Guia da Quaresma em Ovar 2023

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GUIA DA QUARESMA EM OVAR

A Quaresma vareira é marcada por diversas manifestações de fé e expressões culturais. Tem particular relevo as sete procissões quaresmais, marcantes pela sua antiguidade e esplendor.

26.03

Concerto quaresmal pela Banda Sinfónica de Ovar

A Quaresma representa na tradição musical portuguesa um período de sublimação, geradora de formatos musicais essencialmente vocais, profundos e belos, e será retratada em obras de contemplação de compositores que vão desde o Barroco à contemporaneidade.

O Concerto Quaresmal será dirigido pelo Maestro Vitor Feitor, e terá como convidada a Soprano Maria Guimarães.

17.03

Exposição: 50 anos da CasaMuseu de Arte Sacra – “A Coleção”

Centrada nas comemorações dos 50 anos da Casa Museu de Arte Sacra (CMAS) da Ordem Franciscana Secular de Ovar, a exposição traz à luz as mais icónicas peças da coleção da CMAS, nos mais variados suportes, congregando, assim, diversas cronologias e tempos num mesmo momento, permitindo uma verdadeira viagem pelos sentidos da História da Arte.

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17.02

02.04

Concerto pela Orquestra Filarmonia das Beiras

A Quaresma representa na tradição musical portuguesa um período de sublimação. A religiosidade profunda da época quaresmal, geradora de formatos musicais essencialmente vocais, profundos e belos, e será retratada em obras de contemplação de compositores que vão desde o Barroco à contemporaneidade.

21h – Transladação da Nossa Senhora das Dores

15h - Procissão dos Passos

21h30: Procissão do Ecce-Homo

07.04 21h30

07h30: Procissão da Via Sacra

Procissão do Enterro do Senhor

19.03 06.04
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A procissão dos Terceiros dá início às celebrações das tradições quaresmais na cidade. Também designada por Procissão das Cinzas ou da Penitência, trata-se de uma das mais notáveis manifestações religiosas de Ovar

TERCEIROS ou CINZAS

As imponentes manifestações de rua da Quaresma ovarense iniciam-se, no segundo domingo da Quaresma, com a realização da procissão dos Terceiros, uma das poucas que ainda resistem em Portugal e que, actualmente, congrega diversas irmandades do centro e norte do país.

Esta é uma oportunidade para ver na rua os 14 ricos andores e as respectivas imagens dos Santos Tutelares da Ordem Terceira de São Francisco, nomeadamente: Bem Casados, Santa Margarida de Cortona, Santo Ivo, Santo António de Lisboa, Santa Isabel, Santa Clara de Assis, São Roque, São Luís Rei de França, Santa Rosa de Viterbo, Andor da Ordem, São Francisco lançado às silvas, São Francisco abraçado a Cristo, Santa Isabel da Hungria e Imaculada Conceição.

A Procissão data provavelmente do século XVII, surgindo poucos anos após a organização, entre nós, da Ordem Terceira de S. Francisco. O cortejo adquiriu rapidamente grande imponência e brilho. Reformada no início do século XIX, a Procissão mantevese até aos nossos dias, marcando a solenidade da quadra.

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PASSOS DEFINEM A CIDADE

O domingo de Passos em Ovar é uma oportunidade centenária de vivenciar a fé, mas também a cidade. A pandemia impediu, pelo segundo ano consecutivo a realização da Procissão, mas não impede que lancemos um olhar sobre o passado da urbe.

É que as Capelas dos Passos definem, em pleno século XXI, um percurso que é cenário de vivências colectivas e a sua contextualização na malha urbana de Ovar, revela uma cidade com passado, presente e futuro, que conjuga o património material e imaterial, móvel e imóvel em torno destes monumentos.

Sofia Nunes Vechina, investigadora e inventariante do património religioso do concelho de Ovar, vai mais longe.

“À falta de documentação e cruzando a produção de conhecimento publicada, entre meados do século XIX e inícios do século XX, parecenos possível que a Irmandade dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo tenha sido oficialmente fundada por volta de 1572, embora a manifestação devocional à Paixão de Cristo, em Ovar, fosse anterior à sua instituição legal”.

