O Transcendente - No.2

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ANO I - Nº 2 AGOSTO/SETEMBRO - 2007

O Transcendente • Av. Hercílio Luz, 1079 • Florianópolis • SC • 88020-001 • Fone: (48) 3222-9572 • www.otranscendente.com.br

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APRESENTAÇÃO

rezados (as) amigos (as) professores (as)! O jornal O TRANSCENDENTE já está em sua terceira edição e, com a colaboração de muitos, já está movendo os primeiros passos com mais segurança. Neste editorial, em se falando em religiões e culturas, quero acentuar mais um pouco a necessidade de abertura e de dialogo. De fato, hoje se alargou o conhecimento das muitas e diversas religiões que acompanharam a história da humanidade, como também de seus valores e de suas implicações. Daí começou-se a perceber como o pluralismo religioso - ao lado de tantos ou-

tros pluralismos é uma realidade muito importante e exigida no seio de nossa sociedade. A corrida para as cidades, fazendo surgir uma população urbana mista, assim como o fato recente da globalização, são fenômenos que vieram evidenciando a exigência de se ter uma nova consciência da existência do pluralismo religioso. Os fiéis das diversas religiões, vivem lado a lado, trabalham, viajam e observam-se mutuamente. Notam-se as diferenças: no culto, nos hábitos, nas tradições, nas atitudes éticas e nos valores proclamados, relevando semelhanças e diferenças.

QUESTÕES EMERGENTES

res do que suas teorias ou dogmas. Falando dos cristãos, afirmava: “há um abismo entre o Cristo e a vivência dos cristãos!”. Diz um provérbio árabe: “Perguntaram a uma árvore cheia de frutos: Por que tu não fazes nenhum barulho? Ela respondeu: Os frutos que eu carrego são minha melhor propaganda!”.

Perante o aparecimento e o cultivo do pluralismo religioso, as diversas denominações cristãs começaram a se perguntar: Qual seria o valor das outras religiões em relação à salvação? Trata-se de uma pergunta que ocupa e preocupa os teólogos da missão.

ABRINDO CAMINHOS

Nesta caminhada, que pede abertura, podemos afirmar que as tendências vigentes e mais fortes são duas: a dos exclusivistas, fechados na superioridade de sua própria religião, e a dos relativistas, para os quais todas as religiões se equivalem. Mas cada religião quer crescer, ter mais adeptos e isso se dá através da ação missionária. A maioria das religiões faz isso. Neste novo contexto, qual seria então o lugar da missão? Num contexto religioso pluralista, a missão, tendo em conta as novas circunstâncias, é chamada a assumir duas atitudes: • de respeito, de reconhecimento das diferenças e das convicções dos outros. Ela deve acontecer e manifestar-se numa grande busca de convivência pacífica e de abertura à colaboração.

• de diálogo inter-religioso, um diálogo fran-

co e sincero, que reconheça diferentes níveis de encontro. Nesta nova situação, é sempre importante que cada religião mostre e mantenha a riqueza de sua identidade. Isso constitui uma riqueza para todos, pois isso favorece um grande intercâmbio de valores entre todas as expressões religiosas. A esse respeito, Mahatma Ghandi, falando das religiões, costumava dizer que o que vale o testemunho de seus seguido-

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Após este entendimento sobre pluralismo religioso e suas implicâncias, devemos constatar o quanto ainda estamos longe daquele diálogo e entendimento inter-religioso que a humanidade almeja. Como não condenar o anti-semitismo, trágica violação da dignidade humana que manchou a história da humanidade e que ainda persiste? O mesmo sentimento de condenação devemos sentir pela discriminação contra os muçulmanos e pelos persistentes episódios de intolerância contra as minorias cristãs em alguns países islâmicos onde os direitos de existência e de culto das religiões não muçulmanas são ainda fortemente limitados. Mas há também aspectos positivos na evolução deste diálogo. Um exemplo: Mesmo em Roma, capital do catolicismo, tive a oportunidade de assistir a um maravilhoso espetáculo de diálogo inter-religioso e inter-cultural com o Islamismo. Tratava-se de um espetáculo de danças místicas, típicas do Sufismo (corrente mística do islã), organizado pela Embaixada Turca, em comemoração aos 800 anos do nascimento de Mevlana Celaleddin Rumi (1207-1273), um dos maiores poetas e filósofos da mística sufi do islamismo. Dogan Adkdur, apresentador do espetáculo, mostrou como o poeta e místico Rumi, em sua arte sublime, soube nos transportar aos altos cumes dos versos líricos, lá onde o homem volta a encontrar a pureza de seus sentimentos e as belas palavras de um diálogo entre civilizações e religiões. Através do canto, em progressivo aumento de ritmo, com a palma de uma mão dirigida para o alto e com a outra para baixo, as bailarinas se movimentavam como querendo unir o céu e a terra, o finito e o infinito. Expoentes do mundo da cultura e do diálogo interreligioso estavam presentes saboreando o espetáculo. Temos certeza de que O TRANSCENDENTE ajudará os professores de Ensino Religioso a formar uma nova geração capaz de colher o que há de melhor, e de extirpar o que há de negativo no mundo religioso e cultural, para que o gênero humano caminhe decididamente para a fraternidade e a paz.

Acredita-se que o ser humano seja originário da África, e que, portanto, este continente seja o berço da raça humana. Por isso, precisamos voltar nosso olhar novamente para as nossas origens e reaprender o quanto é importante a vida comunitária, a solidariedade e tantos outros valores que já esquecemos. Coloquemo-nos como ouvintes e, como as crianças que estão na capa, aprendamos algo a mais sobre a vida.

Um livro completo e pedagógico que a equipe de “O TRANSCENDENTE” preparou para os professores de Ensino Religioso de todo o Brasil.

O TRANSCENDENTE é um sucesso total. Em poucos meses já superou as 5.000 assinaturas. Agradecemos aos professores e as numerosas Secretarias de Educação dos Estados e das Prefeituras que realizaram as assinaturas para todos os seus professores de ER. O Jornal O TRANSCENDENTE tem, como único objetivo, ajudar os professores de Ensino Religioso a enriquecer sua formação e suas aulas, apresentando, de forma criativa, o universo religioso nos seus mais diferentes aspectos. Utilize o CUPOM da página 11 ou o site acima.

Jornal bimestral de Ensino Religioso pertencente ao PIME Registrado no Cartório de Registro Civil de Títulos e Documentos de Pessoas Jurídicas de Florianópolis sob o nº 13

Diretor: Pe. Paulo De Coppi - P.I.M.E. Jornalista Resp.: Yriam Fávero - Reg. DRT/SC nº 800 - Redatores: Sandro Liesch / Volnei Lazzari Revisor: Mauri Heerdt - Diagramação: Fábio Furtado Leite - Ilustração: Victor Conceição Marketing: Patrícia Hoffelder - Atendimento ao Assinante: Miriângela Paim / Lenir Lazzari e Ediany F. Gomes da Rosa - Financeiro: Jocimare Gomes da Silva

Endereço DO JORNAL “O TRANSCENDENTE”: SEDE: Av. Hercílio Luz, 1079 - Servidão Missão Jovem PARA CORRESPONDÊNCIA: Cx. Postal 3211 / 88010-970 / Florianópolis / SC FONE: (48) 3222-9572 / FAX-automático: (48) 3222-9967

ASSINATURA ANUAL Ano I - Nº 2 - AGOSTO/SETEMBRO - 2007 •Individual: •Assinatura Coletiva (no CUPOM da página 11) •Assinatura de apoio: •Internacional:

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O ENSINO RELIGIOSO

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homem não se basta a si mesmo. Desde as primeiras manifestações de sua atividade intelectual ele constatou o “totalmente outro”, algo que transcende a contingência existencial. Dos mitos às mais diversas indagações do logos ao longo da história, o homem não conseguiu resolver e, sobretudo, eliminar a idéia de Deus. Vamos percorrer rapidamente o pensamento da humanidade sobre Deus nos principais períodos da história. Para melhor compreensão subdividimos em 3 épocas:

1. Na antigüidade Na Antigüidade, a reflexão sobre Deus era feita a partir do “cosmos”. Mas, por ser um período muito extenso, temos posturas muito diferentes. Podemos subdividir em 3 períodos:

a) Num primeiro período, tivemos os pré-socrá-

ticos, que explicavam Deus como princípio da realidade, isto é, um ser do qual derivam todos os seres. Eis o que dizem alguns desses autores: para Tales de Mileto, este ser é a água; para Anaximandro, é o “apeíron”; para Heráclito, é o devir constante; pra Pitágoras, são os números; para Parmênides, é a estabilidade. Para os filósofos da antigüidade grega os seres têm a sua origem num único ser, princípio de tudo.

