendo. Outras UCs da Amazônia que estão sob a gestão do Estado de Rondônia e, também, do governo federal, infelizmente atra vessam situações semelhantes ou até piores”, concluiu o especialista.

ÁREAS QUE PRECISAM SER RESTAURADAS Bioma Área a ser restaurada (em ha) Área a ser restaurada (em %) Mata Atlântica 4,75 milhões 38% Amazônia 4,8 milhões 38% Cerrado 2,1 milhões 17% Caatinga 500 mil 4% Pampa 300 mil 2% Pantanal 50 mil 1% Fonte: Planaveg/Governo Federal Ex-secretário municipal de Meio Ambiente de Porto Velho e conselheiro da ONG Kanindé, Edjales Benicio lamenta o desmonte de órgãos federais Para o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, atual modelo de ocupação da Amazônia é ultrapassado Terras Indígenas vulneráveis no Pará Territórios no Estado estão no topo da lista dos mais desmatados no Brasil em 2021 Ívina Garcia – Da Revista Cenarium Crédito: Acervo Pessoal Crédito: Skoll.org reprodução Crédito: Divulgação | APIB 14 www.revistacenarium.com.br DIA DA AMAZÔNIA MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE 15 REVISTA CENARIUM

MANAUS (AM) – O Estado do Pará lidera a lista das Terras Indígenas (TI) com maior área desmatada em 2021, no Brasil, de acordo com o Rela tório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas Alerta. O docu mento aponta que, pelo menos, sete TIs com desmatamento acima de 400 hectares ficam localizadas no Pará e somam um total de 17.144,94 hectares desflorestados e 1.649 alertas.

Foram monitoradas 573 Terras Indíge nas no Brasil e, de acordo com a pesquisa, 232 delas tiveram, pelo menos, um evento

de desmatamento no ano passado. A devas tação em TIs representa 4,7% do total de alertas e 1,7% da área total desmatada no Brasil, em 2021.

Das 25 TIs presentes na tabela, 11 tive ram desmatamento acima de 500 hec tares no último ano (o que equivale a 2%). Entre os anos de 2019 e 2021, houve crescimento da degradação em todas as categorias fundiárias, exceto em Terras Indígenas.

Para o ambientalista e geógrafo Carlos Durigan, os dados demonstram a impor tância da demarcação de terras e dos povos

indígenas para a preservação da Amazônia. “Certamente, as Terras Indígenas repre sentam uma importante porção das áreas protegidas no Brasil, que demonstram como o modo de viver e produzir dos povos indígenas pode nos inspirar na conservação e no uso sustentável de nossas florestas e biodiversidade”, diz.

A liderança do desmatamento, no Pará, corresponde a 24,31% da área devastada no País. Cinco dessas Terras Indígenas estão no topo das mais desmatadas, sendo elas: Apyterewa, com 8.246,90 hectares; Trincheira Bacajá com 2.620,95 hectares;

Cachoeira Seca com 2.034,19 hectares; Kayapó com 1.603,99 hectares e Ituna/ Itatá com 1.262,64 hectares, todas locali zadas no Pará.

O levantamento mostra, em seguida, o Estado do Amazonas, com 11,75% no ranking de desmatamento total, ultrapas sando, pela primeira vez desde 2019, Mato Grosso e Maranhão, tendo um aumento de 50% de área desmatada em 2021, no Estado, em comparação com 2020.

Apesar de não aparecer entre as 10 TIs mais desmatadas, o Amazonas possui as TIs: Menkragnoti com 503,07 hectares

desmatados e 36 alertas; Tenharim Mar melos com 490,92 hectares destruídos e 11 alertas; Andirá-Marau com 347,43 hectares desmatados e 134 alertas; Yanomami com 307,40 hectares desmatados e 87 alertas; Jauary com 252,85 hectares desmatados e 9 alertas e Sissaíma com 227,52 hectares desmatados e 15 alertas de desmatamento.

Na Amazônia, representada pelos Esta dos do Amazonas, Acre, Amapá, Ron dônia, Roraima, Pará, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins, foram registrados, ao longo de 2021, 27.256 hectares des matados e 3.151 alertas, tendo registrado

a maior parte dos alertas e de área des matada.

Ano passado, a média diária de des matamento foi de 4.536 hectares – ou 189 hectares por hora no País, sendo a Amazônia o bioma mais afetado, com 111,6 hectares desmatados por hora ou 1,9 hectare por minuto, o que equivale a cerca de 18 árvores por segundo.

Esse dado trouxe um aumento de 19,5% na área média desmatada por dia, no País, em relação a 2020, em todos os biomas do Brasil: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.

Causas da devastação

O relatório do MapBiomas aponta que a agropecuária respondeu por quase 97% dos desmatamentos em nível nacional, no Brasil, em 2021. Entretanto, no Pará, houve uma grande concentração de alertas envolvendo o garimpo como maior vetor de devastação. Nas áreas perto de grandes capitais, a pressão veio, principalmente, da expansão urbana.

“Mesmo assim, tem crescido a ameaça sobre os povos indígenas e seus territórios, as invasões têm aumentado, proporcionalmente, ao crescimento de atividades ilegais em toda a região, principalmente, explo ração ilegal de madeira e minérios, assim como grilagem de áreas, daí este cenário de conflito permanente em diversas dessas áreas”, pontua o especialista, ao avaliar a consequente degradação ambiental.

Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) do MapBiomas Alerta Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) do MapBiomas Alerta Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) do MapBiomas Alerta
1716 www.revistacenarium.com.br MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE REVISTA CENARIUM Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) do MapBiomas Alerta

Veneno nas águas

Estudo mostra que consumo de peixe está ameaçado por conta do garimpo ilegal na TI Yanomami, em RR

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – A exploração ilegal de ouro na Terra Indígena Yano mami (TIY) já dá sinais de danos ao meio ambiente. É o que mostra um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Evandro Chagas e Universidade Federal de Roraima (UFRR), divulgado no final de agosto, que mostrou que o peixe consumido pela população de Roraima apresenta concentrações de mercúrio maiores ou iguais ao limite estabelecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O estudo foi desenvolvido em quatro pontos da bacia dos rios Branco, Mucajaí e Uraricoera. Esse aumento de mercúrio, na água e no pescado, segundo pesquisadores, tem a ver com o garimpo ilegal na maior Terra Indígena do Brasil, a Yanomami. As amostras coletadas entre 27 de fevereiro e 6 de março de 2021 revelaram índices altos de contaminação em trecho do Rio Branco, na cidade de Boa Vista (25,5%), Baixo Rio Branco (45%), Rio Mucajaí (53%) e Rio Uraricoera (57%).

Durante o trabalho de campo, foram coletados 75 espécimes de peixes, de 20 espécies diferentes e quatro níveis tró ficos (herbívoro, onívoro, detritívoro e carnívoro). No Rio Uraricoera, dentro da reserva indígena, o nível de mercúrio nas amostras coletadas confirma a con taminação do pescado. De acordo com os dados divulgados, a cada dez peixes coletados, seis apresentaram níveis de mercúrio acima dos limites estipulados pela OMS. Segundo um dos pesquisado res da Fiocruz, Paulo Basta, o mercúrio que é utilizado pelo garimpo ilegal pode sobreviver na natureza por até 100 anos.

“O mercúrio é utilizado de uma maneira indiscriminada, nos garimpos ilegais, dentro da Terra Indígena Yano mami. Esse mercúrio fica retido na natu reza, a gente costuma dizer que é um metal pesado, pois o mercúrio tem efei tos tóxicos e uma longa permanência no ambiente. O metal transita por diferentes compartimentos e se deposita no fundo do rio. No fundo do rio, por intermédio da ação de microrganismos, o mercúrio metálico se transforma em metilmercúrio,

a forma mais tóxica do metal que ingressa na cadeia trófica. Ou seja, penetra em todos os seres vivos que habitam nas águas, nos animais que vivem no rio e no solo. Dessa forma, o mercúrio pode permanecer no ambiente por até 100 anos. Então, isso quer dizer que, se nossa sociedade e nos sas autoridades tomarem providências, hoje, e o garimpo for interrompido, hoje, ainda assim, nós vamos ter problemas de contaminação por mercúrio para mane jar por décadas”, afirmou o pesquisador Paulo Basta.

AMOSTRAS DE PEIXE EM BOA VISTA

Já nas amostras de peixes compradas próximo à capital, Boa Vista, a cada dez

peixes coletados, aproximadamente, dois não eram seguros para consumo. Ou seja, mesmo distante da Terra Indígena Yano mami e apesar de em proporção menor, os habitantes de Boa Vista não estão livres dos impactos do mercúrio utilizado no garimpo ilegal.

“Peixes como piranha, surubim, tucu naré e pirarucu são carnívoros que se alimentam de outros peixes e possuem nível de mercúrio mais alto do que os demais. Em nosso estudo, o peixe que mais apresentou nível de contaminação foi o Coroatai. Ele apresentou níveis médios de contaminação por mercúrio, na ordem de 2 microgramas de mercúrio para cada grama de tecido muscular”, explicou o pesquisador.

Recomendações

No final do estudo, os pesqui sadores recomendam uma série de iniciativas para que as autoridades públicas estabeleçam a elaboração de mecanismos de proteção financeira ao setor pesqueiro, com o intuito de evitar que pescadores artesanais sejam impactados economicamente pela restrição ao consumo de diversas espécies de peixes contaminados.

Dentre as recomendações estão: interromper, imediatamente, as ati vidades ilegais de garimpo nas terras indígenas de Roraima e retirar os inva sores das terras da União. Elaborar um plano de descontinuidade do uso de mercúrio na mineração de ouro, no Brasil, para atender às diretrizes da Convenção de Minamata (2013) e estruturar um Plano de Manejo de Risco (PMR) para as populações cronicamente expostas ao mercúrio.

Segundo o estudo, 45% do mercú rio usado em garimpos ilegais para a extração de ouro é despejado em rios e igarapés da Amazônia, sem qualquer tratamento ou cuidado. O mercúrio liberado de forma indiscriminada no meio ambiente pode permanecer por até cem anos, em diferentes compar timentos ambientais, e pode provocar diversas doenças em pessoas e em animais.

Garimpo no Uraricoera, Terra Indígena Yanomami. Peixes coletados na região mostraram maior índice de contaminação por mercúrio

Nas crianças, os problemas podem começar na gravidez. Se os níveis de contaminação forem muito elevados, podem ocorrer abortos ou o diagnós tico de paralisia cerebral, deformida des e malformações congênitas. Os menores também podem desenvolver limitações na fala e na mobilidade. Na maioria das vezes, as lesões são irreversíveis, provocando impactos na vida adulta.

Pesquisador Paulo Basta, que atua na Fiocruz
“O mercúrio é utilizado de uma maneira indiscriminada, nos garimpos ilegais, dentro da Terra Indígena Yanomami” Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz.
Crédito: Acervo Pessoal Crédito: Bruno Kelly Hay
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Voto ‘verde’: foco na Amazônia

Eleitores amazônidas querem maior conhecimento de governantes sobre a região e cobram gestão ambiental mais efetiva

municípios, ocupando 59% do território do País. A floresta, no entanto, vive sob recorrente pressão de ameaças de crimes ambientais como desmatamento, quei madas e exploração ilegal, e ainda vio lência. Todas as dimensões da Amazônia justificam o porquê dela estar no centro do debate político.

1.661 quilômetros quadrados de floresta derrubados.

MANAUS (AM) – Falar da Amazô nia Legal e da sua importância para o equilíbrio climático do planeta não dá a dimensão, muitas vezes, da verdadeira relevância do bioma para quem sobrevive na região, mas alguns números conseguem expressar, ainda que minimamente, o significado e o impacto da floresta na vida dos amazônidas: são 5 milhões de quilômetros quadrados de vegetação, que abrangem cinco países vizinhos, nove Estados brasileiros e 775

Nos Estados do Acre, Amapá, Amazo nas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Ron dônia, Roraima e Tocantins, que formam essa região, sobrevivem quase 30 milhões de habitantes. A palavra “sobreviver” é usada aqui para representar com o que os amazônidas lidam. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apenas nos sete primeiros dias de setembro, os incêndios no bioma chega ram a 18.374 focos de calor. Em agosto, o desmatamento alcançou o segundo maior valor do histórico recente do bioma, com

Os números são a “ponta do iceberg” da falta de governança, ou omissão, do Brasil com a sua política ambiental, o que vem chamando a atenção da imprensa nacional e internacional. E o que já era preocupante, ganhou repercussões estratosféricas após o assassinato do servidor licenciado da Fun dação Nacional do Índio (Funai) Bruno da Cunha Araújo Pereira, e do jornalista britânico Dominic Mark Phillips, o “Dom Phillips”, no Vale do Javari (AM), em junho deste ano. Ambos foram mortos por pescadores ilegais que atuavam na Terra Indígena Vale do Javari, na região do município de Atalaia do Norte.

Tanto o alto número de queimadas e o grande alcance do desmatamento, quanto os assassinatos no Vale do Javari exempli

ficam algumas questões socioambientais da Amazônia que se tornaram alvos dos candidatos às eleições deste ano, e objeto de preocupação dos eleitores que vão escolher os próximos senadores, deputados estaduais e federais, governadores e presi dente da República. A região amazônica possui um eleitorado de 20 milhões de pessoas, a maioria mulheres, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

E foi pensando em dar voz às opiniões e percepções de eleitores e eleitoras que o Instituto de Pesquisa Action lançou o levantamento “Eleições 2022 na Amazô nia”, coordenado pela Fundação Amazô nia Sustentável (FAS), em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS). A pes quisa inédita, que a REVISTA CENARIUM traz em detalhes na reportagem de capa desta edição, ouviu cerca de 3 mil pessoas nos nove Estados da Amazônia Legal e

mapeou o que esses eleitores esperam dos governantes em relação à região.

A consulta levantou, entre outros pontos, que os habitantes da Ama zônia consideram que a saúde, impactada pelas queimadas e contami nação de rios, peixes e solo por mercúrio, é um tema que deve ser priorizado. A necessidade de aliar a preservação ambien tal com o desenvolvimento econômico também é importante para os eleitores, assim como a expansão do ensino sobre a região nas escolas.

E, para não esquecer: apesar de sermos todos amazônidas, há particularidades e especificidades que transformam o todo em vários. Caberá, aos futuros gestores, a capacidade de lidar com as singularidades de cada “Amazônia” contida na grande Amazônia Legal.

30 milhões

De acordo com estimativa do IBGE, 30 milhões de pessoas vivem na Amazônia Legal, somando pouco mais de 20 milhões de eleitores. Marcela Leiros - Da Revista Cenarium
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O que querem os eleitores amazônidas?

MANAUS (AM) - Amazônia. Uma palavra poderosa e, cada vez mais, presente nos debates nacionais e internacionais sobre nosso futuro coletivo, que pode provocar uma série de associa ções na mente do leitor ou ouvinte. A maior floresta tropical do planeta; terra onde corre o Amazonas, nosso grande rio; o “pulmão do mundo” (clichê já descartado pela ciência); lar de uma bio diversidade surpreendente, que apenas começamos a conhecer. Talvez poucos liguem a Amazônia a um rosto, a uma face humana. Ou melhor, a um conjunto de rostos: indígenas, ribeirinhos, quilombo las, extrativistas. Caras da floresta, da vár zea, da terra-firme, do campo, das cidades, urbanas, periféricas. Plurais.