No século XVIII, surge o primeiro Passo de pedra e cal, representando a Última

Ceia, a Oração de Cristo no Horto e o Pretório. Circunscrito a uma capela lateral da Igreja Matriz de Ovar, já existia em 1727. Em 1735 continha um retábulo da autoria de José Teixeira Guimarães (mestre entalhador da cidade do Porto), ampliado em 1750, pelo mesmo autor. As imagens do Senhor Preso à Coluna e do Ecce Homo foram realizadas em 1743.

Com o terramoto de 1755, foi necessário substituir a abóbada e adorná-la, transformando-a na única capela no concelho totalmente revestida a talha dourada.

Em 1748, iniciou-se a construção das restantes capelas (seis), sendo feita, em 1755, uma vistoria final, por peritos procedentes do Porto.

As sete capelas, estrategicamente posicionadas na malha urbana de Ovar, marcam indelevelmente um percurso material e imaterial pelas principais artérias da vila, hoje cidade. Entre elas distinguem-se três, as únicas onde se dizia missa, sendo a primeira, como já referimos, correspondente a uma capela lateral da Igreja Matriz. As restantes seis estruturas, autónomas, estão dispostas ao longo das principais ruas do centro de Ovar.

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As Capelas dos Passos e Definição da Estrutura Urbana de Ovar. Do século XVIII à atualidade, a vila e a cidade moldou-se.

O RICO PATRIMÓNIO RELIGIOSO VAREIRO

A Igreja Matriz de Ovar e a Capela do Calvário serão, porventura, os exemplos mais destacados da arquitectura religiosa vareira

No inventário monumental e artístico de Ovar sobressai o espólio religioso, constituído pela igreja matriz (século XVII-XIX), Capelas dos Passos (XVII) e outros templos, bem como as preciosas imagens e alfaias litúrgicas, algumas das quais patentes no Museu de Ar te Sacra da Ordem Terceira de São Francisco.

A devoção dos Passos em Ovar vem de 1572 e à respetiva confraria concedeu o Papa Inocêncio X, em 1642, um Breve de Indulgências. Eram seus protetores, nessa época, os Condes da Feira, que lhe ofereceram um riquíssimo Relicário Processional (ainda em uso).

O valiosíssimo património artístico da confraria vem, sobretudo do século XVIII, período durante o qual lhe foi concedido o real de água para a construção das capelas.

Destas, realce para a do Calvário, com mais de vinte figuras. Destaca-se, pela nobre expressão dolorida, a imagem de Cristoo mestre Teixeira Lopes apontou-a como uma das melhores da Península Ibérica.

Espetaculares são, ainda, a fachada da capela e o escadório de acesso disposta em patamares sucessivos. No interior, há outras duas imagens a não perder de vista: São Pedro, titular de uma anterior capela que se situava no fundo do escadório, e Santo Agostinho, a lembrar

uma antiga irmandade de clérigos. Além da igreja matriz, de aspeto grandioso, dignas de visita são a Capela da Senhora da Graça (1895), a Capela de Santo António (século XVII-XVIII), a Capela de São Lourenço e a Capela da Família Nunes da Silva (ambas em ruínas), a Capela da Senhora do Parto e a Capela da Misericórdia, com a imagem da Senhora do Leite, em pedra (século XV).

Se a este vasto património juntarmos as igrejas matriz de Válega e de Cortegaça, consideradas das mais belas de Portugal, o roteiro fica quase completo.

Não admira que a candidatura da Paróquia de Ovar para integrar a Rede Europeia de Celebrações da Semana Santa e Páscoa tenha sido aprovada em tempo recorde por um comité internacional, que reconheceu estas procissões e capelas, com cinco séculos de história, como património dessas tradições católicas.

Segundo revelou o pároco Victor Pacheco, a rede é dirigida por instituições de vários países - entre os quais Espanha, Itália, Malta e Eslovénia - e foi criada para coordenar a investigação em torno das práticas europeias mais simbólicas da Semana Santa, para que essas possam vir a constituir um dos itinerários culturais tutelados pelo Conselho da Europa.

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Secatibe runtum earum sincilla velenimus auta nobit raecus di omniet 9 MAGAZINE

"Quadros Vivos de Caravaggio" é um espetáculo que cruza teatro, música clássica e pintura barroca, numa interpretação em palco e em tempo real de 21 obras do mestre pintor de origem italiana.