B) Num segundo período, mudou-se o foco da re-

flexão. Os filósofos gregos apelavam para a ordem das coisas existentes, isto é, busca-se um princípio ordenador. Sócrates acreditava numa inteligência soberana, que regulava toda a realidade. Trata-se de um demiurgo, isto é, que tira as coisas do caos e põe tudo em ordem. Platão vai além. Diz que o demiurgo é um Deus e artífice, que tem como modelo o mundo das idéias e cria o mundo sensível. Aristóteles já descobre um Deus transcendente, que não se pode conhecer e nem ele conhecer o

mundo sensível. Mas, o movimento das coisas é inspirado em Deus.

C) Num terceiro período, conhecemos o pensa-

mento dos neo-platônicos que afirmam a existência de um “nous”, isto é, algo que está na origem de tudo e que tudo acontece a partir dele. A alma está aprisionada ao corpo humano e precisa retornar para a sua essência, para a sua origem.

2. Na Idade Média Na Idade Média, Deus é visto a partir da revelação judaico-cristã, não tanto pela razão. Neste período a reflexão filosófica sobre Deus se resume na defesa do Deus da revelação. Dentre os principais pensadores destacam-se Santo Agostinho (século IV), Santo Anselmo (século 12) e Santo Tomás de Aquino (século 15). Santo Agostinho, inspirando-se em Platão e em Plotino, mostra um Deus onipotente, onisciente, trindade, onipresente e encarnado. Trata-se do Deus da revelação. Santo Anselmo resolve a questão da existência de Deus através de dois argumentos, o “a priori” e o “a posteriori”. Santo Tomás, baseando-se em Aristóteles, desenvolve as cinco vias para se provar a existência de Deus: a vida do movimento, da causa, da contingência, dos graus de perfeição e da ordem das coisas.

3. Na Modernidade A partir da modernidade Deus é visto a partir do ser humano. O homem, ser concreto, é o que interessa. O iluminismo decretou o reinado da razão. Só aquilo que a razão entende é possível. Assim, na idade moderna nós vamos encontrar três posições distintas:

a) Os que não acreditam na existência de Deus.

Estes têm suas raízes no iluminismo, que pregava a superioridade da razão sobre a fé. Um dos personagens principais deste período é Feuerbach, para quem Deus é uma projeção humana. Além dele, aparece Marx, que dizia ser a religião um meio de manter a classe proletária dominada pelo dominante. E S. Freud

afirma que a religião e Deus é uma neurose, que tem como causa o complexo de Édipo e o “totem”. F. Nietzche, afirma a morte de Deus e que os cristãos já o mataram. Para ele Deus não passa de uma redução da vida, um niilismo. Para Sartre, Deus é uma hipótese inútil, pois o homem não precisa de Deus, o homem se basta, ele constrói sozinho sua existência.

B) Os que acreditam em Deus.

Hegel afirma a existência de Deus, não o Deus da revelação ou o Deus da Bíblia, mas o Deus da razão. Sua idéia de Deus é panteísta, pois ele está em todo o sistema e todas as coisas são manifestações dele. S. Kierkegaard afirma a existência de Deus e que não se pode viver sem ele. M. Scheler afirma que não é Deus que busca o ser humano, mas é o ser humano que busca a Deus. R. Otto desenvolve a idéia de que Deus é o sagrado, que todos buscam, aquilo que fascina e que causa tremor.

C) Os que não crêem em Deus,

afirmando a impossibilidade de conhecê-lo, pois está associado ao saber científico. O que não é experimentado não pode ser provado, nem se pode falar. O grande nome deste pensar é Wittgenstein, que afirma: tudo o que está além da linguagem é indisível. Deus é aquilo de que não se pode falar, apenas apontar.

1. Segundo sua experiência e sua fé, o que é Deus ou quem é Deus?

2. Como você se posiciona diante de uma orientação diferente da sua fé? 3. Na sua opinião, o que seria a “tolerância religiosa”?

1. Estas são algumas afirmações sobre religião. Assinale a que parece ser mais verdadeira: ( ) “A religião nasce do medo do ser humano.” ( ) “É uma necessidade do ser humano, igual ao afeto, à amizade e ao amor.” ( ) “É coisa para mulheres, idosos e crianças.” ( ) “Ciência e fé são inconciliáveis.” ( ) “Existe desde sempre e faz parte do ser humano.” ( ) “É uma dimensão fundamental de cada pessoa.” ( ) “É aquilo que liga o ser humano a qualquer coisa maior do que ele.” ( ) “É uma questão pessoal.” 2. Para você, o que é religião? 3. Como deve ser vivida a religião?

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conceito de relação precisa ser abordado e fundamentado numa perspectiva histórico-crítica, privilegiando os aspectos psico-sociais e, principalmente, os aspectos dialéticos e críticos. São as relações que se estabelecem que definem um grupo como tal, e estas foram firmando entre as pessoas e os bens desde a préhistória, passando pela Revolução Industrial, até os nossos dias, tempo histórico marcado pela presença constante da tecnologia digital.

RELAÇÃO DE EXCLUSÃO O modo de produção capitalista é definido nas relações de dominação e exploração. Com isso, passa a ser central hoje a relação da exclusão. Com transformações tecnológicas, a maneira de se produzir as coisas, e a maneira de se executar os serviços, sofreram uma transformação profunda. Dentro deste contexto, as relações de dominação e exploração da produção capitalista deram lugar à relação de exclusão, onde as pessoas são simplesmente excluídas do trabalho e, conseqüentemente, da produção. O neoliberalismo tornou-se causa de exclusão, pois, o desenvolvimento ocasionado pelas novas tecnologias, gerou a lei da competitividade, o que pressupõe a liberdade do mercado. Um dos resultados é o crescimento assustador da brecha entre ricos e pobres, embora que a produtividade mundial, que chega a uma média de 4.200 dólares por pessoa ao ano, ofereça a todos a possibilidade de viverem com conforto e dignidade. É esta má distribuição de renda que dá origem ao quarto mundo, o mundo dos excluídos, da extrema pobreza, do analfabetismo, etc.