Múltiplos, assim são os amazônidas, os habitantes dessa vasta porção da Ama zônia no Brasil. Uma multidão de quase 30 milhões de pessoas, de acordo com estimativa de 2021 feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vivendo ao longo de nove Estados do País: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima

e Tocantins, na região conhecida como Amazônia Legal. Os amazônidas ocupam 59% do território do Brasil.

Apesar de ser casa para muitas e dife rentes identidades sociais, pouco espaço e diversidade de expressões é o que se vê para a Amazônia no campo político. Em uma análise puramente numérica, a quantidade de vagas somada de todos os Estados da Amazônia Legal na Câmara dos Deputados (91) representa menos de 18% do total de cadeiras (513). Quando verificamos então o perfil dos atuais ocupantes dessas vagas, percebe-se, rapidamente, uma maioria de representantes brancos e do sexo mascu lino. Onde está a multiplicidade de vozes dos amazônidas? Como elas estão sendo representadas na política nacional?

A partir dessas perguntas, a pesquisa “Eleições 2022 na Amazônia” ouviu elei toras e eleitores para mapear e entender as opiniões, críticas e desejos da população votante na Amazônia para o próximo pleito eleitoral.

O levantamento foi feito pelo Instituto de Pesquisa Action e coordenado pela

Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS). Entre maio e junho de 2022, foram entrevistadas 2.824 pessoas nos nove Esta dos da Amazônia Legal, com o uso de métodos quantitativos (abrangendo 2.776 do total dos entrevistados) e qualitativos (que compreendeu 48 pessoas).

De acordo com a coordenadora de Políticas Públicas e Cooperação Inter nacional da FAS, Giovana Figueiredo, o estudo inédito destaca-se pelo foco que dá às necessidades e manifestação de ideias dos amazônidas sobre a Amazônia no contexto eleitoral.

“A pesquisa foi inovadora no sentido de investigar como a população amazô nida relaciona as problemáticas locais da agenda socioambiental na Amazônia com a decisão de voto de sua população”, afirma. “Um dos maiores destaques da pesquisa diz respeito à representação e representatividade. Considerando que temos um sistema político democrático e proporcional, o fato de 49% das mulhe res amazônidas entrevistadas se sentirem pouco representadas no nível político

regional demonstra a fragilidade de nossas instituições e a importância de transformar a política a partir do voto”.

PRIORIDADES

Os participantes da pesquisa elencaram e atribuíram valores, em uma escala de 0 a 10, aos temas que devem ser priorizados na região amazônica nos próximos mandatos. Em primeiro lugar, veio a saúde, com nota 9,3, seguida pela educação (9,2), emprego e renda, segurança e combate à corrupção (todos com 8,8). O meio ambiente recebeu nota 8,3 nas avaliações.

Com relação aos tópicos sobre a Ama zônia, que deveriam estar nos projetos e serem debatidos durante as campanhas eleitorais, o “combate ao desmatamento” está no topo das respostas, com 41%, com a “preservação da floresta” (21,7%) e a “diminuição das queimadas” (13,2%) em segundo e terceiro lugares, respecti vamente. Garimpo, aumento das áreas de

Os povos da Amazônia ocupam 59% do território do Brasil, mas têm pouca representatividade nos espaços de poder Pesquisa inédita ouviu eleitoras e eleitores da região sobre prioridades, planos e projetos de futuro para a Amazônia Legal João Cunha - Especial para a Revista Cenarium Crédito: Ricardo Oliveira ASSUNTOS IMPORTANTES PARA O DEBATE POLÍTICO FONTE: Pesquisa “Eleições 2022 na Amazônia”
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Pesquisa apontou que entrevistados associam mais a Amazônia ao termo “preservar”. Os demais foram “nossa casa”, “vida”, “cuidar”, “bom lugar”, “amor” e “investimento”

conservação da floresta, desenvolvimento sustentável e poluição dos rios e igarapés também estão na lista.

O superintendente-geral da FAS, Vir gilio Viana, ressalta que os resultados da pesquisa “mostram, de forma muito clara e de maneira inédita, que a dimensão ambiental, ou melhor, os temas ambientais são muito importantes para o eleitorado da Amazônia. O estudo mostra, de forma específica, que o eleitorado é contra o des matamento, as queimadas e o garimpo”.

O crescimento recorde em número de focos de queimadas na Floresta Amazô

nica, especialmente durante a temporada seca, é uma pauta que ganhou destaque em agosto deste ano, com os efeitos dos incêndios chegando a grandes centros urbanos da região. No último dia 20 de agosto, Manaus amanheceu coberta pela fumaça das queimadas.

“A questão das queimadas representa uma fonte de doenças e de enfermidades para a sociedade, da mesma forma que a poluição de mercúrio, que está associada ao garimpo, representa também uma ame aça à saúde dos moradores da Amazônia”, reforça Virgilio Viana.

Amazônia e cuidado

Também foi pedido aos participan tes da pesquisa para que resumis sem o que pensam sobre a Amazônia com uma palavra, apenas. O termo mais mencionado foi “preservar”. Os demais foram “nossa casa”, “vida”, “cuidar”, “bom lugar”, “amor” e “investimento”.

Ainda segundo a pesquisa, 84,5% dos amazônidas concordam total mente que “a conservação da Ama zônia precisa fazer parte do plano de governo dos candidatos à Presidência nestas eleições”. Quase 80% acre dita que o País deve ter leis mais severas contra o desmatamento e 79,5% estão de acordo que os povos que vivem na floresta precisam ter seus direitos e vidas respeitados para garantir que a floresta permaneça viva. Além disso, 87,4% afirmam que as escolas deveriam ensinar mais sobre temas da Amazônia.

“A educação é o caminho para se transformar. É preciso ter uma edu cação inclusiva voltada para esses temas ambientais e sociais dentro das nossas escolas municipais”, diz Raimundo “Xexeu” Rodrigues, mora dor de uma comunidade ribeirinha no Médio Solimões e presidente da Associação de Moradores e Usuá rios da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Amurmam), no Amazonas.

CANDIDATO CONHECEDOR DE AMAZÔNIA

TEMAS DA AMAZÔNIA A SEREM DEBATIDOS

FONTE: Crédito: Ricardo Oliveira
Pesquisa “Eleições 2022 na Amazônia” FONTE: Pesquisa “Eleições 2022 na Amazônia”
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Bioeconomia e preservação

MANAUS (AM) - A Floresta Ama zônica possui a maior biodi versidade do mundo e explorar estes recursos naturais sem destruí-la é um grande desafio. Uma alternativa é a bioeconomia amazônica, apontada por especialistas como uma das formas mais eficazes de manter a Amazônia em pé, pro dutiva e estimulando o desenvolvimento para a região e todo o País.

Esta também é a opinião da maioria dos eleitores nos nove Estados da Amazônia Legal, segundo estudo encomendado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) para entender como a população amazô nida leva o bioma em consideração nas eleições. Os entrevistados acreditam que conservar a floresta em pé é benéfico para o desenvolvimento econômico, no entanto,

apenas 21,9% apresentaram algum conhe cimento sobre a bioeconomia.

Apesar disso, 68,3% de todos os entre vistados concordam totalmente que, para a economia da região, a floresta conservada vale mais do que desmatada. A maioria dos amazônidas entrevistados afirma que é da Amazônia conservada que virá o progresso para a região (59% dos participantes con cordam totalmente) e para o Brasil (62,7% dos participantes concordam totalmente), enquanto o percentual daqueles que dis cordam de alguma forma é inferior a 15%.

Sobre a possibilidade de gerar renda e emprego na Amazônia sem desmatar, o percentual de concordância é de 70%.

A presença e a função das Unidades de Conservação (UCs) que unem o cuidado com a floresta e o manejo sustentável

R$ 70,9 milhões

Levantamento realizado pela FAS constatou que, entre 2016 e 2019, iniciativas produtivas sustentáveis no Amazonas geraram R$ 70,9 milhões. Entre elas, estão as cadeias produtivas da farinha, pirarucu, castanha, cacau e açaí, entre outros.

70%

Apesar da maioria dos entrevistados pela pesquisa encomendada pela FAS desconhecerem o conceito de bioeconomia, 70% dos eleitores na Amazônia Legal afirmam ser possível gerar renda sem desmatar.

A cadeia produtiva sustentável do açaí é uma das mais rentáveis na Amazônia
“Engana-se quem acha que não existem negócios promissores e volumosos na bioeconomia amazônica. A FAS, por exemplo, apoia mais de 15 cadeias produtivas da bioeconomia”
Victor Salviati, superintendente de Desenvolvimento Institucional e Inovação da FAS.
Maioria dos amazônidas acredita que o desenvolvimento econômico não está ligado à destruição da floresta João Cunha – Especial para a Revista Cenarium
Crédito: Dirce Quintino Crédito: Dirce Quintino 2726 www.revistacenarium.com.br PODER & INSTITUIÇÕES REVISTA CENARIUMELEIÇÕES 2022

A bioeconomia amazônica para o Brasil

A bioeconomia é o conjunto de ati vidades baseadas no manejo e cultivo da biodiversidade do bioma, que agrega valor econômico para o desenvolvimento sustentável. Isso inclui cadeias produ tivas que vão desde os biocosméticos, passando pelo manejo sustentável de peixes, como o pirarucu, até o artesanato.

O modelo substitui a lógica do des matamento e garimpo ilegal por uma economia verde, regenerativa e inclusiva. O objetivo, além de valorizar os povos da floresta e a região, é reverter a pro ximidade do chamado “tipping point”, ou ponto de não retorno em português, termo utilizado para falar do nível de desmatamento em que a devastação é

irreversível para o bioma. Caso o cenário atual permaneça, os impactos negativos podem se estender ainda mais para toda a economia brasileira.

Por um lado, investidores estrangeiros vêm fazendo movimentações de desinves tir em empresas que contribuem direta ou indiretamente com a degradação do bioma. Isso já vem afetando nega tivamente a economia do Brasil, devido aos sucessivos recordes de desmata mento. Por outro lado, a oportunidade de investimento em negócios verdes, como os pequenos empreendimentos da bioeconomia amazônica, parece ser uma das soluções para reverter a crise finan ceira no País.

Outro ponto relevante é que um modelo econômico sustentável da região é mais lucrativo a longo prazo do que a exploração imediata. Um relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos sobre a res tauração de paisagens aponta que um hectare de floresta em pé na Amazônia, por exemplo, gera, em média, R$ 3,5 mil, por ano. O mesmo hectare desmatado para a pecuária daria um lucro de R$ 60 a R$ 100, por ano. Se usado para a soja, o valor seria de R$ 500 a R$ 1 mil, por ano. Considerando esse número para o bioma inteiro, o Brasil tem na bioeconomia um enorme potencial à disposição.

BIOECONOMIA AMAZÔNICA – VOCÊ CONHECE?

dos recursos naturais é reconhecida pela maior parte (61,8%) dos eleitores ouvi dos que afirmam ser possível gerar renda e emprego em áreas protegidas. Além disso, 57% dos participantes concordam com a visão de que a floresta conservada gera mais estabilidade financeira para a população regional.

Para Victor Salviati, superintendente de Desenvolvimento Institucional e Inovação da FAS, a Amazônia precisa ser reconhe cida e valorizada por sua bioeconomia. “Engana-se quem acha que não existem negócios promissores e volumosos na bioeconomia amazônica. A FAS, por exem plo, apoia mais de 15 cadeias produtivas da bioeconomia. Uma delas, o pirarucu, gerou mais de R$ 20 milhões, entre 2016 e 2020, por meio de feiras e venda direta. O turismo de base comunitária, apoiado pela FAS, desde 2012, faturou mais de R$ 4 milhões, em 2021”, comenta.

A Reserva de Desenvolvimento Sus tentável (RDS) Mamirauá, no Estado do Amazonas, é uma Unidade de Conserva ção pioneira no manejo sustentável de pirarucu e que, por meio da atividade, há mais de 20 anos, promove renda para os moradores locais e o equilíbrio das populações da espécie do peixe, assim como a saúde dos ecossistemas locais. Para Raimundo “Xexeu” Rodrigues, pre sidente da Associação de Moradores e Usuários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Amurmam), um

dos vetores para o crescimento da bioe conomia amazônica é a aliança entre os moradores locais, as políticas públicas e o investimento do setor privado.

“Trabalhar a bioeconomia amazônica é trabalhar a floresta, as pessoas e as empre sas. Não se constrói uma bioeconomia amazônica apenas com os ribeirinhos e a floresta, é preciso essa sincronia entre empresas, sociedade civil, que são as pes soas que usufruem desses produtos, junto com os povos da floresta, que é quem vive e cuida da floresta”, afirma.

Izolena Garrido, moradora, professora, artesã e liderança feminina na comunidade do Tumbira, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Negro, enfatiza que as questões de logística e educação devem entrar no mapa do que

precisa ser aprimorado para o desenvolvi mento da bioeconomia amazônica.

“Precisamos mostrar para o mundo que a Amazônia tem grandes potenciais e também fortalecer as cadeias produtivas, incluindo as pessoas por meio da educação ambiental, social e econômica, valorizando os fazeres e os saberes tradicionais de cada região. Conservar as pessoas nas comunida des por meio da capacitação é garantia de qualidade de vida”, destaca a artesã.

A pesquisa de opinião, encomendada pela FAS, foi feita pelo Instituto Action de Pesquisa e ouviu 2.884 pessoas nos nove Estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), entre entrevistas qualitativas e quantitativas, durante os meses de maio e junho.

A FAS pela bioeconomia amazônica

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) estimula e apoia as cadeias produ tivas sustentáveis em comunidades do interior da Amazônia, como uma forma de manter a floresta em pé e gerar empre gos, alinhando-se, dessa maneira, aos Objetivos de Desenvolvimento Susten tável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Um levantamento realizado pela FAS constatou que, entre 2016 e 2019, as iniciativas produtivas sustentáveis no

Amazonas geraram R$ 70,9 milhões. Entre elas estão as cadeias de produção sustentável da farinha, pirarucu, casta nha, cacau e açaí, entre outros.

Em parceria com a Green Economy Coalition (GEC), a FAS também secretaria o Hub de Bioeconomia Amazônica, rede que conecta, articula e amplifica expe riências e soluções de diversos atores para a promoção de uma bioeconomia inclusiva na Amazônia. Saiba mais em: bioeconomiaamazonica.org.

