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Santa Rosa de Lima em Guimarães

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Obrigado Francisca

Obrigado Francisca

António José de Oliveira31 antjoseli@gmail.com

A devoção a Santa Rosa de Lima em Guimarães está presente desde 1680, aquando da fundação do Convento de Santa Rosa de Religiosas Dominicanas. Esta instituição conventual feminina é fundada nas casas do hospital ou albergaria de S. Roque, com sua capela e hortas, administradas pela Confraria da Senhora da Graça. Dado que o anterior templo pertencente à confraria, ocupado pelo convento era demasiado pequeno para o crescente número de religiosas e pouco relevante para a importância da instituição, tornou-se necessário ampliá-lo. Com esse objetivo, as religiosas adquiriram as casas conjuntas à capela, a par de terem tomado posse como administradoras de tudo o que pertencia ao hospital de S. Roque e à Confraria da Senhora da Graça. Neste contrato datado de 1735, celebrado com os confrades da Confraria da Senhora da Graça, as freiras comprometem-se a aceitar todos os encargos e legados a que a confraria estava obrigada. No decorrer dos tempos, as religiosas foram adquirindo novas casas com o intuito de alargarem o seu espaço conventual. No segundo quartel do século XVIII, esta instituição monástica feminina passava por um amplo processo de ampliação que abrangia as principais dependências conventuais. Ao longo dessa fase construtiva podemos encontrar disseminados pelas obras de pedraria, carpintaria e talha, um numeroso número de mestres que aí trabalharam oriundos dos atuais concelhos de Braga, da Maia, do Porto, Vila de Conde e de Vila Nova de Famalicão. Segundo as fontes arquivísticas por nós compulsadas, podemos afirmar que este convento se destaca como o imóvel vimaranense em que deparamos com o maior número de artistas provenientes de locais de fora da vila e seu termo.

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O convento foi extinto a 9 de março de 1888 com o falecimento da última religiosa. Devido à demolição da igreja de São Sebastião, em 1892, o templo do Convento de Santa Rosa de Lima passou a assumir funções de igreja paroquial da freguesia de São Sebastião. Nesse mesmo ano, o governo cedeu à Câmara Municipal as restantes dependências conventuais e a sua cerca para que aí fossem instaladas repartições

31 Doutorado em História de Arte Portuguesa (FLUP) Investigador do CITCEM

camarárias.

Imagem 32 - Convento de Santa Rosa de Lima - 1ªmetade séc. XX (Coleção MuralhaAssociação de Guimarães para Defesa Património)

Imagem 30 - Entrada lateral da igreja do Convento de Santa Rosa de Lima Imagem 31 - Pormenor do portal da igreja do Convento de Santa Rosa de Lima (imagem de Santa Rosa de Lima)

Na atual igreja do extinto convento de Santa Rosa de Lima, ainda hoje, observamos duas imagens de Santa Rosa de Lima. Uma delas encontramos num nicho, a encimar o portal lateral de acesso à Igreja. Trata-se de uma imagem em pedra possivelmente datada de 1734 e executada aquando da construção da atual igreja pelos seguintes mestres pedreiros: João Moreira Bouça, morador na freguesia de S. Salvador de Moreira (concelho da Maia); António Pereira, da freguesia de Santo Ildefonso (Porto); Domingos da Costa, da freguesia de Santa Marinha de Vilar de Pinheiro (concelho de Vila do Conde); e

José Moreira da Cruz morador na rua de São Dâmaso (Guimarães). A outra imagem encontra-se no retábulo-mor da igreja. Esta imagem em talha dourada, foi executada em 1741-1742 pelo mestre entalhador António Fernandes Palmeira, morador na freguesia de Palmeira, concelho de Braga, que arrematou a obra do retábulo e tribuna da capela-mor. Nestas duas imagens, Santa Rosa de Lima é iconograficamente representada com o hábito de dominicana e tendo nos braços o Menino Jesus. Originalmente, estas duas imagens seriam também representadas com um ramo de rosas, que se terá perdido no decurso do tempo.

Imagem 34 - Retábulo-mor da Igreja de Santa Rosa de Lima Imagem 33 - Pormenor do retábulo-mor da igreja do Convento de Santa Rosa de Lima (imagem de Santa Rosa de Lima)

E sta Santa, a primeira da América Lati-

na, nas-

ceu

em 1586, em Lima (Pe-

ru), tendo falecido em 1617. Foi pretendida pelos jovens mais ricos e distintos de Lima, mas a todos rejeitou por amar a Cristo como esposo. Em idade de casar, fez o voto de castidade e tomou o hábito da Ordem Terceira Dominicana, após lutar contra o desejo contrário dos pais. Foi canonizada em 1671, pelo Papa Clemente X e declarada Padroeira da América. Foi a primeira “serva de Deus”, natural do Novo Mundo a ser colocada em altares.

Bibliografia:

BRANDÃO, D. Domingos de Pinho - Obra de talha dourada, ensamblagem e pintura na cidade do Porto e na diocese do Porto, vol.3, Porto, 1986, pp.401-406. GONÇALVES, Flávio – “A talha na arte religiosa de Guimarães” in Congresso Histórico de Guimarães e sua Colegiada, Atas, vol. 4, Guimarães, 1981, p. 337-366. OLIVEIRA, António José de – “A actividade de artistas portuenses em Guimarães (1685-1768)”, sep. Museu, nº 11, 4ª série, Porto, Círculo Dr. José Figueiredo, 2002. OLIVEIRA, António José de – Clientelas e artistas em Guimarães nos séculos XVII e XVIII, dissertação de doutoramento em História de Arte Portuguesa apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 2011, 3 vols. (texto policopiado). OLIVEIRA, António José de; OLIVEIRA, Lígia Márcia Cardoso Correia de Sousa – “Mestres pedreiros portuenses em Guimarães (1734-35): sua actividade no convento de Santa Rosa de Lima”, in I Congresso sobre a Diocese do Porto – Tempos e Lugares de Memória, Homenagem a D. Domingos de Pinho Brandão, Atas, Porto/Arouca, Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão; Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Departamento de Ciências e Técnicas do Património; Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto, 2002, vol. 1, pp. 297-328.

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