CONVERSANDO COM O EDUCADOR

O SOCIAL NÃO EXISTE MAIS Nesta política da lógica da exclusão, predomina o clima de indiferença anti-solidária que transforma, a imensa massa sobrante de seres humanos em objetos descartáveis, sobrevivendo como lixo da história. O resultado é um forte senso de individualização do social e um endeusamento do individual que acaba criando um desemprego planejado e legitimado por teorias psico-sociais. Com isso, um restrito número de pessoas são responsáveis por uma situação econômica adversa e injusta, na qual o social não existe. Onde a ética fica apenas na dimensão do individualismo, surge uma micro-ética em detrimento da necessidade de uma macro-ética. Além da exclusão social, existe a exclusão dos saberes, pois o conhecimento científico mostra desconfiança pelo conhecimento espontâneo das pessoas comuns. O menosprezo pelos saberes populares esconde uma discriminação, uma tentativa de exclusão ou, pelo menos, a supressão de um determinado tipo de saber. Enquanto o saber acadêmico ou institucional for hegemônico, dificilmente poderá se falar de uma sociedade verdadeiramente democrática e pluralista, tanto do ponto de vista político como cultural e econômico.

CAMINHOS HUMANIZANTES Na visão neoliberal, não há espaço para o social nas ações do Estado, pois o ser humano é definido como indivíduo, alguém que é um e que não tem nada a ver com os outros. Dessa forma, a pessoa torna-se a única responsável pelo seu êxito ou fracasso. Quem vence é aprovado e aceito no sistema, e quem é vencido é excluído. Esta é a lógica que dá origem ao quarto mundo, o mundo dos excluídos. Portanto, são necessários novos caminhos e atitudes novas, mais humanizantes e éticas, que conduzam a novas relações baseadas no respeito pela diversidade e que sejam pluralistas, democráticas, inclusivas e participativas.

1. Estão de acordo com o exposto neste

artigo? 2. Qual a missão da escola na construção de uma sociedade, pluralista, democrática, inclusiva e participativa? Acesse o site e veja outras reflexões de Jorge Schemes www.jorge-schemes.blogspot.com

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á vai ele. Como um saco plástico, desses de supermercado. Levado pelo vento e pela poeira, alça vôo, a alguns metros acima do calçamento da via pública, como um pássaro inanimado. Sobe, desce, dá piruetas e cambalhotas. Sempre na mesma direção. Sempre no mesmo sentido, ou na falta de sentido - e de rumo. O homem vazio é aquele saco plástico. Lá vai o homem vazio caminhando seus próprios (des)caminhos, cumprindo seus dias. Lá vai ele, completamente vazio: apenas pele, ossos e vísceras. Segue inerte, sem sentido e rumo, movido pelo acaso ou pelos ventos, tal qual o saco plástico da nossa metáfora. Segue. Alheio ao cantar e ao colorido dos pássaros. Alheio à lua cheia; ao pôr-do-sol. Alheio à vida. Alheio ao amor. Alheio a tudo que é essencial. Vazio de idéias, de sentimentos. Vazio de caráter. Como que destituído de animo, de emoções. O homem vazio está em todos os caminhos e lugares. Está no Congresso. Está no executivo estadual e municipal - mas também pode chegar um dia ao executivo federal. Pode ser até mesmo o prefeito da maior cidade de seu país. Pode ser um governador de Estado, um senador, um deputado; um vereador. O homem vazio está também nas empresas públicas e privadas. Geralmente ocupa cargos de chefia, tornando vazia e atormentada a vida de seus funcionários. O homem vazio também está nas redações de jornais e revistas; na internet. Está nas escolas! Sim, dezenas, centenas de homens vazios estão, nesse preciso instante, nas salas de aula, ensinando nossas crianças e jovens a serem, como eles, vazios. Homens vazios estão nas faculdades formando professores, engenheiros, médicos, jornalistas vazios. É preciso que identifiquemos e nos livremos dos homens vazios - ou que, pelo menos, aprendamos a reduzi-los à sua real dimensão. É preciso colocar o necessário “enchimento” nos homens para que estes deixem de ser vazios. É preciso cuidar do homem para que deixe de vagar, vazio, ao sabor do acaso. Adaptação de um texto publicado no site Agência Carta Maior www.cartamaior.com.br Por: Lula Miranda, poeta e cronista. poetalulamiranda@yahoo.com.br

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Geninho: Olá amigos, tudo bem com vocês?! Nesta edição apresento para vocês o meu amigo Muenda. Vamos prestar muita atenção ao que ele vai nos contar sobre as religiões dos africanos. Muenda: Antes de começar, gostaria de dizer-lhes

que nas expressões religiosas africanas não há céu e terra, tudo é uma coisa só, tudo faz parte deste mundo, deste cosmos criado. Existe, sim, Òrum, mundo invisível e, Àiyé, mundo visível. Neles estão todos os nossos ancestrais, aqueles que deram origem a nossa história e tradições. Não há divisões, não há fragmentos, pois nós somos uma totalidade. Vocês não conseguirão conceber as religiões africanas sem a festa, sem comunhão, sem a dança, o canto, o gesto, sem o corpo, e, sobretudo, sem comida farta para os seus filhos e filhas e sem a partilha. A religião dos Orixás é a religião da festa. É a religião onde seus filhos e filhas se juntam com todos os seus irmãos, mesmo que sejam de outras religiões, para cantar, dançar e brindar à vida.

O mito da CRIAÇÃO Vou contar agora para vocês um dos mitos da criação presente nas religiões africanas que, por serem os mais antigos da humanidade, eles se encontram em várias outras religiões. Vamos ao conto: Certo dia Olorum, o Senhor Supremo, resolveu criar o universo. Para isso, cada Orixá pegou alguma coisa para ajudá-lo. Ogun: O Senhor do ferro. Ele pegou o ferro e com ele criou os utensílios, as ferramentas para a agricultura e a espada para se defender. É ele o dono da música, do ritmo. Ele é também o orixá da solidão, aquele que inicia os jovens na guerra, na agricultura, na luta e também no amor. OXÓSSI: Senhor da caça. Ele pegou o arco e a flecha, para que pudesse entrar na mata, e lá caçar para prover à sua comunidade. OSSAIM: Senhor das folhas. Foi ele quem pegou as folhas com as quais sabia fazer todos os remédios e todas as poções mágicas para curar as pessoas. OXUM: Mãe das águas doces. Ele se encarregou de cuidar das crianças e de preservar as águas, sem as quais os homens e as mulheres não poderiam viver. YEMANJÁ: A grande mãe das águas salgadas. Ela pegou as águas do mar, com as quais os homens e as mulheres poderiam correr o risco de encontrar a sua praia.

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UNIVERSO RELIGIOSO

XANGÔ: O Senhor do raio. Ele pegou a justiça, o machado de duas pedras, com o qual ele julgava de uma maneira absolutamente tranqüila, firme e forte. Neste evento também estava presente Iansã, a Senhora dos ventos e das tempestades, a transgressora que desafia todas as formas de vida. Estava também o Oxumarê, o Senhor da transformação, o belo arco-íris.

O mito da CRIAÇÃO do homem e da mulher

Mas os orixás, sentindo que faltavam o homem e a mulher, resolveram criá-los. Cada orixá trouxe para Olorum uma parte daquilo que escolheu, mas era impossível criar o homem com essas partes. Lembraram-se então da lama que era produzida da dança da água com o ar. Mas essa lama não se deixava tocar. Chorava, e os orixás tinham medo ou dó de tocar nessa lama. Um dia, porém, chegou Iku, a morte, que não teve a menor pena da lama e disse para Olorum: “eu arranco um pedaço dessa lama e, com ela, você moldará o homem e a mulher”. Olorum concordou. Iku arrancou um pedaço da lama que chorava e gemia. Mas ela (Iku) não se comoveu e, entregando para Olorum o pedaço, chamou-o de Orixalá. Iku, pegando a lama, moldou o corpo do homem e da mulher, soprou o seu hálito e eles vieram à vida. Assim foram feitos o homem e a mulher. Mas como a lama ainda chorava, o generoso Olorum, fez um acordo com a lama de que um dia, com a morte, devolveria o seu sopro e, conseqüentemente, devolveria à lama o que havia arrancado para criar o homem e a mulher.