“Precisamos mostrar para o mundo que a Amazônia tem grandes potenciais e também fortalecer as cadeias produtivas, incluindo as pessoas por meio da educação ambiental, social e econômica”
Izolena Garrido, moradora, professora, artesã e liderança feminina na comunidade do Tumbira, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro.
Izolena Garrido, liderança feminina na comunidade Tumbira, em Manaus, ressalta que as questões de logística e educação devem ser aprimoradas para o desenvolvimento da bioeconomia amazônica Gomes
FONTE: Pesquisa Eleições 2022 na Amazônia
Crédito: Emile
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Saúde e a floresta

Entre a fumaça e a poluição, saúde é prioridade para eleitores da Amazônia Valdeniza Vasques – Especial para a Revista Cenarium

Os focos de queimada na Amazônia aumentaram, nos últimos anos, e são um agravante para a saúde na região

MANAUS (AM) - Todos os anos, aproximadamente a partir do mês de agosto, quando o calor do verão amazônico invade o Amazonas, a população passa a sentir os efeitos da subida da temperatura. Este cenário tem se agravado pela presença da fumaça das queimadas provocadas na Amazônia, que cobre os céus e afeta a saúde respiratória das pessoas.

O fenômeno é decorrente das queima das das regiões sul e sudeste do Amazonas e do oeste do Pará e já alcança os Estados de São Paulo, Paraná e até a Bolívia. No dia 22 de agosto deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou o pior dia de queimadas na região amazônica em 15 anos, com 3.358 focos detectados.

O aumento da atividade garimpeira ilegal na Amazônia é outro fator que traz agravos para a saúde da população.

Um relatório da Hutukara Associação Yanomami mostra que o desmatamento causado pelo garimpo e os “buracos” de

resíduos deixados pela atividade favore cem o aumento do número de mosquitos transmissores da malária, que é um dos fatores que colaboram para a desnutrição desses povos. Na aldeia Parima, na Terra Indígena Yanomami (TIY), em 2021, 95% dos moradores apresentaram a doença. O garimpo também favorece a poluição por mercúrio, que contamina o solo e os peixes.

Estes e outros fatores ligados à degra dação socioambiental ameaçam a saúde nas cidades e comunidades da Amazônia.

“As frentes de degradação ambiental na Amazônia transformam a região em um cenário desolador e trágico”, resume o ambientalista Carlos Durigan, diretor da WCS Brasil.

De acordo com o especialista, isso está relacionado, principalmente, às atividades criminosas que florescem quando a gestão pública está fragilizada ou não há interesse político em conter as ameaças. “Historica mente, os piores ciclos de degradação na Amazônia acontecem quando as políticas

públicas sociais, ambientais e econômicas se fragilizam. É o que estamos vivenciando agora”, alerta o ambientalista.

SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR

A saúde está entre as prioridades na agenda política dos eleitores amazônidas, como revela a pesquisa “Eleições 2022 na Amazônia”, feita pelo Instituto de Pes quisa Action e coordenado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS). O levantamento mostrou que a saúde é considerada tema prioritário para os próximos mandatos.

A pesquisa revela que 82,9% dos amazônidas concordam totalmente que a poluição das águas por mercúrio gerada pelo garimpo afeta negativamente sua saúde e a de suas famílias. Além disso, 83,2% dos entrevistados disseram o mesmo sobre os impactos negativos das queimadas na saúde coletiva.

O fotógrafo manauara Leonardo Mota, 28 anos, concorda com as afirmativas.

82,9%

Pesquisa encomendada pela FAS revela que 82,9% dos amazônidas concordam totalmente que a poluição das águas por mercúrio gerada pelo garimpo afeta negativamente sua saúde e a de suas famílias.

83,2%

Ao todo, 83,2% dos entrevistados na pesquisa concordam sobre os impactos negativos das queimadas na saúde coletiva.

gem com soro para amenizar, se não, não conseguimos dormir”, relata.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a ina lação da fumaça das queimadas, composta de monóxido de carbono e outros poluen tes, causa inflamações nas vias aéreas. Essas substâncias agem no organismo meses após a exposição.

Ele é uma das pessoas que sofre com os efeitos da fumaça das queimadas, que gera sintomas como espirros, tosse, coceira na garganta e irritação nos olhos. “Quando chega essa época do ano, tem o verão amazônico e também o problema das fumaças, que intensifica os sintomas para quem tem problemas de respiração. Aqui em casa, é comum ter que fechar todas as portas e janelas para evitar que a fumaça entre. Também fazemos inalação e lava

O aumento da presença da fumaça fez Leonardo refletir sobre as escolhas nas próximas eleições. “É importante pensar que essas condições que prejudicam tanto a saúde da população não são naturais e que nós, que moramos numa cidade tão próxima da floresta, precisamos escolher candidatos que enxerguem o tema da saúde e do meio ambiente de forma mais humana”, afirma o fotógrafo.

Para Carlos Durigan, o Brasil e a Ama zônia ainda podem solucionar os conflitos socioambientais, mas isso depende de uma boa aliança com a gestão pública. “Construímos experiências exitosas que aliam desenvolvimento humano, con servação e manejo de paisagens naturais e seus recursos. Vimos florescer experi ências voltadas ao uso sustentável destas áreas e a geração de renda para os povos amazônidas. O Brasil é signatário e faz parte das inúmeras frentes de construção de agendas positivas. O desafio é juntar esses ingredientes e, sob uma liderança pública responsável e inclusiva, evoluir, de fato, no conceito de que, ao termos uma natureza saudável e bem manejada, poderemos ter sim o desenvolvimento regional tão almejado, gerando riquezas e qualidade de vida”, diz.

O garimpo ilegal é também uma fonte de problemas à saúde, para a maioria dos entrevistados em pesquisa encomendada pela FAS

Impacto do garimpo e queimadas

A pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Alessandra

Nava explica que o garimpo é devasta dor para o bioma amazônico de vários modos: promove o desmatamento, contamina a água, causa problemas de saúde ocupacional para os garim peiros, desregula a cadeia alimentar e aumenta o risco de zoonoses. “O garimpo é o clássico exemplo de pri vatização dos lucros e socialização de prejuízos, que vão desde a perda de serviços ecossistêmicos até a morte de animais e pessoas e perda de bio diversidade”, afirma a pesquisadora.

Imagem de Manaus encoberta pela fumaça das queimadas na Floresta Amazônica Crédito:
Ricardo Oliveira Crédito: Christian Braga Greenpeace Crédito: Ricardo Oliveira 3130 www.revistacenarium.com.br PODER & INSTITUIÇÕES ELEIÇÕES 2022

Educar guardiões da floresta

Em áreas remotas da Amazônia, iniciativas mostram como transformar comunidades pela educação, uma prioridade no debate eleitoral

MANAUS (AM) - Educar na Ama zônia envolve uma série de desa fios e, entre os principais, estão a geografia e a logística necessárias para levar o ensino aos mais diversos povos e comunidades tradicionais.

A Floresta Amazônica ocupa uma área equivalente a, aproximadamente, 60% do território nacional e em se tratando de educação formal básica, existem muitos entraves para o desenvolvimento de polí ticas públicas, que vão desde a escassez e precariedade de espaços físicos até a ina dequação do currículo para a realidade de jovens e crianças que vivem junto à floresta.

E a educação é central para os amazô nidas, do interior e dos centros urbanos, quando o assunto são as Eleições de 2022.

A pesquisa, encomendada pela Funda ção Amazônia Sustentável (FAS) à empresa Action, apontou que 87,5% dos amazôni das concordam totalmente que as escolas deveriam ensinar mais sobre a Amazônia. Quando perguntados sobre qual é a cor relação da Amazônia conservada com a educação, a maioria respondeu que somente com uma educação desde a infância é pos sível garantir um futuro para a floresta, por meio da conscientização e do saber.

Foram entrevistados eleitores nos nove Estados da Amazônia Legal, para entender como a população amazonense pensa a sua realidade no contexto das eleições de 2022. Em uma tentativa de mitigar os pro blemas já existentes para que a educação seja prioridade no bioma, a FAS, maior instituição amazônida atuante no bioma,

Para a maioria dos entrevistados em pesquisa na Amazônia, somente com educação desde a infância é possível garantir futuro para a floresta, por meio da conscientização e do saber

realiza um conjunto de iniciativas que promove o acesso à educação relevante, aos direitos, à arte e à cultura, e à formação profissionalizante.

O Solar Community Hub é uma delas, fruto de uma parceria da fundação com a empresa Dell Technologies, que instala um projeto de tecnologia para ofertar capaci tação profissional, educação e saúde para cerca de 1,5 mil pessoas, entre indígenas e ribeirinhos do interior da Amazônia.

Segundo o superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana, as atividades con

Marcela Araújo, estudante.

“Os incentivos dados pelo projeto me fizeram acreditar que o futuro está em nós, jovens, e que a gente pode, de pequenos em pequenos passos, mudar e fazer a diferença na vida das pessoas”
Crédito: Samara Souza Crédito: Samara Souza 3332 www.revistacenarium.com.br PODER & INSTITUIÇÕES ELEIÇÕES 2022 REVISTA CENARIUM

Maria Cristina Pereira da Silva, mais conhecida como dona Cris, é uma lide rança respeitada no bairro Redenção, Zona Centro-Oeste de Manaus, e com o Projeto de Restauração Ecológica e Urbanização Sustentável na Amazônia (Reusa), inicia tiva na qual atua como coordenadora, é mais um grande exemplo de como a educação e o conhecimento conseguem impactar positivamente o ambiente em que estamos inseridos e as pessoas ao nosso redor.

A história do Reusa inicia com dona Cris que, após vencer um episódio de depres são, começou um projeto de crochê e de produção de artesanato para donas de casa da comunidade onde vive. Em pouco tempo e com o apoio da FAS, a iniciativa se fortaleceu, tornando-se um modelo de gestão sustentável, restauração urbana e de inclusão social em Manaus.

O projeto, construído no “rip-rap” do Igarapé do Gigante, realiza ações voltadas

Educação transformadora

para a educação ambiental, restaura ção ecológica, artesanato, capacitação ambiental e reciclagem. A iniciativa gera renda direta para 25 famílias de artesãs, entre moradoras do bairro, venezuelanas e indígenas, além de trazer benefício para mais de 300 famílias cadastradas no projeto, apoiadas em ocasiões especiais e em datas comemorativas, como Dia das Crianças e Natal.

Um dos maiores problemas urbanos da cidade, a poluição dos igarapés, também é um entrave no bairro Redenção. Para dona Cris, a conscientização ambiental que culmina no descarte correto de resíduos e no incentivo à reciclagem e reaprovei tamento de materiais é um dos desafios que ela encara diariamente. “A gente recolhe e trabalha com materiais como garrafa pet, papelão, CD, garrafa de água sanitária e alguns produtos a mais que não deixamos mais ir para o lixo, a gente recicla. Está sendo muito bom, graças a

Deus, e essas mulheres estão ganhando dinheiro com esse material”, comenta.

Criado em 2016, o Reusa transformou o comportamento de todos aqueles que, de forma direta ou indireta, são engajados nas mobilizações e atividades desempe nhadas. A poluição no igarapé em que está presente, diminui drasticamente, e o que seria lixo, é reaproveitado por meio do artesanato. As mulheres, que são a maioria no projeto, encontraram novas formas de geração de renda, por meio da sustentabilidade.

“Queremos mostrar que, apesar de sermos menos favorecidos, estamos na luta para que acabe o preconceito e a desigualdade com relação à comu nidade, à favela. Espero que as pes soas venham e conheçam mais como é o nosso trabalho. A gente está aqui de braços abertos para acolher todo mundo que bata na nossa porta”, fina liza dona Cris.

seguem alinhar o saber tradicional e o conhecimento científico contemporâneo para todos aqueles que são beneficiados.

“Nossa estratégia é fazer das pessoas empreendedoras da floresta, líderes de processos inovadores capazes de valorizar a biodiversidade, gerando emprego e renda, cuidando das pessoas para que elas cuidem da floresta”, ressaltou o superintendente.

Na prática, a multinacional de tecnologia, com apoio da FAS, implantou dois contê ineres de transporte conectados no meio da Floresta Amazônica para oferecer, por exemplo, atendimento de saúde, por meio de telemedicina, monitoramento ambiental e inclusão digital para jovens e adultos.

As ações também contam com as par cerias da Computer Aid International, Intel, Microsoft e o Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema).

O projeto está presente em uma área remota da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Amapá, no interior do Amazonas. Para os jovens que moram em comunidades desse local, diretamente beneficiados pelas atividades do Hub, a educação consegue cumprir o seu caráter mais básico quando se torna instrumento de mudança e constrói novas possibilidades para o futuro de cada um dos participantes.

Esse é o caso de Raimunda de Souza, de 26 anos, que por meio dos cursos oferecidos pelo projeto, conseguiu reforçar antigos conhecimentos e adquirir novas habilida des que podem a qualificar para diferentes oportunidades no mercado de trabalho.

“O que tem me ajudado bastante são os cursos de informática, eu já sabia um pouco, mas, devido à falta de prática, já não lembrava mais. No Hub, tive a opor tunidade de rever os conteúdos, do básico ao avançado, e isso me ajuda nos estudos e no trabalho”, afirmou Raimunda.

Já para Marcela Araújo, de 25 anos, as atividades trazem uma visão mais ampla do potencial que ela pode alcançar ao se engajar nos estudos e na capacitação pro fissional ofertada pelos cursos disponíveis.

“Os incentivos dados pelo projeto me fizeram acreditar que o futuro está em nós, jovens, e que a gente pode, de pequenos em pequenos passos, mudar e fazer a diferença na vida das pessoas”, destacou a estudante.

“Queremos mostrar que, apesar de sermos menos favorecidos, estamos na luta para que acabe o preconceito e a desigualdade com relação à comunidade, à favela”
Maria Cristina Pereira da Silva, dona Cris, liderança do bairro Redenção, em Manaus.
Dona Cris venceu uma depressão e deu início a um projeto de educação e sustentabilidade em Manaus Contêiner do Solar Community Hub, fruto de parceria entre a FAS e a Dell Technologies, projeto de tecnologia que oferece capacitação profissional, educação, inclusão digital e saúde para cerca de 1,5 mil pessoas, entre indígenas e ribeirinhos do interior da Amazônia Crédito: Samara Souza Crédito: Bruna Martins Crédito: Bruna Martins
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Txai Suruí, 25 anos - ativista indígena, coordenadora do Movimento Juventude Indígena de Rondônia da ONG Kanindé.

O mundo precisa entender a importância da Amazônia para o nosso futuro. Para vencermos a crise climática, precisamos salvar a Amazônia e fortalecer a luta de quem vem mantendo-a em pé, os povos indígenas. Sem Amazônia não temos clima, sem clima não temos planeta
e
SETEMBRO – MÊS DA AMAZÔNIA Crédito da Foto: Ricardo Oliveira

Muitas ‘Amazônias’ em uma

Pesquisa de opinião apontou diversidade de interesses e necessidades dos eleitores nos quatro Estados mais populosos da região João Cunha – Especial a Revista Cenarium

MANAUS (AM) - Do Monte Cabu raí até o Rio Cristalino, da Terra Indígena do Alto Turiaçu até a Reserva Extrativista do Alto Juruá, nenhum território é igual, muito menos as culturas, ideias e necessidades das populações que habitam as diversas ‘Amazônias’ contidas nessa região.