Depois de uma primeira edição em Lisboa, e de seus sessões, em dezembro, na Igreja de Santo Ildefonso, no Porto, “Quadros vivos de Caravaggio” apresentou-se na Igreja Matriz de Ovar, no domingo, dia 12 de março, no âmbito das comemorações da Quaresma e Semana Santa ovarense. A produção do espetáculo é 100% portuguesa, com dramatização encenada por Ricardo Barceló, que reúne

cinco atores que dão vida aos quadros de Caravaggio através da expressividade física e facial, das poses e dos trajes, intercalando entre movimentos delicados e estudados.

O espetáculo tem a duração de uma hora durante a qual Ricardo Barceló recria em palco uma dramatização completa de uma sequência de obras do pintor Michelangelo Merisi da Caravaggio, que se vai construindo e desconstruindo, acompanhada de música sacra da época (Requiem), trabalhadas com luz por forma a emular o efeito luminoso característico das obras do pintor italiano.

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Caravaggio na Igreja Matriz

PASSOS

AS CAPELAS DOS PASSOS DE OVAR SÃO UM TESOURO PARA DESCOBRIR NA CIDADE

PASSO DO HORTO

Esta capela está situada na Rua Alexandre Herculano e simboliza a primeira queda no caminho da crucificação, depois da condenação e carregando a sua própria cruz. A contorná-lo estão os soldados romanos.

PASSO DO ENCONTRO

Na Rua Alexandre Herculano, o Passo do Encontro é emocionante: o encontro entre Jesus e a Mãe, Nossa Senhora. A partir deste passo, Nossa Senhora, João Batista e Maria Madalena são as figuras bíblicas presente nas restantes estações.

PASSO DO CIRENEU

Cireneu ou Simão de Cirene indica-nos o nome do homem que, a meio do percurso e obrigado pelos soldados, teve que ajudar Jesus a carregar a cruz até à Gólgata, ou seja, o Calvário. Está situada na Rua Cândido dos Reis.

PASSO DA VERÓNICA

Uma assistente da passagem de Jesus, a Verónica resolve limpar a face com um pano, no qual Ele gravaria para sempre o rosto avermelhado, dando a entender a influência que o caminho a fazer iria ter na história da humanidade cristã. A capela está situada na Praça da República.

FILHAS DE JERUSALÉM

Na caminhada para a crucificação, ao ver passar Jesus no meio da multidão, surgiram algumas mulheres a chorarem e a baterem no peito, tendo uma afirmação do condenado a dizer para não chorarem por Ele mas sim por elas e pelos seus filhos.

CALVÁRIO

O Calvário é o último passo ou a cena final da Paixão. Jesus Cristo chega ao derradeiro ponto em que é crucificado entre dois ladrões, sob olhar sofredor de Nossa Senhora e de São João, e da indiferença dos soldados romanos.

ÚLTIMOS EPISÓDIOS DA VIDA DE JESUS CRISTO

Na tela da Semana Santa, os últimos episódios de Jesus Cristo recebem cromas e tonalidades distintos: O roxo dá lugar ao branco, as sombras transformam-se em luz pascal e da espartana dor brota uma alegria monolítica.

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As procissões nocturnas com o Estigmatizado que marcam o Tríduo Pascal na cidade vareira.

Ecce Homo (Terro-Terro), também conhecida por procissão dos Farricocos ou dos Fogaréus acontece no silêncio da noite interrompida, pontualmente, pelo som das matracas. Homens carregam três imagens do século XVIII – Crucifixão, Senhor da Cana Verde e Cristo Atado à Coluna – percorrendo o centro histórico e as emblemáticas Capelas dos Passos até chegarem ao Calvário e retornarem à Igreja Matriz de onde partiram.

Na manhã de sexta-feira, com a realização da Procissão da Via Sacra (7h30). Ligada, desde a sua origem, aos franciscanos, é organizada pela Ordem Franciscana Secular e percorre as catorze cruzes presentes nas principais ruas do centro da cidade.

Ànoite, realiza-se o Enterro do Senhor, a partir das 20h30. Organizada pela Irmandade dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, é anterior à construção das Capelas dos Passos e composta por dois andores: esquife com Cristo Morto e Nossa Senhora da Soledade, que partem do Calvário fazendo o doloroso percurso da Paixão de Cristo e regressando ao mesmo local para o sermão final.