Muenda: Certo dia Olorum co-

meçou a movimentar-se e criou o ar, a água e, da dança entre a água e o ar, criou-se uma fusão da qual surgiu a lama. Encantado, continuou dançando e, da lama, surgiu uma bolha vermelha. Ele soprou nela o seu espírito e o seu hálito deu-lhe vida. Dessa relação apaixonada surge o primeiro ser vivente: Exu, a força vital, o ser vivente, individual, princípio de todas as coisas criadas. O articulador entre um mundo espiritual e carnal. Após Exu vieram os outros Orixás. Eles são forças cósmicas que surgem na natureza, a fazem ficar bela e estar em comunhão com os homens e as mulheres.

O mito da imortalidade Em um determinado momento, o mundo estava quase lotado de idosos, jovens, e nada mais. Os jovens revoltaram-se e se dirigiram para Olorum dizendo que os idosos não os deixavam fazer nada e dominavam o mundo. O Senhor Supremo disse que estava cansado disso. Novamente é Iku quem resolve o novo enigma. Após ter falado com Olorum, resolvem o problema fazendo chover sobre a terra por dias e noites. O mundo foi se enchendo de água e os jovens foram subindo nas maiores árvores, enquanto os idosos, não conseguindo subir nelas, acabaram morrendo afogados. Após aquele dia, aconteceu uma grande festa na terra porque a imortalidade havia acabado. É por isso que, na tradição africana, o tempo segue o seu ritmo: o velho morre para dar oportunidade ao jovem que vem.

Geninho: Como viram, as religiões afri-

canas nos ensinam que, para conquistarmos a nossa ancestralidade, temos que construir o nosso bom caráter em consonância com Deus, comigo, com o outro, com a natureza e com a comunidade. Se não tivermos esta relação, acabamos diminuindo o tempo que temos para viver. A construção do bom caráter é aquilo que me possibilita receber toda a força vital que nos é oferecida por Olorum. A vida foi feita para ser vivida abundantemente. É isso que a religião dos Orixás nos ensina. Olorum quer que sejamos capazes de viver bem a nossa vida.

Proposta de trabalho: Com uma bateria de perguntas, elaboradas pelo professor sobre o texto estudado, dividir a turma de alunos (as) em dois grupos. Eles passarão a competir num jogo de perguntas e respostas usando a metodologia de sorteio de pergunta e de aluno que responderá pelo seu grupo. Um acerto equivale a um bônus de 10 pontos e, um erro, a perda de 5 pontos.

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ESPIRITUALIDADES

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ossa amiga Isabel, que esteve visitando o continente africano e, observou de perto suas culturas e suas tradições, nos fala da importância do som do tambor na vida daqueles povos.

O SENEGALÊS MOHAMMED BA explica-me: “O africano vê a si mesmo como sendo uma pérola que é importante na medida em que faz parte de um colar. No nosso caso, o colar não é composto somente da comunidade humana, mas também dos espíritos que a cercam, os espíritos das árvores, dos peixes, dos minerais, das entidades que formam as forças da natureza. É através dos ritmos dos nossos

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ginário africano, o homem não morre, somente viaja. Em cada objeto, planta ou animal da natureza encontramos os espíritos dos nossos antepassados que continuam nos vigiando e nos punindo toda vez que não respeitamos as tradições”.

ISABEL: Entendi! São espíritos que não falam, que ninguém vê, mas que observam e escutam. BA: “E isso mesmo. A única maneira que temos para entrar em contato com eles é o tambor que, As mãos de Mohammed Ba dan- Bauan: Ritmo para pedir a chuva. além de um instrumento musical, é çam ágeis e velozes na pele de seu tam- Lamba: Ritmo das mulheres no momento da semeadura. também um telefone que nos permite cobor dando vida a um ritmo ancestral Labam: Ritmo usado após a primeira noite de matrimônio. municar diretamente com os antepassados que mexe com o corpo e os sentimenatravés de ritos propiciatórios. A única tos, transportando-os num mundo di- Balanta: Ritmo dos caçadores que pedem a proteção dos espíritos. nossa certeza é que a vida não se conclui ferente e misterioso. Tatulaobe: Ritmo que expressa a felicidade após uma boa colheita. com a morte, mas que a morte faz parte De fato, na cultura negro-africana, Dundumba: Ritmo que festeja a passagem à idade adulta. da vida. Eis por que nós não choramos a música não é parte da vida, mas é a própria vida. tambores que nós entramos em sintonia com os espíritos que nos pela morte de um ente querido, ao contrário, a celebramos e festejamos. circundam”. O africano nunca se sente sozinho! Toda vez que ISABEL: Espíritos? Quem são eles? Eles dão medo na você toca ritmicamente o seu tambor, você tem certeza de que gente? seus antepassados o escutam. E mais você tocar, mais eles escu“Absolutamente, pois nós africanos damos pouca imtam. Tenho certeza de que, neste exato momento em que estou portância à morte, considerando-a algo natural. No imalhe falando, meus antepassados estão me escutando. Espero que eles aprovem aquilo que digo e faço”.

SUA ORIGEM Os escravos africanos, que foram trazidos ao Brasil, trouxeram consigo suas religiosidades e seus ritos. Estas expressões religiosas, desde a chegada às terras brasileiras, sobrevivem graças ao sincretismo que se deu entre elas, o catolicismo e o espiritismo. Esta amalgamação de crenças e rituais é tão evidente que já não as chamamos de religiões “africanas” e sim religiões “afro-brasileiras”.

A FORÇA DO SINCRETISMO O continente africano era dividido em duas partes: o norte, de culturas sudanesas e o sul chamados de bantos. Dos negros sudaneses, as culturas que mais se enraizaram no Brasil foram a nagô e a gêge, provenientes da Nigéria e do Daomé. Coube à cultura nagô (iorubana) a hegemonia em todo o Brasil, de norte a Sul. O referido sincretismo ganhou muita ênfase no Brasil, devido à precariedade das senzalas, onde negros de diversas culturas viviam lado a lado, favorecendo o sincretismo entre as próprias religiões africanas. Durante o período colonial e imperial, o catolicismo reinava como religião oficial (1500 a 1889) e as manifestações exteriores das demais religiões, inclusive as práticas dos negros, foram abafadas. Indiretamente, por um mecanismo de defesa, este fato possibilitou aos negros a manutenção dos cultos e rituais, ocultando seus deuses, mas dando a eles mesmos nomes de santos católicos. Com tal subterfúgio, respeitavam a lei vigente e continuavam cultuando seus deuses africanos.

EXEMPLOS CONCRETOS O processo era simples, transferia-se aos santos católicos com especificações idênticas aos dos Orixás. Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, Iansã com Santa Bárbara, Ogum com São Jorge e assim por diante.

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Entre os sudaneses se cultuavam os orixás (entidades sobrenaturais, intermediários entre os homens e Olorun, o deus maior e superior a todos). Já entre os bantos do Sul se veneram os espíritos ancestrais, de pessoas humanas que viveram efetivamente. Em Benguela, (Angola), sabe-se que existia o culto “orodere”, semelhante ao “espiritismo”, por isso também foi fácil aos negros de origem banto amoldarem-se às práticas espíritas que se desenvolveram no Brasil. Dessa diferença entre os cultos sudaneses e bantos derivou uma diferenciação nas religiões afro-brasileiras. De um lado temos o Xangô em Pernambuco, o Candomblé na Bahia e o Batuque no Rio grande do Sul, todos eles com origem sudanesa. Estas diversas designações são apenas rótulos regionais para um mesmo conteúdo. De outro lado, por parte das culturas bantas, à mercê de um grande sincretismo, nasceram todas as casas chamadas de “umbanda”, criando no Brasil uma nova religião, nas quais são cultuados, além de orixás e dos espíritos ancestrais, os “espíritos-guias”, assim denominados por influência espírita.