Além de averiguar a visão socioambien tal e as percepções dos amazônidas no contexto das eleições, a pesquisa realizada pela Action Instituto de Pesquisa, a pedido da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) também traçou um perfil do eleito rado nos quatro Estados mais populosos da Amazônia: Pará, Amazonas, Maranhão e Mato Grosso. O resultado mostrou dife renças entre os eleitores.

AMAZONAS

Para a maioria do eleitorado do Ama zonas, o conhecimento das questões ama zônicas é um fator importante na escolha do próximo presidente. Em resposta à pesquisa, 62,4% dos eleitores responderam que o conhecimento sobre a região e a defesa da floresta são fatores que influen ciam o voto.

Entre os temas mais citados pelos entre vistados do Amazonas como importantes para o desenvolvimento da região estão: combate ao desmatamento (43,3%), pre servação da floresta (21,9%) e diminuição das queimadas (12,5%).

Questões sobre desenvolvimento sustentável, combate ao garimpo ilegal, aumento das áreas de conservação na flo resta, poluição de rios e igarapés, recursos

aos povos indígenas e ribeirinhos, con servação de terras indígenas, exploração ilegal de madeira, bioeconomia, ecotu rismo, fiscalização de recursos naturais e a importância de fazer o Polo Industrial de Manaus (PIM) se envolver na conser vação da floresta através da bioeconomia também fazem parte dos temas que os eleitores do Amazonas esperam dos novos governantes.

PARÁ

Outro eixo de investigação da pesquisa diz respeito aos meios de comunicação que as pessoas usam para buscar informações sobre a Amazônia. No caso dos entrevista dos do Pará, a televisão liderou como fonte de informação, com 48,9% das respostas, seguida de portais on-line de notícias (22,8%), plataformas digitais como o YouTube (11,1%) e redes sociais como Instagram (17,3%) e Facebook (15,2%).

Quando se trata de consulta a terceiros para decidir o voto, os paraenses se mostra ram reservados, a maioria não confiando em outros para formar a opinião (42,8%). Outro grupo significativo dos entrevistados (41,8%) prioriza a avaliação de família e amigos para escolher as candidatas e candidatos.

MATO GROSSO

O Mato Grosso possui uma porção expressiva da Amazônia brasileira. Pergun tados sobre os assuntos mais relevantes para o debate político nas eleições, em uma escala de 0 a 10, os entrevistados no Estado apresentaram uma ligeira diferença da lista geral da Amazônia Legal, com a

saúde aparecendo em segundo lugar, com 9,2 de avaliação, e educação, segurança e combate à corrupção assumindo a dian teira com uma diferença de 0,1, todas recebendo a nota 9,3.

Em relação aos temas que importam para a região amazônica, os percentuais das respostas também apresentaram dife renças de relevo em comparação à média dos eleitores amazônidas, com o combate ao desmatamento aparecendo em 30,7%, a preservação da floresta representando 25% dos resultados e o desenvolvimento sustentável em terceiro lugar com 13,6%.

MARANHÃO

A Amazônia maranhense é um trecho do bioma que se encontra sob intensa exploração e ataque. O eleitorado do Estado demonstra baixo nível de confiança em figuras públicas quando se trata de opi niões ou informações vindas dessas fontes sobre a região amazônica, com 48,2% não confiando em ninguém. Apenas 22,3% dos entrevistados confiam em políticos quando o tema é Amazônia.

Em uma análise sobre bem-estar e meio ambiente, a maior parte do eleitorado maranhense (91,7%) concorda totalmente que “as árvores nas ruas e praças podem diminuir o calor e melhorar a qualidade de vida”. Na mesma linha, 92,5% apontam que a despoluição dos igarapés e rios têm um impacto positivo na qualidade de vida. Outro ponto de concordância majoritário (90,4%) é que a conservação da Amazônia precisa fazer parte do plano de governo dos que se candidatam à Presidência da República.

para
Fonte: Pesquisa Eleições 2022 na Amazônia CONCORDÂNCIA COM AS AFIRMATIVAS 39 PODER & INSTITUIÇÕES REVISTA CENARIUMELEIÇÕES 2022 38 www.revistacenarium.com.br

RC - Você afirma, com frequência, que a Amazônia é “grande demais para falir”. Para você, qual é então o segredo para investir na região e conservar a floresta em pé?

“A Amazônia é grande demais para falir”

MANAUS (AM) – “A Amazônia é grande demais para falir”: essa é uma das analogias a que Virgilio Viana recorre, frequentemente, para expli car ☻o papel da Amazônia. Assim como o mercado financeiro mundial defendia que Wall Street era “too big to fail”, Virgilio enxerga a Amazônia como o maior patri mônio brasileiro e um ativo estratégico para o País e para o mundo, principal mente no atual contexto das mudanças climáticas que ameaçam o planeta. Por tudo isso, segundo ele, a Amazônia não pode falhar.

Nascido em Belo Horizonte (MG), mas praticamente amazonense de coração, Virgilio é o atual superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), organização da sociedade civil sem fins lucrativos, criada em 2008, com sede em Manaus, e que trabalha em prol da con servação da Amazônia e da promoção do desenvolvimento sustentável na região por meio de projetos de educação, empreen dedorismo, turismo e saúde, entre outros.

“Conseguimos chegar a mais de 8 mil territórios, entre aldeias e comunidades, e mais de 600 mil beneficiários. Mui tas vezes, nossos colaboradores fizeram

viagens de até 15 dias para poder che gar até essas pessoas”, adianta ele. “Esse grande desafio nos levou a conquistar o reconhecimento como Melhor ONG do Brasil, em 2021, em uma avaliação que envolveu mais de 1 mil instituições, feita pelo Instituto Doar”.

A história de Virgilio com a Amazô nia começou um pouco antes, porém: ele conta que se apaixonou pela região durante uma viagem de barco, na ado lescência, em que foi de Porto Velho a Manaus “pingando”, de cidade em cidade, por mais de uma semana. Anos mais tarde, ele se mudou de vez para Manaus, para assumir um novo desafio, como primeiro secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazo nas, cargo que ocupou de 2003 a 2008. À frente da pasta, ele foi responsável por reduzir o desmatamento no Estado em mais de 60%, além de ajudar a ampliar a área das Unidades de Conservação (UCs) de 7 para 16 milhões de hectares.

O currículo de Virgilio segue extenso: formado em engenharia florestal, ele também é doutor em Biologia Evolutiva, pela Universidade de Harvard, e possui pós-doutorado em desenvolvimento sus

tentável, pela Universidade da Flórida. Além da sua atuação na FAS, hoje Viana é também professor associado da Fun dação Dom Cabral (FDC) e, desde 2021, foi nomeado pelo Papa Francisco como o único brasileiro integrante da Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, Virgilio conversou um pouco sobre os objetivos e desafios da FAS e o cenário atual de conservação da Amazônia e crise climática, especialmente em meio às elei ções deste ano no Brasil.

REVISTA CENARIUM - Quais são os principais objetivos da fundação atu almente?

VIRGILIO VIANA - Dentre os objetivos principais da FAS hoje, nós temos, de um lado, a redução do desmatamento e da degradação ambiental, e do outro, a erradicação da pobreza extrema e a redu ção das desigualdades sociais. O que une ambos é a estratégia de fazer a floresta valer mais em pé do que derrubada, que foi uma expressão cunhada por nós, aqui no Amazonas, na época em que eu era secretário. Esse é o nosso grande desafio, que é norteado por uma estratégia de

“É muito mais barato conservar a Amazônia do que deixá-la ser destruída. Além disso, é uma questão de interesse nacional”

cuidar das pessoas que cuidam da floresta. Nós olhamos para o desafio da agenda ambiental sob uma ótica social. Afinal, não é possível conservar a natureza numa situação de pobreza e de desamparo. Nós temos que melhorar a vida das pessoas que são as guardiãs da floresta.

RC - Você é natural de Minas Gerais, a quilômetros de distância do Ama zonas. Como surgiu essa paixão pela natureza e pela Floresta Amazônica?

VV - Meus primeiros anos de vida foram marcados por uma convivência intensa com a natureza no sítio que os meus pais tinham em Lagoa Santa, Minas Gerais, e foi ali que eu aprendi duas coisas principais: primeiro, conhecer e me deliciar com a interação com a natureza, fazendo cabanas no alto da árvore. Depois, ao longo da minha convivência na Amazônia e meus trabalhos de campo, aprendi a admirar e respeitar o saber dos caboclos. A meu ver, conviver com a natureza é um elixir para a vida, é uma coisa que me move e me dá força para seguir lutando pelos ideais de defender a floresta e os povos que são seus guardiões.

VV - Sim, uso essa analogia com frequên cia, pois funciona bem: em 2008, dezenas de bilhões de dólares foram movimenta dos para salvar os bancos durante a crise econômica dos EUA. Da mesma maneira, é muito mais barato conservar a Amazônia do que deixá-la ser destruída. Além disso, é uma questão de interesse nacional. A chave é uma ação coordenada entre todos os ato res: a esfera pública, as empresas privadas e as organizações da sociedade civil. Uma pesquisa realizada pela gigante de comuni cação Edelman, em 2021, aliás, corrobora essa ideia de que as ONGs podem liderar esse processo: no Brasil, as Organizações Não Governamentais foram consideradas pelos entrevistados como as instituições mais capazes de coordenar esforços inte rinstitucionais para solucionar problemas da sociedade, à frente das empresas, da mídia e do governo.

RC - A FAS lançou, recentemente, uma pesquisa realizada pelo Instituto Action que mostra que o eleito rado amazônico entende que a região deve ser um tema prioritário para os candidatos aos governos. Segundo a pesquisa, por exemplo, 56,5% do eleitorado acredita que a região não recebe a importância que merece nos debates políticos. O que você pensa sobre isso?

VV - Os resultados dessa pesquisa mos tram, de forma muito clara e de maneira inédita, que a dimensão ambiental é muito importante para o eleitorado da Amazônia. Os dados revelam, por exem plo, que o eleitorado é, em sua maioria, contra o desmatamento, as queimadas e o garimpo ilegal. Afinal, todas essas ile galidades representam fontes de doenças para a sociedade: é só pegarmos os casos de poluição de mercúrio, associada dire tamente ao garimpo, por exemplo. Esse levantamento mostra que os moradores da Amazônia acreditam na floresta em pé como uma oportunidade relevante para a geração de empregos e para o futuro. Por outro lado, os resultados também mostram

que a sociedade amazônida está insatis feita e demanda dos órgãos públicos mais eficácia na despoluição dos igarapés e dos rios, na despoluição do ar e, em especial, no combate às queimadas. Há ainda um desejo da população pelo aumento das áreas verdes urbanas, incluindo a arbo rização, como uma forma de diminuir o calor térmico típico da Amazônia, em especial no período mais seco decorrente das temperaturas mais altas.

“A sociedade amazônida está insatisfeita e demanda dos órgãos públicos mais eficácia na despoluição dos igarapés e dos rios, na despoluição do ar e, em especial, no combate às queimadas”

A floresta guia não só o trabalho de Virgilio Viana, mas também sua casa e sua rotina Virgilio Viana durante a posse na Academia do Vaticano Gabriel Oliveira - para Em abril de 2022, Virgilio recebeu, das mãos do Papa Francisco, a insígnia de membro da Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano Crédito: Gabriella Clare Marino
Superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgilio Viana fala sobre objetivos e desafios na defesa do meio ambiente, em meio às eleições deste ano
Especial
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Crédito: Gabriella Clare Marino Crédito: Michael Dantas 41 PODER & INSTITUIÇÕES REVISTA CENARIUMELEIÇÕES 2022 40 www.revistacenarium.com.br
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Combate ao assédio

Tribunal de Contas do Amazonas institui ações para coibir discriminação e abusos no ambiente de trabalho

Adríssia Pinheiro – Especial para a Revista Cenarium

O TCE-AM instituiu, no mês de agosto, a Política Institucional de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio e à Discriminação, elaborada por um comitê formado apenas por servidoras da Corte de Contas

MANAUS (AM) - Considerando o dever da administração pública de garantir o bem-estar funcional em um ambiente de trabalho harmônico, o Tribunal de Contas do Estado do Amazo nas (TCE-AM) oficializou ações voltadas à prevenção e ao enfrentamento ao assédio e à discriminação. As ações estão sendo desenvolvidas desde o início deste ano, mas, desde o mês de agosto, de forma inédita, o TCE-AM instituiu uma Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio.

A política faz parte de um cronograma de ações a partir de uma iniciativa da Presidência e da Corregedoria da Corte de Contas do Amazonas, que teve como

base uma recomendação do  Instituto Rui Barbosa (IRB) e da Associação dos Tribu nais de Contas do Brasil (Atricon), em um movimento nacional para estimular o combate ao assédio e à discriminação dentro dos órgãos públicos.

“A nossa Corte de Contas cultua os bons valores e esses valores são incompatíveis com qualquer tipo de assédio ou discri minação. Damos início ao programa que vai perdurar por muito tempo, até que possamos ter uma instituição compromis sada com esses valores, a fim de garantir o melhor para todos em convivência”, ressaltou o presidente do TCE-AM, con selheiro Érico Desterro.

A Política Institucional de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio e à Discrimi nação foi elaborada por um comitê - for mado apenas por servidoras da Corte de Contas - e segue os deveres constitucionais e princípios da dignidade humana, cujo objetivo é estabelecer parâmetros volta dos para a prevenção de situações que caracterizam assédio e/ou discriminação e, assim, promover a permanência dos valores profissionais e psicossociais dos servidores do TCE-AM.

“Estamos seguindo uma iniciativa de movimento nacional dos Tribunais de Contas e que vai fazer com que o relacio namento entre a comunidade fique em

cializada na Resolução n.º 5, servidora Rita Carvalho, a inserção do programa desperta a sensibilização dos servidores, trazendo as definições, onde ele se aplica e quais as formas de intervenção.

“Nós já passamos da fase de iniciativa feita pelos conselheiros. A partir de agora, é preciso caminhar para a sensibilização dos servidores. Às vezes, o servidor pode achar que não é importante, que não pratica e nem acontece com ele, então é, realmente, o momento de apresentar o cenário dessa pauta essencial para a comunidade do Tribunal de Contas do Amazonas e agir de acordo com a política que foi elaborada”, explicou a presidente do Comitê, Rita Carvalho.

A política foi apresentada aos servido res no dia 30 de agosto, em uma soleni dade que contou com a participação das especialistas Isabelle Honorato e Luciana Bertachini. Elas palestraram sobre a impor tância da conscientização sobre o tema e as particularidades que ele aborda diante dos ambientes da sociedade.

“Estamos seguindo uma iniciativa de movimento nacional dos Tribunais de Contas e que vai fazer com que o relacionamento entre a comunidade fique em harmonia”

Ari Moutinho, conselheiro corregedor do TCE-AM.

harmonia, sabendo seus limites legais, morais e éticos”, destacou o corregedor da Corte de Contas, conselheiro Ari Mou tinho Júnior.