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Sexta-feira Santa
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PÃO DE LÓ DE OVAR, DOCE DA QUARESMA

A antiguidade desta guloseima é anterior ao século XVIII mas a sua fama tem galgado fronteiras e talvez tenha atingido este ano o seu auge

Uma das primeiras referências escritas ao Pão de ló de Ovar surge no livro “Os Passos”, do Padre Manuel de Oliveira Lírio. “Em 1781, são obsequiados com pães de Ló de Ovar, os Padres que levavam o andor na procissão dos Passos”. – “Arquive-se como documento a antiguidade desta guloseima”.

Em janeiro de 2023 , o Pão-de-Ló de Ovar foi o único representante português da lista dos 50 melhores doces do mundo, elaborada pelo portal especializado em gastronomia “The Taste Atlas”.

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NA REDE EUROPEIA DE SEMANAS SANTAS

Tradições quaresmais de Ovar aprovadas e incluídas na Rede Europeia de Semanas Santas devido a tradições e capelas com cinco séculos

A Paróquia de Ovar vai integrar a Rede Europeia de Celebrações da Semana Santa e Páscoa, depois de um comité internacional ter reconhecido as suas procissões e capelas, com cinco séculos de história, como património dessas tradições católicas.

Segundo o pároco Víctor Pacheco, a referida rede é dirigida por instituições de vários países –entre os quais Espanha, Itália, Malta e Eslovénia – e foi criada para coordenar a investigação em torno das práticas europeias mais simbólicas

da Semana Santa, de forma a que essas possam vir a constituir um dos itinerários culturais tutelados pelo Conselho da Europa.

A formalização da adesão à rede vai verificarse em março, na cidade italiana de Palermo, e refletirá assim o reconhecimento das “características especiais da Semana Santa de Ovar no contexto europeu”, em particular devido ao seu circuito de Capelas dos Passos, “de uma grandiosidade única em Portugal”, e ao seu conjunto de Procissões Quaresmais,

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de maior dimensão do que acontece na generalidade do território nacional.

Víctor Pacheco afirma: “Só existem três outras cidades com grandes tradições quaresmais em Portugal – Braga, Idanha-a-Nova e Óbidos – e, no caso de Ovar, distinguimo-nos por duas razões: pelas nossas sete Capelas dos Passos, cujo edificado atual é do século XVIII, mas que já existiam antes, quando eram móveis e construídas em madeira; e as nossas sete Procissões Quaresmais, entre as quais a mais antiga se realiza, de acordo com registos históricos, desde 1590 ou 1592”.o programa de celebrações da Quaresma e Páscoa nessa cidade do distrito de Aveiro é

organizado por uma comissão que integra cinco entidades locais e regionais: a Paróquia de São Cristóvão, a Irmandade de Nosso Senhor dos Passos, a Venerável Ordem Terceira de São Francisco, a Câmara Municipal e ainda o Turismo do Centro de Portugal –além de parceiros como o Orfeão de Ovar.

O reconhecimento internacional da Rede Europeia de Celebrações da Semana Santa e Páscoa – que em março validará também a candidatura de Óbidos – constitui agora um novo incentivo à atividade desse comité organizador, já que “vai dar mais prestígio e visibilidade exterior às procissões e às Capelas dos Passos”.

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FICHA TÉCNICA

DIREÇÃO

Luís Ventura

GRAFISMO

O varNews

OlhoShot

TRIBUTO

Natural de Oliveira de Azeméis, Manuel Pires Bastos ordenou-se em 1958 e foi pároco de Ovar entre 1975 e 2020.

MARKETING

Dora Alves

geral@ovarnews.pt

Para além da sua actividade religiosa, renovou o quinzenário “João Semana”, transformando-o num jornal noticioso, participou e dinamizou diversas tradições vareiras, como a Quaresma e os Reis de Ovar e criou, em 2009, na Paróquia de São Cristóvão, o projeto Mãos Solidárias..

ESTATUTO EDITORIAL

DISPONÍVEL EM

https://ww.ovarnews.pt

O Pároco Manuel Pires Bastos faleceu no dia 8 de Novembro de 2020.

INSCRIÇÃO NA ERC: 127434

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