NEGROS E INDÍGENAS No Brasil, as misturas se acentuaram juntando-se também as tradições e as crenças dos nativos americanos. Este sincretismo das religiões negras com elementos das culturas indígenas deu origem a um novo tipo de culto: o “candomblé de caboclo”, onde são cultuados os orixás africanos juntamente com os deuses indígenas. Nos cultos sudaneses são usados línguas africanas, principalmente o nagô e o gêge. Já nas casas de umbanda e caboclo, domina o português, misturado a palavras africanas e expressões em tupi. Texto adaptado da sociedade Ilê Oxum Docô

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a cultura africana, o morrer com idade avançada e ter um funeral digno são sinônimos de uma boa morte. Em vista disso, muitas pessoas preparam de antemão o seu próprio funeral, guardando dinheiro e encarregando pessoas para prepararem a cerimônia fúnebre. A morte de um membro da tribo não interessa somente à sua família ou ao grupo de parentes e amigos, mas envolve todos os aldeões. Por isso, quando morre um membro na aldeia, a família não pode publicar a sua morte ou manifestar seu sentimento de desconsolo antes que a notícia seja comunicada ao chefe da aldeia. Será ele que, em seguida, dará ordens ao tocador de tambor para que convoque a população na praça pública, debaixo de uma árvore, lugar do anúncio oficial de qualquer notícia importante.

Anúncio da morte

RITOS E VIDA

que ele mais gostava em vida. Se o falecido for um chefe, ele será revestido de toda a sua indumentária tradicional e contará com a presença de suas serventes, que passarão o tempo todo espantando as moscas e insetos que se aventurarem a pousar sobre o corpo. No caso de uma moça bonita, depois de bem vestida e ornamentada com bijus, será exposta sentada numa cadeira, com as costas apoiadas no muro da parede, os olhos abertos e as mãos apoiadas sobre os joelhos. Dessa forma, os visitadores ainda poderão admirar a sua beleza. Nesta postura, acreditam que ela se alegrará com o espetáculo da dança que será feito em sua honra. Quando o falecido é um rapaz que gostava de jogar futebol, terá ao seu lado uma bola, um apito... e seus colegas lhe prestarão uma homenagem, como se estivessem jogando uma partida de futebol.

O som do tambor é entendido à distância e cada aldeão deixa imediatamente seus afazeres, SEPULTAMENTO mesmo estando na roça, para participar do anúnAntes do momento do enterro, muitas pescio da partida de um dos seus, para a aldeia dos soas trazem uma peça de pano, às vezes de qualiantepassados. Somente depois que a notícia é “Ouça no vento o soluço do arbusto: É o dada, todos os presentes, do menor ao maior, para manifestar seus senti- sopro dos antepassados. Nossos mortos não mentos de pesar, terão que chorar um partiram, estão na densa sombra. Os morpouco. Em seguida, um ancião conso- tos não estão sob a terra. Estão na árvore la a todos e juntos vão para a casa do que se agita, na madeira que geme, estão na falecido. água que flui, na água que dorme, estão na Os anciãos, chegando lá, tomarão cabana, na multidão; os mortos não morreas decisões mais urgentes para o bom andamento do funeral: Quem vai la- ram... Nossos mortos não partiram: estão var o cadáver? Quem vai cavar a cova no ventre da mulher, no vagido do bebê e fúnebre? Qual a religião que ele pra- no tronco que queima. Os mortos não estão ticava? (para que sua crença seja res- sob a terra: estão no fogo que se apaga, nas peitada) plantas que choram, na rocha que geme, esQuem organiza a dança fúnebre? tão na floresta, estão na casa, nossos Quem vai dar a notícia nas outras al- mortos não morreram”. deias vizinhas? Birago Diop, poeta africano. Essa última função era reservada ao chefe e seus notáveis, pois o chefe é o guardião dade, para oferecer ao defunto, com o qual será embrulhado. Segundo a crença, estes tecidos seda tradição e o responsável pelos aldeões. rão apresentados aos seus antepassados que esEXPOSIÇÃO DO MORTO tão na outra vida, dizendo-lhes: “Veja o que meus Depois de lavado o corpo do defunto, ele é parentes e amigos me ofereceram, eles foram generosos para exposto para a visitação dos aldeões. Não existe comigo”. uma regra única para a exposição do cadáver, Os antepassados, desta forma, continuarão a isso depende do status social do falecido ou do abençoar e proteger aquela aldeia e todos os seus habitantes. As pessoas oferecem também animais domésticos, para serem sacrificados em sua honra ou oferecidos aos visitantes. Nada daquilo que foi doado poderá ser guardado, tudo deve ser oferecido em sacrifício ou utilizado nos dias que sucederão à cerimônia fúnebre. O termômetro, para determinar a quanto uma pessoa foi amada em sua vida terrena, é medido pelos dons e pela solenidade da cerimônia fúnebre (dança, música, comida, bebida, participantes...).

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ADEUS AO DEFUNTO

Um ancião enche uma cabaça com vinho de palma e derrama o conteúdo no fundo da cova, invocando os antepassados dizendo: “venham, eis aqui o vosso vinho, bebam e protejam todos os habitantes da aldeia”. Posteriormente, colocam o defunto na cova e, antes de cobri-la com terra, outro ancião se aproxima e, em nome dos aldeões, dá o “último adeus” ao falecido. Segundo a crença, este é o momento exato em que o espírito do falecido se desintegra do corpo e parte para a aldeia dos antepassados. O ancião, então, diz em voz alta: “Nós te damos o nosso até logo, ignoramos quem te matou. Se foi o firmamento (divindade local) que te chamou, vai em paz; todavia se foi um inimigo, mata-o e leva-o contigo.” Em seguida, começa-se a cobrir de terra a cova, começando de maneira superficial, porque é esta primeira camada de terra rasa que estará em contato com o cadáver. E, como a terra (divindade local) ouviu o derradeiro adeus feito pelo ancião e viu todas as suas ações, logo relatará ao defunto toda a verdade. Dizem os anciãos: “em vida pode-se enganar os outros, mas com a morte tudo se esclarece, não há mais mistério para o falecido”. Para concluir este ritual, os anciãos e os coveiros se reúnem em torno da cova para beber o resto do vinho de palma. Na entrada da aldeia, acendem uma fogueira e passam pelas chamas de fogo os instrumentos de trabalho a fim de purificá-los dos vestígios da morte. O rito fúnebre não se encerra com o sepultamento. As cerimônias vão se estender ainda por mais três dias para as mulheres e quatro dias para os homens.

1. Após a leitura atenta do texto que mostra o rito fúnebre da tribo Baulé, montem, em grupos, uma tabela mostrando as diferenças, num paralelo, entre o que acontece na tribo Baulé e na sua família, comunidade, cidade ou região, desde os procedimentos de avisos, sentimentos, rituais e sepultamento. 2. Na tribo Baulé, para ter uma boa morte, é necessário, dentre outras, alcançar uma idade bastante avançada. Em nosso país, muitos jovens perdem a vida precocemente. A) Como é que geralmente isso acontece? B) Disserte sobre a perda de vidas jovens em nosso país.