POLÍTICA INSTITUCIONALIZADA

O Tribunal de Contas já vinha traba lhando com ações de enfrentamento ao assédio e à discriminação e já contava com canais e pesquisas de satisfação sobre como os servidores realizam suas ativida des. No entanto, a Política de Prevenção e Enfrentamento foi criada para centralizar essa linha de segurança para o servidor.

De acordo com a presidente do comitê que elaborou a Política Institucional ofi

Crédito: Ana Cláudia Jatahy TCE-AM Crédito:
Divulgação | TCE-AM 4544 www.revistacenarium.com.br REVISTA CENARIUMPODER & INSTITUIÇÕES

Coluna Via Brasília

FOCANDO NO GENÉRICO

LULA QUER RECUPERAR FISCALIZAÇÃO

BOLSONARO E A SOBERANIA

Na falta de vontade de implantar propostas que freiem a marcha da “boiada passando” na Amazônia, o presi dente e candidato à reeleição, Jair Bolso naro (PL), limita-se, em seu plano de governo, a um balanço das ações desenvolvidas nos últimos anos de combate às queimadas e ao desmatamento. O texto mantém firme o habitual negacionismo

ambiental e omite dados oficiais sobre a aceleração da devasta ção do bioma ocasio nada pela adoção de uma agenda anti-am biental e anti-indígena. Num dos pontos, o plano de governo de Bolsonaro segue pondo em xeque os sistemas de monitoramento oficiais, falando da “necessidade de se adotar tecnologias mais confiáveis”.

BLÁ-BLÁ-BLÁ

No mais, o plano do atual presidente para a Região Amazônica é um compilado de promessas vagas para a política ambiental e uma enxurrada de conceitos que vão de “desenvolvimento sus tentável” ao “mercado de carbono”, até o “hidrogênio verde”. O texto bate no sur rado discurso sobre a “soberania do Brasil”, como se essa fosse a questão central, e não o desmatamento e os garimpos ilegais, que envolvem o crime organizado brasileiro em conluio com o dos países fronteiriços. O documento ainda trata da regularização fun diária e da “concessão de áreas de floresta ao setor privado como base para a explora ção racional e susten tável da Amazônia”, outro tema sensível.

No capítulo que trata do meio ambiente, o programa de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lista os chamados 121 “com promissos para a recons trução e transformação do País”, o candidato promete combater o uso predatório dos recursos naturais e estimular as atividades econômicas com menor impacto eco lógico. “Para isso, será necessário recuperar as

capacidades estatais, o planejamento e a parti cipação social, fortale cendo o Sistema Nacional de Meio Ambiente e a Funai”, diz o texto. Ao se comprometer em se aliar ao esforço mundial para combater a crise climática, Lula aposta no avanço da transição ecológica e energética para garantir o futuro de uma “economia verde inclusiva”. Tudo ainda no plano do genérico.

CIRO PROPÕE ZONEAMENTO ECOLÓGICO

Durante a campanha à pre sidência da República pelo PDT, Ciro Gomes dedicou o que chamou de “linhas gerais” de seu programa de governo à agenda ambiental. O docu mento sustenta que é essencial realizar o zoneamento econô mico e ecológico no País, em especial na Região Amazônica, para defender os ecossistemas. “Uma estratégia de desenvol

vimento regional, associada à maior segurança fundiária, pode contribuir muito para a redução do desmatamento, para conci liar lavoura, pecuária e floresta”, diz ele. Ciro também menciona o incentivo a fontes de energias sustentáveis e “o respeito e pre servação das terras indígenas”. Em resumo, apresentou um plano um pouco mais consis tente.

DESMATAMENTO ZERO, DIZ TEBET

Dentre os quatro eixos principais do programa de governo apresentado por Simone Tebet (MDB), um deles aborda o tema “economia verde e desen volvimento sustentável”. Inicia com o compromisso de “desmatamento ilegal zero” e promete passar o “pente fino” em todas as medidas tomadas pelo atual governo que resultaram em incentivo ao desmatamento e à devastação”. Com histórica ligação com o agronegócio, Tebet sustenta que a maioria do agro produz com sustentabilidade e propõe criar uma “lista suja” de pessoas e empresas que promovam desmatamento, invasões, mineração e emissões ilegais de gases do efeito estufa.

QUATRO MAIS BEM PONTUADOS

Diante do número de 12 candidatos à Presidência, a Coluna Via Brasília optou por abordar as propostas dos quatro primeiros melhor pontuados em todos os institutos de pesquisa divulgados até 11 de setembro. A maioria ficou mesmo no genérico e na superfície.

KARIPUNAS SOB ATAQUE

Em meio à pior era de queimadas da história da Amazônia, indígenas do povo Karipuna, em Rondônia, denun ciam estar largados à própria sorte para escapar ao cerco dos invaso res e do fogo que consome a Terra Indígena Karipuna. Homologada em 2018, a terra se estende entre os municípios de Porto Velho e Nova Mamoré. Em 2019, o MPF informava haver “atuação criminosa de madei reiros e grileiros, sendo constatado que 11 mil hectares já foram devas tados em razão da exploração ilí cita”. “A gente tem denunciado isso, mas não resultou em nada. Estamos sós”, diz o líder Adriano Karipuna.

Candidatos à presidência sem planos consistentes para salvar a Amazônia do desastre ambiental* Crédito: Ricardo Stuckert | Fotos Públicas Crédito: Marcelo Camargo | Ag Brasil Crédito: Wilson Dias | Ag Brasil 4746 www.revistacenarium.com.br REVISTA CENARIUM

O que é?

É uma doença transmitida pelo vírus monkeypox, pelo contato próximo e prolongado com uma pessoa infectada.

A transmissão ocorre por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias (liberadas ao tossir ou falar) e materiais contaminados.

Prevenção começa que

Como é transmitida?

A transmissão ocorre por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias (liberadas ao tossir ou falar) e materiais contaminados, como roupas de cama, por exemplo.

Sintomas: Febre muscular e

Como prevenir:

•Use máscara

•Lave as mãos com água e sabão

•Use álcool em gel

•Evite o contato íntimo ou sexual com pessoas com sintomas

informação.com O
você precisa sabersobre a Varíola dos Macacos.
•Dor de cabeça •Dor
nas costas •Bolhas e feridas na pele que coçam e doem •Cansaço excessivo • Calafrios

MANAUS (AM) – Com a tabela do Imposto de Renda (IR) sem cor reção e com a previsão do novo salário mínimo para 2023, no valor de R$ 1.294, brasileiros que, atualmente, são isentos do IR deverão passar a pagá-lo. Quem receber 1,5 salário mínimo mensal mente, ou seja, R$ 1.941, terá que acertar as contas com a Receita pela tabela atual.

O crescimento da inflação no País combinado com a falta de reajustes na tabela do IR gera um aumento histórico da tributação sobre os trabalhadores com menor poder aquisitivo.

De acordo com uma simulação feita pelo Sindifisco Nacional, que representa os auditores fiscais da Receita Federal, uma pessoa que recebe R$ 5 mil, após deduções,

paga, atualmente, R$ 505,64 de IR, no entanto, caso a defasagem da tabela fosse corrigida, esse valor seria reduzido para R$ 24,73, uma diferença de quase 2.000%.

Segundo a entidade, caso a tabela do IR tivesse sido corrigida pela inflação, “nenhum contribuinte cuja renda tribu tável mensal fosse inferior a R$ 4.427,59 pagaria o imposto”.

O presidente do Sindifisco Nacional, o auditor fiscal Isac Falcão, registrou que quando não há a correção da tabela, o tributo acaba atingindo os mais pobres, que perderam seu poder de compra ao longo do período.

“Não corrigir a tabela é uma forma de aumentar o imposto para essa numerosa

parcela da população que, além de arcar com o IR, precisa também lidar com os tributos indiretos, que incidem sobre o consumo”, concluiu.

Para o presidente do Conselho Regio nal de Contabilidade do Amazonas (CRCAM), Manoel Júnior, a estagnação da tabela do Imposto de Renda há mais de 20 anos impossibilita o poder de com pra de muitas pessoas.

“No momento de quase recessão, isso tira o poder de compra do brasileiro. Vai tirar a comida da mesa do brasileiro com essa inflação que já vem corroendo o nosso dinheiro”, enfatizou Júnior, ao dizer ainda que o governo vem batendo recordes de arrecadação dos impostos.

Projetos de Lei

No Senado, existem vários projetos prevendo a correção da tabela da pessoa física e o aumento da faixa de isenção, entre eles, os PLS 46∕2018, PLP 125∕2019, PL 2988∕2019, PL 999/2021 e PL 1198∕2022.

O projeto do senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB da Paraíba, atualmente em análise na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), determina que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) conte nha a previsão de atualização da tabela progressiva mensal do Imposto de Renda sobre os rendimentos de pessoa física

pela variação acumulada no ano ante rior do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA.

A necessidade da correção dos valo res da base de cálculo de Imposto de Renda é um apelo enorme da sociedade. Com isso, o poder de compra das pes soas de baixa renda fica corroído, sendo estes os mais afetados. De acordo com especialistas, a correção da tabela do IR beneficia o bolso do trabalhador, aumenta o consumo e, consequente mente, a melhora da economia.

2.000% De acordo com simulação feita pelo Sindifisco Nacional, se a tabela do IR fosse corrigida, a diferença do valor a pagar anualmente por uma pessoa que recebe R$ 5 mil seria de 2.000%. Falta de reajustes na tabela do IR gera aumento de tributação para trabalhadores com menor poder aquisitivo CARGA (TRIBUTÁRIA) PESADA Sem reajustes do IR e com novo salário mínimo, brasileiro de baixa renda vai pagar mais tributos Eliziane Paiva – Da Revista Cenarium Crédito: Ricardo Oliveira REVISTA CENARIUM 5150 www.revistacenarium.com.br ECONOMIA & SOCIEDADE

HERANÇA DA ESCRAVIDÃO

No Brasil, negros são a maioria das vítimas de intervenção policial; ‘É estrutural nas corporações desde a criação’, diz sociólogo Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

aqui é um resumo de todos os fatores para que se entenda essa violência contra os negros”, resume Luiz Antônio.

QUESTÃO SOCIAL

A página 87 do Anuário destaca que o “racismo que vitima os negros brasileiros não resulta de uma característica exclusiva das polícias, mas é consequência de uma demanda social estrutural, institucional e histórica, que reservou ao negro o lugar de problema a ser eliminado na transição pós-abolicionista”.

Na mesma linha, o professor e soció logo afirma que: “é óbvio que não pode mos dizer que essa é uma cultura somente da polícia, é da sociedade, assim como é cultura do escravismo. Eu costumo lem brar que o escravismo não foi uma prática de donos de escravos, de homens escra

MANAUS (AM) – Publicado em junho deste ano, o 16° Anu ário Brasileiro de Segurança Pública aponta que do total de 6.145 mortes por intervenção policial, em 2021, 84,1% eram negras e 15,8% eram brancas. O anuário é elaborado pelo Fórum Bra sileiro de Segurança Pública, que reúne e compara os dados oficiais disponíveis sobre a violência no País.

Ainda que tenha ocorrido uma redução de 4,9% em relação às 6.413 mortes, em 2020, a taxa de mortalidade por ações de policiais militares e civis, ao longo do tempo, ainda chama a atenção da popula ção, principalmente, quando o fator racial entra em pauta. Na leitura do sociólogo e professor da Universidade Federal do Ama zonas (Ufam) Luiz Antônio Nascimento, o histórico negativo da violência policial no Brasil, dentre outros pontos, deve-se ao racismo que faz parte da estrutura das corporações desde a criação.

“Do ponto de vista temporal, nós fala mos de uma polícia que tem entre 120 e 130 anos. Essas polícias, antes de serem militares, eram forças públicas e quase todas elas nascem de forças auxiliares, desde os meados do império. E todas elas, independente do Estado e idade, têm uma característica muito clara, que é proteger a elite empresarial, elite branca, das classes perigosas. E quem eram considerados de

classe perigosa? Eram os trabalhadores de modo geral e, em especial, homens e mulheres negras”, explica o sociólogo.

FATORES EM RESUMO

De acordo com o levantamento, do total de homicídios dolosos (quando há intenção de matar), 77,6% das vítimas eram negras e 22% brancas; no caso de latrocínio, 67,6% das vítimas eram negras, enquanto 32% brancas. O sociólogo atenta ainda para o olhar dispensado aos jovens negros no Brasil. Segundo Luiz Antônio, as polícias, em geral, são treinadas para olhar os jovens negros como uma ameaça.

“Se observarmos não necessariamente nos manuais de formação destas institui ções, mas na prática cotidiana, os policiais são treinados para olhar os jovens negros, pobres e periféricos como perigosos e, ao mesmo tempo, temos, desde o perí odo escravista, a cultura da violência, do impacto e agressão sobre o corpo humano, e que foi naturalizado isso”, relembra o sociólogo que complementa:

“O livro didático de história, até o início dos anos 1980, mostrava a figura de Tira dentes esquartejado, então, essa ideia de destruir o outro, de esquartejar, tem a ver com a destruição da existência do outro e isso tudo ainda é presente, é presente nas Forças Armadas, nas forças auxiliares também, que têm o negro como grupo perigoso, ou seja,

De acordo com o 16º Anuário de Segurança Pública, do total de homicídios dolosos (quando há intenção de matar), 77,6% das vítimas eram negras e 22% brancas.

Luiz Antônio Nascimento, sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

vizados, foi a sociedade brasileira que escravizou homens e mulheres que eram livres em seus Estados nacionais e foram sequestrados e trazidos para o Brasil e submetidos à escravidão por mais de 300 anos. Tudo com muita violência com o corpo do outro, por ser diferente de mim e quem é diferente de mim? É o negro, é a mulher, indígenas, pobres, imigrantes e a todos foi admitida a violência e a destruição de suas existências”, explica.

Outros dados

Conforme o estudo, entre os policiais civis e militares que também são alvos de mortes vio lentas, quase 68% são negros.

Em 2020, foram 222 casos e 190 em 2021. Quando o estudo foca nos casos de feminicídio, 62% das vítimas são negras e 37,5% são brancas.

Desde o ano de 2013, perí odo em que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública começou o processo de monitoramento de mortes ocorridas em inter venções policiais, ao menos 43.171 pessoas foram vítimas de ações. No entanto, este índice

não inclui números de mortes ocasionadas por intervenções de policiais federais e rodoviários federais.

Vale lembrar que, segundo o Instituto Brasileiro de Geogra fia e Estatística (IBGE), 56% da população brasileira é negra. O documento com mais de 500 páginas traz dados sobre outras pautas relacionadas à segurança no Brasil, como violência domés tica, violência sexual, injúria racial e LGBTQIAP+, crimes con tra o patrimônio e a violência contra crianças e adolescentes, entre outros.