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E

m meados de junho, um barbeiro tomou a liberdade de me perguntar, meio constrangido, se “a África é aquilo mesmo que aparece na televisão”. Eu respondi que era tudo verdade. Foi um espanto! Mas, por educação, ele continuou a lidar com o meu cabelo, em silêncio, talvez esperando mais palavras minhas. E elas vieram. O motivo da pergunta era uma reportagem que passava na televisão sobre a miséria extremada em Darfur, região no sudoeste do Sudão. As imagens mostravam milhares de refugiados que viviam em penúria absoluta. As Nações Unidas falam em tragédia sem precedentes na história recente da humanidade. A tragédia em Darfur é uma combinação de três fatores: guerra civil, ação de milícia islâmica e seca. Há décadas, o Sudão está em guerra civil que envolve o sul, de maioria negra e cristã, contra o norte, de pele mais clara e majoritariamente islâmica.

ATUALIDADES

“Se é tão ruim assim, por que você vai voltar pra lá?”, indagou o barbeiro ainda mais espantado, e não com a situação da África. O espanto dele estava na minha insistência em querer voltar para uma região tão empobrecida, quando tudo parece ir bem comigo aqui no sul do Brasil, região relativamente desenvolvida.

África: sucessos e fracassos A África não é só miséria. Há aldeias e subúrbios miseráveis, mas há também cidades grandes e agradáveis para se viver; há fome e doenças crônicas, mas há também fartura.

Uma dura realidade Em se tratando da minha África, continuei falando para o barbeiro. A reportagem podia estar focada na Somália e em pelo menos outros cinco países sem muita diferença. Os motivos podem ser resumidos em três: indefinições étnicas ou tribais, disputas políticas, de cunho ideológico ou religioso, e ambições econômicas. No campo da economia, a África é o continente mais atrasado de todos. Os indicadores vitais e econômicos são os piores do mundo. Um grande jornal da França chegou a escrever que se a África desaparecesse do mapa, não teria grande impacto negativo na economia mundial. Apesar do exagero, a asserção tem ainda um fundo de verdade. O peso da África, na economia mundial, fica em torno de 2,5 %. Uma insignificância para a sua pujança natural em termos de minérios, fauna e flora. Somado a isso, há problemas como corrupção e desmandos na administração pública e de fuga de cérebros para a Europa, América do Norte e Austrália. Além, é claro, da AIDS (SIDA), que já é uma endemia em alguns países. A AIDS só veio agravar a situação da saúde pública que já era crítica por causa de outras doenças crônicas como a malária, a tuberculose, a febre amarela e a hanseníase. Vista de longe e por fora, a África é uma verdadeira tragédia!

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antílopes? Tirando a Amazônia, onde mais se pode encontrar florestas tropicais frondosas, habitat de biodiversidade e fonte de renda para a população? O que falta, como observou o atual presidente sul africano, Thabo Mbeki, é a disseminação da nova mentalidade sobre a África. Ou seja, a nova geração de líderes africanos defende o princípio de que as riquezas naturais da África não sejam usadas como moeda de barganha no mercado mundial. Nada de apenas pedir esmola. Essa tem sido a postura da nova África do Sul. “Nós temos recursos e mão de obra, vocês têm dinheiro e tecnologia. Então, vamos negociar e proceder à troca como dois protagonistas”. Em termos do comércio internacional, empresas dos Estados Unidos tiveram retorno médio de 30% dos investimentos feitos no continente africano na década de 1990, maior que em qualquer parte do mundo. A própria China, percebendo as potencialidades da África, tem investido nos últimos cinco anos bilhões de dólares em infra-estruturas (habitação, energia e transportes) e mineração.

A áfrica para os africanos

Isso significa que cada um dos 53 países independentes do continente é uma história particular de fracassos e de sucessos. Alguns se envolveram em guerras civis e outros experimentaram golpes de estado; a maioria deles é miserável, outros são medianamente desenvolvidos. A África do Sul pode ser equiparada ao Brasil em infra-estruturas e indicadores econômicos. Se a Somália e o Sudão são dois exemplos de calamidade, países como Botswana e Cabo Verde são exemplos de sucesso. Botswana, por exemplo, nunca experimentou guerra civil e nem golpe de Estado, sempre houve eleições multipartidárias e democráticas; não tem dívida externa e cresce a média de 10% ao ano de uma década para cá.

A África rica A África é um continente de grandes potencialidades a serem dinamizadas pelos próprios africanos, como disse o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, por ocasião da chegada do século XXI. Dados das Nações Unidas corroboram as palavras de Mandela, ao apontarem que a África detém 8% de todas as reservas mundiais de petróleo, 27% de bauxita, 29% do urânio, 50% do ouro e diamante e 75% do fosfato, bem como considerável porcentagem de gás natural, cobre, ferro, manganês, cromo, cobalto e titânio. Diga-se também que a África é a maior reserva natural de fauna. Onde mais no mundo se pode encontrar em seu habitat grandes animais como girafas, elefantes, leões, zebras, hipopótamos e

O que irá acontecer dependerá do engajamento dos próprios africanos na dinamização das economias, no combate à corrupção, ao desperdício e à má administração. Vai depender também da ação da sociedade civil fora da alçada governamental e do encaminhamento dado às ajudas (ainda) recebidas de africanos na diáspora e de organizações sociais amigas. Para concluir, eu disse mais ao barbeiro: Apesar de me sentir bem aqui no Brasil, eu ficaria melhor no meu continente por dois motivos: 1) A terra da gente não se troca a não ser por incumbências missionárias, profissionais ou situações similares; 2) A África precisa muito mais de mim (e de todos os seus filhos na diáspora) do que o Brasil. Aqui eu sou apenas mais um. Lá na minha terra, eu sou um entre poucos especialistas. Se existe tragédia em Darfur, a culpa é também minha. O meu distanciamento soma-se ao de milhões de outros africanos. Tenho meus problemas, mas as necessidades da África transcendem as minhas razões pessoais.

Realizar, em grupos, uma pesquisa sobre o continente africano: • Desenvolvimento social, • Saúde, • Religiosidade. Apresentar os resultados para a turma.

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NOSSO COMPROMISSO

A

chave que norteia a vida quotidiana nas aldeias africanas, seja em nível material, espiritual, no sofrimento ou no luto. Nas aldeias, o povo vive do trabalho na roça (todos têm um pedaço de terra para plantar), desenvolvendo uma cultura de subsistência. Ninguém tem o direito de guardar somente para si mesmo ou sua família os frutos da colheita. Em caso de necessidade, partilhase com os outros aldeãos o pouco que colhem. Logo, quando há fome, é sinal de que ninguém tem mais nada em sua casa. É comum convidar alguém para comer junto: quando algumas pessoas estão sentadas debaixo de uma árvore para o almoço e passa alguém em frente, logo é chamado para comer junto. Mesmo que seja somente para responder positivamente ao convite. Na tribo Baulé, usa-se a seguinte expressão para convidar alguém Pobre No mundo ocidental fala-se muito em cooperação Norte / Sul (papara almoçar: “a nossa mão está dentro da marmita”. O outro responde: com pobre, não íses ricos / pobres). Isto gera muita humilhação e dependência de um “a minha também”. Em seguida, lava as mãos (comem com as mãos), lado e soberba e arrogância do outro. dá miserável, dá agradece e vai embora. Entretanto, sabemos que, as doações feitas pelos países ricos do Em nível espiritual, também há uma grande solidariedade que solidariedade! ocidente aos países pobres africanos, é fruto da exploração e especuultrapassa a aldeia dos vivos e entra em comunhão com a “aldeia dos lação na compra das matérias primas produzidas no continente africano. antepassados”. Há alguns sacrifícios (oferenda às divindades) que são coletivos, isso Portanto, não é uma doação, mas a devolução do que lhes foi retirado através de em vista de conseguirem das divindades o bem estar e a harmonia para todos os habitantes da aldeia. uma transação comercial injusta. Na cultura africana, esta solidariedade é vivida mais intensamente quando há casos de sofrimento, doença ou de luto. Quando o dia amanhece, antes de se dirigirem às suas ocupações, os chefes de família vão de casa em casa, saudando os (tribo Baulé) moradores para constatar se não há alguém doente. Somente depois irão cuidar das Acredito que a melhor e mais eficaz cooperação se dá entre os países pobres (Sul suas ocupações pessoais e familiares. / Sul), porque “pobre com pobre não dá miserável, dá solidariedade”. Esta é a palavraAntonio Nunes (Sacerdote Católico - Pime) s imagens que os meios de comunicação do Brasil apresentam sobre a África geralmente são negativas, pejorativas e pessimistas. Elas representam apenas uma parte da realidade da cultura africana. Em síntese, apresento a outra parte desta realidade, relatando apenas alguns valores da cultura africana, que vivenciei durante 19 anos de presença nas aldeias da tribo Baulé, na Costa do Marfim.

Solidariedade no mundo ocidental

Solidariedade na cultura africana

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O Islamismo é professado pela maioria da população

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Região onde acontece o Rali Dakar

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ua capital é Brazzaville. Um país vizinho tem S o nome parecido.

6

É chamado pelos Alemães de Kamerun. Este país é o 9º mais populoso do mundo. Neste país havia portos costeiros para o tráfico de escravos. Dali foram trazidos muitos escravos para o Brasil. A língua oficial é o Françês. Afro-brasileiros formaram ali uma comunidade chamada Tabom.

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10 Ouagadougou é a sua capital.

13 Foi o último país a abolir a escravidão. Marrocos ainda o considera parte do seu 14 O território.

Forma de jogar: Divide-se a turma em pequenas equipes. Cada equipe deverá conduzir o Geninho pelo caminho até a Ilha de Madagascar. Conforme o número obtido no jogo do dado, ler as informações e as curiosidades correspondentes à “placa” . Um representante da equipe terá 10 segundos para ir até o mapa-mundi (pendurado numa parede) e A região mais descobrir o país correspondente. Caso não consiga ou erre, a equipe fica próxima da Ásia “uma jogada fora”. Acertando, joga-se novamente. Fica a critério do professor o prêmio para a equipe que chegar primeiro a Madagascar. Em caso de dúvidas, veja as respostas na página 12. 24

21 7

23

22

6

Região das sa26 vanas e reservas ambientais 27

25

17 País dominado pelos romanos cujo presidente atual é Kadafi.

28 4

18 O país detém o pior indíce de desenvolvimento humano.

29

Região de alto índice de mortalidade infantil

19 O país que contém o lago Chade. 20 É a terra dos antigos Faraós e das pirâmides.

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21 É o maior país da África. Sua capital é Cartum.

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32 31 2

CHEGADA 33

22 Limita-se ao norte com o Chade e o Sudão . 23 País da bíblica Rainha de Sabá. 24 O país africano com o maior índice de desnutrição (75%). 25 Os atletas destes país destacam-se nas provas de corrida.

1

26 Localizado ao norte do lago Vitória, o maior da África. 27 A guerra entre Tutsis e Hutus exterminou 11% da população.

11 É o maior exportador de cacau do mundo. 12 Bamako é a sua capital.

Material: um dado e algo que identifique cada equipe (ex: feijão, sementes, etc.) e um mapa-múndi.

Terra dos Faraós

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18

5 A mineração é responsável por 70% das exportações. É um país desértico. Nele, encontram-se os desertos de Namibe e Kalahari. O Português é a Língua oficial. A capital é Luanda. Já foi conhecido por Zaire.

O professor poderá utilizar este jogo para conhecer mais a África. Antes de jogar, os alunos deverão estudar atentamente o mapa do continente africano: as regiões, curiosidades e, especialmente, a localização geográfica de cada país.

África do Sul

Próxima sede da Copa do Mundo de Futebol

28 Neste país encontra-se a nascente do rio Nilo. 29 Este país possui muitos parques e reservas ambientais. 30 A maioria da população pratica religiões tradicionais africanas.

15 É o país africano mais próximo da Espanha.

31 Sua capital é Harare. Nele estão as famosas Quedas Vitória.

povo berbere habita este país ao menos 16 O desde 10.000 a.C.

32 Sua capital é Maputo. Neste país, fala-se o Português.

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DINAMIZANDO

Objetivo: Na vida comunitária os africanos encontram sua força. O objetivo da dinâmica é mostrar aos alunos que a partilha, o compromisso com o outro e a solidariedade os torna fortes. Material: Um feixe de 16 varinhas (podem-se usar palitos de churrasco)

Como Fazer:

1. Pedir que um dos participantes pegue uma das

varinhas e a quebre. (o que fará facilmente).

2. Pedir que outro participante quebre cinco varinhas juntas num só feixe (será um pouco mais difícil). 3. Pedir que outro participante quebre todas as vari-

nhas que restaram. Caso não conseguir, poderá chamar outra pessoa para ajudá-lo.

4. Pedir que todos os participantes falem sobre o que observaram e refletir sobre as implicações em nossas vidas.

5. Terminar com uma reflexão sobre a importância de agirmos unidos.

Objetivo: Demonstrar a importância da solidariedade e da ajuda mútua. Material: 4 pedaços de madeira (sarrafos) com aproximadamente 2 metros

de comprimento; 4 bombons iguais; 8 fitas ou pedaços de barbante resistente. METODOLOGIA: Solicitar a participação de 4 pessoas do grupo. Com os pedaços de madeiras e as fitas, amarrá-los nas costas de cada pessoa de forma que os braços de cada participante fiquem totalmente abertos e amarrados em um dos pedaços da madeira. Ao sinal, cada participante deverá desembrulhar e saborear o bombom que estará em uma mesinha à sua frente. Com a dificuldade que há, devido a não possibilidade de “trabalhar” com as mãos ou uma mão mais a boca, por estarem amarrados, encontrarão sérias dificuldades para concretizar a tarefa (comer o bombom). Depois de um determinado tempo, o professor finalizará a atividade, lembrando que bastaria ter havido inter-ajuda, utilizando a colaboração de uma das mãos do seu “companheiro de atividade”. Caso haja a reação dos não participantes, o professor poderá chamar a atenção que nada impedia de que os “espectadores” ajudassem os participantes a desenvolver a atividade.

2. Dividir a turma em pequenos grupos. Cada gruObjetivos: Obter informações sobre os problemas e a realidade dos afro-descendentes brasileiros. Desenvolver o senso crítico sobre a situação deles dentro do contexto nacional. Como Fazer:

1. Preparar um roteiro de pesquisa ou uma série de perguntas sobre algum aspecto do objeto de estudo, no caso, a situação dos afro-brasileiros (educação, religião, política, violência, etc).

po recebe uma cópia do roteiro da pesquisa, que deverá ser respondido durante a semana, através de entrevistas, jornais, revistas, TV, fotografias, etc.

3. Na aula seguinte, cada grupo apresenta a síntese para a turma e abre-se para um debate, enriquecido com fatos e acontecimentos, a fim de descobrir as causas dos problemas. Em seguida, buscar alternativas para melhorar a situação dos nossos concidadãos afrobrasileiros.