“Os policiais são treinados para olhar os jovens negros, pobres e periféricos como perigosos e, ao mesmo tempo, temos, desde o período escravista, a cultura da violência”
77,6%
Crédito: Acervo Pessoal Crédito: Fernando Frazão Ag Brasil Crédito: Fernando Frazão | Ag Brasil 5352 www.revistacenarium.com.br REVISTA CENARIUMECONOMIA & SOCIEDADE

Amazonas Província

nacional. Vivia-se a Revolução Industrial, em 1839, Charles Goodyear inventava a vulcanização, que seria a borracha que a gente conhece hoje, e foi usada como pneu de automóvel e bicicleta. Então, o único lugar do mundo em que existia era aqui [no Amazonas]. Era preciso criar um governo local”, explica.

POLÍTICA

Havia também motivações políticas. Uma nova província resultava, consequen temente, na criação de novos cargos. Os principais beneficiados foram pessoas do Estado, do qual o Amazonas acabara de se tornar independente.

“Criar uma província significava criar cargos públicos, governador, secretário, funcionários, soldados, médicos, professo res. Então, havia muito interesse do Pará de se separar e criar a província, exatamente, para disponibilizar cargos, mas todos os projetos eram de paraenses, observe que o nosso primeiro governador [Tenreiro Aranha] era paraense”, acrescenta Lima.

BRASÍLIA (AM) – A data de 5 de setembro é um dia de celebração para o Amazonas. Há 172 anos, o Estado, antes capitania de São José do Rio Negro, foi elevado à categoria de província e se tornou independente do Grão-Pará (atualmente o Estado do Pará). A mudança, instituída em 1850, foi um grande marco na conquista da autonomia política e econômica da unidade que já vivia em crescente desenvolvimento.

Na época do Segundo Reinado no Bra sil, de 1840 a 1889, no governo de Dom Pedro II, as grandes divisões administrati vas eram chamadas de províncias. Somente com a Proclamação da República, há quase 128 anos, em 15 de novembro, houve a mudança de província para Estado.

A historiadora Etelvina Garcia, no livro “O Amazonas em três momentos: Colô nia, Império e República”, explica que a necessidade de criação da província se deu a partir do momento em que se tornou “inadiável” a abertura do Rio Amazonas para a navegação, o que viria a trazer desenvolvimento econômico para a região e para o País. No período, o governo impe rial não permitia que navios estrangeiros navegassem por esse território. O motivo era proteger o ouro, a borracha e as plantas da Amazônia.

“Motivações de ordem econômica, com implicações nas relações internacionais do império, tornaram inadiável a introdução da navegação a vapor no Rio Amazonas, evidenciando a necessidade de ser ins

tituída uma unidade política do Impé rio do Brasil no Ocidente da Amazônia Brasileira. Foi nesse contexto que Dom Pedro II sancionou, em 5 de setembro de 1850, a Lei Imperial n.º 582, elevando a comarca do Alto Amazonas à Província do Império, com o nome de Província do Amazonas”, conta.

O professor e historiador Cleomar Lima comenta que o ciclo da borracha já se iniciava, com “timidez”, para o que seria a sua explosão a partir de 1870. Era pre ciso incentivo local à produção do látex, a principal matéria-prima da borracha.

“Era preciso criar um governo local, um governo próprio, aqui da região, que viesse fiscalizar e também incentivar a produção do látex para a exportação inter

João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha foi relator das comissões nomeadas pela Província do Pará, em 1828 e 1837, para analisar os projetos de empreendedo res interessados em explorar a navegação a vapor no Rio Amazonas e águas do Pará. Em 7 de junho de 1851, foi nomeado presidente da Província do Amazonas e a instalou no primeiro dia do ano de 1852. Contabilizava décadas de projeção no cenário político do Grão-Pará.

“Como deputado do Pará, Tenreiro Aranha defendeu, no Parlamento do Impé rio, a criação da Província do Amazonas. Um projeto de sua autoria, aprovado nas duas Câmaras do Império, originou a Lei n.° 586, de 6 de setembro de 1850, sancionada por D. Pedro II, autorizando o Governo Imperial a ‘estabelecer desde já, no Amazonas e águas do Pará, a nave gação a vapor que sirva para correios, transportes, rebocagem, até as províncias vizinhas e territórios estrangeiros confi nantes, consignando prestações a quem se propuser a manter a dita navegação, ou empregando embarcações do Estado”, conta Etelvina Garcia.

Novo Estado, mais autonomia

A criação da Província do Amazonas representou o pontapé no desenvol vimento da região e levou benefícios. Quando dependente do Grão-Pará, a capitania ficava à mercê das determi nações do Governo do Estado vizinho. Escolas, hospitais, até o preço do pão dependia dos mandos de “gente de fora”.

“Para você ter uma ideia, um pro cesso, uma questão agrária, alguém que tomasse a terra ou uma questão

de sucessão de bens, o preço do pãozi nho, tudo era determinado em Belém. Então, criar a província significou criar, em primeiro lugar, autonomia. Por exem plo, a educação, a escola pública. No caso, a província podia criar uma escola pública que viesse a incentivar a edu cação e ainda priorizar a questão da saúde, criando-se um hospital público. Portanto, quando você fala máquina administrativa, significa, exatamente, esses benefícios”, conclui Cleomar Lima.

Imagem do Centro de Manaus no século 19 Imagem da Manaus de antigamente
“Motivações de ordem econômica, com implicações nas relações internacionais do império, tornaram inadiável a introdução da navegação a vapor no Rio Amazonas, evidenciando a necessidade de ser instituída uma unidade política do Império do Brasil no Ocidente da Amazônia Brasileira”
Etelvina Garcia, historiadora.
Crédito: Bruno Pacheco Crédito: Reprodução George Huebner Crédito: Reprodução George Huebner
O que a Elevação do Amazonas à Categoria de Província em 5 de setembro de 1850 representa para o Estado Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
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Violência contra indígenas

ILHENA (RO) – Assassinatos, amea ças, violência sexual, racismo e aber tura de estradas irregulares. Essas são apenas algumas das categorias de violência sistematizadas contra os Povos Indígenas, que tiveram aumento em 2021, segundo o relatório anual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Considerado o pior cenário desde 2018, os dados consideram, especialmente, as invasões de territórios de norte a sul do Brasil: foram 305 casos, em 22 Estados, frente as 263 ocorrências registradas em 2020; alta de 16%.

Uma história que se repete, de acordo com o Cimi. Se por um lado, a violência contra os Povos Originários aumentou pelo sexto ano consecutivo – chegando ao pior patamar em quase uma década -, foi nos primeiros três anos da Gestão Bolsonaro, que as invasões triplicaram; época em que teve início e se manteve uma “diretriz de paralisação das demar

cações” e “omissão completa em relação à proteção de terras já demarcadas”, segundo a entidade.

Responsável por proteger as Terra Indígenas (TIs) brasileiras, a Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmou que desconhece as informações.

CENÁRIO ESTARRECEDOR

Para o Cimi, a consequência da falta de ações do governo federal culminou na expansão da cadeia de crimes ambientais e contra a vida em 226 TIs, em quase todos os Estados brasileiros. Em 2020, 19 Estados foram atingidos, três a menos que no ano passado.

O cenário estarrecedor por conta da violência, como classifica o Conselho, é três vezes mais grave que o de 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito. Naquele ano, foram contabilizados, ao todo, 109

casos de invasão, enquanto que, em 2012, houve quase 200 ocorrências a mais.

Invasores atacaram os moradores a tiros e as crianças, quando não morrem sugadas por dragas, tornam-se vítimas de doenças, como a desnutrição. Mesmo assim, o des caso e a violência continuam.

“Os ataques criminosos, com arma mento pesado, foram denunciados de forma recorrente pelos indígenas – e igno rados pelo governo federal, que seguiu estimulando a mineração nestes territórios.

Os garimpos, além disso, serviram como vetor de doenças, como a Covid-19 e a malária, para os Yanomami”, destaca o Conselho Indigenista Missionário.

Entre os povos mais ameaçados pelo avanço dos invasores, além dos Yano mami, estão as etnias Munduruku, no Pará, Pataxó, na Bahia, Mura, no Ama zonas, Uru-Eu-Wau-Wau e Karipuna, em Rondônia, bem como o Povo Chiquitano, em Mato Grosso, e Kadiwéu, no Mato Grosso do Sul.

PRESSÃO POLÍTICA

Para o líder indígena Awapy Uru-Eu -Wau-Wau, políticos locais alinhados ao governo federal que defendem a expansão do agronegócio a todo custo, alimentam

as invasões quando deveriam, ao contrário disso, ajudar a coibir os crimes ambientais no Estado que representam.

“O território Uru-Eu-Wau-Wau é enorme e muitos políticos incentivam que os invasores entrem em nosso território. Deputados, senadores (…) Eles incenti vam, falam que a TI é grande, falam que os invasores podem entrar e que eles podem, assim, conseguir algum título (de terra). É o que dá esperança para que os invasores continuem tendo força”, lamentou ele à reportagem.

Com quase 2 milhões de hectares, a TI se espalha por 12 municípios ron donienses, sendo o lar de nove povos, incluindo grupos isolados. A extensão da área é um dos pretextos para “legalizar” o crime ambiental, segundo a liderança.

Só em Rondônia, foram registrados 29 casos de invasão aos territórios, além de dois assassinatos de indígenas, no ano passado. Cunhado de Ari-Uru-Eu-Wau -Wau, assassinado em 2020 por denun ciar a extração ilegal de madeira, Awapy conhece bem o rastro dessa violência. “O ar que a gente respira é da floresta (…) é preciso respeitar nossa cultura e o nosso

modo de viver. A Terra Uru-Eu-Wau-Wau abastece Rondônia inteira, praticamente. Não pode acabar, tem que manter em pé”, disse Awapy.

“Tem gente que tem terra grande, mas ainda quer ter mais. O governo federal tinha que colocar mais policiamento (…) travar os bens dos invasores”, concluiu.

O QUE DIZ A FUNAI

Em resposta à  REVISTA CENARIUM, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que “desconhece o conteúdo do levantamento citado e que não comenta dados extraoficiais”. O órgão do governo federal divulgou, ainda, que a proteção das aldeias indígenas é uma de suas prio ridades e que investiu R$ 82,5 milhões em fiscalizações, nos últimos três anos.

A Funai também afirma que apoiou cerca de 1.200 ações de proteção territo rial e que “não tem medido esforços na atuação, junto aos órgãos ambientais e forças de segurança pública competentes, no fortalecimento de atividades que visam combater ilícitos nas áreas indígenas de todo o País, bem como garantir a proteção das comunidades indígenas”.

O levantamento, realizado pela pri meira vez em 1980, revelou que o Ama zonas lidera o ranking com 38 invasões, seguido do Mato Grosso do Sul, com 35 e de Roraima, com 32.

Já a violência contra as pessoas indí genas, que vai além dos crimes contra os ecossistemas protegidos, aumentou ao pior nível dos últimos nove anos. Nesse campo, entram desde os assassinatos, que foram 176, às práticas de racismo e abuso sexual.

Terras mais ameaçadas

O território Yanomami, entre os Estados de Roraima e Amazonas, já tão atacado pela mineração ilegal e que sofre com a presença de, aproximadamente, 20 mil garimpeiros, é, de longe, uma das TIs em situação mais crítica em todo o País –não só pela contaminação por mercúrio. crimes ambientais dentro da TI

Invasões triplicaram na gestão Bolsonaro, revela Cimi; Funai ‘desconhece’ dados Lima – Da Revista Cenarium
V
VIOLÊNCIA CONTRA POVOS INDÍGENAS QUASE 200 VÍTIMAS A CADA ANO 2020 2021 263 invasões 305 invasões 170 assassinatos 176 assassinatos Fonte: Conselho Indigenista Missionário (Cimi) 2021 TEVE 160 CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA INDÍGENAS Crimes contra Povos Indígenas Ocorrências (em 2021) Ameaça 39 Abuso de poder 33 Lesões corporais dolosas 21 Racismo e discriminação étnico cultural 21 Homicídio culposo 20 Violência sexual 14 Tentativa de homicídio 12 Fonte: Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Foram mais de 300 invasões e 176 assassinatos registrados em 2021, segundo relatório do Cimi. Na imagem, Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em uma manifestação Awapy é cunhado do líder Ari-Uru-Eu-Wau-Wau, assassinado, em 2020, por denunciar
Iury
Crédito: Acervo Pessoal Crédito: Apib Reprodução 5756 www.revistacenarium.com.br REVISTA CENARIUMPOLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

Transparência em defesa do meio ambiente

Novo superintendente da PF, Eduardo Fontes, promete gestão transparente e contra crimes ambientais no AM Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – O novo supe rintendente regional da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM), Eduardo Alexandre Fontes, firmou o com promisso de realizar uma gestão transpa rente e focada na atuação contra crimes ambientais, corrupção, garimpo ilegal e o narcotráfico, na tríplice fronteira. A cerimô nia de posse de Fontes foi realizada no dia 19 de agosto, no Auditório do Comando Militar da Amazônia (CMA), localizado na Zona Oeste de Manaus. Ao tomar posse, Fontes falou também sobre reforço de contingência na atuação ambiental.

“Recentemente, realizamos duas ope rações visando a repressão de garimpos ilegais, culminando com a destruição de dezenas de dragas e balsas. Outras opera ções serão realizadas para combater essa espécie de delito que tanto impacta nossa região. Sabemos que o Estado do Amazo nas se tornou um dos maiores corredores para transporte de drogas do Brasil; por essa razão, vamos ampliar as investigações

na tríplice fronteira aprimorando a análise de informações e inteligência em relação ao tráfico de drogas”, afirmou Fontes, na cerimônia de posse.

O evento contou com a presença de repre sentantes nacionais da Polícia Federal, bem como de parlamentares e chefes das forças de segurança estaduais e federais que pres tigiaram a oficialização de Fontes no cargo.

Eduardo Fontes assumiu a cadeira antes ocupada por Leandro Almada, que ficou à frente da superintendência, em 2021, após a exoneração de Alexandre Saraiva. Agora, Almada assume a regional da Bahia, dei xando a vaga para Eduardo no Amazonas.

“Já, recentemente, tão logo assumiu, experimentou um desafio daqueles que, ciclicamente, acontece na Amazônia. […] Desejo toda a sorte do mundo nesse novo desafio e saiba que o mapa do Brasil sofreu uma recente alteração, a Bahia nunca esteve tão perto do Amazonas”, parabeni zou Almada em discurso relembrando os assassinatos que ocorreram no Vale do Javari.

Fontes também lembrou do caso e agradeceu ao trabalho em conjunto com as forças de segurança: Exército, Força Aérea Brasileira (FAB) e as forças subordinadas à Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM).

O superintendente ressaltou a importância da Amazônia e os desafios que sabe que irá enfrentar durante a gestão. “Quanto aos desa fios que enfrentaremos durante nossa gestão, tenho plena consciência de que a preservação da Amazônia é fundamental não apenas para o Brasil, mas para o mundo, já que abriga a maior biodiversidade do planeta”, afirmou.

O superintendente revelou à REVISTA CENARIUM, após o fim da cerimônia, que há um desejo de abrir nova base no interior do Estado. “Precisaríamos de, pelo menos, 40 homens para isso. Mas irei para Brasília, em uma reunião com outros superintendentes, e vou levar essa necessidade”, disse, na ocasião.

“Sabemos que o Estado do Amazonas se tornou um dos maiores corredores para transporte de drogas do Brasil; por essa razão, vamos ampliar as investigações na tríplice fronteira”
Eduardo Alexandre Fontes, superintendente regional da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM).
Eduardo Fontes destacou que pretende ter uma gestão transparente à frente da superintendência Crédito: Arthur Castro PF
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Atentado na Argentina

Motorista de aplicativo e preso por porte de arma branca: saiba quem é o brasileiro que atacou Cristina Kirchner

Com informações do Infoglobo

BUENOS AIRES, ARGENTINA – Fer nando André Sabag Montiel, de 35 anos, foi preso, na noite do dia 1º de setembro, em Buenos Aires, após ter apontado uma arma contra a cabeça da vice-presidente da Argentina, Cristina Kir chner. De acordo com autoridades locais, Montiel nasceu no Brasil e mora no país vizinho, mas tem família em São Paulo. Ele trabalha como motorista de aplicativo e tem antecedente criminal por porte de arma não convencional.

O documento de residência de Montiel na Argentina é dos anos 1990. O pai dele,

Fernando Ernesto Montiel Araya, foi alvo de um inquérito da Polícia Federal para expulsão do Brasil, em 2020. Conforme documento ao qual O GLOBO teve acesso, o procedimento foi instaurado porque Araya tinha uma sentença penal conde natória no país.

Segundo o jornal La Nación, em 17 de março do ano passado, Montiel foi detido por porte de arma. Na ocasião, ele foi flagrado com uma faca e alegou que a usava para defesa pessoal.

Montiel foi abordado, na época, por estar estacionado com um veículo sem a

placa traseira. Ele alegou que a placa caiu “devido a um acidente de trânsito ocorrido dias atrás”. Quando ele abriu a porta para pegar a documentação do carro, uma faca de 35 centímetros de comprimento caiu no chão.

REDES SOCIAIS E TATUAGEM NAZISTA

Em seus perfis no Facebook e Instagram – deletados após o atentado – o brasileiro gostava de ser chamado de “Salim” e se gabava por ser crítico ferrenho do atual governo argentino e da família Kirchner.

acordo com ele, a arma já está em posse da polícia.

No vídeo transmitido pelo canal C5N, que deu a notícia em primeira mão, é pos sível ver o momento em que os agentes que protegem a chefe do Senado encurralam o homem, avisados pelos manifestantes.

Após o atentado, apoiadores têm feito vigília em frente à casa da vice-pre sidente, que enfrenta um julgamento sob a acusação de corrupção e um pedido do Ministério Público de 12 anos de pri são e inabilitação política perpétua. No sábado, milhares de pessoas também se manifestaram em praças e avenidas da Argentina.

Ele também postou vídeos de suas apari ções em programas de TV, seja criticando programas do governo de auxílio finan ceiro ou a nomeação do ministro Sergio Massa, da Economia.

“Salim” também gostava de exibir suas tatuagens nas redes sociais, algumas asso ciadas à simbologia nórdica e uma, no cotovelo do braço direito, que reproduziria um sol negro, em referência à iconografia usada pela SS, a temida polícia do Partido Nazista de Adolf Hitler.

TENTATIVA DE ASSASSINATO

Cristina Kirchner sofreu a tentativa de assassinato em frente à sua casa, no bairro nobre da Recoleta, em Buenos Aires, onde o homem a abordou com uma pistola Bersa de calibre ponto 32, que estava carregada com cinco balas, mas falhou na hora do disparo.

Cristina estava conversando com apoia dores, quando foi abordada pelo homem armado. O sujeito foi preso imediatamente e transferido para uma delegacia de polícia, para ser interrogado, informou o ministro da Segurança, Aníbal Fernández. Ainda de

A também senadora, de 69 anos, foi acusada, no final de agosto, dos crimes de associação ilícita e administração fraudu lenta para beneficiar um empresário em licitações públicas quando era presidente do país, de 2007 a 2015. O veredicto da Justiça deve sair até o final do ano e, caso condenada, Cristina, que hoje tem imu nidade, poderá recorrer à Corte Suprema argentina. Ela e o presidente Alberto Fer nández afirmam que a acusação da Pro motoria é política.

APOIADORES

Em frente à residência de Cristina Kir chner, na Recoleta, apoiadores reagiam chocados ao atentado. Entre eles, Nicolás Kreplak, médico sanitarista, afirmou que o incidente representa um “antes e depois” no cenário político argentino. Segundo ele, ficou claro “não ser mais possível aceitar discursos de ódio”.

Outro presente na Recoleta, o diri gente sindical Roberto Baradel afirmou ser “terrível o que poderia ter acontecido” e as consequências disso para o país. “A sociedade tem que dar um basta ao dis curso de ódio e a mentiras. Tem que haver a convivência democrática em nosso país”, disse Baradel.

A ex-deputada federal Victoria Donda Pérez foi taxativa: “o discurso de ódio tem um resultado. Este é o resultado”, referindo-se ao atentado contra Kirchner e evocando a necessidade de uma lei contra fake news.

“Agora, a situação tem que ser analisada pelo nosso pessoal da perícia para avaliar os traços, a capacidade e a disposição que essa pessoa tinha”
Alberto Fernández, presidente da Argentina. Ataque à vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, gerou mobilização nas ruas e repercussão internacional Fernando André Sabag Montiel, de 35 anos, é motorista de aplicativo e tem antecedente criminal por porte de arma não convencional
Crédito: Fernanda Carvalho Fotos Públicas Crédito: Reprodução | La Nacion 6160 www.revistacenarium.com.br REVISTA CENARIUMMUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS

REPERCUSSÃO DENTRO E

FORA DO PAÍS

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, fez um discurso em cadeia nacional depois da tentativa de assassinato. Ele repudiou o ataque, convocou todos os argentinos a lutarem contra o discurso de ódio “e qualquer forma de violência” no país e decretou feriado nacional no dia 2 de setembro, “em solidariedade” a sua vice-presidente.

“Agora, a situação tem que ser analisada pelo nosso pessoal da perícia para avaliar os traços, a capacidade e disposição que essa pessoa tinha”, indicou Fernández.

Logo depois do atentado, o ex-presi dente Mauricio Macri (2015-2019) tam bém se manifestou no Twitter, dizendo que “repudia o ataque sofrido por Cristina Kirchner” e pediu um “esclarecimento imediato”.

“Meu absoluto repúdio ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que, feliz mente, não teve consequências para a vice-presidente. Este fato gravíssimo exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segu rança”, afirmou.

Segundo publicou o jornal Clarín, um grupo de senadores da Frente de Todos

e Juntos pela Mudança se reuniu para repudiar a tentativa de assassinato da vice -presidente.

Em sua conta oficial no Twitter, a Frente de Todos aderiu à convocação para a mar cha, realizada no dia 2 de setembro, na Avenida de Mayo e 9 de Julio, em direção à Plaza de Mayo. A convocação foi feita pela organização juvenil La Cámpora.

Em entrevista coletiva concedida no Congresso, a chefe da Câmara dos Depu tados, Cecilia Moreau, anunciou a decisão de formar uma comissão com o Senado para investigar a tentativa de assassinato.

No Brasil, o ex-presidente e atual candi dato Luiz Inácio Lula da Silva também se solidarizou com a “companheira” Cristina Kirchner e chamou o suspeito de “fascista criminoso”. “Toda a minha solidariedade à companheira @CFKArgentina, vítima de um fascista criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade. A Cristina é uma mulher que merece o res peito de qualquer democrata no mundo. Graças a Deus ela escapou ilesa”, declarou, no Twitter.

O embaixador dos EUA, Marc Stanley, escreveu em sua conta no Twitter: “Estamos aliviados em saber que a vice-presidente @ CFKArgentina está bem. Violência, extre mismo e ódio em todos os lugares”.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, também enviou uma mensagem. “Minha solidariedade a @CFKArgentina, ao povo e ao governo da Argentina diante da ten tativa de assassinato da vice-presidente da Nação. Nosso mais alto repúdio ao ataque. É essencial esclarecer e investigar para rejeitar a violência e fazer justiça”, escreveu.

Também o presidente do Chile, Gabriel Boric, pronunciou-se sobre o caso, afir mando que “a tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández, merece o repúdio e a conde nação de todo o continente”. Marcelo Ebrard, ministro das Relações Exteriores de Andrés López Obrador, escreveu que o governo do México expressa “sua rejeição e condenação ao ataque”. O embaixador da União Europeia na Argentina, Amador Sánchez Rico, também postou: “A violência não tem lugar em nossas democracias”.

Da Venezuela, o presidente Nicolás Maduro reproduziu o vídeo do ataque no Twitter e postou: “Enviamos nossa solidariedade à vice-presidente @CFKAr gentina, diante do atentado contra a sua vida. Repudiamos veementemente esta ação, que busca desestabilizar a Paz do irmão povo argentino”.

‘Sétima arte’ pulsa na Amazônia

MANAUS (AM) – O filme acriano “Noites Alienígenas”, do diretor Sérgio Carvalho, foi o grande vencedor do 50° Festival de Cinema de Gramado, que ocorreu no dia 20 de agosto. Levando cinco Kikitos para casa, a produ ção conquistou prêmios nas categorias de melhor filme, melhor ator, melhor atriz coadjuvante, melhor ator coadjuvante e o prêmio do júri da crítica.

Baseado no livro homônimo escrito por Sérgio e lançado em 2011, a adapta ção cinematográfica revela as dinâmicas urbanas de Rio Branco, capital do Acre, e “escancara” a desigualdade e os conflitos do tráfico migrado das regiões Sudeste e Sul do País para a Amazônia, sobretudo, dos impactos sociais que as comunidades enfrentam.

O diretor Sérgio Carvalho, em conversa com a REVISTA CENARIUM, destacou que a vontade de escrever o livro, finalizado em duas semanas, surgiu da necessidade de falar sobre a dependência química e a violência na Amazônia.

“Eu vivi muito próximo de uma pessoa que era dependente química e entendi todo esse ciclo, que gera sofrimento não somente para a pessoa, mas para todos que estão perto. Então, o livro vem dessa necessidade, dessa urgência de falar sobre essa questão da dependência química e foi escrito de uma maneira bem catártica, em duas semanas”, revelou o diretor.

A adaptação para o cinema, feita 11 anos depois, não foi um desafio. Segundo Sérgio, o livro já tinha todo o embasa mento necessário para ser adaptado. No

entanto, a realidade periférica precisou ser atualizada. “Quando pensei em adaptar, senti que ali já tinha um argumento para um filme, porque escrevi de uma maneira muito visual. Só que quando eu passei do livro para o filme, eu senti uma necessi dade grande de adaptação, porque aquela realidade periférica retratada no texto já era outra, a periferia na Amazônia, em 10 anos, com essas mudanças das rotas do tráfico, mudou completamente”, afirma.

“O que a gente vive, hoje, na Amazônia urbana, reflete na Amazônia da floresta, ‘tá aí’ os assassinatos de Dom Phillips e de Bruno Pereira que reforçam isso. É uma brutalidade essa questão do crime organizado que acaba envolvendo todos os setores da sociedade, inclusive instituições. É muito sério o que está acontecendo,

‘O vive momento novo, forte e pulsante’, avalia Sérgio Carvalho, diretor de ‘Noites Alienígenas’ Ívina Revista Cenarium
Elenco Gramado. Crédito: Edison Vara Agência Pressphoto
cinema amazônico
Garcia – Da
de ‘Noites Alienígenas’ na premiação do 50° Festival de
Filme retrata a realidade das periferias amazônicas com o tráfico de drogas ENTRETENIMENTO & CULTURA
Crédito: Fernanda Carvalho Fotos Públicas 6362 www.revistacenarium.com.br MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS

Melhor ator

O rapper e ator Gabriel Knoxx, pri meiro vencedor acriano do Kikito de melhor ator, revelou à REVISTA CENA RIUM ainda estar sem palavras. “É uma grande honra estar sendo a primeira pessoa a trazer esse prêmio para casa (Acre) e, quem sabe, ano que vem, e no outro e no outro, a gente possa, cada vez mais, trazer kikitos para casa”, disse.

Sobre a premiação de melhor filme, Knoxx acredita que o júri enxergou a alma da equipe expressada no filme.

“A gente fez um filme com corpo, alma e coração, para tentar entregar o melhor para o público e a gente conseguiu bater essa meta. Quantas vezes a gente não dormiu, quantas vezes a gente não ficou virado no set… A gente trabalhou insanamente para poder entregar esse material e conseguir receber esses prê

mios, que não eram tão esperados por nós”, relevou.

“Para nós, nunca foi fácil, sempre foi difícil”, pontua Gabriel sobre ser artista amazônida. “A gente sempre lutou para mostrar nossa arte com pouco ou nenhum recurso e a gente lutou para fazer acontecer. Não existe período difícil ou pouco difícil. Todo dia é difícil, não existe zona de conforto, a gente só tem essa grande luta. Lutamos por amor e paixão à arte”.

Gabriel avalia a vitória de “Noites Alienígenas” como um ato de resistência do povo do Norte. “Essa vitória foi graças a nossa resistência e a nossa força de von tade de fazer acontecer. Eu acredito que, nos próximos anos, virão bem mais, para diversos artistas e produtoras que englo bam a arte e a cultura do Norte”, disse.

“O que a gente vive, hoje, na Amazônia urbana, reflete na Amazônia da floresta. ‘Tá aí’ os assassinatos de Dom Phillips e de Bruno Pereira que reforçam isso”

Sérgio Carvalho, diretor do filme ‘Noites Alienígenas’ e autor de livro homônimo.

tem morrido muito jovem, muita gente, por conta disso, é uma tragédia social”, pontua Carvalho sobre o narcotráfico e os assassinatos ocorridos na Amazônia que ganharam o mundo, recentemente.

Sobre as dificuldades em produzir o filme, Sérgio pontuou que a maior delas foi a questão do orçamento e a adaptação de produção. “‘Noites Alienígenas’ já era um filme de baixo orçamento e, fazer um filme de baixo orçamento, na Amazônia, o que é baixo, se torna mais baixo ainda”, disse o diretor.

O diretor ainda revelou que a equipe precisou fazer ajustes para conseguir reali zar a produção. “Precisamos muito adaptar modelos de produção, precisamos repen sar coisas, cortar cenas do roteiro, para que a gente conseguisse realizar o filme”.

No entanto, o diretor revelou que algu mas dificuldades se tornaram surpresas. “As possíveis fragilidades de produção se tornaram potências”, afirmou o diretor.

Com nomes já conhecidos, como Chico Diaz e Joana Gatis, o longa-metragem também contou com a participação da ex-BBB acriana, Gleici Damasceno, do ator Adanilo Reis e do rapper acriano e estreante no cinema Gabriel Knoxx.

“Algumas questões que a gente pensou que poderiam se tornar desafiantes, como atores sem experiência, na verdade, foram a grande potência do filme”, revelou o diretor, que teceu elogios para a equipe de atores responsável pelos prêmios de melhor ator para Gabriel e melhores atores coadju vantes para Chico Diaz e Joana Gatis.