Propostas inteligentes para escolas, grupos e comunidades Você já participou de uma aula, palestra, encontro, reunião... e ficou com aquela sensação de monotonia, de falta de participação, de pouca criatividade? Pois bem, com este livro de dinâmicas tudo isso pode mudar. Educar com novos métodos e com novo entusiasmo não exige coisas muito complicadas. O essencial é trabalhar com envolvimento e comprometimento. Isso exige variedade de dinâmicas com objetivos claros e com fácil aplicação.. Este livro é, por isso, uma verdadeira primorosidade. Temos certeza de que você se surpreenderá com a qualidade das dinâmicas aqui apresentadas.

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SABEDORIA / ASSINATURAS

casinha de uma escola rural era aquecida por um velho e bojudo forno a carvão. Um garotinho tinha a função de ir mais cedo à escola todos os dias, para acender o fogo e aquecer o recinto antes que a professora e seus colegas chegassem. Certa manhã, eles chegaram e encontraram a escola engolida pelas chamas. Retiraram o garotinho inconsciente do prédio em chamas, mais morto do que vivo. Tinha queimaduras profundas na parte inferior do corpo e foi levado para o hospital do município vizinho. De seu leito, o semi-consciente e pavorosamente queimado garotinho ouviu ao longe o médico que conversava com sua mãe. O médico dizia a ela que seu filho seguramente morreria - o que na realidade, até seria melhor - pois o terrível fogo devastara a parte inferior de seu corpo. Porém, o bravo garotinho não queria morrer. Ele se convenceu de que sobreviveria. De alguma maneira, ele realmente sobreviveu. Quando o risco de morte havia passado, ele novamente ouviu o médico e sua mãe falando baixinho. A mãe foi informada de que, uma vez que o fogo destruíra tantos músculos na parte inferior de seu corpo, quase que teria sido melhor que ele tivesse morrido, já que estava condenado a ser eternamente inválido e não fazer uso algum de seus membros inferiores. O bravo garotinho, mais uma vez, tomou uma decisão. Não seria inválido. Ele andaria. Mas, infelizmente, da cintura para baixo, ele não tinha nenhuma capacidade motora. Suas pernas finas pendiam inertes, quase sem vida. Finalmente, ele teve alta do hospital. Todos os dias sua mãe massageava suas perninhas, mas não

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havia sensação, controle, nada. Ainda assim, sua determinação de andar era mais forte do que nunca. Quando ele não estava na cama, estava confinado a uma cadeira de rodas. Num dia ensolarado, sua mãe o conduziu até o quintal para tomar um pouco de ar fresco. Neste dia, ao invés de ficar sentado na cadeira, ele se jogou no chão. Arrastou-se pela grama, puxando as pernas atrás de si. Arrastou-se até a cerca de estacas brancas que limitava o terreno. Com grande esforço, levantou-se apoiando-se na cerca. E então, estaca por estaca, começou a arrastar-se ao longo da cerca, decidido a andar. Começou a fazer isso todos os dias até que um caminho se formou ao lado da cerca, e em volta de todo o quintal. Não havia nada que ele desejasse mais do que dar vida àquelas pernas. Finalmente, com as massagens diárias, com sua persistência de ferro e com sua resoluta determinação, ele foi capaz de ficar em pé, depois de andar mancando, e então, de andar sozinho. Mais tarde, de correr. Começou a caminhar para a escola, depois passou a correr para a escola, e a correr, pura e simplesmente, pela alegria de correr. Na faculdade, integrou o time de corrida com obstáculos. Depois, no Madison Square Garden, aquele rapaz sem esperanças de sobreviver, que seguramente não andaria nunca mais, e que jamais poderia esperar correr - aquele rapaz determinado, o Dr. Glenn Cunningham, foi o corredor mais rápido do mundo na corrida de uma milha! Burt Dubin

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TESTEMUNHOS

mundo em que estamos vivendo está fora de ordem. As pessoas andam estressadas. Está cheio de marginais em todas as esquinas, principalmente nas cidades maiores. A poluição é tanta que está causando cada vez mais doenças e terminando com a natureza. O mundo seria bem melhor se as pessoas soubessem respeitar mais quem está ao seu redor, independente da cor, religião e raça, etc. Se as pessoas se interessassem mais em procurar empregos para fazer algo que realmente gostassem de fazer... Se elas percebessem que poluir não faz bem para ninguém... O mundo em que eu gostaria de viver só existe em sonho mesmo. Seria aquele mundo calmo, com respeito, sem violência. Aquele mundo em que eu me sentaria no alto de um morro e de lá visse muitas árvores, as pessoas convivendo em harmonia, aquele mundo que eu ficaria em silêncio e ouviria os pássaros cantando como se fosse uma festa, um mundo com muitas florestas, com animais de todas as espécies, mas esse mundo só seria possível se Deus o fizesse de novo. Já que não temos como reverter esse mundo caótico em que vivemos, talvez as pessoas consigam abrir os olhos e pelo menos tentar preservar as coisas boas que ainda existem por aqui. Sandra Izabel Rigodanzo - Alto Alegre - RS

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mundo em que sonho viver é um mundo de paz, com muita alegria. Muitas crianças brincando, sem fome e junto das suas famílias. Gostaria de ver as florestas sem queimadas, com muitos animais e plantas... Nas cidades, que a violência não tomasse conta, e que as pessoas ajudassem a preservar a natureza e conservar a água para que não falte no futuro. Além da preservação da natureza, temos que aprender a respeitar nossos irmãos e pedir que Deus olhe por nós, para que nós, crianças, um dia possamos mudar as coisas ruins que acontecem no mundo. O mundo em que sonho viver é aquele que, com certeza, vai agradar a todos porque vai reinar a paz, a alegria e a natureza vai deixar a felicidade brilhar. A esperança de um mundo melhor nos leva a pensar e a agir diferente, acreditando que tudo é possível quando acreditamos em nossos sonhos. Aluna: Maria Beatriz, 9 anos Professora: Maria de Lourdes Martins Só Escola Estadual Boa Esperança, Curvelândia – MT

Participar deste desafio é muito fácil. Basta nos enviar uma redação, poesia ou desenho que aborde a temática: “Os filhos da África no BRASIL”. Os professores poderão incentivar os seus alunos e até mesmo toda a escola a participar deste desafio e, assim, concorrer a prêmios.

AS 10 ESCOLAS QUE MAIS PARTICIPARAM NO DESAFIO

“O MUNDO EM QUE SONHO VIVER”,

EM BREVE, RECEBERÃO UM LIVRO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO.

• As contribuições já estão disponíveis na INTERNET: www.otranscendente.com.br •

A partilha enriquece

Lançamos uma grande proposta a todos os professores e escolas: enviem-nos suas melhores histórias (contos) e dinâmicas. Este material, com a devida autorização, poderá ser publicado no jornal e, futuramente, fará parte do nosso próximo livro de dinâmicas e de histórias. Quem nos enviar o maior número de histórias ou dinâmicas receberá:

Coleção Educação. • 1º2º 03A nossa Livros da mesma à escolha. • 3º 03 Camisetas da Paz. •

“Descobrindo a África”. Respostas: 1. Botswana; 2. Namíbia; 3. Angola; 4. Rep. Democrática do Congo; 5. República do Congo; 6. Camarões; 7. Nigéria; 8. Benin; 9. Gana; 10. Burkina Faso; 11. Costa do Marfim; 12. Mali; 13. Mauritânia; 14. Saara Ocidental; 15. Marrocos; 16. Argélia; 17. Líbia; 18. Níger; 19. Chade; 20. Egito; 21. Sudão; 22. República Centro-Africana; 23. Etiópia; 24. Somália; 25. Quênia; 26. Uganda; 27. Ruanda; 28. Burundi; 29. Tanzânia; 30. Zâmbia; 31. Zimbabue; 32. Moçambique.

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