“Essa premiação não é só para o ‘Noi tes Alienígenas’. De certa maneira, repre senta todo esse cinema contemporâneo, pulsante, de qualidade, que vem sendo produzido no Norte, principalmente, por conta das políticas dos governos passados de descentralização dos recursos para o audiovisual”, diz o diretor, que consagra investimentos feitos em outros governos à ajuda no desenvolvimento audiovisual da região.

Carvalho também avalia que a pre miação para o filme acriano é um ato

político “na essência da palavra”. E diz que “um filme do Acre, sendo premiado num grande festival, numa grande festa do cinema brasileiro, com toda a certeza foi um ato político e muito importante para os dias tão tenebrosos que a gente tem vivido no País”.

Festa para ‘Nazinha’ Rocha Revista Cenarium

Foram ofertados mais de 10 mil ingressos para os dois dias de festa

MANAUS (AM) – Após dois anos, sem realizar os festejos no formato presencial, o Círio de Nazaré vol tará a reunir milhares de fiéis, em Belém, no Estado do Pará, este ano. Para se ter ideia, 70% das arquibancadas já foram vendidas e ainda há lugares à venda no site. O acesso aos demais locais do evento é gratuito.

A festividade de Nossa Senhora de Nazaré, que levará o tema “Maria, Mãe e Mestra” acontece no mês de outubro, com a realização do Círio e de outras 12 procissões, como a trasladação, a romaria rodoviária, a romaria fluvial, o Círio das Crianças e o Recírio, dentre outras.

“Esperamos realizar todas as procissões do Círio como, tradicionalmente, eram realizadas até 2019. Estamos trabalhando para organizar todas as 13 procissões”, afirmou o coordenador da diretoria da Festa de Nazaré, Antônio Salame.

“Já abrimos vendas das arquibancadas, o Arraial de Nazaré já está todo organi

zado, inclusive, com a vinda do Parque ITA. Já encomendamos a corda das duas procissões, Círio e Trasladação, e, em breve, abriremos para o credenciamento da imprensa que queira cobrir o evento.

Temos fé e esperança que vamos conseguir superar os momentos difíceis e realizar o Círio 2022”, disse ainda.

De acordo com a expectativa dos orga nizadores, milhares de pessoas devem ocupar as ruas de Belém durante toda a quinzena festiva, que também conta com uma extensa programação de even tos: missas, vigílias de oração, Arraial de Nazaré, Círio Musical e a descida da Ima gem do Achado, do Glória para o Altar da Basílica Santuário, onde fica, durante os 15 dias de festa, para visitação.

Foram disponibilizados mais de 10 mil ingressos para os dois dias de festa, sendo pouco mais de 5 mil para a Grande Procissão de domingo e mais 5 mil para a trasladação.

GRATUIDADE

O cadastro para ter acesso à gratuidade teve início no dia 23 de agosto. Foram disponibilizados 900 ingressos gratuitos, sendo 300 para o Círio e 600 para a tras ladação, no site de vendas. O público com direito à gratuidade são: idosos, a partir de 60 anos, e pessoas com necessidades especiais.

Os ingressos foram entregues na dire toria da Festa de Nazaré, localizada no Centro Social de Nazaré, na área do esta cionamento da Basílica Santuário, no dia 2 de setembro, mediante comprovação do direito à gratuidade e apresentação de docu mento com foto, no horário das 14h às 19h. Crianças de até 2 anos não pagam ingressos e não precisam ser cadastradas no site.

O Círio de Nazaré é uma realização da Arquidiocese de Belém, Basílica Santuário de Nazaré, diretoria da Festa de Nazaré, Governo do Estado do Pará e Prefeitura de Belém.

‘Noites Alienígenas’ venceu cinco Kikitos, entre eles melhor filme e escolhido da crítica. Na imagem, o diretor Sérgio Carvalho recebe a premiação de melhor filme Gabriel Knoxx, rapper e ator acriano, venceu Kikito de melhor ator Crédito: Foto Thiago Gomes Cirio De Nazare Pará Fotos Públicas
Círio de Nazaré, em Belém, no Pará, volta a contar com a presença de fiéis, após dois anos Karol
– Da
VIAGEM & TURISMO Crédito: Edison Vara Agência Pressphoto Crédito: Edison Vara Agência | Pressphoto
Ag
6564 www.revistacenarium.com.br ENTRETENIMENTO & CULTURA

VEJA A PROGRAMAÇÃO DE OUTUBRO:

► 1° de outubro: 7h – 8ª Visita da Imagem Peregrina (IP) à Região Episcopal Menino Deus

► 3 a 8 de outubro: 7h – Acompanhamento Peregrinos de Nazaré Casa Plácido e Trecho Castanhal/Belém

► 4 de outubro: 18h – Missa de Abertura Oficial do Círio 2022 Basílica Santuário

► 4 de outubro: 19h – Abertura Oficial do Círio 2022 Casa de Plácido

► 5 de outubro: 8h – Abertura da Vigília de Adoração / Oração Capela Bom-Pastor

► 5 de outubro: 20h – Procissão do Traslado dos Carros Basílica Santuário / CDP

► 6 de outubro: 18h – Missa de Apresentação do Manto Basílica Santuário

► 7 de outubro: 6h30 – Encerramento da Vigília de Adoração / Oração Capela Bom-Pastor

► 7 de outubro: 7h – Missa do Traslado Basílica Santuário 7h / Sexta 8h Traslado Ananindeua/Marituba Basílica Santuário

► 7 de outubro: 21h – Live Decoração da Berlinda Estação dos Carros

► 8 de outubro: 5h30 – Romaria Rodoviária Ananindeua

► 8 de outubro: 9h – Romaria Fluvial Icoaraci

► 8 de outubro: 11h30 – Moto Romaria Praça Pedro Teixeira

► 8 de outubro: 12h30 – Descida da Imagem Basílica Santuário

► 8 de outubro: 16h30 – Missa da Trasladação Colégio Gentil

► 8 de outubro: 17h30 – Trasladação Colégio Gentil

► 9 de outubro: 6h – Missa do Círio Catedral da Sé

► 9 de outubro: 7h – Círio Catedral da Sé

► 9 a 22 de outubro: 20h – Programação Cultural/Círio Musical e Intercessão Concha Acústica Capela Bom-Pastor

► 15 de outubro: 8h – Ciclo Romaria Praça Santuário

► 15 de outubro: 16h – Romaria da Juventude Igreja, a definir / Basílica Santuário

► 16 de outubro: 7h – Missa Romaria das Crianças Praça Santuário

► 16 de outubro: 8h – Romaria das Crianças Praça Santuário

► 20 de outubro: 19h – Entrega dos Certificados de outubro: 5h30 –de outubro: 7h – Missa Procissão de outubro: 8h – Procissão da de outubro: 18h – Missa de Encerramento Santuário de outubro: 19h – Encerramento do Círio Encerramento de outubro: 6h30

Candidaturas Brasil, há apenas 33 pessoas transsexuais entre

A organização VoteLGBT informou que há 214 pedidos de registros de candidaturas LGBTQIA+ para o pleito deste ano

ANAUS (AM) – Levantamento feito pela organização VoteL GBT aponta que, dentre os 28.530 candidatos que concorrem às eleições deste ano, há apenas 33 pessoas decla radas transgêneros e transexuais na dis puta. São 20 candidaturas a menos, em relação à última eleição federal realizada em 2018, quando foram registradas 53 trans na corrida eleitoral, de acordo com informações da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra).

Nos nove Estados da Amazônia Legal são, ao menos, seis candidatos declarados transexuais ou transgêneros. No Estado do Mato Grosso, há dois candidatos registra dos, um homem trans que disputa ao cargo

aos Apoiadores e Colaboradores do Círio 2022 Hotel Grand Mercure ► 22
Romaria dos Corredores Praça Santuário ► 23
da Festa, a definir ► 23
Festa, a definir ► 23
do Círio Basílica
► 23
2022 Casa de Plácido / 21h45 – Espetáculo de
Praça Santuário ► 24
– Subida da Imagem Basílica Santuário / 7h Missa do Recírio Praça Santuário / 8h Recírio Praça Santuário
TRANS No
mais de 28 mil candidatos nas Eleições 2022 Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium M
Crédito: Antônio Augusto Ascom Tse Crédito: Foto Thiago Gomes Cirio De Nazare Ag Pará Fotos Públicas 6766 www.revistacenarium.com.br VIAGEM & TURISMO DIVERSIDADE

de deputado federal e uma travesti que concorre ao cargo de deputada estadual.

No Maranhão, há uma candidata trans na corrida para ocupar uma vaga de depu tada estadual. Em Roraima, há apenas um homem trans disputando ao cargo de deputado estadual. No Amapá, há também apenas uma candidata trans para deputada estadual. E, no Pará, há apenas uma candidata concorrendo ao cargo de deputada estadual.

CANDIDATURAS LGBTQIA+

Acre, Amazonas, Rondônia e Tocan tins não apresentaram registros, segundo a plataforma VoteLGBT. Não foram consideradas as candidaturas coletivas. A organização informou, ainda, que há 214 pedidos de registros de candidaturas

LGBTQIA+ para o pleito deste ano. Um crescimento de 36%, se comparado ao ano de 2018, quando 157 candidaturas LGBTQIA+ foram registradas.

No dia 15 de agosto, a página che gou a contabilizar 256 candidaturas LGBQTIA+, porém, nem todas deram continuidade ao processo. Os números divulgados foram baseados em um cadas tro no qual os interessados preencheram um formulário que também foi enviado aos partidos.

Para a lista final, a ONG realizou uma conferência detalhada nos registros disponíveis no sistema DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O Sudeste é a região com mais candi daturas, 81 registros, logo após vem o Nordeste, com 55. O Norte segue com o

menor número apresentado, apenas 12 candidatos LGBTQIA+.

PEQUENO AVANÇO

Apesar da queda de candidatos em rela ção ao período pré-eleitoral, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a pesquisadora e integrante do Vote LGBT Evorah Car doso considerou os números um avanço e atentou para a necessidade de ocupação dos cargos políticos por essa parcela da população.

“É um número histórico. Só mostra o quanto essa tendência de LGBTs ocuparem a política veio para ficar. Ainda estamos trabalhando em um cenário de muita desigualdade, só ocupamos 0,16% dos cargos políticos eletivos, mas é bom ver o avanço”, disse a integrante.

Pílulas Bristol

Novo Airão, à margem direita do Rio Negro, está possivelmente assen tada sobre um grande sítio arque ológico. Por falta de mais recursos, não tive condições de contratar uma equipe especializada para entender o passado que vive debaixo da minha nova casa, no centro da cidade. Assim, a arqueologia que pratico é rasa e amadora, mais para o ramo da garbologia (ciência que estuda o lixo).

Da última vez que fiz uma cova para minhas plantas, a escavadeira se chocou contra um pedaço de vidro, que eu cos tumo retirar do chão, em respeito às crian ças que brincam alegres e descalças pelo parquinho. Não era um vidro qualquer, roto. Era um pequeno frasco, desses que não vemos mais nas farmácias, porque tudo foi substituído por plástico.

Lavando-o bem e retirando a terra com pactada do seu interior, ele assumiu carac terísticas translúcidas. De um lado, lia-se “Pildoras de Bristol” e do outro “Bristol’s pills”, sugerindo a internacionalidade do produto. As laterais mostravam que se tratava de um produto vegetal, produ zido em Nova York. A pesquisa rápida no Google revelou que as Pílulas Açucaradas de Bristol fizeram muito sucesso no século passado, como laxativo mais leve e natural. Propagandas da época se referiam a “um purgante econômico para toda a família”; “recomendadas por médicos há mais de 75 anos”; “tenha um frasquinho sem pre à mão”; “útil também para a dor de cabeça da constipação”. Estamos falando de fôlderes e cartazes que remontam ao ano de 1887.

A ideia mágica de panaceias, fortifican tes, suplementos ou medicações de origem vegetal, que nos livram de todos os males, sem efeitos colaterais, sempre foi e sempre será um argumento poderoso para os que se esquivam de uma vida e dieta saudáveis. São as pequenas doses de esperança que vêm em frascos. Viver os prazeres e as adi ções do cotidiano parece banal, quando podemos curar suas consequências com meras pílulas açucaradas, cujo frasco de vidro era, provavelmente, mais caro do que seu conteúdo.

Descobrindo, pelo acaso, que viviam, em minhas terras, pessoas constipadas, não me contive em prestar-lhes uma sin gela homenagem e reviver o presente, lembrando produtos vendidos como solu ções ilusórias, que navegam pelos rios do Amazonas, como se ainda vendidos por um velho regatão.

O “Específico Pessoa” ainda é ampla mente vendido como um conjunto de tinturas botânicas extraídas de raízes e folhas de ervas medicinais, utilizadas como coadjuvantes no tratamento de picadas de cobras venenosas. É a única alternativa na ausência de médicos e de soros antiofídicos prontamente admi nistráveis.

Andam meio fora de moda o “Bio tônico Fontoura”, a “Emulsão Scott”, o “Óleo de Rícino”, o “Emplastro Sabiá”, o “Colírio Moura Brasil” e a “Funchicória”, mas as vendas das “Gotas Binelli” e do “Vick Vaporub” turbinaram na pande mia de Covid-19, com pacientes que não paravam de tossir.

Penso que gotas, emulsões, emplastros ou biotônicos já sejam por si só nomes ultrapassados, mas que exercem grande pressão publicitária sobre a população mais carente e desinformada, sobretudo quando acompanhados de nomes gar bosos. Mesmo minha família, repleta de estudiosos, não conseguiu abandonar o “Leite de Rosas”, o “Leite de Colônia”, a “Pomada Minâncora” e o “Hipoglós”. São marcas impregnadas na nossa cultura, cujos emolientes nos interessam menos do que a marca consolidada pela expe riência popular e pelos conselhos firmes das nossas avós.

Em um exercício de arqueologia reversa, vislumbro o que farão com o lixo que aban donei. O que pensarão os que vierem depois de mim? Como serei julgado? Os detalhes mais sórdidos da minha vida íntima serão revelados e expostos aos curiosos. A gar bologia destrói nossa privacidade e revela muito desta curta passagem pelo planeta, desmascarando reis, rainhas, faraós, mas sobretudo os homens comuns.

Extratos vegetais à base de silimarina ainda são sucesso de venda nas calhas do Purus e do Juruá, pela alta incidência de hepatites virais. Pequenas drágeas prome tem proteger seu fígado, indicadas para o tratamento dos distúrbios digestivos que ocorrem nas doenças do fígado e das lesões tóxicas deste órgão. Seu uso off-label já se estendeu ao tratamento da malária e da bebedeira.

“Ainda estamos trabalhando em um cenário de muita desigualdade, só ocupamos 0,16% dos cargos políticos eletivos, mas é bom ver o avanço” Evorah Cardoso, pesquisadora e integrante do Vote LGBT.
Crédito: Acervo Pessoal
ARTIGO – MARCUS LACERDA
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